NOTAS SOBRE OS PEQUENOS

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS
Luís Antonio Machado da Silva
A subordinação ao trabalho assalariado regular
Talvez a característica menos saliente, porém mais importante,
dos pequenos estabelecimentos comerciais seja sua íntima vincula-
ção ao emprego regular. Na medida em que o pequeno comércio
tem sido visto pela literatura como uma forma "marginal" de ativi--
dade económica, torna-se necessário que esta afirmativa seja me-
lhor explicada, e que se lhe agregue evidência empírica. O que se
pretende enfatizar é que a decisão de começar a negociar 1 tem sem-
pre por base uma posição ou situação no mercado regular de traba-
lho (trabalho assalariado legalmente reconhecido). E ainda que esta
decisão, mais do que uma ruptura, significa a tentativa de conciliar
a condição de independência ou autonomia (e seus respectivos ris-
cos) com o trabalho assalariado (e suas garantias legais e previden-
ciárias). E, porfim,que a implantação do negócio supõe necessaria-
mente um capital inicial, cuja disponibilidade está quase sempre
vinculada, direta ou indiretamente, ao emprego regular.
Assim, por exemplo, um dos informantes que trabalhava numa
fábrica de tecidos, regido pela legislação anterior à criação do
F G T S , ao completar nove anos "de casa" "entrou em acordo",
mas continuou trabalhando na mesma empresa. Com a indenização
assim recebida, comprou um terreno e construiu uma casa. U m ano
depois, abriu uma pequena "barraca", aproveitando-se do fato de
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 que trabalhava no turno da noite, e de que sua mãe podia auxiliá-
lo. (Não há informação sobre como obteve o capital inicial mas,
por seu depoimento, parece que no começo a dimensão do negócio
era tão reduzida que foi suficiente aumentar um pouco as compras
pessoais de cereais, o que era possível com seu próprio salário). De-
pois de um ano negociando de dia e trabalhando à noite, resolveu
pedir para ser demitido, não sem uma série de precauções:
"Depois do acordo trabalhei mais dois anos, na mesma com-
panhia (...) Aí trabalhei à noite ... e aqui na barraca. Tava me
esgotando muito, sabe? (...) Então eu fui, pedi a minha demis-
são, né? (...) Bem, eu quero sair. Eu quero sair benquisto com
... com todos. Sem abusar. Porque malquisto não quero. En-
tão eu ... quero sair prá depois amanhã ou depois eu precisar
vim aqui, não tem bicho. (...) Aí eu falei pra ele (o gerente) né?
Que eu estou com um negocinho em casa e ... passo dia traba-
lhando na barraca, venho trabalhar à noite ... e não vou supor-
tar. (...) Mas se o negócio não der pra mim, depois, eu volto
pra trabalhar (...) (O gerente disse) você quer sair? Eu vou bo-
tar você no meio desses... desses que estão saindo... mas você
não vai perder o todo, entende? Vai perder só uma parte. Você
vai perder seu fundo, vai receber essas férias, seu décimo ...
Agora não recebe indenização pelos dois anos. Eu digo tá
bom, rapaz. Pior se eu fosse perder tudo (...) Que o dinheiro
que eu ganhei, né? na companhia ... eu comprei a casa (a pri-
meira indenização) O ... o dos dois anos eu botei no negócio,
né?"
Na época em que este informante pediu demissão para dedi-
car-se apenas à barraca, sua mãe manifestou dúvidas quanto ao
acerto da decisão:
"(...) esse negócio não dá, quero ver se esse negócio dá para
você viver. Eu digo dá, mãe, mais que o que dava eu traba-
lhando dá agora."
O depoimento acima permite uma série de conclusões: a) a de-
cisão de pedir demissão só foi tomada por causa da impossibilidade
física de conciliar as duas atividades (o cansaço); mesmo assim,
após um período de experiência de um ano, que envolveu um míni-
mo de risco, na medida em que o capital inicial era quase desprezí-
vel; b) apesar de pedir demissão, o informante teve o cuidado de
procurar manter aberta a possibilidade de retornar (sair benquisto);
c) a primeira (e mais vultosa) indenização foi usada na aquisição da
moradia, não para iniciar o negócio.
Admitindo-se que exista uma oposição entre o trabalho autó-
nomo ou independente e o trabalho regular assalariado que se ma-
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nifesta, ao nível da estratégia pessoal, na necessidade final de u m a
opção por um dos dois, o exemplo deste informante indica a tenta-
tiva quase desesperada de eliminá-la. É flagrante que o risco envol-
vido na decisão em favor do trabalho autónomo - só adotado em
último caso - foi cercado pelo maior número possível de salvaguar-
das. Além disso, ao contrário do que afirma extensa literatura, o
loco de decisão pouco ou nada tem a ver com um suposto desejo de
independência 2. O trecho citado mostra claramente que ele está
orientado muito mais pelo trabalho regular assalariado do que pela
expectativa de autonomia. É certo que o caso acima apresenta ca-
racterísticas particulares que facilitam o adiamento da decisão final
- o fato de que o informante estava trabalhando no turno da noite,
o fato de que ele teve a possibilidade de "entrar em a c o r d o " e conti-
nuar trabalhando na mesma empresa, etc. Em muitos outros casos
- em especial os de utilização de indenizações por demissão, já bas-
tante conhecidos - isto n ã o é possível; aqui, trata-se de optar por
gastar a indenização, no todo ou em parte, durante a busca de ou-
tro emprego regular, ou aplicá-la como capital inicial para " b o t a r
um negócio". Mas deve-se lembrar que, uma vez mais, o foco da
decisão continua sendo o emprego regular, na medida em que ela
vai variar em função das condições do mercado de trabalho.
A centralidade do emprego regular pode ser vista em outro pa-
drão de entrada na atividade comercial, também bastante comum.
Trata-se de aposentados ou "encostados" que se dedicam a "nego-
ciar". Aqui, a conciliação não é apenas uma tentativa, mas u m a
realidade. Já que o trabalho assalariado regular está protegido pela
legislação trabalhista, que supõe a assistência previdenciária em ca-
sos de doença ou aposentadoria, a atividade autónoma ou indepen-
dente é simplesmente agregada à condição de segurado. T u d o o que
"botar um negócio" implica (além de um capital inicial, de que se
lalará em seguida) é a utilização do tempo liberado pela cobertura
previdenciária. Neste sentido, é altamente ilustrativo o caso de um
informante que trabalhava numa firma sem carteira assinada:
"Quando minha perna começou ... com esse problema, então
eu comecei pedindo a carteira dele (o patrão pedia a carteira
dos empregados, e a guardava "na gaveta"), e ele nada de car-
teira, nada de carteira (...) (Finalmente) ele assinou. Aí o ge-
rente foi e assinou também ... Eu botei a carteira no Instituto
(...). Comecei recebendo do Instituto que eu não podia mesmo
trabalhar com a perna (...). É, rapaz, a minha barraca eu ... eu
fiquei com uma época parado, então tinha de me movimentar,
me entendeu? Eu estudava um negócio assim de ... que não
desse prá mim andar muito. Aí depois estudei ... resolvi botar
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 uma barraca, botei uma barraca e comecei, negociando". (O
informante até hoje é comerciante, mas depois de certo tempo
como "encostado" foi aposentado por invalidez. Seria interes-
sante saber qual teria sido sua atitude em relação à barraca,
caso fosse liberado para voltar ao emprego).
Mas não é apenas dessa forma direta que a cobertura previden-
ciária permite a articulação entre os dois tipos de trabalho. As cha-
madas vantagens ou benefícios do trabalho assalariado regular são
também centrais. Outro informante, aposentado, usou a possibili-
dade de obter empréstimos (indissoluvelmente ligada à cobertura
legal desfrutada pelo trabalhador) para abrir, e mais tarde ampliar,
seu negócio:
"Essa barraca foi o seguinte. Essa barraca ... como ainda hoje
ela não tem nada, eu comecei do nada, entendeu? A gente sem-
pre, se quer adquirir um dinheirinho mais avultado, a fazer
qualquer negócio, a gente ... a gente ... corre para um emprésti-
mo. A gente sócio da CAPEM I, aí... aí tem direito de fazer um
empréstimo. Como também a Caixa Económica emprestava à
minha repartição, funcionário dela, mas agora está suspenso,
desde o ano passado. Não sei porque. Então ... a gente ... o
pessoal da CAPEMI, aí ela empresta. Cinco mil, dez mil, aí ...
doze meses, ou 24 meses. E assim a gente faz qualquer coisa.
Foi assim que eu comecei a fazer essa barraca. Mas que ...fiza
metade de que tem aqui. Nunca enchi ela, botei o que tinha di-
nheiro para botar. Mas depois de dois anos eu tirei um em-
préstimo. Então, dois anos depois eufiznovo empréstimo e ...
aumentei a barraca. Agora, fiquei sem dinheiro prá ... prá
comprar a mercadoria. Compra mercadoria. Portanto, eu tou
esperando que chegue nova oportunidade, prá eu agora ... au-
mentei mais, agora tem espaço prá botar a mercadoria. Logo
que eu possa fazer um empréstimo eu faço, prá comprar mer-
cadoria".
Antes de entrar nas considerações a respeito do funcionamento
desses pequenos estabelecimentos comerciais, cumpre indicar uma
outra evidência da falsa oposição entre trabalho regular assalariado
e trabalho autónomo ou independente. O mesmo informante que
foi obrigado a abandonar o emprego na fábrica têxtil (primeira ci-
tação deste capítulo) afirma:
"(Pergunta: Você não pensa em voltar a trabalhar lá?) Não...
às vezes é que dá vontade, né? ... que ... a gente se acostuma
com os colegas mas ... eu não tenho (incompreensível). E às ve-
zes eu tenho vontade se ... eu me casar algum dia ... botar ...
pegar uma mulher dentro de casa, então eu volto a trabalhar".
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Fica evidente que, na impossibilidade física de articular o tra-
balho assalariado regular com o trabalho no estabelecimento co-
mercial, a tentativa de conciliação é transferida para a esfera da
unidade familiar '. N ã o é de estranhar, portanto, que se encontre
tantas mulheres trabalhando nestes pequenos estabelecimentos co-
merciais. Isto porque o "negócio", na grande maioria dos casos, é
pensado em caráter complementar e subordinado ao trabalho assala-
riado regular, mesmo quando, concretamente, é a única atividade
remunerada (como no exemplo acima) 4 .
N ã o se discutiu, por considerar que suas implicações transcen-
dem o escopo do presente trabalho, o que a conciliação - real ou
procurada - entre estes dois tipos de atividade implica em termos de
aumento da jornada de trabalho. U m a reflexão neste sentido, pode-
ria indicar que o trabalho independente impõe-se à consideração
dado o baixo nível de remuneração do trabalho regular assalariado,
cuja constatação pode ser expressa pelo trabalhador sob a forma de
desejo de autonomia. Daí a confusão da literatura, que toma as
afirmativas neste sentido literalmente, e as explica em função do
"tradicionalismo cultural" de parte da força de trabalho urbana.
Vista a questão sob esse ângulo, a conciliação entre o trabalho inde-
pendente e o trabalho assalariado constitui-se numa denúncia con-
creta das péssimas condições de vida da classe trabalhadora. Note-
sc que, embora este capítulo restrinja-se a apenas uma forma de tra-
balho independente - a exploração de pequenos estabelecimentos
comerciais - este tipo de consideração pode ser estendido às outras
modalidades de trabalho independente, c o m o demonstram vários
capítulos do presente livro.
Parece desnecessário explicitar que aqui se adota, no espírito
mesmo do projeto original da pesquisa, a perspectiva " d o trabalha-
dor". Isto é, determinações mais gerais são vistas a partir de "estra-
tégias pessoais" (ou, no máximo, familiares). De fato, ao nível da
presente discussão, "botar um negócio" não pode deixar de ser vis-
to como escolha do trabalhador, dadas certas condições que ele não
controla. Mas, ao contrário de outros estudos - como o de Lopes
(1971), já citado, e mesmo de trabalho anterior do próprio autor
(Machado, 1971) - que enfatizam o caráter de opção entre duas mo-
dalidades distintas de trabalho, o presente capítulo procura de-
monstrar que a "estratégia pessoal" de articulação entre o trabalho
independente (no caso, o estabelecimento comercial) e o trabalho
assalariado regular é uma resultante quase inelutável dos níveis de
remuneração da força de trabalho. C o m isto, pretende-se sugerir
que as relações entre trabalho assalariado e trabalho independente
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devem ser repensadas, pelo menos no que se refere à linha dos estu-
dos citados acima 5.
O funcionamento: sucesso ou insucesso?
As considerações acima nada informam sobre as possibilida-
des de sucesso ou insucesso do empreendimento, que no entanto
são muito importantes para avaliar a eficácia do mesmo como fonte
de renda de estabilidade (e montante) variável - isto é, para avaliar
a eficácia da "estratégia pessoal". É claro que, para que isto possa
ser feito, a atenção deve voltar-se para os padrões e características
do funcionamento deste tipo de atividade comercial \e p o n t o
de vista, várias dimensões devem ser consideradas: a) o capital ini-
cial; b) as restrições do mercado; c) questões de administração do
negócio ; .
a) O capital inicial. Nas páginas anteriores já se viu, de uma
forma indireta, os meios de obtenção do capital inicial: indeniza-
ção, empréstimo, poupança sobre o próprio salário. É lógico que,
apesar de tratar-se de um investimento muito reduzido em qualquer
caso, ele vai variar de acordo com o capital disponível. Este, por
sua vez, será sempre função de fatores que nada têm a ver com a ati-
vidade comercial, e sim com a situação do proprietário enquanto
trabalhador (ou ex-trabalhador) assalariado: número de anos de tra-
balho, capacidade de endividamento estipulada pelo órgão finan-
ciador a partir da remuneração mensal do prestamista, nível sala-
rial.
Um ponto muito importante a considerar é o que se refere à
disponibilidade de um local para comerciar. Em alguns casos, este
já existe, podendo ser desde uma "loja" propriamente dita até uma
janela acrescida de pequeno balcão de madeira. Neste último caso,.
é evidente que o investimento em equipamento físico é mínimo, r e s -
tando apenas o problema, talvez secundário, de decidir se a mora-
dia deve ou não ser computada, para efeitos contábeis, como capi-
tal inicial.
De qualquer forma, vale a pena explicitar uma vez mais o que
já foi visto de forma indireta no início deste capítulo: parece que a
curva de capitalização deste tipo de estabelecimento obedece a um
padrão único, apesar das variações de quantidade. Assim é que, no
momento de implantação do estabelecimento, o investimento é o
menor possível. É apenas num segundo momento, em que o pro-
prietário já teve experiência suficiente para fazer uma avaliação po-
sitiva do risco - isto é, quando eleja constatou que são boas as con-
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dições de estabilização do negócio - que o investimento é ampliado
até o limite máximo possível em cada caso.
Estas considerações são importantes porque, em geral, acredi-
ta-se que o insucesso dos pequenos estabelecimentos comerciais
pode ser imputado, pelo menos em parte, ao pequeno volume de ca-
pital disponível para sua implantação. Na realidade, pelo que ficou
dito, trata-se exatamente do contrário: o capital inicial é sempre re-
duzido ao mínimo possível, sendo que o investimento máximo
ocorre depois do sucesso do empreendimento.
b) As restrições do mercado. Tratando-se de estabelecimentos
pequenos, localizados em "bairros populares" geralmente distantes
ou "enquistados" no tecido urbano, sua clientela é, em consequên-
cia, "de vizinhança" (isto é, quem compra não é o passante ocasio-
nal mas o morador das imediações e com baixo poder aquisitivo).
Devido a estas circunstâncias, "vender fiado" não é uma opção do
proprietário, mas antes uma condição de funcionamento do negó-
cio *. Daí não ser de espantar que todo o discurso dos proprietários
desses estabelecimentos esteja cheio de referências à venda fiada,
referências estas permeadas pela tensão entre o reconhecimento da
necessidade de vender fiado devido ao baixo poder aquisitivo da
clientela e o conflito com os compradores que surge dessa necessi-
dade. Assim, veja-se o seguinte trecho de entrevista:
"Pesquisador: Você não pode cortar o fiado, não? Informante:
Posso cortar. Se a pessoa não for certa, eu corto. Mas freguês
certo eu não posso cortar não. Pesquisador: Eu tou falando
cortar, parar de vender fiado. Informante: Não, não para não.
Não tem esse negociante que ... que não venda fiado. Por mui-
to duro que ele for, mas ele tem que vender fiado. Pesquisador:
Porque? Informante: Porque o povo faz a gente vender mes-
mo. A gente não quer, mas o povo chega, a gente tem que
vender. Nem todo mundo tem dinheiro, no meio da semana
ninguém tem dinheiro (...) Mesmo que até na quarta, quinta-
feira, até na quinta feira mesmo ... tenha alguma ... alguma
besteirinha ... mas da quinta por diante... aí tem que comprar,
qualquer besteira pra ... pra o sábado".
Neste caso, existe o reconhecimento de que qualquer negocian-
te tem que vender fiado, porque "o p o v o " (isto é, a freguesia) obri-
ga, não porque o negociante queira. Claro, pois se " o povo" não
tem dinheiro nos últimos'dias da semana, se o negociante quiser
vender alguma coisa terá que faze-lo fiado...
Existe uma outra forma de dizer a mesma coisa, com uma dife-
rença: não é a freguesia que obriga, mas a piedade do proprietário
que concede. N o entanto, o fundamental é que permanecem as refe-
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 rências ao baixo poder de compra da freguesia, e consequentemente
à necessidade de vender fiado.
"Mas aí é um bairro muito pobre, aqui em (nome do bairro) é
um bairro muito pobre, que não dá. O sujeito que tem um bom
coração ele não pode negociar dentro de (nome do bairro),
porque o povo compra muito fiado e eles não podem comprar
a dinheiro. E eu tinha que vender fiado a eles, eu tinha pena,
chegava um pedindo ... prá comprar pão, outro pedia, enten-
deu?"
Assim é que as restrições do mercado, vistas sob a ótica do
"vender fiado", são vistas como o principal responsável pelo insu-
cesso no negócio:
"Mas também eu ... eu ... não tenho muita ... De vez em quan-
do um me engana com 100, 200, 50, 20 ... sempre, sempre um
me engana. Sempre, sempre me engana. Então eu não tenho,
eu não tenho muita sorte pra negócio."
"Implorava que não tinha pão pra dar os menino e eu ia ven-
dendo. Depois eles não tinha possibilidade de pagar, encosta-
va a conta lá. E assim foi sucessivamente e então perdi um bo-
cado de dinheiro. Eu vi que não dava jeito, então tive que fe-
char a barraca."
O problema que se coloca, portanto, no que diz respeito às
condições do mercado, não é vender ou não vender fiado. Trata-se,
antes, da questão de como vender fiado sem ter prejuízo ou, no
mínimo, de como minimizar o prejuízo decorrente da venda fiada -
o que remete a uma terceira dimensão do funcionamento do estabe-
lecimento comercial, a administração do negócio.
c) A administração do negócio. N o que diz respeito ao contro-
le da venda fiada, há dois aspectos a serem considerados: o controle
da capacidade de endividamento do freguês e a decisão sobre que
tipo de mercadoria deve (ou tem que) ser fiada. Q u a n t o ao primeiro
caso, o depoimento de um negociante bem sucedido é suficiente por
si só:
"(Pergunta: Corrío é que você faz pra vender fiado? Você vende
fiado pra qualquer um?) Informante: Eu ... primeiro vendo a
qualquer um da primeira vez, mas deixando um documento,
né? Chegar assim e falar ... Agora conhecido eu vendo, né?
Comprar ... cume ... cê chega aqui pra comprar a primeira vez
... aí vem compra a segunda ... Uma vez cê tá meio atrapalha-
do ... Agora, se naquele dia certo não vim, aí eu ... corto pelo
pé logo. E se continuar certinho eu vou, até o fim (...)"
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"Mensal eu só tenho dois freguês. Mensal não tá fazendo por-
que demora muito (...) Pessoa que ganha um salário, né ... 602
cruzeiro. Eu não vou vender mais de 500 cruzeiro, porque eu
sei que ele não pode (...) Tem que olhar, saber quanto ganha,
pra saber quanto eu posso (incompreensível). (Pergunta: E a
pessoa que não ganha salário, como é que você faz isso?)
Quando não tem salário ele diz mais ou menos quanto ganha,
né? Por semana. Então digamos se a pessoa é um pedreiro ...
ganha (incompreensível) o salário, às vezes faz biscate, faz
uma certa biliscada, né ... empeleitada ... Mas ao menos ele
sabe quanto ganha por semana, né. Que às vezes, suponha-'
mos, uma empeleitada de dois mil cruzeiros ... aí ele sabe
quando é que termina aquela empeleitada e quanto é que tira
por semana, entendeu? Que ele quando faz uma empeleitada
não recebe (incompreensível). Toda a semana tira aquilo e no
final recebe o restante ... Então mais ou menos ele sabe quanto
é que ... que ... que pode tirar por semana. Aí ele sabe o que
pode comprar, e eu também sei o que posso vender. Quando a
pessoa não ganhar eu não posso vender nada, né?"
Deve-se chamar atenção para o fato de que o informante esta-
va se referindo aos fregueses que compram fiado regularmente'.
Existe também o fiado ocasional, que normalmente envolve peque-
nas quantias e é muito mais difícil de conseguir, uma vez que o
risco de não pagamento é grande. Este tipo de venda fiada depende
da insistência do comprador (mesmo quando conhecido do nego-
ciante) e/ou da "dureza" do d o n o do estabelecimento.
Outro aspecto da venda fiada diz respeito ao tipo de mercado-
ria que o comprador deseja adquirir. Existe um certo consenso en-
tre os negociantes no sentido de que cigarro e bebida não precisam
ser vendidos fiado, ao passo que comestíveis (pão, cereais, feijão
• etc.) não podem escapar da venda fiada. Isto se explica, por um la- ,
tio', por certas Considerações humanitárias (a "piedade" do n e g o - '
ciante - veja-se um dos depoimentos anteriores), mas também por-
que não se estragam, ao passo que os géneros alimentícios são pe-
• recíveis. As questões relativas ao controle da venda fiada podem ser
Ião importantes a ponto de o proprietário procurar orientar seu ne-
gócio no sentido de "livrar-se" das mercadorias que precisam ser
liadas:
"Olhe, coisa de comida eu não boto, porque o pessoal só come
fiado. Eu sou muito conhecido aqui. Há três anos que tou mo-
rando aqui, e o pessoal me conhece. Então tem muita gente aí
nesse meio que não tem ... não tem muita ... sentimento. A
gente diz que não vende fiado e o pessoal vem e compra ... não
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 paga novamente. Tem cara de (incompreensível) umas três ou
quatro vezes, sabe como é ... E coisa de comida não dá, porque
o pessoal não tem recursos. São muito sinceros. Aí... a bebida.
Bebida se deixa aí não apodrece (...) Mas ... parte dos cereais
eu não queria, porque ... o pessoal só querem comprar fiado. E
já a bebida já é uma parte mais de luxo. Só bebe quem pode.
Muitos bebem sem poder, mas é o ... uma coisa ... mais ... rara,
porque o sujeito que vai beber tem que ter qualquer trocado
no bolso. H a comida, a gente é obrigado a vender, mesmo que
o cara não tenha dinheiro".
O depoimento acima, além do problema do controle da venda
liada, aponta para outro importante aspecto da administração do
negócio: o tipo de mercadoria a ser vendida e a questão da reposi-
ção do estoque. O informante acima tende claramente para a opção
dc cspecializar-se em mercadorias que ofereçam menos riscos de
perda devido a venda fiada. Em outras palavras: já que não é possí-
vel abolir a venda fiada, trata-se de reduzi-la ao mínimo através da
especialização (o ponto aqui não é tanto o controle da venda fiada,
mas sua eliminação). Existe, porém uma orientação alternativa: a
da máxima diversificação de produtos à venda "'; desde que esses
produtos "tenham saída":
"Ku vou dizer uma coisa. Aqui é pequeno mas ... de tudo tem,
né'.' hntendeu como é. Tudo que você precisar, dessas besteira-
zinha, tudo tem (...) vendo negócio de miudeza, né (...) mulher
quer um sabonete, quer um talco, tudo tem aqui. Mamadeira,
esmalte (...) Ku comecei vendendo só cereais, vendendo esse
negócio de bebida não. Depois foi que eu aumentei butando
uma linhazinha, né, uma besteirinha, depois fui procurando
sempre ... Eu sou assim ... Eu só (compro) mercadoria que a
pessoa procura, entendeu ... Que pra vender que a pessoa de
anos em anos vem procurar eu não compro não. Que merca-
doria que a gente compra e passa tempo pra pessoa procurar
não dá resultado não porque ... fica um dinheiro empancado,
entendeu?"
Outra questão fundamental na administração do negócio é o
controle da flutuação dos preços de compra do produto, de modo a
que se evite a descapitalização do empreendimento. Este é um
problema crucial, na medida em que o capital de giro é sempre mui-
to reduzido. O seguinte depoimento é modelar pois, além de ser al-
tamente sugestivo, indica uma das razões de insucesso no negócio:
"Nós compramos. Não tá sabendo o preço de aumento, aí
vende aquela mercadoria de preço baixo. Quando vai com-
prar, compra mais do que vendeu entendeu? Já tem acontecido
188
dessas comigo, mas quando eu era meio ... meio (incom-
preensível), né. Mas agora eu faço pesquisa, tá entendendo
como é? t u compro hoje ... quando for amanhã, ou depois, eu
faço uma pesquisa para saber se ele baixou ou aumentou, en-
tende? Aí, é por isso que eu vou levando o negócio à frente.
Porque ... compra ... e esquece ... não vai ... não sai pra canto
nenhum ... não vê o movimento do lado de fora ... Vende a
mercadoria todinha a preço velho. Quando vai comprar, com-
pra a mais-do que o preço que vendeu. Pela tabela ele tá crente
que tá ganhando, né? Pelo que comprou. Mas deixe que aquela
mercadoria já aumentou, quase até o dobro (...) Quer dizer
que o dinheiro que ele comprou, não dá pra comprar nem a
metade do que vai comprar, do mesmo ..."
I)cve-se notar que, apesar de todo o empenho, o conhecimento
sistemático da lógica de reposição do estoque é muito limitado. Sal-
vo as informações genéricas obtidas acima, os depoimentos foram
sempre omissos a respeito. Suspcita-sc que tal fato não se deva a
qualquer decisão consciente de escamotear informações por parte
dtlH pessoas entrevistadas ou de incapacidade técnica do pesquisa-
dor, mas sim a uma provável característica central da dinâmica do
empreendimento. Todos esses estabelecimentos parecem ter uma
Blirência crónica de capital de giro adquirindo, portanto, quantida-
des muito limitadas de mercadorias ". Assim, a decisão sobre o que
comprar e quanto comprar está limitada, por um lado. pela quanti-
dade dc dinheiro disponível a cada momento c, por outro, pelos
preços dc ocasião" das mercadorias adquiridas. A m b o s os fatorcs
sc conjugam para impedir que sejam tomadas decisões de médio ou
longo prazo, além da genérica escolha entre a "especialização" ou
"diversificação". A reposição do estoque ficaria, pois, à mercê dc
nina série de decisões ad hoc, muito difíceis de serem verbalizadas
pelo informante, e que só poderiam ser captadas a partir dc perío-
dos muito longos de observação dircta.
Variações dos tipos de "negócio"
Ale aqui, falou-se apenas de um tipo de "negócio", a "barra-
ca". Para finalizar este capítulo, embora as informações disponíveis
sejam esparsas, é interessante fazer algumas breves referencias a ou-
uos tipos. Não se tem a pretensão de uma análise detalhada dos ti-
pos de "negócio" mencionados a seguir, nem sc afirma que eles se-
iam os únicos existentes. Estas considerações finais tem apenas o
objetivo de tentar, por contraste, contextualizar o espaço social
Onde sc insere a "barraca".
189

O tipo de atividade comercial que parece estar mais próximo
da "barraca" é o "fiteiro", pequenas construções de madeira mon-
tadas na calçada, que vendem principalmente cigarros e balas, mas
às vezes também miudezas (linhas, envelopes, cartões postais, e t c ) .
Existem, porém, pelo menos duas características que o distinguem
da "barraca". Em primeiro lugar, situado em geral nas ruas da ci-
dade (a maior concentração é justamente no centro), sua clientela é
muito mais diferenciada. Se no caso da " b a r r a c a " ela é composta
pelo "freguês", ou no máximo pelo morador da vizinhança, o clien-
te típico dó "fiteiro" é o transeunte, o passante ocasional. Isto,
acrescido do fato de que as mercadorias postas à venda não são pe-
recíveis, faz com que os problemas relativos à venda fiada sejam
praticamente inexistentes. D o ponto de vista do mercado, o sucesso
ou insucesso de um "fiteiro" parece derivar tão somente de sua lo-
calização.
Em segundo lugar, exatamente por localizarem-se ao longo de
vias públicas, sua visibilidade é muito maior do que a da "barraca",
o que coloca de forma muito mais aguda a questão de sua regulari-
zação legal, ou seja, da "licença". N ã o se deve pensar, de forma al-
guma, que todo "fiteiro" seja oficialmente licenciado: em muitos
casos, um "fiteiro" pode instalar-se com a simples "cobertura" de
um pistolão ou da condição de invalidez do proprietário, etc n .
Veja-se, por exemplo, o depoimento de um "fiteiro" a respeito de si
próprio e de outros barraqueiros:
"A licença do fiteiro se tira na Prefeitura. Eles dão a licença. O
cara paga uma taxa, entendeu? Então eles dá um cartão, cha-
ma um cartão azul. Quer dizer quando o fiscal chega e diz: Ca-
dê a licença? Então ele traz a licença é um cartão dado pela
prefeitura. Ele apresenta, pronto. Ali você tá seguro (...) Agora
existe diversos lugar aí, como que seja ali, perto da (nome do
lugar), então ali tem uma série de fiteiro. Quer dizer, ali ne-
nhum tem licença, porque todos os dias falam, a Prefeitura fa-
la, que vão tirar aqueles fiteiro dali (...) Então aquele muito
nego ali num tem, num tem. Eles vivem assim porque tem um
amigo e falam com ... Vai lá dentro e fala com o homem, o ho-
mem (diz) você bota lá por enquanto, mas que eu não vou dar
uma licença a você (...). Eu ficava pela questão de ... de colher
de chá, invalidez. Que eu era inválido, então eles tinha pena".
Finalmente, existe um terceiro tipo de negociante, o vendedor
ambulante ou camelo ' \ respeito do qual as informações disponí-
veis são muito escassas - o que é lamentável, porque sob esta rubri-
ca estão englobadas miríades de formas de comércio completamen-
te residuais em toda a literatura especializada. De qualquer forma,
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nqui pode-se dizer apenas que: a) os vendedores ambulantes dedi-
i iin-sc principalmente à venda de frutas; b) em alguns casos podem
Ur um ponto mais ou menos fixo de venda, ao qual voltam diaria-
mente por longos períodos de tempo; em outros casos, o local de
venda, ou a própria atividade de vendedor ambulante, é muito ins-
lável; c) os vendedores ambulantes correm sempre grande perigo de
tei seus produtos apreendidos pela fiscalização (a "carrocinha"),
raso cm que o prejuízo é total; d) neste sentido, vendedores ambu-
lantes não se distinguem de camelos, exceto quanto ao tipo de mer-
cadoria vendida.
"Rapaz, o vendedor ambulante, ele é um homem que ele não
tem condições de ser um cara estabilizado (...) Ele vive peram-
bulando, entendeu? É um homem sem serviço, sem segurança.
Tanto faz ele estar ali ganhando pão dele, como a mesma hora
chegar o carro com a carrocinha, prender (...) Eles não pode ti-
rar uma licença, a prefeitura não dá, não libera uma licença
para um ambulante, aqueles que vendem por ali pelo meio da
rua, que chamam... camelo. O camelo eles não tem licença. Ele
abre o troço dele ali, grita, e vende e quando a carrocinha vem
eles saem correndo. O ambulante chama-se o camelo. E o
povo antigamente eles chamavam o ambulante. Hoje em dia
eles chamam o ambulante àqueles que vendem roupa por ali
perto do Mercado, coisa e tal. Mas antigamente só se conhecia
o ambulante, esse que andava com o balaio nas costas, um tro-
ço na cabeça empurrando uma carroça gritando pelas ruas né?
A aparente confusão d o depoimento acima, além de ser extre-
mamente ilustrativa da complexidade do tema, deve-se talvez ao
lalo de que o informante procurou incorporar a seu discurso a no-
menclatura oficial. Assim, depois que (parece que o caso foi citado
apenas como exemplo) os vendedores de roupa do mercado tiveram
regulamentada sua atividade, sob a rubrica de ambulante, o tipo de
comércio que esta palavra antes indicava passou a ser denominada
"camelo".
191

Noras
1 Sem a intenção de uma análise elaborada da expressão "negociar/negócio"
pode-se dizer que se trata de um termo muito genérico, que indica um enorme
número de tipos de atividade de comercialização. No momento, o argumento se
desenvolve em torno de um tipo particular, que na área estudada recebe a deno-
minação de "barraca". No final deste capítulo, far-se-á referência u outros tipos.
(Pode-se ver que a "barraca" possui características muilo semelhantes à "bode-
ga", que provavelmente é um termo sinónimo usado em outras regiões do nor-
deste.
2 Cf. o já clássico trabalho de Lopes (1971), por exemplo. Ver também, a este res-
peito, o estudo de Cristina Marin neste livro, que chega a conclusões muito seme-
lhantes às do presente capítulo, analisando um grupo de trabalhadores em situa-
ção bastante diversa daqueles cujos depoimentos são aqui analisados.
.1 Sobre este ponto de vista, consulte-se o trabalho de Maria Rosilene Alvim neste
livro.
4 A centralidade do trabalho assalariado regular (e seu corolário, a cobertura pre-
videnciária) é demonstrada, sob outro ângulo, no trabalho de Amélia Rosa Tei-
xeira incorporado a este livro.
5 Cfr. neste sentido o trabalho - pioneiro no Brasil - de Oliveira (1972).
6 Devido às características particulares deste tipo de estabelecimento - pequeno
volume de capital, pouca diferenciação de mercadorias, mercado (freguesia) res-
trito e localizado, etc. - as próprias características da "personalidade" do pro-
prietário podem ser um fator muito importante para o sucesso ou insucesso do
empreendimento. No entanto, preferiu-se não entrar nesta linha de considera-
ções por considerar que ela foge da ênfase geral do presente trabalho.
7 Ao selecionar estas dimensões, não se pretendeu com isto haver esgotado os fato-
res que influem sobre o funcionamento deste tipo de estabelecimento comercial.
Estes três aspectos devem ser entendidos, simplesmente, como aqueles a respeito
dos quais se dispõe de informações. Além disso, como pode ser percebido pela
192
leitura do próprio texto, o volume de informações é maior para alguns aspectos
do que para outros.
S Note-se que isto não é de forma alguma exclusivo do estabelecimento comercial,
estendendo-se também para outros tipos de atividade, como por exemplo a cos-
tura. Veja-se as referências a respeito das costureiras no próximo capítulo.
9 "Mas quando.chega no sábado, às vezes na sexta, às vezes no sábado ... Quando
é pela manhã ... sábado pela manhã, sábado à tarde, aí compra uma e faz outra,
né... Paga aquela (conta) e faz outra... No meio da semana compra besteira..."
10 As informações colhidas não permitem uma avaliação definitiva da eficácia rela-
tiva dessas duas estratégias (especialização x diversificação de produtos), mas
tudo indica que a segunda tira melhor partido das condições de mercado para
este tipo de estabelecimento. Sendo a clientela reduzida e de baixo poder aquisiti-
vo, como se viu, estas condições podem ser compensadas pela diversificação. Au-
mentando-se a variedade de mercadorias disponíveis, aumenta-se, pelo menos
potencialmente, o volume de vendas.
11 Apesar de em vários casos estes empreendimentos apresentarem altos níveis de
rentabilidade, não se deve perder de vista que sua capitalização é muito lenta,
pois a maior parte do lucro é desviada para a manutenção do proprietário e seus
familiares. Note-se ainda que na grande maioria dos casos, as retiradas - que po-
dem ser em dinheiro ou espécie - do proprietário, não são fixas ou rotinizadas,
nem variam em função das contingências do "negócio", mas sim de suas necessi-
dades de consumo pessoal.
12 A questão da licença de funcionamento também se coloca para o barraqueiro,
mas pode ser contornada muito mais facilmente, bastando para isso pequenas
precauções:
"Eu às vezes (incompreensível) aumentar, porque ... um negocinho assim peque-
no o fiscal não dá tanto em cima, né? E com muito, aí o fiscal bate em cima. A
gente pequeno assim não..."
De qualquer forma deve-se notar que, ao que parece, todas as condições econó-
micas de implantação e funcionamento mencionadas no caso da barraca são váli-
das também para o fiteiro. Mas ao contrário do barraqueiro, o fiteiro precisa
também de um "padrinho" ou "pistolão".
13 Aqui, aplica-se a terminologia dos grupos entrevistados, muito diferente da ofi-
cial, que dá uma amplitude muito maior à palavra. O fiteiro, por exemplo, tem
uma licença como "ambulante".
193
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Séne I SM IDOS SOBRE O N O R D E S T E
vol. J
José Sergio Leite Lopes
Luís Antonio Machado da Silva
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I i HMI llCO dc Oliveira Jorge Eduardo Saavedra Durão
HObcrtO Maia Martins Maria Cristina Mello Marin
MU.KII Palmeira Amélia Rosa Sá Barreto Teixeira
MUDANÇA SOCIAL NO NORDESTE
Ficha catalográfica
CIP - Brasil. Catalogação-na-fontc
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. A REPRODUÇÃO DA SUBORDINAÇÃO
M 916 Mudança social no Nordeste: a reprodução da subor-
dinação / [por] José Sérgio Leite Lopes... [et al.]. - Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Estudos sobre trabalhadores urbanos)
(Série Estudos sobre o Nordeste; v. 5)
1: Salários - Brasil - Nordeste 2. Trabalho e classes
trabalhadoras - Brasil - Nordeste I. Lopes, José Sérgio
Leite II. Série
C D D - 331.29812
331.291732
/'> <H22 C D U - 331.2(812/814-21)
I IHIOKA l'AZ F TERRA
(tni\cih<> Editorial',
A MI o ('tiiulido
( I-KH Furtado
I ii miiiilo (limpuriun
I nmiiiilo Henrique Cardoso