Processo Nº. : 0178312-34.2010.8.05.0001 Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : RICARDO DE CARVALHO REGO
Recorrido(s) : RUBENS SERGIO DOS SANTOS VAZ JUNIOR
FREIRE DE MIRANDA ADVOCACIA & CONSULTORIA ABILIO FREIRE DE MIRANDA NETO
Origem : 2º JUIZADO CÍVEL DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
BROTAS - MATUTINO Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
VOTO- E M E N T A
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ADVOGADO. ALEGAÇÃO DE PREJUÍZOS SOFRIDOS EM RAZÃO DA NÃO INTERPOSIÇÃO DOS RECURSOS CABÍVEIS PARA IMPUGNAÇÃO DE SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PROLATADA NO BOJO DE AÇÃO DE COBRANÇA AJUIZADA POR CONDOMÍNIO CONTRA O DEVEDOR, PARTE AUTORA NA PRESENTE AÇÃO. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO PELA PARTE AUTORA DO NEXO CAUSAL ENTRE A SUPOSTA DESÍDIA DO ADVOGADO CONTRATADO E O PREJUÍZO SOFRIDO E QUAIS AS REAIS CHANCES DE REVERSÃO DO JULGADO NO ÂMBITO RECURSAL. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DA PARTE AUTORA NÃO DEMONSTRADO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA.
1. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou
improcedente a ação, no bojo de ação indenizatória por danos materiais e morais, por entender o magistrado sentenciante não existirem provas acerca dos danos materiais alegados, bem como ante a ausência de significativa violação a direitos da personalidade. 2. Na origem, a parte autora ajuizou ação indenizatória, com fundamento na desídia dos integrantes do escritório réu, que no bojo de ação de cobrança de cotas condominiais ajuizada contra o autor, da qual decorrera sentença de procedência, teriam perdido o prazo para interposição de embargos de declaração e recurso inominado, haja vista as reais chances de reversão do julgado nas instâncias superiores. 3. Ab initio, ressalte-se que a relação jurídica travada entre a partes enquadra-se na categoria de relações de consumo, estando portanto dentro do arcabouço normativo do Código de Defesa do Consumidor. Este, por sua vez, define a responsabilidade dos profissionais liberais como sendo de cunho subjetivo, sendo necessária portanto a prova da culpa do mesmo para que exsurja o dever de indenizar, desde que provados os prejuízos.
4. A doutrina vem apontando como plenamente cabível a responsabilização
de profissionais liberais, em especial do advogado, com fundamento da teoria da perda de uma chance, desde que demonstrada de modo cabal pelo prejudicado e com alto grau de probabilidade, a chance de êxito da demanda, ou a diminuição do prejuízo ocasionado ao cliente, advindos da negligência do profissional contratado. Nesse sentido:
DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. RESPONSABILIDADE
CIVIL. INDENIZAÇÃO. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA À AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. CONDENAÇÃO DA RECLAMADA. DESÍDIA DO ADVOGADO. PERDA DE UMA CHANCE. QUANTUM INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. 1. Ação trabalhista na qual a autora, bem como o seu advogado, ora réu, não compareceram à audiência de instrução para qual haviam sido intimados seis meses antes, por ocasião da audiência de conciliação, resultando no encerramento da fase instrutória e na condenação da reclamada. Hipótese da perda de uma chance posto que a autora resultou impedida de instruir as provas necessárias à defesa de sua tese. A responsabilidade do advogado é subjetiva, nos termos do § 4º do art. 14 do CDC. No caso, restou cabalmente provado nos autos que o demandado agiu com negligência ao não informar sua cliente da necessidade do comparecimento à solenidade, sob pena dos riscos advindos. O demandado apenas justificou a sua ausência à audiência no momento da interposição do recurso, razão pela qual deverá reparar os danos sofridos pela constituinte por se tratar o mandato de uma obrigação de meio, e não de fim (art. 653, CC), em cujo mister deve utilizar-se da melhor técnica na defesa do cliente. 2. Em relação ao montante indenizatório, o arbitramento deve abranger a reparação o mais amplamente possível, bem como servir como meio de impedir a reiteração do ato lesivo, porém, não deve constituir em causa de enriquecimento injustificado da parte. O valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) arbitrado na sentença apresenta-se razoável e proporcional à realidade dos fatos supramencionados, razão pela qual vai mantido. APELAÇÕES DESPROVIDAS. (TJ RS, Apelação Cível Nº 70069428696, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Cláudia Maria Hardt, Julgado em 15/12/2016)
5. Inobstante, no caso concreto não houve a demonstração pela parte autora do
necessário nexo causal entre a desídia do advogado contratado e o prejuízo sofrido, e quais seriam as reais chances de reversão do julgado, ainda que tenha sofrido a mesma com a sucumbência na ação de cobrança de cotas condominiais da qual fora réu, sendo insubsistente para o reconhecimento da ocorrência do dano moral a mera perda do prazo recursal. Não pode ser olvidado, outrossim, que a própria conveniência ou não da interposição do recurso é decisão de cunho técnico , sendo por vezes atitude mais vantajosa para a parte sucumbente, diante da diminuta chance de reversibilidade da decisão proferida e da possibilidade de condenação nas verbas de sucumbência em grau recursal. Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CASO CONCRETO.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO. PERDA DE UMA CHANCE. PRAZO RECURSAL. CASO CONCRETO. O objeto da obrigação, no caso, não era o êxito na ação e sim a condução cuidadosa do processo, observados os parâmetros técnicos da ciência jurídica. Para configurar defeito na prestação do serviço, imprescindível demonstrar a existência de elementos probatórios capazes de alterar o curso da demanda patrocinada pela apelada em prol da apelante. Hipótese em que, consideradas as particularidades da lide, a perda do prazo recursal, por si só, não enseja a reparação pretendida, considerando a ausência de probabilidade de êxito. Sentença confirmada. HONORÁRIOS RECURSAIS. Majoração da verba honorária sucumbencial, fulcro nos parágrafos 1º e 11 do artigo 85 do NCPC. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70071334593, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Julgado em 14/12/2016) 6. Em assim sendo, diante da narrativa fática delineada, as provas juntadas aos autos não corroboram com a tese autoral, diante da ausência de demonstração da plausibilidade jurídica da reversão do julgado proferido na instância ordinária, elemento esse imprescindível para a aferição da responsabilidade civil do advogado pela eventual desídia na perda do prazo recursal, o que não impede a parte autora de eventualmente formular eventuais requerimentos ao órgão de classe competente, no caso a Ordem dos Advogados do Brasil, para instauração de procedimento administrativo disciplinar. 7. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO INTERPOSTO E NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo a sentença objurgada pelos próprios fundamentos. Sem custas processuais e honorários advocatícios.
8. Salvador, Sala das Sessões, 27 de Abril de 2017.
9. BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE 10.Juíza Relatora 11. BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ 12.Juíza Presidente PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Processo Nº. : 0178312-34.2010.8.05.0001
Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : RICARDO DE CARVALHO REGO
Recorrido(s) : RUBENS SERGIO DOS SANTOS VAZ JUNIOR
FREIRE DE MIRANDA ADVOCACIA & CONSULTORIA ABILIO FREIRE DE MIRANDA NETO
Origem : 2º JUIZADO CÍVEL DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
BROTAS - MATUTINO Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios por ser a parte beneficiária da justiça gratuita.
Salvador, Sala das Sessões, 27 de Abril de 2017.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE Juíza Relatora BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente