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Manual de pesquisa:
reflexões sobre ética na
pesquisa pública
Edualfo Cadagar
2
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 O PROBLEMA PARA PESQUISA 20
3 OJETIVOS 23
4 HIPÓTESES 25
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 29
5.1 Atributos Objetos de Estudo e Fonte de Dados 29
5.2 Procedimentos e Técnicas 30
6 REVISÃO DA LITERATURA 34
Sociedade do conhecimento 34
Construção da bioética 35
Preocupações com a bidiversidade 36
6.1 Versões da Bioética 37
Visão do utilitarismo 37
Visão enciclopédica ou liberal 40
Visão do formalismo kantiano 40
Visão Genealógica ou Nietzschena 41
Visão fundamentalista ou do Proporcionalismo e Consequencialismo 41
Visão realista ou personalista 42
6.2 Conceitos Metodológicos nas Versões da Bioética 43
6.3 O Princípio de Responsabilidade 44
6.3.1 A responsabilidade ética do pesquisador 47
6.4 Ética e Valores 48
6.5 Ética e Ciência 49
6.6 Bioética e Biossegurança 49
6.7 Prudência como contrapartida ao “Precautionay Principle” 52
6.8 Mercado e Bioética 54
7 Métodos para Tratar os Problemas Éticos na Pesquisa Transgênica 55
8 RESULTADOS E DISCUSSÃO 57
3
RESUMO
CADAGAR, E.. Manual de pesquisa: reflexões sobre ética na pesquisa pública brasileira. Brasília, 2001.
180 p.
O paradigma do tratamento da informação genética que surgiu com o avanço da ciência a partir da segunda
metade do século XX, trouxe acertos, grandes benefícios, controvérsias e riscos no oferecimento de
oportunidades de soluções biotecnológicas para o bem-estar da humanidade. Lacunas e desvirtuamentos do
conhecimento da realidade, quanto aos aspectos sociais e culturais, tem caracterizado a informação
disponibilizada à sociedade através da mídia, e levado à rejeição de alimentos e demais produtos transgênicos,
estabelecendo, assim, uma corrente contrária à transgenia. Nesse cenário, são colocadas questões relacionadas
ao comprometimento ético do pesquisador para com a sociedade. Esse foi o foco central da pesquisa, que
utilizou informações básicas levantadas junto aos pesquisadores biotecnólogos, pesquisadores de outras áreas
científicas e gestores/administradores de pesquisa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A
amostragem envolveu a aplicação de 66 questionários, os quais foram submetidos à análise da distribuição da
frequência e do teste do qui-quadrado (2) para a categorização das respostas de atributos escalares dispostos
em cinco “postos”. A apresentação dos resultados, além de sua discussão, conta com o auxílio de dados
apresentados em figuras e tabelas. Os resultados, como uma tendência geral, levam à rejeição da hipótese
formulada de que o pesquisador não é sensível às questões sociais e ao debate ético. Com base nos resultados
obtidos nesta pesquisa, pode-se inferir que existe uma preocupação do pesquisador com os aspectos bioéticos.
Como recomendação se indica a necessidade de conduzir estudos que viabilizem as preocupações do
pesquisador em relação ao entendimento que a sociedade deve ter dos produtos transgênicos.
SUMMARY
CADAGAR E. Manual of research: reflections about ethics on the public research. Brasília, 2001. 180 p.
The genetic information’s paradigm treatment that appeared as a consequence of the scientific advancement
after the mid XX century, involved success, significant benefits, controversy and risks in offering
biotechnology solution opportunities to the mankind welfare. Knowledge gap and detachment from the reality
in terms of social and cultural aspects have characterized the information availability to the society, thus
generating misunderstanding, with the media support, in relation to food and other transgenic products,
resulting in the establishment of a chain against the transgenic. Within this scenery, ethic questions have been
placed in order to understand researcher’s commitment to the society. This is the main focus of this study
which have used basic information surveyed among biotechnology researchers, other scientific area
specialists and research managers at Embrapa Genetic Resources and Biotechnology. The sample applied 66
question forms which have been submitted to the frequency distribution, qui-square test (2) and answer’s
categorization in five “positions” analysis. The results are discussed and its presentation is displayed in
figures and tables as well. The results, as a general tendency, show the rejection of the hypothesis that the
researcher is not sensitive to the social questions and the ethic debate. Based on the obtained results, it is
possible to infer that a researcher preoccupation does really exist in relation to bioethics aspects. It is
recommended to observe the importance in establishing further studies aiming the researcher’s preoccupation
in relation to the society understanding of the transgenic products.
6
LISTA DE TABELAS
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos em relação a preocupação
Figura 1 39
com o entendimento da sociedade sobre transgênicos
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos em relação a
Figura 2 40
preocupação com o entendimento da sociedade sobre transgênicos
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 3 Embrapa em relação a preocupação do entendimento da sociedade sobre 41
transgênicos
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos em relação aos impactos de
Figura 4 43
inovações tecnológicas sobre a qualidade de vida humana
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos em relação aos impactos
Figura 5 44
de inovações tecnológicas sobre a qualidade de vida humana
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 6 Embrapa com relação às preocupações com os impactos de inovações tecnológicas 45
sobre a qualidade de vida humana
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos em relação aos impactos aos
Figura 7 48
impactos da moderna tecnologia sobre a natureza
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos em relação aos impactos
Figura 8 49
da moderna tecnologia sobre a natureza
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 9 50
Embrapa aos impactos da moderna tecnologia sobre a natureza
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos em relação a influencia da
Figura 10 53
ética sobre a pesquisa
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos em relação a influencia
Figura 11 54
da ética sobre a pesquisa
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 12 55
Embrapa com relação a influencia da ética sobre a pesquisa
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos em relação a necessidade do
Figura 13 57
debate ético no desenho da pesquisa pelo fato dela conter valores essenciais
8
Continuação ( 2 )
LISTA DE TABELAS
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos em relação a necessidade
Figura 14 58
do debate ético no desenho da pesquisa pelo fato dela conter valores essenciais
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 15 Embrapa com relação a necessidade do debate ético no desenho da pesquisa pelo 59
fato dela conter valores essenciais
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos ao conceito de HANS
Figura 16 63
JONAS
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos ao conceito de HANS
Figura 17 64
JONAS
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 18 65
Embrapa ao conceito de HANS JONAS
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos frente à questões filosóficas
Figura 19 68
de transgenia
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos frente à questões
Figura 20 69
filosóficas de transgenia
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 21 70
Embrapa frente à questões filosóficas de transgenia
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre a transformação da
Figura 22 73
ética da ciência em ética universal, segundo o conceito de HANS JONAS
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre a transformação da
Figura 23 74
ética da ciência em ética universal, segundo o conceito de HANS JONAS
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 24 Embrapa sobre a transformação da ética da ciência em ética universal, segundo o 75
conceito de HANS JONAS
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos da importância da
Figura 25 78
informação para a sociedade sobre a pesquisa transgênica
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos da importância da
Figura 26 79
informação para a sociedade sobre a pesquisa transgênica
9
LISTA DE FIGURAS
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 27 Embrapa com relação a importância da informação para a sociedade sobre a 80
pesquisa transgênica
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre a posição da Food
Drug Administration dos Estados Unidos da América sobre a possível utilização da
Figura 28 82
população como cobaia ao autorizar a produção e comercialização de produtos
transgênicos, naquela País, desde 1990.
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre a posição da Food
Drug Administration dos Estados Unidos da América sobre a possível utilização da
Figura 29 83
população como cobaia ao autorizar a produção e comercialização de produtos
transgênicos, naquela País, desde 1990
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Embrapa sobre a posição da Food Drug Administration dos Estados Unidos da
Figura 30 84
América sobre a possível utilização da população como cobaia ao autorizar a
produção e comercialização de produtos transgênicos, naquela País, desde 1990
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre o nível de segurança
Figura 31 86
dos alimentos desenvolvidos pela biotecnologia para os consumidores
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre o nível de
Figura 32 87
segurança dos alimentos desenvolvidos pela biotecnologia para os consumidores
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 33 Embrapa sobre o nível de segurança dos alimentos desenvolvidos pela biotecnologia 88
para os consumidores
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 34 90
desenvolvidos pela biotecnologia protegem o meio ambiente
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 35 91
desenvolvidos pela biotecnologia protegem o meio ambiente
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da
Figura 36 Embrapa sobre se os alimentos desenvolvidos pela biotecnologia protegem o meio 92
ambiente
10
Continuação ( 4 )
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 37 desenvolvidos pela biotecnologia podem ser um instrumento para aliviar a fome e a 95
pobreza
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 38 desenvolvidos pela biotecnologia podem ser um instrumento para aliviar a fome e a 96
pobreza
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da Embrapa
Figura 39 sobre se os alimentos desenvolvidos pela biotecnologia podem ser um instrumento 97
para aliviar a fome e a pobreza.
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogossobre se os alimentos
Figura 40 99
desenvolvidos pela biotecnologia são tão nutritivos quanto os produtos tradicionais
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 41 100
desenvolvidos pela biotecnologia são tão nutritivos quanto os produtos tradicionais
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da Embrapa
Figura 42 sobre se os alimentos desenvolvidos pela biotecnologia são tão nutritivos quanto os 101
produtos tradicionais
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 43 103
desenvolvidos pela biotecnologia podem contribuir para a saúde humana
Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 44 104
desenvolvidos pela biotecnologia podem contribuir para a saúde humana
Distribuição da resposta obtida de Administradores e Gerentes de Pesquisa da Embrapa
Figura 45 sobre se os alimentos desenvolvidos pela biotecnologia podem contribuir para a saúde 105
humana
Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre se os alimentos
Figura 46 107
desenvolvidos pela biotecnologia apresentam menos riscos que os alimentos orgânicos
11
1 INTRODUÇÃO
Importantes tecnologias, legado do século XX, foram a energia nuclear e os grandes avanços em ciência e
tecnologia, que abriram amplas perspectivas para a engenharia genética, permitindo prever revoluções na
medicina, na pecuária e na agricultura, entre outros campos; esses mesmos avanços deixaram heranças
calamitosas como o perigo no processo de geração dessa energia e os riscos inerentes às práticas
biotecnocientíficas.
No século XXI que se inicia, perfilam-se, com tendências e perspectivas de novidades e complexidades, a
era da biotecnologia.1 Ambas, energia nuclear e biotecnologia, oferecem grandes oportunidades de aumento e
geração de bem-estar social, mas apresentam, também, aparentes e/ou reais riscos e incertezas, alguns deles
em consequência de “lacunas” no conhecimento divorciado de outras realidades que a tecnologia pretende
alterar; a pesquisa deve considerar os determinantes econômicos, ecológicos, legais, sociais, culturais,
motivacionais, político-institucionais etc., dessas realidades e que, sob determinadas circunstancias positivas,
poderiam sinergizar e/ou potencializar o avanço científico e a aplicação tecnológica.
A potencialização do avanço científico e da aplicação tecnológica num contexto integrado e harmonizado
dos componentes da realidade precisa eliminar orientações tendenciosas e/ou negativas, como se observa com
a transgenia ao esconder interesses não alinhados aos interesses sociais e estratégicos do desenvolvimento
sustentável, portanto com implicações morais. Neste sentido, e para o caso da biotecnologia sob o enfoque
moral, o filósofo bioeticista Schramnm (1998) explicita:
“...uma análise imparcial da moralidade da biotecnologia deve, portanto, considerar que esta é
motivo de fascínio e espanto, mas deve também submeter tais sentimentos à luz da razão, analisando
a lógica dos argumentos pró e contra dos fatos da biotecnologia, evitando seja o niilismo
progressista, seja o fundamentalismo conservador, optando por uma ponderação prudente de riscos
e benefícios”.
1
Biotecnologia, neste caso “biotecnologia moderna” que define uma nova era; é entendida como o conjunto de práticas, técnicas que
usam organismos vivos ou partes destes, serviços, informações e produtos integrados resultantes da engenharia genética, da reprodução
artificial e de organismos geneticamente modificados - OGN, que o atual paradigma biotecnológico torna possível. A “biotecnologia
moderna”, diferenciada da “biotecnologia tradicional” de seleção, cruzamento, criação etc., entre espécies próximas, realizada em tempo
muito longo e com aplicações limitadas, por ser feita entre qualquer tipo de espécies, em escala de tempo curta e com infinidade de
aplicações no uso de OGM. A primeira geração de cultivos com características agronômicas desejáveis, tais como tolerância aos
hervicidas, resistência a pragas e enfermidades, maduração tardia e controle da polinização, entre outros avanços, já fui liberada para o
mercado. As estatísticas apresentadas por Phipps (2000), entre outros autores, sustentam o otimismo da biotecnologia moderna.
Acrescenta-se, para fortalecer esse otimismo, o fato de que a maioria dos genomas das plantas se encontram desconhecidos e
inexplorados, o que explica as grandes inversões de empresa privadas na área genômica possibilitando o sequenciamento de genomas
inteiros de organismos vivos e a identificação de novos genes. O conceito de biotecnologia é, em geral, sinônimo de biotecnociência.
Schrmam (1998), entretanto, estabelece sentidos técnicos diferentes, considerando a biotecnociência associada à vigência de um
paradigma científico, portanto, como uma base epistemológica. Assim, os problemas abordados nos dois casos são diferentes: para a
biotecnologia, trata-se da descrição e compreensão de fenômenos e do uso integrado da informação científica no campo de aplicação;
para a biotecnociência, é a consistência e fidedignidade de conceitos e métodos adotados pela biotecnologia. Aponta Schrmam ( op. cit.)
que tal distinção é importante não só para o filósofo da ciência que lida com objetos de segunda ordem, isto é, com paradigmas, mas
também para o filósofo moral que diferencia um objeto de primeira ordem como a moral (conjunto de códigos de valores e princípios
vigente em um período), e um objeto de segunda ordem como a ética (consistência dos argumentos morais).
12
2
A revolução biológica, ocorrida com a descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick em 1953 e a conseqüente aplicação pela
engenharia genética a partir da década de 80, define o paradigma biotecnocientífico que veio para ampliar qualitativa e quantitativamente
o poder de atuação da ciência, e com ela ou por causa dela sem controle, os riscos ligados a sua prática.
3
Uma visão preliminar do que é ética pode ser formada a partir de questionamentos como: de que modo os juízos morais diferem de
outros juízos? Qual é a diferença entre um pesquisador que planeja e executa suas ações segundo princípios como os contemplados no
“Código de ética profissional do servidor Público” (Decreto no. 1.171, de 22 de jun. de 1994) e outro que não a pauta pelos mesmos
critérios? Quem não acredita e se desobriga, por exemplo, da regra deontológica que estabelece a função pública deve ser tida como
exercício profissional e, portanto, se integra na vida de cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia-a-dia
em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional” e, como efeito, desvincula sua conduta do seu
exercício profissional, e quem acredita na regra, pautando, portanto, os seus atos e conduta por tais prescrições, constituem dois casos que
poderiam avaliar-se, o primeiro, com um comportamento fora do padrão ético e o segundo, vivendo conforme esse padrão. Entretanto,
essa conclusão pode ser equivocada porque compreende e confunde dois conceitos. O primeiro, refere-se ao comportamento e ação
conformada com o que se julga ser ético. O segundo, é a distinção entre o comportamento e ação de acordo com algum padrão ou critério
ético e o comportamento e ação à margem desse padrão. Dessa forma, o primeiro indivíduo exemplificado que não acredita na regra
deontológica e considera ou acredita que não é errado, pode estar atuando de acordo com qualquer outro padrão ético não convencional
que, por alguma razão, justifica e acredita estar correto. A idéia de ação e comportamento de acordo com um padrão ou critério ético está
ligada ao conceito de defender a ação e comportamento, de dar-lhe uma razão de ser, de justificá-lo. Dessa forma, para adotar uma
postura eticamente defensável é preciso demostrar que os atos com base no interesse pessoal são compatíveis com os princípios éticos de
bases ou fundamentos mais amplos, de um bem público e de universalização que vem a ser uma característica lógica do juízo moral.
13
4
Nessa sociedade há temores acerca dos novos poderes e de eventuais abusos da engenharia genética. Entretanto, é necessário evidenciar
as opções da moderna biotecnologia disciplinada por códigos bioéticos que, no caso da pesquisa agrícola, oferece de uma agricultura
sustentável pelo meio ambiente, mediante a utilização de ferramentas da engenharia genética para introduzir genes específicos em
qualquer planta cultivada, na maioria dos microorganismos e em muitos insetos. Dessa forma, organismos vivos de interesse econômico e
estratégico são potencializados através do melhoramento vegetal pelo aumento da efetividade em práticas como as de controle biológico
de pragas e enfermidades. A tendência crescente registrada em países industrializados que aponta para a redução do uso de agroquímicos
substituindo-os por tecnologias como as dos controles biológico e microbianos, dos agentes modificadores dos comportamentos dos
microorganismos infecciosos, a manipulação genética de populações de indivíduos infecciosos, a imunização de plantas e o
melhoramento vegetal buscando maior resistência são, entre muitas outras opções, fontes de poder com benefícios sociais.
5
Racionalidade baseada em instancias valorativas, portanto com componentes subjetivos, nas dimensões econômica, ecológica (meio
ambiente) social, cultural e político – institucional, entre outras, que fundamenta a conservação da vida e das condições necessárias de
sua existência, com claro compromisso de juntar (integrar, potencializar, sinergizar...) as ciências, em particular a biotecnologia, com as
humanidades para antever riscos nas diversas manifestações da vida.
14
6
Biossegurança é uma ciência surgida no século XX, direcionada para o monitoramento, controle e minimização de riscos provenientes
de prática de diferentes tecnologias em laboratório ou ao aplicar determinados resultados biotecnocientíficos no meio ambiente, devendo
ser feita a avaliação e o controle de risco caso a caso, a fim de definir se determinado OGM pode ou não ter conseqüências negativas. A
preocupação internacional é voltada para os princípios, critérios e normas a serem aplicadas aos OGM visando assegurar que os
processos biotecnológicos se desenvolvam sem afetar a saúde humana e o meio ambiente. Em muitos países a segurança da biotecnologia
é regulada por um conjunto de leis, procedimentos ou diretivas específicas para orientar as instituições, públicas ou privadas, que
pesquisam, utilizam, manipulam, comercializam, importam etc. OGM para prevenir e evitar riscos nessas atividades. No Brasil, em 1995,
fui a Lei 8.974/95 que estabeleceu os princípios gerais da biossegurança, incorporando “normas de segurança e mecanismos de
fiscalização para o uso de técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo,
liberação e descarte de OMG, visando proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente” (art.
1 dessa Lei). A regulamentação dessa Lei, feita pelo Decreto 1752/95, vinculou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
CNTBio à Secretaria Executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia, especificando sua competência, composição, normas e
funcionamento. A legislação brasileira englobava apenas a tecnologia de engenharia genética (DNA ou RNA recombinante),
estabelecendo os requisitos para o manejo de OGM com vistas a permitir o desenvolvimento sustentado da biotecnologia moderna. O
fundamento básico da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e com os resultados positivos desse avanço
proteger a saúde humana, animal e o meio ambiente nas suas propostas de melhorias.
7
Uma diferença clara entre invenção e descoberta deve ser estabelecida ao tratar de questões bioéticas, propriedade intelectual, direito
etc.: aquela resulta numa composição, produto, sistema ou processo; esta, do desenvolvimento de leis universais, da estruturação ou da
composição de matéria natural existente.
8
O Protocolo de Biossegurança, assinado por cerca de 180 países em Montreal em fevereiro do 2000, representa um passo importante
para limitar a rejeição inconseqüente de produtos da biotecnociência, apenas fundada em dúvidas ou suspeitas de potenciais danos à
saúde humana, à ecologia, à diversidade do meio – ambiente e à sociedade por causa do consumo de alimentos transgênicos e das
lavouras geneticamente modificadas. O acordo coloca o "ônus da prova" nos pesquisadores dessas novas biotecnologias para que
demonstrem sua segurança e qualidade antes de sua distribuição generalizada. O Protocolo estabelece um precedente importante, no
sentido de evitar a repetição de desastres tecnológicos, e reconhece que os países optarão em tratar da questão dos transgênicos nos seus
próprios ritmos, seja pela coleta de dados e informações necessárias para a avaliação desses riscos, seja pelo abandono e/ou adiamento de
pesquisas em transgênicos e dedicação à busca de sistemas alternativos de produção de alimentos menos arriscados e mais culturalmente
adequados. Quando um conjunto de tecnologias com qualidade e eticamente desafiadoras – incluindo a engenharia genética humana,
guerra biológica e nanotecnologia – se aproximam da comercialização generalizada, a proteção das entidades inseparáveis da saúde
pública e estabilidade ecológica dependerá de uma avaliação cautelosa, criteriosa –técnico-científica e operacional-, humilde e
transparente (Nota preparada a partir de informações obtidas de Halweil: http;/www.worldwatch.org.br).
15
9
Os valores são produzidos por uma cultura específica de uma sociedade ou de comunidade inserida e conformada com seu meio, e, por
sua vez, são geradores de cultura e de transformação do entorno. Por essa razão, atuam como operadores de homogeneização nos
membros do grupo social. Os valores são concrescências simbólicas do modo como o indivíduo e sua comunidade descobre o que é bom
e o que não o é, o que desejável, necessário, conveniente e possível do que não o é, para a autorealização social em harmonia com o meio,
com o habitat. Este conceito de valor destaca a importância e a relação direta com a tecnociência e o processo (pesquisa) que gera o input
do conhecimento e da inovação tecnológica.
16
isto, o “custo de oportunidade” 10 da falta de resultados biotecnológicos aplicados se eleva, tornado-se, dessa
forma, a biotecnologia moderna altamente lucrativa e promissora de bem-estar social, com incalculáveis
benefícios no campo econômico privado.
Os resultados da biotecnociência moderna ao serem altamente lucrativos na dimensão econômica,
portanto, com suficientes incentivos para a empresa privada gerá-los, e ao entrar em conflito com o bem-estar
social e de encontro com propósitos estratégicos de quem financia a pesquisa pública, provoca sérios
problemas, alguns no campo ético, outros no campo do redirecionamento 11 da pesquisa pública afinada às
estratégias dos planos de quem a financia. Parte desses problemas, no setor propulsor do avanço
biotecnológico (a pesquisa), é tratado, sob enfoques conceituais gerais, no Manual de pesquisa.
Grande parte das metas da agricultura tem sido as de produzir mais alimentos e alimentos de melhor
qualidade (atributos como os de maior valor nutritivo –p. ex., produtos com maiores níveis de proteínas e
melhor balanço de amino-ácidos e com poder para aumentar a bio-aceitação de micro-nutrientes -, sadios e
conformados aos novos padrões socioculturais e econômicos de uma população cada vez mais urbanizada e
“exigente”, sem riscos para a saúde, mais resistentes às condições de tratamento –armazenamento, transporte,
beneficiamento agro-industrialização -, e com menores e/ou resilientes ou “toleráveis” efeitos sobre o meio
ambiente 12).
Esses atributos desejáveis pelo consumidor, entre muitos outros, são realidades ou já se encontram no foco
da pesquisa, em muitos casos como probabilidades biotecnológicas de atingir resultados positivos em curto
prazo, para o atendimento social de condições; são os casos do algodão (Gossypium) com fibras de melhor
qualidade e mais resistentes a doenças e pragas; produtos mais saborosos e composição oléica melhorada;
feijão (Phaseolus vulgaris) e soja (Glycine max) com maior valor nutricional; produtos como batata (Solanum
tuberosum), couve (Brassica oleracea) e tomate (Lycupersicum sculentum), entre outras, mais resistentes a
doenças e/ou a insetos predatórios; antibióticos de amplo espectro no controle de doenças infecto-contagiosas;
vacinas contra malária e hepatite B; variedades genéticas de vírus como o HIV-1 causador mais frequente da
Aids no Brasil, o HCV, agente causador da hetatite C, o Hantavirus e o VRS ou vírus da doença no trato
respiratório sincicial; hormónios como a insulina e hormónios do crescimento; animais transgênicos como a
galinha Britney que pode produzir 250 ovos por ano com proteínas capazes de combater o câncer, e vacas,
cabras e coelhas que produzem leite com proteínas especiais para combater doenças etc.
10
O conceito econômico de “custo de oportunidade”, para o caso de duas opções (p. ex. A = produtividade física de um insumo num
processo com tecnologia tradicional; B = produtividade física de um insumo aumenta pela transgenía; PA e PB = preços de mercado de A
e B e r = unidades menos de A), de B é o valor de A que se perde em conseqüência de tomar a decisão de adotar a nova tecnologia.
Portanto, esse custo é definido por: Custo de oportunidade de B = PA r. Enquanto o custo de oportunidade de B seja menor que o preço
do produto B, é interessante (“racionalidade econômica”) produzir menos com a tecnologia tradicional e utilizar os resultados da pesquisa
transgênica.
11
Em alguns casos, esse redirecionamento poderá levar ao abandona de determinadas linhas e áreas de pesquisa onde o Estado não deve
intervir e, o setor privado, além de ser competitivo, tem motivações para desenvolver; em outros, a busca de parcerias com o setor
privado para a obtenção de resultados estratégicos; em todos os casos, a pesquisa deverá subsidiar à administração pública para a tomada
de decisões que disciplinem, pela qualidade e moralidade de seu exercício e aplicação, essas atividades do desenvolvimento.
12
Quanto à proteção de meio ambiente, um dos pontos a ser destacado nesta síntese introdutória é a utilização de microrganismos
modificados para a purificação de ambientes poluídos seja no mar, no ar ou na terra; bactérias modificadas são utilizadas após acidentes
ambientais envolvendo produtos como o petróleo para purificar / despoluir o mar com desastres como os provocados pelos vazamentos
de óleo. Outros microrganismos (biofiltros, p. ex.) podem ser utilizados para a purificação do ar fétido de matadouros ou de esgotos.
17
13
O arroz transgênicos com mais betacaroteno, criado pelo pesquisador Ingo Potrykus, tinha como objetivo combater a anemia que afeta
milhões de mães em todo o mundo causada pela deficiência de ferro. No ano 2000, tinham-se plantas só mais betacaroteno, plantas só
com mais ferro e plantas com ambas as características, estas últimas obtidas pelo cruzamento convencional das anteriores (Fórum
Mundial sobre Ciências da Vida, Lyon, França; 2000). O cientista afirmou que, naquela data, só as plantas modificadas para produzir
mais betacaroteno estavam sendo liberadas para introdução nos países mais pobres; isto porque se conseguiu que as empresas que
detinham as patentes dos genes usados na produção desse arroz “abdicassem” de seus direitos. O caso exemplificado se constitui num
alimento que poderia salvar, segundo contas na década de 90 (Palo Dura, 1998) da cegueira a 500.000 crianças dos países em
desenvolvimento por problemas de falta de ferro na sua nutrição.
14
No cenário político destaca a nova ordem mundial após o fim da guerra-fria; no cenário econômico, a emergência de países sob novos
critérios de organização regional; no cenário econômico – financeiro, tem-se novas estruturas de capital atreladas ao cenário de mercado
com a globalização e abertura da economia ao comércio mundial; no cenário social, com influência econômica e política, destacam-se os
novos arranjos de distribuição da população, de distribuição de renda, de alimentação e nutrição, de acesso aos serviços básicos de
educação e saúde, de maior conscientização etc., apontando para soluções mais eficientes e consistentes. Segundo a FAO e o Banco
Mundial, mais de 800 milhões de pessoas, no final dos anos 90, era atingida pela fome e mais de um bilhão de pessoas não tinham acesso
à água potável. As perdas de recursos naturais em conseqüência do mau uso e manejo atingiam níveis alarmantes
18
molecular e da tecnologia do DNA recombinante. Essa importância, segundo Bauer (1999) e o debate da
Sociedade Frente à Biotecologia (1999), deverá continuar neste século, ainda que com possíveis novos perfis,
porquanto trata-se de uma tendência de peso endereçada para a manipulação de material genético atendendo
novas necessidades sociais (valores sociais), econômicas, lagais-jurídicas, político-institucionmais e
administrativas – operacionais etc. Para auxiliar esse atendimento integral surge a bioética para caminhar
comprometida com a biotecnociência.
16
Para o caso de impactos e externalidades negativas, Potter, citado por Spinsanti (1998), ao tratar da ética orientada para a ciência (as
vezes vista, por esse autor, como uma extensão da ciência; outras, como uma espécie de religião da sobrevivência, quando destaca
exigências superiores meta-éticas, a necessidade de verdadeiros crentes com o compromisso de assumir responsabilidades, a promoção da
dignidade humana e o respeito pelo meio ambiente), destaca cinco etapas: o dano se torna visível e provoca indignação moral; o
conhecimento desse danos se desenvolve na dimensão da “bioética ambiental”; a indignação moral requer medidas preventivas; a pressão
moral, aliada ao conhecimento do dano, gera diretrizes bioéticos; essas diretrizes se convertem em sanções legais.
19
nesses recursos e meio, que define inputs (informações, critérios, fundamentos...) de aperfeiçoamento e
consolidação da cidadania. Portanto, pela lógica de interpretação dessas relações, conclui-se que o tema dos
transgênicos, entre outros da biotecnociência, faz parte, também, dos direitos humanos, através da bioética.
Trata-se de uma relação singular, porém com muitas fases, algumas delas consideradas no Manual de
pesquisa, vol. 1.
A bioética caracteriza-se por proceder à análise processual dos conflitos a partir de uma ética minimalista
que possa proporcionar, quanto possível, a mediação e a “solução pacífica” (Garrafa, 1988b) de diferenças
entre os diversos agentes do desenvolvimento impulsionado pelos resultados da biotecnociência e onde o
conflito ético surja na aplicação dos produtos biotecnocientíficos. Em situações nas quais “estranhos morais”
17
atuam as únicas saídas, para se ter tais “soluções pacíficas”, parecem ser o diálogo e a tolerância.
O diálogo exaustivo e a tolerância criteriosa (ver nota de rodapé 27) exercidos com responsabilidade e
critérios sustentáveis, são, dessa forma, algumas das categorias utilizadas pela bioética para possibilitar a
construção do convívio pacífico entre indivíduos e colectividades de visões e posturas diferentes. Nessa
construção há conhecimentos valorativos que o ser humano realiza de seu próprio ser no mundo e entorno
para dar-se uma consciência ética como sujeito moral (Garrafa, 1998a; adequado ao texto).
No caso específico do cientista e pesquisador em biotecnologia esse conhecimento valorativo na ética da
vida se observa quando ele respeita todo o que se vincula ou relaciona ao biótico e abiótico da biodiversidade,
sendo ético respeitar e procurar a conservação dessa biodiversidade, bem como o manejo integrado da mesma.
A biodiversidade, como uma das formas da pluralidade, existe e deve ser preservada como sendo útil,
inclusive para a própria ciência e pesquisa. Contra esta atitude se opõe a redução e simplificação de
ecossistemas e biomas naturais praticada por uma agricultura comercial. Entre essa agricultura comercial e a
pluralidade há conflitos.
Engelhardt (1998; p. 9), em Fundamentos da bioética, aponta que nenhum encontro de diferenças é
pacífico. O conflito, uma situação não solucionável segundo o autor, é condição para a existência da
humanidade, considerando que preservar as diferenças permite que as identidades sejam mantidas. Destaca o
autor que o que gera o conflito é a intolerância diante das diferenças e a imposição que venha a limitar o
exercício da liberdade; assim e no seu entendimento, a solução para o conflito está na possibilidade de
manutenção da diferença por meio da tolerância e da liberdade, sendo a preocupação centrada não no
resultado do conflito, mas naquilo que o gera.
As repercussões sociais dos avanços da biologia molecular que resultaram em novas tecnologias voltadas,
em princípio, para a solução de problemas em benefício da sociedade mediante produtos como os
transgênicos, tem-se convertido em um “campo de batalha” ideológica entre fundamentalistas 18 por um lado,
com posturas conservadoras e os biotecnólogos, pelo outro, atrelados a certa ortodoxia cartesiana da
metodologia científica explicitando como dispensável a contribuição das ciências sociais. Essas posturas, que
na área de pesquisa define a ação merológica, tem contribuído para o caos social em determinados sectores,
quanto à aceitação de produtos transgênicos, por carência de informações claras, concisas e com acesso
dificultado para a sociedade de informações verdadeiras, ou pela abundância de dados e informações sem
17
Por “estranhos morais” entenda-se pessoas que tenham visões e posturas diferentes que levem a posições inconciliáveis no contexto de
temas situados na última fronteira do diálogo; essas visões e posturas poderão ser, p. ex., o aborto, e em alguns momentos, o tema dos
transgênicos.
18
Pensamento na forma estritamente ortodoxa conformada a determinado corpo de pensamento (p. ex. religioso) que não admite idéias
reformistas
20
“consistência científica” e com notável viés para determinado grupo, interesse ou propósito e, por vezes, com
conteúdos contraditórios, que em lugar de esclarecer tem semeado mais confusão na sociedade e se
posicionam como anti-valores.
O Manual de pesquisa é uma contribuição que sintetiza parte do pensamento bioético de biotecnólogos
dedicados a gerar e/ou adaptar e transferir resultados de pesquisa, elaborado com base em pesquisa
documental e em “amostras pilotos” de três conjuntos de pesquisadores-informantes, constituindo-se uma
referência preliminar para novos estudos em que as questões sociais, culturais, econômicas, ecológicas e
político-institucionais (leis), estreitamente interrelacionadas, sejam tratadas, de maneira conjunta, para
referenciar e traçar ou definir roteiros de harmonização de relações interpessoais na empresa de pesquisa e de
consistência dos resultados às condições do meio ambiente.
21
Esse Plano aponta para a criação e implementação de fundos de financiamento para a C&T que
fortalecerão a tendência de maiores investimentos do setor privado em áreas como biotecnologia, estimulado
por instrumentos legais de biossegurança e de protecção à propriedade intelectual, entre outros que se
encontram em fase de discussão ou de implementação.
A pesquisa biotecnológica pública para que possa contribuir, com efetividade, na integração e
desenvolvimento sustentável mediante o aumento da eficiência e da competitividade da economia e,
19
Esse alvo de pesquisa é muito abrangente; parte dessa sociedade tem condições e pode buscar os meios alternativos para obter a
satisfação de suas necessidades por soluções tecnológicas; entretanto, outra parte, mais expressiva numericamente, não dispõe desses
meios, constituindo-se, portanto, finalidades estratégicas em planos de desenvolvimento do governo. Ainda, nessa outra parte expressiva,
os recursos não são suficientes para o atendimento pleno de exigências por soluções tecnológicas, o que impõe um ordenamento de
necessidades para pautar a alocação criteriosa na busca dessas soluções estratégicas; essa prospecção e geração de soluções tecnológicas
estratégias envolve consideráveis aspectos éticos que relevam a importância do assunto.
22
sobretudo, para que possa reduzir as desigualdades sociais e regionais em áreas como a de nutrição,
alimentação e saúde, deverá estar comprometida com os propósitos estratégicos de Governo.
Esse comprometimento significa a pesquisa baseada na prospecção integral dos alvos estratégicos da ação
governamental definida em planos e programas: as necessidades relevantes e priorizadas, as possibilidades
“cenarizadas” e as oportunidades auscultadas e viabilizadas da população alvo, com fundamentação numa
ampla e complexa base multidimensional e multicriterial explícita nessa prospecção desejável e evidenciada
nos planos e programas de pesquisa.
Nessa base de prospecção, de planejamento e de ações estratégicas e integradas há dimensões como a
social, econômica e legal, entre outras, que devem ser consideradas pela pesquisa biotecnológica. Com isso e
por força causal, o resultado da pesquisa deverá estar convenientemente endereçado e comprometido com os
interesses e possibilidades desses alvos. Entretanto, as informações, serviços e produtos tecnológicos que
deveriam ser integrados, balanceados e sinergizados (ISPi) e que deveriam contribuir para a formação de
novos conhecimentos e para gerar as inovações tecnológicas de soluções almejadas e possíveis no contexto do
PPA 2000-2003, p. ex., apresentam limitações e um afastamento perigoso entre os resultados da pesquisa e a
realidade social-econômica-ecológica que pretende melhorar; em alguns casos esse afastamento tem
implicações éticas.
O que se observa é uma generalizada falta de conhecimentos e de informações para a sociedade acerca da
biotecnologia em geral, e da pesquisa transgênica em particular. Isto, aliado a determinados interesses
econômicos transnacionais e de organizações não governamentais, favorece a emissão de informações e
comunicações contrárias aos benefícios potenciais da pesquisa transgênica. Dessa forma, frutificam
campanhas de organizações não governamentais (ONG) contrárias à adoção de produtos da engenharia
genética para a agricultura, sob argumentos, nem sempre consistentes, de segurança humana e do meio
ambiente.
Tais campanhas encontraram em consumidores europeus alvo fácil porque episódios como os da “vaca
louca” (Encelopatia espongiforme bovina - EEB) e dos alimentos contaminados com Salmonella e dioxina,
entre outros, abalaram a confiança de instituições públicas e provocaram ações de rejeição de produtos
biotecnocientíficos. Estas, por sua vez, não estiveram preparadas o suficiente para avaliar e monitorar os
riscos, reais ou potenciais, dessas campanhas e, principalmente, para tratar, em nível da sociedade e da mídia,
das vantagens dos produtos da biotecnologia, com especial atenção para informar à sociedade.
Acrescenta-se o fato da pesquisa e das mesmas instituições públicas de investigação deixarem espaços
e/ou lacunas de conhecimentos em relação à ética, à biotecnologia, à bioética, à biossegurança, entre outros
tópicos relacionados, que ensejaram e ampliaram a expressão e poder de comunicação e convencimento da
mídia orientados para a rejeição dos frutos da pesquisa transgênica.
O problema para pesquisa toma novas dimensões quando no seio da própria pesquisa e das instituições
públicas que a ela se dedicam há desencontros e conflitos desde os bioéticos até os da racionalidade
económica, bem como expressões dominantes e interesses as vezes não explícitos de indústrias e corporações,
por vezes parceiras das instituições públicas, nem sempre afinados aos interesses sociais e estratégicos da
pesquisa pública.
Tudo isso conflui para que a sustentabilidade institucional da instituição que gera a pesquisa transgênica
em particular e biotecnológica em geral, seja enfraquecida ou aparentemente vulnerável quando o alvo maior,
a sociedade, rejeita os produtos transgênicos em função da falta de informação ou da informação com viés
que recebe e utiliza para tecer seus conhecimentos dos resultados da pesquisa e decidir pela rejeição dos
mesmos.
23
O problema para pesquisa ainda toma outro contorno e dimensão quando o pesquisador, de maneira
simplista e por vezes com visão estreita e merológica, limita o alcance dos benefícios de pesquisa no marco de
seu laboratório ou do campo experimental, ignorando o fato de que a avaliação e o retorno da investigação,
quando financiada por recursos públicos, é feita (deve ser) pela sociedade. Sociedade que, conforme visto
anteriormente, está mal informada e com perversa indução que gera a predisposição para rejeitar a transgenia
em suas diferentes formas. Neste contexto, o problema para pesquisa têm fundamentos, também, no seio do
pesquisador, que não reconhece a importância do consumidor final dos resultados de seu trabalho.
A revolução tecnológica, além das características peculiares anteriormente descritas e colocadas como
problemas para pesquisa, apresenta outras, tais como o fato dessa revolução ter sua origem em descobertas
científicas promovidas pelo setor público e por volumosos investimentos realizados pela empresa privada de
países desenvolvidos, e portanto, objeto de protecção por patentes, bem como essa nova biotecnologia vir a
afetar mercados mundiais como os de agrotóxicos e onde, conforme a conveniência, colocam-se, lado a lado,
fabricantes de agrotóxicos e defensores do meio ambiente, com discursos contrários ao desenvolvimento
biotecnológico e à utilização comercial de produtos da engenharia genética. Nessa disputa no lastro da
economia aberta, da globalização e de arranjos de mercados com novas organizações e funções, há, também,
choques de interesses e problemas éticos e de biossegurança que afectam o pesquisador e o desenvolvimento
da C&T e P&D.
O cenário problematizado para a pesquisa biotecnológica, acima resumido, define fatores negativos que
limitam a visão de futuro e a capacidade - habilidade do pesquisador em traduzir os problemas para pesquisa
em problemas de pesquisa. Esses fatores se relacionam, principalmente, com aspectos metodológicos capazes
de traduzir em ação de pesquisa um sentimento, um relacionamento ou um comportamento das ciências
humanísticas, dos mercados, da sociedade, ou, ainda, um critério e fundamento do campo dos direitos
humanos para a área limitada de um laboratório ou de uma área experimental merológica biotecnocientífica.
Destarte, os resultados de processos de pesquisa que não foram devidamente prospectados, planejados,
desenvolvidos, transferidos - difundidos e monitorados – avaliados nesse cenário de cliente, não poderá ter a
efetividade que planos e a sociedade esperam dos mesmo.
O problema é complexo e, neste Manual de pesquisa, apenas se trata de uns poucos elementos, de maneira
preliminar e descritiva exploratória, portanto, abre caminhos para posteriores pesquisas analíticas com
propósitos normativos ou de auxílio para a normalização.
24
3 OJETIVOS
O estudo busca levantar, analisar e divulgar o conceito ético da pesquisa de biotecnologia em diversos
campos de aplicação das ISPi para o desenvolvimento sustentável, apresentado reflexões e
posicionamentos de fundamentação ética para orientar a pesquisa e contribuir à torná-la sustentável nessa
dimensão.
De certa forma o conceito ético da pesquisa transgênica está associado com a necessidade das pessoas ter
um melhor entendimento da biotecnociência e seus resultados, suas potencialidades, benefícios e perspectivas
em setores como os de alimentos transgênicos. Esse mesmo entendimento deve ter o Governo para re-
planejar, se for o caso, desenvolver e viabilizar a obtenção de metas em suas propostas estratégicas como as
relacionadas no PPA 2000-2003 e, com base nesse entendimento, direcionar a alocação criteriosa de recursos
para a pesquisa, fortalecendo-á.
Especificamente, o conceito ético da pesquisa transgênica está relacionado com a introdução de alimentos
transgênicos 20 e com a postura e comportamento do pesquisador que gera tais resultados de pesquisa. A
análise de dados primários, levantados em nível de pesquisador, permite o entendimento desse
comportamento e, com base nesses resultados, subsidiar aspectos do planejamento dessa pesquisa para
oferecer, após os ajustes e redirecionamentos que se façam necessários e oportunos, as ISPi, tecnológicos
que possam atender os objetivos estratégicos do Governo em seus planos de desenvolvimento.
A população brasileira sendo o sujeito (alvo de pesquisa pública) de todo o processo dos transgênicos
exige mais informações “consistidas” e maior agilidade no sistema de comunicação para torná-la
suficientemente informada (conhecimento), segura e consciente sobre o melhor caminho e decisão a ser
tomada em relação ao produtos transgênicos.
A importância da demanda da sociedade por informações sobre questões éticas e morais de resultados da
pesquisa pode ser constatada pela enquete com 1.332 pessoas que votaram, em 1998, na página da Época na
Internet ao responderem à seguinte pergunta:
O que você acha do cultivo de alimentos transgênicos no Brasil?
Responderam da seguinte maneira:
- 36,1% que só vão consumir se ficar comprovado que não fazem dano;
- 34,3% que faltam informações sobre o assunto;
- 17,5% que deveriam ser proibidos;
- 12,1% que vão consumir normalmente.
20
É importante analisar, a partir do enfoque bioético, o conflito gerado pela proposta de introdução de alimentos transgênicos no Brasil,
pois se por um lado, o País não pode fechar-se à novas tecnologias ditas “limpas” que surgiram no final do século XX, pelo outro, é
enorme a responsabilidade dos cientistas que geram, adaptam e transferem essas tecnologias. (Garrafa, 2000).
26
Uma análise dos resultados anteriores revela que 87,9% da população amostrada (“estudo de caso”) tem
receios para consumir alimentos transgênicos, sendo que aproximadamente um terço dessa amostra espera
dados e informações que possam esclarecer o assunto para uma tomada de decisões. Mas, os 17,5% dos
entrevistados que se manifestaram pela proibição dos alimentos transgênicos, possivelmente (admita-se como
uma hipótese, neste Manual) não estão devidamente informados sobre o assunto e, com informações
esclarecedoras, poderão ter uma nova posição não necessariamente de rejeição.
Deve-se observar, na síntese dos dados da enquete anterior, que mais de 70,0% dos entrevistados esperam
informações sobre os alimentos transgênicos para esclarecer e para ter o conhecimento do valor, das
potencialidade e dos reais riscos desses alimentos para a saúde humana e para o meio ambiente, esperando-se
que a “racionalidade”21, produto desse conhecimento, seja favorável à pesquisa transgênica. Isto requer do
pesquisador demonstrar, sem eufemismo por um lado, ou exageros pelo outro, as vantagens desses produtos e
as potencialidades dos mesmos para superar graves e crónicos problemas como os de alimentação em
determinados setores desprotegidos, saúde – saneamento, conservação – proteção – monitoramento ambiental
etc., por meio do aporte biotecnocientífico.
Destarte, a empresa pública de pesquisa, junto com o paradigma metodológico científico moderno, deve
cumprir a função de divulgação de seus resultados como parte do compromisso do servidor público com a
sociedade (Brasil, 2000), pois é de transcendental importância obter o consenso social, através de explicações
– demonstrações – evidencias etc., sobre a necessidade de continuar pesquisando a biotecnologia para manter
o País na fronteira do conhecimento em biotecnologia, sem perder a funcionalidade e aplicabilidade desses
resultados na solução de problemas relevantes e estratégicos.
Mas, deve-se observar que este objetivo precisa, com anterioridade, atender o objetivo de conhecer a
realidade social que poderá ser afetada positivamente pelos resultados biotecnocientíficos, traduzir essa
realidade em problema de pesquisa e gerar a solução devida, esperada e exequível de adoção por parte de um
cliente suficientemente informado, com conhecimento e conscientizado do que quer, pode e deve adoptar, sem
riscos nem duvidas do que está fazendo. Nesse atendimento ao objetivo material há diversos objetivos morais,
éticos, bioéticos e de biossegurança que devem ser explícitos no desdobramento do tema problematizado.
Neste Manual de pesquisa, pela sua natureza geral e descritiva preliminar, ficam naturalmente implícitos.
21
O contexto de “racionalidade”, nessa tomada de decisão pública e cidadão, está atrelado, principalmente, aos critérios econômicos e
estratégicos de competitividade econômica, sem que essa posição configure, necessariamente, uma crítica de movimentos inspirados no
“ecologismo” e em valores de “demandas conspícuas” apresentados por determinados setores de mercado com as preferencias de
produtos “mais simples” de uma agricultura dita “agricultura natural”.
27
4 HIPÓTESES
O conceito de hipótese (do gr. hypothesis, suposição) é entendido como uma conjetura que o pesquisador
faz de um fato, fenômeno ou informação (causa ou origem do problema, explicação teórica, freqüência
esperada, solução de um problema etc.), possível ou não, ou uma fórmula que figura como pressuposto de
uma dedução e que, distintamente de um axioma, tem caráter transitório, serve de orientação ou explicação,
em certa fase desse processo de investigação (Manual de pesquisa:..., vol. 3), para, a partir dela, obter uma ou
várias conseqüências do valor técnico científico.
Em termos conceituais, 22 a hipótese é uma proposição, condição ou princípio de orientação que o
pesquisador supõe e aceita no processo inicial da pesquisa, portanto, de maneira transitório (apenas para
introduzi-lo e orienta-lo durante esse processo), sem interesse inicial na sua veracidade (pode ser ou não
verdadeira), a fim de chegar às suas conseqüências lógicas e, mediante a técnica que está utilizando, verificar
o acordo ou não (aceitação ou rejeição da hipótese) com os fatos conhecidos e verificáveis.
Trata-se, portanto, de uma resposta provisório à essência do problema (causa, resposta ou comportamento
esperado, solução desejada etc.) cuja formulação pode ser auxiliada na forma de perguntas de orientação, tais
como: que?, qual? por que? etc.
Para o Manual de pesquisa, formula-se a hipótese estatística com o propósito de rejeitá-la ou aceitá-la com
base nos resultados de um teste estatístico específico e para determinado nível de significância, por exemplo,
se deseja conhecer qual é a posição do pesquisador em relação ao conhecimento da sociedade sobre os
transgênicos, formula-se a hipótese no sentido de que o pesquisador seja indiferente a esse conhecimento,
para determinado nível de segurança definido pela significância do processo decisório.
Em geral o pesquisador se interessa por dois tipos de hipóteses: a hipótese da pesquisa que é a conjetura
que o motiva, e a hipótese estatística, estabelecida de forma que possa ser avaliada mediante a aplicação de
técnicas estatísticas adequadas.
Com base nas orientações teóricas anteriores foram propostas as seguintes hipóteses de investigação:
a) O servidor público da empresa de pesquisa (SPEP 23) preocupa-se mais (ou apenas) com o avanço
científico na sua área e sua contribuição pessoal nesse processo do que com:
- o atendimento à sociedade, em suas necessidades e com efetividade, que os resultados de pesquisa
possibilita;
- os impactos que a tecnologia possa vir a ter ou a exercer sobre a qualidade de vida humana ou dos
efeitos negativos sobre o meio ambiente e sobre a economia em termos de competitividade.
Observe-se, nesse complexo conjunto de hipóteses inter-relacionadas, a existência de várias hipóteses
de trabalho que podem ser sintetizadas em termos simbólicos da seguinte forma:
22
A conceitualização ou elaboração de conceitos é mais do que uma simples definição ou convenção terminológica. Trata-se de uma
construção-seleção abstrata que tem por objetivo explicar a realidade. Para isso não conta com todos os aspectos da realidade, mas
somente aqueles que exprimem o essencial dessa realidade em determinadas dimensões (experiência, ideológica, sociocultural etc.)
captadas por indicadores (uso repetitivo de uma prática, crença religiosa, comportamento etc.).
23
Neste estudo entenda-se o SPEP como o pesquisador em biotecnologia, o pesquisador em outras áreas relacionadas com a
biotecnologia e o administrador – gerente da empresa pública de pesquisa pública em biotecnologia.
28
a.1) HO: O SPEP não está interessado com o entendimento que a sociedade possa ter sobre os
resultados de sua pesquisa biotecnológica e, portanto, não é de seu interesse profissional a rejeição
de alimentos transgênicos induzida ou favorecida por informações que a mídia disponibiliza para a
sociedade com notáveis inverdades.
O desdobramento criterioso da hipótese de nulidade anterior coloca em evidências as hipóteses
alternativas que poderiam ser aceitas quando a hipótese nula for rejeitada dentro de determinados
níveis de confiança. Essas hipóteses alternativas, em termos simplificados, poderiam definir-se
como:
H1: O SPEP está interessado no conhecimento que a sociedade actualmente tem sobre os produtos
transgênicos e sobre o conhecimento que deveria ter, mas não é um problema de sua pesquisa que o
deveria preocupar: é um problema do extensionista, do difusor de tecnologia, de outros agentes ou
agencias do governo.
H2: O SPEP está interessado no conhecimento que a sociedade actualmente possui sobre os produtos
biotecnológicos e que a leva a rejeitar os alimentos transgênicos e sobre o conhecimento que
deveria ter, reconhecendo que nessa mudança de conhecimento e comportamento social, ele tem
um papel decisivo ao definir, também, seu comprometimento com o sistema de comunicação e
divulgação dos resultados da pesquisa com “verdades”, evidências e limitações e riscos técnico-
científicas e operacionais e com o extensionista e difusor contemplado na parceria de sua pesquisa.
A fundamentação teórica de esta hipótese alternativa está em um dos valores básicos da pessoa do qual
surgem os demais para a análise ético: é o valo da vida, a vida como um bem ôntico e,
simultaneamente, um bem moral; implícito com a criatividade, o pesquisador reconhece leis para
intervir na natureza com o propósito de melhor servi-se dela e também servi-la com a
tecnocienciência, dentro do imperativo ético de respeitar o biótico e abiótico; por este
reconhecimento é facilitada a integração das disciplinas orientadas para o bem social.
H3: O SPEP está interessado no avanço científico e, principalmente, na utilidade que a informação,
serviço e produto tecnológico (ISP) integrados que gera possa produzir, com efetividade, na
sociedade, como inputs de novos conhecimentos e de inovações tecnológicas relevantes, desejáveis
e oportunas para a sociedade, sustentadas as soluções tecnológicas em diversas dimensões do
desenvolvimento.
b) HO: O SPEP não considera, na avaliação de seus resultados de pesquisa, o impacto da tecnologia sobre
a qualidade de vida da população. Seu compromisso, e por isso é pago, é com a eficiência técnica do
que gera.
H1: O SPEP considera, de maneira explícita e com indicadores pertinentes, os impactos positivos, bem
como as externalidades negativas, da inovação tecnológica na qualidade de vida da população,
reconhecendo que a avaliação e, de acordo com esta, a continuidade ou não da pesquisa, depende
da efetividade (eficiência e eficácia) das inovações tecnológicas que a pesquisa por ele conduzida,
gera na sociedade.
c) HO: O SPEP considera que a intervenção tecnológica não mudou a realidade do meio ambiente,
portanto, a natureza não está a mercê do cientistas; a utilização indevida de resultado de pesquisa, com
eventuais “externalidades” não é um problema que possa interessá-lo.
d) O SPEP considera que sua ética não influencia o seu trabalho e que em função desse posicionamento
deve fugir do debate público sobre do assunto, desconsiderando as reflexões filosóficas em seu
29
não- paramétricas de causa e efeito que tais dados possam compreender e que se tornariam importantes para o
entendimento de uma solução mais completa do problema para pesquisa.
31
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo procura-se explicitar parte do procedimento metodológico (complementa a formulação de
hipóteses anterior) aplicado para buscar a solução do problema, com uma síntese descritiva das técnicas que
foram utilizadas na obtenção, síntese, análise e inferência estatística 24 para se atingir os objetivos e metas
propostos e acordados na pesquisa descritiva e preliminar.
A especificação de procedimentos e de aspectos conceituais e metodológicos propostos no estudo deve ser
consistente com a definição do problema, com os objetivos explícitos e com os recursos e meios disponíveis
para a pesquisa. Essa consistência pressupõe, em alguns casos, testes de aderência e “robustez” de técnicas e
métodos às condições de pesquisa. Neste estudo, pelo estilo monográfico e preliminar, tais testes foram
dispensados.
A pesquisa consulta e analisa quantitativa e qualitativamente a cosmovisão ética de pesquisadores
brasileiros em transgênicos (plantas, animais e microorganismos). Essa consulta envolveu diversas fases
sequenciais sintetizadas na parte que segue.
24
A inferência estatística, em geral, aborda dois tipos de problemas fundamentais: a estimação de parâmetros de uma população feita com
base em amostras, e a prova de hipóteses. Inferir significa “deduzir como conseqüência, conclusão ou probabilidade
32
c.1) quais são os métodos por eles utilizados para conseguir seus objetivos?
c.2) quais são as vantagens e desvantagens de cada alternativa?
d) Quais são os princípios éticos que deveriam guiar as ações (de pesquisa) em cada caso? Com relação a
esta pergunta e para estabelecer referências de avaliação às possíveis respostas, definem-se três
princípios éticos seculares, com apresentação geral na revisão de literatura e sintetizados a seguir:
d.1) Teoria dos Direitos Humanos: É conhecida dos juristas e dos filósofos a afirmação de Bobbio
(1992). “Aja sempre de tal maneira que trate aos seres humanos como indivíduos autónomos, e
nunca como meios para um fim”.25
d.2) Utilitarianismo. Pode-se chamar também de Consequêncialismo (Bem-Estar). Por esta teoria todo
ato é bom o mau dependendo das consequências. Uma das primeiras manifestações éticas revelada
por este princípio no campo da bioética é o da primazia do conceto qualidade de vida, com certo
conteúdo hedonista. Na esteira deste princípio se tem “Agir sempre de tal maneira a maximizar as
consequências benéficas e a minimizar as consequências prejudiciais”.
d.3) Bioética das Virtudes. Dando ênfase às atitudes que presidem eticamente a ação, e ao mesmo
tempo, tendo como alicerce um ethos social do pragmatismo. Propõe-se a boa formação do carácter
e da personalidade ética como algo fundamental para a bioética. Neste contexto, Fabri dos Anjos
(1997) postula “Agir sempre de tal maneira como uma boa pessoa justa e imparcial agiria”.
Do complexo problema que envolve aspectos metodológicos bioéticos dos transgênicos da pesquisa
agrícola de uma empresa pública apenas são considerados uns poucos, constituindo-se numa entrada de outros
estudos orientados para o aprofundamento e desdobramento de outras questões diretamente relacionadas com
a questão social e humanística da investigação moderna.
Os atributos considerados relevantes para esta pesquisa de estilo monográfico pertencem à escala do “mais
baixo nível” dentro da teoria de mensuração. Trata-se, no caso da escala mais baixa, isto é, da escala
“nominal”, de atribuições numéricas simples para classificar os atributos conforme seja a teoria ética e de
valores utilizados em julgamentos que se invoque e aplique em cada caso.
No caso da escala “ordinal” ou por “posto” a categoria de atributo não é apenas para diferenciar e agrupar
características, mas para estabelecer certo tipo de relação, preferência ou ordenamento existente entre os
atributos e de interesse para o estudo, tal como se ilustra nos exemplos que seguem:
25
No desdobramento e/ou como complemento desses direitos, deve-se considerar, segundo Lima (2000) as quatro gerações de direitos
humanos: primeira geração de direitos e garantias individuais; segunda geração, que se refere aos direitos sociais; terceira geração que
compreende o direito de viver em um meio ambiente saudável e o direito do consumidor; e a quarta geração de direitos que trata, em
essência, de não ter seu património genético alterado.
34
Conforme se observa nos exemplos anteriores, a pesquisa considerou cinco possíveis classes de resposta
para cada questão, sendo que nas instruções de preenchimento do questionário procura-se apresentar a
definição, como uma referência de homogenização, de cada uma dessas classes. Para cada classe foi atribuído
um valor como segue:
a) nada, com o “valor” 1;
b) muito pouco, para o qual foi atribuído o “valor” 2;
c) mais ou menos ou mediano para o qual foi atribuído o “valor” 3;
d) bastante, para o qual foi atribuído o “valor” 4;
e) extremadamente, para o qual foi atribuído o “valor” 5.
Nesta representação “por posto” o significado específico depende da natureza do atributo (variável) que
está sendo considerado em cada caso, sendo necessário adiantar que qualquer transformação que preserve a
ordem não altera a informação de uma escala ordinal. 26
Com relação à primeira escala considerada na informação primária utilizada no estudo, escala ordinal,
incorporam-se não somente a relação de equivalência, mas também a relação “maior que” ( > ) com
propriedades, tais como: irreflexiva, assimétrica e transitiva. 27
A tipificação de variáveis em um estudo é fundamental para se definir que técnicas e métodos devem ser
utilizados com consistência teórica e “garantia” na metodologia científica para realizar a síntese, análise e
inferência dos dados primários e disponibilizar novas informações consistidas para auxiliar a tomada de
decisões.
Como operação admissível de síntese e inferência e para o caso da descrição da tendência central dos
valores da escala ordinal, é utilizada a mediana. Trata-se de uma medida de posição que não é afetada por
26
Não interessa que número é atribuído na “transformação monotônica” de uma ou todas as classes, sempre que seja mantida a
consistência dessa escala.
27
A propriedade irreflexiva pode ser sintetizada como não sendo verdade que, para qualquer x, se tenha x > x. A propriedade assimétrica
se define quando: x > y, então y /> x. Já a propriedade transitiva pode ser sintetizada como: se x > y e y > z, então x > z. (Garcia, 2000).
35
modificações de quaisquer valor abaixo ou acima dela, desde que permaneça o mesmo, sem alteração da
escala e referência de avaliação.
Com o escalonamento ordinal das variáveis, o teste de hipótese será feito mediante “estatísticas de
ordenação” ou “estatísticas de posto” da estatística não-paramétrica, enquanto que a relação entre as variáveis,
sem causalidade, é determinada pelo coeficiente de Sperman.
A síntese de dados é feita mediante histogramas e distribuição de frequência apresentada durante a
discussão de resultados. Também são utilizadas formas ilustrativas como tabelas que evidenciam
determinadas características do atributo em análise.
Neste estudo preliminar e ilustrativo do Manual de pesquisa não serão consideradas as possíveis relações
de causalidade no escalonamento ordinal de variáveis.
36
6 REVISÃO DA LITERATURA
Além da coleta de dados e informações primárias qualitativas e quantitativas mediante questionário e
entrevistas, a revisão de literatura constitui-se num processo de obtenção de informações secundárias para
definir e apresentar quadros comparativos da cosmovisão de pesquisadores em biotecnologia, de
pesquisadores em outras áreas e de administradores - gerentes de pesquisa da empresa pública, sobre aspectos
importantes de uma das áreas mais promissoras da biotecnologia: os produtos transgênicos. Esses quadros têm
seus enfoques sobre questões sociais e, em particular, sobre a bioética de especial importância na era do
conhecimento.
Sociedade do conhecimento
Na sociedade do conhecimento é necessário postular uma nova ética para que acompanhe e viabilize o
êxito do “devenir” humano em seu entorno; essa nova ética é a bioética que se circunscreve no espaço do
secular como um ethos valorativo de razões humanas, e não apenas de razões divinas: razões e motivações
para orientar a conduta do homem. Isto não significa que a bioética venha a negar valorações morais
teológicas para aqueles que desejem uma ética de máximos, mas que a ética de máximo deve assumir e
respeitar a ética de mínimos por razões de justiça e de conveniência social, e pela necessidade de compartir a
tolerância 28 e o pluralismo social com os que dão seu consenso no convívio da ética cívica do contrato social
(Galindo, 1999).
Segundo Galindo (op. cit.; p. 26), a nova sociedade do conhecimento é pluralista, poli funcional, um tanto
deshierarquizada, flexível, pluricultural, tolerante, crítica e participativa. Com essa estrutura e dinâmica
social, quebram-se os monoismos morais e se abrem espaços para construir uma ética secular que possibilite
chegar ao diálogo em condições de simetria e ao consenso de mínimos éticos sem distorções, sem limitar a
ação dos máximos éticos, em um marco de justiça que permita a convivência social. Aponta o autor que a
ruptura dos monismos morais traz muitas incertezas [e riscos que devem ser criteriosamente considerados na
tomada de decisão], gerando, para algumas pessoas, um vazio moral, para outras, um politeísmo de valores e
para o autor um sadio pluralismo moral.
Ao explorar características da sociedade do conhecimento chega-se à necessidade de postular uma nova
ética que possa acompanhar o desenvolvimento e a aplicação dos resultados da tecnociência no bem-estar
social; essa nova ética é a bioética.
28
O conceito de tolerância tem estado associado ao problema de convivência de crenças (religiosas, políticas etc.), ampliando-se, por
razões diferentes, para os problemas de convivência das minorias étnicas, lingüísticas, raciais, políticas etc. (“estranhos”); a primeira
forma de intolerância, crenças, é derivada da convicção de possuir a verdade, enquanto que a segunda, convivência, deriva-se de
preconceitos ou opiniões acolhidas de modo acrítico passivo pela tradição, costume ou autoridade. A tolerância não implica a renúncia à
própria convicção, mas a opinião, revista em cada oportunidade, de que a verdade tem a ganhar quando suporta o erro (doutrina
teológica); neste sentido, a tolerância é utilitarista, é o resultado de um calculo e, como tal, nada tem a ver com o problema de possuir ou
não a verdade. Em outro sentido, a tolerância pode ser vista como uma forma de convivência civil, a escolha de um método de persuasão
(esfera política de Locke) em lugar do método da força ou da coerção; neste sentido, a tolerância não é mais um ato de suportar
passivamente o erro, mas, uma atitude ativa de confiança na razão do outro, uma concepção do homem como capaz de seguir não só os
próprios interesses, mas também de considerar seus próprios interesses à luz dos interesses dos outros, bem como a recusa consciente da
coerção como o meio de impor suas idéias. Outra razão da tolerância é moral: o respeito à pessoa alheia; neste caso, a tolerância não se
baseia na renúncia à própria verdade, ou na indiferença a qualquer outra forma de verdade, mas trata-se de um conflito entre dois
princípios morais: a moral da coerência (que induz ao indivíduo para pôr sua verdade acima de tudo) e a moral do respeito. Observe-se
que as razões ou motivações de tolerância sintetizadas nesta nota, entre outras, são fundamentais para construir uma agenda de
cooperação, de parceria, de integração de interesses e conveniências (tolerâncias) na construção do desenvolvimento sustentável.
38
A bioética trata de responder à intuição de Potter de juntar as ciências (no caso particular considerado
neste Manual de pesquisa, biológicas e da biotecnologia) com as humanidades (economia, sociologia, direito,
administração etc.) para evitar ou para minimizar riscos de perdas das diversas formas de vida, incluindo a do
homem e seu meio. Riscos que decorrem e/ou estão associados, entre outros avanços, ao técnico - científico,
ao acesso a um conhecimento profundo do mistério da vida e que permite ao pesquisador intervir nesses
rumos.
A intervenção nos rumos da vida, para evitar ou minimizar em níveis toleráveis (pelo homem e sociedade,
pelo meio ambiente etc.) tais riscos, deve ser disciplinada por critérios, entre outros os de natureza ética, de
forma a permitir que o “saber” na sociedade do conhecimento possa ser orientado para melhorar a qualidade
de vida. Para cumprir essa função entra em ação a tecnociência ocupada no campo do possível. Mas, pelo fato
da tecnociência não estar isenta de eventuais desvios que em alguns casos possam configurar riscos de perdas
de bem-estar humano, em especial porque não existe uma identidade universal respeito ao que é permissível e
ao deve ser vedado moralmente, faz-se necessária a presença da bioética que estabeleça a ponte entre as
ciências e as humanidades.
Construção da bioética
A construção da bioética é feita pelo conhecimento valorativo 29 realizado pelo homem de seu ser e
existência, portanto produto de reflexão sobre o que está sendo socializado e das relações emergentes para se
dar uma constituição ética como sujeito moral, assumindo o fenômeno da vida como instancia primária de
moralidade; da vida em todas as suas manifestações como algo que é precedido, constituído e se projeta; da
vida que vincula o homem com todo o biótico e abiótico como condição para projetar ou perpetuar essa vida,
o que exige segurança (biossegurança) para garantir tal continuidade e evolução das formas da mesma. Essa
evolução, por sua vez, exige diversidade sendo que o compromisso ético é, também, para garantir a
diversidade biótica e abiótica necessária da evolução e da perpetuação da vida.
A bioética, a semelhança do conhecimento técnico e científico, vai-se construindo socialmente de acordo
com as circunstancias políticas, econômicas, [ambientais] e sociais [culturais, técnico científicas etc.], e leva o
selo de cada época, de cada cultura e de cada civilização, mostrando, dessa forma, como foi a sua evolução
(Garrido, 2000; p. 35-36) e por que apresenta determinadas características e tendências. Dessa forma,
construi-se o pensamento bioético pela interação com a realidade cultural em que está imerso o indivíduo e da
qual é agente ativo ou passivo, feita mediante assimilação e acomodação de novas informações.
Assimilam-se informações e atitudes e um dever-ser os quais se incorporam aos conhecimentos existentes
e ao ideal de ser, por convicção, com componentes volitivos e razoáveis responsáveis pelo envolvimento de
potencialidades e emotividades do indivíduo na definição de seus valores de juízo como base da
conscientização; essa conscientização se observa em vários níveis, desde o sentido comum até o nível de
responsabilidade pelo qual a pessoa é impelida a tomar decisões conforme sejam os seus valores.
A base epistemológica da bioética exige uma abordagem interdisciplinar porque não seria viável
reflexionar sobre processos ou resultados de pesquisa técnico científica de maneira abstrata, independente da
natureza das disciplinas que compõem ou intervém na construção social do conhecimento com base em
29
Trata-se de um processo interativo e intersubjetivo alicerçado em valores que são criados pelo indivíduo para viver em sociedade;
sobre esses valores, por sua vez, construi-se, de maneira dinâmica, a sociedade que os cria. A intersubjetividade do conhecimento
bioético, construída a partir de atitudes razoáveis e empíricas orientadas para buscar a objetividade, implica um exercício social em que
se dão e aceitam regras. É da intersubjetividade e interatividade que resulta o caráter construtivo do conhecimento segundo Piaget (ver
Manual de pesquisa, vol. 1)
39
valores, ou do conhecimento da lógica da vida (biotecnologia). Masuda, citado por Galindo (op. cit.: p. 52)
indica que a sorte da nova sociedade dependerá da maneira ética como seja construído o conhecimento,
esperando-se a ética que dê sentido à vida, melhorando-a, com explícita coerência entre o técnico-científico e
o social. Parte dessa coerência, segundo Frankfurt citado por Galindo (op. cit. p. 80), orienta-se para o
progresso e virada de uma ciência eticamente libre para outra eticamente responsável, de uma tecnocracia que
domina o homem para uma tecnologia que esteja ao serviço da humanidade e do próprio homem..., de uma
democracia jurídico-formal para uma democracia real que concilie liberdade e justiça.
A construção ética do conhecimento é aquela que se planeja e desenvolve visando gerar ISPi
tecnológicos úteis e que atendam às necessidades sociais, sem detrimento ou perdas de habitats, sem riscos e
incertezas para a natureza e a favor dos mais desprotegidos da sociedade, seguindo a prescrição de Rowsl de
ética da justiça e a advertência de Jonas sobre a responsabilidade como princípio ético, em termos de “freios
voluntários” que tanto o pesquisador – cientista como a sociedade devem impor ao desenvolvimento
tecnológico e científico.
A parte que segue, a qual precede o desdobramento de importantes questões relacionadas com a bioética
(responsabilidade, ética e valores, ética e ciência etc.), procura estabelecer uma base ou referência geral e
primária para incitar a reflexão que se quer com este estudo.
30
Naquela oportunidade, a assinatura do “Protocolo Internacional da Biossegurança” não foi possível pela falta de um acordo entre os
150 países ali reunidos, em aspectos básicos, tais como: sobre que produtos e subprodutos se aplicaria? Qual é a factibilidade de
implementar o consentimento fundamentado prévio PIC e AIA; quais deveriam ser as limitações de produtos lebelling; quais seriam as
implicações comerciais da vigência do Protocolo. O objetivo do Protocolo é o de promover a seguridade no movimento transfonteriço de
OMG, que possa ter um efeito adverso sobre a conservação da diversidade biológica. Nesse Protocolo não foram consideradas questões
bioéticas, constituindo-se mais um fator de perturbação e discordância na negociação.
40
Mas, conhecer a natureza é condição prévia e necessária para valorizá-la que leva, pelo meio da
racionalidade econômica, a conservá-la e respeitá-la, fechando um círculo virtuoso que a pesquisa deve
colocar em exercício para subsidiar, com sua informações e produtos, essa valorização e conservação
racional.
Visão do utilitarismo
Conforme a doutrina utilitarista, o “bem” se identifica com aquilo que é “útil”; não se limita a declarar que
o útil é bom, mas faz consistir em o útil como o nuclear do bom. Neste sentido, há os que considerar o
conceito como hedônico e, conforme o mesmo, estabelecem a igualdade felicidade = utilidade = prazer.
As características gerais da doutrina utilitarista podem ser sintetizadas como segue:
a) A identificação do “útil” como sendo “bom”, como aquilo que satisfaz necessidades no conceito de
Mill; o bem antes e independente da ação justa, sendo o justo e correto definidos depois como o que
produz o máximo bem. 31
Por princípio de “utilidade” entenda-se, nesta doutrina, aquilo que aprova (estimula, promova...) ou
rejeita (desestimula, impeça...) algo em qualquer ação, pública ou privada, segundo a tendência que a
mesma apresente para aumentar ou para diminuir a felicidade da parte cujo interesse esteja sendo
considerado.
A utilidade é a propriedade de qualquer objeto (ação, estratégia, produto, serviço, informação...) que
tenda a produzir benefício, vantagem, bem, prazer, felicidade..., ou a impedir que ocorra dano / perda,
desvantagem, mal, dor, sofrimento... da parte cujo interesse está sendo considerado.
Na pesquisa pública esse interesse é social, da comunidade ou do conjunto de clientes / áreas alvos da
investigação em determinado momento e sob circunstâncias específicas, sendo esse interesse social
uma das questões básicas da moral.
Dessa forma o interesse social se constitui na soma dos interesses individuais que a compõem. Daí
porque a expressão “interesse da comunidade” terá pouco sentido sem antes entender os interesses dos
indivíduos que a compõem. Por isso a ênfase que o Manual de pesquisa confere à fase de
31
Neste sentido e para ilustrar o conceito poderia perguntar-se, o justo não tem categoria de bom? Que se aloque com honestidade (uma
versão do justo) os recursos econômicos na pesquisa, não é um bom? A resposta com uma afirmativa se situa fora do Utilitarismo porque
o racionalismo que leva a maximizar o bem útil perde sua relação com o juízo da razão prática e dos ideais éticos, situados além da
matéria e quantidade; entretanto, com a negativa à pergunta anterior se tem um absurdo, apesar de, em princípio, ser uma resposta ética
simples e coerente. Para aqueles que aceitam uma ética de valores e virtudes, o bem-estar (felicidade) é um enriquecimento feito por
valores e virtudes que leva ao homem à plenitude de sua realização.
41
identificação, prospecção e caracterização do cliente (em termos genéricos) e da área alvo, certos e
legítimos, de pesquisa, para entender o interesse desse cliente e para poder traduzi-lo, conforme
recursos disponíveis e condicionantes do meio ambiente, entre outros fornecedores, em problema de
pesquisa com resultados, informações, serviços e produtos tecnológicos integrados ISP, que
possam, efetivamente, agregar algo à soma de seus valores (benefício, satisfação, lucro, prazer etc.), ou
para que possa reduzir algo da soma total de seus “anti-valores” (perdas, deficiências, desvantagens,
insatisfações etc.).
Pelo exposto acima, uma ação social estará conformada ao princípio da utilidade quando a tendência
que apresenta de aumentar o bem-estar (felicidade) da comunidade é maior que a que possui de
diminui-lo, isto é, quando a soma algébrica seja positiva (princípio de Bentham). Deve-se esclarecer
que tal soma, no contexto de uma empresa pública, tem uma referência básica: o alvo social,
estratégico.
O mesmo Bentham, citado por Galindo (1999), estabelece sete circunstâncias 32 que determinam o
valor do bem-estar (prazer, felicidade...) e do mal-estar (dor, ,infelicidade...) os quais são indicadores
mais do tipo qualitativo que quantitativo.
Uma das críticas do Utilitarismo é a relacionada com a idéia de justiça: justiça do juiz, da sociedade...,
não das pessoas ou de um grupo da sociedade; ao admitir direitos inalienáveis das pessoas ou de um
grupo, poderão admitir-se atos intrinsecamente maus dessas pessoas quando se situam fora do contexto
social em que se avaliam tais atos; dessa forma e para o caso considerado neste estudo, os alimentos
transgênicos que socialmente são rejeitados, podem ser considerados como bens éticos utilitaristas, na
hipótese de serem intrinsecamente bons, porque parte da análise sobre da utilidade e o benefício que é
válido, do ponto de vista da minoria, do pesquisador: moral pura e hedônica.
b) Existe uma escala de utilidades porque há diferenças nas necessidades e, portanto, na desejabilidade de
suas soluções, porque há uma necessidades que é mais urgente que outra, seu atendimento produz
maior benefício que outra e porque pode atender um maior número de indivíduos na sociedade,
fixando-se como o maior número de bens para o maior número de pessoas (ênfase na quantidade e não
na qualidade).
c) Existe uma forma de quantificação (matematização) do útil, sendo que, por esta propriedade, a ética é
constituída uma ciência positiva.
d) Para o quantificável há uma forma de maximização do útil, em que um ato será bom não só quando seja
útil, mas quando possa alcançar a máxima utilidade para o maio número de indivíduos, constituída
como princípio de moralidade.
Trata-se de um reducionismo materialista com raízes no empirismo, positivismo e naturalismo, tendo a
felicidade (bem-estar) como móvel e fundamento real de conduta; mas a conduta humana não há de ser
entendida apenas como material e biológica; há verdades e valores que não podem ser quantificados e,
por isso, a análise sobre a utilidade e o prazer 33 não poderiam ser completos. Dessa forma, perde-se,
entre outros, o conceito de obrigação moral porque o utilitarismo fica reduzido a fatos psicológicos e
naturais de desejos: reduz-se a uma moral pura e hedonista. Por sua origem materialista que leva à
32
Bentham, em “La psicologia del hombre económico” estabelece que para um número de pessoas em que se definem valores de prazer e
dor, este será maior ou menor segundo sete circunstâncias: intensidade, duração / extensão, certeza / incerteza, proximidade / distancia,
fecundidade e pureza .
33
O conceito de prazer, na doutrina Utilitarista, é o Mill, com um sentido, não reduzido às realizações vulgares e grosseiras, mas
relacionado com a satisfação de necessidades e desejos naturais.
42
maximizar o bem útil, perde sua relação com o juízo da razão prática e dos ideais éticos encontrados
além da matéria e da quantidade.
Uma das primeiras manifestações éticas que o Utilitarismo revela no campo bioético é a primazia do
conceito “qualidade de vida” entendido na forma hedônica. Conforme esse entendimento, é um dever
utilitarista o respeito do bem-estar e o desejo de bem-estar social. Neste sentido, a orientação
pragmática Utilitarista apresenta três vertentes sintetizadas a seguir:
d.1) deontológica, em que todos os valores reconhecidos são valores em sentido geral, negando,
portanto, os valores absolutos como os de respeito à vida; estes devem ser dispostos numa escala e
analisados conforme às circunstancias;
d.2) contratualista, em que se busca atingir determinado consenso entre indivíduos e normas para
constituir uma “comunidade moral” e definir procedimentos e formas de “vida social”;
d.3) principialismo, em que se elabora a bioética segundo três princípios: não maleficência e
beneficência; autonomia, limitada por outras autonomias; justiça com entendimentos variáveis, por
vezes socialista, outras, liberal.
A análise dos três princípios anteriores aparece como ótimo numa formulação abstrata; entretanto, ao
não indicar alguma subordinação entre eles, aparece o relativismo ético, assim, ao defender a clonagem
na pesquisa aplicada apoiando-se no princípio da autonomia, por exemplo, transgridem-se os
princípios de justiça e de não maleficência. Ao respeito, Fiori (1994) manifesta seu temor no sentido de
que todos os valores sejam transtrocados pela utilidade do mais forte ou pela insensibilidade do
hedonismo individual.
34
No ato moralmente bom cumpre-se o dever pelo dever, e por isso tem conteúdo moral positivo, enquanto que o ato induzido pelas boas
costumes e/ou por outras motivações, é extrínseco ao dever, carecendo, portanto, de conteúdo moral, sendo imposto por obediência.
Nesse contexto filosófico kantiano se formulam postulados, tais como: “atuar de tal modo que a máxima de vontade possa valer sempre,
ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal” e “atua de tal maneira que trates a humanidade, tanto em tua pessoa como
na pessoa dos demais, sempre e ao mesmo tempo, como um fim e nunca como simples meio”, princípio transcendental que é válido em
toda ética. Trata-se do princípio da benevolência kantiano que estabelece que a pessoa nunca pode ser considerada como mero meio mas
deve ser considerada também como fim em si; dessa a engenharia genética poderia ser uma potencial ameaça aos Direitos Humanos
porque poderia vir a ser um fator de limitação da autonomia pessoal e da eqüidade na alocação de recursos, vindo, assim, a aprofundar as
desigualdades sociais já existentes. No contexto do autor a necessidade moral dos postulados que sustentam tais princípios é subjetiva,
não objetiva, uma vez que o supremo bem não é pensável, nem concevível, mas algo que há de fomentar-se como uma lei do dever,
rigorosa e formalista, contraposta à ética dos bens e dos fins de Aristóteles; é uma necessidade subjetiva da razão, em que se confundem
fatos psicológicos (convicção profunda e necessidade da moral) com os fatos ontológicos que são negados e passam a moral a ser lei.
44
35
São as fórmulas modernas da moral da situação ou moral das intenções; esta pretende tirar o valor objetivo da ação do homem,
considerando-a como apenas física; daí sua limitação colocando a vontade apenas na intenção do sujeito, sem considerar o propósito da
ação, bom ou mal. A moralidade do ato humano depende da escolha por vontade própria do objeto, pelo que é possível julgar
determinado ato como intrinsecamente bom ou mal como todo o que comprovadamente se opõe à vida, que viole a integridade da pessoa,
que ofenda a dignidade humana, que viole, comprometa ou perturbe o entorno necessário para o desenvolvimento da vida etc.
45
Uma pessoa não pode ser tratada nem possuída como um objeto, mas sempre como um sujeito cujo centro
de dignidade está na consciência moral de normas objetivas de moralidade descobertas pela consciência.
Dessa forma, a conduta humana não poderá deter-se apenas na sinceridade das intenções e/ou na apreciação
dos motivos que levam a atuar de uma ou outra forma, mas sustentar-se em critérios objetivos tomados da
natureza da pessoa e de seus atos.
Na ética para a bioética são considerados determinados princípios, sintetizados na parte que segue:
a) respeto a vida humana e com ele, às condições que lhe são favoráveis e a preservam, e à dignidade da
pessoa que surge de uma correta antropologia resultado do conhecimento da pessoa, o ser em sua
integridade;
b) autonomia com dois componentes: a racionalidade para avaliar situações e escolher meios adequados;
e a liberdade para fazer o que se decide sem coerção nem restrições irracionais, ao reconhecer a
dignidade e o respeito à vida;
c) qualidade intrínseca do profissional (destacado o profissional de pesquisa), tais como:
c.1) integridade em sua atuação: na prospecção, planejamento, execução, avaliação monitoramento;
c.2) respeito à vida e à dignidade humana que se relacionem com a sua atuação: considerações
explícitas das condições e garantias de sustentabilidade;
c.3) competência e eficiência técnico-científica para prospectar, planejar, executar, avaliar, monitorar;
c.4) justiça, eqüidade e transparência no planejamento e desenvolvimento de suas ações exercidas com
critério e responsabilidade;
c.5) estudo e capacitação permanente para desenvolver habilidades e assegurar a competência técnico-
científica de sua atuação;
c.6) solidariedade e sensibilidade humana e moral para prospectar e traduzir o problema para pesquisa
em problema de pesquisa, ao compreender “estados” socioculturais, valores, princípios etc. do alvo
da pesquisa;
c.7|) uso (conservação) e manejo (integrado) criteriosos de recursos humanos, financeiros –
econômicos e naturais para otimizá-los;
c.8) princípio de beneficência e não maleficência com o dever de prevenir o dano, remover o mal e
fazer - promover o bem; fazer e promover “bem” supõe, por sua vez, a beneficência (buscar esse
bem), benedicência (falar bem do outro) e benefidência (compartilhar com o parceiro o que se deve
e pode fazer sem comprometer o sigilo, confidencialidade etc. da informação técnico-científica); os
propósito do pesquisador são buscar soluções tecnológicas que atendam, simultaneamente,
consumidores e fornecedores, estejam contempladas em ações prioritárias e estratégicas da política
de P&D e C&T e atendam ou sejam integráveis em planos e programas de desenvolvimento.
Se há preferencia profissional por utilizar o principalismo na bioética, então, analisa-se cada ação sob os
princípios anteriormente citados e chega-se a uma conclusão sobra a moralidade de uma ação ou
comportamento; isso ocorre quando a decisão permite a todas as pessoas envolvidas no assunto participarem
ou que tenham sido suficientemente representadas no processo. Se é necessário chegar a uma decisão de
compromisso num assunto entre “estranhos morais” (diferenças inegociáveis entre os participantes
envolvidos), deve-se cuidar para que o compromisso seja tomado de uma maneira que todos os envolvidos
tenham seus interesses articulados, entendidos e considerados. Se isto ocorrer, então a decisão é justificável
em termos éticos.
Para o caso específico da bioética da transgenia agrícola outras considerações conceituais, adicionais às
anteriores, devem ser tratadas.
As dimensões éticas da biotecnologia agropecuária frequentemente se confundem entre as duas objeções
na área da biotecnologia genética: a intrínseca e a extrínseca, sendo necessário que se estabeleça
diferenciação uma da outra e se mantenham as diferenças entre elas ao persistir na discussão das questões
éticas.
As objeções extrínsecas enfocam os riscos potenciais uma vez que os Organismos Geneticamente
Modificados (OGMs) sejam adoptados. Tais objeções alegam que a tecnologia dos OGMs não deve
prosseguir por causa dos resultados antecipados; sustentam (ver inverdades em Borém e Giúdice, 2000) que
os OGMs podem ter efeitos desastrosos sobre animais, ecossistemas e a própria humanidade.
Entre os possíveis efeitos perniciosos sobre a humanidade se menciona o pressuposto fato de perpetuidade
das injustiças sociais na moderna agricultura, onde:
a) a agricultura de subsistência nos países em desenvolvimento continuará com a insegurança alimentar;
b) ampliar-se-á a brecha tecnológica entre as bem capitalizadas fazendas em monoculturas dos países do
Norte em contraposição às agriculturas familiares dos países do Sul;
c) manter-se-á a insegurança alimentar para as futuras gerações;
d) e continuará a política reducionista e exploratória da ciência.
Entre os riscos perniciosos para o ecossistema se incluem:
a) as possíveis catástrofes ambientais;
b) a inevitável (imaginada) redução da diversidade dos germoplasmas;
c) as irreversíveis (supostas) degradações do ar, dos solos e da água.
Os efeitos perniciosos sobre os animais pretendem incluir a dor não justificável nos animais
individualmente quando utilizados para pesquisa e produção. Esta é uma preocupação aparentemente válida e
os países devem ter mecanismos de avaliação e agências reguladoras da possibilidade, alcance e distribuição
dos possíveis danos através de sistemas operacionais que venham a regular e/ou disciplinar tais atividades na
pesquisa.
É por todo o anterior que se pode afirmar que no desenvolvimento da tecnologia de OGM deve-se ter a
máxima responsabilidade e guardar toda a cautela possível com uma atuação criteriosa de prevenção.
As objeções extrínsecas não podem justificar a moratória da pesquisa biotecnológica e, muito menos, o
permanente banimento da tecnologia de OGM. Tampouco se pode admitir, no outro sentido e sem uma análise
47
cuidadosa e exaustiva, que os prejuízos podem ser mínimos e altamente superados pelos benefícios sem uma
constatação dos mesmos.
Quanto às objeções intrínsecas, seus seguidores afirmam que o processo de preparar OGM é censurável
por se mesmo. Esta posição é defendida de várias maneiras, mas todas as alegações se centram na
consideração na objeção de que este processo vai contra a natureza, com base em que o processo de
engenharia genética de plantas, de animais e de alimentos é considerado não natural.
Para responder a esta teoria intrínseca de que o processo dos OGM vai em contra da natureza Comstock
(2000) expõem 14 maneiras pelas quais se pode defender a ética do processo de OGM.
Dessa forma, o bem que busca a política é o bem maior que compreende os outros bens, o bem que é
procurado per se mesmo sem referir-se a outros ou depender de outros acima dele; o bem com a qualidade de
suficiência.
Traduzindo esse bem para o caso da empresa de pesquisa, o “bom” pesquisador é aquele que tem a
capacidade e habilidade de prospecção a área e clientes “certos”, de captação, interpretação e
desenvolvimento de uma ação que é planamente integrável e complementar de outras, potencializando-as
quando as soluções que gera interpreta, em sua respectiva parte de competência, o “bem” do todo, da área e
do cliente
A primeira modificação dos conceitos e fundamentos aristotélicos dando-lhes uma visão contratualista,
veio da Inglaterra, com a Revolução de 1699.
Após a revolução, com a vitória das teses liberais defendidas por Locke (1632-1704), o indivíduo passou a
ser o centro da vida coletiva e o fundamento da autoridade política. Passou, portanto, a assumir a plena
responsabilidade por seus atos, na medida em que tanto a religião, quanto a tradição cederam lugar à
autonomia na determinação da conduta individual.
Mas foi Sartre (1979) o primeiro filósofo a captar a importância do conceito de responsabilidade no
mundo moderno e dar-lhe uma dimensão ontológica. Em sua obra e segundo este autor o homem, ao conviver
com os demais, descobre que a responsabilidade para com demais membros da sociedade é o valor mais
importante para estabelecer a coesão social.
Sob o enfoque do direito, o conceito responsabilidade designa “dever jurídico a todos imposto de
responder por ação ou omissão imputável, que signifique lesão ao direito de outrem, protegido por lei”.
É, nesse contexto e conforme as novas dimensões em que se projeta a empresa moderna de pesquisa com
responsabilidade, bioética e qualidade, que o tema é pertinente e de atualidade. Pertinente, para desvendar
falácias e/ou sofismas como o da irresponsabilidade de biotecnólogos que estão criando transgênicos sem
saber o que estão fazendo, ou da apresentação de transgênicos como “alimentos de Frankestein” (ver Borém e
Giúdice, 2000), insustentáveis e/ou pelo menos controvertidas no campo científico, mas aproveitadas por
certos grupos para abandeirar a rejeição desses produtos. Atualidade, quando se procura reorientar e fortalecer
a pesquisa em biotecnologia com resultados endereçados e comprometidos com as questões sociais e do meio
ambiente, entre outras em foco na pesquisa.
Mas, os resultados da pesquisa tem uma relação direta também com a responsabilidade civil definida esta
como a obrigação de ressarcir os danos causados a outra pessoa. Nesta obrigação é possível diferenciar
diversos aspectos, entre outros os seguintes:
a) contratual quando é prevista por meio de um contrato;
b) extra-contratual ou aquiliana, 37 definida como: “aquela que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano”;
c) a responsabilidade objetiva, independente de culpa, baseada na idéia de que certas atividades possuem
um risco inerente de lesar direito alheio e, como tal, seus titulares devem responder por eles,
37
Conceito derivado de Lex Aquilia, em vigor no direito romano antigo: conjunto de princípios, máximas e normas jurídicas com a
finalidade de disciplinar as relações entre os cidadãos romanos, vigentes do século VIII a C. , até o século VI d C.; retomado na Europa a
partir do século XIII), que se baseai nos danos causados a direito de terceiro por culpa.
49
38
Esse imperativo categórico pode ser traduzido como: Age de tal forma que trates a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre como um fim e nunca unicamente como um meio”.
50
A instituição das descobertas científicas está baseada e é permeável aos valores morais. Este fato chega a
ser importante de diferentes maneiras e depende do papel social do cientista.
Os cientistas das universidades devem ser escrupulosos em dar crédito a todos os que o merecem e
cuidadosos em não revelar as tecnologias que tem proprietários.
Os cientistas industriais devem manter os mais altos níveis de objetividade científica, um desafio
particular pois eles não são submetidos à revisão de seus pares. Devem, também, manter a suficiente ousadia
de defender os resultados de suas pesquisas ainda que não sejam favoráveis aos interesses de seus
empregadores.
Os cientistas de instituições governamentais devem manter a objetividade, a coragem e a ousadia de
defender os resultados das suas pesquisas, mesmo quando eles podem contrariar a captação de fundos da sua
organização, pois assim eles provarão que são cientistas que respeitam a objetividade, a neutralidade e a
racionalidade.
Todos os cientistas enfrentam o problema da comunicação das suas descobertas complexas em todas as
áreas a um público que recebe informações dos canais da “mídia”, que a maioria das vezes não estão
suficientemente sustentada para brindar informações científicas.
39
Decreto no. 1171 de 22 de junho de 1994 e de conformidade com o Decreto no. 3507 de 13 de junho do ano 2000.
51
uma pluralidade de conceitos pertinentes, legítimos e nem sempre mensuráveis sobre o bem, o justo e o
verdadeiro (Engelhardt, 1998).
Uma análise imparcial da moralidade da pesquisa deve considerar, pela capacidade de criação e acréscimo
de utilidade, de transformação e de redirecionamento de formas de vida e de suas condições, os motivos de
fascínio (prós) e de espanto (contra) dos resultados biotecnológicos, que, segundo Schcramm (1998), devem
ser submetidos à análise da razão, especificando o que é racionalmente 40 necessário e possível em um quadro
determinado de circunstâncias, clientes e cenários.
Tal orientação cogente coloca em evidência a biossegurança, como uma nova disciplina científica, com
metodologia própria, preocupada com a quantificação e ponderação de riscos e benefícios, e a bioética como
uma nova disciplina com suas próprias ferramentas, preocupada com a ponderação (argumentos racionais que
justifiquem ou não tais riscos, para determinada sociedade e para condições específicas, dos prós e dos contra,
disciplinando a atividade, se for o caso, com normas e diretrizes, para minimizar os riscos), abusos, conflitos e
controvérsias.
As peculiaridades metodológicas da bioética e biossegurança, e a semelhança do que ocorre com a
abordagem interdisciplinar proposto na pesquisa sistêmica, não impede que, respeitando determinadas
condições socioculturais e do meio ambiente, entre outras, exista uma cooperação inter e transdisciplinar entre
estas duas disciplinas, especialmente quando consideradas as preocupações comuns, tais como a qualidade do
bem-estar presente e futuro do homem e da biota, o nível de aceitabilidade de diversas formas de riscos e a
legitimidade de intervir no dinamismo intrínseco de processos biológicos etc., em que os problemas são
complexos e polêmicos e nenhuma disciplina, de maneira isolada (abordagem merológica), poderá abordá-los
de forme eficiente e integral.
Os enfoques de biossegurança e bioética são diferentes; a bioética se orienta para os argumentos morais a
favor ou contra determinada ação, enquanto que a biossegurança estabelece os padrões aceitáveis de
segurança na conservação e manejo integrado e racional de técnicas, produtos e recursos biológicos, sendo
constituída de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos 41 inerentes, no caso
tratado no Manual de pesquisa, às atividades de pesquisa, extensão, desenvolvimento tecnológico, produção e
prestação de serviços e que possam comprometer a saúde humana e da biota e/ou afetar, de maneira negativa,
o meio ambiente (Schramn, op. cit.; adequado ao texto).
A bioética, por meio da análise imparcial dos argumentos morais das ações biotecnológicas, e a
biossegurança, fixando os limites e estabelecendo os critérios de segurança com relação aos processos,
produtos e técnicas biológicas, devem trabalhar juntas, fortalecendo os componentes normativos e prescritivos
que as aproxima, para atingir objetivos comuns. Tanto uma como outra dizem respeito às práticas da
engenharia genética, porém a bioética as enfoca a partir do método da análise racional 42 e imparcial de
argumentos morais agrupados em pró e contra do processo de pesquisa e seus resultados; a biossegurança, por
40
A racionalidade do desenvolvimento sustentável tem alicerces em diversas dimensões que confluem para definir a racionalidade da
dimensão técnico – científica. Neste sentido, a racionalidade econômica dos resultados de pesquisa pública, por exemplo, consulta o que
é necessário na motivação econômica do agente econômico para adotar a tecnologia, o que é possível de atender pela natureza sem
comprometer fluxos básicos dessa tecnologia, o que é permissível e não caracteriza incerteza jurídico-legal para perpetuar “estoques” ou
inventários de riquezas naturais, o que é socialmente desejável, o que é estratégico e, portanto, conformado aos planos do governo que
dessa forma o considera etc.
41
Riscos, no sentido amplo, incluindo os de natureza física, química, radioativa, ergonômica, do meio ambiente visto nas ameaças a suas
estruturas, organização, composição, inter-relacionamento, a preservação da biodiversidade etc. Trata-se de um conceito complexo e de
difícil estimativa e aplicação em alguns campos.
53
outro lado, refere-se às medidas práticas que visam o controle de riscos, impondo-lhes, quando necessário,
limites ao controle e minimização do risco.
A engenharia genética ao permitir combinar nos genomas de plantas animais e microorganismos, por
exemplo, provocou, em princípio, uma forte reação na comunidade científica e na sociedade que resultaram,
entre outros, em fóruns como o da Asilomar (EUA, Califórnia) propondo a moratória no uso da engenharia
genética até poder prever, com certa segurança, quais as implicações que resultariam dessa nova tecnologia.
Em tempo, organismos como o National Institute of Health (NIH) elaboraram manuais de biossegurança com
resultados satisfatórios, ainda que parciais em alguns casos. De forma concomitante, outros organismos
estabeleceram mecanismos para avaliar e gerenciar o potencial de risco com a liberação de organismos no
ambiente.
O Brasil, entre outros países, vem estabelecendo e adequando, mediante legislação específica, normas de
biossegurança para regular o uso da engenharia genética e a liberação de OGM no meio ambiente, entre
outras relacionadas, com resultados altamente favoráveis ou positivos nas áreas de saúde, agricultura e
microbiologia industrial, sem notícias de prejuízos nas últimas décadas do século XX.
A adoção de diretrizes de biossegurança com base em legislação específica 43 e conforme textos relevantes
de convenções (p. ex., a Convenção da Biodiversidade da qual o País é signatário) para a prática de
engenharia genética, passou a ser condição básica para a cooperação internacional com os países
desenvolvidos detentores da liderança nessa área do conhecimento técnico-científico.
Como se projeta a inserção da biossegurança em programas de pesquisas biotecnológicas da empresa
pública? A Figura 1, obtida da proposta preliminar do Plano Diretor da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, dá uma idéia dessa inserção para atender necessidades de conservação de uma das maiores
biodiversidades do mundo.
Ao Núcleo Temático de Recursos Genéticos corresponde a caracterização dos recursos genéticos com
meios alternativos de conservação “molecularizada” de germoplasma, sob a forma de banco de DNA, bem
como definir o papel perante a Convenção da Diversidade Biológica e de implementação da Lei de Acesso à
Diversidade Biológica.
Ao Núcleo Temático de Biotecnologia corresponde interagir com as demais instituições na definição de
projetos mobilizadores para potencializar os esforços dos pesquisadores na identificação, caracterização e
conservação de genes de interesse para o agronegócio brasileiro.
Ao Núcleo Temático Genoma / Proteoma que tem como meta transformar o Cenargen em um Centro de
Referência na área de sequenciamento e análise de genomas funcionais de espécies tropicais para melhorar
competências biológicas, os recursos genéticos e a clonagem de genes.
42
A bioética vista como a análise racional e imparcial de argumentos pró e contra dos resultados biotecnológicos da pesquisa,
compreende dois conjuntos de argumentos: os intrínsecos que dizem respeito à natureza da ação boa ou má, julgada com referências
aceitáveis, independente de qualquer outra consideração; os argumentos extrínsecos dizem respeito às conseqüências, boas ou más, da
ação (conseqüencialista, um ponto de confluência da bioética e biossegurança)), fato que é avaliado por alguém com a sua concepção
sobre aquilo motivo de avaliação. No caso de risco biológico, p. ex., o “bem” será minimizar (vale dizer, traduzir a ação de pesquisa cujo
resultado tenha um risco tolerável) a probabilidade de riscos e danos possíveis e previsíveis Se não são previsíveis em termos
probabilísticos, tem-se incertezas. Ambos conjuntos de argumentos têm estruturas lógicas diferentes e configuram, portanto, teorias
morais diferentes (deontológicas, finalísticas, utilitaristas etc.).
43
No Brasil, as normas de segurança estão reguladas pela Lei n o. 8.974 de jan. 1995, que regula as atividades relacionadas a organismos
transgênicos e estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de OGM. A Lei de
Biossegurança foi regulamentada pelo Decreto 1.752, de dez. 1995, que dispõe sobre a vinculação, competência e composição da
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBIO).
54
O Núcleo Temático de Biologia Básica é fundamental para complementar a ações dos núcleos anteriores,
ao levantar limitações do uso pleno de potencialidades da biotecnologia baseados na biologia e que vão além
do sequenciamento de genomas. É fundamental o conhecimento minucioso da biologia dos organismos
Sem a devida competência em biossegurança que se espera ao implantar o Núcleo de Segurança
Biológica todo o esforço institucional aplicado em biotecnologia poderá ser inócuo. Biossegurança está
diretamente relacionado com as questões alimentares e com a proteção do meio ambiente
BIODIVERSIDADE
Genoma
Proteoma
Biotecnologia
Genéticos
Recursos
Centro de pesquisa
em produtos e
serviços
Biologia
Básica
Segurança biológica
Homem
Como a ação humana, segundo Aristóteles, não basta a si próprio e sempre possui outros como
destinatários (o cliente da pesquisa, para o caso tratado neste documento), então poderá gerar bons ou maus
resultados (sempre com um conteúdo moral) na visão dessa referência. Portanto, o agir humano dever ser
virtuoso, de forma a produzir os melhores resultados possíveis, diante das circunstancias, para os seus
destinatários. Dessa forma, para que seja reto o desejo e correta a escolha, a fim de que a conduta seja virtuosa
a prudência deve estar presente.
Como virtude cardeal da parte calculadora ou deliberativa da alma racional, e por meio dela que o homem
delibera para atingir um fim bom ou virtuoso em sua conduta. Ter sabedoria pratica, segundo Aristóteles,
exige saber deliberar com o máximo de racionalidade, para atingir , como disse Enrique , a verdade pratica ,
que se define como a melhor conduta possível diante das circunstancias. Assim, diz Aristóteles: “A sabedoria
prática não pode ser ciência nem arte: nem ciência porque aquilo que se pode fazer e capaz de ser
diferentemente , nem arte, porque o agir e o produzir são duas especais diferentes de coisa.
Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com respeito as coisas
que são boas ou mas para o homem”. Tal disposição para escolher a melhor forma de agir em suas relações
com as demais pessoas, não chega ao homem pela ciência, nem pela arte, não e portanto, nem aprendizado
(ciência), nem um talento inato (arte) , mas chega ao homem pela experiência.
Parece que Aristóteles chega a conclusão de que o homem prudente só pode ser conhecido depois de
que agiu, não havendo nenhuma forma de conhece-lo antes da ação e, muito menos de transmitir tal
qualidade a outros homens. Assim diz Aristóteles:
“ A sabedoria pratica versa sobre coisas humanas e coisas que podem ser objeto de deliberação; pois
dizemos que essa e acima de tudo a obra do homem dotado de sabedoria pratica: deliberar bem no sentido
irrestrito da palavra aquele que baseando-se no calculo, e capaz de visar o melhor , para o homem , das
coisas alcançáveis pela ação.(como a aço versa sobre os particulares), especialmente os que possuem
experiência são mais práticos de que outros que sabem... Daí o atribuirmos sabedoria pratica a Pericles e
homens como ele, porque percebem o que e bom para si mesmos e para os homens em geral; pensamos
que os homens dotados de tal capacidade são bons administradores de casa e de Estados”
8 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A apresentação e discussão de resultados da síntese e análise de dados e informações obtidas para o estudo
tem como base a informação do questionário.
A primeira pergunta se refere à categoria a que o pesquisador pertence entre as estipuladas. Conforme
consta na metodologia, os informantes foram agrupados em três categorias.
58,3% (administradores), com suficiente “poder” do teste de independência entre “postos” (teste de
homogeneidade de 2 proposto para o estudo), especialmente nas respostas de pesquisadores. Para as
respostas de administradores e gerentes de pesquisa, o nível de significância foi estimado em 10,0%.
Uma análise gráfica comparativa entre grupos para a variável denominada “preocupa” é apresentada na
Figura 2.
A importância do entendimento da sociedade sobre os transgênicos e a preocupação do pesquisador para
conhecer e internalizar nos processos de pesquisa esse entendimento, constitui-se fator básico, conforme
aponta o Presidente da Federação Europeia de Biotecnologia Prof. Braun, quando destaca:
“Confiabilidade nos cientistas será o fator preponderante para manter e prosseguir o debate sobre a
agrobiotecnologia. A preocupação pública é a pedra angular de democracia e a confusão pública conduz a
histeria coletiva”.
Em termos gerais, o cientista não tem conseguido a preparação suficiente para estabelecer o diálogo
permanente e sustentado em “verdades” entre ciência e sociedade, em que cada parte envolvida possa escutar
a outra e tratar de entender seus pontos de vista, não, para o caso do pesquisador, de uma forma passiva,
acomodada e sem comprometimento, mas pró-ativa e questionadora, própria do cientista imergido em
questões sociais que dão sustentação à pesquisa quando a sociedade reconhece os benefícios das soluções
tecnológicas e estas são odotadas pela conveniência e oportunidade de atendimento, com definido propósito
para viabilizar o diálogo, a parceria, a cooperação. 45
O entendimento que o cientista deve ter sobre o conhecimento que a sociedade possui de seu trabalho e
das ISTi, vem a constituir-se fator importante para a pesquisa; esta gera a informação de sustentação e de
esclarecimento, quando o conhecimento da sociedade, produto da mídia que o orienta com viés, é contrário
aos interesses da pesquisa, ao divorciá-lo dos interesses da sociedade.
45
Garcia (2001, p. 81) aponta que o pesquisador precisa se comunicar [mais e melhor] (ouvir, apreciar, entender etc.) na equipe, entre
equipes, com o pessoal de apoio à pesquisa, com o subalterno, com o chefe e líder de pesquisa e, principalmente com o público externo,
com a sociedade. Adiciona o autor, citando Drucker, “quem se comunica não é quem fala, mas sim quem ouve”; o líder de pesquisa deve
saber ouvir. O autor citado complementa o anterior, citando a Embrapa “comunicar é conseguir que alguém ouça quando se tem algo a
dizer, leia com atenção o que o pesquisador escreveu, observe atentamente o que se está mostrando; enfim, comunicar é fazer
compreender; é o compromisso que cada um tem na organização de pesquisa em fazer o outro entender”.
60
Tabela 1 Análise de freqüência e estatísticas da variável “preocupa” para os três grupos de respondentes
VARIÁVEL FREQÜÊNCIA PERCENTUAL
FREQÜÊNCIA PERCENTUAL
“PREOCUPA” ACUMULADA ACUMULADO
Biotecnólogos
Médio 3 13,04 3 13,04
Bastante 14 60,87 17 73,91
Muito 6 26,09 23 100,00
Estimativa do teste 2 8,45
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Bastante (4)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastante
Bastante
Bastante
Muito
Muito
Esse distanciamento que leva à rejeição de algo intrinsecamente positivo para a sociedade, envolve
questões bioéticas.
Borém e Giúdice (2000) ao relacionar vantagens dos alimentos transgênicos e indicar inverdades dos
mesmos nas informações da mídia, destaca essa brecha aproveitada por determinados setores para criar
barreiras aos produtos da biotecnologia.
No contexto internacional o entendimento do pesquisador sobre a transgenia é igualmente importante para
buscar a necessária sintonia com os consumidores de produtos intensivos em tecnologia e conhecimento
biotecnológicos e sobre os quais poderão estar alicerças novas vantagens da competitividade. A parte que
segue apresenta uma síntese que suporta a discussão em torno à preocupação do pesquisador com o
entendimento da sociedade sobre transgênicos.
A estratégia européia de enfrentamento ao fortalecimento do agronegócio no Mercosul, do qual decorre
uma crescente ameaça aos produtores primários da Europa ocidental, começa a dar resultados, e esse
resultado deve preocupar ao pesquisador. O bloqueio da importação de 20 mil toneladas de milho da
Argentina pelo Brasil, como resposta à denúncia da organização (OGN) européia Greenpeace, no final da
década de 90, fundamentada na hipótese de que se trata de milho transgênico (com inverdades), foi um golpe
significativo para a pesquisa e o agronegócio, por atingir uma das principais cadeias de produção de proteína
animal do continente sul-americano (p. ex., o milho que é um dos insumos fundamentais na produção de
frangos no Brasil.
A indústria do frango do Brasil, especialmente localizada no sul do País, ademais de ser capaz de prover
carne barata e abundante à população brasileira, tem sido também competente na conquista de mercados
internacionais de proteína animal. Essas dificuldades tornaram-se mais uma vez evidentes nos episódios de
rejeição e de incineração de grandes volumes de carne bovina e de frango, produzidas em vários países da
Europa com alimentos reciclados.
Por outro lado, a produção suína deixou de ser promissora na Europa, pela decorrente contaminação dos
sistemas hídricos naturais. A esses fatos soma-se a pressão internacional pela redução dos altos subsídios
europeus à produção primária.
Nas discussões dentro da União Européia, os temas relacionados à produção e ao comércio de produtos
agropecuários ocupam o topo da lista de prioridades. Assim, assegurar a competitividade européia no
comércio internacional de produtos agropecuários é meta fundamental das políticas agrícola daqueles países.
As inovações tecnológicas promissoras, como as variedades transgênicas, em rápida e vantajosa
incorporação pela agricultura de grandes extensões, e o surgimento de novos atores com grande poder de
barganha e decisão nos mercados internacionais (perspectivas para os países do Mercosul), são dois fatores
que poderão ameaçar os produtores primários da base de cadeias de produção protéica, como são o milho e a
soja, dentro dos próprios países produtores competidores.
A maior resistência aos transgênicos vem de europeus influenciados com os problema da “vaca louca” na
Inglaterra. A reserva de cientistas (médicos) da Inglaterra referia-se ao “pouco conhecimento”, na época, das
consequências da propagação de alimentos transgênicos.
As informações sobre transgênicos alertavam para os riscos do surgimento de novas alergias e da alteração
da resistência de agentes infecciosos aos antibióticos. O boletim da “British Medical Association” propunha,
ao final de década de 90 e início do século XXI, que a divulgação das informações sobre a origem dos
alimentos ao consumidor fosse mais clara e explicativa. Neste sentido, o Governo Britânico determinou que
62
bares, restaurantes, e supermercados deviam explicitar nas etiquetas dos produtos e nos cardápios o que é
geneticamente modificado e o que não é, para que o consumidor pudesse optar. Deve-se acrescentar que se a
informação disponibilizada à sociedade estava desprovida da necessária constatação e evidência científica e
operacional, os resultados, novos conhecimentos da sociedade em relação a esses produtos, poderiam ser
inverídicos.
A posição ambivalente da sociedade europeia 46 sobre as tecnologias em biotecnologia, que, por uma parte,
apoia os avanços em diagnose e tratamento médico, mas, pela outra, mantém sérias dúvidas quanto ao uso de
animais transgênicos no transplante de órgãos aos humanos, compreende certa incosnsistência. Também
pairaram duvida entre o risco e a segurança que ofereciam os produtos trangénicos para a saúde biológica e
para o meio ambiente, além de não sentir-se moralmente habilitada para a toma de decisões claras e seguras
neste campo. Um resultado desse posicionamento ambivalente e das incertezas sobre riscos e segurança dos
produtos transgênicos contribuiu para a rejeição social dos mesmos e para, de certa forma, desestimular a
pesquisa, gerando um círculo vicioso: sem pesquisa não se gera informações sobre riscos e segurança, sem
informações não há convencimento social e novas posições sustentáveis dos tomadores de decisão. O início
da ruptura desse círculo conta com um fato positivo: o convencimento do cientista da importância da
informação e do conhecimento social das ISTi. Como ampliar, aprimorar e tornar mais efetiva a comunicação
de informações “consistidas” para ingresar na “era do conhecimento” é uma questão que, além de aspectos
éticos, compreende, também, aspectos técnicos.
Isto posto, pode-se chegar à conclusão, que além dos possíveis riscos dos transgênicos, o que distorce
mais o panorama da discussão, são problemas de competição científica económica, de problemas sociais com
os produtores agrícolas da Europa e de interesses das organizações e indústrias que são atingidos (poderão ser
atingidos) com a adoção os transgênicos, como no caso das empresas de herbicidas e de pesticidas. Nessa
discussão se destaca o papel que “mídia”, de ONGs e de empresas que estão contra os transgênicos.
46
A posição europeia pode-se resumir a um problema de competitividade na ciência e no mercado, pois enquanto a Europa em
biotecnologia humana está muito adiantada e compete, tanto na ciência como no mercado com os Estados Unidos, na parte de
biotecnologia agropecuária é superada técnica-cientificamente pelos Estados Unidos e, portanto, não é competitiva no mercado . Esta
divisão de opiniões entre as sociedades dos Estados Unidos e da Europa respeito aos produtos transgênicos tem criado confusões em
América Latina e Caribe, onde a Argentina, por uma lado, acompanha a posição dos Estados Unidos, em quanto que pelo outro, os
demais países da América Latina “a grosso modo” acompanham à posição europeia e se sentem inseguros em apoiar a posição dos
Estados Unidos em prol dos produtos transgênicos.
No Brasil, o Governo do Rio Grande do Sul proibiu o plantio e o ingresso desses produtos trangénicos ao Estado e a coordenação do
MST declarou como prioritárias para a invasão de propriedades que estão com plantios de trangénicos, na mesma prioridade das
propriedades improdutivas. A posição do Brasil quanto aos produtos trangénicos também acompanha a tendências dos Estados Unidos e
da Europa. Em .quanto a “Comissão Técnica Nacional de Biossegurança” CTNBIO estuda e aprova o plantio dos produtos transgénicos,
o Governo do Rio Grande do Sul guarda as precauções da versão europeia e trata de evitar tanto a entrada, como o plantio de produtos
transgénicos. E por outro lado a justiça do Brasil impede o plantio de transgénicos já liberados pela CTNBIO.
63
Tabela 2 Análise de freqüência e estatísticas da variável ““impactar”” para os três grupos de respondentes
VARIÁVEL FREQÜÊNCIA PERCENTUAL
FREQÜÊNCIA PERCENTUAL
“PREOCUPA” ACUMULADA ACUMULADO
Biotecnólogos
Médio 4 17,39 4 17,39
Bastante 10 43,48 14 60,87
Muito 9 39,13 23 100,00
Estimativa do teste 2 2,69
(Pr. > 2) (0,25)
Estimativa da mediana Bastante (4)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
Há evidências de que a ciência moderna se encontra mergulhada numa profunda crise reconhecida,
inclusive, por cientistas reunidos em Asilomar. Baltimor e Cohen, entro outros cientistas daquela reunião,
após 25 anos e em nova reunião para discutir os acontecimentos durante todo esse tempo, concluíram que a
área de transgênicos se desenvolveu muito e que não era possível estabelecer regras de monitoramento a
respeito do assunto (Castro, 2000).
Ballestero (1994) aponta que a atual época deve ser considerada um típico momento de transição entre o
paradigma da ciência moderna e um novo paradigma, de cuja emergência se vão acumulando alguns sinais, ao
qual numerosos pensadores deram o nome de ciência pós-moderna. Nesse contexto, a evolução das ciências,
em especial de biológicas e Engenharia Genética constitui-se numa revolução científica se considerado o
conceito khunisiano.
De acordo com Khun (1962) as revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também
seguidamente restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, neste caso a comunidade de
biotecnólogos, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um
aspecto da natureza, cuja exploração fora anteriormente dirigido pelo paradigma.
O paradigma biotecnológico emerge, progressivamente, a partir da segunda metade do século XX, graças
aos avanços na competência em analisar e manipular a informação genética de praticamente todas as espécies
de seres vivos, inclusive da espécie humana. 47 Mas, foi somente após a segunda Revolução Biológica,
ocorrida com a descoberta da dupla hélice da estrutura do DNA por Watson e Crick (1953) que foi possível
avançar em Engenharia Genética. Esta competência é recente e ainda rodeada por incertezas, mas pode-se
razoavelmente supor que veio para ficar. Por isso, ela é hoje objeto de esperanças, temores e controvérsias
(Schramm, 1998), e a consequênte aplicação prática pode gerar stricto sensu o paradigma biotecnocientífico.
Com efeito, é a partir deste momento que se criam as condições para que a forma de saber-fazer racional e
técnico não seja limitado apenas aos objetos físicos e químicos, mas aplicado, também, aos organismos
biológicos com o objetivo de reprogramá-los de acordo com projetos de melhoria do bem-estar humano
(Schramm, 1998).
A vigência deste paradigma amplia quantitativamente e qualitativamente o poder humano de atuação, logo
também a probabilidade dos riscos ligados a sua prática. Com isso, transforma-se também a responsabilidade
humana em pelo menos dois sentidos:
47
Historicamente, as raízes do paradigma biotecno-científico entram na segunda metade do século XIX, quando surgiram a teoria da
evolução de Darwin (1859) e a teoria genética de Mendel (1866). De fato, existem raízes mais antigas: as das ciências experimentais ou
Moderna do século XVII, nascida da aliança entre o saber racional da epistéme e o fazer operacional da téchne que dos Gregos até à
Renascença, haviam sido rigorosamente separadas devido a um profundo preconceito contra os “artesãos”, considerados com desdém
tanto por Platão, e Aristóteles quanto pelos Escolásticos.
66
a) “porque o saber-fazer do biotecnólogo afeta a própria identidade do homem, ou sua “natureza”, graças à
intervenção programada nos seus genes ou “programa”;
b) porque transforma-se a própria autocompreensão que o humano tem de si, de suas práticas e de sua
posição no mundo.
Assim, o novo “know how” torna-se objeto das mais variadas especulações e motivos de controvérsias
morais, com verdades e inverdades de efeitos sobre a natureza.
Este é o caso da engenharia genética que consiste na “transformação da composição genética de um
organismo, construído em laboratório (Reiss, 1996) e que torna competente um organismo em fazer
“artificialmente” o que um outro organismo sabe fazer “naturalmente” (por exemplo, uma proteína como a
produção por bactéria de uma proteína como a insulina). Isso é objeto de preocupação tanto por parte de
leigos quanto por parte dos especialistas, sobretudo tendo em conta que se esta tecnologia foi inicialmente
aplicada a microrganismos e plantas hoje é aplicada a animais superiores (como por exemplo os recentes
suínos que foram clonados, como possíveis doadores de órgãos demostram a cúmulo de problemas éticos que
se vão a apresentar). Eis uma das razões porque crescem os temores acerca dos novos poderes e de eventuais
abusos que a engenharia genética tornaria possível e que, segundo alguns, quase certamente se realizarão, a
menos que se renuncie a ela, por consenso ou por lei.
Essas preocupações, tanto para pesquisadores biotecnólogos como não biotecnólogos, não parecem situar-
se numa escala muito importante, sendo que os valores modais foram estimados para a categoria média
(Tabela 3). No caso de administradores, a preocupação dos efeitos da tecnologia sobre o meio ambiente foi
maior, com 50% para a categoria “bastante” (Figura 4).
Procupações e suspeitas são legítimas, pelo menos se for levado em conta aquilo que muitos especialistas
consideram um gap crescente entre a competência biotecnológica e a competência moral, sendo que esta seria
incapaz (pelo menos nas suas formas tradicionais) de dar conta dos novos desafios. Esta perplexidade foi
sintetizada por Hans Jonas (1984) com a expressão “vazio ético” (ethical vacuum), resultante do fato de a
ciência contemporânea ser essencialmente reducionista, mecanicista e despreocupada com os ansios atuais
acerca do futuro da vida sobre a Terra.
67
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco 6 19,35 6 19,35
Médio 14 45,16 20 64,53
Bastante 6 19,35 26 83,87
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
“Implícito no relacionamento servidor público - cidadão se tem o pleno conhecimento, por parte desse
servidor, de critérios e códigos 48 que estabelecem padrões de qualidade do atendimento prestado ao
cidadão pelo servidor público, bem como uma missão institucional [da empresa de pesquisa] exequível,
relevante, clara e internalizada o suficiente na organização”
A postura do pesquisador em relação às questões éticas tem raízes na percepção do entorno e numa
consciência de responsabilidade e comprometimento com as mudanças positivas atribuídas à tecnologia para
esse entorno, para o cliente alvo da pesquisa e na contribuição de programas estratégicos, conforme se espera
em planos como o PPA 200-2003.
Quanto as raízes na percepção o médico bioeticista Segre (1998) aponta:
“É sempre oportuno lembrar que a postura ética emerge da percepção do que ocorre dentro de cada um de
nós” Isto, para o caso do cientista, significa que sua atuação se dirige de acordo com os seus princípios
éticos e profundas reflexões do que pode, com disciplina (esta não deve cercear a liberdade de criatividade
para o bem), e deve, com responsabilidade, realizar, uma vez que, de acordo com Adorno, citado por Segre
(op. Cit.) “a enorme massa do saber quantificável e tecnicamente utilizável não passa de veneno se for
privado da força libertadora da reflexão”.
Um exemplo do abuso do homem sobre a natureza é dado por Jonas (1984) quando aponta para o choque
causado pelas bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki como o marco inicial do abuso do homem sobre a
natureza causando sua destruição. Tal ação pôs em marcha o pensamento em direção a um novo tipo de
questionamento amadurecido pelo perigo que representa para a humanidade o poder do cientista. Até então, o
alcance das prescrições éticas reduziam-se ao âmbito da relação com o próximo no momento presente. Era
uma ética antropocéntrica e voltada para a contemporaneidade.
A moderna intervenção tecnológica mudou drasticamente a realidade. Assim, para Jonas (op. cit.), o
homem passou a manter com a natureza uma relação de responsabilidade, pois ela se encontrava sobre seu
poder. Grave, também, além da intervenção na natureza extra - humana, é a manipulação do património
genético do ser humano que poderá introduzir alterações duradouras de imprevisíveis consequências futuras.
A natureza não era objeto da responsabilidade humana, pois cuidava de si mesma. A ética tinha a ver com
o aqui e agora.
48
Por exemplo, com base no Código de Ética Profissional do Servidor Público; Decreto no. 1.171, de 22 de jun. 1994 e do Decreto n o.
3.507, de 13 de jun. 2000 que disciplinam matérias pertinentes ao comportamento do servidor.
69
Em substituição aos antigos imperativos éticos, entre o quais o imperativo kantiano que se constitui no
parâmetro exemplar definido por (Siqueira, 1998):
Age de tal maneira que o princípio de tua ação se transforme numa lei universal
Age de tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma
vida humana autêntica, ou formulada negativamente: não ponhas em perigo a continuidade da
humanidade na terra.
O pesquisador, na opinião de Beever (Avidos e Ferreira, 2000), ao ser questionado quais devem ser os
limites éticos da pesquisa genética, assim se manifestou:
“Eu acredito que a produção de animais transgênicos é um dos caminhos mais promissores das
pesquisas de biotecnologia, no qual as instituições científicas devem investir muito e
rapidamente”
O aspecto ético exerce uma grande influencia no trabalho do cientista, conforme se infere da síntese de
informações apresentada na Tabela 5 e Figura 5, com respostas situadas nas categorias “bastante” e “muito”
ser a influencia no seu trabalho.
70
Nada
pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 9,39
(Pr. > 2) (0,05)
Estimativa da mediana Médio (3)
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 26,21
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Médio (2)
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 0,33
(Pr. > 2) (0,56) NS
Estimativa da mediana Muito (5)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“eticar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Pouco 1 4.35 1 4.35
Médio 1 4.35 2 8.70
Bastante 5 21.74 7 30.43
Muito 16 69.57 23 100.00
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“eticar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“eticar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
A necessidade, conveniência e oportunidade do debate ético entrar no desenho da pesquisa porque ele
contém em si valores que não podem deixar de ser apontados é uma questão que vincula, com
comprometimento de causa e efeito, a tecnologia às dimensões sociais, econômicas e culturais, ao considerar
esses valores e comportamentos no planejamento e desenvolvimento da pesquisa.
Esses valores fazem parte da responsabilidade instituída pela natureza, isto é, do que existe por natureza,
independe de concordância prévia que o pesquisador possa ter. Trata-se de uma responsabilidade irrevogável,
incancelável e global. Nesse caminho de comprometimento e responsabilidade da pesquisa que se desvenda,
atualiza e divulga mediante o debate com a sociedade é necessário considerar que na era de uma civilização
dominada pela técnica o primeiro dever do comportamento humano é como o futuro do próprio homem, o que
coloca, de forma direta, ainda que implícita, o futuro da natureza como condição “sine qua non”, por ser ela
mesma condição imprescindível para a vida humana.
Ao mesmo tempo há que se considerar uma responsabilidade de natureza metafísica, pois o homem não se
converteu em perigo para sua própria existência como, também, para toda a biosfera. Assim sendo, a rica vida
da Terra conseguida através de um longo labor criativo da natureza, está, de certa forma, a mercê desse
homem, e exige a proteção criteriosa que esse mesmo homem deve dar a ela. (Siquiera, 1998; modificado
para o texto).
O servidor da empresa pública de pesquisa ao ser consultado sobre a necessidade de o debate ético entrar
no desenho da investigação a resposta os situa na categoria de “muito”, conforme se apresenta nas ilustrações
da Figura 6 e da Tabela 6. Significa que é de grande valor a entrada desse debate e a participação efetiva e
consciente do pesquisador do mesmo para “acomodar”, ajustar e delinear a pesquisa ao encontro de interesses,
possibilidades, desejos e expectativas da sociedade.
O que se observa com relação à forte rejeição aos transgênicos é o resultado da mídia que tem
desenvolvido uma forte campanha antitransgênica, com o suporte de movimentos ativistas (ONG) afirmando,
de forma irresponsável e com inverdades (Borém e Giúdice, 2000) que os transgênicos fazem mal à saúde e
ao meio ambiente, sem que haja comprovações técnico-científicas que sustentem tais afirmativas.
É possível inferir que o crescimento e fortalecimento da ação distorcida da mídia em relação ao debate
ético e pouca penetração na pesquisa seja, em parte, devido a omissão do pesquisador nesse debate, à falta de
informações esclarecedoras para a sociedade, à falta de “valoração dos transgênicos” à luz de valores sociais e
no contexto estratégico do desenvolvimento.
73
Nada
pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 9,39
(Pr. > 2) (0,05)
Estimativa da mediana Médio (3)
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 26,21
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Médio (2)
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 0,33
(Pr. > 2) (0,56) NS
Estimativa da mediana Muito (5)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“opinar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“opinar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
“os cientistas devem ter o máximo de consciência possível de uma concepção da ciência comprometida
com a defesa de uma autêntica humanidade, que tenha acesso privilegiado à unidade do conhecimento e
que seja o motivo central do homem de ciência”.
A questão que se coloca na fase seguinte, após o reconhecimento como fundamental da concepção da
ciência comprometida com o bem-estar do homem, é o da operacionalização dessa concepção ideológica.
Neste sentido, a empresa pública de pesquisa, em particular a Embrapa, investe não apenas na atualização de
sua agenda, mas, principalmente no aperfeiçoamento dos instrumentos para “melhor” prospectar o que
pesquisar e oferecer resultados “comprometidos” com o bem-estar do homem e na defesa de uma autêntica
humanidade, isto é, afinada em seus interesses, aspirações e possibilidades.
77
Nesse posicionamento a Empresa reconhece que está diante grandes conflitos, um deles é o econômico,
que envolve industrias poderosas e que, segundo Castro (2000), tem utilizado há mais de 50 anos,
agroquímicos, criando mais de 500 espécies de insetos resistentes a inseticidas. O mesmo pesquisador e líder
de pesquisa na área de biotecnologia questiona se será possível que as tecnologias baseadas em engenharia
genética possam produzir plantas resistente a insetos e, categoricamente, responde afirmativamente. Mas,
esses mesmos insetos daninhos resistentes aos inseticidas, poderão, também, tornar-se resistentes às toxinas
que estão sendo colocadas nas plantas com propriedades econômicas. Aponta, que nessa ação do homem –
reação do inseto, a melhor solução é a biológica criada pela engenharia genética como alternativa química.
Deve-se acrescentar que a melhor solução transita por várias dimensões que definem o bem-estar, algumas
delas indicadas por Garcia (2000) e Borém e Giúdice, (2000), entre muitos outros autores sem a influência de
extremismo de ONG.
78
“Os cientistas que habitualmente preferem dedicar-se a seus microscópios e desprezam as reflexões
filosóficas, permanecem de tal modo distanciados da realidade humana e social do homem que Einstein
chegou a dizer que, avaliados pela ética dos filósofos e espistemólogos sistemáticos, esse cientistas não
passariam de ´uns oportunistas sem escrúpulos´...”
O teste utilizado para a verificação da hipótese anterior foi o de qui-quadrado (2) com suficientes
evidencias estatísticas para se rejeitar a hipótese, observando-se, nas Figuras 19, 20 e 21, respostas diferentes
porém com valores modais e medianas que acusam, por parte dos informantes, interesses pelas questões fora
de seu âmbito estrito de pesquisa, seus laboratórios, campos experimentais etc. Dessa forma, pode-se inferir
que não desprezam as reflexões filosóficas e que não permanecem distanciados da realidade humana.
Portanto, e apesar de não ser “suficiente” a proximidade do pesquisador com a realidade social que
pretende influenciar e de mergulhar o necessário nas reflexões filosóficas dessa realidade, há preocupação
para se internalizar tal realidade sob o enfoque do problema para pesquisa e traduzi-lo em problema de
pesquisa relevante, com características científicas e pragmáticas. A Empresa é ciente dessa necessidade e,
conforme já indicado anteriormente, desenvolve esforços para aprimorar aspectos fundamentais da
prospecção de demanda por tecnologia e, repetindo, definir novas agendas de pesquisa alinhadas à programas
como os do PPA 2300-2003 e de desenvolvimento setoriais, entre outros.
Deve-se acrescentar, para complementar as informações anteriores e relacionadas com a questão que se
discute, que a vertente do conhecimento mais importante que percebe o distanciamento e mesmo a ruptura da
ciência moderna com os referenciais dos autênticos valores da sociedade humana está na filosofia.
Neste sentido é oportuna a citação do filósofo alemão Heidegger para incitar uma reflexão profunda do
pesquisador sobre a importância e pertinência da filosofia em seu trabalho, quando coloca:
O bioeticista Siqueira (1998) complementa a citação anterior, e é indicada a seguir, igualmente para
incitar uma reflexão profunda sobre o assunto:
Nada
pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 9,39
(Pr. > 2) (0,05)
Estimativa da mediana Médio (3)
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 26,21
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Médio (2)
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estaimativa do teste 2 0,33
(Pr. > 2) (0,56) NS
Estimativa da mediana Muito (5)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“refletir” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Nada 2 6.45 2 6.45
Pouco 2 6.45 4 12.90
Médio 6 19.35 10 32.26
Bastante 16 51.61 26 83.87
Muito 5 16.13 31
100.00
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“refletir” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
“ Age de tal maneira que o princípio de tua ação se transforme em uma lei universal”.
“Ante um potencial quase escatológico de nossa tecnologia, a ignorância sobre as últimas consequências
será em si mesma razão suficiente para uma moderação responsável (...).
Há outro aspecto digno de menção, os não-nascidos carecem de poder (...) e, neste sentido, é necessária a
pergunta:
83
Como decorrência desses fatos, torna-se oportuno refletir sobre a eurística do temor formulado por Jonas,
aconselhando que em todo projeto de pesquisa deve o cientista sempre optar por aquele de prognóstico mais
favorável entre todos os possíveis e recusar sistematicamente o desconhecido quando se conhece pouco sobre
ele.
Implícita na anterior citação há outras questões importantes como as da precaução, prevenção etc., que
devem ser consideradas na formulação de um projeto de pesquisa. Para uma análise dessa questões deve-se
consultar o Manual de pesquisa (vol. 1) com informações que complementarão as apresentadas neste estudo.
84
Nada
pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 9,39
(Pr. > 2) (0,05)
Estimativa da mediana Médio (3)
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 26,21
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Médio (2)
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 0,33
(Pr. > 2) (0,56) NS
Estimativa da mediana Muito (5)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“mudar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Pouco 3 14.29 3 14.29
Médio 10 47.62 13 61.90
Bastante 6 28.57 19 90.48
Muito 2 9.52 21 100.00
Freqüência de valores perdidos = 2
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“mudar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Pouco 1 3.85 1 3.85
Médio 11 42.31 12 46.15
Bastante 12 46.15 24 92.31
Muito 2 7.69 26 100.00
Freqüência de valores perdidos = 5
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“mudar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Médio 1 10.00 1 10.00
Bastante 4 40.00 5 50.00
Muito 5 50.00 10 100.00
Freqüência de valores perdidos = 2
A questão que se analisa nesta parte do estudo diz respeito ao tipo de informação que deve ser
disponibilizada a população em relação aos produtos biotecnológicos.
Tem como referência para a reflexão e posicionamento, a seguintes expressão do Prof. Da UnB Dr.
Garrafa (Garrafa,2000):
“A população brasileira, sendo o verdadeiro sujeito de todo o processo de transgenia deverá estar
suficientemente informada, segura e consciente sobre o melhor caminho a ser tomado, pois a participação
e controle social torna-se a grande referência cidadã para a definição dos rumos futuros”
Essa referência foi colocada de maneira explícita no questionário e permitiu formular uma das hipóteses
básicas do estudo 49, com resultados sintetizados nas Figuras 25, 26 e 27. Para o caso de pesquisadores
biotecnólogos a resposta se situa no “posto” bastante permitindo a inferência, com suficiente nível de
confiança estatística, rejeitar a hipótese. Semelhantes conclusões podem ser obtidas para os outros tipos de
informantes.
A questão que poderia ser colocada a seguir é: como gerar um fluxo de informações, suficientemente ágil
e eficaz, para a população, com vistas a contra-restar, pela consistência com a verdade (ver Borém e Giúdice,
2000, p. ex.), a reação da opinião pública contra os transgênicos? Estas, entre muitas outras questões, são
definidas como futuras ações de pesquisa procurando aproveitar algumas brechas nesse conhecimento
impreciso e com inúmeras inverdades.
Ao respeito desse aproveitamento e aproveitando o posicionamento do Prof. em ciência animal e produção
da Universidade de Reading (Inglaterra), Dr. David e Beever (Avidos e Ferreira, 2000) e do Chefe-geral da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dr. Lui A. Barreto de Castro, são oportunas as seguintes
reflexões que complementam a discussão desta seção.
“A população [do Reino Unido] não tem um ponto de vista baseado em conhecimento técnico sobre os
transgênicos, mas se deixa influenciar pelo que saia da mídia, que se tem mostrado radicalmente contra a
utilização dos produtos geneticamente modificados. Muitas vezes, são veiculadas reportagens totalmente
irresponsáveis, denominado os transgênicos de ´Frankstein foods`, e associando-os a símbolos conhecidos
como morte, perigo, veneno etc., é uma estratégia muito bem elaborada para aumentar a vendagem de
jornais e revistas sensacionalistas...
Deve-se acrescentar, ao posicionamento do Dr. Beever, as opiniões do Dr. Castro. As reportagens, em
muitos casos, defendem posicionamentos e interesses de indústrias extremadamente poderosas e contra os
quais a empresa pública de pesquisa enfrenta sérias dificuldades. Posicionamentos orientados para a
49
A hipótese pode ser definida nos seguintes termos:
HO: O pesquisador apenas deve estar interessado em como resolver o problema de pesquisa,
sendo que a transferência de informações, serviços e produtos tecnológicos que
fundamentarão os novos conhecimentos e as inovações tecnológicas compete aos
extensionistas, difusores de tecnologia, empresas e “incubadoras” de transferência.
Sob a mesma argumentação teórica indicada na nota de rodapé 19 foi feita a inferência estatística.
87
produção de melhor genética, com a melhor tecnologia que possibilite competitividade, sustentabilidade
do meio ambiente e biossegurança poderão contribuir para atingir a equidade social.
A equidade social é uma das dimensões do desenvolvimento sustentável que, por rebatimento e conforme
sejam os impactos da tecnologia na sociedade, poderá contribuir para a sustentabilidade e fortalecimento da
pesquisa. Alguns entraves como o “custo Brasil” que dilui vantagens competitivas e reduz ou elimina
potencialidades da tecnologia deverão ser superadas.
Outra dimensão que deverá ser colocada no fluxo de informações para a sociedade é a pertinente a
economia. Neste sentido, é necessário evidencia os aspectos econômicos dos resultados da pesquisa, inclusive
como argumentos para sustentar as ações estratégias de sustentabilidade ecológica. Vale acrescentar que
ciência sem conteúdo comercial e econômico não é sustentável. Portanto se a tecnologia não for comercial,
não tem aplicação; se não tem aplicação, não poderão ser financiadas as atividades necessárias para gerar
essas tecnologias. A ruptura desse círculo vicioso deve ser claramente exposta no fluxo de informações para a
sociedade.
Garrafa (2000) analisa, a partir do enfoque bioético, o conflito gerado pela proposta da introdução de
alimentos transgênicos no Brasil. Se por um lado, o País não pode fechar-se às novas tecnologias ditas
“limpas” que surgem no final do século XX, por outro, é enorme a responsabilidade do cientista que trabalha
com o assunto e dos políticos que têm a tarefa de dar encaminhamento concreto e adequado a este assunto.
Neste contexto deve ser destaca a importância de informar à população brasileira para que fique segura e
consciente sobre a sua opção “racional” (racionalidade sustentada na veracidade de dados e informações).
88
Nada
pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 9,39
(Pr. > 2) (0,05)
Estimativa da mediana Médio (3)
Pesquisadores não-biotecnólogos
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 26,21
(Pr. > 2) (0,01)
Estimativa da mediana Médio (2)
Pouco
Médio
Bastante
Muito
Estimativa do teste 2 0,33
(Pr. > 2) (0,56) NS
Estimativa da mediana Muito (5)
75
50
26
Pouco
Médio
Muito
Pouco
Médio
Pouco
Médio
Bastate
Bastante
Bastante
Muito
Muito
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“informar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Pouco 2 8.70 2 8.70
Médio 3 13.04 5 21.74
Bastante 10 43.48 15 65.22
Muito 8 34.78 23 100.00
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“informar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Pouco 1 3.23 1 3.23
Médio 4 12.90 5 16.13
Bastante 11 35.48 16 51.61
Muito 15 48.39 31 100.00
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“informar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Você considera que a “Food and Drug Administration” dos Estados Unidos utilizou a população
americana como cobaia a produção e comercialização de produtos transgênicos naquele país
desde 1990.?
A hipótese formulada tinha como assertiva o suposto fato, com base em informações levantadas ao
respeito, de que a população americana tinha sido utilizada como cobaia, fato que fala por si só da segurança
dos transgênicos, em contrate com a experiência anterior, quando de acordo com o exposto nas Nações
Unidas pela cientista Martha Herbert: “No passado, as novas tecnologias da medicina eram testadas primeiro
pelos pobres dos países do terceiro mundo”.
É interessante salientar que quando alguma autoridade dos Estados Unidos visita os países do terceiro
mundo, seus assessores trazem comidas e até água com medo de intoxicar-se nesses países.
Os resultados da consulta aos informantes desta pesquisa indicam freqüência do “posto” “nada” para
pesquisadores biotecnólogos (Figura 28) e administradores (Figura 30). No caso de pesquisadores não
biotecnólogos (Figura 29) os resultados apontam que 51,6% dos informantes se situam num ponto
intermediário “médio”.
Como interpretar essa informação? Considerando que esse “posto” na escala considerada para o estudo
define uma posição intermediária entre os que se situam como “pouco” ou “nada” e “muito” ou “bastante” o
resultado poderia ser visto como o de certa indefinição. A reformulação da pergunta, em outra escala, poderia
eliminar dúvidas e melhor especificar a opinião dos pesquisadores sobre o assunto.
91
Ponto médio
Variável testar
Figura 28 Distribuição da resposta de pesquisadores biotecnólogos sobre a posição da
Food Drug Administration dos Estados Unidos da América sobre a possível utilização da
população como cobaia ao autorizar a produção e comercialização de produtos
transgênicos, naquela País, desde 1990.
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“testar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Freqüência
Ponto médio
Variável testar
Ponto médio
Variável testar
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“testar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Ponto médio
Variável segurar
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“segurar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“segurar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Freqüência
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“segurar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“limpar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Ponto médio
Variável limpar
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“limpar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“limpar” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
A hipótese é colocada nos termos em que esses alimentos não contribuiriam significativamente para
reduzir a fome sendo aceita, contrário ao esperado, pelo pesquisador não biotecnólogos (Figura 38).
Para o caso de pesquisadores biotecnólogos (Figura 37) e administradores da pesquisa (Figura 39) as
respostas dos informantes se situam nos “postos” “médio” (39,1% dos informantes) e “muito” (41,7% dos
informantes), conformadas e significativas com o esperado.
O desdobramento e discussão da resposta à pergunta anterior deve ocorrer no marco da realidade que
apresenta os cenários da pesquisa e com os quais há um comprometimento de solução desses resultados
planejados e desenvolvidos no conceito de P&D.
Uma das questões a considerar nesse contexto é o relativo ao crescimento da população que em 1900 era
de 1 bilhão, tendo ascendido a 6 bilhões em 2000 e tem uma projeção para o ano 2050 de 10 bilhões.
Até faz 20 anos a única solução para aumentar a produção era o de converter florestas, selva e desertos em
terra fértil.
Os impactos ambientais após haver criado várias regiões de monocultura tem sido a criação de efeitos
ecológicos devastadores incluindo a perda de biodiversidade e o aumento do aquecimento do clima global.
Pode-se prever que a destruição de ecossistemas importantes no mundo aumentará a necessidade de aumentar
a produção de alimentos por vias não convencionais, dada a limitação e até redução de recursos naturais que
tem sustentado o crescimento da produção de alimentos.
Aumento da produção que tem sido conseguida em Europa e os Estados Unidos, deve-se, em grande parte,
a contribuição da biotecnologia. Esse potencial ainda é muito grande.
Mas, o principal impacto da biotecnologia se deixará sentir nos países em desenvolvimento, onde se
persegue a baixa de preços, a qualidade de processos e produtos e a sustentatibilidade dos mesmos para
fundamentar novas vantagens competitivas.
A produção tem aumentado nas fazendas a medida que práticas agrícolas tem sido melhoradas com novas
tecnologias nos países desenvolvidos o que tem influenciado no aumento de alimentos a nível mundial,
aumentando as exportações a preços mais baixos e outras condições da competitividade.
Os países em desenvolvimento precisam ficar auto-suficientes para eliminar a preocupação com a miséria
atacando as causas da mesma.
Devido a outras dificuldades económicas, políticas e ecológicas dos países em desenvolvimento para
aumentar a safra na produção de alimentos para sustentar as populações locais, eles precisam confiar em
solução de baixo custo que não obrigue ao agricultor a comprar produtos químicos e equipamentos.
103
Assim sendo, além da necessidade de aumentar a produção nos países em desenvolvimento, é necessário
incluir as práticas de aumentar a produção de transgênicos e a automatização das fazendas.
Dessa forma, coloca-se como uma ação “inteligente” e estratégica o fortalecimento da pesquisa que
cumpre esse papel social estratégico. Requerer-se, também, de especialistas altamente treinados em
transferência de tecnologia, comunicação e marketing para reverter situações contrárias aos produtos
transgênicos. Entenda-se por reverter a disponibilização para sociedade de informações com fundamento
técnico-científico suficientes para tecer novos conhecimentos e apoiar decisões “racionais” e inteligentes que
consultem seus interesses e possibilidades.
104
Freqüência
Ponto médio
Variável fomear
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“fomear” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Ponto médio
Variável fomear
Figura 38 Distribuição da resposta de pesquisadores não biotecnólogos sobre se os alimentos
desenvolvidos pela biotecnologia podem ser um instrumento para aliviar a fome e a pobreza
ANÁLISE DE FREQÜÊNCIA DA VARIÁVEL FOMEAR
FREQÜÊN PERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“fomear” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
Nada 3 10.00 3 10.00
Pouco 11 36.67 14 46.67
Médio 7 23.33 21 70.00
Bastante 6 20.00 27 90.00
Muito 3 10.00 30 100.00
Freqüência de Valor Perdido = 1
106
Ponto médio
Variável fomear
FREQÜÊNPERCENT
VAIÁVEL FREQÜÊN PERCENT CIA UAL
“fomear” CIA UAL ACUMULA ACUMULA
DA DO
REFERÊCIAS
BERLINGUER, G. A bioética entre a tolerância e a responsabilidade. Humanidades. Xxxx. p. 358-367.
GARRAFA, V. Bioética e ciência - até onde avançar sem agredir. In: COSTA, S. L E; GARRAFA, V.;
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