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A Solidão dos Edifícios / Rafael Moneo

Article · January 2013

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Igor Fracalossi
Pontifical Catholic University of Chile
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10/6/2017 A Solidão dos Edifícios / Rafael Moneo | ArchDaily Brasil

ArchDaily  Notícias  A Solidão dos Edifício

A Solidão dos Edifícios / Rafael Moneo


20:00 - 10 Janeiro, 2013 
por Igor Fracalossi

Escolhi três edifícios para exemplificar meu trabalho. Eles diferem com respeito às exigências e às
condições do sítio, mas todos são edifícios públicos. Eles podem ser considerados como
representativos do meu trabalho dos últimos dez anos.

Por que edifícios ao invés de projetos? Por que trabalho ao invés de discurso teórico? Eu acredito
que na crua realidade de obras construídas é possível ver claramente a essência de um projeto, a
consistência de ideias. Eu acredito fortemente que arquitetura precisa do suporte da matéria; que
o primeiro é inseparável do segundo. A arquitetura surge quando nossos pensamentos sobre ela
adquirem a condição real que somente os materiais podem fornecer. Aceitando e negociando
com as limitações e restrições, com o ato de construção, a arquitetura se torna o que ela
realmente é.

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Sei que essas palavras podem parecer estranhas hoje em dia. Primeiro, porque nós estamos numa
escola de arquitetura onde a aprendizagem é baseada na convenção implicada nos desenhos e
modelos. Segundo, porque durante os últimos, deixem-me dizer, cinquenta anos, muitos
arquitetos tem acreditado que a construção não é digna do esforço que envolve. Para eles, a
tarefa foi terminada na prancheta, evitando qualquer contaminação. E o medo da contaminação é
compreensível. Arquitetura como uma profissão é um longo caminho além de satisfazer qualquer
um que ame a disciplina. Ela perdeu a importância que tinha na sociedade no passado. Victor
Hugo disse que os livros mataram as catedrais; isso não era de todo verdade então, mas eu vejo
que hoje podemos dizer que a comunicação em massa tem reduzido a relevância da arquitetura.
Arquitetura já não é vital, nem no mais pragmático ponto de vista que a identifica com cidades e
residências, e tampouco como o reservatório de comunicação simbólica. Os arquitetos
inconscientemente reconhecem esse problema, mas não estão dispostos a encarar isso
diretamente. E logo, apesar de que eles gostariam de conectar a arquitetura com a sociedade e a
realidade como no passado, eles normalmente tomam um caminho errado e se tornam profetas
de sonhos utópicos. Os arquitetos desejam um maior papel para a arquitetura, ou pelo menos
uma posição mais respeitada. E percebendo isso como inalcançável, nós arquitetos estamos nos
protegendo nutrindo a fantasia de que a arquitetura pode ser representada simplesmente através
de desenhos. Tal visão tem sido suportada pela dialética entre utopia e realidade. Se os arquitetos
não servirem à realidade, eles ao menos trabalharão para o mundo futuro sonhado em utopia. Tal
visão tem produzido belos desenhos e apresentado maravilhosas intenções, mas na minha
opinião esses esforços não são intrinsecamente arquitetura –o que não quer dizer que as pessoas
que agem assim não sejam arquitetos.

Sabe-se quão importante esse assunto é hoje, mas ao mesmo tempo ele é rejeitado pelos
arquitetos, na medida em que os edifícios começam a aparecer como meros reflexos de desenhos
ou como diretas representações físicas de um processo. Isso modifica dramaticamente a relação
entre edifício e realidade. Muitos arquitetos atualmente inventam processos ou técnicas de
desenho sem se preocupar com a realidade do edifício. A tirania dos desenhos é evidente em
muitos edifícios quando o construtor trata de seguir literalmente o desenho. A realidade pertence
ao desenho, não ao edifício. Existem muitos exemplos dessa atitude que eu não preciso elaborá-
la. Os edifícios se referem tão diretamente à definição do arquiteto e são tão desconectados com a
operação de edificar que a única referência é o desenho. Porém um verdadeiro desenho
arquitetônico deveria implicar sobretudo todo o conhecimento de construção. Hoje muitos

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arquitetos ignoram problemas sobre como uma obra será construída. Alguns argumentarão que
isso aconteceu no passado, que algumas obras foram executadas sem serem visitadas por seus
arquitetos, quem confiaram diretamente em desenhos e especificações para a execução de seus
projetos. Mas, claro, todos irão concordar que os arquitetos no passado tiraram vantagem de uma
coerência social que não existe hoje. Um desenho aceito, antes que ele fosse desenhado,
convenções edilícias seguras. Foi somente recentemente, talvez com alguns arquitetos do
Iluminismo, que a conexão entre expressão gráfica e conhecimento edilício começou a se
dissolver.

Na outra mão, muitos arquitetos acreditam que a obra de arquitetura deve envolver o registro
exato de um processo. Se na década de 1920 a ideia de promenade architecturelle transformou a
estrutura do edifício e produziu uma série de sequências que introduziram a ideia de movimento,
na década de 1980 a ideia de arquitetura como a conclusão física que consolida um processo
mental tem tomado lugar. Por essa transformação de um processo mental na realidade
consolidada, a própria expressão de um edifício se torna menos importante que a expressão dos
pensamentos do arquiteto. Além disso, a natureza automática da produção da arquitetura
impede a autonomia do objeto. E, naturalmente, questionamentos surgem: pode o processo ser
considerado o cerne da arquitetura? A arquitetura não reside na produção de algo mais? Pode o
simples registro do processo se tornar a realidade que chamamos arquitetura? São os edifícios
simples transposições tridimensionais de desenhos ou o resultado de um tão comentado
processo? Anteriormente esse não era o caso, quando os arquitetos pensavam antes na realidade
do edifício e depois na do desenho com o qual eles poderiam descrever esses pensamentos. Hoje,
a ordem dessa relação está frequentemente invertida.

O resultado desse conflito com a física é que a arquitetura é transformada imediatamente tanto
em reflexo de desenhos como na representação de um processo. O termo que melhor caracteriza
o traço mais distintivo da arquitetura acadêmica hoje é “imediatismo”. A arquitetura tenta ser
direta, imediata, a simples extensão dimensional dos desenhos. Os arquitetos querem manter o
sabor dos seus desenhos. E se esse é o seu objetivo mais desejado, nesse desejo os arquitetos
reduzem a arquitetura a um privado domínio pessoal. Segue que esse imediatismo transforma as
intenções do arquiteto e torna o que deveria ser presumido como geral em pessoal, declaração
expressionista. A arquitetura tem perdido seu necessário contato com a sociedade e, como
resultado, tem se tornado um mundo privado.

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Pode a arquitetura ser um mundo privado? Pode ela ser reduzida a uma expressão pessoal?
Arquitetos, tão quanto admiram o reino pessoal no qual outros artistas parecem trabalhar, não
trabalham sob as mesmas condições. Seu trabalho deveria ser, na minha opinião, compartilhado
por outros ou, pelo menos, não deveria ser tão pessoal como para invadir o domínio público de
uma maneira que não mais pertença naturalmente à esfera do entorno público. A arquitetura
mesma implica envolvimento público desde o momento específico no qual o processo de projeto
começa até o fim da construção. E novamente estamos num terreno escorregadio, porque os
limites entre os mundos públicos e privados hoje são mais confusos que nunca. Quando
arquitetura é produzida em cidades, ela expressa uma ideia pública. As cidades têm uma
necessidade de uma arquitetura que seja tanto uma ferramenta, no sentido de transformar
artificialmente o contexto físico, como uma estrutura de suporte da vida social. A noção de uma
linguagem compartilhada para produzir o mundo dos objetos –os diferentes tipos de edifícios nos
quais e com os quais nós vivemos– emerge como dádiva para entender a arquitetura e sua
produção. E, portanto, eu não penso que nós podemos justificar enquanto arquitetura os intentos
de alguns artistas que, confundindo nossa disciplina com alguma experiência tridimensional,
criam objetos desconhecidos que em momentos se relacionam a uma mímesis natural e em
outros, aludem a máquinas inutilizáveis.

Porém, sem a conexão que existia no passado entre projeto e produção, construtores se tornaram
meros instrumentos, e técnica se tornou subjugada –um escravo. A intimidade entre arquitetura e
construção tem sido quebrada. Essa intimidade foi uma vez a própria natureza da obra
arquitetônica e de alguma forma foi sempre manifestada na sua aparência. Nós sabemos que um
discurso determinístico não explica a arquitetura, mas admitimos que os arquitetos deveriam
aceitar técnicas e utilizar sistemas construtivos para iniciar o processo da invenção formal que
termina em arquitetura. Mesmo uma arquitetura como a de Le Corbusier deveria ser vista à luz da
honrada aceitação das tecnologias construtivas com a base para a proposta formal. E para ser um
arquiteto, portanto, está tradicionalmente implicado ser um construtor; ou seja, explicando a
outros como construir. O conhecimento (quando não o domínio) das técnicas construtivas esteve
sempre implícito na ideia de produzir arquitetura. O conhecimento de princípios construtivos
deveria ser tão completo como para permitir ao arquiteto a invenção formal que sempre precede
o fato da construção mesma. Deveria aparecer como se as técnicas impostas tenham aceitado os
limites da forma; para isso, é o reconhecimento desses limites que reproduz explicitamente a
presença dos procedimentos construtivos na arquitetura. Paradoxalmente, é a flexibilidade

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técnica que permite aos arquitetos esquecerem a presença da técnica. A flexibilidade das técnicas
atuais tem resultado no seu desaparecimento, tanto na própria arquitetura como no processo de
pensar sobre ela. Isso é algo novo. Os arquitetos no passado eram tanto arquitetos como
construtores. Antes da presente dissociação, a invenção da forma era também a invenção da sua
construção. Uma implicava a outra.

Arquitetura sempre apresentou uma inerente arbitrariedade como algo discreto. Em outras
palavras, a arbitrariedade da forma desaparecia na construção, e a arquitetura atuava como
ponte entre as duas. Hoje, a arbitrariedade da forma é evidente nos próprios edifícios, porque a
construção é destituída do jogo projetual. Quando a arbitrariedade é tão claramente visível nos
edifícios mesmos, a arquitetura está morta; o que eu entendo como o atributo mais valioso da
arquitetura desaparece.

O preço de tal atitude é pago pela arquitetura, visto que muito frequentemente alguns arquitetos
nos apresentam com uma imagem de fragilidade e com um gosto pelo ficcional. Essa é a
consequência natural do imediatismo. Curiosamente, isso não acontecia com a arquitetura do
Movimento Moderno, na qual a ideia de imediatismo não poderia ser aplicada. Quer estejamos
considerando a técnica quer os objetivos sociais, os arquitetos do Movimento Moderno
respeitavam tanto a técnica quanto o programa do edifício. Embora sua arquitetura talvez não
tenha sido bem sucedida em solucionar os problemas impostos simultaneamente, eles se
empenharam em envolver tais preocupações em suas obras, e, consequentemente, sua
arquitetura não pode ser caracterizada por seu imediatismo. Logo, a ideia de arquitetura sempre
implicou uma consciência do mundo exterior mais além do poder das imagens. Mas, hoje em dia,
a falta de contato com o mundo exterior trás consigo a fantasia de uma arquitetura autônoma,
controlada exclusivamente pela prancheta.

Poderia ser argumentado que no futuro a arquitetura irá carecer da condição de quase
perpetuidade que ela detinha no passado e irá desde agora ser caracterizada como efêmera. Isso
explicaria a condição rarefeita dos nossos edifícios, apesar de suas pedras. A arquitetura é
influenciada atualmente por essa condição efêmera e, logo, se apresenta como efêmera,
independentemente do seu material. E isso nos impõe uma questão maior: Já não é a arquitetura
atual capaz de perdurar como era no passado? Existe na arquitetura atual uma sensação de que
as obras são perecíveis? Acredito que essas perguntas devem ser respondidas afirmativamente, e

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somente assim seremos capazes de contrapor tal tendência, reconhecendo o gratificante modo
no qual os edifícios aceitavam sua própria vida no passado. A construção de um edifício incorpora
uma enorme carga de esforços e um grande investimento. A arquitetura, em princípio, quase por
princípios econômicos, deveria ser durável. Os materiais deveriam proporcionar longa vida aos
edifícios. Um edifício, antigamente, era construído para durar para sempre ou, pelo menos, nós
certamente não esperaríamos que ele desaparecesse. Mas, hoje em dia, as coisas mudaram.
Embora resistamos em manter nossa arquitetura dessa forma, ela está muito afastada da
arquitetura tradicional, apesar do nosso declarado respeito pela história. Nós provavelmente
sabemos inconscientemente que a arquitetura já não irá durar tanto quanto costumava. Mas
rejeitamos tais ideias, ainda que as situações reais afetem a arquitetura e a marquem com o sabor
do efêmero. Se a arquitetura é efêmera, ela pode ser imediata.

Se a arquitetura uma vez contribuiu para a realidade da ficção, a partir daqui eu irei contribuir
com a ficção da ficção. O orgulho da arquitetura era fazer real a ficção, porque a maneira como a
arquitetura era produzida implicava uma continuidade entre forma, como invenção mental, e
forma construída, de tal maneira que a última se tornava a única realidade existente. O mundo
ideal era transformado num mundo real, porque o que caracterizava a arquitetura era o fato que
ela deveria ser construída. Era um produto mental que tomava sua consistência do ato de
expressão isolado, tornando-se, ao mesmo tempo, uma realidade independente. A arquitetura de
hoje tem perdido contato com seus suportes genuínos, e o imediatismo é a natural consequência
dessa mudança crítica sofrida pelo papel da arquitetura no mundo. Eu ainda acredito numa
arquitetura da realidade, porém eu deveria reconhecer a grande amplidão para a qual minha
convicção é a manifestação de um desejo maior do que eu posso prever sensatamente para o
futuro.

Eu não acho que este seja o momento adequado para discutir tais importantes preocupações,
mas, em minha opinião, essas discussões deveriam ter lugar na escola, e eu gostaria de seguir
esses problemas com estudantes interessados. Contudo, eu gostaria de responder a algumas
questões que eu introduzi. Os arquitetos deveriam perceber que a arquitetura, o trabalho no qual
eles estão envolvidos, suas obras, é uma complexa realidade que inclui muitas presenças; por
essa razão, o imediatismo-fantasia não é possível. Todas essas presenças são refletidas no
múltiplo espelho que é o edifício. Eles deveriam estar conscientes na operação de projeto, de
modo a evitar a redução que sempre distorce a realidade arquitetônica. O fato que os arquitetos

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podem tornar-se cientes das várias maneiras nas quais seu trabalho é limitado, que ele apresenta
limites reais, desde a ideologia ao tijolo, não impede a arquitetura de ser possibilitada. A
habilidade de acomodar as múltiplas presenças inerentes ao edifício deveria ser a chave com a
qual o arquiteto condense disparidade na singular presença autoportante dos edifícios.

Em tanto que eu considero desenhos e modelos o suporte necessário e natural para nossas
discussões sobre arquitetura na escola, eu encorajo os estudantes a entender o imenso prazer que
a atual produção de arquitetura, a construção de edifícios, oferece. Isso significa que eu gostaria
de acompanhar os estudantes em sua iniciação como arquitetos, de estar ao lado deles quando
se tornarem criadores de edifícios. Nós estamos vivendo num mundo discontínuo –em tempos de
incertezas, como o Professor Cobb gosta de dizer–, e os arquitetos, negligentes aos seus desejos e
intenções, sofrem ao estar desprotegidos ante a diversidade da sociedade na qual eles trabalham.
Portanto, uma vez que o arquiteto tenha adquirido suas habilidades, o treinamento dos seus
olhos, o primeiro imperativo é ganhar o conhecimento crítico que irá permitir a escolha das
coordenadas dentro das quais sua carreira irá desenvolver-se; essas são as coordenadas para as
quais seus edifícios irão referir-se.

Uma iniciação arquitetônica inclui atualmente, em minha opinião, uma forte familiaridade com a
história –uma história que já não é um depósito de formas ou um atelier de estilos, mas uma que
simplesmente oferece o material para se pensar a evolução da arquitetura, assim como a maneira
com a qual os arquitetos trabalhavam no passado.

Agora, por que eu insisto tanto na convicção que edifícios não são nem o resultado de um
processo nem a materialização de um desenho? Em outras palavras, por que eu insisto na ideia
que edifícios não são propriedades exclusivas do arquiteto? Principalmente porque eu acredito
que a presença do arquiteto rapidamente desaparece e que, uma vez completados, os edifícios
tomam vida própria. Os arquitetos suportam todas as dificuldades envolvidas em erguer um
edifício –artefatos que, quiçá a princípio, podem parecer refletir nossas intenções, expressar
nossos desejos e representar os problemas que discutimos na escola. Por um tempo,
consideramos nossos edifícios como espelhos; na sua reflexão reconhecemos quem somos, e
eventualmente quem fomos. Somos tentados a pensar que um edifício é uma declaração pessoal
dentro do contínuo processo da história; mas hoje eu tenho certeza que uma vez que a construção
é finalizada, uma vez que o edifício assume sua própria realidade e seu próprio papel, todas

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aquelas preocupações que ocupavam o arquiteto e seus esforços se dissolvem. Chega um


momento em que os edifícios não precisam de nenhum tipo de proteção, nem dos arquitetos nem
das circunstâncias. Finalmente, circunstâncias permanecem apenas como alusões, permitindo
aos críticos e historiadores ganhar conhecimento sobre os edifícios e explicar aos outros como
eles tomaram forma.

O edifício mesmo descansa solitário, em completa solidão –sem mais declarações polêmicas, sem
mais problemas. Ele adquiriu sua definitiva condição e permanecerá só para sempre, mestre de si
mesmo. Eu gosto de ver o edifício assumir sua condição própria, vivendo sua própria vida.
Portanto, eu não acredito que arquitetura é somente a superestrutura que introduzimos quando
falamos sobre edifícios. Prefiro pensar que arquitetura é o ar que respiramos quando os edifícios
tenham alcançado sua radical solidão.

Estão todas essas considerações presentes no nosso trabalho? Eu gostaria que estivessem.
Porque quando os arquitetos percebem que um edifício controla sua própria vida, sua
aproximação ao projeto é diferente; muda radicalmente. Nossas preocupações pessoais tornam-
se secundárias e a realidade final do edifício torna-se o autêntico objetivo do nosso trabalho. É a
materialidade do edifício, seu próprio ser, que se torna a única e exclusiva preocupação. Essa
atitude nos permite estabelecer a distância necessária entre o edifício e nós mesmos.

De todas as artes figurativas e plásticas, a arquitetura é provavelmente aquela na qual a distância


entre o artista e seu trabalho é a maior. Um pintor ou um escultor pode deixar sua marca direta na
tela ou na pedra; ele é inextricavelmente atado à sua obra. Isso não acontece na arquitetura. Na
nossa disciplina, uma distância natural nos separa da nossa obra; essa distância deveria sempre
ser mantida, especialmente quando nossos pensamentos começam a ser materializados em
projeto. Manter essa distância é reconhecer a realidade arquitetônica, mas é também a
precondição para iniciar um projeto. Arquitetura implica a distância entre nosso trabalho e nós
mesmos, com isso, ao final, a obra permanece sozinha, autoportante, uma vez que ela tenha
adquirido sua física consistência. Nosso prazer reside na experiência dessa distância, quando
vemos nosso pensamento suportado por uma realidade que já não nos pertence. O que é mais,
uma obra de arquitetura, se bem sucedida, pode ocultar o arquiteto.

Referência:
Rafael Moneo, The Solitude of Buildings, Aula Magna, Kenzo Tange Visiting Professor Chair, Harvard University Graduate School of Design, 1985.
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Primeira edição em português. © Tradução: Igor Fracalossi

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Cita: Igor Fracalossi. "A Solidão dos Edifícios / Rafael Moneo" 10 Jan 2013. ArchDaily Brasil. Acessado 6 Out 2017.
<http://www.archdaily.com.br/br/626120/a-solidao-dos-edificios-rafael-moneo>

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