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Saiba o que é, de onde veio e como funciona o Candomblé, o culto africano que fez (e faz) a cabeça
da civilização brasileira.
A Religião
Os navios negreiros que chegaram entre os séculos XVI e XIX traziam mais do que africanos para
trabalhar como escravos no Brasil Colônia. Em seus porões, viajava também uma religião estranha aos
portugueses. Considerada feitiçaria pelos colonizadores, ela se transformou, pouco mais de um século depois
da abolição da escravatura, numa das religiões mais populares do país.
Quem gosta de cachaça é Exu. Quem veste branco é Oxalá. Quem recebe oferendas em alguidares
(vasos de cerâmica) são orixás. E quem adora os orixás são milhões de brasileiros. O candomblé, com seus
batuques e danças, é uma festa. Com suas divindades geniosas, é a religião afro-brasileira mais influente do
país.
Não existem estatísticas que dêem o número exato de fiéis. Os dados variam. Segundo o Suplemento
sobre Paticipação Político-Social da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 1988, 0,6% dos chefes de família (ou cônjuges) seguiam cultos afro-
brasileiros. Um levantamento do Instituto Gallup de Opinião Pública, no mesmo ano, indicou que candomblé
ou umbamda era a religião de 1,55 da população.
São índices ridículos se comparados à multidão que lota as praias na passagem de ano, para
homenagear Iemanjá, a orixá (deusa) dos mares e oceanos. Elisa Callaux, gerente de pesquisa do IBGE,
explica por que, tradicionalmente, os índices dos institutos não refletem exatamente a realidade: "Os próprios
fiéis evitam assumir, por medo do preconceito." Ela tem razão. A mais célebre mãe-de-santo do Brasil,
Menininha do Gantois, falecida em 1986, declarou certa vez ao pesquisador do IBGE que era católica.
Apostólica romana.
De seu lado, a Federação Nacional de Tradições e Cultura Afro-Brasileira (Fenatrab) desafia
ostensivamente as cifras oficiais e garante haver 70 milhões de brasileiros, direta ou indiretamente, ligados
aos terreiros - seja como praticantes assíduos, seja como clientes, que ocasionalmente pedem uma bênção ou
um "serviço" ao mundo sobrenatural.
Você pode achar um exagero, e talvez seja mesmo, mas terreiro é o que não falta. Em 1980, num
convênio da Prefeitura de Salvador com a Fundação Pró-Memória, o antropólogo Ordep Serra, da
Universidade Federal da Bahia, concluiu um mapeamento dos terreiros existentes na região metropolitana de
Salvador. Eram 1200. "hoje são muitos mais", assegura Serra.
Mais recentemente, o Instituto de Estudos da Religião (ISER) verificou que 81 novos centros
"espíritas" (englobando cultos afro-brasileiros e kardecismo) haviam sido abertos no Grande Rio de Janeiro
no ano de 1991, e que, em 1992, surgiram outros 83. O sociólogo Reginaldo Prandi, da Universidade de São
Paulo, contou, em 1984, 19500 terreiros registrados nos cartórios da capital paulista.
Onde tem terreiro, tem festa. Por isso, para levar você ao mundo do candomblé, vamos começar por
convidá-lo para uma festa no terreiro. Nas próximas páginas, você conhecerá em detalhes um dos fenômenos
mais impressionantes da civilização brasileira.
São nove horas da noite. Os tocadores de atabaque, chamados alabês, estão a postos em seus
lugares. O público - cerca de 40 pessoas - aguarda em silêncio, acomodado em bancos rústicos de madeira.
Os homens, na fileira à direita da porta. As mulheres, do lado esquerdo. Separados, para evitar um eventual
namoro. Afinal, ali não é lugar para isso. Estamos num templo do candomblé, a Casa Branca, em Salvador,
Bahia, o pioneiro do Brasil, fundado em 1830. A festa (que pode ser comparada a uma missa católica) vai
homenagear Xangô, o deus do fogo e do trovão.
O barracão foi decorado durante toda a tarde. O teto de telha-vã foi escondido por bandeirolas
brancas e vermelhas - as cores de Xangô. As paredes estão enfeitadas de flores e folhas de palmeira de dendê
desfiadas. Vai começar o toque, como é chamada a festa de candomblé no Brasil. Ela é aberta a todos os
orixás (deuses, que também podem ser chamados de santos) que quiserem homenagear Xangô.
O que o público vai assistir é parte de um ritual que começou horas antes. Na madrugada, os filhos-
de-santo fizeram o sacrifício para o orixá homenageado. Nas primeiras horas da manhã, as filhas-de-santo
prepararam a comida. Durante a tarde, foi feita a oferenda aos deuses, e Exu, o mensageiro entre os homens e
os orixás, foi despachado.
A casa está cheia: 85 pessoas lotam o barracão. Os atabaques começam a "falar"com os deuses. Os
orixás são invocados com cantigas próprias e os filhos-de-santo "entram-na-roda", um a um, na chamada
ordem do xirê: primeiro, o filho de Ogum, seguidopelos filhos de Oxóssi, Obaluaiê e assim por diante.
O Toque
A Importância da Música
O Calendário Litúrgico
Em qualquer terreiro, a entrada dos orixás na festa segue sempre a mesma sequência da ordem do
xirê. Depois de despachar Exu, o primeiro a entrar na roda é Ogum, seguido de Oxóssi, Obaluaiê, Ossaim,
Oxumaré, Xangô, Oxum, Iansã, Nanã, Iemanjá e Oxalá.
Segundo a tradição, os deuses do candomblé têm origem nos ancestrais dos clãs africanos,
divinizados há mais de 5000 anos. Acredita-se que tenham sido homens e mulheres capazes de manipular as
forças da natureza, ou que trouxeram para o grupo os conhecimentos básicos para a sobrevivência, como a
caça, o plantio, o uso de ervas na cura de doenças e a fabricação de ferramentas.
Os orixás estão longe de se parecer com os santos cristãos. Ao contrário, as divindades do candombé
têm características muito humanas: são vaidosos, temperamentais, briguentos, fortes, maternais ou
ciumentos. Enfim, têm personalidade própria. Cada traço da personalidade é associado a um elemento da
natureza e da sua cultura: o fogo, o ar, a água, a terra, as florestas e os instrumentos de ferro.
Na África Ocidental, existem mais de 200 orixás. Mas, na vinda dos escravos para o Brasil, grande
parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no país está reduzido a dezesseis. E,
mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda cultuados: os outros quatro - Obá, Logunedé, Ewa e
Irôco - raramente se "manifestam" nas festas e rituais.
Cada um deles tem o seu símbolo, o seu dia da semana, suas vestimentas e cores próprias:
Exu
Orixá mensageiro entre os homens e os deuses, guardião da porta da rua e das encruzilhadas. Só através
dele é possível invocar os orixás.
Elemento: fogo
Personalidade: atrevido e agressivo
Símbolo: ogó (um bastão adornado com cabaças e búzios)
Dia da semana: segunda-feira
Colar: vermelho e preto
Roupa: vermelha e preta
Sacrifício: bode e galo preto
Oferendas: farofa com dendê, feijão, inhame, água, mél e aguardente
Ogum
Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. No Brasil é conhecido como Deus guerreiro. Sabe trabalhar
com metal e, sem sua proteção, o trabalho não pode ser proveitoso.
Elemento: ferro
Personalidade: impaciente e obstinado
Símbolo: espada
Dia da semana: terça-feira
Colar: azul-marinho
Roupa: azul, verde escuro, vermelho ou amarelo
Sacrifício: bode e galo avermelhados
Oferendas: feijoada, xinxim, inhame
Oxóssi
Deus da caça. É o grande patrono do candomblé brasileiro
Elemento: florestas
Personalidade: intuitivo e emotivo
Símbolo: rabo de cavalo e chifre de boi
Dia da semana: quinta-feira
Colar: azul claro
Roupa: azul ou verde claro
Sacrifício: bode e galo avermelhados e porco
Oferendas: milho branco e amarelo, peixe de escamas, arroz, feijão e abobora
Obaluaiê
Deus da peste, das doenças da pele e, atualmente AIDS. É o médico dos pobres.
Elemento: terra
Personalidade: tímido e vingativo
Símbolo: xaxará (feixe de palha e búzios)
Dia da semana: segunda-feira
Colar: preto e vermelho ou vermelho, branco e preto
Roupa: vermelha e preta, coberta de palha
Sacrifício: galo, pato, bode e porco
Oferendas: pipoca, feijão preto, farofa e milho, com muito dendê
Ossaim
Deus das folhas e ervas medicinais. Conhece seus usos e as palavras mágicas (ofós) que despertam seus
poderes.
Elemento: matas
Personalidade: instável e emotivo
Símbolo: lança com pássaros na forma de leque e feixe de folhas
Dia da semana: quinta-feira
Colar: branco rajado de verde
Roupa: branco e verde claro
Sacrifício: galo e carneiro
Oferendas: feijão, arroz, milho vermelho e farofa de dendê
Oxumaré
Deus da chuva e do arco-íris. É ao mesmo tempo, de natureza masculina e feminina. Transporta a água
entre o céu e a terra.
Elemento: água
Personalidade: sensível e tranquilo
Símbolo: cobra de metal
Dia da semana: quinta-feira
Colar: amarelo e verde
Roupa: azul claro e verde claro
Sacrifício: bode, galo e tatu
Oferendas: milho branco, acarajé, coco, mél, inhame e feijão com ovos.
Xangô
Deus do fogo e do trovão. Diz a tradição que foi rei de Oyó, cidade da Nigéria. É viril, violento e
justiceiro. Castiga os mentirosos e protege advogados e juízes.
Elemento: fogo
Personalidade: atrevido e prepotente
Símbolo: machado duplo (oxé)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: branco e vermelho
Roupa: branca e vermelha, com coroa de latão
Sacrifício: galo, pato, carneiro e cágado
Oferendas: amalá (quiabo com camarão seco e dendê)
Iansã
Deusa dos ventos e das tempestades. É a senhora dos raios e dona da alma dos mortos.
Elemento: fogo
Personalidade: impulsiva e imprevisível
Símbolo: espada e rabo de cavalo (representando a realeza)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: vermelho ou marrom escuro
Roupa: vermelha
Sacrifício: cabra e galinha
Oferendas: milho branco, arroz, feijão e acarajé
Oxum
Deusa das águas doces (rios, fontes e lagos). É também deusa do ouro, da fecundidade, do jogo de
búzios e do amor.
Elemento: água
Personalidade: maternal e tranqüila
Símbolo: abebê (leque espelhado)
Dia da semana: sábado
Colar: amarelo ouro
Roupa: amarelo ouro
Sacrifício: cabra e galinha e pomba
Oferendas: milho branco, xinxim de galinha, ovos, peixes de água doce
Iemanjá
Considerada Deusa dos mares e oceanos. É a mãe de todos os orixás e representada com seios
volumosos, simbolizando a maternidade e a fecundidade.
Elemento: água
Personalidade: maternal e tranquila
Símbolo: leque e espada
Dia da semana: sábado
Colar: transparente verde ou azul claro
Roupa: branco e azul
Sacrifício: porco, cabra e galinha
Oferendas: peixes do mar, arroz, milho, camarão com coco