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A GAIOLA

Os Satyros – Módulo Diegético/Março 2019

DIREÇÃO:​ Henrique Mello

PERSONAGENS:
A VOZ: Áudio voz masculina, distorcida
Grande Senhora – Luma
Número 13 – Amanda
Número 17 – Reinaldo
Número 37 – Pamela
Número 45 – Higor
Número 69 – Elliot
Número 92 – André
Número 108 – Flávia
Número 133 – Ana Clara

OBS.: TODAS AS NARRATIVAS, PARA PÚBLICO, DEVEM SER NEUTRAS;


OBS2.: TODO SINAL SONORO OS ATORES FICAM EM PRONTIDÃO;
OBS3.: MOVIMENTAÇÃO NO PALCO DEVE SER SEMPRE SOBRE AS MARCAÇÕES
DE “X’.;
OBS4.: NA PLATÉIA TEMOS 5 CADEIRAS MARCADAS COM “X”, CONFORME
ATRIZES/ATOR MORREM, ELES SE SENTAM NUMA DESSAS CADEIRAS.

ENTRADA PÚBLICO - ​ (MÚSICA: “CRUSH” - GARBAGE)

( 6 cadeiras, 3 de cada lado do palco. Todos os atores estão sentados, sem


personagens, enquanto o público entra pelas laterais. G. Senhora dubla ou canta uma
música na parte de cima e N° 37 dança num foco ao centro, quase esgotada)

G SENHORA ​- Sejam todos bem vindos a minha gaiola… Me chamo Dawn e, assim como
vocês, quase sempre me sinto sozinha. Foi aí que tive a ideia, baseada em fundamentos
sociais é claro, de comprar seres humanos para recreação, assim como pets que
compramos pela internet. Num primeiro momento, fiquei horrorizada, me parecia muito
doentio manter outros seres humanos apriosionados em gaiolas, como naquelas histórias
de pessoas que mantém outros aprisionados para fins sexuais, torturas, etc, etc e etc. Que
tipo de animal seria capaz de manter outro animal preso apenas para se divertir? Eu. (risos)
Ou melhor, nós. Pensei. E olhando pelo lado bom disso, eles não tinham nada a perder. A
maioria deles eram infratores, moradores de rua, vagabundos, pobres, prostitutas,
aberrações, etc, etc, etc. Comecei com apenas um, mas aos poucos minha coleção foi
crescendo e logo se tornaram muitos. Então me lembrei de uma frase famosa. “​Observava
as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e
eu era platéia de um homem só”. F ​ oi então que decidi compartilhar meu prazer com o
mundo, ou melhor, com o que sobrou dele.

(N° 37, que está no centro, para de dançar)


(Foco só na N° 37)

N° 37 ​- ​No início formávamos um bando de gente por aqui. Éramos um grupo de


aproximadamente 150, 200 pessoas. De segunda a sábado, logo após o banho coletivo
éramos obrigados a ficar de pé diante da bandeira. O sujeito encarregado do juramento era
um de nós. Por motivos políticos ele assumiu a posição de gerente, era encarregado de nos
alimentar, nos punir e nos obrigar a realizar as mais diversas fantasias da grande senhora,
caso negássemos alguma delas, éramos cruelmente punidos. E sempre que alguém novo
entrava na jaula a Grande Senhora nos reunia para um cansativo discurso e ao final nos
lembrava...

G SENHORA - Muito bem, agora vocês tem um lar. Não se metam em confusão e terão
segurança para o resto de suas vidas.

N° 37 ​- ​Segurança? Isso é algo que se pode conseguir por aqui. Três metros quadrados,
nenhuma janela, nada de aluguel a pagar, nenhum bem de consumo, imposto de renda,
crianças para sustentar, detenção por dirigir bêbado, perda nas corridas de cavalo e o mais
importante, enterro grátis. E sempre que a sirene toca, é hora de criarmos uma nova cena
para divertí-la.

SINAL SONORO.

G SENHORA​ - Tire a roupa número 37!

N° 37​ - Como?

G SENHORA ​- Tire a roupa! Já estamos on-line.

(N° 37 começa a tirar a roupa, em silêncio, um incômodo absurdo em seus


movimentos enquanto a Grande Senhora a observa empolgada​)

G SENHORA ​- ​Por mero prazer, vivemos a vida do outro, colecionamos tesouros em forma
de sensações. Por mero prazer, escravizamos e compramos seguidores por meio de
nossos evangelhos esquizofrênicos, inventados.

SINAL SONORO

G. SENHORA ​- Estamos ON LINE!

“APARÊNCIAS”
Inspirada no conto: “A mulher mais linda da cidade”.

Nº 45 - ​(Para o público) ​Às segundas-feiras temos que cuidar de nossas aparências.


Sempre devemos estar impecáveis. Cabelos, roupas, personalidade. Somente os
considerados padrão de beleza participam nas segundas. Magros, brancos e sociáveis. No
ar cheiro de 212, perfume preferido da Grande Senhora. Os contaminados neste dia
apenas nos servem .

SINAL SONORO

(N°45 E N°133 VÃO PARA AS MARCAS)

Nº45 - ​Quer um drinque?

Nº 133 - ​ Claro, por que não? Me acha bonita?

Nº45 - ​Lógico que acho, mas não é só isso... é mais que uma simples questão de beleza…

Nº 133 - ​As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?

Nº45 - ​Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.

(MÚSICA:)

DANÇAM JUNTOS

(Nº 45 QUEIMA COM CIGARRO 133 DE PROPÓSITO)

Nº133 - ​ E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?

(Nº45 SEGURA O BRAÇO DELA E QUEIMA MAIS UMA VEZ)

Nº45 - ​O corpo é meu ​faço dele o que bem entendo. ​(Continua queimando a em vários
locais do corpo)

Nº133 - ​( Para público) Filho da puta, só porque paga umas biritas pensa que é dono da
gente?
.
G Senhora - Notícia de última hora! Nº133 tão comportadinha. Passou a tarde toda com
Nº92.

Nº45 - ​Olha para mim. Tu fodeste, não foi? Não olha, arranhou-te a cara

(G. SENHORA PEDE PRA QUE ELE REPITA COM MAIS AGRESSIVIDADE)

Nº133 - ​Já te disse, não aconteceu nada.

Nº 45 - ​Levanta a camisa. Quero ver as tuas costas . Oh, merda, 133. Tira a camisa. E anda
à minha volta.​ ​Que arranhão é este nas tuas costas?

Nº133 - ​ Qual arranhão?


Nº 45​ - PUTA. MAQUINA DE FUDER. Se acha bonita? Vamos ver.

(Nº45 COMEÇA A PRENDER FITAS ADESIVAS DEFORMANDO O ROSTO E O CORPO


DE N°133)

G Senhora - ​Deforma mais. Mais. Depois eu seleciono outro número para as segundas. (Ri
freneticamente)

Nº 133 - ​Beleza não vale nada e depois não dura. Ela nem sabe a sorte que tem de ser
feia. Assim, quando alguém simpatiza, já sabe que é por outra razão.

Nº45 - ​(Para público) ​Eu amo quando a G. Senhora deixava eu cortar a 133. Comecei com
cacos de vidro. Na barriga, nas pernas, nos peitos. Tentei no rosto, mas fui proibido.
Imitando a G. Senhora: “ As segundas quero beleza. Eu amo que você as corte. Mas as
brancas não. escolhe as negras para repor é mais fácil”

Nº 133 - ​Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita? Não gosta mais de mim? Deixei de
ser bonita?
​(N°133 ANDA ATÉ A MARCAÇÃO LATERAL, VAI FICANDO FRÁGIL E DEITA. N° 45 SE
DEITA EM OUTRO PONTO, LATERAL OPOSTA A N° 133, COMEÇA A TIRAR CALÇA E
ESTUPRAR N° 133)

Nº 45 - ​Pensamentos bonitos e mulheres bonitas jamais perduram. REZA VAGABUNDA​.

Nº 133 - ​Pai nosso que estais…

Nº 45: ​errado​. ​De novo.

Nº133: ​Grande senhora que estais no céu, santificado seja vosso nome. Venha vós a nossa
gaiola… O pão nosso de cada dia, nos oferta hoje.. perdoai nossas afrontas… que
possamos entrete-la até o fim . Amém.

G. SENHORA -​ Enforca ela, enforca essa vadia…

As cenas de ciúmes e agressões eram constantes. Ela sofria calada essa


violência física e psicológica. Se ele estivesse mal, agredia. Se acordava
bem, pedia desculpas e dizia amar ela. Ela começou a apanhar sem motivos,​
por qualquer motivo. N​ essa segundas ela foi estuprada enquanto rezava, seu
braço foi quebrado, seu pé foi quebrado. Não pode bater, não pode fugir. Ela
chora de dor. Eu não faço nada.

(G. SENHORA PEDE PARA OS DOIS SAÍREM)


“DESINFECÇÃO”
Inspirada no conto: “A Peste”

(G. SENHORA PEDE PARA N° 37 ENTRAR)

SINAL SONORO.

Nº17 - (Para público) ​Bem vindos a Gaiola. Exibição de limpeza programada. Isolamento
de Contato. Todas as terças-feiras, os contaminados recebem a desinfecção. Não se pode
haver a mínima possibilidade de transmissão de vírus. Por favor, não interajam com os
doentes. Não os toquem. Utilizem as luvas. Grande risco de Contaminação. Estamos ON
LINE.

Nº17- Contaminada com a Peste. Doença grave, contagiosa, epidemia. O último Nº que
ainda é GORDA.
Ela é o animal preferido da G Senhora. Bajuladora. Faz sempre o que mandam.

Nº37 - Pessoa má ou insuportável. Nº 17 criatura “superior” . Homem. Único autorizado a


nos dar banho.
Você pode gritar puta merda? Grita Puta merda. Grita. Que porra .
(Pausa) . Som da voz uma humana em agonia, apenas serve para afiar as garras da peste.
( Sussurrando)​ ​Prazer Peste.

Nº17​ - Intocável. Asquerosa.

G Senhora:​ Faz xixi nele 37!

Nº37: Sem abastecimento senhora! (Para o público) ​Ela tem opiniões opostas às nossas,
não para de falar, não presta atenção, jamais escuta.

Nº17​ - Magoar ou ficar magoado ? Putas asquerosas.

G Senhora: ​17 opte pela segunda narrativa . ​Macho machucado​. Sempre sei onde
encontrar carne boa.

Nº17 - ​continuando o que estava dizendo​. Como foi que a desgraçada conseguiu te deixar a
noite inteira aqui, sem se intrometer ?

Nº37​: Fácil. Ela espera a gente dormir e grita sempre no meio do nosso sono “te acordei?
Acorde AGORA! ​Até o nosso sono é controlado. Eles dizem para você sonhar. Mas no
primeiro sonho. Estraçalham sua perspectiva de ilusão.

Nº17​ - Se não se acorda, ela berra: “eu sei que você está aí dentro!”
G senhora - esses vândalos, embora não tenham a menor ideia do processo de raciocínio
da gente, sabem perfeitamente que nos são antipáticos. HORA DA ESFREGAÇÃO.

Nº 17- você afirma que todos os senhores não prestam? Mas não é bem assim. Já
encontrei alguns de excelente caráter. Existem bons proprietários. ​(OLHANDO SEMPRE
PARA G Senhora)

Nº37- ​toda vez que um sujeito sob de nível na gaiola. Veste aquele uniforme, passa a
funcionar como assalariado de um sistema que quer manter a situação do jeito que está.

Nº17​: ​Apega-se a outras pessoas para sobreviver. Se eu pedir, ela chupa meu pau. Só
porque sou autoridade.​ Chupa 37.

37 abaixa, coloca a cabeça por baixo do avental e faz movimentos. 17 grita como se
tivesse levado uma mordida.

Nº17: ​Puta asquerosa.

Nº37​ - ​ninguém sabe o que está se passando, exatamente.

G senhora​ - Por isso devemos confiar nas nossas lideranças. ESFOLAÇÃO.

(N° 17 SOLTA N° 37, ELA NARRA A ESFOLAÇÃO, EM PÉ)

Nº37 ​- (Para público) Ela tava contaminada. Ele arrastou ela por todo o chão, nas
primeiras horas a pele foi saindo. Com as costas em carne viva foi banhada com ácido, o
resto de pele que ainda tinha foi queimado. Ela gritou muito. Durante horas. Ela gritava. A
carne apodreceu. Fedia. Decomposição ainda viva. A peste é alguém que você conhece.

(N° 37 VAI ATÉ SUA CADEIRA, A DERRUBA E SENTA NA PLATÉIA)

“AÇOUGUE ABERRAÇÃO”
Inspirada nos contos: “ Kid Foguete no matadouro” e
​SINAL SONORO

(G. SENHORA PEDE QUE ENTRE O N° 69)

Nº69​: ​Um açougue. corpos pendurados. Cheiro excessivo de sangue​. ​Nas quartas-feiras o
açougue abre, as carnes são embaladas e vendidas, as que apodreceram são eliminadas.

Nº 69​: Gaiola, Ajustar. Incomodar. Gaiola. Incomodar. Ajustar. Gaiola

G. Senhora: ​CALE A BOCA 69.

Nº17: ​Olha que aberração mais lindinha. Aberraçãozinha.


Nº69: ​Cuidado com aqueles rápidos em censurar. Eles temem o que desconhecem. Homem
trans masculino, invisíveis.

​ oente! Contaminado! Você tem que ser curado.


Nº17: D

Nº69: ​Tentaram todas as curas. Religião. Medicação. Terapia. Até mesmo Suicídio
provocado. 25 corpos enterrados com a etiqueta de “SEM IDENTIFICAÇÃO”.

Nº17: Você diz que não é mulher. Nega a ordem natural das coisas. Pecador Insolente.
Vamos ver quem é o machão? Aguenta o tranco?

G. SENHORA - Repete isso N° 17, simulando um orgasmo…

(Nº17 REPETE ENQUANTO COLOCA VESTIDO E FLOR NO CABELO DE N° 69).

G SENHORA: ​(em tom demoníaco) ​ Defeito de Fábrica. Conserta ELE 17. AGORA.

(N° 37 “SEGURA” N° 69)

Nº17​: Seu amor é vulgar, busca vulgaridade. Eu sei que você gosta. Você merece sofrer.
Nojento. Asqueroso.

N° 69 EM ÁUDIO: ​Neste momento eu percebi. Havia suficiente ódio e violência no ser


humano para abastecer qualquer exército, a qualquer momento. Cuidado com aqueles que
procuram constante multidões. Eles não andam nada sozinhos.
Eu c​ heguei a sofrer 21 estupros em um dia. Peguei hepatite e sífilis. Fui estuprado com
qualquer tipo de objeto que podia existir. O rodo era sempre o pior. Eu desmaiei de dor. Eu
não acordei mais.

Nº 17:​Podia sentir ele agonizando. Espumando pela boca. Sufocando com a própria saliva.
Se debatendo.
Pausa.​ ​Suícidio. Vigésimo sexto. acontece.​ ​Eles não aguentam.

(N° 69 VAI ATÉ SUA CADEIRA, A DERRUBA E SENTA NA PLATÉIA)

CENA “ONDE ESTÃO SUAS CABEÇAS? ”


Inspirada nos poemas: “Sem combustível” e “Não quero Cleópatra”.

SINAL SONORO.

G. SENHORA – Quinta-feira! N° 13 hora de te usar. Você também N° 108, tenho um


presentinho para vocês, venham aqui! (G. Senhora joga uma gaiola de arame para cada).
Me surpreendam... A-GO-RA!
SINAL SONORO ​(N° 13 e N° 108 vestem as gaiolas nas próprias cabeças, vão para as
marcas no chão, de costas uma para a outra, olhando em direção à plateia lateral).

(MÚSICA: “WHERE IS MY MIND?” - PIXIES.)

N°108 - ​Eu estou aqui, nua, dentro da sua cabeça. Nua, mas você diz preferir mulheres
completamente vestidas, gosta de imaginar o que tem por baixo ou gosta de mulheres
escondidas? Você me ouve, mas não me vê de verdade... (Para o público, quebra de
personagem) vocês​ me ouvem?

N° 13 - Dos que vieram de fora e me ocuparam, dos que nasceram de mim e nunca vão
embora. Dos que tiram férias e sentem saudades. Uma mãe, patroa, dona, serva, puta,
maldita, provedora... (Quebra, exagero, “imitando” Grande Senhora em tom irônico) eu,
Gaiola! 465 anos com corpinho de 20, ou quase 30... eu, cidade, megalópole brasileira,
nesse sudeste fértil onde as fábricas não se cansam, onde as putas sorriem e nos
capturam! Nos enjaulam, nos enganam...

(N° 13 E N° 108 VIRAM DE FRENTE UMA PARA A OUTRA)

N° 13 E N° 108 -​ ​Você consegue ver?

(Quebram personagens, olham para a linha no chão, cruzam, com solenidade, ao


mesmo tempo, e falam em direção a plateia)

N° 13​ -​ Ver os crânios atrás da pele das pessoas que passam pelas ruas?

N° 108 -​ Ver todas as coisas tolas que você faz?

N° 13 -​ Ver que tudo que nos disseram estava errado?

N°108 ​-​ Ver as mentiras debaixo dos seus sapatos empoeirados?

N° 13 -​ Ver a solidão, no fim do dia, com o silêncio das ruas vazias?

N° 108 ​- Ver o fim no fundo do copo onde cinzas se misturam com o resto do seu suor
salgado?

N° 13 e N° 108 ​-​ Vocês conseguem ver?

G. SENHORA – (Interrompe, em tom de deboche). Vocês conseguem ver? Hummm...


conseguem? (RISOS)

SINAL SONORO.
CENA “ELIMINAÇÃO”

G. SENHORA - ​ELIMINAÇÃÃÃÃÃÃÃO!

(N°13 volta para a cadeira correndo, tomando o lugar de Nº 133 e empurrando-a para o
“ringue”)

G Senhora​: Sexta-feira! Dia de ver os ratos caírem nas armadilhas. Eu as coloco por toda
parte: mulheres, drogas, bourbon, vinho, uísque, cerveja, charutos e cigarros. Armadilhas:
trabalhar ou não trabalhar. Armadilhas: ter ou não ter talento; tudo o levava a ser engolido
por uma teia de aranha. A minha teia de aranha.

SINAL SONORO II

G. SENHORA - ​Ordens! Eu não gosto de ordens.

SINAL SONORO II

A VOZ - ​ ​Você consegue vê as fábricas de entretenimento cansadas? e putas sorridentes?


Vocês não me agradam. São fracas. têm instinto de rebanho. Não passam de um bando
de falsas e insensíveis. Essas jovens não assumem nenhuma responsabilidade, elas não se
esforçam, não fazem nada, não querem fazer nada: não dão apoio à sociedade! Nós que te
abrigamos. Que te alimentamos. Acham que tem o direito de se libertarem?
Que somos obrigados a assistir esta cena vulgar?
Esse prazer que não lhes pertence.
A alma de vocês tem dono.
O corpo de vocês tem dono.
O sentimento de vocês tem dono.
A vagina de vocês tem dono.
Repitam
Agora.

G Senhora, N108 e N°133​ - Servimos ao seu prazer. Hoje e sempre. Amém.

G Senhora​: mercadorias estúpidas. Comecem a disputa!

(ENTRA LUZ ULTRAVIOLETA)

(MÚSICA: “THAT OTHER GIRL” SEVDALIZA)

(Duas mulheres amarradas em elásticos começam a se enfrentar em uma coreografia


violenta)

Nº108:​ você não tem vergonha de ser assim? Nojenta . Asquerosa.

Nº133​: isso é por falta de piroca. Nunca te pegaram de jeito não.


Nº108​: Falta de rola?! Não gosto nem de olhar.

Nº133​: Masculinizada e ainda bonita… Desperdício!

Nº108​: Sapatão…

N° 133 em áudio - ​Dia de eliminação . 13 tocou abaixo da minha barriga. Me limpava com
mãos macias que me excitava a cada toque. Colocou sua língua ávida, quente na minha
boca . Suas mãos nos meus seios . Depois começou a lambe- Los insaciável, como se
quisesse engoli-los. Sua boca começou a beijar minhas pernas , até que sentir sua língua
começando a me fuder. Gozei em sua boca.

G Senhora​: Por que há tão poucas pessoas interessantes? O problema é que tenho de
continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, a,
tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores
necessidades

Nº108 em áudio ​- ​As pessoas apaixonadas, em geral, se tornam impacientes, perigosas.


Perdem o senso de perspectiva. Perdem o senso de humor. Ficam nervosas, tornam-se
chatas, psicóticas. Podem virar assassinas. Fomos cuspida no rosto e espancadas na
frente dos outro moradores. Como se tudo não bastasse, ou não satisfizesse seu ego, tirou
nossa vida com três tiros, sendo um na cabeça, um no coração e um no abdômen. Fomos
morta de forma covarde, sem chance de defesa e abandonadas para fora da gaiola.

(G. SENHORA MATA AS DUAS. N° 108 E N° 133 VÃO ATÉ AS CADEIRAS, CADA UMA
DERRUBA UMA E SE SENTAM NA PLATÉIA)

CENA “DIVERSÃO”
Inspirada em um trecho do livro “Mulheres” (Mercedes e Chinaski)

N°92 – (​ Para público​). Aos sábados ela quer diversão, festa, entretenimento barato, alguma
coisa rasa, assim, que combine com ela. Já tivemos grandes orgias, competição de
masturbação, chicoteamento em massa, enfim, muita coisa já rolou aqui.

G. SENHORA – Alôôôôô!? Vamos ver o que temos por aqui (Olha para baixo, em direção à
gaiola). Ah.... Sobraram tão poucos. Onde foram parar todos?!?! (Risos) N°13 e N°92?!

SINAL SONORO

(N°13 E N°92 VÃO PARA AS MARCAS)

(MÚSICA: “LITTLE STAR” – STINA NORDENSTAM)

N° 13 – ​Quer maconha?
N° 92​ – Claro!

(N°13 E N°92 ESTÃO DE LADO UM PARA O OUTRO, FUMAM, PASSAM O CIGARRO


UM PARA O OUTRO, NÃO SE OLHAM, ESTÃO SEM ASSUNTO)

N°92​ – Está calor, abafado aqui né?

N°13​ – Aham…

N°92 – (Para o público). ​Ela não era muito de falar, era mais de fazer. Tiramos a roupa,
começamos a nos beijar, fiquei sassaricando aquela buceta, ela pegou no meu pau e ela
mesma meteu meu pau lá dentro. Eu colocava e tirava, colocava e tirava, devagarinho, sem
pressa. Ela gemia e eu continuei chacoalhando, mais cinco, dez vezes, não conseguia
gozar. Comecei a fraquejar, fiquei mole... A vida me fugiu, meu pau murchava!

G. SENHORA – ​(Interrompendo) ​Ahhh... mas que coisa mais chata! Parece novelinha das
18h... Agora bate! na cara dela N° 92. Com gosto, vamos, pesa essa mão homem! Ela
gosta de uns tapas que eu sei… Qual mulher não gosta?! (Risos)

(N° 13 E N° 92 ESTÃO EM PONTOS DIFERENTES DO PALCO, ELE DÁ TAPAS “NO


AR” E ELA REAGE)

G. SENHORA – (Cada vez mais exaltada, vai se excitando). Estamos ganhando mais
audiência, não esqueçam que estamos ON LINE! Já sei! Imitem cachorros no cio, se
cheirem, se lambam, abanem esses rabos para mim!

G. SENHORA – 13 querida, chupa o pau do 92! Bem gostoso, devagar e olhando para
mim…

(N° 92 COMEÇA A ABRIR A CALÇA, ANIMADO)

N° 13​ – Não... eu não vou fazer isso…

G. SENHORA​ – O que você disse,13???

N° 13​ – Eu disse que não!

G. SENHORA – (Rindo histericamente) NÃO??? Você disse não para mim?! Se nega a
obedecer nessa altura, meu bem? Ahhh... N° 17 e N° 45 me façam um favorzinho…

(N° 17 e N°45 LEVANTAM E VÃO EM DIREÇÃO A N° 13).

G. SENHORA – (Puxa um coro) “A 13 é uma boa companheira, a 13 é uma boa


companheira, a 13 é uma boa companheiraaaaa, ninguém pode negar! Ninguém pode
negar...”
G. SENHORA - (Começa a se masturbar) A violência dá audiência, isso, o público está
amando, vamos, mais.... Não parem meus meninos, vamos…

Nº 13 - ​( Para público) ​Eu me vi no chão quando, de repente, chegaram três homens na


minha frente. Eles me xingavam de puta, de vadia e vieram para cima.
Eles me colocaram contra uma parede, de costas para eles, seguraram meus braços e me
estupraram. Foi uma hora de terror. Eu gritei, pedi ajuda, mas chegou um momento de tanto
pavor que a voz nem saia de dentro de mim. Eu fiquei sem voz. Sem força. sem vida.

(N° 13 ANDA ATÉ AS CADEIRAS, DERRUBA UMA E SE SENTA NA PLATÉIA)

CENA FINAL ​(???)

SINAL SONORO

(N°17, N°45 E N°92 VOLTAM PARA A GAIOLA, SENTAM FUMAM, BEBEM E


CONVERSAM)
G. SENHORA – Ah... Domingo, O dia internacional do tédio! Observar a mediocridade
desses seres até que uma nova semana comece.... Não, eu não odeio as pessoas, só
prefiro quando elas não estão por perto.

(PAUSA)

(N° 17, N° 45 E N° 92 SAEM DE CENA PELOS FUNDOS)

G. SENHORA – N° 92 vem aqui, você é fisicamente interessante, quem sabe pode me


ajudar a distrair um pouco (RISOS)

N°92???

92!!!!!

SINAL SONORO

(N° 17, N° 45 E N° 92 ENTRAM EM CENA NO SEGUNDO ANDAR, ELES TÊM EM MÃOS


UMA COLEIRA, GARRAFA DE BEBIDA, RODO, G. SENHORA ESTÁ SENTADA, DE
COSTAS PARA ELES)
N°92 – Me chamou?

G. SENHORA - Ah... sejam bem-vindos, vejo que vieram me visitar, a que devo a honra?! –
(SURPRESA/ASSUSTADA, CORRE PARA O TELEFONE E TENTA CONTATO COM “A
VOZ”)

N° 45 ​– (EM TOM DE IRONIA). Não vai nos oferecer um drink, um cigarro, um lugar para
sentar?

G. SENHORA – Vocês deveriam estar na Gaiola, não? Vocês todos são inteligentes e
conhecem bem o regulamento... (PARA FORA DA CENA/AO ALTO) ATENÇÃO, FUGA NA
GAIOLA! COMANDANTE, MANDE REFORÇOS!

N° 17 – Ah Grande Senhora, já estávamos um pouco entediados lá, ainda mais agora que
não temos nenhuma putinha para nos fazer companhia, a senhora bem que poderia
comprar umas bucetas novas, renovar seu casting, ou então…

(OS TRÊS ANDAM EM DIREÇÃO DA G. SENHORA)

G. SENHORA ​– Calma meninos, se sentem, tomem um pouco de ar fresco, ou.... Já sei!


Vou abrir uma garrafa de champanhe! Nada como um bom champanhe para colocar nossos
pensamentos no lugar (RI NERVOSA)

(OS TRÊS BLOQUEIAM A SUA PASSAGEM)


N° 17 – Também gostaríamos de expor nossa insatisfação, nossos direitos não foram
assegurados durante esse tempo na Gaiola GRANDE SENHORA (COMEÇA A PASSAR A
MÃO NA G. SENHORA)

(N° 45 E N° 92 SE APROXIMAM COM A COLEIRA E O RODO)

G. SENHORA​ – Queijo... Queijo brie?!?! (HISTÉRICA)

(VESTEM A COLEIRA NELA)

N° 45 – Devemos sempre confiar nas nossas lideranças, não é mesmo GRANDE


SENHORA?

N° 17 –​ Quem é a liderança agora? Hein? Quem é? De que lado está o poder?

(ELES A INFLAMAM, GRITAM, DEBOCHAM)

G. SENHORA – (DESCONTROLADA) O mundo inteiro é um saco de merdas se rasgando.


Não posso salvá-lo.... Sei que nos movemos em direção à miragem, nossas vidas são
desperdiçadas, como as de todo mundo. Eu sei que nove décimos de mim já morreram,
mas eu guardo o décimo restante como uma arma. Não me tirem esse décimo que restou,
eu imploro! Vocês querem fugir? Vão! “Hasta la vista”, “Arrivederci”, “Au revoir”...

(MÚSICA: “PURE IMAGINATION” – FIONA APPLE)

(N°17, N° 45 E N° 92 ARRASTAM G. SENHORA ATÉ SUMIREM NO FUNDO SUPERIOR,


ENQUANTO ISSO ELA DUBLA A MÚSICA QUE TOCA).

FIM.

Cena baseada no livro cartas na rua.

47 - Hank, eu não aguento mais!

52 - Não aguenta o que, baby?

47 - A situação.

52 - Que situação chuchu?

47 - Eu trabalhar e você ficar aí, largado. Os vizinhos estão pensando que eu te sustento.

52 - Caralho! Eu trabalhava e você ficava aí largada.

47 - É diferente. Você é homem, eu sou mulher.

52 - Ah, eu não sabia disso. pensei que vocês mulheres estivessem berrando por direitos
iguais.

47 - Sei o que está rolando entre você e aquele poço de banhas ali do fundo, ela fica
andando na sua frente com os peitos de fora…

52 - Peitos de fora?

47 - Sim, PEITOS DE FORA! Aquelas tetas brancas de vaca leiteira!

52 - Hmmm… são mesmo grandes.

47 - Viu? Você está de olho nela!

52 - Escuta, mas que diabos está acontecendo?

47 - Tenho amigos por aqui, eles veem o que está acontecendo!


52 - Não são amigos, são fofoqueiros dissimulados.

47 - E essa puta aí na frente que pensa que é dançarina?

52 - Ela é puta!

47 - Se o cara tem um pau, é o bastante pra ela.

52 - Você enlouqueceu.

47 - Só não quero que toda essa gente pense que eu estou sustentando você.

52 - Fodam-se! Porque devemos nos importar com o que eles pensam? Nunca demos bola
pra isso antes. Além disso sou eu quem paga essa porra de aluguel. Sou eu quem paga a
comida. Ganho meu dinheiro nos caça níqueis e nas corridas…

47 - Acabou, não aguento mais…

Ele se levanta e se aproxima dela.

52 - Ora baby, você está um pouco estressada essa noite.

Tenta agarra-la e ela o empurra.

52 - Está bem puta que pariu!

Ele se afasta.

47 - Acabou! Estou indo embora!

Eles se batem e ele a estrangula.

52 - Fique com essa boceta. Nunca foi grande coisa mesmo. ​Levantei, fui para o carro e
aluguei o primeiro lugar que encontrei com um placa de aluga-se. Me mudei naquela
mesma noite. depois daquele dia uma coisa nunca me saiu da cabeça. Tinha perdido um
cachorro e uma buceta.

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