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Digo isso não por vaidade, mas para prevenir o caríssimo leitor.
Retomo aqui um trecho do prefácio do livro, escrito pelo meu amigo e editor,
Roosevelt Augusto:
Em linhas gerais, o Amanhã foi como que um projeto cujo objetivo teve a pretensão
de fazer um livro que, ao invés de facilitar as coisas para o leitor, acabasse fazendo
justo o contrário: uma leitura fraturada e cheia de ambiguidades.
Isso acontece porque certas pessoas vão sempre confundir Autor com Narrador, e
acabam julgando o primeiro pelos abusos do segundo.
Pra mim, o que interessa é ter na escrita ficcional boas doses de delírio e sadismo,
talvez como estratégias discursivas para dar aos leitores alguns motivos para sair
de certo embotamento. Digo isso partindo do pressuposto de que, na atualidade (e
acho que não muito diferente de épocas passadas) nosso contato com a literatura
ser cada vez mais raro. Talvez em função das demandas profissionais e as
pressões do tempo. O espaço para o sonho é sempre um lugar de resistência, e, até
certo ponto, duvido que esse tenha se proliferado muito, por aí.
Ser outra coisa ou não-ser, estar livre para certos devaneios sempre será um
espaço minoritário. Talvez a literatura tenha essa pretensão boba de querer
preservar algo tão raro, algo capaz de produzir novos estranhamentos com a
linguagem.
Devir outra coisa na literatura pode ser toda a forma de encontrar partículas entre
você e o outro, sendo que esse outro pode ser um animal, por exemplo. Uma
criança, mulher, negro, bicha, etc..
Uma literatura como devir precisa criar planos de imanência para a formulação de
linhas menores, minoritárias.