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DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS
ANAIS DO EVENTO
ORGANIZADORES
Prof. Ph.D Carlos Alejandro Nome – LM+P/UFPB
Prof. Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro – LM+P/UFPB
Prof. Dra. Germana Costa Rocha – LM+P/UFPB
Editora da UFPB
João Pessoa
05 a 07 de Novembro de 2014
EDITORA DA UFPB
S471a Seminário Internacional sobre Documentação do Patrimônio
Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais (3 :2014 :
João Pessoa, PB)
Anais do 3º Seminário Internacional sobre Documentação do
Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais; Anais do
ARQDOC 2014 - Informação e Conhecimento para a Preservação, de
05 a 07 de novembro de 2014 [recurso eletrônico] / Organizadores:
Carlos Alejandro Nome, Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro,
Germana Costa Rocha.-- João Pessoa: Editora da UFPB, 2014.
1CD-ROM; 43/4 pol.; (Arquivo PDF) Sistema requerido: Adobe
Reader
ISBN: 978-85-237-0903-7
COMISSÃO ORANIZADORA
AMÉLIA PANET (UFPB)
ARISTÓTELES LOBO DE MAGALHÃES CORDEIRO (UFPB)
ARIVALDO LEÃO DE AMORIM (UFBA)
CARLOS ALEJANDRO NOME (UFPB)
GEOVANY JESSÉ ALEXANDRE DA SILVA (UFPB)
GERMANA COSTA ROCHA (UFPB)
ISABEL ROCHA (UFPB)
LUCIANA PASSOS (UFPB)
MARCIO COTRIM (UFPB)
COMISSÃO CIENTÍFICA
AMÉLIA PANET (UFPB)
ANA ELÍSIA DA COSTA (UFRGS)
ARIVALDO LEÃO DE AMORIM (UFBA)
ARISTÓTELES LOBO DE MAGALHÃES CORDEIRO (UFPB)
ARTUR SIMÕES ROZESTRATEN (USP)
CARLOS ALEJANDRO NOME (UFPB)
CARLOS VAZ (UFPE), DANIEL DE CARVALHO MOREIRA (UNICAMP)
EDJA TRIGUEIRO (UFRN)
FRANCISCO DE ASSIS DA COSTA (UFPB)
GEOVANY JESSÉ ALEXANDRE DA SILVA (UFPB)
GERMANA COSTA ROCHA (UFPB)
GILBERTO CORSO PEREIRA (UFBA)
GISELE PINNA BRAGA (UP)
ISABEL ROCHA (UFPB)
IVAN CAVALCANTI (UFPB)
JOSÉ RIPPER KÓS (UFSC)
MARCO COUTINHO (UFPB)
MARIA BERTHILDE MOURA (UFPB)
MAURO NORMANDO BARROS (UFCG)
NELCI TINEN (UFPB)
PATRICIA PIMENTA (UFU)
REGINA ANDRADE TIRELLO (UNICAMP)
RICARDO TREVISAN (UNB)
THAIS ALESSANDRA BASTOS CAMINHA SANJAD (UFPA)
UNDERLÉA MIOTTO BRUSCATO (UFRGS).
ESITORAÇÃO
NATÁLIA QUEIROZ
Apoio cultural
Realização
Patrocínio
Apresentação
A crescente destruição do patrimônio arquitetônico mundial tem sido uma constante no que pesem os
esforços que veem sendo desenvolvidos pelos mais diversos setores no sentido de protegê-lo. Esta
destruição se dá tanto por causas naturais, como decorrente de ações humanas. Uma das formas de
se precaver contra a perda deste patrimônio é através da sua documentação utilizando as tecnologias
digitais. Este tema é conhecido e frequentemente debatido no exterior. Aqui no Brasil ainda não se
estabeleceu uma agenda nacional para o enfrentamento destas questões.
Considerando a atualidade e importância da abordagem científica proposta por esse fórum, e com o
intuito de dar continuidade ao mesmo, o Laboratório de Modelos + Prototipagem - LM+P, vinculado
ao Departamento de Arquitetura e o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo -
PPGAU - da UFPB, realizará em João Pessoa (PB), a terceira edição no período de 5 a 7 de
novembro de 2014.
Índice de Artigos
12 EDIFÍCIO FLORENTINA DE FALCO E IRMÃOS (1953): ARRANJOS DUPLEX NA OBRA
DE RINO LEVI
Ana Elísia e Bruna Brilmann
248 SISTEMA DE INVENTARIAÇÃO DOS BENS IMÓVEIS DA CIDADE DE SANTA MARIA, RS.
João Pedro da Silveira, Leonora Romano, Caryl Eduardo Jovanovich Lopes, Flávia Mastella
Moreira e Fernanda Manfio dos Santos
Índice de Posters
367 BIBLIOTECAS DO NORDESTE DO BRASIL: REUNINDO DADOS SOBRE A BIBLIOTECA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (RECIFE/PE).
Anna Cristina Andrade Ferreira, Ana Larissa de Andrade Rolim Braz, Andrezza Lira Cavalcanti
Gomes e Bruna Macedo Gonçalves
368 URBANO ORNAMENTO: MEMÓRIA GRÁFICA DAS GRADES ORNAMENTAIS
Fernanda Guimarães Goulart
370 MODELO DIGITAL DO CLUBE CABO BRANCO: ferramenta de registro e compreensão da
arquitetura
Aristóteles Cordeiro e Cleuton Sousa
371 PALACETE DO PRESIDENTE JOÃO PESSOA: MODELAGEM DIGITAL NA COMPREENSÃO e
REGISTRO DA ARQUITETURA
Aryan Francisco Azevedo Silva e Amélia Farias de Panet Barros
372 PROJETO “INVENTÁRIO ARMANDO DE HOLANDA”: DIGITALIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
ACERVOS DE ARQUITETURA
Patricia Ataíde Solon de Oliveira, Clarissa Carvalho e Silva e Kamila Cavalcanti Silva
373 MODELO DIGITAL DO FAROL DO CABO BRANCO: MODELAGEM TRIDIMENSIONAL COMO
FORMA REGISTO E COMPREENSÃO DO ESPAÇO
Ana Paula Paluszkiewicz Hermann, Natalia Luna da Silva e Aristóteles Cordeiro
375 TECNOLOGIAS DIGITAIS E A DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
Darlene Karla Araújo
Programação
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Artigos
EDIFÍCIO FLORENTINA DE FALCO E IRMÃOS (1953):
Arranjos duplex na obra de Rino Levi
RESUMO
Em 1953, o arquiteto Rino Levi desenvolveu o projeto para o Edifício Florentina de Falco e Irmãos. Num
lote estreito e comprido de meio de quadra, o arquiteto projetou apartamentos duplex, solução que
buscava otimizar a orientação solar de seus ambientes, assim como Le Corbusier fez no projeto para a
Unidade de Habitação de Marselha (1947-52). Analisar as nove hipóteses que Levi desenvolveu para
este projeto é o objetivo principal deste artigo. Para tanto, é feita uma pequena contextualização histórica
sobre o habitat moderno e a verticalização em São Paulo. As hipóteses são analisadas de modo gráfico-
textual, recorrendo ao auxílio de maquetas virtuais e “desenhos sobre o projeto”, que buscam identificar
aspectos normativos e excepcionais na investigação projetual de Levi. Ao final, o artigo revela, além da
postura investigativa do arquiteto, a qualidade do ante-projeto adotado, que consegue sintetizar todos os
aspectos normativos de sua produção.
Palavras-chave: Edifício de apartamentos. Arranjos Duplex. Processo de projeto. Rino Levi
ABSTRACT
In 1953, the architect Rino Levi developed the design for the Florentina de Falco e Irmãos Building. In a
narrow and long lot, the architect arranged duplex apartments, solution that aimed to optimize the solar
orientation of its rooms, just like Le Corbusier did in the Housing Unit of Marseille design (1947-52). To
analyze the nine hypotheses that Levi developed for this building is the main goal of this article. For that,
a small historical contextualization about the modern habitat and the growth of high buildings in São
Paulo is made. The hypothesis are analyzed in a graphic-textual mode, using the aid of virtual models
and “drawings above the design”, which allows to identify normative and exceptional aspects in Levi’s
design investigation. In the end, the article reveals, beyond the architect’s investigative approach, the final
design’s quality, in which Levi could synthesize all the normative aspects of his production.
Palavras-chave: Apartment building. Duplex arrangements. Design Process. Rino Levi.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
1. INTRODUÇÃO
A Unidade de Habitação de Marselha (1947-1952), de Le Corbusier, é considerada uma obra
exemplar na arquitetura, por traduzir os ideais de habitação mínima e coletiva preconizados
pelo Movimento Moderno. Depois de estampar revistas e livros de arquitetura, a Unidade de
Habitação passou a servir de modelo para projetos desenvolvidos no mundo todo, instituindo
uma nova espacialidade para os apartamentos modernos - arranjos duplex, com o isolamento
do setor dia (térreo) do setor noite (pavimento superior) e otimização da iluminação e ventilação
dos seus ambientes.
Um ano depois da finalização do projeto francês, o arquiteto brasileiro Rino Levi também explorou
arranjos duplex nos estudos que desenvolveu para o edifício residencial Florentina de Falco e Irmãos
(1953), em São Paulo. Para este projeto, Levi elaborou seis estudos preliminares e três ante-projetos,
disponibilizados no acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(FAU-USP) e parcialmente inéditos em publicações. Estes estudos evidenciam a postura
investigativa do arquiteto, que, gradativamente, abandona os arranjos com apartamentos em um
único pavimento, para adotar os arranjos duplex. A solução é adotada como forma de otimizar a
iluminação e ventilação dos ambientes do edifício, que se insere em um lote estreito e de meio de
quadra.
A análise deste projeto se justifica por documentar obras pouco conhecidas de Levi, que
possam vir a contribuir para ampliar a historiografia da arquitetura brasileira. Por outro lado, o
estudo do processo de projeto de Levi também se justifica por revelar decisões, ajustes,
transgressões, que pouco se explicitam no estudo do “projeto final”, como recorrentemente a
sua arquitetura vem sendo estudada. Esta abordagem permite desenvolver reflexões sobre a
prática de projeto, subsidiando o desenvolvimento de novas atividades de ensino e pesquisa.
Assim, este artigo objetiva documentar e analisar os estudos que Levi desenvolveu para o Edifício
Florentina. Para atingir estes objetivos, o artigo apresenta uma pequena contextualização histórica,
que discute o habitat moderno e a verticalização em São Paulo, relacionando-a com a produção de
edifícios de apartamentos de Levi. Após, as hipóteses projetuais são analisadas de modo gráfico-
textual, recorrendo a maquetas virtuais e “desenhos sobre o projeto”, que buscam identificar
aspectos normativos e excepcionais na investigação projetual do arquiteto. Essa análise enfatiza o
impacto direto da solução em duplex sobre o arranjo formal e funcional do conjunto.
As conclusões deste artigo revelam um rico processo de investigação projetual, que culmina na
qualidade do ante-projeto adotado. Nele, Levi consegue sintetizar todos os aspectos que são
normativos em sua produção; e, mais uma vez, consegue alinhar seu trabalho com o discurso e
as práticas dos grandes mestres do modernismo internacional.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
1. 1. O Habitar moderno
Após a primeira guerra mundial, grande parte das cidades europeias estava destruída,
despertando interesses sociais e governamentais para que estas fossem reconstruídas o mais
rápido e eficientemente possível. Decorrente desse cenário, a racionalização construtiva e a
necessidade de políticas de habitação foram temas discutidos já no CIAM de 1928. No
segundo CIAM, ocorrido em 1929, o debate foi ampliado, abordando também o tema do
Existenzminimum (habitação para o mínimo nível de vida). Se discutia que a habitação mínima
era indispensável para a nova, devendo ser repensados os costumes tradicionais de morar.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Para a redução das áreas das habitações, ganharam evidência estudos sobre mobiliário, como a
Frankfurter Kuche (1926), um protótipo de cozinha ideal desenvolvido por Margarete Schütte-Lihotzk.
Também ganharam força os discursos da Bauhaus a favor da standartização da moradia. Tais
discursos apontavam que o acesso à iluminação e ventilação, bem como a organização, faziam com
que as demandas de espaço para morar, do ponto de vista biológico, fossem reduzidas.
Para as habitações mínimas, Le Corbusier propunha a planta flexível. Nela, móveis e
equipamentos deviam ser pensados como partes integrantes, permitindo que as funções dos
ambientes fossem modificadas, conforme as necessidades (FOLZ, 2003). Naturalmente, esta
solução impunha uma sobreposição de funções e um prejuízo para a privacidade dos moradores, o
que levou o arquiteto a sugerir um zoneamento por níveis - espaço social no térreo e o espaço
íntimo no mezanino. Como resultado de seus estudos sobre o assunto, foram projetadas diversas
Unidades de Habitação.
Na Unidade de Habitação de Marselha, os apartamentos duplex buscavam promover a melhoria do
zoneamento das funções domésticas e a otimização do conforto térmico de seus ambientes.
Observa-se que a solução fugia da tripartição da habitação burguesa do século 19, dividida em
zonas íntima, social e de serviços, dirigindo-se para uma bipartição centrada nos modos de vida da
família moderna – zona diurna e noturna. Do ponto de vista do conforto térmico, observa-se que a
configuração permitia a ventilação cruzada no pavimento, indo de uma fachada a outra. (Figura 1).
Figura 1: Unidade de Habitação (1947-52): (a) foto; (b) corte. Marselha. Le Corbusier
a) b)
Figura 2: Edifício para a exposição da Deutscher Werkbund (1927). Stuttgart. Mies Van Der Rohe.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Segundo Vila (2010), a aceitação da população às mudanças “modernas” foi parcial. Em relação à
adoção da planta livre, por exemplo, observou-se grande resistência por parte da classe alta, que
associava a adoção de elementos flexíveis, como divisórias e móveis retráteis, ao arranjo das
casas da população de baixa renda, com seus tapumes, cortinas e armários entre ambientes.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Tampouco a solução foi adotada pela classe baixa, visto que quase nenhum dos apartamentos
construídos nessa época apresentava inovações na forma de organizar o espaço interior. (VILLA,
2010).
Nos anos 50, São Paulo assistiu a boom imobiliário e de verticalização, impulsionados pela
legislação da época, que permitia um generoso índice de aproveitamento do solo. Nesse
contexto, apesar das discussões e projeção da arquitetura moderna, os edifícios de
apartamentos do mercado ainda mantinham suas plantas vinculadas à tradição. (VILLA, 2010).
Rino Levi, contrariando essa tendência, desenvolveu diversos estudos com o uso de divisórias
leves, que flexibilizavam os usos dos ambientes. Ilustram essa estratégia o Edifício Olívio
Gomes (1951) e o próprio objeto de estudo deste artigo, o Edifício Florentina (1953).
Figura 4: Edifício Florentina – (a) Planta de situação; (b) dimensões do lote. São Paulo. Rino Levi. 1953.
a) b)
Para este projeto, Levi desenvolveu cinco estudos preliminares, alguns incompletos e/ou com
anotações a mão. Os anteprojetos totalizam três estudos, com desenhos técnicos e textos
normografados. A ordem entre as propostas não está expressa nas pranchas. Contudo, analisando
os documentos, avaliou-se que seria possível lançar um ordenamento hipotético dos mesmos, tendo
como refêrencia a característica do estudo (duplex ou pavimento único) e o refinamento do desenho.
Os estudos preliminares estão divididos em dois grupos - de pavimento único e duplex, com
três estudos/cada. No primeiro caso, parece que o objetivo central de Levi é garantir a melhor
orientação solar dos ambientes de permanência prolongada e a iluminação e ventilação
1
O lote possui: 14,55 m de frente; 14,26 m de fundos; 26,5m, na lateral direita; e 26,18 m, na lateral esquerda.
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natural da cozinha e banheiro, o que nem sempre é viabilizada (Estudo 1B) ou é alcançada
com operações formais que desconfiguram a volumetria pura. (Estudo 1C). (Figura 5)
Em relação aos duplex, nos dois primeiros estudos, Levi tenta dispor três apartamentos por andar,
tendo como problema central o arranjo e iluminação do setor de serviços do apartamento do meio.
Visto que nenhum dos arranjos se mostra satisfatório, no Estudo 2C, Levi dispõe apenas dois
apartamentos por andar, com três dormitórios/cada, Os três Ante-Projetos desenvolvidos na
sequência obedecem a disposição desenvolvida neste último Estudo Preliminar. (Figura 5) 2
Figura 5: Edifício Florentina - Estudos de pavimento único e duplex. São Paulo Rino Levi
PRELIMINARES
ESTUDOS
2
Por restrições de espaço neste artigo, a documentação do projeto não está apresentada na sua íntegra.
Estrategicamente, se resolveu dar ênfase às plantas dos três ante-projetos. Neste sentido, cabe esclarecer: 1) a
documentação dos Estudos Preliminares 2A, 2A e 2C, por configurar apartamentos duplex, inclui uma segunda
planta-baixa correspondente à planta ilustrada no corpo do texto; 2) todos os seis estudos contemplam um
segundo arranjo de plantas-tipo, definido a partir da volumetria que sofre recuos laterais a uma determinada
altura.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
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2. 2. Implantação e volumetria
O projeto se organiza claramente em dois volumes: base, que se cola nos dois limites laterais
do lote, possuindo entre 5 e 6 andares; e torre, que se afasta 2,5m dos limites laterais,
variando entre 5 e 6 andares. Os dois volumes, contudo, preservam o mesmo recuo frontal
de 4m, tangenciando suas faces. Essa configuração atende a parâmetros legais
estabelecidos para a Avenida Nove de Julho, que impunham, em diferentes trechos, recuos
laterais proporcionais à altura do edifício. (ANITELLIE; TRAMONTANO, 2012). (Figura 6a)
Somado à questão legal, a tipologia dos apartamentos interfere diretamente na altura da torre
e na configuração volumétrica do conjunto: se duplex, a torre se define a partir do sexto
andar, contabilizando 12 andares; se planta única, a partir do quinto andar, contabilizando 10
andares (Figura 6b); se duplex, a volumetria se mostra mais compacta, destacando apenas o
corpo da escada, que se externaliza na parte posterior do lote; se de pavimento único,
configura dois volumes explicitamente interseccionados. (Figura 6c)
Figura 6: Edifício Florentina: (a) Volumetria e condicionantes legais - Ante-Projeto Final; (b)
Volumetria e altura – Estudo Preliminar 2B e Estudo Preliminar 1C; (c) Partido compacto x Partido
aditivo - Ante-Projeto 1 e Estudo Preliminar 1ª.
b)
a)
c)
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2.3.1. Zoneamento
Observa-se que o arranjo espacial de Levi é fortemente condicionado pela definição de
faixas - longitudinais no segundo pavimento e transversais no primeiro. (Figura 7) As faixas
transversais dos pavimentos inferiores definem os setores social e serviço, com diferentes
dimensões entre os estudos. Destaca-se as configurações dos terraços e como eles
impactam a organização do conjunto. Nos pavimentos superiores, Levi organiza as áreas
compartimentadas e as circulações nas duas faixas longitudinais centrais, deixando as
faixas laterais organizadas como planta livre.
Figura 7: Edifício Florentina - Ante-projetos 1 e 2: (a) faixas dos pavimentos inferiores; (b) faixas
dos pavimentos superiores. São Paulo. Rino Levi. 1953.
a) b)
A faixa transversal que abriga o setor social possui a orientação com maior incidência solar
(noroeste). No pavimento superior, as faixas longitudinais impõem que dois quartos se voltem
para a fachada noroeste e um para sudeste, que é menos favorável. Assim, a otimização da
orientação solar dos ambientes de permanência prolongada não é alcançada plenamente no
arranjo duplex. Por outro lado, observa-se que Levi protege os ambientes voltados a noroeste,
seja com a disposição de sacada-terraço (Ante-projeto 2), seja com brises verticais (Antre-
projeto 1 e Final).
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Figura 8: Edifício Florentina - Disposição das escadas internas nos pavimentos superiores: a)
transversal (Ante-projeto 2); b) longitudinal (Ante-projeto Final). São Paulo. Rino Levi. 1953.
a) b)
Figura 9: Edifício Florentina - Disposição das escadas internas em meio nível: (a) Evolução do
Estudo Preliminar 2A; (b) Estudo Preliminar 2C. São Paulo. Rino Levi. 1953.
a) b)
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
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Figura 10: Edifício Florentina – Planta livre e móveis divisórias: (a) setor social – Ante-projeto 2; (b)
setor íntimo – Ante-projeto 2 e Final. São Paulo. Rino Levi. 1953
a)
b)
Fonte: (a) da autora; (b): Acervo da Biblioteca da FAU-USP (intervenção na base da autora)
Em todos os estudos, a cozinha atua como um cômodo de passagem, ligando o setor social ao
de serviços. É o cômodo em que a compactação de área é mais evidente no projeto. Em sua
maioria, as cozinhas assumem arranjos retangulares, sendo dispostas no sentido longitudinal
da planta. Esse arranjo garante a iluminação e ventilação dos demais ambintes do setor de
serviços, que se voltam para a fachada posterior. As cozinhas de proporções quadradas são
mais recorrentes nos apartamentos da torre e a sua geometria pode ser justificada pela
possibilidade de abrir janelas para o recuo lateral de 2,5 metros.
3. CONCLUSÃO
O projeto para o Edifício Florentina ganha relevância na produção de Levi por ser um dos poucos,
ou talvez o único, projeto com apartamentos duplex que ele desenvolveu. Os nove estudos
elaborados retratam sua postura investigativa e o ante-projeto final, ao adotar o arranjo de
apartamentos duplex, otimiza as respostas formais e funcionais dadas ao problema de projeto.
Formalmente, a sobreposição das plantas de cada apartamento determina uma volumetria mais
compacta e verticalizada em relação aos limites do lote. Na fachada posterior, as subtrações dos
terraços de serviço configuram um jogo volumétrico vertical de cheios e vazios; e a “fachada-
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
livre” frontal recebe a proteção de brises verticais. A pureza volumétrica só não é maior por
imposição legal, que exige afastamentos laterais a partir de determinada altura.
A “fachada frontal livre” é uma decorrência das frações de “planta-livre” de cada pavimento. Com
arranjo duplex, Levi consegue ordenar cada pavimento em faixas, em que aglutina as áreas
compartimentadas e as circulações verticais na parte posterior e central do volume, liberando a
fachada frontal para áreas de planta-livre. Como cada apartamento possui dois andares, “duas
fachadas frontais” se voltam à orientação solar mais favorável – noroeste. Nesta fachada, estão
dispostos os ambientes de permanência prolongada – salas no pavimento inferior e dormitórios
no pavimento superior, contrapondo aos ambientes de serviço, que se voltam para a fachada
posterior (sudeste).
Assim, o arranjo duplex permite que o projeto seja desenvolvido com uma dualidade frente-
fundos bastante adequada ao lote estreito em que se insere e ao programa atendido – fachada
livre x terraços; planta livre x planta compartimentada; ambientes de permanência prolongada x
de permanência temporária.
Levi, sintetiza, assim, valores que persegue em quase todos os seus projetos. Por outro lado,
uma ano depois de terminado o projeto da Unidade de Habitação de Marselha, já alinha seu
trabalho com o discurso e as práticas dos grandes mestres do modernismo internacional. Assim,
longe de ser uma obra menor, o Edifício Florentina de Falco e Irmão pode ser apresentado como
uma das obras exemplares de Levi.
4. BIBLIOGRAFIA
ANITELLI, Felipe; TRAMONTANO, Marcelo. Construir, legislar, burlar: edifícios de apartamentos em
São Paulo, 1920-1957. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 142.01, Vitruvius, mar. 2012
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.142/4268>.
FOLZ, Rosana R. Industrizaliação da Habitação Mínima: Discussão das Primeiras
Experiências de Arquitetos Modernos – 1920-1930. Monografia (Disciplina Tópicos Especiais
IV). Escola de Engenharia de São Carlos, USP. 2004.
________. Mobiliário na Habitação Populares. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo). Escola de Engenharia de São Carlos, USP. 2002.
________. Arquitetura moderna e tipologias de mercado: Uma primeira classificação. In
SAMPAIO, Maria R. A. de (org.). A promoção privada de habitação econômica e a
arquitetura moderna, 1930-34. São Carlos, RiMa: 2002.
JOHNSON, Philip. Mies van der Rohe. New York: The Museum of Modern Art, 1947.
KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel, EDUSP, 1990.
MEZZADRI, Humberto. Mies no Weissenhof. In Revista Arquitexto. Porto Alegre: UFRGS-PROPAR. 2008.
SILVA, Ricardo D. Habitação mínima na primeira metade do século 20. Monografia
(Doutorando em Arquitetura e Urbanismo). Escola de Engenharia de São Carlos - USP, 2006.
SOUZA, M.A.A. de, Metropolizando: a cidade vertical. In: Anais do I Seminário Internacional a
Metrópole e a Crise. São Paulo: Departamento de Geografia/Universidade de São Paulo, 1985.
VILLA, Simone B. Um breve olhar sobre os apartamentos de Rino Levi: Produção imobiliária,
inovação e a promoção modernista de edifícios coletivos verticalizados na cidade de São
Paulo. Arquitextos, São Paulo, 10.120, Vitruvius, jun 2010. Disponível
em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3437. Acesso em: jan. 2013.
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UM PROJETO, SEIS HIPÓTESES E VÁRIAS MAQUETES
VIRTUAIS: análise de um edifício de Rino Levi
RESUMO:
Este artigo discute o processo de projeto, mais precisamente, o processo de projeto do
arquiteto Rino Levi. Objetiva-se analisar, comparativamente, seis estudos que Levi
desenvolveu para o Edifício “Dr. Antônio Prudente” (1948-49), sendo quatro estudos com
apartamentos de grande porte, brevemente apresentados, e dois, com pequeno porte, mais
profundamente analisados. Para fundamentar esta análise, são desenvolvidas pesquisas
bibliográfica e documental. A primeira enfoca a produção de edifícios de apartamentos
desenvolvidos por Levi entre 1920 e 1940 e a segunda volta-se à elaboração de esquemas
gráficos e maquetes virtuais, entendendo o “redesenho” do projeto como estratégia
fundamental para sua documentação e análise. Ao fim, o cruzamento de dados busca
identificar estratégias projetuais recorrentes. A pesquisa ganha relevância, por se constituir um
dos poucos projetos que Levi desenvolveu para habitações compactas e por ser ainda inédito
em publicações, o que permite ampliar o conhecimento sobre a produção do arquiteto e,
consequentemente, sobre a historiografia da arquitetura brasileira.
Palavras-chave: Rino Levi. Processo de Projeto. Arquitetura residencial. Maquete virtual.
ABSTRACT:
This article discusses the design process in architecture, more precisely, the design process of
Rino Levi. The goal is to analyze, comparatively, six studies that the architect developed for the
“Dr. Antônio Prudente” Building (1948-49). There are four large apartments, briefly presented,
and two smaller, deeper analyzed. To support the research, a bibliographic and a documentary
review is made. The former one examines Rino Levi’s production of apartment buildings
between 1920 and 1940. The latter one focuses on development of graphic schemes and virtual
models, recognizing the redesign of the project as the main strategy for analysing it and
documenting it. In the end, the intersection of data seeks to identify usual design strategies.
This research is relevant because it is one of the few projects that Levi developed for compact
apartments and because it is unprecedented in publications, which allows the knowledge of the
architect production to be broaden, and consequently, the historiography of brazilian
architecture.
Key-words: Rino Levi. Design process. Residence architecture. Virtual models.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
INTRODUÇÃO:
Cada projeto arquitetônico é único, visto que é o produto de um processo de
elaboração pessoal. Este processo pode envolver procedimentos de investigação nem
sempre lineares ou lógicos, visto que não existe uma única solução para o problema
apresentado e que uma mesma solução pode ser abandonada e retomada inúmeras
vezes ao longo do processo de concepção. (GÓES, 2008)
Além disso, ao longo do processo de atuação como projetista, observa-se que um
arquiteto adota procedimentos que podem ser considerados normativos, sendo estes
pressionados por fatores circunstanciais de cada projeto (GONSALES, 2001). Tais
procedimentos normativos, contudo, vão se transformando ao longo do tempo, resultado
de reflexões e vivências do arquiteto, ou seja, do seu próprio amadurecimento
profissional. Decorre deste fato a possibilidade de identificação de “fases” na produção
de um arquiteto, que podem envolver desde o uso de um determinado vocabulário
estilístico, até ênfases na adoção de estratégias projetuais específicas.
O processo de projeto é o tema deste artigo, mais precisamente, o processo de projeto do
arquiteto Rino Levi. Levi iniciou sua aprendizagem em Milão e concluiu seus estudos em
Roma (1921 a 1926), numa fase em que a Itália apresentava-se polarizada entre duas
escolas arquitetônicas dominantes: a do sul, com viés mais historicista, ligada à tradição
clássica; e as do norte, cuja arquitetura era mais ligada ao modernismo internacional.
Na carreira do arquiteto, é possível perceber a adoção de alguns procedimentos
normativos, bem como é possível identificar duas fases na sua produção – antes e
após a década de 40 - quando Levi passou a assumir mais explicitamente o
vocabulário moderno (ANELLI et. al, 2001). Demonstrando um profundo senso
investigativo, nas duas fases de seu trabalho, Levi desenvolvia diversos estudos para
um mesmo projeto, muitas vezes, envolvendo partidos distintos entre si. A maior parte
destes estudos era apresentada apenas com desenhos bi dimensionais esquemáticos
– cortes e fachadas – sem recorrer à apresentação de croquis ou perspectivas.
Neste artigo são analisadas seis hipóteses desenvolvidas pelo arquiteto para o Edifício
“Dr. Antônio Prudente” (1948-49), sendo duas com apartamentos compactos e quatro com
apartamentos de grande porte. A análise centra-se nas propostas de apartamentos
compactos, objeto de interesse da pesquisa “De Estudos Intermediários a Versões Finais:
Características operacionais nos projetos de Rino Levi”, na qual este trabalho se insere.
Trata-se de um dos poucos projetos de habitações compactas desenvolvidos por Levi.
Além de atenderem às demandas do mercado paulistano, estes projetos configuram o
que Correia (2004) chama de habitat moderno, cujos ideias passaram a ser mais
claramente defendidos no mundo a partir do CIAM de 1929, e, no caso específico do
Brasil, a partir do Primeiro Congresso de Habitação, realizado em São Paulo em 1931.
O projeto, que nunca foi construído, é ainda inédito em publicações e a sua
abordagem permite ampliar o conhecimento sobre a produção de Levi e sobre a
historiografia da arquitetura brasileira.
Assim, o objetivo principal do artigo é analisar comparativamente os dois estudos de
apartamentos compactos que Levi desenvolveu para o referido edifício. Para subsidiar
esta análise, é desenvolvida uma pequena contextualização histórica sobre a produção
de edifícios de apartamentos de Levi entre as décadas de 1920 e 1940. Em paralelo, é
também desenvolvida uma pesquisa documental sobre os seis estudos do Edifício
Prudente, enfatizando a elaboração de esquemas gráficos e maquetes virtuais dos
mesmos. De modo conclusivo, os dados da pesquisa bibliográfica e da pesquisa
documental são cruzados, buscando identificar estratégias de projeto recorrentes,
entendidas aqui como estratégias normativas.
24
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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Figura 1 – Plantas dos Edifícios: (a) Gazeau (1929) e (b) Schiesser (1933). São
Paulo. Rino Levi.
a b
Ainda na década de 30, o edifício Viera de Castro representa uma exceção na produção
de Levi deste período. A modulação de sua planta é menos controlada do que nos
exemplos anteriores, provavelmente, devido às pressões do programa sobre as
dimensões reduzidas do lote. Também a simetria da circulação vertical perde sentido,
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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visto que apenas uma unidade habitacional é disposta por andar. Variações na disposição
e tipologia da escada e elevador determinam três arranjos espaciais distintos. (Figura 2).
Figura 2 – Plantas do Edifício Vieira de Carvalho (1939). São Paulo. Rino Levi.
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A solução da compartimentação com móveis foi retomada dois anos depois, no Edifício
Oswaldo Porchat (1946). Nele, Levi também segrega os quartos com armários e explora
a fachada livre. Os temas da modulação da planta, da disposição da escada
centralizada e do arranjo de um hall em cada uma das unidades habitacionais são
também retomados. Contudo, observa-se que a disposição de um apartamento frente e
outro de fundo impede a otimização da orientação solar dos ambientes de permanência
prolongada de todos os apartamentos. (Figura 4). Assim, um dos aspectos normativos
na produção do arquiteto é pressionado pelas contingências específicas do projeto.
27
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Figura 5 - Edifício Prudente: 06 estudos com diferentes portes (1948). São Paulo. Rino Levi.
Planta baixa tipo- Compactos
ESTUDOS PRELIMINARES
1º estudo 2º estudo
Planta baixa tipo- Grande porte
ESTUDOS PRELIMINARES
Procedimentos de análise
Para a análise dos seis estudos, são elaborados esquemas gráficos e maquetes
virtuais, utilizando o software sketchup. O “redesenho” tridimensional do estudos é
adotado na pesquisa como um procedimento fundamental para possibilitar uma
melhor “apropriação” das decisões, ajustes e transgressões observadas no
desenvolvimento do projeto, revelando as intenções do autor e a consistência de
suas decisões. (GASTÓN E ROVIRA, 2007). Assim, recorre-se ao que Pinõn
(2005) chama de inversão do processo habitual: dado o edifício (ou projeto),
procura-se a arquitetura.
A partir do “redesenho”, é desenvolvida uma análise tipológica, que se apoia no
método de observação e no método comparativo. Através da observação, os
estudos são descritos à luz de categorias de análise pré-definidas 1 e, através da
comparação, são verificadas similaridades e especificidades entre os mesmos.
(GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1991).
Ao fim, são traçadas relações entre a análise dos objetos de estudo e os aspectos
destacados na pesquisa bibliográfica. Espera-se, assim, que as relações
apontadas possam, de modo generalizado, traduzir o universo estudado.
1
Recorre-se às categorias sugeridos por Mafhuz (1995): a dos “tipos formais”, registrando a forma/geometria geradora
do objeto arquitetônico; e a dos “tipos funcionais”, registrando as constantes organizacionais e estruturais.
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Figura 6 - Edifício Prudente - volumetrias e plantas dos estudos com apartamentos grande
porte: (a) Estudo 1; (b) Estudo 2; (c) Estudo 3; (d) Estudo 4.
a c
b d
Fonte: Plantas: acervo de projetos da FAU-USP (Intervenção na base: da autora); Perspectivas: da autora.
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Figura 7 - Edifício Prudente – volumetrias, perspectivas internas e plantas dos estudos com
apartamentos compactos: (a) Estudo 1; (b) Estudo 2. São Paulo. Rino Levi.
Fonte: Plantas: acervo de projetos da FAU-USP (Intervenção na base: da autora); Perspectivas: da autora.
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Planta–livre: Quarto-sala
Salas e quartos se fundem, sobrepondo no mesmo espaço atividades diurnas e
noturnas. Diante disso, Levi incorpora divisórias flexíveis, que permitem a integração
ou compartimentação dos ambientes, como preconizado para as habitações
compactas modernas. (Figura 8).
Deve-se observar que este período é marcado por discussões sobre a eficiência da
integração e flexibilização dos espaços, frente às reduzidas áreas das habitações
econômicas. Neste sentido, Folz (2003, p. 47) aponta:
Figura 8 - Edifício Prudente - detalhe sala-quarto do Estudo 1. São Paulo. Rino Levi.
Além dos usos de divisórias móveis, Levi controla a integração dos ambientes através
de seus layouts. As plantas aparecem mobiliadas desde os primeiros estudos,
organizando-se em faixas que sugerem no espaço contínuo, o dormir e o estar.
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Figura 9 - Edifício Prudente - detalhe cozinha e banheiro. Estudo 2. São Paulo. Rino Levi.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
ANELLI, Renato Luiz Sobral; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. Rino Levi. Arquitetura e
Cidade. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2001.
CORREIA, Tânia. A construção do Habitat Moderno no Brasil. A casa e seus
significados - 1870-1950. São Paulo: EDUSP, 2004.
COSTA, Ana E.; BRILMANN, Bruna; PIEPER, Luisa C.; OLIVEIRA, Franciele P. Ele
também projetou apartamentos compactos. Três projetos de Rino Levi. In Anais do 3º
Seminário Arquitetura e Documentação. Belo Horizonte: UFMG, 2013.
FOLZ, Rosana. Mobiliário na Habitação Popular. Discussões de alternativas para a
melhoria da habitabilidade. São Carlos: Ed. Rima, 2003.
GASTÓN, Cristina, ROVIRA, Teresa. El Proyecto moderno. Pautas de Investigación.
Barcelona: Ediciones UPC, 2007.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
PIÑÓN, Helio. El Pryecto como (Re) Construción. Barcelona: Ediciones UPC, 2005.
VILLA, Simone Barbosa. Um breve olhar sobre os apartamentos de Rino Levi:. Produção
imobiliária, inovação e a promoção modernista de edifícios coletivos verticalizados na cidade
de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 120.07, Vitruvius, jun. 2010. Disponível
em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3437.
33
ANÁLISE DE REQUISITOS PARA AVALIAÇÃO DE QUALIDADE
GEOMÉTRICA NO REGISTRO DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO COM TÉCNICAS FOTOGRAMÉTRICAS
RESUMO
O registro adequado de bens arquitetônicos é uma preocupação desde 1885, com os primeiros
trabalhos do precursor da Fotogrametria Terrestre, Albrecht Meydenbauer. Em 1987, o International
Council of Monuments and Sites recomendou a constituição de um registro fotogramétrico de
monumentos e sítios arqueológicos. Desde então, a Fotogrametria Terrestre vem sendo a técnica
mais utilizada para o levantamento do patrimônio arquitetônico. Essa técnica tornou-se mais rápida e
acessível com o avanço das câmaras digitais. Apesar das recomendações do International Council of
Monuments and Sites, do advento das novas tecnologias e da importância de um registro de
qualidade, ainda existem poucos estudos com uma análise rigorosa dos requisitos para o registro de
bens arquitetônicos, com foco na geometria dos modelos gerados por processos fotogramétricos
inteiramente digitais. Neste contexto, o objetivo do trabalho é propor discussões e análises de
requisitos para a avaliação da qualidade planimétrica dos projetos fotogramétricos aplicados ao
registro do patrimônio arquitetônico, contribuindo principalmente com o planejamento da aquisição
dos dados.
Palavras-chave: documentação patrimonial. arquivo fotogramétrico. controle de qualidade.
ABSTRACT
The documentation of the cultural heritage is a concern since 1885, with the first application of
photogrammetry techniques by Albrecht Meydenbauer. In 1987, The International Council of
Monuments and sites has recommended the creation of photogrammetry records of monuments and
archaeological sites. Since then, the close range photogrammetry has been the most used technique
to survey cultural heritage. This technique has become faster and more accessible with the
advancement of digital cameras. Despite the recommendations of International Council of Monuments
and sites, the advent of new technologies and the importance of a quality evaluation and
documentation, there are few studies with a rigorous analysis of the requirements for the cultural
heritage documentation, with focus on the geometry of the models generated by digital
photogrammetry process. The aim of this work is to propose discussions and analysis of requirements
for the evaluation of planimetric quality of photogrammetric projects applied to the cultural heritage
documentation.
Keywords: cultural heritage documentation. photogrammetric archives. quality control.
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1 INTRODUÇÃO
O patrimônio arquitetônico é uma herança comum sendo consenso que, como tal,
deve ser entregue em toda a sua riqueza e autenticidade às gerações futuras (ICOMOS,
1996). A importância do registro é enfatizada pela perda de detalhes com o tempo e nos
trabalhos de conservação, levando também à perda da integridade da evidência histórica.
Os instrumentos de preservação - inventário, fiscalização e vigilância, tombamento, registro,
dentre outras formas de acautelamento - devem ser estudados para cumprir suas funções
sociais, fortalecendo a identidade do país e garantindo o direito à memória (VIEIRA et al.,
2012).
A aplicação das técnicas fotogramétricas para o registro do patrimônio arquitetônico
possui importância reconhecida desde 1987, quando, na VIII Assembleia Geral do ICOMOS
(International Council of Monuments and sites), recomendou-se aos países-membros a
constituição do arquivo fotogramétrico de seus monumentos e sítios (ICOMOS, 1996). O
ICOMOS sugere os processos e produtos necessários para o registro, dentre eles o uso de
técnicas fotogramétricas, porém não descreve exigências sobre a qualidade dos mesmos
(NING et al, 2011), sendo a falta de especificações e padrões um agravante no registro dos
bens patrimoniais.
As especificações são base para os procedimentos de aquisição e processamento dos
dados e possibilitam aos usuários mensurar a qualidade do produto desenvolvido por eles,
avaliando se este é adequado para sua necessidade, ou seja, “fitness for use” (JURAN et al,
1998). Além disso, as especificações têm como objetivo promover o desenvolvimento
eficiente e avaliar custos para o projeto, prevenir a perda de informação, transferir
conhecimentos, mensurar o nível de confiança do produto, diminuir a dependência de um
aplicativo ou fornecedor, dentre outros (ISO, 2014). Para mais informações consultar o
endereço eletrônico: www.iso.org/benefits_of_standards (acesso em abril de 2014).
Apesar da importância de uma documentação de qualidade ainda existem poucas
análises dos requisitos para a modelagem a partir de técnicas fotogramétricas. Diante dessa
dificuldade propõe-se neste trabalho identificar as principais normas e especificações
nacionais (Seção 2.1) e internacionais (Seção 2.2) relacionadas à modelagem a partir de
técnicas fotogramétricas, discutir os principais problemas quanto à falta de requisitos que
permitam a análise da qualidade geométrica do modelo produzido por técnicas
fotogramétricas (Seção 2.3), sugerir uma nova proposta de requisitos quanto à qualidade do
produto (Seção 3) e estudar sua viabilidade através de um estudo de caso (Seção 4).
35
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3 PROPOSTA DE REQUISITOS
Seguindo o requisito quanto a escala de plotagem para a documentação do patrimônio
arquitetônico recomendado pelo IPHAN (GOMIDE et al, 2005), é possível calcular o erro
padrão final do modelo considerando o erro planimétrico de 0,3 mm (THOMPSON e
ROSENFIELD, 1971), como expressa a Equação 1.
ε = e ∗ DENESCALA (1)
Em que, ε é a acurácia planimétrica final do modelo, e corresponde aos erros do
processo fotogramétrico (erro de medida, erro nas orientações, erro de projeção) mais o erro
gráfico e DENESCALA ao denominador da escala de representação. Assim, para uma escala
de representação 1:50 tem-se que o erro padrão final aceitável para a planimetria deverá
ser menor que 15 mm (Tabela 1), atendendo a necessidade dos projetos de intervenção.
Relembrando que o IPHAN ainda recomenda a entrega do produto analógico e, por esse
motivo, foi considerado também o erro gráfico. Um estudo detalhado sobre a predição dos
erros no processo fotogramétrico analógico é apresentado em De Carvalho (1972).
Tabela 1 - Erro padrão final do modelo segundo as escalas recomendadas pelo IPHAN.
Escala (IPHAN) 1: 10 1: 50 1: 100
Erro Padrão Final / planimetria 3 mm 15 mm 30 mm
Durante todo o processo existem diversas fontes de erro, de modo que, é importante
limitar o erro padrão em cada etapa, auxiliando na identificação dos erros e na obtenção da
precisão final requerida. Nesse caso, assumem-se três grandes etapas principais para a
modelagem do patrimônio arquitetônico: a aquisição dos dados (erros de medida), as
orientações (erros na orientação) e a restituição e/ou modelagem (erros de projeção).
Considerando os erros conhecidos no processo fotogramétrico e os estudos realizados por
Merchant (1982), recomenda-se como critério de análise que o erro padrão parcial para
cada uma das etapas, principalmente na aquisição das medidas de controle, seja inferior a
1/3 do erro padrão (5 mm para a escala 1:50).
As primeiras etapas consistem no planejamento e na aquisição dos dados (imagens,
medidas de controle e verificação). Segundo Bryan et al (2009), para atender à necessidade
dos projetos de intervenção (conservação, restauro e manutenção), o Ground Sample
Distance (GSD) das imagens utilizadas para o registro do patrimônio arquitetônico deve ser
inferior a 5 mm. Assim, para que as medidas de controle (PC) e verificação (PV) atinjam
uma precisão inferior a 1 GSD, recomenda-se a implantação de um sistema topográfico
local, para as escalas 1:50 ou 1:100 e uma análise rigorosa da propagação dos erros. É
importante considerar que a aquisição das medidas de controle e verificação através de
técnicas de topografia é inviável para o nível de precisão requerido na escala de
detalhamento 1:10, sendo necessário realizar um processo de medição indireta,
considerando uma escala conhecida (distâncias) e ajustamento livre.
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4 ESTUDO DE CASO
No século XIX, mediante aos avanços da indústria têxtil, principalmente durante o ciclo
do algodão e aos incentivos governamentais, legislativos (lei de 1852) e fiscais, os
investimentos nas estradas de ferro aumentaram de modo significativo, realçando o
interesse dos investidores (SOUKEF, 2001). Nesse período fundou-se a Companhia
Sorocabana de Estrada de Ferro. Em 1919, a linha tronco da estrada chega a Presidente
Prudente (administrada pelo Estado de São Paulo) o que propiciou grande desenvolvimento
econômico no Oeste Paulista e a construção original de diversas edificações hoje
consideradas patrimônios arquitetônicos. A Estação de Presidente Prudente foi inaugurada
em 1919, sendo um novo edifício construído em 1926. Apenas 18 anos depois, em 1944,
com o crescimento econômico e populacional da cidade a Estação de Presidente Prudente
foi novamente reconstruída. O novo prédio, maior e mais moderno, refletia a prosperidade
da cidade e enquadra-se no estilo arquitetônico da época (Art déco com sinais de
Modernismo).
4.1 Aquisição dos dados
Em primeira visita ao monumento recomenda-se avaliar a localização geográfica do
patrimônio (informações preliminares) e os requisitos necessários para o preenchimento da
ficha cadastral do IPHAN. A aquisição das imagens do modelo da Estação Ferroviária de
Presidente Prudente foi realizada com uma câmara NIKON D3200. O Quadro 2 traz as
principais características dessa câmara.
Quadro 2 - Informações técnicas da Câmara Nikon D3200
Distância Tamanho do Tamanho do Dimensões da
Câmara Sensor
Focal nominal sensor pixel imagem
CMOS/
Nikon D3200 28 mm 23,1 x 15,4 mm 3,8 μm 6016 x 4000 Pixels
24Mpx
Para o planejamento da aquisição considerou-se a metodologia e os requisitos
propostos na Seção 3, além de procedimentos de aquisição que garantem a formação de
modelos estereoscópicos. Calculou-se então a distância entre as estações (base) para 60%
de sobreposição entre as fotos (6 metros) e a distância sensor-objeto (19 metros), com GSD
de 4 mm (<5mm). Assim, foram implantadas previamente 12 estações. Os pontos de
controle (PC) e verificação (PV) foram obtidos por topografia (dupla irradiação) utilizando
estação total (TOPCON GTS-3007), com a implantação de um sistema de referência local,
com precisão média de 3 mm em X, Y e Z.
4.2 Orientações
Para determinar os Parâmetros de Orientação Interior (POI) adotou-se o método de
calibração de campo usando conjunto de pontos tridimensionais, aliado ao método de
câmeras convergentes, com reconhecimento automático dos alvos no padrão ArUco
(SILVA, 2012). O processamento foi realizado no software CMC (Calibração Múltiplas
Câmaras), desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Fotogrametria da FCT-UNESP, em
linguagem C/C++, com modelo de calibração para câmaras perspectivas convencionais
(RUY, 2008). Para definir um conjunto de POI (Tabela 3) realizou-se a análise de
significância sugerida (Seção 3).
Tabela 3 - Parâmetros de Orientação Interior
POI ± f (mm) x0 (mm) y0 (mm) k1 (mm-2) k2 (mm-4) k3 (mm-6)
desvio 28.0990 0.1038 -0.0254 1,5398 x 10-4 1,7623 x 10-7 1,12 x 10-10
-6 -8 -11
padrão ± 0.0018 ± 0.0002 ± 0.0002 ± 1,51 x 10 ± 2,060 x 10 ± 8,5 x 10
O efeito dos parâmetros de distorção descentrada e afinidade são inferiores ao erro de
medida, além disso, a magnitude destes parâmetros também é inferior a seus desvios
padrão, por essa razão estes parâmetros não foram adotados. Lembrando que a distância
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focal foi determinada com precisão inferior a um pixel como sugerido. Para mais
informações sobre os processos de calibração de câmaras consultar Andrade (1998).
A orientação exterior foi realizada indiretamente pelo processo de Fototriangulação
utilizando o software comercial Leica Photogrammetry Suite (LPS) com 50 pontos
fotogramétricos com resíduos inferiores a 2 pixels, 13 pontos de controle, 8 pontos de
verificação e RMSE final global das imagens inferior a meio pixel (0,401). A Tabela 4
apresenta o desvio padrão, a média e a RMSE dos pontos de controle e verificação.
Tabela 4 - Média, desvio padrão e RMSE das discrepâncias entre os valores medidos e
estimados para os pontos de controle e verificação
Média Desvio Padrão RMSE
Pontos X (m) Y (m) Z (m) X (m) Y (m) Z (m) X (m) Y(m) Z (m)
7,692 7,692 3,388 2,585 3,112 3,388 2,585 3,112
PC 0
x10-6 x10-6 x10-3 x10-3 x10-3 x10-3 x10-3 x10-3
2,250 1,412 6,500 4,177 4,510 3,308 4,184 4,756 3,380
PV -4 -3 -4 -3 -3 -3 -3 -3 -3
x10 x10 x10 x10 x10 x10 x10 x10 x10
Considerando as coordenadas E,N,H dos 8 pontos de verificação foi realizado um
teste de tendencia a partir da análise de distribuição t-student onde verificou-se as seguintes
hipóteses: H0: ∆𝑋� = 0, não é tendencioso ou H1: ∆𝑋� ≠ 0, é tendencioso (MERCHANT,
1982). O valor de t amostral é obtido a partir da Equação 2.
����
∆𝑋
𝑡𝑥 = 𝑆 √𝑛 (2)
∆𝑋
4.3 Restituição
Para analisar a qualidade final do modelo foram realizadas medidas diretas de 24
arestas com o auxilio de uma trena. Em um segundo momento foram medidas no modelo as
coordenadas dos vértices de cada aresta e calculou-se a distância entre os pontos. A
Tabela 6 mostra os valores de média, desvio padrão e RMSE das discrepâncias entre as
distâncias medidas e calculadas.
Tabela 6 - Média, desvio padrão e RMSE das discrepâncias entre os valores medidos e
estimados para as distâncias das arestas no modelo.
N° de arestas Média Desvio padrão RMSE
24 -0.0035m 0,0106 m 0,0111 m
Com base nesta análise apresentada pode-se constatar que o erro padrão final do
modelo é inferior ao limite do erro padrão final proposto para a escala gráfica 1:50 (< 15
mm), com RMSE igual a 11,1 mm. Isto confirma a proposta inicial de especificação, que é
baseada nas técnicas fotogramétricas.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O escopo inicial do trabalho, apresentado pelo estudo teórico, consistiu na
investigação das especificações e normas mais relevantes para o registro do patrimônio
arquitetônico a partir da modelagem com técnicas fotogramétricas em nível nacional e
internacional. O resultado desse estudo, associado à identificação das principais
dificuldades dos usuários, permitiu apontar algumas deficiências nas especificações e
normas atuais (escolha do sensor, aquisição, orientações e modelagem). Nota-se que os
problemas mais relevantes identificados nas normas referem-se à falta de requisitos para o
controle de qualidade na produção do modelo e de atualizações em vista dos recentes
avanços digitais.
Nesse sentido, este trabalho apresentou a discussão do problema e sugere uma
primeira proposta de requisitos para análise de qualidade dos projetos realizados por
Fotogrametria. Assim, a metodologia sugerida foi aplicada no estudo de caso da Ferroviária
de Presidente Prudente e mostrou-se viável, auxiliando principalmente no planejamento da
aquisição. Em trabalhos futuros serão realizados estudos teóricos e experimentais, para
avaliar e ampliar as normas e especificações existentes no que se refere à utilização de
câmaras digitais, com base em técnicas fotogramétricas, para a modelagem como forma de
registro dos bens arquitetônicos.
AGRADECIMENTOS
Os Autores gostariam de agradecer a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) - Processo: 2013/ 15940-9, ao Programa de Pós Graduação em
Ciências Cartográficas (PPGCC) e a Universidade de Liège (FAPESP - Processo:
2014/07195-4)
REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. B. Fotogrametria. 1.ed. Curitiba: Ed. SBEE, 1998. 242 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653-7: A avaliação de bens:
Patrimônios Históricos: elaboração. Rio de Janeiro, 2009.
BRYAN, P. G.; BLAKE, B.; BEDFORD,J., Metric survey specification for English
Heritage. 2. ed. Inglaterra: Ed. English Heritage, 2009. 111 p.
BUCHANAN, C. D. Photographing historic buildings for the record. 1. ed. London:
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D’AYALA, D.; SMARS, P. Minimum requirements for metric use of non-metric
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GALO, M.; TOMMASELLI, A. M. G.; HASEGAWA, J. K.; CAMARGO, P. Significância dos
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Anais... Recife: PE, 2008
GOMIDE, J. H.;SILVA, P. R.; BRAGA, S. M.N. Manual de elaboração de projetos de
preservação do patrimônio cultural: Cadernos técnicos 1. Brasília: Ed. Instituto do
programa Monumenta, 2005. 76 p
INTERNATIONAL COUNCIL OF MONUMENTS AND SITES (ICOMOS). Principles for the
Recording of Monuments Groups of buildings and Sites. In: 11th ICOMOS GENERAL
ASSEMBLY IN SOFIA. Paris: ICOMOS, 1996, 52p.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DE APRENDIZADO
DE FERRAMENTA DE EDIÇÃO DE IMAGENS
PARA REGISTRO DA ARQUITETURA
Gisele Pinna Braga
Universidade Positivo
giipinna@gmail.com, gbraga@up.edu.br
Fernanda Bertoli Stival
Universidade Positivo
fbarquitetura@yahoo.com.br
RESUMO
A formação do estudante de Arquitetura e Urbanismo se inicia com a transformação de seu olhar, no
que diz respeito ao espaço de sua cidade. Quanto ao uso de tecnologias digitais, as escolas de
arquitetura comumente oferecem uma formação no conhecimento das ferramentas utilizadas no dia a
dia do trabalho do arquiteto. Entretanto, essa temática abre a possibilidade de extrapolar a
abordagem instrumental e representacional da imagem, possibilitando trabalhar outros temas
importantes para a formação do estudante. Este trabalho expõe um exercício prático da primeira série
do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo (PR), na disciplina de Ferramentas
Digitais, que aborda o conteúdo de edição digital de imagens e propõe atividades com crescente grau
de complexidade, que objetivam promover um aprendizado significativo e contextualizado. Mostra
seus resultados, bem como a avaliação dessa atividade por alunos e professores.
ABSTRACT
Considering the panorama of teaching digital technologies in Architectural, most of them offer
instrumental training considering the daily work of an architect. However, this work requires not only
the knowledge of how to deal with digital tools, but also many other abilities and attitudes which are
difficult to be taught. In this scenario, an activity of contextualized learning seems to be an opportunity
to go beyond the instrumental and representational aspect of the digital image editing. This paper
presents a practical exercise of a Digital Tools course that teaches the basics of digital image editing.
The activities have an increasingly degree of complexity to promote meaningful and contextualized
learning. It also shows some achievements as well as feedback from the teachers and from first
graders of the Architecture and Urbanism program of Positivo University in Curitiba, Brazil.
Keywords: Digital image editing. Didactic experience. Architecture. Digital tools
1 INTRODUÇÃO
A compreensão sobre o que é Arquitetura e Urbanismo para um aluno ingressante é um
desafio complexo. Por se tratar de uma área de conhecimento que envolve uma gama
bastante abrangente de temas, sua compreensão é sistêmica e sua apreensão vai além de
conhecimentos técnicos objetivos. Por isso, o percurso de entendimento dessa disciplina em
um curso superior deve mobilizar um esforço coletivo dos professores, principalmente os de
primeira série, que têm a oportunidade de contribuir em sua disciplina, trabalhando o
desenvolvimento desse olhar como um tema transversal.
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Com relação à estratégia didática, como ressalta Martins, o aprendizado demanda contexto:
contextualizar os saberes é outro instrumento valioso de que dispõem os
professores para mobilizar os alunos e estabelecer a relação entre sujeito e
objeto destinada a provocar aprendizagens significativas. Isso quer dizer
criar áreas, situações, âmbitos presentes na vida pessoal deles e nos quais
possam exercer papel ativo, deixando de ser meros espectadores passivos.
(MARTINS, 2007, p. 55)
A formação do estudante de Arquitetura e Urbanismo se inicia com a transformação de seu
olhar, no que diz respeito ao espaço de sua cidade.
Dessa maneira, a estratégia de trabalhar o conhecimento específico de cada disciplina de
modo contextualizado traz contribuições significativas para a formação do estudante, no
tocante à compreensão dessa profissão.
Tal construção se inicia com o reconhecimento dos espaços urbanos e de seus edifícios,
suas escalas e relações. Para isso é necessário, antes de tudo, ver, conhecer, reconhecer
suas diferenças e semelhanças, apropriar-se de suas características e detalhes.
As ferramentas de computação gráfica, em especial as de edição de imagem digital, têm
sido instrumentos importantes na atividade do arquiteto, tanto com fins de documentação e
registro como de instrumento de representação de ideias. Como descreve Neto,
as possibilidades da computação gráfica remetem o profissional a um
universo amplo. O produto final de um modelo digital pode ter diversas
características e representações e depende, seguramente, do “software” e
do domínio do ferramental que o arquiteto possui (NETO, 2004).
Entretanto, a compreensão da abrangência de seu uso vai muito além de seus aspectos
instrumentais. Seu aprendizado representa uma oportunidade pedagógica para conciliar o
entendimento instrumental com situações cotidianas da profissão, aumentando também o
repertório arquitetônico, tão útil nos anos iniciais do curso.
No que se refere ao uso de tecnologias digitais, as escolas de arquitetura comumente focam
as disciplinas de computação gráfica em uma abordagem instrumentalista, oferecendo
formação no conhecimento das ferramentas utilizadas no dia a dia do trabalho do arquiteto,
porém abrindo mão da oportunidade para trabalhar outros temas inerentes à sua formação.
No projeto pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo temos
delineado o perfil do egresso com as seguintes habilidades e competências, entre outras:
• habilidades de desenho e o domínio da Geometria, de suas aplicações e de outros
meios de expressão e representação, tais como perspectiva, modelagem, maquetes,
modelos e imagens virtuais;
• conhecimento dos instrumentais de Informática, para tratamento de informações e
representação aplicada à Arquitetura, ao Urbanismo, ao Paisagismo e ao planejamento
urbano e regional;
• conhecimento dos aspectos antropológicos, sociológicos e econômicos relevantes para
a formação do arquiteto e urbanista, bem como o conhecimento do amplo espectro de
necessidades, aspirações e expectativas individuais e coletivas quanto ao ambiente
construído.
A proposta aqui apresentada contempla tal diretriz na disciplina de Ferramentas Digitais,
que é oferecida na primeira série do Curso.
A proposta aqui apresentada contempla tal diretriz na disciplina de Ferramentas Digitais,
oferecida na primeira série do Curso.
Tal disciplina, segundo esse projeto pedagógico, tem como ementa “Princípios, métodos e
aplicação prática de técnicas de expressão gráfica em arquitetura, paisagismo e urbanismo.
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2 DESENVOLVIMENTO DO EXERCÍCIO
A construção das premissas para a elaboração da proposta de atividade nasceu do
entendimento de que
A contextualização exige dar centralidade à relação teoria e prática, integrar
áreas de conhecimento e desenvolver as capacidades de observação,
experimentação e raciocínio. (MOLL, 2010, p.88)
Assim, tentamos abordar esses conceitos, construindo as seguintes premissas:
• contemplar os conhecimentos técnicos relativos à ementa da disciplina no âmbito do uso
das ferramentas de edição de imagem na profissão do arquiteto e urbanista;
• provocar uma experiência de aprendizado contextualizada e, portanto, significativa;
• proporcionar uma atividade motivadora;
• promover o encontro entre alunos ingressantes e o aprendizado do trabalho em grupo,
importante para o profissional arquiteto;
• ampliar o repertório sobre o conhecimento de sua cidade.
Partindo também dos usos que o arquiteto faz das ferramentas de edição de imagem em
seu dia a dia profissional, encontramos na proposta de construção de um Streetline uma boa
possibilidade de tema, que atendia às premissas propostas.
Em uma pesquisa sobre o tema, localizamos uma iniciativa que apresentava o resultado
final esperado. Tal projeto, apresentado no site PANORAMASTREETLINE, descreve o
princípio de construção como:
Ao contrário dos panoramas normais, que são imagens geradas a partir de
um ponto de vista, nossos Streetlines são normalmente fotografados a partir
de uma diversidade de pontos de vista ao longo de uma rua. Com isso,
criamos panoramas lineares de múltiplos pontos de vista (às vezes
multiperspectivas). Isso significa que nenhum software consegue montar
automaticamente esses panoramas, pois há uma grande quantidade de
erros de paralaxe. No entanto, em casos raros, há espaço suficiente para
fotografar uma rua de um ponto de vista, como em grandes praças. Então a
montagem se torna relativamente fácil com o uso de um programa (ou
1
software) automatizado. (http://panoramastreetline.com/)
Segundo essa explicação, a imagem resultante de tal edição não se configura como um
desenho propriamente técnico. Apesar de não ser fiel à geometria mongeana das projeções
ortogonais utilizadas no desenho arquitetônico, a imagem final é muito útil para ilustrar
contextos urbanos de projetos de arquitetura e urbanismo, pois é fiel dimensionalmente no
que se refere ao tamanho dos edifícios, suas cores e característica geométrica.
1
Tradução livre das autoras. Do original: “Unlike normal panoramas that are shot from one viewpoint, our
streetlines are normally shot from many different viewpoints, along a street, hence we create linear or multi-
viewpoint panoramas (sometimes multi-perspective). This means, no program can automatically put together and
stitch these panoramas, as there are a lot of parallax errors...However, in rare cases you have enough space to
shoot a street from one viewpoint, like on large squares. Then the stitching is comparably easy by using a
program with an automated solution.”
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Para efeitos didáticos, dividimos o exercício em etapas distintas, que ora eram
desenvolvidas em grupo, ora individualmente. Para cada aluno, foi designado um edifício da
cidade, de modo que cada turma completasse um trecho urbano contínuo.
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3 RESULTADOS OBTIDOS
A grande totalidade dos alunos conseguiu realizar a atividade, com diferentes graus de
êxito. Abaixo, alguns resultados.
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Fonte: Giovanna Fonte: Marcelo Fonte: Amanda Osiowy, Fonte: Marjorie Santos,
Pereira Grande Carolina Batista, Stephanie Pamela Jaskiu, Taynara
Almeida, Ana Paula Arthury Dzwilewski e Vanessa Silverio
Fonte: Ana Bassani, Giliane Rocha e Karen Diz Fonte: Marjorie, Vanessa, Pamela e Taynara
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As explicações e atividades de aula contemplaram Em sua opinião, qual o grau de importância deste
o conhecimento necessário para a produção trabalho para a formação do arquiteto?
do trabalho?
insuficiente excelente
Fonte dos gráficos: relatório do Google Forms
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As explicações e atividades de aula contemplaram Em sua opinião, qual o grau de importância deste
o conhecimento necessário para a produção trabalho para sua formação como arquiteto?
do trabalho?
insuficiente excelente
Fonte dos gráficos: relatório do Google Forms
5 CONCLUSÕES
Mais importante que o próprio resultado obtido é o aprendizado de conteúdos e
desenvolvimento de habilidades por parte de alunos.
Assim, as reflexões abaixo buscam proporcionar o desenvolvimento didático pedagógico por
parte dos professores.
No que se refere às aulas terem ou não contemplado os conhecimentos necessários para a
execução do exercício, a opinião de alunos e professores diverge. Para os professores, as
aulas os contemplaram quase na totalidade, enquanto para os alunos existem lacunas. Tal
fato representa, talvez, a diferença sempre presente entre o que foi ensinado e o que foi
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos professores Daniel Arantes e Fabíola Hilgenberg, que completaram o
time de professores da disciplina. Também agradecemos a todos os alunos que
participaram e voluntariamente responderam ao questionário de feedback.
REFERÊNCIAS
GLASER, Scheilla. O Ensino do Piano Erudito-Um Olhar Rogeriano. biblioteca24horas,
2011.
MARTINS, Jorge Santos. Projetos de Pesquisa: Ensino e Aprendizagem em sala de aula.
Autores Associados, 2007.
MOLL, Jaqueline. Educação Profissional e Tecnológica no Brasil Contemporâneo:
desafios, tensões e possibilidades. Artmed, 2010.
NETO, Ruy Alberto de Assis Espinheira. Arquitetura digital a realidade virtual, suas
aplicações e possibilidades. 2004. Tese de Doutorado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO.
Projeto pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, 2013.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Virando a escola do avesso por meio da
avaliação. Papirus Editora, 2008.
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A RECRIAÇÃO VIRTUAL DA PRAÇA TIRADENTES DE 1940
Gisele Pinna Braga
Universidade Positivo
giipinna@gmail.com, gbraga@up.edu.br
Larissa Pariz
Universidade Positivo
larissapariz@gmail.com
Lucas Dallabrida
Universidade Positivo
lucasdallabrida@rocketmail.com
Vanessa Mayer Rigo
Universidade Positivo
vanemrigo@gmail.com
RESUMO
Este artigo relata uma pesquisa que teve como objetivo investigar técnicas de reconstrução digital
com caráter fotorrealístico viáveis e reconstruir digitalmente a Praça Tiradentes de Curitiba de 1940,
tendo como base a pesquisa anterior intitulada “Curitiba 40’s: levantamento e modelagem
tridimensional da Praça Tiradentes de 1940”. A pesquisa documental buscou complementar as
informações sobre aquele espaço da cidade. O modelo digital, desenvolvido com técnicas de
modelagem eletrônica, objetivou retratar com maior fidelidade possível a arquitetura da época desde
as fachadas e seus detalhes, até representar o entorno da Praça, o mobiliário urbano, a
pavimentação das calçadas, a vegetação e os automóveis. Ainda, busca resultados foto realísticos
para evidenciar detalhes e texturas compatíveis com a ambientação da época.
Palavras-chave: Praça Tiradentes, Reconstrução Digital, Curitiba, Arquitetura
ABSTRACT
This paper presents a research that investigates digital representation techniques to produce a digital
reconstruction of Tiradentes Square of Curitiba of 1940 with photorealistic characteristic. The digital
model, developed with 3D digital modelling techniques, intends to reproduce with high fidelity the
architecture of the time. The 3D model contains the facades of the buildings and their singular details,
its surroundings (the square itself), and also the additional information of the environment as well as
the street furniture, paving, vegetation and vehicles, showing details and textures compatible with that
period.
Keywords: Tiradentes Square, Photorealistic reconstruction, Curitiba, Architecture.
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1 INTRODUÇÃO
A reconstrução digital é um método que utiliza ferramentas digitais para reconstruir um
objeto. Formas, cores e texturas reais são trazidas para o âmbito virtual a partir de
softwares, que utilizam imagens e ferramentas, proporcionando imagens eletrônicas com
similaridade com o objeto original. Esse recurso possibilita a geração de modelos
tridimensionais a partir de informações de diversas fontes como fotografias, croquis e
desenhos digitais, trazendo o aspecto físico real de uma época para o espaço virtual. É uma
técnica que vem sendo utilizada por conta dos rápidos avanços da tecnologia e do maior
acesso às ferramentas de modelagem e edição eletrônicas, possibilitando a manipulação e
reprodução de ambientes escalasse detalhes cada vez maiores.
Diversas são as técnicas possíveis para a recriação virtual de um cenário de
época. No âmbito da arquitetura, a representação de imagens de uma
época pode ser realizada por meio de técnicas clássicas. Porém, novos
métodos de visualização para a reconstrução do patrimônio apresentam
uma série de vantagens com relação às formas tradicionais de
levantamento, como custo, rapidez, precisão e variedade de produtos que
podem ser obtidos - ortofotos, desenhos e modelos geométricos
tridimensionais. (GROETELAARS e AMORIM, 2008, p.2).
A Praça Tiradentes, considerada o marco zero da cidade de Curitiba, Paraná, foi
considerada como tema para a reconstrução virtual nesta pesquisa. Esse espaço público,
considerado um patrimônio cultural não tombado, tem sido um marco de imensurável
importância para a cidade, seja por seu valor histórico ou por sua relevância na estruturação
da malha urbana da cidade. Sendo um dos mais significativos pontos nodais desde o início
da configuração da estrutura urbana curitibana, esse espaço passou por todas as fases de
sua evolução, apresentando assim marcas evidentes desses diversos momentos passados.
Toda a sua história e importância que permanecem foram decisivas para a escolha deste
local e momento histórico a serem arquivados virtualmente.
A reconstrução do espaço da Praça possui enorme significado para o acervo de patrimônio
do município. Foi escolhida a década de 1940 como nicho histórico de base para a recriação
desta, devido a sua configuração naquele momento ser bem diferente da atual, mesmo
possuindo muito de seu entorno não modificado até hoje. Além disso, a importância do
período em questão se dá por conta do início do Plano Agache no ano de 1941, no qual a
cidade de Curitiba teve todo o seu sistema urbano direcionado a partir de um sistema radial,
definindo o início das grandes transformações da Capital. Tal plano deixou marcas até os
dias atuais, como a área definida para o Centro Cívico e a concentração de fábricas na Zona
Industrial. Outro fator que contribuiu para esta escolha foi a disponibilidade de materiais
base para a recriação da Praça nesse período.
A base a para a realização do trabalho foi uma pesquisa realizada no ano anterior, intitulada
“Curitiba 40’s: levantamento e modelagem tridimensional da Praça Tiradentes de 1940”.
Como resultado dessa pesquisa, temos um modelo tridimensional da Praça contendo
somente as edificações. Tal resultado foi o ponto de partida para a realização de um modelo
realístico mais detalhado, criando um modelo que possibilitou se transportar para aquela
época e de se observar o espaço por completo. A observação in loco de edifícios que
permanecem até os dias atuais também constituiu-se de um recurso de pesquisa disponível.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A recriação virtual tem como objetivo recriar e/ou reviver uma parte do passado em
ambientes que não encontramos mais ou que estão totalmente degradados e
irreconhecíveis. Como base para todas as reconstruções do campo do Patrimônio Histórico
foi elaborado em 1964, a Carta de Veneza. Após anos de estudos e avanços tecnológicos
foi necessário o desenvolvimento de um documento padrão para a realização das
reconstruções digitais. Assim, em 2006, foi elaborado pela King’s College London, a Carta
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3 METODOLOGIA
A metodologia adotada partiu de uma análise dos dados necessários para a construção do
modelo desejado e da escolha das ferramentas e processos técnicos testados. Assim, ela
consistiu nas seguintes etapas:
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3.3.1 FACHADAS
O software escolhido para a modelagem em 3D foi o Google SketchUp, devido ao domínio
do grupo sobre ele, à facilidade de manipulação e à sua disponibilidade. A preocupação de
gerar um modelo leve (no sentido de tamanho de arquivo), com geometria simplificada,
esteve presente em todo o processo de modelagem. Tal característica facilitaria a
manipulação do modelo e também viabilizaria possível disponibilização dele no futuro. Para
gerar tal geometria simples o trabalho foi pensado no sentido de explorar ao máximo
trabalho com fotografias, evitando a criação de linhas e geometrias prescindíveis.
Dada esta diretriz a modelagem ocorreu de acordo com as informações existentes sobre os
objetos a se construir. Primeiramente, aquelas fachadas cujas modelagens tiveram como
base fotos dos edifícios presentes na Praça, foram editadas para a produção de uma
ortofoto. Tal edição, além de servir para a limpeza de elementos anacrônicos, possibilitou a
recriação de outros, que haviam sido modificados ou retirados. A ortofoto pronta foi aplicada
como textura em um bloco modelado em SketchUp. Desta forma evitou-se desenhar os
diversos elementos da fachada, diminuindo o número de linhas do modelo e otimizado sua
geometria. Já nos casos onde houve a necessidade de utilizar o modelo criado e desenhado
em SketchUp, buscou-se uma simplificação de sua modelagem, tendo grande parte de seus
elementos, característicos da época, no mesmo plano da fachada.
O ponto do bonde também foi modelado nessa primeira etapa. Com base em fotos
conseguiu-se determinar as principais características do mesmo, que foi modelado
diretamente em SketchUp.
Supõe-se que as portas e as cores de tinta da fachada sofreram alterações durante o
tempo. Nenhum dado concreto foi encontrado, visto que a maioria das imagens do acervo
fotográfico é monocromática. Assim, optou-se por representá-las de modo genérico, não
sendo fieis a época, mas preservando as principais características encontradas à época.
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Fonte: autores
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3.3.5 AUTOMÓVEIS
A catalogação de automóveis ocorreu com uma análise de fotos antigas obtida pelo acervo
da pesquisa e fotos da visita à exposição 'Curitiba Anos 50' no Memorial de Curitiba devido
a qualidade e a resolução das fotos a escolha dos carros foram feitas a partir de
semelhanças encontradas com os modelos já disponíveis no Armazém 3DWarehouse.
Os modelos de carros obtidos foram Chevrolet Truch do ano de 1930, Ford Coup do ano de
1934, "Fordinho" do ano de 1930 e Bugatti Type 57 SC ano de 1936.
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4 RESULTADOS OBTIDOS
O objetivo da pesquisa foi a recriação fotorrealística da Praça Tiradentes na década de 40,
utilizando desenhos, imagens e fotos. Todo esse acervo auxiliou na representação fiel da
grande maioria dos elementos presentes na praça, como mobiliário, fachadas, vegetações,
etc.
Apesar da necessidade de algumas informações não encontradas sobre as fachadas, o
modelo digital não teve prejuízos nesse sentido, uma vez que outros edifícios da época com
desenhos similares encontraram-se conservados.
Como resultado, temos um acervo de fotos das fachadas retificadas.
Abaixo, é possível visualizar exemplos de algumas fachadas retificadas a partir do processo
descrito na metodologia.
Figura 8 - fachada retificada da antiga farmácia Stelffeld
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Fonte: 3d Warehouse
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5 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos mostram que o objetivo do projeto, a recriação do marco zero de
Curitiba na década de 40, de um modo geral foi alcançado, ponderando-se as limitações e
dificuldades naturais de uma pesquisa desta natureza.
Algumas dificuldades técnicas de processamento das imagens com humanização foram
encontradas, o que mostra que testes focados neste objetivo ainda precisam ser realizados.
Uma vez essa biblioteca virtual finalizada, o passeio pela praça se torna possível pelo uso
das ferramentas digitais, concluindo a pesquisa realizada e oferecendo à comunidade um
objeto que preserva o patrimônio e a memória histórica da cidade.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade Positivo, especialmente ao curso de Arquitetura e Urbanismo,
por financiar e dar suporte para a realização desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
CECCO, Eduardo et al. Praça Tiradentes de Curitiba: recuperação da memória e
reconstrução virtual da praça de 1940. In Representar Brasil 2013: As representações em
Arquitetura, Urbanismo e Design, 2013, São Paulo. Anais do Representar Brasil 2013.
São Paulo: p. 481-491.
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FÉLIX, Neusa Mariza Leite Rodrigues et al. Modela Pelotas. 2005. 10 p. Dissertação (Curso
de Especialização de Gráfica Digital) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
GROETELAARS, Natalie J. e AMORIM, Arivaldo L. Referências a Fotogrametria Digital
na Documentação do Patrimônio Arquitetônico. 2008. 105 p.
MIGUEL, Pedro Semião. Recriação Virtual Do Património Arquitectónico Açoriano.
2007. 117 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Informática) - Universidade de Lisboa,
Lisboa.
VASCONCELOS, Lúcia Torres de Moraes. Calçadas de Curitiba: Preservar é preciso.
Curitiba: Comunicare, 2006.
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A COLEÇÃO GILENO DE CARLI E A DOCUMENTAÇÃO DA
ARQUITETURA CANAVIEIRA EM PERNAMBUCO.
Rodrigo Cantarelli
Fundação Joaquim Nabuco - rodrigo.cantarelli@fundaj.gov.br
RESUMO
A Coleção Gileno de Carli, hoje sob a guarda da Fundação Joaquim Nabuco no Recife, é um
importante registro fotográfico, feito na década de 1930, de mais de sessenta propriedades rurais no
estado de Pernambuco, muitas delas hoje desaparecidas. O artigo apresenta o mais recente
processo de catalogação feito na coleção, o qual permitiu, através da identificação das propriedades,
dos seus edifícios, e dos seus elementos arquitetônicos mais característicos, a inserção dessas
informações em uma base de dados digital de fácil e rápido acesso ao usuário, que irá auxiliar os
mais diversos pesquisadores do tema.
Palavras-chave: Coleção Gileno De Carli. Arquitetura rural. Engenho.
ABSTRACT
The Gileno De Carli Collection, now under the custody of Fundação Joaquim Nabuco, at Recife, is an
important photographic register, made in the 1930s, over sixty Sugar Mills in the state of Pernambuco,
many missing today. This article presents the latest cataloging process done in this collection, which
allowed, through the identification of properties, its buildings, and its most distinctive architectural
elements, inclusion of all this kinds of information in a database for quick and easy access to the user
via a digital technology, assisting innumerous researchers of this subject.
Keywords: Gileno de Carli Collection. Rural Architecture. Sugar Mill.
1 INTRODUÇÃO
A Coleção Gileno de Carli, hoje sob a guarda da Fundação Joaquim Nabuco no Recife, é
um importante registro fotográfico, feito na década de 1930, de mais de sessenta
propriedades rurais no estado de Pernambuco, muitas delas hoje desaparecidas. Oriunda
do Museu do Açúcar, a coleção havia sido mapeada ainda nos anos 1980, indicando a
presença de quase sessenta engenhos distintos.
Esse mapeamento, feito de forma bastante sintética, indica apenas a tipologia da edificação
principal representada em cada imagem e sua localização. Esse tipo de informação
dificultava o processo de trabalho dos pesquisadores que tinham interesse no tema ou que
buscavam imagens de alguma propriedade específica, seja para pesquisas históricas ou
coletando informações que pudessem embasar intervenções nesses edifícios históricos.
A partir desse ano, num processo de revisão do mapeamento e da catalogação das
coleções fotográficas pertencentes à Fundação Joaquim Nabuco e da adoção de uma
sistemática no processo catalográfico, que contou com a elaboração de um manual de
procedimentos técnicos para catalogação das coleções iconográficas, buscou-se
reorganizar a coleção Gileno de Carli de forma que as informações sobre a arquitetura rural
presentes ali, fossem acessadas de forma mais rápida e eficaz por qualquer pesquisador. O
objetivo desse texto é mostrar a importância da coleção Gileno de Carli como um
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Retratado em pinturas e na famosa aquarela de Cícero Dias, feita para a primeira edição do
livro de Gilberto Freyre, poucas fotografias, no entanto, mostravam, de fato, a configuração
desse edifício, demolido no final da década de 1930. Num pequeno conjunto de imagens,
feitas entre 1937 e 1939, que hoje estão sob a guarda da Fundação Joaquim Nabuco,
vemos claramente esse processo de demolição do Engenho Noruega. Essas imagens
fazem parte da coleção que pertenceu ao agrônomo e pesquisador da história do açúcar
Gileno de Carli.
Descendente de italianos, Gileno nasceu no Recife em 22 de abril de 1908, formou-se em
Agronomia pela Escola Superior de Agronomia de São Bento, se especializando
profissionalmente nos processos ligados a monocultura açucareira. Em 1933, ele começou a
trabalhar para o Instituto do Açúcar e do Álcool, IAA, uma autarquia da administração federal
brasileira criada em 1º de junho daquele ano pelo, então, presidente Getúlio Vargas, com o
objetivo de orientar, fomentar e realizar o controle da produção de açúcar e álcool e de suas
matérias-primas em todo o território nacional. Ao longo da sua carreira profissional no órgão,
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Gileno ocupou diversos cargos no IAA, chegando até mesmo a ser seu presidente, entre os
anos de 1951 e 1954.
Ao longo da vida, Gileno colecionou diversos tipos de objetos e documentos, como ele
mesmo destacou na sua autobiografia, além de uma importante coleção de fotografias, ele
tinha “uma sala com mais de cem estátuas, estatuetas, quadros, reprodução em tela, em
madeira, em barro, em marfim, em seda, em prata, em mármore, em matéria plástica, de
uma enorme coleção de Madonas” (CARLI, 1983. p.286.) e ainda conseguiu “fazer a mais
interessante e mais completa coleção de selos de todas que tenho conhecimento” (CARLI,
1983. p.284).
Para Walter Benjamim, uma questão decisiva no ato de colecionar é desligar os objetos de
todas as suas funções primitivas, fazendo com que, através de determinadas semelhanças,
esses objetos se relacionem com outros objetos, criando um sistema novo, a coleção. Para
ele,
(...) o mais profundo encantamento do colecionador consiste em inscrever a
coisa particular em um círculo mágico no qual ela se imobiliza, enquanto
percorre um último estremecimento (o estremecimento de ser adquirida).
(BENJAMIM, 2006, p. 239)
Ou seja, ao se retirar esses objetos de circulação, eles estariam preservados dentro de um
conjunto único formado pelo indivíduo. Ainda segundo Benjamim, o colecionador coleciona
empreendendo uma luta contra a dispersão desses objetos afins, para lembrar-se de um
passado. Passado que ele quer manter presente na sua vida cotidiana através dos objetos
colecionados.
As visões de mundo de Gileno estavam envolvidas pelo açúcar, pela monocultura
açucareira e em como esse ciclo econômico estava impregnado na formação do Nordeste e
de Pernambuco, especialmente. Era esse passado que ele quis preservar através da
coleção. O desejo de colecionar, aliado ao interesse documental pela monocultura do
açúcar fez com que ele contratasse o fotógrafo francês Julien Mandel para percorrer a zona
canavieira pernambucana, entre os anos de 1937 e 1939, documentando casas grandes,
senzalas, moitas, capelas, e outras construções que faziam parte dos conjuntos
arquitetônicos dos engenhos e usinas pernambucanos.
Mesmo após deixar a presidência do Instituto do Açúcar e do Álcool, Gileno ainda se
manteve durante um tempo próximo às atividades da autarquia, colaborando com a criação
do Museu do Açúcar, em 1960, para o qual, fez diversas doações, incluindo esta coleção de
imagens. O museu, que tinha como objetivo pesquisar, reunir, organizar e divulgar os
elementos sociais, artísticos e técnicos mais representativos da agroindústria açucareira no
Brasil e em outros países produtores de açúcar, assim como promover estudos, pesquisas,
cursos e concursos, para conhecimento e valorização da civilização do açúcar, funcionou
até 1977, quando foi transferido, com todo o seu patrimônio, para o Instituto Joaquim
Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco.
Extinto em 1979, para a criação do Museu do Homem do Nordeste, o Museu do Açúcar teve
suas coleções iconográficas incorporadas ao Departamento de Iconografia do Centro de
Estudos da História Brasileira, também pertencente à Fundaj. Com a chegada das mais
diversas coleções iconográficas, a coleção Gileno De Carli foi mapeada apenas em 1987, e
suas imagens receberam cada uma delas uma numeração individual, chamada de Código
de Acesso, sendo este o mapeamento que existia até então.
O mapeamento dava conta que a coleção possuía, aproximadamente, trezentas e quarenta
e cinco documentos, entre ampliações fotográficas e negativos, e identificava apenas
sessenta e quatro engenhos e usinas. O trabalho que havia sido feito apresentou como
produto final uma listagem organizada a partir dos nomes de cada um desses engenhos, em
ordem alfabética, e descrevendo, minimamente, o tema da imagem, informando qual a
edificação representada ali, sem mais pormenores.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
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Temos que levar em conta que, antes de tudo, o documento fotográfico é um objeto
material, e precisa de informações técnicas sobre essa materialidade que também podem
ser exploradas nas mais variadas áreas. Sobre esse assunto, Ana Cristina de Albuquerque
afirma:
A descrição de documentos fotográficos nos códigos de catalogação dá
grande ênfase à descrição física, que trata de indicar o suporte, qual foi o
procedimento técnico empregado, estado físico do documento, ou seja,
todas as características que formam o objeto em si, e essas características
também estão no ângulo dado às figuras, nos planos escolhidos, tipo de luz,
etc, que caracterizam o suporte e sua composição em um documento com
seu formato próprio.(ALBUQUERQUE, 2006. p.126)
Ou seja, embora as descrições mais objetivas, materiais, sejam o tipo de informação que vai
dominar os campos de informações, também estarão ali as de caráter menos físico,
digamos assim, relacionadas ao conteúdo do documento. Não podemos deixar de perceber
que a fotografia é o suporte de um sem número de informações que ali estão representadas,
sejam elas pessoas, modos de vida, ou paisagens urbanas, e essas informações vão se
fazer presentes nos campos do “Título/tema” e dos “Descritores”. Albuquerque afimar que
O documento fotográfico é uma representação de coisas e pessoas reais e
é usado como informação quando tratado adequadamente em suas
características técnicas, físicas e composicionais pedidas pelos códigos, e,
a partir daí, pode se transformar em informação útil a seus devidos
usuários.(ALBUQUERQUE, 2006. p.127-128)
No caso da maioria das fotografias, o campo “Título/tema” será preenchido com a indicação
do assunto que trata aquela imagem, de forma breve, porém eficiente, citando,
especialmente a figura em primeiro plano, uma vez que, na maioria dos casos, o fotógrafo
não dá um título mais específico à imagem. A maior riqueza de informações da imagem
estará no campo “Descritores”, que tratará dos pormenores que não puderam ser
detalhados no campo “Título/tema”, sendo um campo de grande importância para o
pesquisador. É nesse campo que estarão presentes informações como vertentes estilísticas
da edificação, elementos arquitetônicos caracterizadores, dentre outras informações que
mais se destacaram na imagem.
O nível de aprofundamento e detalhamento presente no campos dos “Descritores” vai variar
de instituição para instituição, e do perfil que se pretende dar a uma determinada coleção.
Isso pode ser melhor entendido, por exemplo, através de uma fotografia que mostre um
edifício qualquer na cidade, onde figuram também pessoas nas rua, carros e comerciantes
ambulantes. Detalhamentos como a vertente estilística do edifício, o modelo dos veículos, o
tipo de comércio ambulante, as roupas utilizadas pelas pessoas é quem vão dar o perfil das
informações presentes na coleção. No caso específico da coleção Gileno de Carli, foi dada
prioridade às informações a respeito dos edifícios e dos seus elementos arquitetônicos mais
característicos, visto ser esta uma coleção que trata, principalmente, de edificações rurais.
O processo de catalogação está atualmente em processo de conclusão, com as
informações sendo inseridas numa base de dados, onde, futuramente, serão incorporadas
cada uma das imagens. Posteriormente a esse processo, a base de dados será
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T IPO: fotografia
LOCAL DE Fundaj-Apipucos (Rua Dois Irmãos, 92)/Cehibra – Acervo Iconográfico, Edf.
GUARDA: Dirceu Pessoa, 4º pavimento
CÓDIGO DE GDC_000048
ACESSO:
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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4 CONCLUSÕES
Como destacado no livro que apresenta as coleções fotográficas da Fundação Joaquim
Nabuco, a coleção Gileno de Carli tem uma “grande importância histórica pela possibilidade
de viabilizar estudos comparativos de várias localidades simultaneamente, notadamente
pelo fato de que muitos dos elementos arquitetônicos fotografados já terem desaparecido”.
(MEDEIROS, 1995. p.64.). Além disso, ela registra uma grande diversidade de edifícios,
como senzalas, casas de purgar, capelas, casas grandes, usinas, vilas de operários e até
mesmo maquinários industriais num período onde uma parte dessas construções ainda
funcionavam com seus usos originais.
O mapeamento existe da coleção não dava uma dimensão clara dessa diversidade,
tampouco da coleção original, uma vez que muitos acréscimos foram feitos porteriomente,
alterando a visão do colecionador sobre aquele conjunto. Hoje, após a reorganização e a
catalogação da coleção, o pesquisador tem um acesso mais fácil e rápido ao documento, a
partir de alguns assuntos sobre os quais ele esteja interessado, desde tipologias edilícias,
como casas de purgar ou capelas, elementos arquitetônicos caracterizadores, como
copiares e chaminés, e até mesmo a vertentes estilísticas, como o ecletismo, presente em
muitas das casas grande reformadas no final do século XIX.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogação e descrição de documentos fotográficos
em bibliotecas e arquivos: uma aproximação comparativa dos códigos AACR2 e ISAD
(G). Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação ) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, 2006.
BENJAMIM, Walter. O colecionador. In: _____. Passagens. Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 2006. p. 238-246.
CARLI, Gileno De. Atos e fatos da minha vida. Recife: Companhia Editora de
Pernambuco, 1983.
FREYRE, GILBERTO. Casa-grande & Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
FUNDAÇÃO Joaquim Nabuco. Manual de Procedimentos Técnicos – Coleções
Fonográficas, Iconográficas e Textuais. Recife, 2014.
GOMES, Geraldo. Engenho e arquitetura. Recife: Editora Massangana, 2006.
MEDEIROS, Ruth (org.). Arquivos e Coleções Fotográficas da Fundação Joaquim
Nabuco. Recife: Editora Massangana, 1995.
MINISTÉRIO da Cultura. Manual para catalogação de documentos fotográficos. Rio de
Janeiro: FUNARTE, Fundação Biblioteca Nacional, 1997.
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URBANO ORNAMENTO: INVENTÁRIO DE GRADES ORNAMENTAIS EM BELO
HORIZONTE – BREVE RELATO SOBRE UM AMPLO PROJETO
RESUMO
Tendo como amplo mote a presença do ornamento no espaço urbano, o projeto “Urbano Ornamento”
pretende lançar um olhar interdisciplinar para as grades ornamentais em Belo Horizonte, aproximando os
campos de saber da Arquitetura e das Artes Gráficas, não apenas pela evidente força gráfica que
caracteriza esses bens integrados, mas também por outras interfaces – etnográfica, histórico-crítica,
poético-ficcionais – que lhes possibilitem comunicar. Adota, como ponto de partida, a documentação
fotográfica de fachadas de casas situadas em bairros mais antigos da cidade e, cumprida essa etapa, a
digitalização dos modelos encontrados, disponibilizando desenhos vetoriais gráficos em arquivos abertos,
editáveis. Tal inventário deve ser detentor de uma memória patrimonial – através da reconstituição de
uma espécie de paisagem formal, capaz de guardar e lançar essas formas ao domínio público da criação,
ou seja, devolvê-las à cidade – e outra mais livre, a partir das reflexões que os saberes, que aqui
tangenciam, possam suscitar.
Palavras-chave: grades ornamentais, inventário, desenho vetorial, paisagem
ABSTRACT
Having a wide presence of ornamentation in the urban space, this research intends to launch an
interdisciplinary look at the ornamental grills in Belo Horizonte. The knowledge of Architecture and Arts,
not only for the obvious graphical integrated force that characterizes these objects, but also by other
interfaces - ethnographic , critical-history, poetical and fictional - that enable them to communicate.
Adopts, as a starting point, the photographic documentation of facades of houses located in the oldest
neighborhoods of the city and this stage is completed by the scanning of the found models, providing
graphic vectors in open and editable files. This inventory must hold a free anda an heritage memory, by
reconstituting a kind of formal landscape, able of storing and offering these forms to the public domain of
creation. Meaning, returning them to the city.
Keywords: ornamental grills, inventory, vector drawing, landscape.
1 INTRODUÇÃO
Tendo como amplo mote a presença do ornamento no espaço urbano, o projeto “Urbano
Ornamento” 1 pretende lançar um olhar interdisciplinar para as grades ornamentais em Belo
Horizonte, aproximando os campos de saber da Arquitetura e das Artes Gráficas, não apenas
1
“Urbano Ornamento: um inventário de grades ornamentais (e outras belezas)” é o título de minha tese de
doutorado, defendida em março de 2014. Por ser uma tese que se desdobra em um grande produto e um livro, além
de outras iniciativas, “Urbano Ornamento” é um título sintético que faz referência a todas essas frentes, como projeto.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
pela evidente força gráfica que caracteriza esses bens integrados, mas também por outras
interfaces – etnográfica, histórico-crítica, poético-ficcionais – que lhes possibilitem comunicar.
Adotou, como ponto de partida, a documentação fotográfica de mais de 4000 fachadas de
casas situadas em bairros mais antigos da cidade e, cumprida essa etapa, a digitalização dos
modelos encontrados, disponibilizando desenhos vetoriais gráficos, em arquivos abertos,
editáveis. Tal inventário deve ser detentor de uma memória patrimonial – através da
reconstituição de uma espécie de paisagem formal, capaz de guardar e lançar essas formas ao
domínio público da criação, ou seja, devolvê-las à cidade – e outra mais livre, a partir das
reflexões que os saberes, que nele tangenciam, possam suscitar.
O produto da pesquisa – cujos primeiros passos apresentei no Arq.Doc 2010 – é, além de
minha tese de doutorado, um livro, homônimo dela, publicado em agosto de 2014, que contém
o inventário completo impresso e também digitalizado, num DVD anexo. A ideia foi revisitar os
antigos catálogos de ornamentos e criar uma versão atual – um tipo de edição bastante usual
nos dias de hoje, capaz de doar à cultura material imagens históricas – que pudesse abrigar um
diálogo entre os saberes citados, não apenas sobre o bem arquitetônico integrado per se.
O objetivo do presente artigo é relatar a lógica de taxonomização do inventário, também ela
uma ferramenta tecnológica, sem desrespeitar as motivações poético-formais que de tal lógica
não se separam, considerando que estão intimamente conectadas ao seu potencial de
disseminação, e, por conseguinte, de memória e preservação. Julguei importante, ainda, deixar
algumas notas sobre as estratégias de representação gráfica, metodologia de coleta, pesquisa
documental e uma certa dimensão histórica das grades da capital Mineira. Esses e outros
enfoques estão presentes na tese e no livro, que os leitores interessados no assunto – de rara
ocorrência nos estudos de arquitetura, num âmbito mundial – poderão consultar.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
dessas estruturas desde a fase de projeto. Dispersas nos dossiês de tombamento, há fotos de
antigos moradores posando em frente aos portõezinhos, testemunhos mais afetivos que
históricos de uma arquitetura e uma cidade em desaparição, que nos fazem imaginar quantas
outras já não podemos acessar. Antigos cartões postais da cidade mostram rendilhados em
ferro, quase invisíveis pelo desgaste da imagem, e revelam casas, igrejas e janelas ainda sem
grades, nos primeiros anos de vida de Belo Horizonte.
Em proporção direta à escassez investigativa e documental sobre as grades ornamentais no
mundo, a produção bibliográfica sobre o tema no Brasil não vai muito além dos manuais
domésticos de serralheria, que ensinam uma tradição praticamente inexistente por aqui. Há
quem afirme que as grades ornamentadas ainda hoje instaladas em Belo Horizonte não
possuem a exuberância de peças presentes em cidades brasileiras mais antigas. A diversidade
e a abundância do conjunto reunido pela pesquisa, no entanto, nos leva a duvidar de qualquer
argumento simplificador. Em que pese não possuirmos tradição no ramo, o inventário guarda
uma infinidade de ferros forjados anônimos, artesanais e ecléticos, características cujo apelo é
decidida e definitivamente popular, alimentado não somente pelos catálogos de ornamentos
que aqui circularam, mas também pela perenidade, universalidade e intemporalidade de seu
repertório. Agrada-me pensar que a sobrevivência dessas formas, concebidas a partir da
mistura de necessidade e criação, é o resgate inconsciente de uma historicidade, em conexão
profunda com desejos e realidades atuais. Expressa a confortável e alegre permanência das
volutas – as formas mais primitivas, conhecidas, utilizadas e adoradas em todas as gerações da
arte da forja – uma sobrevivência proliferante em lugares de pouca tradição ferreira, como a
capital mineira. Neste inventário, popular e doméstico - cuja dimensão artística é plena e deseja
evidência - contrapõem-se ao monumental.
3 COLETA E DESENHOS
A escolha das regiões a serem percorridas na cidade respondeu ao seu primeiro traçado, a
partir da crença de que ali, nas áreas mais antigas, estariam concentradas as maiores
quantidade e variedade das grades. O anel da avenida do Contorno marcou, assim, uma
referência para procurá-las, em bairros centrais (dentro dos limites da avenida) e pericentrais
(adjacentes a ela). A partir dessa delimitação espaço-temporal, percorremos, em 92 trajetos, 35
bairros da capital, registrando mais de 4000 fachadas.
O registro das casas foi feito assim: todas as casas detentoras de grades ornamentadas
forjadas, situadas ao longo dos caminhos, foram contempladas, recebendo um registro que
enquadrasse sua fachada frontal e cada modelo de grade que estivesse ao alcance dos olhos,
mesmo nas fachadas laterais, obtendo-se quantas fotografias fossem necessárias para registrá-
las. Cumprida essa etapa, passamos à digitalização dos modelos encontrados, utilizando como
ferramenta a caneta digital, que gera desenhos vetoriais editáveis.
Da barra de ferro para a linha gráfica e imaterial, do meio digital para o impresso, e vice-versa,
tais transposições tiveram características distintas com o desdobrar dos tempos, dos fazeres e
das tecnologias. Entre os séculos XVI e XVIII, artesanato e desenho manual estão associados à
exclusividade dos projetos – realizados em plantas nominais aos clientes – e às técnicas
disponíveis, tais como caneta, aguada, giz, lápis, aquarela e outras tintas, bem como técnicas
artesanais e antigas de transferência, para espelhar metades idênticas, ou agilizar os
processos. O resultado desse fazer manual é uma organicidade que se expressa a partir de
tons e subtons, uma tridimensionalidade (as diferentes espessuras das barras, as folhagens
resultantes de chapas trabalhadas, os volumes das fundições, a presença de alvenaria junto
aos desenhos). Com o transcorrer do século XIX sofisticam-se as técnicas de impressão e de
reprodução, e estão em jogo novas lógicas de mercado e de produção de formas, com a
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Fonte: Da esquerda para a direita: Victoria and Albert’s Museum, acervo da autora e Fundação Biblioteca Nacional
Se as grades são produzidas na fronteira entre o artesanal e o industrial – entre o orgânico que
é fruto de certa plasticidade do ferro e o geométrico que se caracteriza pelo limite do projeto,
dos moldes, da máquina – também com os desenhos algo se processa assim. Com a caneta
digital foi possível desenhar cada módulo primário manualmente, de maneira mais artesanal
(orgânica) e menos geometrizada do que as ferramentas que criam ‘nós’ no software de
ilustração gráfica adotado, o Illustrator. Uma ‘organicidade’ que se aproxima dos processos
artesanais de dobrar e moldar o ferro, remetendo-nos sutilmente a sua liquidez incandescente e
ao endurecer que obedece aos limites frios e as batidas do martelo. Os desenhos podem ser
comparados a uma espécie de escrita que, de modo inevitável e inefável, diferenciará cada
desenhista, resultando únicos, irrepetíveis. No final, ainda assim, temos de volta a estrutura
gráfica, geométrica, industrial e citadina do ferro, já que apenas um módulo é feito
manualmente, para em seguida ser multiplicado, gerando um padrão de aparência uniforme e
seriada.
Figura 2 – fragmentos desenhados à mão, com a caneta digital e replicações
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO
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4 DA TAXONOMIZAÇÃO ÀS PAISAGENS
A história das artes aplicadas é, de certa forma, desencarnada, narrada ao sabor de infinitas
transformações. Fruto de revisitações estilísticas e de adaptações materiais, são formas que
nascem em manuscritos e são forjadas em ferro, criadas para a pedra e executadas em
madeira, pensadas para ladrilhos e materializadas em manuscritos, ou simplesmente criadas
para o papel, à espera de quem as transponha para alguma outra materialidade. História que
nasceu de uma fundamentação estritamente visual, quando as coleções de gravuras, já desde
o século XVI, foram divulgadas em pranchas avulsas que circularam bastante, servindo de
inspiração a artesãos, artistas, ornamentistas, gravadores e arquitetos. É no século em que foi
inaugurada Belo Horizonte que a indústria gráfica se aprimora e democratiza-se em uma escala
sem precedentes, facilitando o compartilhamento, em âmbito mundial, de múltiplas imagens
produzidas pelo homem através dos tempos.
No que tange às grades, na própria cidade há uma sobreposição de tempos, os mesmos
modelos de grades em edifícios de idades distintas. É como se a história dessas grades
pudesse ser, em certa medida, separada da história da Arquitetura, como uma segunda
camada, uma espécie de pele que tem sua veia atemporal, em função da facilidade de se
realizar uma intervenção dessa natureza, a posteriori. Muitas casas receberam-nas anos
depois de sua construção, sem se preocupar com os estilos em voga, por questões de
segurança – as crianças e os ladrões – e diversas outras foram construídas bem depois da
própria grade, e aproveitam-na, após resgatá-las em ferros-velhos.
A paisagem onde encontramos essas grades é dispersa, labiríntica. Paisagem urbana e
monumental, paradoxalmente contida em cada uma das grades e em sua historicidade
apreensível, mas não esmiuçadamente capturável. Capturados em milhares de fotografias,
nossos ferros ornamentais foram dispostos em pastas provisórias – nomeadas pelos trajetos
(eixos ou passeios) que cumprimos – capazes de guardar, além da localização geográfica, as
memórias afetivas do campo e as sensações evocadas pelas grades em seu habitat. Seu
desenho vetorial implica em sua desterritorialização e, também, em uma espécie de retorno: as
imagens se despregam da cidade para compor os espaços (o de papel e o virtual) de um
catálogo de ornamentos. Voltam, assim, a habitar paisagens – formais, gráficas, memoriais. A
paisagem, tomada como categoria teórica e instrumental é, no presente estudo, conceito
operador eficiente para reunir as milhares de formas em uma espécie de gramática, ornamental
e ornamentada, belo-horizontina e universal.
São paisagens no plural, que abrigam imagens à disposição e a serem dispostas, pedaços de
grades que foram desterritorializados – desvinculados de sua localização na cidade e de sua
relação com a fachada –, desfuncionalizados – tendo seu papel na edificação apagado, não
importando se são grades, portões, janelas, muros, portinholas, bandeiras, óculos, guarda-
corpos – desmembrados e dessingularizados – na medida em que qualquer agrupamento
original que os caracterizava decorria da montagem realizada por cada serralheiro que as
fabricou. Tem-se como resultado uma gramática cujo sumário poderia responder a diversas
materialidades, como tantas outras. Como qualquer ornamento, são grades cujos motivos
precisam escolher entre se comportar finita ou infinitamente, antes de exercerem qualquer
função. No “plano limitado”, tomam forma de composições, vinhetas e módulos, em ordem
decrescente de complexidade e de vontade de multiplicação. No “plano ilimitado”, são
padronagens e faixas (que aqui chamaremos de lineares), de replicação unilateral.
Figura 3 – Categorias gráficas ornamentais dos planos limitado e ilimitado
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Legenda – Módulo (1) é a estrutura mínima de um padrão, que pede para ser multiplicado, para
proliferar, virar preenchimento, padronagem (2). Alguns convidam-nos a replicá-los apenas
horizontal ou verticalmente, conformando faixas, contornos, estruturas lineares (3). Vinhetas (4)
são estruturas pregnantes, com um ou dois eixos de simetria, de maior complexidade que o
módulo. As composições (5), mais complexas que as vinhetas, têm menor pregnância e, por
consequência, menor resistência à redução.
A estratégia consistiu em esquecer os nomes das categorias com as quais conseguimos
sistematizar as grades de Belo Horizonte, para que se pudessem conformar, assim, vastas
paisagens. Paisagem como uma entre várias maneiras inventadas de ver, desenhada ou
descrita, uma enorme e aparentemente incontível porção do tempo, e de esquecer de procurar
ali o seu começo. Uma espécie de tabuleiro para deixar à vista a secreta mobilidade das
grades. Paisagem-jogo, que nos convidam a mover as peças que compõem este léxico belo-
horizontino e universal. Mobilidade, visibilidade, sincronicidade e exaustividade são palavras-
chave e palavras de ordem nessas paisagens tão concretas quanto imaginárias.
As paisagens expressas no livro foram criadas com a motivação de compartilhar com o leitor –
de modo instrumental, mas também poético – a infinidade de formas que integram o inventário.
Em uma via de mão dupla, subtraem – a partir do desmembramento das formas tal como
encontradas na cidade – mas também acrescentam, quando se constata a mobilidade de seus
dispositivos paisagísticos. Trata-se de admitir a perda para usufruir da transformação, de aceitar
o limite do fragmento para desfrutar da infinitude de sua combinatória. Desmembrar para
constituir paisagens, mas também para dispor, disponibilizar, vislumbrar, mover. Fragmentadas,
as espécies que as habitam convidam-nos a aprimorar, conceitual e poeticamente, a intimidade
que podemos ter com elas.
Como é pequeno o espaço deste artigo para detalhar cada uma delas, contentemo-nos em listá-
las aqui, na esperança de que o leitor possa conferir na tese e no livro as motivações poéticas,
estéticas e instrumentais que guiam cada uma delas, acompanhadas de algumas ilustrações
das páginas do livro.
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4 CONCLUSÃO
A pesquisa adotou uma metodologia que poderia ser aplicada a qualquer cidade, podendo ser
o presente estudo útil ao leitor que deseje tirar proveito das seguintes frentes que mobiliza:
- Operacionalidade do trabalho de campo: delimitação espaço-temporal das regiões a
serem percorridas na cidade, posta em prática em passeios e percursos objetivos;
registro das fachadas e modelos, permitindo não apenas o desenho, mas também um
possível estudo comparativo, não realizado na tese, entre estilo de grade e de fachada;
organização das pastas e desterritorialização das imagens, possibilitando um acervo
que preserva a foto junto ao desenho, ou seja, a localização geográfica desse último,
que não se preserva na disponibilização através das paisagens.
- Técnicas de representação gráfica, vetorização e exportação dessas imagens,
permitindo, além da memória, a apropriação, edição e utilização dessas formas pelo
leitor/usuário do inventário.
- Sistema de taxonomização do inventário, através do conceito de paisagem e da ideia de
uma gramática ornamental, o que significa devolver essas formas à uma possível
origem, a dos catálogos de ornamento, e possibilitar ao leitor/usuário formas criativas de
acesso ao inventário.
- Metodologia híbrida entre a arte e a ciência, já que o produto da tese é também um livro
que se propõe a ser memória e acervo de criação. Antes do livro, o leitor da tese
verificará que a abordagem interdisciplinar, suscitada pelo objeto, faz da metodologia de
análise e da escritura metáforas da porosidade e ornamentação das grades.
Essas, no entanto, não parecem ser a maior contribuição da pesquisa, mas sim seu produto
prático, o inventário em si, instrumento de memória de um objeto (de expressão eclética e
universalizante) e um ofício em desaparição, produto esse apto a devolver essas formas à
cidade e, assim, possibilitar sua sobrevivência, para além das políticas patrimoniais.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LYOTARD, Jean-François. O inumano. Considerações sobre o tempo. Lisboa: Editorial Estampa, 1997.
81
BASE DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS PARA O
HIS DE MUCUGÊ
RESUMO
Este artigo aborda a elaboração de uma base de dados geográficos para compor o Sistema de
Informações do Patrimônio (Heritage Information System – HIS) do município de Mucugê, no estado
da Bahia. Baseado na tecnologia GIS - Geographic Information System, o HIS possui o objetivo
principal de constituir-se como uma ferramenta de apoio na gestão e conservação do patrimônio
histórico edificado da sede municipal. A base de dados geográficos, ou dados espaciais (spatial data)
é fundamental para o bom desempenho do HIS, considerando que esta fornece os subsídios para
análise e geração dos produtos de informações desejados. Sua elaboração consistiu das seguintes
etapas: levantamento de dados e documentação de referência; modelagem dos dados em SIG;
digitalização dos elementos cartográficos; e inserção de atributos qualitativos. Os produtos de
informações gerados pela base incluem o modelo volumétrico das edificações da cidade aplicado
sobre Modelo Digital do Terreno – MDT, além de mapas atualizados, que serviram de apoio à visita
técnica realizada na cidade visando à documentação arquitetônica e o registro de dados urbanísticos.
ABSTRACT
This paper discusses the development of a geographic database to integrate the Heritage Information
System (HIS) of Mucugê, municipality of the state of Bahia. Based on Geographic Information System
(GIS) technology, the HIS has the main objective to become a support tool in the management and
conservation of the historical built heritage of the municipal area. The geographic (or spatial)
database, is critical to the performance of the HIS, whereas it provides subsidies for analysis and
generation of the desired information products. Its development consisted of the following steps: data
and reference documentation collection; data modeling in GIS; digitization of cartographic elements;
and insertion of qualitative attributes. The resulting information products includes the volumetric model
of the buildings, applied on Digital Terrain Model - DTM, and updated maps, used to support the
technical visit held in the city, aimed at architectural documentation and registration of urban data.
Keywords: Geographic Information System (GIS). Heritage Information System (HIS). Spatial data.
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1 INTRODUÇÃO
Sistemas de informação desempenham um importante papel na salvaguarda do patrimônio
histórico. Para Vileikis e colaboradores (2011) a aplicação de Sistemas de Gestão da
Informação - Information Management Systems (IMS) fornecem recursos para apoiar
estados, gestores e demais partes envolvidas na conservação, gestão, e monitoramento do
patrimônio cultural, facilitando a inventariação, mineração, partilha e troca de informações de
várias fontes usando normas internacionais.
A partir da tecnologia SIG, observa-se que “[...] os dados concernentes ao contexto
arquitetônico e urbanístico podem ser associados à posição geográfica dos monumentos e
dos sítios históricos, constituindo um sistema de informações culturais ou Heritage
Information System (HIS).” (ARRUDA; AMORIM, 2010, p. 399).
O HIS pode ser definido como um sistema de informações georreferenciadas sobre a
documentação do patrimônio construído, voltado à proteção, preservação e gestão de sítios
históricos, utilizado como ferramenta de apoio a projetistas, especialistas em planejamento e
tomadores de decisão em suas áreas de trabalho. Entre atividades relacionadas ao HIS
destacam-se a inventariação, estudos e análises diversas do sítio, seus bens imóveis e da
paisagem, e a publicação e distribuição de dados (ARRUDA, 2013).
Neste contexto, a base de dados geográficos, ou dados espaciais (spatial data) é
fundamental para o bom desempenho de ferramentas GIS e, consequentemente na
aplicação do HIS, considerando que esta fornece os subsídios para análise e geração dos
produtos de informações desejados. Parte essencial do sistema de informações geográficas,
uma característica importante da base de dados espaciais é sua capacidade de associar
elementos gráficos com atributos qualitativos, considerada uma dualidade básica para GIS
(CÂMARA, 2001), também ressaltada por Tomlinson (2003).
Este trabalho discute a elaboração de uma base de dados geográficos para compor o
Sistema de Informações do Patrimônio (Heritage Information System – HIS) do município de
Mucugê, no estado da Bahia. O sistema possui o objetivo principal de constituir-se como
uma ferramenta de apoio na gestão e conservação do patrimônio histórico edificado da sede
municipal, tendo como escopo básico: permitir o acesso, a localização e a análise de
informações georreferenciadas sobre as edificações.
Mucugê é um importante sítio histórico, tendo seu conjunto arquitetônico e paisagístico
tombado pelo IPHAN pelo Processo nº 974-T-78, de 26-9-1980. Localizada em um vale
cercado por encostas íngremes, a cidade desenvolveu-se segundo a matriz em "L", em
cujas extremidades estão situadas as duas igrejas locais. Seu acervo arquitetônico urbano é
constituído por três centenas de casas térreas e uma dezena de sobrados, edificados, na
maioria dos casos, em adobe ou pedra, em meados e final do século XIX, conforme
constata o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC-BA), em levantamento
realizado em 1978 no local (BAHIA, 1980).
Devido a ausencia de informações atualizadas da cidade de Mucugê, tanto em forma de
dados cadastrais urbanos, quanto em forma de cartografia sistemática, foi necessária a
elaboração de um mapa base da cidade e o levantamento de dados em campo, para o
desenvolvimento da base de dados geográficos para o HIS de Mucugê.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A modelagem do HIS de Mucugê utilizou-se do processo unificado baseado na Unified
Modeling Language (UML), descrito por Medeiros (2004). A partir do modelo especificado foi
compilada a base de dados geográficos sede do Município, empregando-se uma ferramenta
SIG, ARCGIS 10.1, e em seguida implementada a aplicação protótipo, como teste do
modelo e metodologia de desenvolvimento propostas.
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Deste modo, para a base de dados geográficos foi utilizado o modelo de dados OMT-G
(Object Modeling Technique for Geographic Applications), que possui recursos para projeto
de bancos de dados e aplicações geográficas. O modelo OMT-G parte das primitivas
definidas para o diagrama de classes da UML, introduzindo primitivas geográficas com o
objetivo de aumentar a capacidade de representação semântica daquele modelo (BORGES;
DAVIS JR.; LAENDER, 2005, p. 88).
O diagrama de classes representado na Figura 1, foi desenvolvido em UML conforme os
padrões do modelo OMT-G, utilizando-se o software livre de modelagem StarUML.
A base de dados geográficos da cidade de Mucugê foi elaborada a partir das seguintes
etapas básicas: levantamento de dados e documentação de referência; modelagem da base
em SIG; digitalização dos elementos da base cadastral; e inserção de dados e atributos
qualitativos referentes ao uso do solo, número de pavimentos, estado de conservação e
período do levantamento.
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Para a digitalização das feições cartográficas, foi utilizado o serviço web de mapa ARCGIS
World Imagery, por ser esta a única fonte disponível com resolução compatível com a escala
urbana. O serviço fornece, por meio do protocolo de intercâmbio de dados Web Map Service
(WMS), um mosaico de imagens orbitais de alta resolução, com um metro ou inferior, e
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Além o serviço de imagens online Imagery do ArcGis, foi utilizado também o serviço de
mapas Open Street Maps, um projeto mundial de mapeamento colaborativo voltado para o
desenvolvimento e distribuição de dados geoespaciais livres. As informações desta base
permitiram verificar o arruamento e localização pontos notáveis da cidade de Mucugê. A
Figura 4 mostra a sobreposição dos vetores do mapa base de Mucugê, em preto e
vermelho, sobre a base do Open Street Maps, em fundo colorido.
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Para os dados de 1978 foi utilizado o levantamento realizado no período pelo IPAC-BA,
referentes à planta geral da cidade, mapeamento de uso do solo, número de pavimentos e
época das edificações. As plantas do IPAC foram digitalizadas1 e georreferenciadas no
ArcMAP, a exemplo da Figura 6.
Figura 6 – Planta do IPAC georeferenciada no SIG
1
A digitalização pode ser entendida como o processo de conversão de documentos em meio físico,
tais como papel, fotos e microfilmes, para o formato digital armazenado, processado e transmitido por
meio de computadores (CONARQ, 2010, p. 5). No processo descrito, foi utilizado um digitalizador
(scanner), pelo método de varredura na imagem física.
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Outro documento utilizado como fonte de informações foi a Planta do Partido Urbanístico da
sede do município de Mucugê, em formato DWG, do Plano Diretor Urbano de Mucugê
(MUCUGÊ, 2004), fornecido pela Prefeitura Municipal. A planta obtida apresenta o
levantamento semicadastral da cidade, além de fornecer informações sobre o partido
urbanístico da sede, contendo perímetro urbano, áreas de proteção histórica e ambiental, e
mapeamento das áreas de vulnerabilidade social e desenvolvimento turístico. Os dados
referentes ao uso do solo e estado de conservação das edificações foram também
adicionados à base de dados históricos do sistema (Figura 7).
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3 RESULTADOS
A base de informações geográficas elaborada para o HIS de Mucugê comporta as
informações geoespaciais das seguintes feições cartográficas, distribuídas em diferentes
planos de informações (camadas): edificações, ruas, praças, eixo de vias (urbanas),
hidrografia, limite do município, e rodovias. Além destas camadas, a base apresenta
também as informações das imagens de satélite, limite do município, eixo de rodovias,
edificações e limites do centro histórico proposto pelo IPAC em 1978, visto na Figura 10.
89
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visualizador incorporou também dados do modelo digital do terreno (MDT) com exagero na
escala vertical para melhor realce e entendimento do relevo.
4 CONCLUSÕES
A elaboração da base de informações geográficas das edificações da cidade de Mucugê
abre múltiplas possibilidades de pesquisas no campo da documentação arquitetônica, e de
suas aplicações no planejamento urbano e na proteção de sítios históricos.
Os dados geográficos, são um dos componentes fundamentais em um SIG, e deste modo,
foram integradas diversas fontes de informação em uma única base georeferenciada, no
sentido de se obter dados em escala e acurácia compatíveis com os produtos de informação
desejados.
Ao incorporar dados de uso do solo de três períodos distintos, a base elaborada foi além das
expectativas iniciais, permitindo análises mais profundas sobre o crescimento e as
mudanças ocorridas no espaço urbano em Mucugê. Este fato reforça não somente o
conceito de que um heritage information system necessita de informações históricas, mas
que o sistema se torna mais relevante conforme aumentam o volume e a qualidade de suas
informações.
Os mapas e demais produtos gerados serviram de apoio à visita técnica realizada na cidade
por uma equipe do Grupo de Pesquisa LCAD, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Bahia, visando à documentação arquitetônica e o registro de dados urbanísticos. Os dados
desta visita deverão re-alimentar a base de dados gerando um conjunto de informações
mais preciso e atual.
A elaboração desta base de informações geográficas integra, em fase subsequente, o
sistema de informações do patrimônio histórico - HIS de Mucugê, que apoiará a gestão e
salvaguarda do patrimônio arquitetônico por meio da disponibilização de informações sobre
as edificações e o meio urbano, possibilitando a realização de análises que servirão de
apoio para técnico e gestores em suas tomadas de decisões. As próximas etapas do
trabalho comportam, além do desenvolvimento do HIS, a implementação de interface na
web, possibilitando a ampla difusão das informações pela sociedade.
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AGRADECIMENTOS
O autor deseja registrar os seguintes agradecimentos: à Prefeitura Municipal de Mucugê
pela disponibilização de documentos e dados urbanos, bem como o apoio ao grupo de
pesquisa durante a realização do trabalho de campo; ao PPG-AU/FAUFBA pela
disponibilização de recursos que permitiu custear parte das despesas da missão de campo,
e a todos integrantes do grupo de pesquisa do LCAD que participaram da coleta de dados
em setembro de 2013.
REFERÊNCIAS
92
REVISTA ACRÓPOLE ELETRÔNICA - PROJETO DE
DIGITALIZAÇÃO E INSTALAÇÃO DE WEBSITE PARA
PRESERVAÇÃO E ACESSO ONLINE À MEMÓRIA DA
ARQUITETURA E URBANISMO
Marcia Rosetto
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
mrosetto@usp.br
Dina Elisabete Uliana
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
uliana@usp.br
Hugo Massaki Segawa
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
segawahg@usp.br
RESUMO
A revista Acrópole (1938-1971) é uma publicação especializada e pioneira na área de arquitetura e
urbanismo paulista e brasileira, sendo considerada como um importante registro documental de uma
época da cultura brasileira. Com o desenvolvimento do projeto de digitalização se pretendeu garantir
a preservação e a conservação dessa memória, tanto no formato impresso como no digital, e
expandir o acesso aos pesquisadores e público em geral por meio da rede Internet. Através de
procedimentos metodológicos constituídos para esse fim, foi possível dispor o acesso online aos 391
fascículos da revista, contemplando mais de 23 mil páginas em sua totalidade. A consolidação de
conhecimentos quanto aos processos desenvolvidos, propiciou a consolidação de competências
específicas de uma prática de documentação para a continuidade de digitalização de outros títulos de
revistas brasileiras relevantes nessa área.
ABSTRACT
The journal Acrópole (1938-1971) is a pioneer and specialized publication in Architecture and
Urbanism in São Paulo and Brazil, and is considered as an important documented record of the
Brazilian culture. The aim was to develop the digitizing project to ensure the preservation and
conservation of this memory, both in print and in digital, and expand the access by researchers and
the general public to significant contents through the Internet network to 391 issues, covering more
than 23.000 pages. The consolidation of knowledge and specific skills in a practical documentation in
this context was also one of the objectives, providing the necessary continuity to scan other relevant
Brazilian journals in this area.
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1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a comunicação e a divulgação científica ganharam uma amplitude de
forma extraordinária exigindo novas formas de organização e disseminação da informação,
sendo elaborados, com o apoio de tecnologias de informação e comunicação (TIC),
sistemas e redes de informação, bases de dados, incluindo-se nesse contexto as bibliotecas
digitais e virtuais, portais de revistas eletrônicas e os repositórios institucionais que
propiciam o acesso online ao imenso volume de registros bibliográficos e textos completos.
Padrões para o tratamento da informação e protocolos de comunicação proporcionam a
infraestrutura compatível para essa crescente demanda e, segundo Sayão (2012), o
conhecimento existente sobre preservação e acesso a recursos digitais já resultam num
conjunto de estratégias, abordagens tecnológicas e atividades que são coletivamente
conhecidas como ‘curadoria digital’. Esse conhecimento propicia as condições necessárias
para se realizar iniciativas que visam promover o acesso a conteúdos existentes em acervos
bibliográficos, coleções especiais e repositórios de informações considerados como parte do
universo patrimonial e cultural (tangíveis e intangíveis) e conectados às práticas de
conhecimento, ensino e pesquisa (História, memória e patrimônio universitário, 2012).
Acompanhando essa tendência, em 2012 a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
da Universidade de São Paulo (PRCEU) lançou o Edital de Preservação de Acervos e
Patrimônio Cultural com o propósito de institucionalizar ações e estratégias para aprimorar
as condições de preservação e acesso ao acervo especial e memória institucional, o
acondicionamento e conservação de revistas técnico-científicas, e formulação de
metodologias que favoreçam a pesquisa e a capacitação continuada visando à formação de
competências, geração e disseminação de conhecimento dentro e fora da Universidade. Em
sintonia com essas proposições a Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
(FAUUSP), criada em 1948 e possuidora de um rico acervo, que inclui os principais
periódicos nacionais e internacionais da área e responsável pelo desenvolvimento e
manutenção do Índice de Arquitetura Brasileira (IAB) desde a década de 1960, encaminhou
o projeto de “Digitalização e Acesso Online à Revista Acrópole: Conservação e Preservação
da Memória da Arquitetura e Urbanismo”.
A revista Acrópole tem uma importância significativa para a arquitetura paulista e brasileira,
de acordo com Oswaldo Arthur Bratke (SEGAWA, 1997, p.97), e atualmente, pela sua
raridade e pelo seu conteúdo, subsidia estudos historiográficos, epistemológicos e culturais
na área conforme o estudo realizado por Fernando Serapião (SERAPIÃO, 2006). Segundo
Pinheiro (2011), os periódicos propiciam informações valiosas para as pesquisas, e nesse
universo encontram-se os periódicos brasileiros que consolidam, de uma maneira plural, as
tendências arquitetônicas e informações profissionais realizadas no país. Essas informações
acumuladas ao longo dos anos são compreendidas como um patrimônio cultural, e nesse
caso especificamente como um patrimônio informacional (Ciência da Informação, 2009). Em
sintonia com esse contexto que a Biblioteca da FAUUSP, uma das contempladas com os
recursos advindos do Edital da PRCEU, desenvolveu o projeto e está proporcionando, a
partir de junho de 2014, o acesso online à Revista Acrópole Eletrônica. 1
2 REVISTA ACRÓPOLE
A arquitetura como tema autônomo manifestou-se nos anos de 1950-1960 com a circulação
de quase uma dezena de periódicos especializados, incluindo a Acrópole que foi uma
revista pioneira na divulgação da arquitetura paulista e brasileira, e é uma fonte importante
sobre as tendências e a evolução em direção aos preceitos do moderno (SEGAWA, 2002,
p.130). Lançada como periódico mensal em maio de 1938 sob a direção de Roberto A.
1
Desde o lançamento em 25 de junho de 2014, o Website registra acessos com mais de 12 mil sessões,
provenientes do Brasil, Estados Unidos, e vários países europeus e latino-americanos, contemplando mais 8 mil
usuários e 67 mil páginas consultadas (GOOGLE ANALYTICS, dados consolidados em 17 de setembro 2014).
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Corrêa de Brito, a partir de 1953 Max M. Gruenwald a dirigiu até a última edição nº 390/391
de novembro/dezembro de 1971. Contando com a colaboração de arquitetos, consultores e
colaboradores, foram sendo delineadas durante esse período as diversas linhas editoriais da
revista compondo um importante testemunho de época (ALMEIDA, 2008).
Nesses pouco mais de 34 anos de publicação ininterrupta, a revista trouxe em suas páginas
realizações desenvolvidas por arquitetos de todo Brasil e principalmente de São Paulo,
servindo como suporte para um diálogo de alcance nacional e internacional e uma fonte
extremamente importante de artigos e números especiais sobre projetos brasileiros. Nos
anos 1950 e, sobretudo na década de 1960, não havia arquiteto ou estudante de arquitetura
efetivamente engajado no ofício que não consultasse ou colecionasse a revista, sendo
identificada com “testemunho de arquitetos gaúchos, jovens profissionais na virada para os
anos 1960, que dialogavam com os arquitetos paulistas sem ao menos se conhecerem,
folheando as páginas da revista; ou um estudante de arquitetura na segunda metade dos
anos 1960 que assinava a Acrópole e a consultava como se fosse um tratado da arquitetura”
(SEGAWA, 2014).
A revista caracteriza-se atualmente como uma importante fonte para pesquisadores de
várias áreas do conhecimento e com alcance multidisciplinar e, além disso, é objeto de
estudos em pesquisas realizadas em cursos de pós-graduação. Ao longo de suas edições
registrou projetos e obras de edifícios, urbanização, paisagismo, desenho industrial,
comunicação visual, arquitetura de interiores e detalhamento arquitetônico; textos teóricos,
divulgação de pesquisas, resenhas de livros e revistas e noticiário de interesse para a
categoria profissional; informes técnicos sobre sistemas construtivos, especificações de
materiais e temas relacionados ao desempenho dos edifícios. O conjunto das propagandas
veiculadas pela revista é um registro para o conhecimento do quadro industrial e tecnológico
da construção civil brasileira ao longo de três décadas.
Quando a última edição da Acrópole apareceu em 1971, havia onze escolas de arquitetura
no Brasil. A maioria dessas escolas nem existia quando o primeiro número da revista saiu
da gráfica. A FAUUSP surgiu dez anos depois da edição inaugural da revista e, se hoje se
estima o funcionamento de cerca de 270 cursos de arquitetura e urbanismo em todo o país,
consultar as edições da Acrópole em alguma biblioteca universitária pode ser considerado
um milagre. Graças ao zelo de muitos arquitetos e seus descendentes, que doaram suas
coleções, ou de pacientes aquisições em livrarias de usados, a revista repousa em acervos
no país e até no exterior. Sobrevida na maioria das vezes fragmentada, porque poucos
foram os profissionais que lograram reunir todas as edições e provavelmente nenhuma
biblioteca de escola de arquitetura as colecionou em sua íntegra, porquanto a quase
totalidade dessas instituições surgiu depois da revista. Se a Biblioteca da FAUUSP guarda
uma coleção completa da revista, isto se deve à generosidade de seus professores, ex-
alunos e outros benfeitores que permitiram realizar tal façanha (SEGAWA, 2014).
A partir do projeto realizado, a revista Acrópole em formato digital está disponível em
Website especialmente construído para permitir o acesso à coleção completa dos textos e
imagens. 2 O projeto contou com o apoio desde o seu início das herdeiras do diretor-
proprietário da revista e da Editora Max Gruenwald & Cia., Sr. Manfredo Gruenwald, cientes
da importância do legado e da disponibilização digital para o crescimento da pesquisa
científica.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
A partir do edital lançado em dezembro de 2012 pela Pró - Reitoria de Extensão e Cultura
da USP (PRCEU), tendo como uma das linhas de ação a “Preservação de Acervos e
2
Disponível em: http://acropole.fau.usp.br/
95
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3
Disponível em: http://www.prceu.usp.br/eventos/editais/
96
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4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
A partir da realização desse projeto, a Biblioteca da FAUUSP está ampliando de forma
significativa para os pesquisadores e do público geral o acesso ao acervo da revista
Acrópole, considerada pelos especialistas como um dos principais acervos de um período
significativo de desenvolvimento de novos conceitos na área de Arquitetura e Urbanismo em
São Paulo e no país.
A coleção da revista Acrópole em meio digital está disponibilizada através de Website,
Figura 1, proporcionando o acesso à coleção completa aos textos e imagens dos 391
fascículos e que representa em seu conjunto a mais de 23 mil páginas. O projeto prevê a
inserção de links nos registros indexados no Índice de Arquitetura Brasileira mantido pela
Biblioteca da FAUUSP, 4 trazendo para os usuários as facilidades de consulta e uso a esse
acervo especializado.
5
Figura 1 - Website da Revista Acrópole Eletrônica
4
Disponível em: http://143.107.16.155:88/index.htm
5
Disponível em: http://www.acropole.fau.usp.br
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maísa Fonseca de. Revista Acrópole publica residências modernas: análise
da revista Acrópole e sua publicação de residências unifamiliares modernas entre os anos
de 1952 a 1971. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
São Carlos (SP), 2008.
CIÊNCIA da informação: múltiplos diálogos. Marília: Oficina Universitária Unesp, 2009. p. 1-
3.
CUNHA, M. B. da. Para saber mais: fontes de informação em ciência e tecnologia. Brasília:
Briquet de Lemos/Livros, 2001. 168p.
HISTÓRIA, memória e patrimônio universitário. In: Simpósio de Cultura e Extensão. São
Paulo: Centro de Preservação Cultural da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
da USP, 2012.
POLÍTICAS públicas e patrimônio cultural: ensaios, trajetórias e contextos. Pelotas:
Universidade Federal de Pelotas, 2012. p.5-20.
PINHEIRO, M.L.B. A preservação documental: o desafio dos arquivos de arquitetura. In:
CASTRIOTA, L.B. Arquitetura e documentação. Belo Horizonte: IEDS; São Paulo:
Annablume, 2011. p.93-110.
SAYÃO, L.; SALES, L.F. Curadoria digital: um novo patamar para preservação de dados
digitais de pesquisa. Informação & Sociedade, v. 22, n. 3, p.179-191, set./dez. 2012.
SEGAWA, H.; DOURADO, G.M. Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo: ProEditores, 1997.
p.75.
SEGAWA, H. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2002. p.130.
SEGAWA, M.H.; CREMA, A.; GAVA, M.. Revistas de arquitetura, urbanismo, paisagismo e
design: a divergência de perspectivas. Ciência da Informação, v.32, n.3, p.120-127, 2003.
SEGAWA, H. Apresentação. São Paulo: FAUUSP, 2014. Disponível em:
http://www.acropole.fau.usp.br
SERAPIÃO, F. A vanguarda fez mal para os negócios: a história da revista acrópole.
Arcoweb, 2006. Disponível em: http://arcoweb.com.br/projetodesign/artigos/artigo-a-revista-
acropole-01-02-2006 Acesso em 17 setembro de 2014.
98
USO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA COMO
SUPORTE PARA HISTÓRIA URBANA: UMA EXPERIÊNCIA EM
BELO HORIZONTE
RESUMO
Este artigo descreve e apresenta resultados parciais de uma pesquisa acerca da história das obras
públicas em Belo Horizonte, em que são utilizados os Sistemas de Informação Geográfica para
registro, análise e visualização de dados dos Relatórios dos Prefeitos de Belo Horizonte, entre 1899 e
1930. Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) combinam a funcionalidade dos mapeamentos
assistidos por computador com o gerenciamento de banco de dados, sendo largamente utilizados no
planejamento urbano. A ideia de representar séries históricas de dados no espaço, identificando o
modo como se implantou a infraestrutura urbana de Belo Horizonte e todas as implicações que isso
põe em jogo nos levou ao chamado SIG-histórico. A incorporação da dimensão temporal aos SIG
descortina um campo de estudo mais amplo, especialmente, devido a seu potencial de visualização.
Buscamos, portanto, demonstrar aqui o potencial dos SIG no apoio às (re)construções da história
urbana.
ABSTRACT
This paper describes an ongoing research about public works in Belo Horizonte (Minas Gerais, Brazil)
and presents its first results. In this research, the Geographic Information Systems’ tools are used to
record, analyse and visualize data from the Relatórios dos Prefeitos de Belo Horizonte (1899 to
1930). The Geographic Information System (GIS) have been used in urban planning because it can
combine computer aided mapping functionalities with data management. The plotting of historical
series in space (and all implications it involves) led us to the so called historical-GIS discipline. The
embodiment of temporal dimension into GIS reveals new applications, especially due its visualization
features. We aim to demonstrate here the GIS´ potential to support urban history (re)constructions.
Keywords: GIS, Urban history, Belo Horizonte
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo apresentar os primeiros passos de uma pesquisa acerca da
história urbana de Belo Horizonte, com ênfase em obras públicas de infraestrutura, em que
testamos o uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para registro, análise e
visualização de dados dos Relatórios dos Prefeitos de Belo Horizonte, recentemente
disponibilizados em fac-simile. Neste primeiro momento, trabalhamos com dados dos
investimentos em obras de pavimentação, drenagem e redes de água e esgoto, entre 1899
e 1930, a partir do planilhamento das despesas anuais com tais obras e de seu
georreferenciamento. A visualização desses investimentos tem como referência dois
extremos: de um lado, o plano urbanístico traçado pelo engenheiro Aarão Reis, no final do
século XIX, aqui representado pela Planta Geral da Cidade de Minas (MG, 1895); e, de
outro, a Base Cadastral PRODABEL - 2010 (PBH, 2014). Complementam os mapas alguns
dados de caráter qualitativo, descrevendo e ilustrando as tecnologias e materiais
construtivos empregados nas obras, assim como os processos de trabalho e organização
dos canteiros. Além dos próprios Relatórios, tais dados primários vem sendo colhidos no
Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas Gerais e na iconografia já
catalogada por museus e outras instituições de pesquisa. Estamos, portanto, na fase
preliminar de um trabalho de longo prazo. Nessa fase inicial, enfrentamos problemas tanto
de ordem prática quanto de ordem técnica e conceitual, que serão apontados ao longo do
texto.
100
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
informações e o estado da arte dos softwares. Alguns estudos, tais como o do Denny Grade,
da área central de Seattle, (RAYMOND, 2011), o artigo Historical Maps in GIS (RUMSEY,
2002) e o Using GIS to Document, Visualize and Interpret Tokyo´s Spatial History
(SIEBERT, 2000), foram especialmente importantes na orientação de nossas experiências.
2 A PESQUISA
A pesquisa aqui apresentada vem sendo desenvolvida a partir de três projetos – Bases
Quantitativas para uma História das Obras Públicas em Belo Horizonte, Um século de Obras
Públicas: cronologia georreferenciada dos Relatórios dos Prefeitos de Belo Horizonte (1889-
2005), Iconografia das Obras Públicas em Belo Horizonte – que têm por objetivo comum a
construção de uma história das obras públicas em Belo Horizonte. A principal fonte de
dados está nos já mencionados Relatórios dos Prefeitos, recentemente disponibilizados em
fac-similes pelo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, graças a um convênio entre a
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a Harvard University e The Andrew W. Mellon
Foundation. Conforme se pode verificar nas análises subsequentes, estamos em uma etapa
preliminar, com muitos desdobramentos possíveis, tais como o georreferenciamento de
acervo iconográfico, além de outras análises espaço-temporais que envolvam dinâmicas de
uso e tendências de concentração de investimento ao longo do tempo. Também nos
interessa investigar possíveis vínculos entre a ação de grupos políticos e a localização dos
investimentos.
101
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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REDES DE Esplanada da
16 64.000,00 -19,91690 -43,93390
DRENAGEM Estação
Num segundo momento, à medida em que a transposição dos dados foi sendo concluída,
passamos ao georreferenciamento dos dados. Eles foram lançados sobre duas bases
cartográficas, uma existente – Base Cadastral PRODABEL - 2010 (PBH, 2014) – e outra
obtida a partir da vetorização da Planta Geral da Cidade de Minas (MG, 1895). O
procedimento de vetorização dessa imagem foi feito manualmente utilizando o software
AutoCAD.
Tabela 2 – Diagnóstico do material gráfico contido nos fac-similes dos Relatórios dos
Prefeitos de Belo Horizonte, entre 1899-1930
Período Data de Legibilidade (2) Registro (3)
(1)
Observações:
Prefeito
(1) Publicação 1 2 3 Sim Não
1899-1902 04/09/1902 Bernardo Monteiro
102
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Figura 2 – Superposição do mapa do projeto de Aarão Reis com mapa de expansão urbana
(de 1900 a 2007)
Fonte: Elaborado pelos autores sobre Base Cadastral PRODABEL - 2010 (PBH, 2014)
103
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Figura 3 – Obras públicas realizadas pela Prefeitura de Belo Horizonte entre 1889 e 1902
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Relatório de 1902 (PBH, 1902)
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Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Relatório de 1920 (PBH, 1920)
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Fonte: Elaborado pelos autores, sobre Base Cadastral PRODABEL - 2010 (PBH, 2010)
3 CONCLUSÃO
Para além dos dados quantitativos e de seu georrefereciamento, extraímos dos relatórios
informações acerca das tecnologias construtivas empregadas nas obras públicas, das
formas de contratação de serviços, de organização e remuneração do trabalho, dos
empreiteiros e suas especialidades etc., tal como se observa no exemplo do comentário
abaixo, acerca dos tipos de pavimentação.
A natureza do calçamento varia conforme a declividade da rua; é assim que
temos: alvenaria mais ou menos cuidada, macadam e simples
encascalhamento […] Fiz empregar simples encascalhamento e macadam
nas ruas de declividade inferior a 5%, não dispensando neste caso as
sargetas laterais de alvenaria; nas ruas com declividade superior a 5% fiz
adotar o calçamento de alvenaria mais ou menos cuidada. Em um outro
ponto de maior trânsito foi adotado o calçamento de paralelepípedos de
granito. (PBH, 1908, p.23)
Figura 6 - Calçamento da Rua Professor Moraes, na esquina com Rua Tomé de Souza, em
1929.
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A análise desses dados podem indicar resultados propícios a serem verificados em futuros
trabalhos específicos. Por exemplo, com base nesses extratos, podemos inferir que as
técnicas empregadas para os serviços de pavimentação caracterizam-se como trabalho
intensivas. Tal fato dá margem à suposição, por um lado, da existência de mão-de-obra
abundante naquele momento e por outro, de que tais tipos de serviços eram estruturantes
da economia local. De qualquer forma, importa observar também que a justificativa para
seleção da técnica construtiva busca argumentos em critérios econômicos e em critérios
técnicos de caráter higienista, legitimadas por experiências realizadas em outros países.
A macadamização que já tem sido largamente usada em Belo Horizonte,
tem hoje o seu emprego em alguns países cada vez mais generalizado,
principalmente para a incorporação de materiais betuminosos ou asfálticas
que lhe dão maior coesão e evitam um dos seus maiores inconvenientes
que é a poeira. Sobre o assunto muito se tem escrito e numerosas
experiências têm sido feitas na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde a
macadamização alcatroada tem tido maior aplicação. Nesse último país o
Office of Public Roads, subordinado ao Ministério da Agricultura, nas suas
publicações tem consignado os resultados dessas experiências e indicado
regras seguras sobre as melhores condições de aplicação desse
revestimento nas vias públicas. Nas condições indicadas a resistência do
macadam é bastante aumentada, podendo ser empregado mesmo em ruas
de maior movimento, como no nosso próprio país já se tem feito com
sucesso. As ruas assim revestidas, com uma conservação regular, têm uma
duração relativamente longa, são silenciosas e asseadas [...] Tem sido
empregado principalmente o cascalho natural retirado de bancos existentes
em diversos pontos da cidade o qual entretanto sem o alcatroamento tem
ainda o inconveniente de, com o trânsito continuado, produzir algum pó [...]
Em condições normais e o serviço estando organizado o preço da
macadamização não vai além de $800 reis, o metro quadrado com cascalho
natural e 1$500 reis, fazendo uso de pedra britada, incluindo a compressão
e a irrigação. (PBH, 1919, pp.9-10)
Como já dissemos na introdução deste artigo, nossa principal intenção neste momento é a
de colocar em discussão as possibilidades de utilização do SIG na pesquisa histórica.
Esperamos ter demonstrado suas capacidades em operar diferentes padrões espaciais com
base em categorias únicas ou combinadas, dispostas ao longo de um período determinado,
dando margem assim a análises diacrônicas, e também em períodos específicos de tempo,
desse modo, permitindo análises sincrônicas. Com isso, tanto os mapeamentos como sua
interpretação, como vimos nos exemplos de Belo Horizonte, tornam-se processos de
descoberta e atribuição de significado de grande valia para a história urbana.
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AGRADECIMENTOS
Este texto foi possível graças ao apoio da PRPq-UFMG e do CNPq.
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FERRAMENTAS DIGITAIS NA CONSERVAÇÃO DO ART DÉCO
Fábio Lima
UNB / UFG
arqfabiolima@gmail.com
RESUMO
Os edifícios históricos podem nos comunicar uma grande quantidade de informações e fundam numa
determinada comunidade um sentido de origem, assim como certas qualidades singulares de
identidade. O patrimônio art déco de Goiânia, surgido principalmente como caráter simbólico de poder
e progresso, requer considerações atentas, pois a arte ali desenvolvida não é simples resultado da
composição funcional de volumes, nem muito menos uma decoração de superfície. Esses edifícios de
inegáveis valores culturais podem ser investigados para fins de melhores adequações urbanas,
acompanhamento e restauro, escopos para aprendizado, onde as tecnologias digitais contribuem
decisivamente na conservação desse patrimônio art déco.
Palavras-chave: Conservação. Arte Edificada. Ferramentas Digitais.
ABSTRACT
Historic buildings can communicate a lot of information and fuse in a community a sense of origin, as
well as certain natural qualities of identity. The Goiânia’s art deco patrimony, emerged primarily as
symbolic character of power and progress, requires attentive consideration, because the art is not
there developed simple result of the functional composition of volumes, much less decorated surface.
These buildings undeniable cultural values can be investigated for the purpose of better urban
adjustments, monitoring and restoration, scopes for learning, where digital technologies contribute
decisively to the conservation of this patrimony art deco.
Keywords: Conservation. Built Art. Digital Tools.
1 INTRODUÇÃO
Os edifícios históricos são sempre referenciais nas experiências dos moradores da cidade.
Não são importantes apenas por caracterizar uma determinada expressão construtiva ou
artística, mas porque permitem constatar o passado daquela população, assinalando certas
bases específicas do lugar e possibilitando reconhecer seus vestígios. A visão de patrimônio
é assim, aquela que corresponde o modo como uma comunidade assume seu tempo
passado, em bases sob as quais erigiram sua identidade (CHOAY, 2001).
Os edifícios art déco de Goiânia, por exemplo, reafirmam essa trajetória antiga, um
testemunho material através de um conjunto de condições adversas que acabaram por
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culminar nas suas características. Ao mesmo tempo em que pode revelar uma visão de
época, o edifício histórico suporta abrir um universo muito profundo de coisas a serem
refletidas. Nas percepções gerais do espaço, por exemplo, as especificidades dos
raciocínios espaciais, as tecnologias empregadas, as condições expressivas, materiais
utilizados, etc., além de um passado que não se pode mais restituir e torna-se alvo de busca
arqueológica. Ademais, outros aspectos incertos surgem para garantir a preservação, ao
programar novas funções: como se dá a alocação de novas funções frente ao presente tão
desigual?
Os edifícios inscrevem assim numerosas dúvidas, e elas servem para assinalar problemas:
procura-se lançar mão de estratégias e novas perspectivas para valorizar e conservar esse
patrimônio. Desse modo, quais ferramentas nos estão disponíveis atualmente para que
essas tarefas possam ser desempenhadas satisfatoriamente? Como vivemos um período de
revolução das tecnologias, como elas podem ampliar o campo das estratégias de
conservação nas suas mais diversas qualidades?
Esses questionamentos podem ser subsidiados por autores que discutem questões do
patrimônio, como Françoise Choay (2001), Celina Manso (2004), Wolney Unes (2001),
Gustavo Coelho (2004). Como são indissociáveis do campo social, os conceitos de Maurice
Halbwachs (2006) e James Clifford (1916) fundam referências importantes também. Já as
críticas no uso das ferramentas digitais são desenvolvidas a partir de Manuel Castells
(1999), Arlindo Machado (2000) e outros, criando interlocuções produtivas entre as várias
abordagens desses autores.
Os objetos arquitetônicos de valor histórico, como os edifícios art déco de Goiânia, são
fundamentais porque podem ser considerados objetos únicos, frágeis como uma peça de
arte digna de investigação, repletos de significados a serem reconhecidos. E aí talvez um
dos maiores desafios seja porque que não são conservados num museu, mas nos “circuitos
da vida” (CHOAY, 2001). No contexto urbano, ainda que distanciados pelos valores com que
foram edificados num determinado tempo, não deveriam se tornar estéreis, pois estão
sempre permeados por diferentes dinâmicas e complexidades da vida em geral.
Assim, muitas das referências possibilitadas pelos edifícios parecem nostálgicas, um tempo
que não se pode restituir, mas que as pessoas insistem capturar como fragmento, como
memória coletiva (HALBWACHS, 2006), ou parte de uma identidade não tão fácil de ser
reconhecida. Trazer esse passado à tona às vezes pode ser como olhar uma fotografia
antiga e nela não se reconhecer. Uma imagem desgastada pelo tempo que foi implacável
nas suas investidas e corroeu sua aparência. Ver aquela imagem antiga é buscar um
resquício, uma parte de nós que ainda é possível se transportar, por ainda sermos capazes
de nos enxergar nela.
110
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1
“…identity, whether cultural or personal, presupposes acts of collection, gathering up possessions in arbitrary
systems of value and meaning. Such systems, always powerful and rule governed, change historically”
(CLIFFORD, 1916, p.96).
2
“All such collections embody hierarchies of value, exclusions, rule-governed territories of the self. But the notion
that this gathering involves the accumulation of possessions, the idea that identity is a kind of wealth (of objects,
knowledge, memories, experience), is surely not universal” (CLIFFORD, 1916,p.96).
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suspeito: uma arte turística, uma curiosidade, um exemplo exótico ou excêntrico e que,
desse modo, são da ordem do inautêntico.
Esse sistema de produção arte-cultura desenvolve uma forma de negação entre quatro
zonas semânticas cujos sentidos mais próximos podem estar derivados do autêntico,
inautêntico, da obra de arte e do artesanato. Assim tem-se a zona das obras autênticas (1),
dos artefatos autênticos (2), das obras primas inautênticas (3) e dos artefatos inautênticos
(4) (CLIFFORD, 1916). O esquema é demonstrado e toda sua parte superior é dessa ordem
do verdadeiro, genuíno ou legítimo. A noção de autêntico é também, em outras palavras, a
de maior valia, aquilo que adquire força simbólica adequada nas condições do mercado e
igualmente dos valores patrimoniais necessários reconhecer. Essa discussão tomou
repercussões entre autores bastante respeitados, como Jacques Le Goff, Stuart Hall,
Françoise Choay, pois com a expansão dos negócios no tempo presente, as fronteiras
tornaram-se cada vez menos diferenciáveis e
os produtos técnicos da indústria adquiriram os mesmos privilégios e
direitos à conservação que as obras de arte arquitetônicas e as laboriosas
realizações da produção artesanal (CHOAY, 2001, p.209).
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Como o art déco se acentua na conformação de volumes puros, a maioria dos edifícios de
Goiânia não era (e continua não sendo) muito reconhecido pelas pessoas. Um dos edifícios
mais representativos desse período, a Estação Ferroviária, representava uma possibilidade
de rápida transposição de fronteiras, pelo encurtamento de distâncias e a visualização de
um ambiente geográfico simplificado, não somente em voga pelo uso das tecnologias das
comunicações via rádio, como também pelos automóveis e trens (UNES, 2001).
Nas nossas atuais circunstâncias contemporâneas, é cada vez mais improvável pensar a
produção arquitetônica sem a presença das tecnologias digitais, sejam elas fotografias,
vídeos, maquetes virtuais, ambientes virtuais imersivos, etc. De modo geral, os recursos
tecnológicos vêm sendo utilizados extensivamente no planejamento, criação,
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Por outro lado, em relação às maquetes digitais, são capazes de possibilitar raciocínios
espaciais mais complexos, além de simulações tridimensionais para tomadas de decisão
mais acertadas. Os computadores acrescentam interessantes valores às representações
espaciais, para além das qualidades de uma perspectiva, porque os pontos de vista não são
fixos, ofertando assim visões mais dinâmicas da apreensão espacial (ver Figura 5).
Apesar das inúmeras facilidades proporcionadas pelas ferramentas digitais, muitas ainda
são percebidas com desconfiança pelos arquitetos. De modo geral elas cumprem diferentes
exigências de especialização requeridas pelas problemáticas projetuais: propiciam não
apenas os enfoques desses problemas, mas também a avaliação, o diagnóstico, o controle
de qualidade. Por outro lado, a importância dada não é centrar-se na tecnologia em si, mas
no modo como seus benefícios são apropriados à conservação do patrimônio histórico, onde
seus recursos são desejáveis e pertinentes. Nesse sentido, a enumeração de alguns desses
recursos úteis (que não são exclusivos na conservação desse patrimônio), ajudam no
melhor encaminhamento das diversas exigências de projeto:
Além disso, os edifícios podem ser reconstituídos, possíveis mudanças podem ser
simuladas, suas organizações ou disposições podem ser testadas sob qualquer ângulo. Pois
“...uma preocupação primordial na definição da identidade [de um edifício] deve ser a
manutenção, em certa medida, de seu passado arquitetônico e urbanístico (MANSO, 2004,
p.23). Muito em breve os administradores da cidade irão contar com todos esses recursos e
fazerem seus estudos sobre os impactos de modo mais consciente. Poderão realizar
inspeções, discutir com a população, atuar em conjunto de equipes multidisciplinares.
Assim, o patrimônio cultural é identificado com um conjunto de valores atribuídos num
sentido amplo, não especificamente nas manifestações e objetos em si, mas na dinâmica
destes como sentido de vida (CHOAY, 2001). As ferramentas digitais permitirão, cada uma
dentro de suas especificidades, aprofundamentos para investigar características e
expressões individuadoras constituintes da identidade local, muitas vezes negligenciadas
pelo poder público e pela população em geral.
116
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas últimas décadas a preservação do patrimônio cultural ganhou importância como
assunto relevante no contexto das cidades, bem como nos projetos de governo. Esses
edifícios sempre representaram diferentes graus de interesse tanto pelo poder público
quanto pela população.
De modo geral, as cidades só podem ser descritas quando falam dos seus espaços por
meio dos monumentos, dos símbolos que nelas podem ser reconhecidos por uma grande
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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REFERÊNCIAS
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UNES, W. Identidade art déco de Goiânia. São Paulo, Ateliê Editorial; Goiânia, Ed. da
UFG, 2001.
118
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PROGRAMAS PARA RESTITUIÇÃO
FOTOGRAMÉTRICA PHOTOMODELER E ORTHOWARE
RESUMO
A evolução de programas para Fotogrametria Digital, com algoritmos mais sofisticados, redução dos
custos desses softwares; de equipamentos; do tempo de processamento dos dados e de mão-de-
obra possibilitou a realização do levantamento de monumentos ou edifícios por uma equipe pequena
e em um curto espaço de tempo. Este artigo aborda as definições e etapas básicas da Fotogrametria
a curta distância, compara dois programas comerciais, o PhotoModeler Scanner 2012 e o Orthoware
para restituição fotogramétrica e, finaliza, apresentando o resultado de um experimento, para geração
de ortofotos de fachada plana, realizado com cada uma das ferramentas.
Palavras-chave: Fotogrametria Digital. Ortofoto. PhotoModeler. Orthoware.
Abstract
The evolution of Digital Photogrammetry programs, by using sophisticated algorithms, cost reduction
of this kind of software, as well as of the equipment involved , the time spent in processing such data
and the work force involved, has enabled that the building of monuments and buildings could be
accomplished by a reduced staff and in less time than usual. This article addresses the definitions and
basic phases of close range Photogrammetry, it compares two commercial programs: PhotoModeler
Scanner 2012 and Orthoware, which are used for photogrammetric restitution. The article ends with a
presentation, which offers results of an experiment about plain facades orthophotos made with one of
these tools.
Keywords: Digital Photogrammetry. Orthophoto. PhotoModeler. Orthoware.
1 INTRODUÇÃO
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Nesse artigo são explicadas as definições e etapas básicas sobre Fotogrametria a curta
distância e comparados os programas PhotoModeler Scanner 2012 e Orthoware, na
obtenção de produtos fotogramétricos. A partir dos testes realizados são discutidos os
resultados obtidos e analisadas as potencialidades de ambas as ferramentas.
2 FOTOGRAMETRIA
1
A Fotogrametria pode ser definida, atualmente, pela International Society of Photogrammetry and Remote
Sensing (ISPRS) como a arte, ciência e tecnologia de se obter informação confiável de imagens a partir de
sensores imageadores e outros, sobre a Terra e seu meio ambiente, e de outros objetos físicos e processos
através de gravação, medição, análise e representação.
2
Distância focal, ponto principal, três parâmetros para distorção radial (K1, K2 K3) e dois parâmetros para
distorção tangencial (P1, P2).
120
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convergentes, tendo em vista ser o princípio de restituição empregado nos algoritmos dos
programas analisados.
No modelo de restituição convergente a determinação das coordenadas dos pontos do
objeto no espaço tridimensional, será estabelecida pela intersecção dos raios que partem
da representação do ponto na imagem, passam pelo centro de projeção e atingem o objeto.
A precisão do processo e a orientação das imagens dependerão do tamanho do pixel da
imagem, escala da foto e distância entre as posições da câmera (KOCH; KAEHLER, 2009).
Nessa etapa, o objeto é fotografado a partir de (no mínimo) três ângulos diferentes (um
ortogonal e dois oblíquos), para que se possa processar a restituição de cada ponto de
interesse. Grussenmeyer (2002) recomenda que as tomadas fotográficas sejam feitas de
maneira que se tenha cobertura total do objeto; que a geometria interna da câmera seja
constante (distância focal fixa); sejam elaborados croquis da fachada mostrando seus
principais elementos; e seja medida uma distância entre os pontos que serão usados para a
correção da escala do modelo de restituição.
De acordo com Wojtas (2010) a precisão em um levantamento depende de vários fatores,
entre eles: imagens com resolução maior permitem a localização mais precisa dos pontos;
quando os parâmetros internos da câmera são conhecidos resultam em intersecção mais
exata dos raios e mesmo quando a captura das fotografias é feita com tempo de exposição
menor (velocidade maior do obturador), deve-se utilizar o tripé para evitar vibrações e
alteração na nitidez da imagem.
A etapa seguinte, realizada em escritório, é o processamento dos dados a partir das
informações coletadas em campo (fotografias) onde, utilizando programas específicos para
restituição fotogramétrica, é feita a geração do modelo geométrico. As fotografias são
carregadas no programa, são informados os parâmetros da câmera (orientação interna), e
são identificados os pontos homólogos para a orientação das fotos (orientação externa).
Conforme visto em Mikhail (2001), a orientação externa tem como função estabelecer o
feixe de retas, resultante da orientação interna, determinando a posição e rotação da
câmera referenciada ao sistema de coordenadas do espaço objeto. A partir desse ponto, os
algoritmos do programa já possuem condições de calcular a restituição do objeto.
A última parte do processo é a orientação absoluta do modelo; nessa etapa se estabelece a
relação entre o sistema de coordenadas do espaço do modelo e o sistema de coordenadas
do espaço objeto, através da correção da escala do objeto (utilizando a medida tomada no
levantamento) e determinação dos eixos (x, y e z) a partir de duas direções bem definidas
nas fotos. Assim, com o modelo geométrico do objeto restituído a partir das fotos, é possível
gerar e exportar os produtos desejados.
Os experimentos aqui descritos aplicam-se ao levantamento de fachadas planas3 e para tal
foram utilizadas fotografias do centro histórico da cidade de Mucugê na Chapada
Diamantina - Bahia, localizada a 480 km de Salvador.
Vários são os programas disponíveis para utilização em Fotogrametria 4, cada um com suas
especificidades e peculiaridades. Para esse trabalho foram escolhidos o PhotoModeler
Scanner, por se tratar de um programa existente desde a década de 1990, tendo sua
3
Qualquer uma das faces de uma edificação onde os principais elementos de sua composição se encontram
praticamente um único plano, ou seja, as profundidades dos elementos podem ser desprezadas sem que
ocorram erros significativos.
4
ZScan (Menci Software), Z-Map (Menci Software), UMap (Menci Software), Photomodeler Scanner (EOS
System), Orthoware (Metria Digital S.L.), Image Master (Topcon), Photoscan Pro (Agisoft), Image Modeler
(Autodesk), entre outros.
121
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O PhotoModeler Scanner foi desenvolvido pela empresa canadense EOS System Inc.,
sendo indicado, conforme informações do fabricante, como ferramenta de modelagem em
arquitetura, preservação, conservação e aplicação em gestão de recursos culturais,
gerando modelos geométricos, com ou sem texturas, fotos retificadas, ortofotos, entre
outros, que podem ser exportados em diversos formatos.
É necessário identificar a forma do objeto marcando sobre a imagem suas feições e a
seguir a identificação dos pontos homólogos nas várias imagens para orientação é feita de
maneira interativa, pelo operador, enquanto a orientação interior (calibração da câmera) é
automatizada. Somente após esses procedimentos, pode-se gerar o modelo geométrico do
objeto.
Para esse processo o programa fornece duas opções de folhas de calibração disponível,
para impressão, através do menu File – Print Calibration Sheet (Single Sheet Calibration e
Multi Sheet Calibration). As folhas de calibração são fotografadas conforme as instruções
do programa, as fotos são carregadas e os pontos homólogos são identificados
automaticamente nas diversas imagens, fornecendo assim o arquivo de calibração do
conjunto, câmera e lente, que será utilizado posteriormente na restituição fotogramétrica.
Para validar a qualidade dessa calibração é importante que sejam verificados os valores de
alguns aspectos como: Last error - menor do que 1, Máximo RMS (Root Means Squared) -
menor que 0,5 pixel, Máximo residual - menor do que 1,5 pixels, sendo ideal 1 pixel. Esses
parâmetros estão disponíveis no relatório Project Status Report (Menu Project).
5
Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho – FAUFBA.
122
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3.1.2 Restituição
As fotografias da fachada são carregadas no programa e, para se obter a orientação
externa, é necessário identificar os pontos homólogos em pelo menos duas fotos; na
maioria dos casos após a identificação de seis pontos homólogos já é possível realizar a
orientação das fotografias. Quando a fotografia está orientada, apresenta o símbolo ( ) no
canto superior direito da imagem. A partir disto, são criadas as superfícies e é feito o
processamento para geração do modelo geométrico, já com as texturas reais obtidas
através das fotos, conforme a Figura 1.
A próxima etapa é a correção da escala e orientação do modelo, realizada através da
identificação de dois pontos que atendam aos seguintes critérios: estejam visíveis em várias
fotos e localizados em uma direção horizontal ou vertical bem definidas. É importante se
verificar a qualidade dos pontos e os erros residuais, um levantamento com uma qualidade
alta teria um residual máximo de 1,0 pixel, mas essa precisão pode ser afetada por fatores
como a qualidade da calibração da câmera, os ângulos entre as tomadas fotográficas e
qualidade da orientação da foto (PhotoModeler, 2014). Com a conclusão de todas essas
etapas a ortofoto é gerada.
3.2 Orthoware
O programa Orthoware é desenvolvido pela empresa espanhola Metria Digital, sendo
comercializado a partir de 2008. Segundo informações constantes no manual do usuário,
permite a geração de ortofotos de maneira simples e fácil. Foi desenvolvido para maximizar
o potencial da Fotogrametria digital, a partir de fotografias convergentes, empregando
algoritmos avançados para a produção de resultados precisos e com maior grau de
automação. Isto contribui para a simplificação do processo como um todo, de modo a torna-
lo mais rápido.
O fluxo de trabalho consiste em carregar as fotos no programa, relacionar os pontos
homólogos (Figura 2a) nas imagens, o que pode ser feito manualmente, ou através de um
processo automatizado, onde o próprio sistema através de algoritmos, analisa as
características de uma imagem e as relaciona com os pontos homólogas nas imagens
restantes formando pares de pontos com precisão de 1-3 pixels (MARTOS et al., 2008).
Para a orientação interna não é necessário o arquivo de calibração da câmera, pois o
sistema utiliza os parâmetros obtidos através do arquivo EXIF (padrão para armazenamento
de metadados com as configurações da câmera na captura da imagem) e os pontos
homólogos, sendo que a qualidade dependerá da maneira como foi feita a correlação
desses pontos. Essa calibração pode ser única para todas as fotografias ou várias
calibrações para cada uma das fotografias. É importante ressaltar que é necessário um
mínimo de oito pontos homólogos, em pelo menos três fotos, para que se possa executar a
orientação.
123
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Após executar a orientação, é necessária a validação de sua qualidade o que pode ser feito
através das tabelas 3DPoints Form e Image Status Form disponíveis no menu View –
Forms. Devem ser verificados os valores dos seguintes parâmetros: Photo/Points (V) -
mínimo 2, ideal 3 ou mais pixels, Mean Residual - máximo 3 pixels, Residual Max - máximo
5 pixels, Max. Angle - valor mínimo 30º, Coverage (Image Status Form) - 80%.
Após a orientação, é gerada uma nova viewport (3DScene) onde são mostrados os pontos
no espaço e o posicionamento da câmera nas tomadas fotográficas (Figura 2b).
(a) (b)
Fonte: Restituição no Orthoware gerada por Andrea Bastian, 2014.
Rectification plane
Clipping plane
Projection plane
124
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4 ANALISE DE RESULTADOS
Para o estudo comparativo entre os dois programas, foram utilizadas três fotografias (Figura
4), obtidas com câmera digital Nikon D300, resolução 4288 x 2828 pixels, sensor CMOS
de 23,6 x 14,8 mm, e utilizando objetiva de 12 mm de distância focal nominal. A seguir
serão comparados os programas a partir dos tópicos descritos anteriormente.
A interface gráfica é essencial para comunicação entre operador e máquina, tornando mais
fácil o aprendizado e a utilização do sistema, influenciando na produtividade. É considerada
amigável quando existe facilidade de uso e aprendizado, possui uma taxa de erro mínima e
é de fácil recordação (LUCENA, 1994). Também devem ser considerados os recursos
mínimos de hardware e do sistema operacional, exigidos pelas ferramentas. O Quadro 1
mostra a comparação entre os dois programas.
6
Fonte: www.photomodeler.com/kb/entry/21/ e www.orthoware.es/eng/orthoware.asp. Acesso em: jul. 2014.
125
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As etapas de trabalho em cada uma das ferramentas estão listadas no quadro a seguir
O fluxo de trabalho difere nos dois programas, para a identificação dos pontos homólogos. O
Orthoware possui a vantagem de permitir a identificação automática de pontos através da
ferramenta Image Features – Find Features e pares de pontos (Pair Features) sem que
antes as imagens sejam orientadas. Vale observar que essa ferramenta requer um ângulo
de aproximadamente 15º entre as tomadas fotográficas. Na geração do modelo geométrico
após a identificação dos pontos homólogos, o PhotoModeler produz um modelo de aresta
com opção de textura, enquanto que no Orthoware existe a necessidade de criação de
superfícies.
A exportação da ortofoto é feita de maneira mais direta no PhotoModeler, sem necessidade
de muita interação do usuário, já no Orthoware é necessário a definição de alguns
parâmetros para exportação do produto desejado.
126
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Uma grande dificuldade encontrada na utilização das duas ferramentas foi a geração da
superfície do telhado com textura. Comparando-se as ortofotos geradas pelos dois
programas, conforme Figura 5a, no processo de geração da superfície (Rectification Plane)
utilizado no Orthoware, as distorções de perspectiva foram mantidas, sendo eliminadas
somente com a geração de superfície através de malha (Mesh) (Figura 5b). Como observa-
se na Figura 5c, no caso do PhotoModeler, a textura do telhado foi perdida. O problema na
qualidade da textura pode ser atribuído a utilização de um número reduzido de fotografias.
Figura 5 – Ortofoto Orthoware - Rectification Plane (a) Mesh (b) PhotoModeler (c)
Para comparar a precisão dos resultados, as ortofotos geradas nos dois programas, foram
importadas no AutoCAD 2014, realizada a vetorização interativa e comparada a precisão a
partir de uma dimensão tomada na etapa de levantamento em campo (Figura 6).
Outro ponto importante na comparação das ferramentas, não considerado nesse trabalho, é
o tempo dispendido com a utilização dos programas, variável que intervem no custo do
processo como todo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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REPRESENTAÇÃO DA OBRA DE ANDREA PALLADIO COM O
USO DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS
RESUMO
O presente trabalho apresenta o uso de modelos computacionais tridimensionais para documentar a
obra do arquiteto renascentista Andrea Palladio. A contribuição original fica por conta da
documentação de doze obras residenciais por meio de maquetes computacionais. Na bibliografia
sobre Palladio, poucos são os estudos que apresentam reconstruções tridimensionais completas de
alguma obra. Ao apresentar a reconstrução tridimensional de um número significativo de obras, o
presente trabalho contribui para o registro da obra de Palladio e elabora um panorama gráfico
quantitativo que pretende tornar explícitos determinados aspectos do processo de projeto, os quais
dificilmente seriam alcançados pelo recurso textual. A reunião de informações para o trabalho teve
início com uma pesquisa documental, que buscou a documentação técnica, junto a documentos
originais e reproduções. De posse dos documentos, as obras selecionadas foram reconstruídas de
modo bi e tridimensional. O uso do software SketchUp foi considerado apto para fins de modelagem
nesta pesquisa, por sua facilidade de manuseio e pela agilidade nos modelos tridimensionais
gerados. A representação dos edifícios por meio de modelos tridimensionais possibilitou o
entendimento espacial e formal dos projetos. Com o modelo tridimensional do conjunto foram
observados aspectos relativos à implantação dos edifícios e da volumetria dos espaços internos.
Palavras-chave: Modelos tridimensionais. Arquitetura residencial. Andrea Palladio.
ABSTRACT
This work presents the use of three-dimensional models to document the work of Renaissance
architect Andrea Palladio. The original contribution is on account of twelve residential buildings
through computational models. In the literature on Palladio few studies feature full three-dimensional
reconstructions of the works. At present the three-dimensional reconstruction of a significant number
of works, this paper contributes to the record of the work of Palladio and produces a quantitative
graphical overview that aims to make explicit certain aspects of the project that would hardly be
achieved with textual resources. The work began with the documentary research, which sought the
technical documentation - original documents and reproductions. With the documents, the selected
works were rebuilt in bi and tri dimensional way. Using the SketchUp software was deemed suitable
for modeling purposes in this research, for their ease of handling and agility generated three-
dimensional models. The representation of buildings by three-dimensional models enabled the
understanding of the spatial and formal designs. With the three-dimensional model of all aspects of
the layout of buildings and volume of the internal spaces were observed.
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1 INTRODUÇÃO
A leitura de edifícios através de modelos tridimensionais computacionais vem sendo
utilizada para estudar projetos e ou objetos arquitetônicos de determinados estilos ou de
autoria específica de um arquiteto (Alvim, 1999; Lancha, 2010; Tagliari, 2012; Costa, 2011).
Um módulo tridimensional pode ser utilizado para representação e simulação do aspecto
externo e interno do espaço,
bem como para simulação e análise do espaço do ponto de
vista funcional, formal, estrutural, térmico, acústico e luminoso. Esses recursos têm
incentivado e renovado o interesse acadêmico e profissional em utilizar a modelagem
tridimensional para registro e estudo da arquitetura e do patrimônio arquitetônico. São
trabalhos que, sob diversos aspectos, corroboram o potencial de se construírem, a partir do
instrumental gráfico, diálogos e aproximações entre os campos da teoria, da prática
projetual e da crítica. Entende-se que os modelos podem fornecer dados mais claros sobre
os projetos que estão ‘ocultos’ nos textos e nas representações gráficas bidimensionais.
A modelagem tridimensional de edifícios históricos constitui um novo campo de
conhecimento, que vem atuando como uma importante ferramenta para a representação do
passado. O presente trabalho investiga o uso de modelos computacionais tridimensionais
para documentar a obra do arquiteto renascentista Andrea Palladio. A contribuição original
fica por conta da documentação de doze obras residenciais por meio de maquetes
computacionais. Na obra de Palladio, esse método possibilita compreender e comparar
visualmente desenhos e imagens, além de analisar mutações e repetições, na busca de
novos significados, leituras e interpretações.
Salienta-se que, na bibliografia sobre Palladio, inexiste documentação gráfica completa das
obras. Os registros existentes limitam-se a apresentar os projetos com desenhos
bidimensionais, muitas vezes retratando apenas as plantas baixas dos pavimentos e os
cortes (Zorzi, 1969; Burns, 1975; Lewis, 1981). Poucos são os estudos que apresentam
reconstruções tridimensionais completas de alguma obra.
A metodologia adotada na pesquisa envolveu a produção de plantas, cortes e elevações, a
partir das quais foram executadas as representações tridimensionais da volumetria externa
e do espaço interno, utilizando o software SketchUp.
Através da execução dos modelos é realizada a leitura do espaço interno, visando verificar a
presença de modulações, malhas, eixos, progressões numéricas e outros artifícios que
caracterizem o intento de coordenar o projeto por meio de parâmetros vinculados à tradição
clássica, como proporção e simetria. Analisa-se a variedade formal das unidades a partir do
tipo de forro – se plano, abobadado ou composto – e de sua altura – se simples ou dupla–.
Observa-se a relação entre as medidas nos planos vertical e horizontal, procurando uma
possível correspondência entre as relações dimensionais e formais dos espaços. Pela
análise dos planos de base e de cobertura, também se procura verificar a experiência
espacial gerada nos edifícios.
131
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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ressaltado do volume. Dentro dessa ‘malha espacial’, se desenvolve o discurso das partes e
a relação entre largura, comprimento e altura, estabelecida no interior de cada um dos
cômodos e entre um cômodo e outro.
Essas residências conquistaram a estima de seus contemporâneos e dos pósteros, a ponto
de um grande conjunto delas ser hoje Patrimônio da Humanidade da UNESCO. O grande
número de projetos do mesmo gênero, elaborado por um arquiteto tão significativo para a
história e prática da arquitetura, suscita a curiosidade e a necessidade de um levantamento
mais apurado dessa produção.
Parte dessa produção é apresentada, por meio de textos e desenhos, no segundo livro do
tratado Il quattro libri dell’architettura. Além dos desenhos disponibilizados no tratado,
Palladio produziu muitos outros que não foram publicados, os quais apresentam tanto
esboços das fases iniciais como propostas definidas.
O conteúdo dos desenhos se limita a definir, da maneira mais completa, o objeto físico, não
o meio ambiente ou o entorno imediato, nem as qualidades espaciais ou a imagem visual a
partir de determinado ponto de vista. São desenhos mensuráveis em suas verdadeiras
dimensões, sem alteração de ângulos. Trata-se, acima de tudo, de desenhos arquitetônicos
sujeitos a precisas convenções que estavam sendo definidas no Renascimento (plantas,
fachadas, cortes e detalhes), evitando qualquer outro tipo de imagem que distorcesse o
objeto ou o desvirtuasse de sua função arquitetônica. A grande quantidade de imagens no
tratado mostra que o arquiteto estava profundamente convencido da eloquência e da
prioridade das imagens para entender a arquitetura, superior a qualquer outra forma de
explicação discursiva.
Das vinte e três villas constantes no segundo livro do tratado, seis são edificações isoladas:
villas Capra, Cornaro, Foscari, Pisani Montagnana, Sarego Miga e Valmarana Lisiera.
Nesses casos, o volume central destina-se à casa patronal, cujo formato varia de acordo
com a configuração do pórtico de entrada, que pode estar incorporado ao volume da
residência, ressaltado ou recuado. Dezessete projetos apresentados no segundo livro
possuem, além da casa patronal, alas destinadas às atividades de serviço. As villas com
alas introduzem novas variantes, a partir da inserção destes elementos que podem ser
retos, curvos, em ‘L’, ‘U’ e formando pátios fechados. O volume da casa patronal situava-se
sempre no centro da composição, disposto junto ao eixo longitudinal de simetria e podendo
estar alinhado à frente ou atrás das alas. Alas posteriores poderiam justificar a presença de
um segundo pórtico, na parte de trás do volume.
A casa di villa admite, como prerrogativa inicial, duas formas de subdivisão tripartida da
planta. A primeira ocorre em sentido vertical, que determina um espaço central e duas alas
laterais simétricas. Nesse espaço central, é situada a loggia e a sala central; as duas alas
laterais recebem apartamentos com número igual de cômodos. A outra subdivisão ocorre no
sentido horizontal do bloco e estabelece quatro faixas, correspondentes aos cômodos
laterais e ao pórtico, quando ressaltado do volume. Além disso, ocorre no sentindo da altura
da casa, que geralmente tem três níveis: semienterrado ou ao nível do solo, piano nobile e
depósito de grãos. Segundo Lancha (2010, p.223), dentro dessa ‘malha espacial’,
desenvolve-se o discurso das partes e a relação entre largura, comprimento e altura,
estabelecida no interior de cada um dos cômodos; entre um cômodo e outro; de todos com o
volume inteiro edificado.
Seis partes respondem pela composição da planta da casa di villa: 1.sala central;
2.cômodos laterais (stanze); 3. galeria (loggia); 4. escada interna e externa; 5. nível
semienterrado; 6. celeiro. No centro da composição está disposto o espaço principal da
residência, a sala, ligado ao pórtico de entrada e circundado por espaços privados,
destinados ao proprietário da residência e sua família. Nas laterais, também estão as
escadarias de acesso ao pavimento base, destinado ao serviço; ao mezanino, reservado
aos depósitos; ou ainda ao segundo andar, destinado aos apartamentos e às salas de
dormir.
132
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A loggia ou pórtico é um espaço de grande importância para a villa, por ser o primeiro lugar
de acesso à casa de villa. Seu uso é muito flexível: funciona como recepção de empregados
e visitantes. Através dela se faz a distribuição ao interior da casa e, como refere Palladio, é
também um lugar para passear e fazer refeições (Palladio, 1997, Livro I, cap. 21, p. 56).
Poderia servir como passagem, ligando partes adjacentes da edificação, e estar posicionada
nos quatro lados da edificação, quando fosse isolada, de modo que o usuário poderia, de
acordo com a estação, escolher onde permanecer. Proporcionava a presença do espaço
exterior dentro da edificação e, em alguns casos, conectava-se ao jardim.
A grande maioria das loggias apresenta-se incorporada à residência ou projetada para fora
do corpo da edificação. Quando incorporada, tende a ser de menor proporção, ao contrário
de quando é projetada, o que lhe permite ter maior proporção. Observa-se que esses
espaços não possuem configurações recorrentes nas obras de Palladio, que opta por uma
ou outra, conforme a necessidade do projeto.
Após a localização da sala e das loggias, o arquiteto preenche a planta baixa com os
aposentos, geralmente dispostos nas laterais da sala principal. Eles são denominados por
Palladio stanze ou cômodos laterais e propostos em três tamanhos diferentes: maiores,
médios, menores (Palladio, 1997, Livro I, cap. 21, p.57).
Os cômodos são multifuncionais, podendo abrigar uma sala de inverno (mais fácil de
aquecer por ser menor que a sala principal), quartos de dormir, escritórios, saletas
privativas, escadarias, etc. Cômodos menores tinham mezaninos que serviam como
depósitos. Com poucas exceções, havia três cômodos em cada lado da sala.
Em geral, os cômodos apresentam diferentes dimensões, variando de uma villa para outra,
conforme o formato da sala. A cada forma e proporção do cômodo corresponde uma
abóbada ou um teto plano, como indicado por Palladio no tratado (Palladio, 1997, Livro I,
cap. 21, p.57). Ele recomenta seis tipos de abóbadas: aresta, berço, segmentada, circular,
de luneta, abatida.
133
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3 DA MODELAGEM TRIDIMENSIONAL
A escolha dos objetos de estudo partiu dos projetos constantes no segundo livro do tratado
de Palladio e que foram edificados. Considerou-se importante para a escolha das obras: a
existência de esboços originais, que documentem o processo de projeto do arquiteto, e a
possibilidade de visitação das obras pela autora, durante a pesquisa, principalmente para
observar detalhes da volumetria externa e do espaço interno, que não estivessem claros nas
descrições constantes no tratado. Observe-se que a dificuldade de visitação das obras
determinou a delimitação dos objetos de estudo.
A delimitação do objeto de estudo ocorreu entre os projetos desenvolvidos por Palladio no
período de 1537 e 1575. Nesse período, merece destaque a arquitetura doméstica,
representada por sessenta projetos, sendo trinta e seis projetos de villas e vinte e quatro
projetos de palácios urbanos, entre executados e não executados. A seleção foi delimitada
entre as villas, por representarem a maior parte do trabalho de Palladio e serem
responsáveis, de modo significativo, pela fama do arquiteto (Burns, 1975). Mesmo
constituindo parte da arquitetura doméstica de Palladio, os palácios foram descartados, por
representarem um universo quantitativamente menor e por possuírem programas muito
diferenciados das villas, levando a análises muito distintas.
As villas incluem dependências externas que não existem nos palácios, enquanto esses
possuem pátios internos, não usuais nas villas.
Dessas observações, resultou a seleção de doze villas para análise: Villa Godi (Lonedo di
Lugo Vicentino, 1537); Villa Poiana (Poiana Maggiore, 1548-1549); Villa Gazzotti (Bertesina,
1542); Villa Pisani (Bagnolo di Lonigo, 1542); Villa Chiericatti (Vancimuglio di Grumolo delle
Abbadesse, 1550); Villa Pisani (Montagnana, 1552); Villa Cornaro (Piombino Dese, 1553);
Villa Badoer (Fratta Polesine, 1554); Villa Barbaro (Maser, 1557/58); Villa Emo (Fanzolo di
Vedelago, 1564); Villa Foscari (Malcontenta di Mira. 1559/60) e Villa Capra (Vicenza,
1566/67).
A reunião de informações para o trabalho teve início com uma pesquisa documental, que
buscou documentação técnica, plantas, cortes e fachadas das obras, junto a documentos
originais e reproduções. Os documentos utilizados foram:
• tratado de Palladio Il quattro libri dell’architettura, que apresenta os desenhos de planta
baixa e fachada, com alterações feitas pelo autor com vistas a apresentar os projetos em
sua forma mais perfeita;
• levantamentos e reconstruções antigas da obra de Palladio, que incluem os desenhos
elaborados por Ottavio Bertotti Scamozzi (1796) e publicados em Le fabbriche e i disegni
di Andrea Palladio;
• levantamentos contemporâneos, realizados por Giangiorgio Zorzi em Le ville e i teatri di
Andrea Palladio (1969), Erik Forssmann em Visible Harmony (1973), Palladio’s Villa
Foscari at Malcontenta, Howard Burns em Andrea Palladio 1508-1580: the portico and
the farmyard (1975) e Douglas Lewis em The drawings of Andrea Palladio (1981);
• desenhos originais, que se encontram no acervo do RIBA, Royal Institute of British
Architects, e disponíveis em http://www.ribapix.com/. O acervo é composto, entre outros,
por esboços de projetos do arquiteto, que permitem a reconstrução do processo de
projeto de Palladio.
Para auxiliar o levantamento da implantação das obras e seu perímetro, também foram
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utilizadas bases de dados geográficos (Google Earth, Google Maps, Google Street View).
De posse dos documentos, as obras selecionadas foram reconstruídas de modo bi e
tridimensional. A reconstrução teve como base documentos gráficos originais e
reproduções. Como documentos originais, foram considerados os desenhos nos quais o
autor lançou as primeiras hipóteses de projeto e os desenhos finais constantes no tratado.
Nos casos em que o projeto não foi representado no tratado, foram adotadas as
reproduções de Scamozzi (1796), disponíveis no site do CISA – Centro Internazionale di
Studi di Architettura Andrea Paladio (disponíveis em http://www.cisapalladio.org), bem como
os desenhos executados por Barbosa (2005). Para auxiliar o levantamento da implantação
das obras e seu perímetro, também foram utilizadas bases de dados geográficos (Google
Earth, Google Maps, Google Street View).
1
Os desenhos bidimensionais foram elaborados no programa AutoCAD.
2
Um pé vicentino corresponde a aproximadamente 35,70cm.
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O uso do software SketchUp foi considerado apto para fins de modelagem nesta pesquisa,
por sua facilidade de manuseio e pela agilidade nos modelos tridimensionais gerados, bem
como por ser gratuito. Outro elemento importante é a compatibilidade dos arquivos, os quais
podem ser exportados para outras extensões como “*.3ds” e “*.cad” e, portanto, utilizados
por outros pesquisadores em outros programas.
5 RESULTADOS
A representação dos edifícios por meio de modelos tridimensionais possibilitou o
entendimento espacial e formal dos projetos. Com o modelo tridimensional do conjunto,
pode-se observar aspectos relativos à implantação dos edifícios, tais como (1) a locação do
conjunto no lote; (2) a disposição do edifício em relação às vias de acesso; (3) a
configuração do pátio; (4) a ocorrência de alas.
Com relação à implantação, a observação dos modelos demonstrou que, possuindo ou não
alas, a implantação é definida por um eixo de simetria bilateral, que divide os conjuntos em
duas partes. Sobre o eixo estão dispostos o acesso, o percurso até a casa patronal e a
entrada nessa residência. O eixo transpõe a residência, de frente a fundos, e continua na
área posterior. O uso do eixo longitudinal de simetria nas implantações de villas de Palladio
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serve para organizar uma sequência de episódios. Portões de acesso, esplanadas secas ou
ajardinadas, pátios definidos por pórticos, a casa de villa, os jardins e as plantações são
organizados como eventos volumétricos e/ou espaciais coordenados, apresentados ao
visitante em sequência (Figura 4).
Dispondo o eixo e podendo escolher onde estaria a casa patronal, Palladio pôde trabalhar a
área externa com pátios, esplanadas, jardins, pomares e áreas de cultivo (plantações). Não
havendo área rural, como nas villas de bloco único, há jardins à frente e aos fundos.
Apesar de sugerir rigorosa geometria e disposição axial pelo uso da simetria especular, o
jogo com as alas permite grande variedade de resultados, ao mesmo tempo em que introduz
variantes para as alas, Palladio joga com a disposição do edifício no lote e com os tipos de
acessos. Estando dispostos sobre o eixo longitudinal central, os edifícios poderiam estar
situados mais próximos ou mais afastados das vias (Figura 5).
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6 CONCLUSÕES
Ao apresentar a reconstrução tridimensional de um número significativo de obras, o
presente trabalho, além de contribuir para o registro da obra de Palladio, elaborou um
panorama gráfico quantitativo que tornou explícitos determinados aspectos do processo de
projeto, os quais dificilmente seriam alcançados pelo recurso textual. A modelagem revelou-
se um instrumento importante nesta etapa, pois auxiliou não somente a representação da
obra, mas fundamentalmente sua análise. Favoreceu a compreensão das relações espaciais
e de circulação, não só entre os ambientes internos, mas também com relação à volumetria
externa. A representação por meio de modelos tridimensionais ‘desconstruiu’ as obras
selecionadas e, por meio de síntese, buscou as ‘origens’ do processo de projeto,
recuperando o percurso estabelecido de Palladio e desvendando as intenções projetuais.
REFERÊNCIAS
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THORNTON, Peter. The Italian Renaissance interior. 1400-1600. London: Harry N Abrams,
1991.
ZORZI, Giangiorgio. Le Ville I Teatri di Andrea Palladio. Venezia: Neri Pozza: 1969.
139
COMPARAÇÃO ENTRE SOFTWARES GRATUITOS
MODELADORES DE NUVEM DE PONTOS A PARTIR DE
LEVANTAMENTO FOTOGRAMÉTRICO APLICADOS À
DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE
EDIFÍCIOS HISTÓRICOS EM CUIABÁ-MT.
RESUMO
Apesar do amplo desenvolvimento das técnicas de levantamento do patrimônio arquitetônico por
modelagem por fotografias, ainda identificamos a carência de referências a respeito da realização de
tais levantamentos atravésda utilização de softwares livres, como o Autodesk 123D Catch e o
Microsoft Photosynth. O objetivo deste trabalho é de analisar comparativamente os resultados do
levantamento tridimensionalgerado a partir destes softwares, buscando o entendimento de suas
características e limitações. Para isto, a partir de levantamento fotogramétrico de construções
integrantes do patrimônio histórico-arquitetônico de Cuiabá-MT, analisaremos a qualidade dos
modelos gerados por tais ferramentas, especialmente a quantidade de pontos (nuvem de pontos)
gerada em cada modelo, buscando avaliar as possibilidades de sua real aplicação na documentação
do patrimônio arquitetônico construído.
Palavras-chave: Modelagem tridimensional. Fotogrametria. Patrimônio arquitetônico. Nuvem de
pontos. Arqdoc, 2014.
ABSTRACT
Although we may observe a wide development of the image-based modelling techniques for
architectural heritage, we still identify the lack of references regarding such procedures with the help
of free software, like Autodesk 123D catch and Microsoft Photosynth. The aim of this study is to
comparatively analyze the results of the image-based modelling techniques, generated from these
tools, seeking to understand their features and limitations. Starting from a specific photogrammetric
inventory of some examples of the architectural heritage of Cuiabá-MT, this works aims to analyze the
quality of the models produced by these softwares, especially the amount of points (point cloud)
generated in each model, seeking to discuss the possibilities of its actual application in the
architectural heritage documentation.
140
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1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, vários softwares comerciais foram desenvolvidos para processamento de dados
fotogramétricos para modelagem automática de modelos tridimensionais a partir de nuvem de pontos.
Os softwares atuais, como o Autodesk 123D Catch e o Microsoft Photosynth, não requerem qualquer
forma de calibração do equipamento fotográfico e podem oferecer bons resultados, se seguidas
algumas orientações básicas. Estes softwares podem ainda fornecer dados para a impressão do
modelo tridimensional.
Este trabalho visa a avaliação destes softwares gratuitos citados, comparando a quantidade
e, consequentemente, a qualidade de pontos obtidos pelos modelos gerados com o levantamento
fotogramétrico realizado em construções que são parte do patrimônio arquitetônico de Cuiabá-MT.
3 EQUIPAMENTOS E SOFTWARES.
Para o levantamento foi utilizada câmera fotográfica de marca Nikon, modelo D5200, com
lente AF-S Nikkor 18-55mm f/3.5-5.6 G. As fotografias foram realizadas com a distância focal mínima
da lente - 18mm - para utilizar o maior enquadramento possível. Foram obtidas utilizando abertura
fixa de f/5.6 que apresenta maior nitidez (STAMM, 2011). Utilizou-se ainda o foco no infinito -
distância hiperfocal - para evitar que alguma parte do edifício estivesse desfocada. As configurações
de qualidade e resolução da imagem foram as máximas permitidas pelo equipamento fotográfico,
gerando fotografias de 24 megapixels - 6000 pixels no comprimento e 4000 pixels na altura.
Para a modelagem foram utilizados os softwares gratuitos desenvolvidos Autodesk e pela
Microsoft: 123D Catch (versão 2.2.3.557)e Photosynth (versão 2.0110.0317.1042), respectivamente.
141
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A comparação dos modelos foi realizada no software MeshLab (versão 1.3.3.), que fornece entre
diversas informações, a quantidade de pontos (vértices) existentes, ou seja, uma nuvem de pontos.
4 OBJETOS DE ESTUDO.
Fizeram parte do levantamento fotogramétrico três construções tombadas de Cuiabá-MT. O
primeiro edifício foi Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, construída no período colonial
entre 1723 e 1751 (IPDU, 2004), com fachada neogótica e altares laterais no estilo rococó, é
importante informar que esta passou por um processo de restauro no ano de 2003 (NASCIMENTO,
2009). O segundo edifício levantado foi o Museu do Rio, construído em 1781 (IPDU, 2004) para
abrigar o mercado público de Cuiabá. Trata-se de um exemplar que testemunha a influência da
tendência arquitetônica neoclássica em Cuiabá, numa outra fase do desenvolvimento da cidade. O
terceiro edifício levantado foi o Chafariz do Mundéu, construído em 1871 (IPDU, 2004) como uma
fonte de água utilizada pela população local (NASCIMENTO, 2009). Possui formato circular e
apresenta, assim como o Museu do Rio, tendência neoclássica.
A primeira construção a ser levantada foi a Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
(Figura 1). Buscou-se fotografar para modelagem as fachadas laterais esquerda, frontal e direita,
iniciando o levantamento pela fachada lateral esquerda da igreja acompanhando o casario. O
afastamento foi limitado pela largura da rua, de modo que se chegou a tal ponto em que não foi
possível manter a igreja integralmente dentro do enquadramento. Então, retomou-se o levantamento
a partir de ponto mais adiante que permitiu enquadramento total. Percebeu-se a dificuldade de
visualização de alguns detalhes, dada a diferença entre o nível da igreja e o da rua, além da
existência de árvores e postes que obstruíram a visão. A curva diante da fachada principal estendeu-
142
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se, registrando a fachada lateral esquerda. Em todas as imagens se tentou manter constante o
distanciamento entre as fotografias.
Analisando as malhas obtidas, verificou-se maior número de vértices na nuvem de pontos
produzida pelo Microsoft Photosynth do que na produzida pelo Autodesk 123D Catch. Entretanto, os
pontos da modelagem do Microsoft Photosynth concentraram-se principalmente na fachada frontal,
enquanto na do Autodesk 123D Catch os pontos se distribuíram pelas três fachadas fotografadas
(Figura 2).
143
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O Museu do Rio apresenta amplo pátio defronte sua fachada frontal, o que permitiu que o
levantamento fosse realizado sem obstáculos (Figura 3).
Inicialmente, determinou-se o afastamento ideal, a partir da fachada, que permitisse seu
enquadramento total. Foi traçada uma linha paralela a fachada sobre a qual todas as fotografias
foram realizadas e, com auxílio de uma trena, a cada metro foram marcadas também as distâncias
entre as fotografias. Conforme o deslocamento ao longo da linha, o enquadramento foi ajustado de
modo a manter a posição central da fachada no centro do enquadramento da fotografia. Devido as
dimensões e proporção da fachada, a distância necessária para obtenção das fotografias foi
consideravelmente grande, o que pode atrapalhar a modelagem dos detalhes pelos softwares devido
sua reduzida escala nas imagens. Por essa razão, após o término, fotografou-se com maior
proximidade os detalhes de uma coluna selecionada, sendo estas fotografias realizadas sem o auxílio
de um tripé e contornando integralmente a referida coluna. Não foram realizadas quaisquer
fotografias de transição entre as imagens mais próximas e as que continham a fachada inteira.
Analisando os resultados das modelagens do Museu do Rio, verificou-se que não havia
quantidade e qualidade de detalhes em níveis satisfatórios (Figura 4), não sendo possível identificar
elementos consideravelmente importantes, mas percebeu-se que muitos pontos foram gerados no
céu e no piso frontal - dado o recuo necessário para realizar as imagens. Assim, optou-se por cortar
manualmente todas as imagens para então gerar nova modelagem - preservando o critério de manter
o centro da fachada coincidindo com o centro do enquadramento e também, as dimensões e
proporção entre as imagens. Com a retirada das informações desnecessárias - grandes porções de
piso, céu, vegetação e construções presentes nas ruas laterais - as malhas geradas a partir das
fotografias cortadas apresentaram maior quantidade de pontos (Figura 5) e também melhor qualidade
de modelagem, quando comparadas àquelas geradas a partir das fotografias originais e considerando
estritamente a área de interesse.
Cortada 11347
Fonte: Elaborado pelos autores.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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O Chafariz do Mundéu possui dimensões menores que os edifícios anteriores e, por isso, as
fotografias puderam ser realizadas com maior proximidade. Dada as diferentes proporções deste
edifício - altura maior que largura - as fotografias foram registradas com orientação do tipo retrato
(Figura 6).
Na ocasião do levantamento fotográfico, não haviam obstáculos entre a fachada e o
equipamento. E também, diferentemente dos outros casos, a fachada estava completamente
sombreada - isto é, recebendo apenas iluminação difusa - apresentando pouca variação lumínica e
nenhuma sombra definida.
Optou-se por registrar apenas três das seis fachadas do Chafariz do Mundéu - que possui
planta hexagonal e simetria entre todas as fachadas. Assim como no Museu do Rio, inicialmente
foram realizadas fotografias que abrangessem integralmente as fachadas em questão, seguidas por
imagens mais próximas e contemplando detalhes. O roteiro do posicionamento para realização das
primeiras imagens se deu de forma radial, seguindo uma curva cujo afastamento da fachada é
constante, permitindo circundar o edifício e revelando os volumes de seus elementos. Após, foram
realizadas fotografias de transição entre a tomada geral e do detalhe escolhido proporcionando uma
gradual aproximação deste.
145
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Detalhe 13974
Fonte: Elaborado pelos autores.
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6 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Os edifícios selecionados foram escolhidos por apresentarem características importantes,
sendo favoráveis ou não à modelagem. No caso da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito, sua implantação isolada em uma quadra, possibilitaria o levantamento de todas as
fachadas. Porém, a largura da rua lateral se tornou fator limitante em decorrência da necessidade de
grande afastamento para garantir o enquadramento total. A incidência de grandes contrastes entre
luz direta e sombras presentes no momento do levantamento, fez com que fossem modelados falsos
volumes nas superfícies que não possuem detalhes, porém têm irregularidades em sua pintura.
O comprimento da fachada do Museu do Rio fez com que sua área nas fotografias ficasse
com dimensões reduzidas, dada a necessidade de grande afastamento da fachada para total
enquadramento. Com isso, perdeu-se a visibilidade de detalhes.
Sabendo que o software Autodesk 123D Catch reduz as imagens com mais de três
megapixels para exatos três megapixels, quando as imagens do Museu do Rio foram cortadas as
informações ficaram concentradas na área da fachada, resultando em uma melhor qualidade do
modelo. Nesse sentido, foi determinante a alta qualidade do equipamento fotográfico, que registrou
imagens com elevada resolução nas fotografias originais e reduzindo as perdas quando da redução
da área das fotografias. É importante ressaltar que, embora contrarie a recomendação da empresa
desenvolvedora do software (AUTODESK, 2014), houve a preocupação em manter, nos cortes
realizados, o meio da fachada do edifício no centro do enquadramento, facilitando o reconhecimento
do objeto de interesse. Nestes dois primeiros modelos, o levantamento foi limitado ao enquadramento
total da fachada. Diferentemente dos edifícios anteriores, o Chafariz do Mundéu possui dimensões
reduzidas, o que possibilitou registro das fachadas com maior proximidade. Importante ressaltar
também a condição de iluminação diferenciada no momento do levantamento destas, pois se
apresentavam sombreadas. Estas duas características apresentaram problemas na modelagem dos
dois primeiros edifícios mas garantiu riqueza de detalhes nas fotografias e, consequentemente, nas
modelagens. Pela comparação realizada no software MeshLab, observou-se que o modelo gerado no
Autodesk 123D Catch conseguiu gerar maior densidade de pontos que o Microsoft Photosynth. A
única exceção ocorreu na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, pois o modelo do
Microsoft Photosynth obteve maior quantidade de pontos, concentrando-os na fachada frontal em
detrimento das outras.
O produto de cada software é diferente em sua apresentação. Ambos se baseiam na geração
de nuvem de pontos, mas o Autodesk 123D Catch se diferencia do Microsoft Photosynth por criar
arestas entre estes pontos, gerando faces e uma modelagem completa no próprio software. Já o
Photosynth utiliza a nuvem de pontos apenas para associar as diversas fotografias na posição em
que foram registradas - em relação ao edifício. Contudo, isso permite melhor compreender alguns
detalhes tendo em vista a permanência da fotografia no modelo.
Ambos os softwares se mostraram capazes de construir bons modelos, sendo necessário
para isso um adequado levantamento fotogramétrico que considere condição de luz homogênea,
grande quantidade de fotografias, distância reduzida do equipamento ao edifício, ausência de
obstáculos entre estes, intersecção suficiente da área entre as fotografias e facilidade de acesso.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e
documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
______. NBR 6028: Informação e documentação - Resumo - Apresentação. Rio de Janeiro,
2003.
______. NBR 10520: Informação e documentação - Citações em documentos -
Apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO URBANO - IPDU. Perfil
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KUO, Vanessa; AMORIM, Arivaldo. Levantamento fotogramétrico de edificações: principais
limitações encontradas na modelagem geométrica da Igreja do Monte, em Cachoeira - BA.
In: SEMINÁRIO NACIONAL DE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO
147
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
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sua importância histórica e ambiental. In: SEMINÁRIO EDUCAÇÃO, 17, 2009, Cuiabá.
SEMIEDU 2009…, Cuiabá: UFMT, 2009. Disponível em:
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NASCIMENTO, Flávia. Roteiro turístico de remanescentes arquitetônicos e tipologias
do centro histórico de Cuiabá. 2009. 99 f. TCCP (Especialização em Patrimônio, Turismo
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Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Cuiabá, 2009
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architectural heritage – St. Rudolf´s Church in Banostor. In: International CIPA Symposium,
24, 2013, Strasbourg. ISPRS Annals of the Photogrammetry, Remote Sensing and
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WUTKE, J. D.; FOSSE,J. M.; CENTENO, J. A. S. Documentação e modelagem 3D de
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COLOQUIO BRASILEIRO DE CIENCIAS GEODÉSICAS, 4, 2005, Curitiba. CBCG -
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Photozone. Herschbach, mar. 2011. Disponível em: <http://www.photozone.de/nikon--nikkor-
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AUTODESK. Learn how to use 123D Catch. 2014. Disponível em:
<http://www.123dapp.com/howto/catch>. Acesso em 17 jul. 2014.
148
AS ALTERAÇÕES DO USO E OCUPAÇÃO DOS LOTES DA
AVENIDA PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA (1980-2001)
RESUMO
O artigo tem como objetivo apresentar a metodologia utilizada na análise das alterações do uso e
ocupação dos lotes situados na Avenida Presidente Epitácio Pessoa, localizada em João Pessoa, no
Nordeste brasileiro, entre 1980 e 2001. Tal análise compõe um capítulo da dissertação “Paisagem em
Movimento: As transformações na Avenida Epitácio Pessoa de 1980 a 2001”. Com base nas
definições de Solo pela Morfologia Urbana em Capel (2002) e Lamas (2004), a investigação das
alterações na referida via desenvolveu-se ao longo de quatro etapas: pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental, digitalização e organização dos dados e análise do processo. Durante a consulta a
fontes bibliográficas e periódicos da época, poucas imagens da referida via foram encontradas,
levando à busca de outras fontes documentais, como as solicitações de alvará e habite-se feitas à
Prefeitura Municipal de João Pessoa. Os registros conformam um vasto acervo relacionado aos lotes
da avenida. A utilização das tecnologias digitais foi instrumento metodológico essencial para a análise
espaço-temporal do processo à medida que possibilitou a criação de gráficos, mapas de
parcelamento e ocupação do solo e modelagens tridimensionais dos volumes construídos, os quais
retrataram claramente a dinâmica do processo investigado.
Palavras-chave: Documentação. História urbana. Morfologia urbana.
ABSTRACT
This article aims to present a methodology used to compose an analysis from 1980 to 2001 of
changes of the land usage and occupation of the Epitácio Pessoa Avenue, located in the city of João
Pessoa, Brazil. This analysis composes a chapter of the dissertation “Paisagem em Movimento: As
transformações na Avenida Epitácio Pessoa de 1980 a 2001”. Based on the Land definitions by the
Urban Morphology in Capel (2002) and Lamas (2004), the investigation of the avenue’s changes was
developed along four stages: bibliographic research, documental research, computer processing of
the collected information and the analysis of the process. During the researches, few photographs
were found from periodicals and bibliographics references, leading to consult other documents as the
requeriments of occupancy and building permissions which were gathered from the João Pessoa's
City Hall archive. The requirements datas were used to build a database. The use of digital
technologies was an essencial methodological instrument to the space-time analysis as long as it
allowed the criation of graphics, division and occupation of land maps and a tridimensional model of
the constructed volumes, which portray clearly and objectively the dynamic of the investigated
process.
Keywords: Documentation. Urban History. Urban Morphology.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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1 INTRODUÇÃO
A documentação digital consiste em um importante meio de preservação da identidade
cultural e da memória, visto que a salvaguarda dos documentos físicos não se mostra tão
segura devido à suscetibilidade a diversos fatores como intempéries, armazenamento e
manutenção inadequados, atos de vandalismo e negligência dos responsáveis.
As tecnologias digitais, além de possibilitarem a digitalização dos mais variados documentos
– sejam eles textos, imagens ou sons -, oferecem ao pesquisador diversas ferramentas para
coleta, organização, sistematização, armazenamento e publicação dessas fontes.
De acordo com Amorim (2010), as novas tecnologias digitais, por apresentarem baixo custo
de aquisição de material e publicação dos resultados obtidos, assim como agilidade na
coleta e processamento dos materiais, potencializam “as ações de registro, restauração,
preservação e gestão de edificações, conjuntos arquitetônicos e sítios históricos, em todo o
mundo” (p. 10).
Ao abordar a utilização do meio digital no campo da documentação arquitetônica por
técnicos e pesquisadores, Nogueira (2010) afirma que tais meios podem fornecer novas
formas de investigar, visualizar e analisar as características, as transformações e
permanências do objeto em estudo. Para o autor, o desenvolvimento tecnológico tem
contribuído não apenas no processo de coleta, mas também em toda a organização e
gerenciamento do material adquirido, fazendo da documentação um processo sistemático.
Da mesma maneira, entende-se que a História Urbana é também uma das áreas do
conhecimento que pode ser explorada e expandida com a utilização das referidas
tecnologias por meio da praticidade e facilidade na coleta de dados e na utilização dos
mesmos como fontes para elaboração de mapas, esquemas, ilustrações, gráficos,
modelagens geométricas tridimensionais, entre outros, os quais são produzidos digitalmente
por meio de softwares. Muitos desses instrumentos, além de registrar importantes dados,
são capazes de auxiliar e enriquecer a análise do fenômeno urbano.
O artigo apresenta parte da pesquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado
intitulada “Paisagem em Movimento: As transformações na Avenida Presidente Epitácio
Pessoa entre 1980 e 2001”. Neste momento, o objetivo consiste em expor e discutir a
metodologia utilizada para analisar as alterações no uso e ocupação dos lotes situados na
referida via, localizada na cidade de João Pessoa, no Nordeste brasileiro.
Considerada atualmente uma das principais avenidas da cidade, a Epitácio Pessoa possui
aproximadamente 5 km de extensão orientada pelo eixo Leste – Oeste, perpassa onze
bairros e interliga dois polos de atratividade da cidade: o Centro e a orla marítima.
O Centro compreende um bairro marcado pelo elevado índice de estabelecimentos
comerciais, de serviços e institucionais, assim como pelo acúmulo de funções depositadas e
transformadas desde o início da ocupação da cidade. Já a orla, corresponde à faixa
litorânea dos bairros Cabo Branco ao sul e Tambaú ao norte. Esta área caracteriza-se pela
atratividade e variedade de serviços e comércio, de atividades de lazer, entretenimento e
turismo, e pelo uso residencial das camadas de alta renda.
Desde o início de sua abertura – como uma estrada -, no final da década de 1910, a
Avenida Epitácio Pessoa tem sofrido diversas mudanças em relação à ocupação, aos usos,
à paisagem e ao espaço produzido. A sua ocupação é um marco no processo de expansão
de João Pessoa em direção à orla marítima ao longo do século XX, transformando a antiga
estrada em uma das principais avenidas da cidade.
De acordo com Coutinho (2004), a Avenida Epitácio Pessoa teve seu entorno ocupado de
forma fragmentada e diversa ao longo do referido século. De fato, desde sua abertura até a
década de 1950, raras foram as alterações sofridas em sua paisagem. A Mata Atlântica,
existente ao longo do seu percurso, foi aos poucos desaparecendo e dando lugar a
loteamentos e conjuntos habitacionais, principalmente, a partir da década de 1950. Tais
150
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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- possuem uma relação de dependência visto que seus tamanhos e formatos influenciam
nas plantas das edificações, assim como estas influenciam na definição dos espaços livres e
ocupados dos lotes. Ambos expressam muito sobre os usos, os usuários e suas estratégias.
153
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Muitos foram os gráficos produzidos: números de processos x ano (Gráfico 1); número de
processos x bairros; número de processos de alvarás de construção x ano; número de
processos de alvarás de construção x bairro; números de processos vinculados ao uso
comercial x bairro (Gráfico 2), entre outros. Ao relacionar quantitativamente as diversas
informações encontradas com as suas localizações (por bairros) e anos, foi possível
identificar, por exemplo, os locais que sofreram mais demolições, onde e quando se
construiu mais ou foram feitas mais alterações no parcelamento do solo, entre outros
aspectos.
154
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Figura 1 – Mapa com delimitação dos perímetros dos trechos de análise da pesquisa
Foram definidos sete trechos referentes ao percurso da avenida: Centro e Tambiá (trecho
01); Torre e Expedicionários (trecho 02); Bairro dos Estados (trecho 03); Tambauzinho
(trecho 04); Conjunto Pedro Gondim e Brisamar (trecho 05); Miramar (trecho 06); Tambaú e
Cabo Branco (trecho 07).
Vale ressaltar que, apesar de alguns processos coletados estarem incompletos - sem o
número do lote, sem identificação do tipo de uso ou qual o bairro onde o lote estava situado
–, os mesmos não foram descartados como fontes para a pesquisa, pois ainda que uma ou
outra informação estivesse ausente, seus demais dados serviram para embasar outros
aspectos da análise.
O trecho 05 – referente aos lotes da avenida pertencentes aos bairros Pedro Gondim e
Brisamar – foi o único que não apresentou clareza nos processos a eles atribuídos. A
ausência de dados nos processos vinculados aos lotes/imóveis neles localizados foram
fatos que chamaram a atenção e para os quais não se pode atribuir uma causa específica.
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Figura 3 – Mapa do trecho 04 com exposição dos lotes vazios e ocupados em 1978
Fonte: Ortofotocartas de João Pessoa (PMJP, 1978) e Planta Base de João Pessoa (PMJP). Edição nossa,
2013.
Figura 4 – Mapa do trecho 04 com exposição dos lotes vazios e ocupados em 1998
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Fonte: Ortofotocartas de João Pessoa (PMJP, 1998) e Planta Base de João Pessoa (PMJP). Edição nossa,
2013.
Fonte: Ortofotocartas de João Pessoa (PMJP, 1978), Livros de Registro de Alvará e Habite-se da PMJP e Planta
Base de João Pessoa (PMJP). Edição nossa, 2014.
4 CONCLUSÕES
Ricas fontes documentais encontram-se muitas vezes armazenadas de maneira inadequada
e em constante processo de deterioração. A digitalização do acervo histórico existente hoje
em diversas instituições é uma das maneiras mais adequadas para preservar tais fontes.
157
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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O registro das informações coletadas na pesquisa documental ora apresentada fez o uso de
tal processo ao produzir imagens digitais das Ortofotocartas de 1978 e 1989 – a do ano
1998 já se encontrava armazenada em meio digital – e registrar em fichas digitais as
informações referentes aos Processos de Alvará e Habite-se da PMJP.
Quando devidamente organizado, o material coletado foi utilizado como base de dados e,
com o auxílio de ferramentas computacionais, as informações foram sistematizadas - por
meio de mapas, gráficos e modelagens tridimensionais - para a realização da análise do
processo de transformação do uso e ocupação dos lotes da Avenida Epitácio Pessoa.
A produção de mapas utilizando o software AutoCad possibilitou, além de uma rigorosa
representação gráfica, a visualização e análise da dinâmica de ocupação do solo nas
últimas décadas do século XX, identificando as ocupações mais antigas e recentes, assim
como os lotes que tiveram seu parcelamento alterado.
Os gráficos confeccionados geraram a base quantitativa que possibilitou uma análise
comparativa entre as transformações na ocupação e uso do solo nos diversos bairros da
avenida e ao longo dos anos inseridos no recorte temporal da pesquisa.
A modelagem dos volumes construídos na avenida entre os anos de 1980 e 2001, utilizando
a plataforma SketchUp, permitiu a visualização espaço-temporal do impacto causado pela
alteração do uso e ocupação do solo no ambiente construído da referida via.
Deste modo, os resultados obtidos a partir da utilização das referidas ferramentas digitais
demonstraram de forma clara sua potencialidade no estudo da História Urbana, o que
permite afirmar que a documentação pode consistir não apenas num fim da pesquisa, mas
num meio de vivenciar, retratar e/ou simular realidades urbanas do passado.
REFERÊNCIAS
AMORIM, A. L. . A Documentação Digital do Patrimônio Construído: possibilidades e
desafios. In: I ENANPARQ - Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo, 1., 2010, Rio de Janeiro. Arquitetura, Cidade,
Paisagem e Território: percursos e perspectivas. Rio de Janeiro: PROURB, 2010.
Disponível em: <http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/170/170-760-2-SP.pdf>.
Acesso em: 05 jul. 2014.
BATTY, M. Urban Modeling. In: International Encyclopedia of Human Geography. Oxford:
Elsevier, p.51-58, 2009. Disponível em: <http://www.casa.ucl.ac.uk/rits/BATTY-Urban-
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CAPEL, H. La morfologia de las ciudades. Barcelona: Ediciciones del Serbal, 2002.
CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. 4. São Paulo: Editora Ática, 2005.
COUTINHO, M. A. F. Evolução urbana e qualidade de vida: o caso da Avenida Epitácio
Pessoa. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento em Meio Ambiente) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. 3. ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbekian, Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 2004.
MARX, M. Cidade Brasileira. São Paulo: Edições Melhoramento, 1980.
NOGUEIRA, F. M. de S. A representação de sítios históricos: documentação
arquitetônica digital. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2010.
VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
158
PROJETO ARQUIGRAFIA: ASPECTOS TÉCNICOS E
CONCEITUAIS
RESUMO
Esta comunicação apresenta a experiência de 5 anos do projeto ARQUIGRAFIA, com especial
atenção aos fundamentos técnicos e conceituais das várias frentes integradas no trabalho realizado
pela equipe do projeto ARQUIGRAFIA junto à Setor Audiovisual do Serviço de Biblioteca e
Informação da FAUUSP em São Paulo. Serão apresentadas considerações sobre aspectos da
Curadoria Digital relacionada à conservação, catalogação e difusão web de um acervo de mais de
100 mil imagens originais da Arquitetura Brasileira, em boa parte inéditas, assim como serão
abordados também aspectos relacionados às características do redesenho do sistema recentemente
concluído, e aos desdobramentos e desafios futuros. O projeto em andamento pode ser acessado no
endereço <www.arquigrafia.org.br> onde os usuários institucionais e particulares são convidados a
colaborarem com a construção contínua de conhecimento sobre a Arquitetura e os Espaços Urbanos
amparados por uma base iconográfica digital.
Palavras-chave: Fotografia. Imaginário. Representação da Arquitetura. Representação da
Informação. Ambientes colaborativos na Web
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ABSTRACT
This paper presents the five year experience of the ARQUIGRAFIA project focusing on technical and
conceptual basis of the several integrated work fronts carried on by the research team together with
the FAUUSP Library Audiovisual Sector in São Paulo, Brazil. Digital curation aspects related to
conservation, cataloging and web dissemination of a 100 thousand Brazilian Architecture original
images collection will be presented, as well as facets of the system web-redesign recently finished,
and future challenges and implementations. ARQUIGRAFIA can be reached at
<www.arquigrafia.org.br> in which institutional and personal users are invited to share and collaborate
with the continuous knowledge production on Architecture and Urban Spaces supported by a digital
iconographic base.
Keywords: Photography. Imaginaire. Architectural representation. Information representation. Web
Collaborative Environments.
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1 INTRODUÇÃO
O ARQUIGRAFIA é um ambiente colaborativo na Web, aberto, público e sem fins lucrativos,
dedicado à difusão de imagens de arquitetura, com especial atenção à arquitetura e aos
espaços urbanos brasileiros. O objetivo deste projeto é congregar instituições e usuários
particulares em um mesmo ambiente na internet, dedicado à colaboração para o estudo da
Arquitetura e do Urbanismo, com base em um acervo de imagens que se inicia pela
fotografia e pretende contemplar também desenhos e vídeos, no futuro.
Este projeto é desenvolvido desde 2009 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAUUSP), em parceria com o Instituto de Matemática e
Estatística (IME/USP) e a Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP). Em 2011, o
ARQUIGRAFIA recebeu o primeiro prêmio da Agência de Inovação USP na categoria de
Tecnologias Sociais Aplicadas e Humanas, o que estimulou a conformação do Núcleo de
Apoio à Pesquisa em Ambientes Colaborativos na Web, NAP Interunidades USP, que hoje
abriga este projeto dentre outros. Em 2012 o projeto recebeu chancela do Ministério da
Cultura por sua contribuição à cultura brasileira, e em 2014 foi o projeto selecionado pelo
Ministério da Cultura na área de Arquitetura no Edital Cultura na Copa.
O processo colaborativo que constituiu o acervo fotográfico do Serviço de Biblioteca e
Informação da FAUUSP, por meio da doação sistemática de imagens feitas por professores
e alunos desde os anos 1960, e o projeto de Le Corbusier para um Museu de Crescimento
Ilimitado (1929), referenciam conceitualmente o ARQUIGRAFIA em sua intenção de ampliar
à internet a possibilidade de colaboração para a construção de um acervo iconográfico
digital concentrado nos temas pertinentes à Arquitetura, ao Urbanismo e ao Design.
O objetivo principal desta iniciativa é contribuir para o estudo, o ensino, a pesquisa e a
difusão da cultura arquitetônica e urbanística, ao promover interações colaborativas entre
pessoas e instituições públicas e privadas na internet.
Desde 2011 a equipe do projeto ARQUIGRAFIA realiza um trabalho específico de
conservação e digitalização do acervo original de imagens fotográficas do Setor Audiovisual
da Biblioteca da FAU. Esta ação envolve a conservação, digitalização e difusão Web de um
acervo estimado em mais de 100 mil imagens, com cerca de 40.000 diapositivos, 31.000
imagens em papel, entre fotografias coloridas e pretas e brancas, e aproximadamente
49.500 imagens em negativo. As imagens originais devidamente higienizadas, catalogadas
e acondicionadas pela equipe de alunos-bolsistas e funcionários da Biblioteca são então
digitalizadas por uma empresa externa contratada pela FAUUSP com recursos da Pró-
reitoria de Cultura e Extensão USP.
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Serão descritos a seguir os aspectos técnicos envolvidos nas várias frentes de trabalho
integradas na atividade específica do projeto ARQUIGRAFIA em parceria com a Biblioteca
da FAUUSP. Como se trata de um projeto colaborativo em crescimento contínuo, que
promove a convergência de esforços, considera-se que os procedimentos metodológicos
empregados como piloto junto ao Setor Audiovisual da Biblioteca da FAUUSP podem se
estruturar como um protocolo de procedimentos básicos de conservação e digitalização,
para que outras instituições que desejem colaborar também com o projeto possam se valer
desta experiência criticamente.
Nesta ocasião, do III Seminário Internacional sobre Documentação do Patrimônio
Arquitetônico com o uso de tecnologias digitais, ArqDoc João Pessoa 2014, se reitera o
convite às instituições públicas e privadas, brasileiras e estrangeiras, dedicadas ao ensino, à
pesquisa e à extensão na área de Arquitetura, Urbanismo e Design para que se valham da
plataforma ARQUIGRAFIA, criando uma conta e sua identidade de usuário para difundir
neste ambiente online suas próprias coleções digitais. O mesmo convite também é reiterado
aos usuários particulares - estudantes, arquitetos, designers, professores, fotógrafos e
interessados no tema - para que criem uma conta no ARQUIGRAFIA e colaborem também
com a construção deste acervo digital difundindo neste ambiente suas coleções de imagens.
163
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1
National Science Foundation, link: http://www.nsf.gov/cise/sci/reports/atkins.pdf
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre julho de 2012 e julho de 2014, a parceria entre o Serviço de Biblioteca e Informação
da FAUUSP e a equipe do projeto ARQUIGRAFIA possibilitou a higienização de 27.316
slides de um conjunto de cerca de 40 mil pertinentes à Arquitetura e Espaços Urbanos
brasileiros. Destes, 15.118 slides já foram digitalizados e estão em processo de catalogação
e upload no sistema.
A parceria do projeto ARQUIGRAFIA com o Laboratório QUAPÁ, Quadro do Paisagismo no
Brasil, coordenado pelo Prof. Silvio Soares Macedo, possibilitou até julho de 2014 a
catalogação de 1.692 imagens, sendo que destas 1.425 já estão disponíveis no sistema
online.
Além dos slides, a estimativa inicial do projeto realizada em 2012 considerou um acervo de
10 mil fotografias em papel e cerca de 5 mil tiras de negativos em acetato. O diagnóstico
realizado no acervo entre março e maio de 2013 identificou um conjunto muito mais
numeroso, com cerca de 31.000 imagens em papel, entre fotografias coloridas e em preto e
branco, e um conjunto de 49.500 imagens em negativo. É sobre este acervo
consideravelmente mais abrangente que o inicialmente estimado que a equipe do projeto
inicia uma nova fase de trabalhos, contando com a assessoria especializada da L3
Conservação de Acervos, coordenada pelo Arq. Leandro Lopes, contratada com recursos do
Edital 2013 da Pró-reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo. Esta etapa
de trabalhos, a ser desenvolvida no segundo semestre de 2014, irá se concentrar
especificamente na higienização e acondicionamento do material fotográfico em papel e em
acetato mencionado.
Em suma, o desenvolvimento das ações técnicas e conceituais, integradas e
complementares aqui expostas, nesta parceria junto ao projeto ARQUIGRAFIA, contribuem
para a perpetuação e ampliação do papel histórico do Setor Audiovisual do Serviço de
Biblioteca e Informação da FAUUSP na construção e difusão da informação e do
conhecimento específico na área de Arquitetura, Urbanismo e Design, valendo-se agora das
possibilidades colaborativas na Web.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio ao projeto recebido por parte da Pró-reitoria de Cultura e
Extensão da Universidade de São Paulo, da Diretoria da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, da Diretoria e do Conselho do Serviço de
Biblioteca e Informação da FAUUSP. Cabe um agradecimento especial a todos os autores
de imagens fotográficas doadas ao acervo da Biblioteca da FAUUSP que prontamente se
dispuseram a colaborar com o projeto, autorizando a difusão de suas imagens na Web e
atribuindo a suas coleções uma licença Creative Commons.
REFERÊNCIAS
BEAGRIE, Neil. Digital curation for science, digital libraries, and individuals. International
Journal of Digital Curation, v. 1, n. 1, p. 3-16, 2006. Disponível em:
<http://ijdc.net/index.php/ijdc/article/view/6>. Acesso em: 18 dez. 2013.
BEIGUELMAN, Giselle. Curadoria de Informação. Encontros com o Futuro ECA-USP.
2011.
CHOUDHURY, G. Sayeed. Case Study in Data Curation at Johns Hopkins University.
Library Trends. v. 57, n. 2, 2008, p. 211-220.
CÓDIGO de Catalogação Anglo-Americano. 2. ed. 2002. São Paulo: FEBAB, 2004.
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LIMA, Vânia Mara Alves et al. Estudos para implantação de ferramenta de apoio à gestão de
linguagens documentárias : o caso do vocabulário controlado da USP. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
– CBBD, 21., 2005, Curitiba. Anais… São Paulo: FEBAB, 2005. CD-Rom.
RUSBRIDGE, C.; BURNHILL, P.; ROSS, S.; BUNEMAN, P.; GIARETTA, D.; LYON, L.;
ATKINSON, M. The Digital Curation Centre: a vision for digital curation. Local to Global
Data Interoperability - Challenges and Technologies Mass Storage and Systems
Technology Committee of the IEEE Computer Society, 2005, p. 31-41. Disponível em:
<http://eprints.gla.ac.uk/33612/1/33612.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2014.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. SIBi/USP - Departamento Técnico - SIBi/DT. Vocabulário
Controlado USP Histórico e metodologia do projeto. São Paulo. Disponível em:
<http://143.107.154.62/Vocab/image ns/Historico.htm>. Acesso em: 30 de jun. 2014
YAKEL, Elizabeth. Digital curation. OCLC Systems & Services, v. 23, n. 4, p. 335-340, 2007.
169
GUIA DA ARQUITETURA MODERNA EM FORTALEZA:
MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO DIGITAL
RESUMO
O artigo aborda o processo de elaboração do Guia da Arquitetura Moderna em Fortaleza, mediante a
sistematização, documentação e seleção das obras mais emblemáticas da arquitetura modernista da
Cidade (1960 a 1982), compilando-as em um inventário sucinto, a ser publicado em meio impresso e
digital, destacando a importância da incorporação da documentação e modelagem digital para a
valorização da memória deste acervo arquitetônico. O conteúdo do trabalho relata a experiência de
pesquisa do Guia, suas bases teóricas e empíricas, expondo a importância da incorporação das
ferramentas digitais no processo de documentação da arquitetura moderna em Fortaleza. A
documentação da contribuição dos primeiros arquitetos à arquitetura moderna na capital cearense,
através do Guia (impresso e digital), colabora para a valorização e preservação deste legado
arquitetônico e possibilita a produção de conhecimento sobre a arquitetura e a cidade no Ceará, por
intermédio da escrita de sua história e, como consequência, serve de subsídio para o ensino, a
pesquisa e a extensão sobre a arquitetura e urbanismo no âmbito local e regional.
Palavras-chave: Guia. Arquitetura Moderna. Documentação. Modelagem Digital. Fortaleza.
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ABSTRACT
The article discusses the process of elaboration of the Guide of Modern Architecture in Fortaleza,
through the systematization, documentation and selection of the most emblematic works of modernist
architecture in the city (1960-1982), compiling them into a succinct inventory, to be published, print
and digital, highlighting the importance of incorporating documentation and digital modeling for the
development of memory of this architectural heritage. The contents of the paper reports the research
experience of the Guide, their theoretical and empirical foundations, exposing the importance of the
incorporation of digital tools in the process of documentation of modern architecture in Fortaleza. The
documentation of the contribution of the first architects to modern architecture in Fortaleza, through
the Guide (printed and digital), contributes to the appreciation and preservation of this architectural
legacy and stimulates the production of knowledge about the architecture and the city in Ceará,
through its historiography and, consequently, can help in teaching, research and extension on
architecture and urbanism at the local and regional level.
Keywords: Guide. Modern Architecture. Documentation. Digital modeling. Fortaleza.
1 INTRODUÇÃO
O artigo aborda o processo de elaboração de um Guia da Arquitetura Moderna em
Fortaleza, mediante a sistematização, documentação e seleção das obras mais
emblemáticas da arquitetura modernista na cidade (de 1960 a 1982), compilando-as em um
inventário sucinto, a ser publicado em meio impresso e digital, destacando a importância da
incorporação da documentação e da modelagem digital para a valorização da memória
deste acervo arquitetônico.
Os guias de arquitetura são instrumentos que orientam pesquisadores e visitantes sobre
aspectos fundamentais da produção da arquitetura de um determinado lugar, ao oferecer
condições mínimas de conhecimento do patrimônio edificado e proporcionar possibilidades
distintas de informação e interpretação da obra, assim como sua inserção espacial e
temporal1.
O desenvolvimento da pesquisa tem contribuído para investigar teoricamente o processo de
difusão do modernismo arquitetônico no Nordeste e no Ceará, ressaltando suas
idiossincrasias, além de analisar a contribuição de diversos arquitetos modernos na
introdução, difusão e ensino da arquitetura moderna em Fortaleza.
O suporte teórico da pesquisa que envolve o Guia tem sido construído com base na
estruturação de duas vertentes conceituais: a primeira se refere à produção bibliográfica
nacional sobre a arquitetura moderna, que enfatiza os desdobramentos do movimento nos
principais centros regionais, sobretudo no Nordeste, e a segunda aborda a produção
historiográfica local que, embora não esteja consolidada, revela as especificidades do
modernismo arquitetônico no Ceará, com destaque para Fortaleza.
Os procedimentos metodológicos foram divididos, em quatro partes, a saber: - coleta e
revisão de dados secundários, constituindo os pressupostos teóricos; - pesquisa de fontes
primárias, com base na coleta de dados específicos, documentos, entrevistas com os
arquitetos e depoimentos; - complementação da documentação do acervo iconográfico
(desenhos, plantas, fotos antigas e atuais) das obras selecionadas; - Modelagem,
sistematização e inventário, constando a simulação digital das obras emblemáticas, com
base nas pesquisas já realizadas, complementado a base de dados das obras não
estudadas, assim como a produção de uma ficha de caracterização das obras.
A produção das fichas e a digitalização da iconografia (plantas, desenhos e imagens) servirá
de suporte para a composição da documentação que orientará a publicação digital e
impressa. Pretende-se que a base de dados digital, que será disponibilizada na internet,
1
Neste contexto, a produção do Guia servirá também de subsídio para o Momotur (visita guiada), atividade que
compõe a programação do 5º Seminário DOCOMOMO N/NE, a ser realizado em Fortaleza no ano de 2014.
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2
Outro esforço de documentação, digno de ser citado, foi a produção do Inventário da Arquitetura Moderna em
Fortaleza, iniciativa que surgiu da parceria entre o Laboratório de Estudos em Arquitetura e Urbanismo (LEAU),
do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e 4ª.
Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A pesquisa foi
liderada pelo Prof. Dr. Clovis Ramiro Jucá Neto do DAU-UFC, e redundou em um importante acervo iconográfico
da produção da arquitetura moderna em Fortaleza.
3
O DOCOMOMO é uma organização não-governamental, com representação em mais de quarenta países. Foi
fundada em 1988, na cidade de Eindhoven na Holanda. É uma instituição sem fins lucrativos e está sediada
atualmente em Barcelona, na Fundació Mies van der Rohe, e é um organismo assessor do World Heritage
173
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4 RESULTADOS E PERSPECTIVAS
Dentre as atividades em estágio de finalização da pesquisa para produção digital do Guia,
destacam-se a produção da logomarca; a padronização da ficha de caracterização; a
digitalização e tratamento de imagens; a produção de desenhos digitais em Autocad; a
editoração do texto; a formatação da versão digital; e a produção gráfica em geral.
Atualmente, foram sistematizadas 58 (cinquenta e oito) obras modernistas de 22 (vinte e
dois) arquitetos. Os itens da ficha de caracterização encontram-se na sua grande maioria
concluídos, assim como a formatação das fichas (Figura 1) que serão disponibilizadas no
site em processo de construção (Figura 2).
Embora a produção do Guia seja importante instrumento de documentação, a continuidade
da sistematização deste acervo já iniciado se impõe como importante objeto de estudo,
verticalizando as pretensões e o alcance das pesquisas desenvolvidas. Neste sentido, as
perspectivas são de produzir a documentação e modelagem digital das obras modernas
mais emblemáticas de Fortaleza se valendo da plataforma BIM e das tecnologias de
prototipagem rápida e fabricação digital.
A produção da documentação e publicação digital destas obras constitui importante
contribuição para historiografia da arquitetura regional, sendo um instrumento de
preservação da memória deste patrimônio arquitetônico, que embora sejam de um passado
recente, apresenta muitos exemplares já demolidos ou em estágio avançado de
degradação. A (re)construção virtual da arquitetura moderna em Fortaleza através da
modelagem digital dos edifícios emblemáticos se apresenta como uma possibilidade de
prolongar a sua existência, seja pelo resgate da memória dos edifícios demolidos, através
de uma espécie de ressuscitação, seja pela valorização do acervo remanescente.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa do Guia da Arquitetura Moderna em Fortaleza se desenvolve no âmbito do
LoCAU (Laboratório de Crítica em Arquitetura, Urbanismo e Urbanização) do Departamento
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará – DAU/UFC e conta com a
contribuição do material produzido pelas pesquisas acerca da arquitetura moderna em
Fortaleza.
A perspectiva interdisciplinar deste projeto de pesquisa deve fortalecer o intercâmbio entre o
corpo de pesquisadores do DAU e outras instâncias ligadas à documentação e
conservação, como a Superintendência Regional do IPHAN no Ceará e os núcleos de
documentação de diversas instituições públicas, como museus e bibliotecas. No contexto da
UFC, as articulações principais serão estabelecidas com a Coordenadoria de Obras e
Projetos, responsável por “supervisionar, coordenar, gerir e controlar as atividades
relacionadas com projetos e obras” dos Campi da UFC, e com o Museu de Arte da UFC
(MAUC) 4.
4
Esta interface entre documentação, modelagem digital e também projeto constituem objetos de estudos
emergentes no campo disciplinar da arquitetura e urbanismo. Destacam-se as experiências do banco de dados
do "habitar moderno e habitar contemporâneo", coordenado pelos professores Marcio Cotrim, Wylnna Vidal e
Nelci Tinem, vinculado às pesquisas do PPGAU/UFPB, que por sua vez está articulado à pesquisa Història en
Obres divulgada no Portal/Revista de História da Arquitetura Moderna, coordenado pelo professor Fernando
Alvarez Prozorovich (ETSAB/UPC). No âmbito nacional vale ressaltar ainda: o Grupo de pesquisa "A construção
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AGRADECIMENTOS
À FUNCAP que concedeu auxílio financeiro para a pesquisa "Guia da Arquitetura Moderna
em Fortaleza (1960-1982)" entre 2013 e 2014, à UFC que custeia os bolsistas de extensão e
à CAPES que custeia bolsistas do Programa Jovens Talentos da Ciência.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. L. V. X.; RUSCHEL, R. C. Building Information Modelling (BIM). In: O
processo de projeto em arquitetura: da teoria à prática. São Paulo: Oficina de Textos,
2011, pp. 421-442.
CASTRO, José Liberal de. Ceará, sua arquitetura e seus arquitetos. In: Cadernos
Brasileiros de Arquitetura: Panorama da Arquitetura Cearense. Vol. I, São Paulo:
Projeto Editores, 1982.
PAIVA, Ricardo Alexandre ; LEITE, R. M. ; LIMA, M. Q. C. . CAD e BIM: Transições e
reflexos no ateliê de projeto. In: XVI Congresso da Sociedade Iberoamericana de gráfica
Digital - SIGRADI 2012. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2012. v. 1. p. 229-232.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2002.
formal na arquitetura", coordenado pelo Prof. Edson Mahfuz vinculado ao PROPAR/UFRGS; e o LCAD -
Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho, sob a liderança do Professor Arivaldo
Amorim da FAU-UFBA.
178
EXPLORANDO E DIVULGANDO UM ACERVO ICONOGRÁFICO
DE ARQUITETURA POTIGUAR
Nicholas Martino
UFRN
nicholas.martino@hotmail.com
RESUMO
O trabalho apresenta o processo de armazenamento e divulgação de um acervo iconográfico de
arquitetura pré-modernista e modernista potiguar na rede mundial de computadores através de um
aplicativo experimental para visualização e compartilhamento de dados tabulares. Um conjunto de
informações georeferenciadas acerca de forma e uso de edificações construídas em diferentes
localidades de Natal foi compilado de trabalhos acadêmicos, produzidos entre 1989 e 2013, e
armazenado em suportes offline com esforços do grupo de pesquisa em Morfologia e Usos da
Arquitetura – MUsA da UFRN. Este artigo enfoca a transferência destas informações offline para a
rede, bem como as potencialidades e limitações do uso da ferramenta para visualização e
compartilhamento de acervos georeferenciados.
Palavras-chave: Georeferenciamento. Visualização de dados. Patrimônio arquitetônico. Natal - RN.
ABSTRACT
The study presents the process of storage and display of an iconographic database of pre-modernist
and modernist architecture of Natal in the internet. A collection of georeferenced information regarding
form and use of buildings throughout different spots of the city was assembled from academic works,
produced between 1989 and 2013, and stored in an offline base by the group Morfologia e Usos da
Arquitetura – MUsA of UFRN. This paper focuses on the transfer of the offline information into the
web, as well on the potentials and limitations to the use of the tool for visualization and the sharing of
georeferenced databases.
Keywords: Georeferencing. Data visualization. Architectural heritage. Natal - RN.
1 INTRODUÇÃO
O grupo de pesquisa MUsA vem armazenando, desde 1989, trabalhos de conclusão de
curso, monografias, inventários disciplinares e dissertações de mestrado acerca da
arquitetura potiguar. Juntos, os trabalhos registram estudos sobre diversas edificações
espalhadas por 10 bairros da cidade (Alecrim, Areia Preta, Cidade Alta, Lagoa Nova, Lagoa
Seca, Petrópolis, Praia do Meio, Rocas, Tirol e Vila de Ponta Negra) compreendendo 3 das
4 regiões urbanas de Natal.
Tentativas anteriores de divulgação do acervo na rede foram interrompidas devido a
impossibilidades técnicas e o acervo findou armazenado offline em um programa
computacional de Sistemas de Informações Georeferenciadas – SIG1. Com o aparecimento
cada vez mais frequente de novas ferramentas online, surgem novas maneiras de
1
MapInfo Professional © 2014 Pitney Bowes Software.
179
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2 USOS DA FERRAMENTA
A noção básica de computação em nuvem refere-se à capacidade de utilização de
computadores para execução de serviços e/ou armazenamento de dados através de
servidores conectados à rede (ALECRIM, 2013). Suscitando, portanto, a possibilidade de
acesso à tais informações por qualquer computador conectado à rede.
Partindo dessa ideia, a empresa norte-americana Google propõe unir a ideia de computação
em nuvem à representação estruturada de bancos de dados através do aplicativo
experimental Fusion Tables.
Somente acessível online, o aplicativo consta de uma tabela com linhas e colunas
personalizáveis onde o usuário é capaz de adicionar diferentes tipos de parâmetros aos
dados armazenados – foto, localização, tempo, etc. Com isso, torna-se possível utilizar
esses parâmetros a fim de gerar, a partir de padrões já predefinidos no aplicativo, diferentes
representações dos dados. Por exemplo, se dados textuais encontram-se cruzados com
seus respectivos dados localizacionais em uma tabela, é possível exibí-los em um mapa.
A ferramenta permite unir informações entre duas tabelas a partir de uma coluna de dados
em comum criando uma terceira tabela que pode apresentar um leque maior de
representações a serem exploradas. Em um de seus vídeos introdutórios sobre o aplicativo,
a Google une uma tabela com dados da produção de café de alguns países à outra tabela
contendo a representação geométrica dos contornos desses países (Figura 1) resultando
em uma terceira tabela com ambas informações.
Figura 1 – Dados da produção de café (esquerda) e do contorno de cada país (direita)
180
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Localização Google
e geometria Fusion
[.kml] Tables Google
Base Fusion
SIG Tables
offline
Textos e Microsoft Office
números Excel [.csv]
[.dbs]
181
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4 EXPLORANDO A FERRAMENTA
A fim de explorar os recursos que o Fusion Tables disponibiliza, é necessário definir os tipos
de dados referentes às colunas da tabela. Cada coluna pode ser classificada como Texto,
Numeral, Localização e Data/Tempo através da aba Edit > Change Columns no Fusion
Tables. Para cada tipo há uma série de subcategoria, de acordo com o esquema:
• Texto – Endereço eletrônico; imagem de uma, quatro ou oito linhas de tamanho;
vídeo do YouTube ou Vimeo; e mapa do Google Maps.
• Número – Financeiro ($); decimal de duas casas; e porcentagem (%).
• Localização – Logradouro; latitude e longitude; e código geométrico na linguagem
computacional HTML.
• Data/Tempo – Dia, mês e ano; somente ano; data e hora; e somente hora.
A partir das informações categorizadas, torna-se possível filtrar, cruzar e compartilhar os
dados georeferenciados em mapa, catalogados em fichas e sintetizados ou cruzados em
gráficos. Abaixo estão exemplos de como cada visualização da ferramenta foi explorada
com as informações do bairro das Rocas em Natal, no Rio Grande do Norte. Os resultados –
disponíveis através do endereço <http://arquiteturapotiguar.blogspot.com.br> (Figura 3) –
apresentam diferentes visualizações acerca de localização, número de pavimentos, estilo,
estado de conservação, estado de preservação e uso.
Figura 3 – Interface do blog <http://arquiteturapotiguar.blogspot.com.br>
Usuários na rede apontam algumas limitações do Fusion Tables com relação à quantidade
de dados que cada tabela suporta.
• Cada célula suporta um máximo de 1 milhão de caractéres;
182
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4.2 Georeferenciamento
O aplicativo disponibiliza dois tipos de visualização referente aos dados geoespaciais: (1)
mapa de dados geométricos georeferenciados (Figura 4), e (2) um heatmap que representa
a diferença entre variáveis numéricas através de padrões de cor (Figura 6).
183
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4.3 Catalogação
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ferramenta se mostrou eficaz no manejo de dados edilícios e urbanos tanto para o
gerenciador as informações, quanto para o usuário que interage com as diferentes
visualizações que o aplicativo é capaz de produzir. No entanto, apresenta alguns problemas
de uso que devem ser considerados.
O Fusion Tables auxilia na análise e compartilhamento de grandes bancos de dados
compostos por informações de naturezas distintas. Com a devida permissão do proprietário
da tabela, o recurso de filtro em todas as visualizações, as ferramentas de personalização
do layout dos mapas, a interação com os grafos e o Street View estão à disposição de
qualquer usuário conectado à rede.
Além das limitações técnicas já mencionadas, problemas de uso devem ser apontados.
Primeiramente, a obrigatoriedade de uma conexão com a rede para utilizar a ferramenta é a
maior desvantagem do aplicativo – os dados nem sempre estão acessíveis e a conexão é
necessária para modificar qualquer item da tabela. Outro problema é a falta de espaço para
armazenamento das imagens diretamente na tabela – as imagens são representadas
através dos seus endereços de armazenamento na rede, o uso e manutenção dos dados
seriam mais simples se as imagens pudessem ser armazenadas no próprio aplicativo.
O mecanismo de armazenamento em nuvem por si só apresenta a vantagem do salvamento
automático de dados – a dita segurança de que as informações estarão na rede
independentemente do local de acesso do administrador dos dados – e do
compartilhamento dos dados. No entanto, é bom ter em mente a ideia que, se o usuário não
tem mais responsabilidade sobre a proteção dos dados, essa função agora está no controle
da empresa proprietária do serviço de armazenamento.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à orientação da profª. Edja Trigueiro durante todo o processo de pesquisa e
análise das informações e a outros professores e bolsistas vinculados à base de pesquisa
em Morfologia e Usos da Arquitetura - MUsA.
REFERÊNCIAS
ALECRIM, Emerson. O que é cloud computing (computação nas nuvens). Disponível em:
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187
ACERVOS DIGITAIS DE ARQUITETURA MODERNA EM
RECIFE: DUAS INICIATIVAS
Guilah Naslavsky
Universidade Federal de Pernambuco
guilahn@uol.com.br
Patricia Ataíde Solon de Oliveira
Universidade Federal de Pernambuco
ataidepatricia@gmail.com
RESUMO
Um dos muitos desafios para a conservação da arquitetura moderna é a dificuldade do seu
reconhecimento patrimonial. Ano após ano, o patrimônio arquitetônico moderno sofre com
descaracterizações e é gradativamente (ou repentinamente) apagado do tecido urbano, algo que, por
vezes, acontece antes mesmo de se reconhecer o seu valor histórico e artístico. Aqueles que se
dedicam ao estudo destes objetos encontram no acervo documental um dos únicos resquícios do
projeto original e uma importante fonte de informações que não podem ser observadas sequer no
objeto construído. Apesar da importância desse material, os acervos documentais de arquitetura em
Recife – PE encontram-se em franco processo de destruição, sendo constantemente negligenciados
pelas instituições que os detém, submetidos quase que invariavelmente a condições precárias de
acondicionamento e catalogação. Este texto apresenta duas iniciativas de criação de acervos digitais
de projetos de arquitetura moderna: O projeto “Documentação do acervo de plantas da prefeitura do
Recife” e o projeto cultural “Inventário do arquiteto Armando de Holanda”, ambos desenvolvidos em
parceria com a UFPE, e que demonstram de que modo as tecnologias digitais auxiliam no processo
de conservação não só das bases documentais, mas do próprio objeto construído, além de
possibilitar a fácil difusão de informações.
Palavras-chave: Acervos digitais. Recife. Arquitetura Moderna.
ABSTRACT
One of the many challenges for the conservation of modern architecture is the challenge of the
heritage acknowledgement. Year after year, the modern architectural heritage loses its original
features and is gradually (or abruptly) removed from the cities, which, many times, it happens before it
even recognize the historical and artistic value of these buildings. Those who study these buildings
find in document archives one of the only remnants of the original project and an important source of
information that can not even be observed in the constructed object. Despite the importance of this
material, architectural document collections in Recife - PE are rapidly disappearing, being constantly
neglected by the institutions which owns them, almost invariably subjected to poor storage conditions
and cataloging. This paper presents two initiatives to create digital collections of modern architecture
projects: The project " Documentação do acervo de plantas da prefeitura do Recife " and the cultural
project " Inventário do arquiteto Armando de Holanda ", both developed in partnership with UFPE, and
demonstrate how digital technologies can be useful in the conservation process, not only of the
documental bases, but also of buildings, in addition to enabling the easy information diffusion.
Keywords: Digital collections. Recife. Modern Architecture.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
1 INTRODUÇÃO
Em estudos desenvolvidos ao longo dos anos alguns autores já reconhecem os desafios
para a conservação da arquitetura moderna (MACDONALD, 1996) (PRUDON, 2008)
(MOREIRA, 2010). A falta de uma cultura de manutenção, os tipos de materiais utilizados e
a rápida obsolescência dos sistemas infraestruturais e dos usos aos quais os edifícios
modernos se destinam são sempre apontados como fatores determinantes para o desgaste
destes exemplares. Moreira (2010), ainda apresenta outro desafio que a conservação da
arquitetura moderna se depara:
Nossas sociedades ainda não consolidaram a ideia de que a arquitetura
moderna é um produto cultural e de que deve ser protegida para as futuras
gerações. O reconhecimento de um edifício como um bem cultural de uma
comunidade leva certo tempo. Muitos edifícios modernos estão sob o risco
de descaracterização ou demolição, mas muitos deles ainda não tiveram
seus valores reconhecidos pela sociedade. (P.155)
A feliz colocação do autor define claramente o que seria o grande desafio para a
conservação, não só da arquitetura moderna, mas para qualquer artefato histórico: o
reconhecimento patrimonial. A dificuldade de valoração da arquitetura moderna (e sua
consequente degradação) delega aos acervos documentais a importante tarefa de
salvaguardar valiosas informações que se perderam ao longo do tempo.
Infelizmente, a situação dos acervos documentais de arquitetura moderna não é diferente da
que aflige o patrimônio edificado. O exemplo de Recife é bastante elucidativo em relação à
negligência com este tipo de documentação: Na capital pernambucana o descaso com o
patrimônio iconográfico de arquitetura é evidenciado nos arquivos administrados por órgãos
públicos, sobretudo nos municipais, como as coordenadorias da Diretoria de Controle de
Obras (DIRCON). Vale ressaltar que essa não é uma prática exclusivamente local, como
afirma Gutiérrez (2001), “É grande a lista de Arquivos Públicos, sobretudo os municipais de
‘Obras particulares’ que se tem visto destruídos ou dizimados pela falta de cuidado de seus
responsáveis, as periódicas ‘queimas’ em busca de espaço e suposta limpeza de material
‘inútil’ ou o eventual roubo pelos usuários.”
O caso recifense motivou algumas iniciativas no bojo da conservação dos acervos
documentais de arquitetura moderna que tiveram o objetivo comum de salvaguardar e
promover acesso às informações contidas nestes documentos, que quase que
invariavelmente se encontram em franco processo de destruição. Serão apresentadas a
seguir duas experiências de criação de acervos digitais, ainda embrionárias se
considerarmos o número de documentação disponível na cidade, mas essenciais para a
tomada de consciência da importância deste material para a memória da cidade.
189
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
1
O acervo das Coordenadorias regionais da DIRCON compõe um arquivo corrente. Trata-se de um
conjunto de documentos, em tramitação, pelo seu valor primário, é objeto de consultas frequentes
pela entidade que o produziu e a quem compete a sua administração. (Dicionário de Terminologia
Arquivística, 2005)
190
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Apesar da evidente importância do seu acervo, que reúne cópias de todos os projetos
submetidos à aprovação na cidade do Recife, desde a década de 20 até hoje, nas
Coordenadorias Regionais2 da cidade, não existe qualquer política de conservação do
material arquivado, seja referente à sua higienização ou sua forma de armazenamento e
acondicionamento. Os projetos aprovados durante o século XX, geralmente cópias
heliográficas3 em grandes formatos, encontram-se acondicionados sobre mesas ou
estantes, armazenados em caixas plásticas ou de papelão enumeradas, geralmente
empilhadas e com quantidade de documentos superior ao que suportam.
Infelizmente a ausência de sensibilidade em relação aos arquivos de arquitetura não se
limita aos órgãos públicos. Ainda não existe a consciência por parte dos arquitetos de que
os arquivos produzidos pelos seus escritórios durante o período de atuação profissional
também compõem um valioso acervo capaz de retratar grande parte do pensamento
arquitetônico da época em que foram desenvolvidos.
2
Atualmente, em Recife, a Diretoria de controle de obras (DIRCON) está dividida em seis Coordenadorias
Regionais, cada uma delas é responsável pelo gerenciamento das construções e modificações de uma parcela
da cidade.
3
O método comumente utilizado para a reprodução dos projetos de arquitetura do século XX eram as cópias
heliográficas (ou cópias ozalid). São obtidas por processo fotomecânico por contato direto de um original
translúcido com material latente colorível, que se torna visível pela ação de gases de amoníaco, (Dicionário de
Terminologia Arquivística, 2005). São extremamente sensíveis a fatores externos, e perdem sua nitidez
naturalmente com o passar do tempo.
4
Até a década de 70, grande parte do material iconográfico de arquitetura da cidade foi perdido ou
extremamente deteriorado em face ao grande número de enchentes que atingiram a cidade do Recife
neste período.
191
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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material, além das eventuais “queimas de arquivo”, tem colocado a cidade em uma carência
quase total de registros iconográficos desta natureza.
No caso de Recife, a ausência de um centro de documentação ou qualquer outra instituição
capaz de organizar metodicamente os registros de arquitetura e colocá-los à disposição dos
interessados (ROBREDO; CUNHA, 1994. P.04) se apresenta como um desafio tanto para a
preservação deste material quanto para a conscientização da importância dos acervos
particulares de arquitetura para preencher lacunas que ainda existem na historiografia da
arquitetura brasileira.
Apesar do Centro de documentação da Fundação Joaquim Nabuco possuir alguns fundos
de arquitetos, como o do italiano Mário Russo, a instituição não possui políticas de captação
ou de incentivo à doação de novos fundos, ressaltando a importância da criação de um
centro de documentação especializado em arquitetura para a conscientização e preservação
do patrimônio iconográfico de arquitetura.
5
Neste período, o LIAU estava sob a coordenação do professor Dr. Maurício Rocha de Carvalho.
192
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Este projeto resultou na criação de uma mídia digital contendo, além de todos os arquivos
digitalizados, uma ficha com informações relevantes sobre o projeto, que podem ter sido
omitidas pelo processo de digitalização. Por ser um acervo formado essencialmente por
desenhos submetidos à aprovação municipal, croquis e memoriais de projeto não são
facilmente encontrados. Porém devido ao caráter artesanal do material produzido no final do
século XX, até mesmo os desenhos técnicos possuem evidente valor artístico (Figura 4).
6
O projeto de pesquisa “Documentação do acervo de plantas da Prefeitura da cidade do Recife”, aprovado no
edital FACEPE Multiusuários/acervos-07/2010.
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Como afirma Souchon (2000. P.15), as mudanças decorrentes dos processos de produção
industrial influenciaram não só na prática arquitetônica do século XX, mas também nos tipos
de registros arquitetônicos, tornando-os mais uniformes e menos personalizados. Ou seja,
esses registros iconográficos não são importantes apenas por apresentar soluções
projetuais, mas também por representar as características individuais típicas de registros
artesanais.
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cada projeto: Nesta fase os projetos foram retirados dos tubos de papelão nos quais
estavam armazenados para que fosse feito um levantamento do tipo e da quantidade de
material necessários para o processo de higienização e reparo. (Figura 5)
• Na segunda etapa, além do processo de higienização (Figura 6) e realização de
pequenos reparos7 foram elaboradas etiquetas de identificação para serem afixadas em
cada prancha, de modo a garantir seu reconhecimento imediato, mesmo que estejam
ocasionalmente misturadas entre outros projetos.
• A terceira etapa corresponde ao processo de digitalização dos documentos. Para esta
atividade foi utilizado um scanner do tipo Colortrac Smartlf SC 42 (Figura 7): Por
questões operacionais foram gerados dois arquivos digitais de cada prancha, entretanto,
em formatos diferentes, um .TIFF e o outro .JPGE, ambos com uma resolução de 300
dpi.
• Na quarta, e última, etapa inicia-se o processo de armazenamento dos documentos. Na
mapoteca são armazenados os projetos que possuem todos os documentos com
formato igual ou de tamanho inferior ao A0. Em tubos de PVC são acondicionados os
projetos de grandes formatos, evitando que eles permaneçam dobrados por muito tempo
dentro da mapoteca, comprometendo ainda mais a integridade das fibras do papel.
Fonte: Vânia Lúcia Cândido, 2014. Fonte: Vânia Lúcia Cândido, 2014.
7
No processo de higienização e reparo foram removidas as sujidades acumuladas nos documentos com o
passar dos anos; os projetos que estavam enrolados ou dobrados precisaram ser planificados e tiveram fitas
adesivas, presilhas e grampos metálicos removidos e substituídos, quando necessário, por material apropriado
para restauro de papel.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da quantidade significativa de documentação de arquitetura moderna que ainda
encontra-se retida em instituições que pouco se preocupam em manter a integridade dos
seus acervos é extrema importância reconhecer o caráter embrionário das iniciativas
descritas neste trabalho. Entretanto, não se pode diminuir a importância de projetos como
estes no bojo das atividades de preservação do patrimônio iconográfico, como afirma
Oliveira et. al (2012. P.09):
Esse processo de digitalização é visto como iniciativa de preservação
patrimonial porque dinamiza e favorece o acesso às informações,
fomentando a discussão sobre documentação de arquitetura ao mesmo
tempo em que desperta a consciência para a proteção deste tipo de acervo
iconográfico.
Logo, a digitalização, de forma alguma diminui o valor da documentação original, pelo
contrário, visa por a salvo a informação contida naqueles documentos e difundi-la,
adequando-a as demandas informacionais atuais. “No entanto, o produto dessa conversão
não será igual ao original e não substitui o original que deve ser preservado. A digitalização,
portanto é dirigida ao acesso, difusão e preservação do acervo documental.” (CONARQ,
2010. P.06). É também é de extrema importância reconhecer que o acervo digital em
nenhuma circunstância substitui o acervo de documentos originais, nem tampouco deve
desestimular estratégias de conservação deste material.
O caráter pioneiro destas experiências ainda traz alguns problemas operacionais, como
aponta Gumlich, “Os desafios desse setor são grandes, uma vez que as técnicas de
conservação para as mídias digitais ainda estão sendo testadas, em muitos casos, pela
primeira vez” (2013. P. 23, a existência deste tipo de iniciativa que proporciona a
preservação de valiosos registros de arquitetura, até então esquecidos nos arquivos de
diversas instituições, geraria excelentes resultados, uma vez que, ainda não existe na
cidade do Recife um centro de documentação específico de arquitetura capaz de captar os
acervos de arquitetura originais, conservá-los e disponibilizá-los como fonte de pesquisa.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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AGRADECIMENTOS
Em tempo, é necessário registrar nosso agradecimento às equipes envolvidas no
desenvolvimento dos projetos “Digitalização do acervo de plantas da prefeitura do Recife” e
“Inventário do Arquiteto Armando de Holanda”, assim como às instituições parceiras e
financiadoras: a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ao Laboratório da imagem
de Arquitetura e Urbanismo (LIAU/UFPE), a Fundação de Amparo a Pesquisa de
Pernambuco (FACEPE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
(FUNDARPE).
REFERÊNCIAS
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vol. 20, p. 12-32, Dez.2013.
197
MODERNIDADE PETROPOLITANA – O DESAFÍO DA CRIAÇÃO DE
UMA NOVA IDENTIDADE
RESUMO
Petrópolis, no Rio de Janeiro, é reconhecida como a Cidade Imperial. Apesar da cidade
remontar para um momento mais próximo ao século XIX, com sua arquitetura historicista,
sua periferia se tornou terreno para a produção de uma arquitetura que modificaria o modo
de pensar de toda uma geração, encabeçada por nomes que repercutiriam com seus
trabalhos no Brasil e no mundo ao abraçarem o movimento Moderno. Nomes como Oscar
Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy e Sergio Bernardes tiveram em Petrópolis parte de seus
sonhos modernistas concretizados em projetos realizados na cidade. Apesar de algumas
obras notadamente afamados; como a Casa de Edmundo Cavanelas, obra de Oscar
Niemeyer; boa parte desta arquitetura é pouco conhecida, tanto pela população como por
arquitetos. O que esta artigos busca expor é como explorar e trazer a tona estes projetos,
desvendando a relação desta arquitetura com a cidade que a circunda, utilizando um
catálogo digital, que vem sendo criado a partir da pesquisa em diferentes acervos aliado a
recomposição dos projetos em meio digital de maneira tal que possa apresentar a
Arquitetura Moderna existente em Petrópolis a seus habitantes e visitantes, tornando ainda
mais claro a relação da mesma com mais este período histórico.
ABSTRACT
Petropolis in Rio de Janeiro, is recognized as the Imperial City. Although the city remount for
closer time to the nineteenth century, with its historicist architecture, its outskirts became
terrain to produce an architecture that would change the way of thinking of an entire
generation, headed by names that had as repercussion with his work in Brazil and the world
to the embrace the Modern movement. Names like Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy
and Sergio Bernardes had in Petrópolis part of their modernist dreams realized in projects
undertaken in the city. Despite some particularly famous works; as the House of Edmundo
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Cavanelas, work of Oscar Niemeyer; Much of this architecture is not well known, both by the
population as architects. What is this articles seeks to expose and explore how bring out
these projects, unraveling the relationship of this architecture with the city that surrounds it,
using a digital catalog, which has been created from the research in different collections
together with restoration projects in digital media in such a way that it can present the
existing Modern Architecture in Petropolis its inhabitants and visitors, making even clearer
the relationship of the same over this historical period.
Keywords: Architecture. Modernism. Petropolis. Rio de Janeiro. Digital Graphics.
1 INTRODUÇÃO
A cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, apesar de possuir alguns dos projetos
modernistas mais notáveis da fase áurea do movimento - como a Casa de Edmundo
Cavanelas, obra de Oscar Niemeyer, A residência de George Hime, projeto de Henrique
Mindlin e premiada na I Bienal de São Paulo em 1951, e a Casa de Samambaia, premiada
na II Bienal de São Paulo em 1953 e projetada por Sergio Bernardes para Lota de Macedo
Soares – vê esta arquitetura passar despercebida, seja pela população da cidade como por
arquitetos. A documentação desta produção, apesar de existente, sempre toca a cidade de
maneira tangente. Durante o processo de levantamento preliminar não foram identificados
livros, artigos em periódicos ou websites que, ao tomar a cidade de Petrópolis como ponto
de partida, demonstre a riqueza dos exemplares produzidos pela Arquitetura Modernista na
mesma. Relegar tamanha herança a um segundo plano não é algo condizente com uma
cidade que tem em sua história um de seus principais atrativos.
Esta pesquisa surge deste vazio informacional, com a premissa de mostrar que, apesar de
todo um histórico eclético vinculado ao período imperial, uma identidade da qual é
impossível desvincular a cidade, sua produção modernista possui relevância, tanto pelos
números até o momento identificados, quanto pelos atores envolvidos, e que
consequentemente merece ser estudada, entendida e principalmente compartilhada.
O projeto tem suas premissas calcadas na Virtual Heritage, termo cunhado, segundo
Roussou (2002), para identificar trabalhos que lidam com as técnicas da Realidade Virtual
(RV), em seu sentido mais amplo, e Herança Cultural. De posse do ferramental fornecido
pela RV, a Virtual Heritage visa facilitar a síntese, conservação, reprodução, representação,
reprocessamento digital e exibição de evidências culturais.
Tendo esta preposição como meta, imaginou-se construir Um catalogo, que possa
identificar, localizar e documentar as obras modernistas existentes na cidade de Petrópolis.
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Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, tem um perfil arquitetônico bem particular. Sua
história é intimamente ligada ao período imperial brasileiro, uma vez que a mesma é fruto do
desejo de D. Pedro II de colonizar a área onde construiria seu palacete de verão, atual
Museu Imperial, edificado entre 1845 e 1862,.
A cidade foi criada a partir do decreto nº 155 de 16 de março de 1843 , tendo à frente de seu
projeto o Major Julius Friedrich Koeler, sendo grande parte de sua força de trabalho formada
por imigrantes europeus. A proximidade com a nobreza fez com que boa parte da burguesia
da capital, então a cidade do Rio de Janeiro, seguisse em direção a Petrópolis, fazendo com
que uma diversidade de palacetes ecléticos aflorassem na área central da nova cidade.
O legado formado pela série de edificações que surgiram ao redor da residência do
Imperador acabou por constituir uma das principais fontes de renda da cidade, o turismo
histórico. Contudo, outro período cultural, intimamente ligado à arquitetura, o Modernismo,
contribuiu de maneira contundente para sua memória, indo além dos palacetes e edificações
ecléticas da cidade imperial.
O Modernismo tem, no período entre as décadas de 30 e 70, a sua afirmação no campo da
arquitetura, e ganharia uma face muito peculiar em nosso país, tendo como uma de suas
principais frentes a “Escola Carioca”. Composta por arquitetos formados na Escola Nacional
de Belas Artes, a partir de meados da década de 20, é capitaneada por profissionais como
Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Henrique Mindlin, Sérgio Bernardes e
os irmãos MMM Roberto. Eles de certa forma definiram para o mundo o que foi a Arquitetura
Modernista Brasileira, que ganharia visibilidade com o pavilhão na Feira Mundial de Nova
York, em 1938, e a exposição Brazil Builds realizada no MoMA em 1943.
Apesar das mudanças políticas, Petrópolis continuava a atrair a elite carioca, fosse por seu
clima aprazível, sua proximidade com a capital (cerca de 70km entre ambas) ou
simplesmente por buscar na cidade o sossego pouco comum à metrópole. Uma parte desta
elite encontrou no Modernismo, e na Arquitetura realizada por aqueles que abraçaram o
movimento, o canal para expressar a vanguarda de seus ideais. Seriam eles os primeiros a
levar esta nova arquitetura serra acima.
Apesar de não ser um centro econômico ou político no país, a cidade atraiu sobremaneira o
olhar de modernistas para si. Ao analisar a produção arquitetônica modernista na cidade,
percebe-se uma predominância das edificações residenciais de veraneio, originalmente
isoladas da malha urbana. Este perfil, de uma edificação que não é a principal de seu
proprietário, agregado ao clima e à rica paisagem natural da cidade, nos levam a supor se
tais escolhas não foram feitas pela possibilidade de experimentar soluções que, dentro de
uma malha urbana já adensada como a do Rio de Janeiro, não seriam possíveis. A
iconografia identificada até o momento reforça estas suposições (figuras 1 e 2), ao enfatizar
o relacionamento das obras com o seu entorno. Tais informações nos levam a pensar se
uma linguagem arquitetural própria pode estar atrelada a cidade, ponto que a pesquisa vem
investigando ao longo de seu desenvolvimento.
200
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Figura 2 – Casa de Chagas Freitas. Arq. Sergio W. Bernardes. Entre 1950 e 1956, Nogueira
3 METODOLOGIA
Dado a natureza do projeto, definiram-se 3 momentos de trabalho: a coleta de dados, a
manipulação da informação e o compartilhamento dos resultados.
3.1 Coleta
A coleta tomou como ponto de partida bibliografia que, direta ou indiretamente, foca o
período analisado. Algumas obras em particular acabaram por ganhar peso no processo de
pesquisa, como o livro considerado seminal no que tange a arquitetura modernista brasileira
“Modern Architecture in Brazil”, de Henrique Mindlin. Editado originalmente em 1956, é onde
vemos compiladas pela primeira vez informações de obras como a Residência do
Embaixador Accioly, proejto de Francisco Bolonha; a Casa de campo de Lauro Souza
Carvalho, de autoria de Henrique Mindlin, além de outros projetos, em um total de 14
edificações ligadas a cidade.
Outras obras sobre arquitetura no Brasil, como os livros de Yves Bruand (1996) e Hugo
Segawa (1997), também fornecem informações para identificação de projetos elaborados
para cidade. Outra importante fonte, menos conhecida, mas não menos relevante, é o Índice
de Arquitetura Brasileira 1950-1970. Compilado pela FAU-USP em 1974, fornece indicações
para diversos artigos publicados em periódicos que tinham a arquitetura como tema entre os
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anos indicados no título. Pelo menos 41 citações sobre a cidade de Petrópolis e Arquitetura
Moderna puderam ser identificados nesta obra.
Ao identificar as fontes primárias, como periódicos ou acervos públicos e privados, uma
nova rodada de análises e coletas foi realizada. A pesquisa foi levada ao Núcleo de
Pesquisa e Documentação (NPD) e a Biblioteca da FAU/UFRJ, onde se travou contato com
o acervo de Sergio Bernardes, incorporado à instituição em 2011, e a revistas como Módulo,
Arquitetura e Engenharia, Arquitetura (IAB) e Habitat. A revista Acrópole, fonte que também
fornece importantes citações a obras na cidade, é disponibilizada pela FAU/USP de forma
online, e também teve seus artigos catalogados.
Outro fonte que vem sendo constantemente referenciada é o departamento de plantas da
cidade de Petrópolis. Apesar de nem sempre se possuir a correta localização das
edificações, o providencial auxílio do corpo de funcionários do local vem agilizando o
processo de identificação. Pistas, como o nome de loteamentos, ou imagens, que apontam
para locais conhecidos na cidade, auxiliam ao reduzir o universo de ruas a ser analisadas no
acervo.
A aproximação da pesquisa com a comunidade acadêmica, na figura dos professores e
alunos do campus, também gerou frutos e um importante movimento de sinergia. Com o
auxílio de pesquisadores que trabalham como voluntários no projeto, foi possível identificar
pelo menos dois alunos que residiam em edificações que se encaixavam no perfil da
pesquisa. Além disto, outros quatro projetos não citados anteriormente em nenhuma
publicação, foram identificados em trabalho de campo. O auxílio de professores nativos da
cidade também permitiu a localização de pelo menos outros quatro projetos.
3.2 Manipulação
O segundo momento, de manipulação das informações, acontece de maneira quase que
concomitante ao processo de coleta de dados. À medida que as fontes vem sendo
identificadas, páginas e plantas são digitalizadas, organizadas, e agregadas inicialmente em
uma estrutura de pastas em um drive virtual, acessível a todos os membros da pesquisa. Ao
se identificar os endereços e autorizadas as visitas, fotos que representam o momento atual
das edificações são realizadas, indicando assim seu estado de conservação e fidelidade ao
projeto original. Estas também são incorporadas ao acervo do trabalho no mesmo drive
virtual.
Boa parte deste material bruto, não produzido pela própria pesquisa, vem passando por
tratamento de imagem, buscando igualar a qualidade fornecida pelas diferentes fontes,
mantendo assim um padrão que virá a ser apresentado no produto final.
3.3 Compartilhamento
O terceiro momento, focado no compartilhamento dos resultados, está sendo dividido em
duas fases. Na primeira, resolveu-se aproveitar a força das redes sociais para auxiliar no
processo de pesquisa. Ao analisar a cidade com o olhar de quem não reside na mesma,
lacunas no que condiz a identificar localidades e pontos notáveis da paisagem fogem ao
pesquisador, mas não a quem tem a cidade como seu berço.
Uma página na rede social Facebook, Petrópolis – Cidade Modernista (
https://www.facebook.com/petropolismodernista ), intensivamente divulgada na comunidade
acadêmica e em grupos que tem a cidade de Petrópolis como tema, vem progressivamente
expondo o resultado da coleta de dados, divulgado fotos e informações sobre edificações,
sejam estas já identificadas na cidade ou não. Os resultados conseguidos com 2 semanas
de exposição se mostraram além das expectativas, conseguindo-se a identificação e
localização de 5 edificações já registradas na pesquisa, além da adição de um novo projeto
não identificado em fontes anteriores. Como pode verificar-se, apesar da aparente
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4 DESENVOLVIMENTO
A escolha pelo publicação em um formato digital, particularmente na internet, se dá pela
capacidade que mesma vem apresentado de aproximar pessoas em torno de temas comuns
(Johnson, S.; 2001), como a experiência na rede social pode comprovar. É um meio
inerentemente imaterial e de grande facilidade de distribuição da informação. Somando-se
isso à utilização adequada das técnicas de Gráfica Digital, poderá fornecer ao interessado
uma visita virtual imersiva, e principalmente, quando analisamos do ponto de vista da
economia da cidade, instigar o desejo da visitação aos locais apresentados.
O uso de um banco de dados como pilar para este catálogo parte de alguns princípios.
Arquitetos têm de lidar com a necessidade de organizar um tipo de conhecimento que não
tem necessariamente a palavra como o foco. Apesar de textos, resenhas e memoriais
fazerem parte da realidade do projeto arquitetônico, são as imagens, como desenhos, fotos
e plantas sua porção mais significativa. Por muito tempo, a figura de compêndios e
catálogos impressos; como a obra “A Arte de Projetar” de Ernst Neufert; foi a solução para
tal dilema.
Com a popularização da informática e o acesso facilitado a sistemas de bancos de dados,
capazes de armazenar e indexar diferentes tipos de informação. Analisando pelo aspecto
computacional da organização do conhecimento, podemos definir que um banco de dados é
um conjunto de informações dotado de uma estrutura regular, que as organiza; e um
software, capaz de manipular este conjunto criado (SILBERSCHATZ, A.; KORTH, H. F.;
SUDARSHA, S.; 2005).
Quando analisamos as cidades, de modo geral, também encontramos nestas os mecanismo
necessários para organizar e recuperar o conhecimento; as pessoas tendem a se reunir nos
centros urbanos para facilitar a transmissão de informações (Johnson, S.; 2003). Aqui, o
produto da cidade se torna o objeto de estudo, então outras ferramentas se fazem
necessárias.
Frente a estas afirmativas, se esclarece que a opção por um banco de dados digital se deve
à intenção de organizar os dados das edificações identificadas a partir de uma estrutura
relacional. Desse modo, mesmo que não sejam completamente visíveis em uma primeira
análise, os relacionamentos entre os registros e os padrões formados vão se descortinando
à medida que os objetos de estudo vão sendo conhecidos e registrados. As relações entre
obras e os atores nelas atuantes– arquitetos, engenheiros e proprietários - poderão sugerir
padrões ou evidenciar conexões que poderiam passar despercebidas à análise individual ou
independente de cada item.
A escolha da tecnologia a ser utilizada considerou a escalabilidade do sistema, sua
facilidade de operação e instalação em diferentes plataformas e a capacidade de trabalhar
com dados georreferenciados, o que direcionou o projeto para a utilização do sistema
MYSQL.
Para se georreferenciar um obra, se faz primeiramente necessário assinalar sua localização.
A identificação de uma edificação na bibliografia não necessariamente acarreta em se
descobrir sua localização. Livros e revistas, ao expor uma determinada obra, quase sempre
omitem o endereço dos projetos, principalmente aqueles executados para particulares, por
questões de privacidade. Dada esta lacuna, um trabalho extenso, tanto junto ao acervo de
plantas da Prefeitura Municipal de Petrópolis, quanto de visitação aos bairros; quando
citados; busca identificar precisamente o local onde estas obras se encontram. O trabalho
em redes sociais, como já citado, também vem auxiliando neste processo.
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De posse destes documentos, que são públicos, se faz possível a correta a reprodução dos
mesmos em meio digital, mantendo registrada sua proposição original, preservando sua
essência construtiva e facilitando seu acesso por meio do Catálogo em construção.
Agregasse também a preocupação advinda do fato de não existir na cidade de Petrópolis
um projeto de digitalização dos projetos depositados em seus arquivos, gerando dúvidas
quanto ao futuro destes documentos.
Estes desenhos também poderão servir como ponto de partida para a reprodução
tridimensional das obras, seja para utilização no Catálogo Digital, quanto para a reprodução
de maquetes utilizando tecnologia de impressão em 3D, podendo então cumprir o papel de
formar um acervo físico e compacto das obras pesquisadas, disponíveis a alunos e
interessado pelo tema.
Outra motivação ligada à localização das obras diz respeito à possibilidade de visitação aos
imóveis. Além de procurar sensibilizar os proprietários da importância que tais edificações
possuem para a cidade, pretende-se registrar fotograficamente o momento atual das obras.
Com isso, é possível contrapor o momento atual da edificação com registros visuais que
remontem ao momento da conclusão da mesma (Figura 5). Agregada à análise das plantas,
estas comparações permitirão um estudo tanto das permanência quanto das modificações
sofridas pela obra ao longo do tempo. Mais do que criticar possíveis alterações encontradas,
o que se buscas é compreender as motivações que levaram à realização de interferências, e
o quanto estas podem ter modificado, ou até mesmo aumentado, a qualidade presente no
projeto original.
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Uma das conquistas decorrentes dos contatos com os proprietários dos imóveis vem sendo
a abertura de algumas destas a visitas guiadas pelos professores. Com a presença de
alunos de diferentes unidades, uma importante troca entre pesquisa e graduação vem
ocorrendo, e, de certa forma, já incutindo nestes alunos a importância que este outro
período histórico na Arquitetura possui para a cidade.
Uma vez defina a forma como serão trabalhados os dados, se faz presente definir como
apresentar as informações coletadas e organizadas. Este “front-end” servirá de interface
entre a pesquisa e aqueles que se pretende atingir, isto é, a população local e interessados
em arquitetura. Para que a acessibilidade seja irrestrita a qualquer dispositivo capaz de
acessar a internet, exclui-se a utilização de tecnologias proprietárias como o Adobe Flash, o
que naturalmente direciona a utilização de padrões web abertos, como o HTML 5.
A interface, ainda não desenhada, precisará responder a algumas necessidades, como a
possibilidade de trabalhar os dados geográficos coletados. A popularização de aparelhos
móveis capazes habilitados para os sinais GPS é um fato. Sendo possível recuperar estas
informações registradas em banco de dados, um visitante, através de um mapa online
vinculado ao website, poderia identificar rapidamente aquelas que estivessem mais
próximos de si.
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Outra questão diz respeito à visualização das relações entre as informações. Como já
citado, a analise dos dados e seu registro no banco vem levando a identificar laços entre
obras que, em um primeiro momento, podem ser pouco claros. A possibilidade de se
navegar entre estas diversas conexões, em todas as direções possíveis, reforça o caráter de
hiperdocumento presente nas informações coletadas, e que darão corpo ao website.
5 CONCLUSÕES
As obras de grandes mestres da Arquitetura, tal como Niemeyer e Lucio Costa, por si só
atraem interessados em seus projetos. Contudo vemos muitos projetos, mesmo que
menores, que possuem qualidade arquitetônica, mas não despertar o mesmo tipo de
valorização por turistas, amantes da arquitetura ou estudiosos. O fenômeno em si pode
simplesmente estar ligado ao desconhecimento do público atraído por este tipo de bem
cultural, ou ainda pela dificuldade em acessar determinadas obras.
O não reconhecimento da importância destas edificações leva, de certa forma, à indiferença
para com as mesmas. A criação deste catálogo pretende pelo menos instilar na população o
interesse por entender e conhecer estes projetos. Ainda que não consigam dar a mesma
importância dada ao passado imperial da cidade, que estes possam ter uma nova visão para
obras que, de resto, permanecem invisíveis ou dormentes na paisagem urbana.
Petrópolis tem como uma de suas principais receitas o turismo calcado na imagem de
Cidade Imperial, mas desconsidera toda uma produção de um período importante,
edificações e propostas idealizadas por arquitetos brasileiros reconhecidos em todo o
mundo.
É necessário fazer com que a população e os visitantes reconheçam este outra face, tão
pouco explorada, e possa identificar este legado Moderno, que, mesmo mais jovem que sua
contraparte imperial, também possui sua importância.
Por outro lado temos a questão de preservar a memória deste patrimônio. A cidade é um
organismo dinâmico, e muitas destas obras sofrem mudanças, sejam para se adequar a
novos usos, crescimento ou mudança das famílias que passam a utiliza-las, quando não a
própria demolição para dar lugar ao novo, sem julgar o valor que este substituto traz ou não
à cidade. Uma vez digitalizadas e reproduzidas em escala tal qual a concepção de seus
projetistas, as obras tem a oportunidade de permanecerem fiéis a seu espírito e com isso
entendidas conforme seu contexto original.
Se faz necessário mostrar que Petrópolis não se resume a ser Imperial, algo já naturalmente
assumido no dia a dia da cidade e de sua população, mas que também pode ser Moderna, e
se reconhecer como campo fértil de experimentação do novo.
AGRADECIMENTOS
Ficam aqui registrados os agradecimentos ao Programa de Pesquisa Produtividade da
Universidade Estácio de Sá, sem o qual este projeto não existiria; aos meus alunos Adonis
Silva e Juliana Christ, que vem colaborando voluntariamente com este projeto; ao Professor
Paulo Igreja, pelo apoio na Pesquisa; e a coordenador do Curso de Arquitetura da
Universidade Estácio de Sá – Unidade Petrópolis, Adriano Arpad, que muito tem feito para
ajudar este trabalho.
REFERÊNCIAS
BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 3. ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1996.
COSTA, E. R. R. (Org.); CASTILHO, M. S. (Org.). Índice de Arquitetura Brasileira 1950-
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MINHA TIA GUADALUPE: REPRESENTAÇÃO DA
MODERNIDADE NA FRANÇA EM MON ONCLE (1958) E SEUS
REFLEXOS EM KOOLHAAS HOUSELIFE (2008)
RESUMO
A partir de dois documentos audiovisuais, busca-se fazer um paralelo entre a arquitetura moderna
dos anos 1950 e uma casa pós-moderna do final do século, com foco principalmente nas diferentes
apropriações que o usuário faz da arquitetura. O atrapalhado protagonista Monsieur Hulot, do filme de
Jacques Tati (1958) vai demonstrar suas inadequações à rápida modernização do estilo de vida
francês de maneira sutil e cômica. Longe de parecer pontual, o filme traz ainda semelhanças com
nossa vida cotidiana, o que pode ser percebido no documentário Koolhaas Houselife (2008), de Bêka
e Lemoine, através do olhar simples da Dona Guadalupe, faxineira da casa pós-moderna em
Bordeaux do final do século 20.
Palavras-chave: Jacques Tati. Mon oncle. Rem Koolhas. Pós-modernismo. Guerra fria.
ABSTRACT
From two audiovisual documents, we seek to draw a parallel between the modern architecture of the
1950s and a post-modern home of the century, focusing mainly on the user’s appropriations about the
building. The bumbling protagonist, Monsieur Hulot, from Jacques Tati’s movie (1958), will
demonstrate its inadequacies to the quick modernization of the French lifestyle in a subtle and
humorous way. My Uncle still has echoes of our everyday life, which can be seen in the documentary
Koolhaas HOUSELIFE (2008), Beka and Lemoine, through the simple look of Mrs. Guadalupe, maid
of a late 20th century postmodern house in the Bordeaux.
Keywords: Jacques Tati. Mon oncle. Rem Koolhas. Postmodernism. Cold War.
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como fonte histórica ainda é um exercício relativamente recente, já que pouco se produziu
em material de análise levando em consideração tanto o cinema como a própria arquitetura
no cinema.
Marc Ferro, na década de 1970, foi o primeiro a refletir sobre uma metodologia para
o uso das fontes audiovisuais como fontes históricas no período da Nova História. Para ele,
o cinema deixaria entrever “tensões dos diversos segmentos da sociedade, veiculando
elementos que nem os grupos de poder constituídos, nem aqueles envolvidos na produção,
apreenderiam” (SANTOS, 2013, p. 84). Dessa forma, Ferro acreditava que a câmera
captava de certa forma o real de uma sociedade que poderia perpassar a própria vontade do
diretor. Apesar da iniciativa, sofreu críticas pelo seu aspecto positivista de “veracidade”
(existe uma verdade por trás do filme independente até da vontade de quem o produziu) e
“autenticidade” (neste, quanto menos manipulado, mais autêntico seria o filme).
Outro estudioso acerca do assunto é MORETTIN, segundo o qual o que é relevante
para a resposta de nossas questões em relação ao contexto vai emergir mediante a própria
análise da obra cinematográfica; sendo considerados todos os detalhes da obra. Isto é,
“trata-se de desvendar os projetos ideológicos com os quais a obra dialoga e
necessariamente trava contato, sem perder de vista a sua singularidade dentro do seu
contexto” (apud NAPOLITANO, 2005, p.245). Dessa forma, percebe-se a obra tanto em seu
contexto de produção quanto ao contexto que aborda.
Como qualquer outra fonte, historiador deve partir do próprio filme para compreensão
do fato histórico. Alcides Ramos e Pierre Sorlin afirmam que deve partir da significação
interna da obra onde “se insere determinada base ideológica de representação do passado.
[...] [ Dessa forma, busca-se compreender: ] ‘o que o filme diz e como o diz?’” (idem). O
cinema seria, portanto, a encenação de uma sociedade – e não como um espelho, mas
como “percepção que se tem da realidade”, como aponta Michèle Lagny (apud SANTOS,
p.86). Sendo, portanto, cabível de análise e interpretação histórica.
Em nossa metodologia, buscamos nos aproximar da concepção de LAGNY e
SORLIN de documentos audiovisual como representação de um fato histórico ou, no nooso
caso, de como o usuário se apropria de uma obra arquitetônica – de forma contextualizada
– para depois comparar os dois objetos de estudo, extraindo contradições e semelhanças.
O cinema é um vasto campo de representações de um período – mesmo tendo sido
criado como um produto comercializável e, muitas vezes, não pretender estatuto de
documento histórico. Através dele temos a possibilidade de analisarmos o imaginário social,
assim como a noção de identidade cultural – pontos indispensáveis de nossa análise das
produções cinematográficas em estudo.
O primeiro documento cinematogrático a ser estudado é o filme Meu Tio (1958), de
Jacques Tati, onde percebemos a ameaça à perda de identidade cultural de um dos países
que é referência em questão ideológica devido à americanização do modo de vida francês
no pós guerra.
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Vivendo numa casa moderna, numa vida moderna, cercada de eletrodomésticos que
fazem tanto barulho que em certos momentos conseguem se ouvir, está a família Arpel: a
Madame Arpel, irmã do M. Hulot, casada com o dirigente de uma fábrica de mangueiras
plásticas, M. Charles Arpel; e Gerard Arpel, o filho deles: uma criança que se sente preso
ao estilo de mundo sanitarista, organizado e sistemático. Gerard busca liberdade e convívio
com outras crianças – coisa praticamente impossível dentro dos muros da Villa Arpel. Seu
momento de maior descontração em casa é quando seu tio, M. Hulot, vem ao seu encontro
e o leva para o bairro tradicional, onde pode ter contato com a natureza, fazer amigos e não
se preocupar com higiene.
Na casa dos Arpel, sua cozinha é toda dominada por botões, onde tudo é automático
e faz bastante barulho. Numa dessas idas à cozinha, M. Hulot, estranha esses
acionamentos que deveria ser facilitadores da vida doméstica, mas que, por outro lado,
causam confusão e perda de tempo para decifrá-los. A garagem também tem grande
destaque. O carro (símbolo de status) é sempre brilhante – principalmente pelas investidas
higiênicas que Mme. Arpel realiza a fim de deixar a lataria brilhante mesmo com o carro já
em movimento.
Percebe-se que o consumismo e a busca pelo novo característico da classe
emergente como os Arpel são devido a fatores como: a) as privações que os franceses
passaram durante anos de guerra (de 1939 a 1945); b) a recuperação econômica da
França, dando à população a oportunidade de adquirirem objetos de consumo; e c) a
influência cultural e livre entrada dos americanos no mercado. Professora da New York
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University com foco em literatura e cultura francesas, Kristin ROSS nos oferece um
panorama da influência cultural americana sobre a França em 1950:
As salas de cinema da Europa estavam recheadas com um ilustrativo
catálogo dos divertimentos e recompensas do capitalismo americano; todos
os momentos da vida doméstica nos Estados Unidos, seus objetos e
bugigangas e o estilo de vida que eles ajudavam a produzir, foram
demonstrados como ordinários – ou seja, os alicerces ou armadilhas para
convencer, narrativas realistas. Porém, objetos ordinários ou comuns
tornavam-se assertivos quando eles apareciam nas telas de cinema
europeias” (apud SANTOS, p. 88 em nota de tradução)
Estes e outros elementos de consumo e comportamentos nos dão uma ideia do
porquê desse período ser caracterizado como americanização ao estilo French way of life. O
novo modo de vida criou certa separação socicultural na França desse período, como
veremos a seguir.
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O muro em ruínas permeia os dois mundos. Os que passam por eles com
tranquilidade, as crianças e os cachorros, são “punidos” pela transgressão e devem passar
pela devida higienização da Mme. Arpel, assim que chegam em casa. Certa vez, quando
passando por este muro, o M. Hulot esbarra num tijolo e prontamente recoloca o tijolo no
muro já em ruínas – fato que deixa representar sua resistência frente ao desmoronamento
das bases culturais da antiga França.
O bairro moderno é funcional, organizado, pensado. A cor predominante é o cinza, o
que reflete muito dos materiais tecnológicos da época: o concreto, aço e o vidro. As
construções obedecem ao mesmo estilo minimalista: a Villa Arpel, seus vizinhos, a fábrica, a
escola. Quando o M. Arpel vai deixar seu filho na escola no seu carro americano percebe-se
o ritmo de um meio de produção: chega um carro, descem crianças; chega outro carro,
descem crianças; num ritmo mecânico e onde não há espontaneidade. Bem diferente das
imprevisíveis travessuras das crianças na saída da escola em meio ao trânsito moderno,
fingindo provocar acidente entre os condutores. Os sons desse bairro são os das máquinas
ou do Jazz (estilo musical que usa os metais de forma predominante e ritmo acelerado –
demonstrando ainda a importação do gosto musical americano). Este novo modo de vida
dito moderno é absorvido predominantemente pelos novos burgueses.
Enquanto a socialização é regra básica no bairro tradicional – algumas vezes
gerando confusões e brigas. Na Villa Arpel, o diálogo é contido, atrapalhado por ruídos ou
pela TV ou mesmo mecânico e desinteressante, como nos episódios que mostram as
reuniões sociais, nas quais o principal assunto é o quão moderna é a casa da família. Nela
“tudo se comunica”, exceto os seus usuários. Bem apontado por SANTOS (p.90), as
residências seriam, dessa forma, representações das relações sociais de seus habitantes.
A casa funciona com grande apego ao status, demonstrado na exibição de seu
mobiliário moderno (e desconfortável), seus botões barulhentos e seu jardim que determina
toda promenade até a entrada da casa. A casa possui ainda um chafariz que é acionado
de acordo com a importância social do visitante. Dessa forma, um vendedor da feira, para
ressaltar um exemplo do filme, não teria a oportunidade de ver o chafariz em funcionamento.
Quanto à area externa, a dupla de tio e sobrinho estranham alguns dos costumes
dito modernos, como a falta de local para brincar num jardim onde até o ritmo da caminhada
é codificada pelo piso disposto. Além do aspecto árido e geometricamente determinante do
jardim, suas plantas são podadas a fim de serem simétricas ou geométricas e irem de
encontro com sua natureza.
Os objetos modernos são ora desconfortáveis, ora dispensáveis. M. Hulot acaba por
vezes se atrapalhando com eles, em situações cômicas que chamam a atenção para a real
serventia desses objetos que deveriam facilitar a vida, mas que na verdade são apenas fruto
do consumo desnecessário. Alguns exemplos são a cadeira que o faz afundar ou o porta
copos que quando fincado à grama acaba por perfurar a mangueira de água da fonte.
O próprio consumismo leva à necessidade de vigiar seus bens. Numa sátira à
arquitetura, M. e Mme. Arpel estão cada um em uma das janelas circulares de sua
residência, gerando a impressão da casa estar de olhos abertos vigiando algo estranho que
acontece.
Os novos objetos precisam de constante reafirmação, pois muitos ainda estrangam
essas maravilhas. Uma delas é a empregada dos Arpel, que tem medo de eletricidade e de
quando em quando se atrapalha com os mil botões da Vila Arpel. Noutra cena, um visitante
de ares modernos, enquanto espera no jardim as senhoras visitarem a casa, parece
preocupado com o imenso barulho que a cozinha provoca.
O próprio divã tem seu uso “subvertido” pelo M. Hulot quando transformado em
cama. A esta altura do longa, há uma discussão entre o M. e Mme. Arpel sobre a possível
má influencia do M. Hulot devido à dificuldade de se adaptar ao estilo moderno. Fato este
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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ele não faz por mal, apenas é protagonista de confusões devido a sua ingenuidade de como
as coisas funcionam.
Madame Arpel (irmã de Hulot) faz diversas tentativa de inserir seu irmão em um
padrão moderno, como arranjá-lo um emprego na fábrica onde M Charles Arpel é dirigente
ou apresentando a ele sua vizinha solteirona na esperança que ela conclua árdua tarefa de
inserção ao novo estilo de vida. Contudo, por não se adequar, ele é transferido para o
interior. Enquanto vai embora para o aeroporto, a cidade antiga vai sendo demolida diante
do avanço das picaretas e máquinas da modernidade.
M. Hulot representa a herança cultural francesa, meio deslocada diante da
modernidade e o muro em ruínas é a representação da resistência a esse novo mundo.
Quarenta anos depois da exibição de Meu Tio, a construção da Maison de Bordeaux em
1998 causa o semelhante estranhamento à arquitetura – agora não mais modernista, em
teoria, mas pós modernista.
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Inserida numa região bucólica, a Maison contrasta pela dureza de suas retas e de
seus materiais – o concreto, o aço e o vidro, como das casas modernas. Tanto dentro
quanto fora é bastante cinza, como aponta a própria Guadalupe, que brinca: “Cinza só na
minha tumba!” (figura 09). Os empregados acham engraçado sua falta de costume com a
automatização exacerbada da casa, quando num momento um deles tenta forçar a porta
quando na verdade deveria estar apertando um botão para acioná-la (figura 10).
As cadeiras espalhadas, as cores frias e os objetos do banheiro da patroa são
estranhados pela faxineira, que acredita que ser um gosto tão peculiar quanto a própria
casa. Na cozinha, o mobiliário mais parece algo industrial, até a bancada é feita em
concreto. As aberturas circulares que marcaram a casa dos Arpel também estão presentes
na Maison ora acionadas manualmente (como o grande óculo que a vista para o rio) ora
pelos botões espalhados pela casa.
Assim como a casa dos Arpel, a Maison não tem chaves. Quase tudo é acionado
através de botões, que deveriam facilitar a vida dos usuários. Não raras vezes, esses
instrumentos acabam falhando. FOLEGATTI e SCHIAVIANATTO apontam bem um paralelo
entre a Vila Arpel e o que acontece constantemente com na rotina da D. Guadalupe: “Tati
traz para as narrativas de seus filmes a concretização desse imaginário futurístico dado
como presente que suscita a ironia quanto ao pertencer a um futuro tecnológico através da
possível falibilidade dos objetos” (p. 12). É sempre de bom humor (que se torna uma crítica
pela situação) que D. Guadalupe nos ensina os truques para não se ficar preso na passarela
elevatória: “não toque em nada! No momento em que tocar, vamos ficar presos”.
A arquitetura da Maison também gera imposições aos movimentos dos usuários.
Certo momento, D. Guadalupe desce ao térreo com alguns tecidos e, em vez de ter acesso
direto ao ambiente ao lado (visível por um vidro), se vê tendo que sair da residência e dar a
volta por fora para chegar à área de serviço. Quanto ao passeio de entrada, sua rigidez na
ordenação, como o grande “S” que vemos na Vila Arpel, pode ser percebida na
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Fonte: MON Oncle (1958). (imagem da esquerda) e KOOLHAAS Houselife (2008) (imagem da
direita)
Dona Guadalupe gosta da Maison, gosta de tudo! Mas admite não entender como as
coisas se sustentam em pé e, vez por outra, brinca sobre se a casa pode cair. Mesmo assim
não deixa de ter conversas divertidas com o arquiteto, ao qual cobra um projeto para seus
dois terrenos herdados da sua mãe na Espanha.
À semelhança do M. Hulor, apesar de dizer que não lhe explicaram bem a casa, D.
Guadalupe acredita que também não entenderia, por não pertencer àquele “mundo”.
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época, para a tecnologia. Percebe-se que essas duas linhas modernas de pensamento
estão sempre buscando apontar para o futuro, para o tecnocrático – onde a máquina se
sobrepõe ao homem, onde os botões deveriam facilitar a vida, onde o distanciamento da
natureza para uma aparência quase industrial seria o caminho a seguir. Além de também
criticar a superficialidade das relações sociais inerente à uma sociedade de consumo – não
buscando frear o avanço da tecnologia, mas apontando o que funciona, o que é saudável, o
que nosso comportamento como seres sociáveis pedem.
Tendo arquitetura e o urbanismo como marcantes na imposição de um
comportamento moderno – ou pós-moderno –, vemos no estranhamento e subversão do
uso de alguns objetos pelo M. Hulor e pela D. Guadalupe uma razão para questionar a
imposição de uma sistemática de vida, muitas vezes alheia aos nossos interesses. Sendo
assim, até que ponto o projeto do arquiteto poderia influenciar no nosso modo de vida? Esta
e outras questões servem para perceber que, longe de parecer pontual, Meu Tio ainda traz
semelhanças a nossa vida cotidiana.
Referências:
BOSTON COLLEGE. Villa Savoye. Disponível em:
http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/Corbu.html
BRYSON, Bill. Em Casa: Uma breve história da vida doméstica. Tradução Isa Mara
Lando. – São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
CASTELLO, Lineu. Meu tio era um Blade Runner: ascensão e queda da arquitetura
moderna no cinema, disponível no portal Vitruvius em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.024/781
CHAGAS, Raimundo Luís Fortuna. Arquitetura no cinema, crítica e propaganda.
Dissertação apresentada no programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da
Universidade federal da Bahia, 2013. Disponível em: http://www.ppgau.ufba.br/node/1390
FOLEGATTI ,Luiza Geraldi e SCHIAVINATTO, Iara Lis Franco . As cidades de Jacques
Tati: novas relações sócio-técnicas presentes na década de 50, IN: Revista Cordis:
Revista Eletrônica de História Social da Cidade, n. 6, 2011 . Disponível em
http://www4.pucsp.br/revistacordis/downloads/numero06/as_cidades_de_jacques.pdf
MOURA, Vasco Graça. A identidade europeia na Europa do pós-guerra. 2013 ,
disponível em
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3413091&seccao=Vasco%20Gra%E
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NAPOLITANO, Marcos. Fontes audiovisuais: A História Depois do Papel. IN: PINSKY,
C. (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
SANTOS, C. V. S. “Mon Oncle”: a antiga e a nova França na produção
cinematográfica. IN: Revista de História da UEG, v. 2, n. 1 (2013). Diponível em:
http://www.prp.ueg.br/revista/index.php/revistahistoria/article/view/1582
Ficha técnica:
MON Oncle (1958). Produção: Specta-Films, Gray-Films, Alter-Films, Candy-Films.
Fotografia: Jean Bourgoin. Roteiro: Jacques Tati, Jean L’Hôte, Jacques Lagrange. Música:
Franck Barcellini e Alain Romans. Elenco: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Adrienne
Servatie, Aláin Becourt, Lucienne Frégis. Montagem: Suzanne Baron. (110min).
KOOLHAAS Houselife (2008). Direção: Ila Bêka e Louise Lemoine. Imagem e Som: Ila
Bêka. Edição: Tiros Niakaj, Louise Lemoine. Sound Mix: Hugo Vermandel. Produtor:
Francesco Pappalardo. Produção: Bêka Films. (58min -24 capítulos).
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FOTOGRAMETRIA DA FACHADA DO PALACETE
ORLANDO LIMA - BELÉM
RESUMO
Este artigo aborda a utilização de levantamento cadastral fotogramétrico para a obtenção do desenho
da fachada principal do Palacete Orlando Lima, situado em Belém - PA. A fotogrametria, técnica na
qual é possível extrair as dimensões dos objetos visíveis na fotografia, torna-se, nos dias atuais, um
importante aliado para a preservação dos bens culturais e tem sido amplamente utilizada em projetos
de restauro. O palacete foi construído na primeira metade do século XX e está situado no entorno do
Centro Histórico de Belém. O levantamento fotogramétrico da fachada foi desenvolvido em duas
etapas compreendendo a aquisição das fotografias e dados, bem como o processamento destas
imagens. A partir da ortofoto gerada da fachada principal, a mesma foi desenhada em software CAD
possibilitando a representação fidedigna de seus elementos arquitetônicos, documentando também o
seu estado de conservação. Este cadastro atualizado e as ortofotos da fachada servem de base para
o projeto de restauro e requalificação que vem sendo desenvolvido para o local, que permitirá a
conservação do Palacete por meio de novo uso, adequado às características da edificação.
Palavras-chave: Fotogrametria Digital. Fotogrametria Arquitetônica. Documentação do Patrimônio
Arquitetônico.
ABSTRACT
This paper discusses the use of photogrammetric cadastral survey in the drawing of the main façade
of Palacete Orlando Lima, located in Belém - PA. Photogrammetry, a technique in which dimensions
of visible objects in the photography can be extracted, becomes, nowadays, an important aid in the
preservation of cultural heritage, widely used in restoration projects. The palace was built in the first
half of the twentieth century and it is located in the vicinity of Belem’s historical center. The
photogrammetric survey of the façade was performed in two steps, comprising the acquirement of
pictures and data, and the processing of these images. The main façade's drawing was made in CAD
software, enabling the faithful representation of its architectural elements, and also documenting its
condition. This updated survey and the orthophotos served as a basis for the restoration project that
has been developed for the site, focused on the building preservation through new use, suitable to its
characteristics.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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1 INTRODUÇÃO
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2 MATERIAIS E MÉTODOS
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
Para execução das tomadas fotográficas foram utilizados alvos impressos fixados na
fachada, de modo a facilitar a identificação de pontos homólogos nas fotos durante a
restituição fotogramétrica. Para a marcação do eixo horizontal da fachada, um conjunto de
alvos, indicados na Figura 3 (A), foi colocado com o auxílio de mangueira de nível, visto na
Figura 3 (B), permitindo o registro correto do eixo durante o processamento das imagens,
facilitando o trabalho de restituição e conferindo mais precisão ao levantamento.
Figura 3 – Utilização de alvos para fotogrametria (A) e nivelamento de dois alvos (B).
221
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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A aplicação de medição direta entre alvos é também uma importante medida para o controle
dimensional da ortofoto e para a restituição do desenho em software CAD, assegurando o
correto dimensionamento da imagem da Fachada. Deste modo, foram obtidas in loco
medidas entre os pontos de controle e de elementos notáveis da fachada, utilizando-se
trena metálica. A Figura 4 demonstra a verificação das dimensões entre os pontos de
controle no CAD.
222
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3 RESULTADOS
A partir da ortofoto gerada a fachada principal foi desenhada, em software CAD, utilizando
medidas obtidas no local, por medição direta, auxiliada pelo cadastro preexistente. A Figura
7 representa o cadastro atualizado da fachada frontal do Palacete.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Devido à presença de obstáculos diversos na lateral do palacete, tais como entulho, árvores
e fiação elétrica, a tomada fotográfica cobriu parcialmente a fachada. A fotogrametria,
contudo possibilitou a composição parcial de elementos, principalmente as esquadrias em
madeira. Este produto permitiu efetuar correções no levantamento existente executado por
medição direta, resultando no desenho atualizado da fachada lateral na Figura 8.
224
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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4 CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
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EM BUSCA DO PASSADO NO CENTRO HISTÓRICO DE NATAL:
O CASO DA PRAÇA PADRE JOÃO MARIA
RESUMO
Este artigo, desenvolvido por bolsistas de Iniciação Científica do HCURB/UFRN, apresenta resultados
parciais da pesquisa intitulada “Paisagens da Memória: em busca do passado nos Jardins
Natalenses”, que tem como um dos seus objetivos contribuir para informar e conscientizar a
população sobre o passado esquecido nas Praças Históricas de Natal, ressaltando a importância
desses logradouros no cotidiano da cidade. Para isso, utiliza-se de softwares de modelagem 3D
(como Lumion, google Sketchup e AutoCad) para a criação de maquetes virtuais das praças
estudadas. Assim, procura-se chamar a atenção para a necessidade de preservação desse
patrimônio paisagístico. Na fase atual da pesquisa, estuda-se o caso da Praça Padre João Maria,
localizada no bairro da Cidade Alta. A realidade virtual, nesse caso aplicada a uma pesquisa histórica,
permite vivenciar o passado e promover sensações, tratando-se de um modo de preservar a memória
e chamar atenção para a descaracterização que o Centro Histórico de Natal, tombado pelo IPHAN,
sofreu com o passar dos anos.
Palavras-chave: Realidade Virtual; Praças Históricas; Patrimônio Paisagístico; Memória.
ABSTRACT
This article developed by HCURB/UFRN’S students of scientific initiation presents results of reserch
entitled “Paisagens da Memória: Em busca do passado nos Jardins Natalenses” which have the
objective to inform and educate the public about the forgotten past of Natal’s historical squares,
emphasizing the importance of these public spaces in the city’s everyday. For this, we use 3D
modeling softwares (like Lumion, Google Sketchup and Autocad) to create virtual models of these
squares, with the intention of get attention to the need of preserve this landscape heritage. In the
current stage of research, is being studied the case of Padre João Maria square, located in Cidade
Alta. The virtual reality applied to historical research allows live the past and promote sensations, in
this research, is a way to preserve the memory and draw attention to decharacterization of Natal’s
Historical Centre, preserved by IPHAN, suffered over the years.
Keywords: Virtual Reality; Historical Squares; Landscape heritage; Memory.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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1 INTRODUÇÃO
As praças e jardins públicos são espaços de importância no meio urbano por favorecerem a
convivência entre os habitantes e a natureza. Além disso, essas áreas refletem a cultura e a
história da cidade e por essa razão devem ser preservadas. Mas por se tratarem de espaços
nos quais o principal componente é a vegetação, os jardins públicos demandam um maior
cuidado na sua conservação e são os equipamentos urbanos que mais sofrem com o
abandono.
No caso específico das Praças localizadas no Centro Histórico de Natal, verifica-se que
além do desgaste natural e da falta de manutenção, ocorreram algumas intervenções com
intenção de “restauro”, mas que não levaram em conta o valor histórico e cultural desses
espaços. Desse modo, buscando sempre a renovação urbana, algumas gestões municipais
acabaram descaracterizando esses lugares e mudando seus usos originais, contribuindo
para o esquecimento da sua importância para a memória da cidade.
Assim, a pesquisa Paisagens da Memória: em busca do passado nos Jardins Natalenses,
em desenvolvimento na UFRN, objetiva informar sobre a história esquecida nas Praças de
Natal, ressaltar a importância desses logradouros no cotidiano da cidade e propor
tombamentos. Pretende-se assim chamar a atenção para a necessidade de manter nos
jardins públicos as suas várias idades, adquiridas ao longo do tempo e preservar alguns dos
seus atributos históricos.
A pesquisa se dedica a investigar os bairros da Cidade Alta e Ribeira, pelo fato de serem os
mais antigos da cidade e por, supostamente, possuírem um maior acervo para consulta.
Além disso, compõem o Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Natal,
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), através da Portaria Nº 72,
do Ministério da Cultura, de 16 de julho de 2014 (publicada no Diário Oficial da União
nº136/2014).
De acordo com o superintendente do IPHAN no Rio Grande do Norte, Onésimo Santos, o
tombamento compreende 28 hectares entre os bairros de Cidade Alta, Ribeira e Rocas,
todos na Zona Leste (PORTAL BRASIL, 2014), definindo a área como de interesse
patrimonial.
Trabalhar com sítios históricos exige a consulta a diversas fontes, sendo necessário reunir
uma grande quantidade de informações, como fotos e mapas, para possibilitar a leitura do
espaço no passado. Esse tem sido um dos maiores desafios enfrentados durante a
realização da pesquisa, pois como as Praças Históricas de Natal passaram por intensas
alterações morfológicas, os registros iconográficos são escassos e muitas vezes de baixa
qualidade gráfica. Então, para o desenvolvimento do trabalho foi necessário recorrer a
descrições literárias juntamente com a interpretação dos poucos mapas e fotos encontradas.
Diante desse contexto, a Realidade Virtual se apresenta com importante recurso, uma vez
que permite reconstruir a paisagem e as características morfológicas que os logradouros
estudados tiveram em seus diversos períodos, ao longo do tempo. Dessa forma, serve como
uma ferramenta que proporciona a documentação, além de reviver a memória dessas
Praças Históricas.
O Estudo de Caso apresentado neste artigo refere-se ao atual momento da pesquisa, no
qual está sendo desenvolvida a reconstituição virtual da Praça Padre João Maria, também
localizada no bairro da Cidade Alta, situada aos fundos da primeira igreja construída na
cidade – a Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. Vale salientar que o Padre
homenageado foi considerado “o Santo de Natal”.
229
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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Um dos objetivos desta pesquisa é criar um Banco de Dados de imagens digitais (composto
de maquetes virtuais, fotos e mapas) e disponibilizá-lo para outros pesquisadores e para o
público em geral. Atualmente, estão disponíveis apenas as fotos antigas coletadas, porém,
como resultado final, pretende-se publicar as maquetes produzidas de todas Praças
estudadas, resgatando momentos diversos da história da cidade e oferecendo uma forma
inédita de documentação do patrimônio paisagístico de Natal. Assim, espera evidenciar a
descaracterização que esses espaços sofreram ao longo do tempo e chamar a atenção da
população e do Poder Público para a necessidade de preservá-los.
Para tanto, a pesquisa percorre um caminho metodológico, que se inicia com a revisão
bibliográfica e a construção da Linha do Tempo das Praças Históricas inseridas na área
tombada. Essa é uma etapa fundamental, uma vez que a coleta de dados historiográficos e
iconograficos possibilitam a elaboração das maquetes virtuais, através de softwares
utilizados no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
A utilização de meios digitais no âmbito da pesquisa em arquitetura e urbanismo é cada vez
maior, por essa razão as ferramentas computacionais vêm se aprimorando com o tempo,
facilitando o trabalho do profissional que o torna mais rápido e com maior grau de
detalhamento, atingindo várias áreas do conhecimento.
A construção de modelos 3D em realidade virtual permite a visualização de um objeto tanto
em sua situação atual quanto em um período futuro, no caso de um projeto trata-se apenas
de uma expectativa, mas quando se refere a um período passado, possibilita reviver e
valorizar a memória urbana.
A realidade virtual pode, então, ser definida como qualquer conjunto de tecnologias que
permita a um utilizador interagir com um ambiente ou objeto virtual, criado através de um
computador e que pode representar algo real ou imaginário (RAMOS, 2007, p.13).
A praticidade de construção e a garantia de durabilidade do produto final garante cada vez
mais o uso da maquete virtual ao invés da maquete física. A realidade virtual também
previne intervenções mal planejadas em ambientes históricos. Sendo que, devido a
realidade virtual não poder recriar perfeitamente o objeto reconstruído, deve-se prevenir a
implementação de dados divergentes com a realidade.
A utilização consciente das maquetes como meio de documentação histórica deve ser uma
percepção crucial para que essas novas ferramentas sejam um apoio útil ao estudo, registro
e divulgação do patrimônio cultural (TIRELLO, 2008, p.02).
Essa representação mais próxima possível da realidade, evita que uma imagem ilusória seja
criada e que prejudique os objetivos gerais e específicos da pesquisa. Para isso é
importante o estudo aprofundado de documentos, livros, fotos e mapas que descrevam os
lugares estudados, servindo assim como fonte de dados e norte principal.
Como foi dito anteriormente, esta pesquisa utiliza softwares já utilizados no Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFRN, como o Autocad, Google Sketchup e Lumion. Assim,
elabora as maquetes virtuais que simulam as condições morfológicas das Praças Históricas
de Natal, em períodos passados, evidenciando as alterações pelas quais elas passaram,
além da tentativa de oferecer a experiência de vivenciar o ambiente e a paisagem histórica.
Até o presente momento, foram estudadas cinco (05) Praças, entre elas a Augusto Severo e
a André de Albuquerque, localizadas nos bairros da Ribeira e Cidade Alta, respectivamente.
Desses estudos resultaram algumas maquetes virtuais, apresentadas a seguir.
230
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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Como dito anteriormente a praça era o ponto final da linha do bonde que circulava na cidade
até 1929, quando foram substituídos pelos automóveis e o entorno da praça passou a ser
exclusivamente comercial. Isso implicou nas principais modificações que vieram ocorrer no
desenho da praça. Em 1941, na gestão do Prefeito Dr. Gentil Ferreira de Souza, que
“Remodelou a Praça do Padre João Maria, pavimentando-a com paralelepípedos. Além
disso, retirou os velhos canteiros que estavam prejudicando o tráfego entre a Rua João
Pessoa e a Praça André de Albuquerque, e colocou novos bancos” (SOUZA, 2001, p.112).
Outras mudanças ocorreram na morfologia dessa praça, em 1959, o Prefeito José Pinto
inaugurou uma nova iluminação e um lago artificial. Como conta Itamar de Souza (2001),
entre 1966 e 1967, quando houve uma praga do mosquito “Lacerdinha”, o Prefeito Agnelo
Alves fez com que todas as árvores dessa praça e de vários outros pontos da cidade fossem
retiradas, pois o mosquito incomodava a população. Além disso, retirou o pedestal de
granito, colocando o busto do Padre João Maria em cima de uma mesa de mármore na
fachada posterior da igreja, mudou o mobiliário, o jardim e a iluminação do Logradouro.
O referido autor ressalta que essas últimas alterações não agradaram aos devotos do
Padre, que pressionaram as autoridades e assim conseguiram, em 1975, que o Prefeito
Vauban Bezerra restaurasse a praça, trazendo de volta suas configurações originais. Assim,
o busto do padre voltou para seu antigo pedestal e posição. Nessa gestão a praça também
ganhou novo calçadão, canteiros e arborização. Por fim, como tentativa de resolver
problemas provocados pelo comércio informal, foi inaugurada uma feira permanente de
artesanato no local.
233
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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4 RESULTADOS
Inicialmente, é preciso ressaltar a importância da pesquisa bibliográfica para a construção
da linha do tempo das Praças Históricas. Assim, foi possível buscar os detalhes sobre a
história e a analise minuciosa de mapas e fotografias. Porém, como foi exposto, são
escassos os registros sobre as praças estudadas, dificultando o trabalho realizado.
No que se refere a coleta de dados sobre a Praça Padre João Maria, foi de fundamental
importância a consulta ao livro de Itamar de Souza, intitulado “Nova História de Natal”, e das
Revistas publicadas pelo jornal Diário de Natal (2001), escritas pelo mesmo autor, que
trazem a evolução das Praças Históricas, especialmente no fascículo intitulado “As Novas e
Velhas Praças do Centro”.
Outra referência essencial foi o livro “380 anos de história fotográfica da cidade de Natal
(1981)”, de João Mauricio F. de Miranda, que possibilitou observar como a cidade evoluiu e
as alterações ocorridas nas praças estudadas.
A criação da linha do tempo possibilitou tanto a fomentação do acervo de imagens históricas
de Natal, como a construção das maquetes. A linha do tempo foi dividida em quatro
períodos, sendo seus intervalos determinados conforme ocorreram as mudanças mais
significativas na praça. Assim, foi possível a construção de uma maquete para cada uma
das fases, tendo como resultado parcial a maquete referente a década de 1910 e o
momento atual da Praça Padre João Maria.
A construção das duas maquetes já possibilitou a percepção de como foram expressivas as
mudanças que ocorreram no local, demonstrando a descaracterização pela qual passaram
as praças do Centro Histórico da cidade, decorrente da ausência de políticas públicas
eficientes.
235
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
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Embora ainda em desenvolvimento, pode-se afirmar que esta pesquisa contribuir para que a
história das praças estudas não seja esquecida, mesmo após tantas alterações
morfológicas. Propicia também, tanto para pesquisadores como para a população em geral,
livre acesso a imagens antigas inéditas, através das maquetes virtuais produzidas, assim
como amplia a documentação histórica de Natal com a criação do Banco de Dados
(disponível em http://www.hcurb.ct.ufrn.br/links/).
Pretende-se também, tendo em vista o recém aprovado PAC das Cidades Históricas,
despertar a atenção dos órgãos públicos e gestores para a necessidade de realizar
intervenções adequadas nesses lugares, que visem, sobretudo, a preservação da memória
urbana e a valorização da importância desses logradouros na história de Natal.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao nosso orientador da pesquisa, professor Paulo José Lisboa Nobre, ao
grupo de pesquisa o qual fazemos parte- História da Cidade do Território e do Urbanismo
(HCURB), e a Pró- Reitoria de Pesquisa da UFRN (PROPESQ) pela contribuição no
desenvolvimento desse trabalho.
REFERÊNCIAS
ARRAIS, Raimundo (Org.). Crônicas de Origem: a cidade de Natal nas crônicas
cascudianas dos anos 20. Natal, RN: EDUFRN, 2005.
DANTAS, George et al. A Difusão do Termo “Cidade Jardim”: algumas questões sobre o
processo de transferência de modelos urbanísticos no Brasil. In: FERREIRA, Angela Lucia,
DANTAS, George (orgs). Surge et Ambula: a construção de uma cidade moderna
(Natal, 1890-1940). Natal: EDUFRN, 2006.
ICOMOS – International Council on Munuments and Sities. Carta de Florença: Carta dos
Jardins Históricos. Florença, 1981. Disponível em: http://www.revistamuseu.com.br.
Acesso em: 30/11/2011, 10h00min.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Manual de Intervenção em
Jardins Históricos. 1999. Disponível em: http://www.cultura.gov.br. Acesso em:
30/11/2011, 10h30min.
LIMA, Diógenes da Cunha. Natal: biografia de uma cidade. Rio de Janeiro: Lidador, 1999.
LIMA, Pedro de. Luís da Câmara Cascudo e a questão urbana em Natal. Natal: EDUFRN,
2006.
236
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
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ESPORTE CLUBE CABO BRANCO: TECNOLOGIAS DIGITAIS
MEDIANDO A RELAÇÃO ENTRE PROJETO E HISTÓRIA
Aristóteles Cordeiro
UFPB
aristotelescordeiro@gmail.com
Cleuton Sousa
UFPB
cs.arquitetura@hotmail.com
Kaline Abrantes Guedes
UFPB
kaline.abrantes@gmail.com
Nelci Tinem
UFPB
ntinem@uol.com.br
RESUMO
As demandas espaciais e territoriais contemporâneas têm destruído grande parte do acervo da
arquitetura moderna na Paraíba, inclusive porque essas obras ainda não são alvo de reconhecimento
ou de políticas públicas para sua proteção. Já são contabilizados vários casos de demolição total,
além daqueles de abandono ou descaracterização, causados pelo desrespeito ao patrimônio
edificado ou pelo desconhecimento de sua relevância histórica, cultural ou arquitetônica. A
documentação tem sido, nesse sentido, uma importante ferramenta para o conhecimento e registro
dessas obras modernas face à crescente perda (total ou parcial) de vários dos exemplares no estado.
As tecnologias digitais têm sido por sua vez, grandes aliadas nesse processo de documentação,
subsidiando o registro, a construção da memória e a intervenção nesse patrimônio. A ideia principal
dessa comunicação é mostrar como essas tecnologias têm contribuído para a documentação digital
do acervo paraibano e para a construção do seu inventário, utilizando como estudo de caso (objeto
empírico) o Esporte Clube Cabo Branco, projetado pelo arquiteto carioca Acácio Gil Borsói, em 1956.
Dar visibilidade a essa produção através da divulgação de seus ícones mais representativos em
publicações e nos mais diversos meios de comunicação, representa um passo importante para o
reconhecimento e conservação do acervo moderno paraibano.
Palavras-chave: Arquitetura Moderna. Paraíba. Historiografia. Esporte Clube Cabo Branco.
ABSTRACT
Contemporary spatial and territorial demands have destroyed much of Paraiba Modern Architecture,
because of the lack of recognition or of rules for its protection. There are several cases of total
demolition recorded, beyond other cases of abandonment or partial destruction, caused by the
contempt to the architecture patrimony or by the ignorance of its historical, cultural or architectural
importance. The documentation has been, in this sense, an important tool for knowledge and
recording of these modern works, facing the loss (total or partial) of several buildings. The digital
technologies have been an important allied in that documentation process, realizing the recording, the
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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constitution of the memory and the conservation of that heritage. The main idea of this paper is to
expose how these digital technologies have contributed to the documentation of modern architecture
in Paraiba and the construction of its inventory, using as a case study (empirical object) the Esporte
Clube Cabo Branco, designed by Acácio Gil Borsói, in 1956. To give visibility to this production
through the dissemination of its most representative icons with articles published in magazines and in
the most diverse media, represents an important step for the recognition and conservation of the
modern architecture in Brazil.
Keywords: Modern Architecture. Paraíba. Historiography. Cabo Branco Sport Club.
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 1980, a constatação da perda de importantes obras modernas foi o
estopim para o início do processo de registro e análise de exemplares dessa arquitetura na
Paraíba. Exemplares considerados relevantes para a construção da memória e da história
da arquitetura. Começam a surgir os primeiros trabalhos sobre o tema elaborados por
pesquisadores que mais tarde fariam parte do grupo de pesquisa ‘Arquitetura Moderna na
Paraíba’, responsável por grande parte dos trabalhos surgidos desde então.
Os registros passam então a ser realizados a partir da busca de documentos gráficos,
fotográficos e escritos encontrados em diversos acervos, que somados aos levantamentos
das construções ainda existentes, resultaram em novos documentos que subsidiariam
outras pesquisas, outros levantamentos, pareceres das agências de proteção e intervenções
no patrimônio moderno.
Esses registros começam a ‘escrever’ parte da história desse momento de transformação do
pensamento, assim como da arquitetura e sua repercussão em solo paraibano. Arquitetos
reconhecidos no cenário nacional e internacional, como Acácio Gil Borsoi, Sérgio Bernardes
e Vital Brazil, somados a profissionais locais, como Mário de Lascio, Glauco Campelo e
Carneiro da Cunha, são os atores dessa nova trama de ideias e obras que se constrói.
As demandas espaciais e territoriais contemporâneas, todavia, tem destruído grande parte
desse acervo que ainda não é alvo de reconhecimento ou de políticas públicas para sua
proteção. Já são contabilizados casos de demolição total como a da Rádio Tabajara, das
residências Otacílio Campos e Loureiro Celino e do Iate Clube da Paraíba, entre outros,
além daqueles abandonados ou vilipendiados em desrespeito ao patrimônio edificado,
muitas vezes pelo desconhecimento de sua relevância histórica, cultural ou arquitetônica. A
documentação tem sido, nesse sentido, uma importante ferramenta para o conhecimento e
registro dessas obras modernas face à descaracterização ou perda (total ou parcial) de
vários dos exemplares identificados nas pesquisas anteriormente citadas. A maior
dificuldade na proteção do moderno ainda é a falta de instrumentos que dêem suporte às
transformações do território frente às necessidades contemporâneas.
239
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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14
14
11 11
04
15 05
03
19
01 02 06 07
13
10 09
16 08
10 11
17
12 18
Fonte: Pessoa; Grilo (2005). Adaptado por Kaline Guedes para este artigo.
1
Sua posição é estratégica, localiza-se próximo à Avenida Epitácio Pessoa, a via que liga o centro tradicional da
cidade à orla marítima, e reforça a ideia de ocupação do eixo oeste-leste.
240
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Pernambuco (UFPE). Na mesma cidade instala o seu escritório e inicia uma produção
arquitetônica influenciada pelos pensamentos modernistas.
Adaptando-se às peculiaridades climáticas do Nordeste, Borsói inicia uma produção
engenhosa e de qualidade, com resultados originais adaptados ao lugar, que influenciará
diversas gerações de arquitetos concomitantes e/ou posteriores a sua atuação. Sua obra é
predominantemente marcada pelos telhados movimentados, planos ou inclinados, pelas
generosas varandas, por elementos de proteção solar que geram grandes sombras, aliados
às venezianas e às rótulas, pela integração visual entre os espaços internos e externos,
comumente trabalhados com paisagismo exuberante. Também é comum em suas obras a
utilização de planos internos diferenciados, interligados por escadas e/ou rampas. Essas
diferenças de nível separam fisicamente os espaços interligados e, ao mesmo tempo,
garantem a comunicação visual.
Figuras 05, 06 e 07 – Residências Cassiano Ribeiro Coutinho (1956), Joaquim Augusto Silva (1957) e
Otacílio Campos (1968)
Fonte: Mércia Rocha (1987); Fúlvio Pereira (2008); Acervo pessoal Acácio Gil Borsói.
Figura 08 – Perspectiva sudoeste do Clube Cabo Branco. Destaque para a ampla marquise
e o bloco principal (em primeiro plano) e para o ginásio (em segundo plano).
A nova sede do Clube, seguindo uma tendência praticada por clubes sociais, nacionais e
internacionais, passa então a oferecer aos seus sócios uma gama de possibilidades
esportivas, culturais e sociais nos diversos ambientes projetados pelo arquiteto. O programa
241
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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adotado por Borsói passa a contemplar espaços administrativos, ginásio coberto, clube
aquático, boate, restaurante, quadras de tênis e poliesportiva, campo de futebol, além dos
espaços de apoio necessários ao funcionamento de cada uma dessas atividades.
Frente a um terreno de topografia acidentada, o arquiteto resolve setorizar as diferentes
atividades em quatro planos de cotas distintas e interligadas por amplas escadarias que, em
algumas situações são também aproveitadas como arquibancadas nas áreas esportivas.
No primeiro plano, o acesso principal ao clube se dá pela rua Coronel Souza Lemos, através
uma alça de desembarque que conduz à bilheteria protegida por uma ampla marquise. Em
seguida temos o segundo edifício do conjunto, certamente o mais interessante, um bloco de
três pavimentos, sendo um semienterrado, que originalmente abrigava os espaços
administrativos, a boate, o restaurante e o apoio às piscinas (banheiros e vestiários). A
horizontalidade e rigidez geométrica desse edifício são quebradas pelo volume que
corresponde às escadas e à caixa d’água do clube, onde as linhas sinuosas ganham espaço
(ver figura 08 e 09).
Figura 09 – Perspectiva sudeste do Clube Cabo Branco. Vista a partir do nível das piscinas
evidenciando o bloco principal onde se encontram os espaços administrativos, a boate, o
restaurante e o apoio às piscinas.
Fonte: Sousa; Jésse; Pedrosa (2014). Editado por Cleuton Sousa e Aristóteles Cordeiro para este artigo.
242
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Figura 10 – Vista interna do ginásio. Destaque para a quadra em nível mais baixo, para os
arcos rebaixados em concreto armado recobertos com estrutura e telhas metálicas.
Fonte: Sousa; Jésse; Pedrosa (2014). Editado por Cleuton Sousa e Aristóteles Cordeiro para este artigo.
O terceiro nível é acessado por uma escadaria disposta entre as piscinas e as quadras de
tênis, dentre elas uma própria para treinos individuais (ver figura 12).
No quarto e último nível está o campo de futebol, assim como os espaços de apoio
necessários (ver figura 13). Uma vez mais as escadarias mesclam-se às arquibancadas que
percorrem uma das laterais do campo em sentido longitudinal. Ainda nesse nível há um
portão que dá acesso à Rua das Acácias.
243
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Fonte: Sousa; Jésse; Pedrosa (2014). Editado por Cleuton Sousa e Aristóteles Cordeiro para este artigo.
Fonte: Sousa; Jésse; Pedrosa (2014). Editado por Cleuton Sousa e Aristóteles Cordeiro para este artigo.
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2
“Através das ferramentas de representação gráfica e de modelagens os estudantes vão gradualmente sendo
conduzidos a uma interpretação estritamente arquitetônica do objeto. É esta aproximação interpretativa que
acreditamos ser capaz de produzir um conhecimento rigoroso, aprofundado, singular e detalhado dos objetos
estudados, como condição fundamental para a elaboração de qualquer discurso crítico, evitando rótulos fáceis
ou digressões em torno de curiosidades agradáveis que não contribuem para a compreensão das obras
pesquisadas”. Texto retirado do site do LPPM (http://www.lppm.com.br), que descreve o Banco de Dados
“habitar moderno e habitar contemporâneo” (hm+hc).
3
Sobre o inventário da arquitetura moderna na Paraíba ver Tinem (2009), Guedes & Tinem (2013).
245
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
As duas equipes expõem claramente o rico aprendizado adquirido com o exercício, apesar
das dificuldades enfrentadas, bastante comuns ao pesquisador, principalmente no que diz
respeito ao acesso às informações e desenhos originais do projeto.
O material gerado pelas equipes que têm trabalhado nesses exercícios de redesenho e
geração de modelos tridimensionais passa então a ser arquivado, sistematizado e servem
de base para elaboração das fichas do inventário de arquitetura moderna paraibana.
As fichas de registro e os produtos gerados a partir desses exercícios têm por objetivo
permitir a compreensão do acervo moderno na Paraíba, mas tem também como alvo dar
visibilidade a esse patrimônio, dando ampla divulgação a essa produção, não só a
pesquisadores e candidatos a pesquisadores, mas a população em geral interessada em
sua história. Para além do inventário, o interesse é que o material produzido possa ser
divulgado, como inclusive já tem acontecido, seja através de sites como o do LPPM, seja
através de publicação de artigos em revistas, livros ou eventos como o ARQ DOC 2014,
seja através de outros meios de comunicação como o Armazém 3D.
4 CONCLUSÕES
O redesenho bidimensional, bem como a construção de modelos tridimensionais icônicos,
unívocos e relacionais, ou seja, formalmente semelhantes à edificação “constitui-se em uma
inestimável ferramenta na apreensão do objeto arquitetônico, pois replica virtualmente as
mesmas etapas construtivas do edifício e modela individualmente as suas partes
constituintes” (CORDEIRO, 2007). Permite aos estudantes uma compreensão detalhada
dessas várias etapas, tornando-se um exercício extremamente instrutivo que, somado às
etapas de pesquisa, coleta de dados e redação desses processos na forma de relatórios,
contribui certamente para a formação de um profissional mais consciente em sua atuação.
O exercício, extrapolando as atribuições acima descritas, constitui uma importante forma de
registro que interessa como formação e informação a respeito desse momento da história da
cidade, da cultura e inclusive da arquitetura. Interessa tanto a pesquisadores, alunos e
professores, como ao cidadão comum atento a história e ansioso por fazer parte da
construção da memória da cidade. Interessa àqueles que estão preocupados com a
formação de profissionais que tenham condições de intervir na sua área de atuação.
Interessa àqueles que trabalham diretamente com conservação e restauração de edifícios e
sítios protegidos (ou que deveriam ser). Interessa sobretudo como estratégia de ensino de
projeto em estreita relação com a teoria/história da arquitetura.
REFERÊNCIAS
ACERVO PESSOAL ACÁCIO GIL BORSOI. Disponível em:
http://arqpb.blogspot.com.br/2007/10/accio-gil-borsoi.html. Acesso em: 25.07.2014.
CORDEIRO, Aristóteles Lobo de Magalhães. O projeto de edifícios em ambientes informatizados:
Uma abordagem macroergonômica. Tese de Doutorado. João Pessoa, PPGEU/UFPB, 2007.
CORDEIRO, Aristóteles Lobo de Magalhães; ROCHA, Germana C. O modelo tridimensional digital no
registro e análise tectônica de patrimônio arquitetônico moderno. In: II Seminário Nacional sobre
Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais, Belém, 2012.
GRILO, Walter; PESSOA, Adailton. Registro do Esporte Clube Cabo Branco. Trabalho disciplinar
do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba. João
Pessoa, 2005.
GUEDES, Kaline Abrantes; TINEM, Nelci. Documentando o Patrimonio Moderno:Informação e
O
Visibilidade. In: 3 Seminario Ibero-Americano Arquitetura e Documentação, 2013, Belo
Horizonte.
LABORATÓRIO de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM). Banco de Dados “habitar moderno e habitar
contemporâneo” (hm+hc). Disponível em: http://www.lppm.com.br. Acesso em: 28.07.2014.
246
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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247
SISTEMA DE INVENTARIAÇÃO DOS BENS IMÓVEIS DA
CIDADE DE SANTA MARIA, RS.
RESUMO
O presente trabalho realiza-se no Laboratório de Acervo, Editoração e Divulgação da Produção
Acadêmica (LAEDPA) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). A proposta do trabalho é reunir, organizar e sistematizar todo o material encontrado no
laboratório referente a edificações de interesse patrimonial da cidade de Santa Maria, RS. Identificar
o material encontrado, separar e classificar de acordo com sua origem, sistematizar as informações,
disponibilizando-as em meio digital e integrar as informações para os sistemas de inventariação
vinculados aos institutos de preservação. Serão quarenta e quatro (44) obras catalogadas, grande
parte proveniente de Trabalhos Finais de Graduação e disciplinas de Ateliê de Arquitetura com
informações suficientes para desenvolver o inventário das mesmas, destacando e valorizando o
patrimônio histórico material imóvel da cidade cultura.
Palavras-chave: Inventariação. Patrimônio Edificado. Preservação.
ABSTRACT
The work is developed in the Laboratory of Collection, Editing and Disclosure of Academic Production
(LAEDPA) at Course of Architecture and Urbanism of the Federal University of Santa Maria (UFSM).
The purpose is to rearrange and systematize all the material found in the laboratory related to heritage
buildings in Santa Maria. Identify the material found, separate and classify according to their origin,
and then systematize the information, making them available in digital format and integrate with the
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
inventory platform of the institutes of preservation. There are fourty-four works cataloged already, most
of them from the undergraduate final projects courses, with sufficient information to be able to develop
an inventory, which emphasize the heritage of the culture city.
Keywords: Inventory. Heritage Buildings. Preservation.
1 INTRODUÇÃO
A proposta de trabalho se realiza no Laboratório de Acervo, Editoração e Divulgação da
Produção Acadêmica (LAEDPA) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSM. O
Laboratório, desde há muito tempo, coleciona trabalhos de levantamento físico-cadastrais e
fotográficos de edificações e conjuntos urbanos considerados de valor cultural para a cidade
de Santa Maria e região. A coleção de registros destas edificações contribui para a
manutenção permanente da história dos bens imóveis do município, uma vez que alguns
deles já se encontram em avançados processos de descaracterização, deterioração,
arruinamento e desaparecimento.
A iniciativa foi gerada a partir de uma solicitação do IPHAN RS, que requisitou a concessão
dos levantamentos cadastrais existentes no Curso de Arquitetura e Urbanismo,
preferencialmente na forma de inventários, para agregar a lista dos bens existentes no
Estado.
Entretanto, é preciso selecionar e organizar previamente uma base de dados que seja
acessível à comunidade e aos institutos de preservação do patrimônio cultural. Neste
sentido, uma das atividades primeiras desta proposta será a de sistematizar as informações
decorrentes dos inventários ou registros já realizados, seja em disciplinas de graduação ou
em projetos de extensão e pesquisa. Mapear estas informações e disponibilizá-las através
de arquivos digitais é o mote deste trabalho.
Entende-se que este compartilhamento de informações e registros é uma das formas mais
eficazes de recuperação da história e manutenção da memória, jogando luz sobre as
origens dos municípios e aumentando a autoestima de comunidades inteiras.
Além do reconhecimento do patrimônio material, o trabalho poderá identificar ainda a
necessidade de reapropriação de valores imateriais presentes em várias gerações,
principalmente na cidade de Santa Maria, que reconhecidamente convive com a expressão
de cidade cultura.
A identificação da cidade com a cultura ainda encontrou inspiração nas primeiras décadas
do século XX. A oferta de cultura erudita, em 1932, era considerada além da satisfatória, em
se tratando de uma cidade de interior, com 32.742 habitantes (BELÉM, 2000). No caso do
teatro, por exemplo, além do teatro amador, Santa Maria foi palco de exibições teatrais que
tinham como destino o Uruguai e a Argentina, e igualmente das que vinham de lá para Porto
Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Esta “efervescência cultural” também se manifestou
através do cinema, tendo sido inaugurados, entre 1911 e 1937, quatro cinemas na cidade,
“com um mínimo de oito sessões diárias, com películas de primeira classe, quase todas
exibidas em primeira mão, no Estado” (SANTOS; SANTOS, 2008, p. 106).
Entretanto, a associação feita entre a cidade e a cultura só foi construída quando do
entrelaçamento entre os conceitos cultura e universidade, verificados aqui a partir da criação
da primeira universidade pública no interior do país, em 1960. Há quem diga que, quem
instituiu a expressão “cidade cultura” foi o próprio José Mariano da Rocha Filho, criador da
Universidade Federal de Santa Maria. Segundo Prof. Mariano, a relação entre universidade
e cultura era entendida “através de sua proposta de uma plena integração entre a Terra, o
Homem e a Educação” (SANTA MARIA CIDADE CULTURA, 2003, p. 84).
Neste sentido o trabalho apresentado visa atender uma parcela desta demanda cultural, no
caso, a partir da identificação e inventariação do seu patrimônio histórico material imóvel,
iniciando pela organização e sistematização dos registros já existentes em seu Laboratório,
seguido da disponibilização dos mesmos para a comunidade e Institutos de Preservação.
249
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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2 OBJETIVOS
O objetivo geral desse projeto de extensão consiste no planejamento, reunião, organização
e sistematização do acervo de inventários, levantamentos físico-cadastrais e levantamentos
fotográficos dos edifícios de interesse patrimonial da cidade de Santa Maria existentes em
acervo no Laboratório de Acervo, Editoração e Divulgação da Produção Acadêmica, o
LAEDPA.
Ainda se destina a contribuir para a preservação efetiva do patrimônio material imóvel da
cidade de Santa Maria, ressaltando a importância e o caráter social que este tipo de
atividade representa dentro de um Curso de Arquitetura e Urbanismo através do seu
empenho na manutenção dos valores identitários locais, salientando a importância do imóvel
histórico no contexto em que está inserido e a necessidade de se preservar os conjuntos
formadores da paisagem urbana.
Finalmente o projeto pretende organizar um cadastro digital que contenha informações a
respeito dos bens imóveis para disponibilizar aos institutos de preservação de âmbito
nacional, estadual e Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC).
3 METODOLOGIA
Com a Constituição Federal de 1988 o inventário passou a integrar, expressamente, o rol
dos instrumentos preservação do patrimônio cultural brasileiro. Ou seja, trata-se ferramenta
protetiva de estatura constitucional, autônoma e auto-aplicável por se constituir em uma das
formas de garantia à preservação do patrimônio cultural brasileiro enquanto direito
fundamental e difuso. Logo, pode-se concluir que o bem inventariado como patrimônio
250
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Como se pode perceber através do Gráfico 1, ao pesquisar todos os 277 Trabalhos Finais
de Graduação, 21 possuem levantamentos de edificações de interesse patrimonial.
O Gráfico 2 quantifica o resultado das 44 obras catalogadas, onde 21 provêm dos TFGs, 20
das disciplinas de Ateliê de Arquitetura e Urbanismo com ênfase em Patrimônio, e as
restantes são doações de trabalhos diversos.
8%
Projetos de Intervenção
do Patrimônio
Demais Projetos
92%
7%
48%
TFG
45% Ateliê
Demais
252
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6 CONCLUSÃO
O registro dos trabalhos selecionados no LAEDPA do Curso de Arquitetura e Urbanismo
ajudam a valorizar o patrimônio histórico material imóvel de Santa Maria e a prática do
registro dará o suporte necessário para fazer a inventariação de outros bens imóveis
considerados de interesse.
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REFERÊNCIAS
BELÉM, J. História do Município de Santa Maria 1797-1933. 3 ed. Santa Maria: Editora da
UFSM, 2000. 309p.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF, Senado Federal: Centro Gráfico, 1998.
CHOAY, F. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP,
2001.
CONSELHO MUNICIPAL DE CULTRA DE SANTA MARIA. Santa Maria, Cidade Cultura.
Santa Maria: Pallotti, 2003. 136p.
IPHAE, Patrimônio Edificado: Orientações para sua preservação. Porto Alegre: CORAG,
2004.
LEMOS, C. A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Ed. Brasiliense S.A. SANTOS,
T. de J. P.; SANTOS, G.M. C. (Orgs). Santa Maria: vivências e memórias de Edmundo
Cardoso. Santa Maria: Ana Terra, 2008.120p.
254
WEBSITE DO PLANO DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA DO
MUSEU CASA DE RUI BARBOSA: SISTEMA INTEGRADO DE
INFORMAÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DO MUSEU
RESUMO
Este artigo apresenta o resultado da pesquisa Documentação para Preservação realizada pelo
Núcleo de Preservação Arquitetônica do Centro de Memória e Informação da Fundação Casa de Rui
Barbosa, no âmbito do Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e Científico na
Área de Cultura. A pesquisa teve como objeto o desenvolvimento de um processo contínuo de
documentação sobre o conjunto edifício-acervo do Museu Casa de Rui Barbosa, que constitua um
instrumento de monitoramento e controle para sua preservação, gerenciamento e uso. Dentre seus
objetios, destaca-se o estabelecimento de um sistema de informações apropriadas e atualizadas
relativo à história, ao valor de patrimônio, à materialidade, às intervenções passadas e às condições
atuais do bem cultural. O processo metodológico levou à criação de um website que apresenta as
ações de conservação preventiva e preservação arquitetônica implementadas no bem cultural, que
para além de funcionar como instrumento de organização, sistematização e divulgação de um grande
número de informações, promove a divulgação das ações de preservação para o publico em geral,
como também para especialistas. Sua execução teve apoio da Fundação Carlos Chagas de Amparo
a Pesquisa - FAPERJ e cooperação de duas empresas especializadas.
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Documentação arquitetônica. Conservação preventiva. Website.
255
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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ABSTRACT
This article presents the results of the Documentation for Preservation Research developed
by the Núcleo de Preservação Arquitetônica of the Centro de Memória e Informação of
Fundação Casa de Rui Barbosa, under the Incentive of the Program for Production of
Technical and Scientific Knowledge in the Cultural Area. The research focused on
developing a continuous process of documentation for the ensemble building-collection of
Museu Casa de Rui Barbosa, to constitute a tool for monitoring and controlling its
preservation, management and use. The goal is to establish a system of appropriate and
updated information on the history, heritage value, materiality, past interventions and the
current conditions of the cultural object. The website presents the actions of preventive
conservation and architectural preservation implemented at the Museu Casa de Rui
Barbosa, working as an instrument of organization, systematization and dissemination of all
documents related to the heritage property and to the actions for its preservation, allowing
general public disclosure, as well as to specialists. This work was supported by FAPERJ and
had the help of two specialized companies.
Keywords: Cultural heritage. Architectural documentation. Preventive conservation. Website.
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa Documentação para Preservação tem como objetivo o desenvolvimento de um
processo contínuo de documentação sobre o conjunto edifício-acervo do Museu Casa de
Rui Barbosa, que seja um instrumento de monitoramento e controle para sua preservação,
gerenciamento e uso.
Para tal, era necessário o desenvolvimento de um instrumental tecnológico que permitisse
organizar a documentação pesquisada, tornando sua utilização simples tanto para os
processos internos de pesquisa e trabalho da equipe do Núcleo de Preservação
Arquitetônica, quanto para a consulta de pesquisadores externos e do publico em geral.
Atendendo às normas vigentes e correntes no campo do patrimônio cultural, que recomenda
a documentação como parte integrante dos processos de preservação do patrimônio cultural
e salientando o componente da divulgação com parte imprescindível deste processo, o
website Plano de Conservação Preventiva do Museu Casa de Rui Barbosa apresenta como
conteúdo as metodologias utilizadas e as ações de preservação implementadas. Este sítio
eletrônico deve funcionar como um dos instrumentos de organização, sistematização e
divulgação da documentação sobre o bem cultural, divugando as ações de preservação
para o publico em geral, como também para especialistas.
Disseminando a experiência realizada e o método para o desenvolvimento de um processo
documental para um bem cultural, espera-se servir como referência para outras instituições
afins, além de auxiliar no fornecimento de parâmetros para o estabelecimento de uma
estratégia que apresente a documentação como ferramenta constante nos processos de
preservação do patrimônio.
Com o desenvolvimento do website, espera-se que o mesmo possa contribuir para a
divulgação das pesquisas realizadas na Fundação Casa de Rui Barbosa, no âmbito do
Plano, e para o avanço da conservação preventiva como ação primordial para a
preservação do patrimônio cultural.
256
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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A documentação é um tema que aparece com certa constância nos documentos do campo
do patrimônio e que, no decorrer da evolução conceitual e prática deste grande campo, foi
ganhando maior destaque e complexidade. A Carta de Veneza, de 1964, já trazia a
importância da documentação (CURY, 2004), tendo sido ampliada pela Carta de Sofia, de
1996, que traz normativas para sua aplicação (ICOMOS, 1996). A componente divulgação
vem sendo incorporada de maneira cada vez mais incisiva ao processo de gerenciamento
da informação.
Com o advento da internet, diferentes instituições, tanto nacionais quanto internacionais,
passaram a utilizar as ferramentas eletrônicas para publicizar suas atividades e difundir o
conhecimento acumulado de forma mais ampla e democrática, como por exemplo a
pesquisa compilada pelo Getty Conservation Institute - GCI, que traz recomendações para
esta prática. (LETELLIER, 2002)
A divulgação do resultado desta pesquisa se justifica, principal e fundamentalmente, na
qualidade de seu conteúdo, que contempla um volume de trabalho produzido num período
de mais de quinze anos de trabalhos no campo da preservação.
A experiência produzida pelo plano de Conservação Preventiva da Casa de Rui Barbosa,
acumulada desde 1998 teve início com a produção de uma série de levantamentos,
diagnósticos, projetos e propostas de intervenções com o intuito de mitigar as causas dos
processos de deterioração do edifício histórico integrado à coleção que abriga.
Desde 2005, bolsistas do Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e
Científico na Área da Cultura da Fundação Casa de Rui Barbosa participam de pesquisas
aplicadas para dar suporte às ações do referido Plano i, dentre as quais inclui-se a pesquisa
“Plano de Conservação Preventiva do Museu Casa de Rui Barbosa: Documentação para
preservação”, iniciada em 2010.
O objetivo geral é a integração dos processos de documentação e conservação do
patrimônio cultural, através da identificação de métodos e instrumentos apropriados ao
conjunto edifício-acervo do museu. O foco está no desenvolvimento de um processo
contínuo de documentação sobre o conjunto – que se constitua em um instrumento de
monitoramento, salvaguarda e controle da qualidade, para sua preservação, gerenciamento
e uso, através do estabelecimento de um sistema de informações – atualizadas, reunidas e
disponibilizadas – relativo à história, ao valor de patrimônio, à materialidade, às intervenções
passadas e às condições contemporâneas do patrimônio.
A publicação destas experiências compreende muito mais do que uma etapa desta pesquisa
específica, sendo uma ação de alcance ao nível das políticas públicas, democratizando o
acesso e tornando disponível uma quantidade de informações até aqui inéditas. A internet,
além de ser um meio relativamente de menor custo e de fácil atualização, possibilita a
divulgação para além de fronteiras físicas e profissionais, podendo atingir o público leigo, e
não somente atuantes no campo da preservação. No portal da Fundação Casa de Rui
Barbosa pode-se acessar este website, que constitui uma interface que abriga as variadas
formas documentais (imagens, desenhos, textos, tabelas).
3 METODOLOGIA
A concepção do website, no que tange ao manejo das informações – seleção, organização,
tratamento e disposição da documentação,– e os procedimentos que implicam esta ação,
ficou a cargo da equipe de bolsistas da pesquisa, sob a tutela da orientadora.
Primeiramente, foram pesquisados websites relacionados à conservação de bens
patrimoniais, a fim de utilizá-los como referência. Nesta pesquisa foi observada
principalmente a estruturação e a linguagem de apresentação dos conteúdos, textos,
fotografias, vídeos, desenhos esquemáticos, filtros e nível das informações. Destaca-se
entre os websites desta tipologia o “Our Lord in the Attic: A case of Study”, ii que tem formato
simples e didático para apresentação dos conteúdos, gráfica e estruturalmente, ao mesmo
257
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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tempo em que possui conteúdo complexo e diverso, exposto através de diferentes suportes.
Na sequencia, foram elaborados diversos esquemas de campos e conteúdos reunindo as
informações e a forma de apresentação no website. Estas informações foram obtidas,
através da compilação do Relatório Geral do Plano de Conservação Preventiva, onde as
ações e pesquisas estão identificadas e descritas, bem como as estratégias e os demais
elementos que conformam o Plano. Com a listagem e resumo do conteúdo das pesquisas,
incluindo a verificação dos arquivos existentes, iniciou-se a estruturação, tendo como
referência os exemplos pesquisados.
A estrutura proposta pretende, de forma simples, abordar os itens trabalhados no Plano,
além de situar e caracterizar o conjunto do Museu. Desta forma a estrutura gráfica é uma
barra de ícones onde se distribuem os seguintes itens: Identificação; Pesquisas;
Intervenções; Estratégias; Estes itens se dividem em subitens onde este conteúdo é
distribuído. (Figura 1)
A partir deste ponto, o trabalho apresentou uma demanda técnica profissional especializada
culminando na contratação de duas empresas. A primeira empresa foi responsável pelo
trabalho de web designer. Este trabalho consistiu na criação e desenvolvimento das
interfaces gráficas do website, ou seja, o “template”, criando a estrutura dos conteúdos na
pagina, a imagem do cabeçalho, a barra de links, as cores principais, fontes e posição dos
textos, tipo de slide show, etc.. A estrutura final se apresenta em duas colunas, sendo uma
central – principal - e uma coluna na lateral direita mais estreita onde entram os conteúdos
secundários e hiperlinks. Foram trabalhados alguns tipos de templates, com texto simples,
texto com imagens, entre outros.
Além da interface, o web designer também desenvolveu a programação HTML dos modelos
de templates e os códigos a serem repassados a empresa que desenvolveu o
gerenciamento dos conteúdos e a publicação do website.
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4 RESULTADO FINAL
Passadas as etapas definidas no item anterior, o resultado final é um website que apresenta
todo o conteúdo trabalhado na pesquisa de forma intuitiva através de uma barra de ícones
onde se distribuem os conteúdos, conforme Figura 2. O maior desafio da pesquisa foi o
agrupamento destes conteúdos de forma a apresentar, de forma mais didática possível, as
etapas da elaboração de um plano de conservação preventiva para edifícios que abrigam
coleções.
Cada ícone da barra abre uma cascata de subpáginas permitindo identificar os subitens da
cada etapa, conforme Figura 3. Estas subpáginas abrem conteúdos específicos e uma série
de links que permitem o download de alguns conteúdos como desenhos e artigos
publicados.
260
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5 CONCLUSÕES
O website se mostrou uma ferramenta de grande valia para o processo de documentação do
Plano de Conservação Preventiva, tanto como instrumento de organização interno das
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
BOERSMA, Foekje. Our Lord in the Attic: A Preventive Conservation Case Study. In
Newsletter 22.1.Spring 2007. Disponível em: http://www.getty.edu/conservation/
publications/newsletters/22_1/news_in_cons2.html. Acesso em: 21 de junho 2011.
CARVALHO, Claudia; CORDEIRO, Patricia. Relatório Geral do Plano de Conservação
Preventiva do Museu Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: NPARQ, 2010.
CURY, Isabelle (Org.). Cartas Patrimoniais. 3ª ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004.
ICOMOS. Principles for the Recording of Monuments, Groups of Buildings and Sites.
In 11th General Assembly. Sofia, Bulgaria, 1996.
LETELLIER, Robin. Recording, Documentation,and Information Management for the
Conservation of Heritage Places. Los Angeles: Getty Conservation Institute, 2002.
i
Dentro da linha de pesquisa Estratégias de conservação preventiva para edifícios históricos que
abrigam coleções, do grupo de pesquisa da FCRB/CNPQ "Museu-Casa de Rui Barbosa: memória,
espaço e representações".
ii
Produzido pelo Getty Conservation Institute, para a divulgação do processo de conservação em
parceria com o Museu Casa Our Lord in the Attic. Acesso em:
http://getty.edu/conservation/publications_ resources/teaching/case/olita/index.html
262
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iii
Portable Document Format
iv
A Arquitetura de Informação cuida de projetar a estrutura, o esqueleto, de um website sobre o qual
todas as demais partes irão se apoiar. Na prática é projetar a infra-estrutura do website e
especialmente a sua navegação
263
CAMPUS VIRTUAL: FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO COM
PATRIMÔNIO EDIFICADO DA UFRN.
RESUMO
Este artigo apresenta uma experiência de utilização de softwares e serviços gratuitos on-line para
criação de ferramentas interativas de orientação no Campus Central da UFRN, através da produção
de modelos tridimensionais e registros fotográficos de edificações, de modo a contribuir com a
preservação da memória da UFRN. Foram empregados o SketchUp, programa utilizado para criação
virtual de modelos tridimensionais; o Google Earth, software capaz de apresentar um modelo
tridimensional e interativo, com localização de edificações, ruas etc., a partir de um reticulado de
imagens de satélite e aéreas, associadas a informações de georreferenciamento; e o Panoramio, que
permite armazenar e compartilhar fotos de locais diversos e associá-las a pontos georreferenciados.
Estes serviços possibilitam a localização e identificação de edifícios em qualquer parte do mundo e
podem ser utilizados de forma integrada como instrumentos de orientação espacial. Após modelagem
com o uso do SketchUp e registro fotográfico de edificações carregado para o Panoramio, tais
informações podem ser integradas na plataforma do Google Earth, tornando-se disponíveis para
qualquer pessoa que deseje realizar a consulta. Esta virtualização do Campus Central da UFRN
facilita a orientação dos usuários, além de representar uma iniciativa de preservação da memória e
valorização do patrimônio edificado da universidade.
ABSTRACT
This paper presents an experience of free software and online services application for creating
interactive guidance tools at Central Campus UFRN, through the production of three-dimensional
models and buildings photographic records, to contribute to the preservation of UFRN’s memory. It
were used the SketchUp program utilized for creating virtual three-dimensional models; Google Earth
software capable of rendering a three-dimensional, interactive model, location of buildings, streets,
etc., from a lattice of satellite and aerial images associated with georeferencing information.; and
Panoramio, which allows you to store and share photos of various locations and associate them with
geo-referenced points. These services allow the location and identification of buildings all over the
world and can be used together as tools for spatial orientation. After modeling using SketchUp and
photographic record of buildings uploaded in Panoramio, such information can be integrated into
Google Earth platform, making it available to anyone who wishes to perform the query. This
virtualization of Central Campus UFRN not only facilitates guiding the users, but represents an
initiative of memory preservation and enhancement of the built heritage of the university.
Keywords: Three-dimensional models. Photographic records. Spatial orientation.
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta resultados do projeto de extensão “Campus Virtual: Ferramentas de
interação com patrimônio edificado da UFRN”, desenvolvido na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, durante o ano de 2013.
Voltado para a criação de um banco de dados sobre a infraestrutura atual da instituição, o
projeto teve dois aspectos motivadores. Dada a importância da instituição no Estado do Rio
Grande do Norte, o primeiro deles foi a necessidade de registro do patrimônio edificado da
UFRN, de forma a concentrar diversos tipos de informação em um espaço virtual de ampla
acessibilidade.
Segundo Trigueiro (2008), os edifícios que abrigaram ou abrigam as atividades da UFRN
narram a história da arquitetura do século XX no Rio Grande do Norte e revelam como as
linguagens estilísticas nacionais e internacionais se manifestaram aqui, em episódios de
recriação e adaptação. Da criação da Universidade do Rio Grande do Norte no fim dos anos
1950 a partir dos estabelecimentos de ensino superior existentes no estado, à construção do
Campus Central de Natal, a instituição ocupou edifícios emblemáticos que ainda hoje
integram seu patrimônio.
De acordo com Newton Júnior (2008), a instalação da UFRN no campus universitário
localizado no bairro de Lagoa Nova se deu na década de 1970 e foi uma obra grandiosa
para época, abrangendo uma área aproximada de 130 hectares.
Desde a ocupação inicial do campus, vários novos cursos foram abertos na instituição, o
que repercutiu diretamente em sua estrutura física. Atualmente o Campus Central da UFRN
conta com área de aproximadamente 123 ha e uma população diária estimada em 42.146
pessoas, dentre estudantes de graduação e pós-graduação, servidores técnicos-
administrativos e docentes efetivos, além dos professores substitutos e visitantes (UFRN,
2014).
Assim sendo, a segunda motivação para o desenvolvimento deste trabalho foi a perceptível
dificuldade de orientação espacial de alunos e visitantes no Campus Central da UFRN. Além
da população que frequenta o campus diariamente, existem usuários ocasionais, uma vez
que habitualmente instituições de ensino superior sediam eventos acadêmicos, culturais e
esportivos de grande porte. Em função disso, diversas universidades costumam oferecer um
serviço online de tour virtual, que é uma maneira do visitante se localizar previamente nas
instalações da instituição, mecanismo esse ainda indisponível na UFRN.
Diante dos dois aspectos motivadores acima mencionados, o principal objetivo do projeto foi
a construção de um acervo virtual sobre a infraestrutura da UFRN que funcionasse, ao
mesmo tempo, como uma ferramenta interativa de orientação online para os diferentes
usuários da instituição. Em sua fase inicial, o projeto concentrou-se somente no Campus
Central e teria sua continuidade com a extensão para os demais campi da UFRN, assim
como para as unidades isoladas. Para atingir esse objetivo, foram realizados registros
fotográficos, construídos mapas e modelos tridimensionais das edificações do campus.
As tecnologias digitais, como a modelagem geométrica tridimensional, são ferramentas
acessíveis e de baixo custo, utilizadas em larga escala para realização de levantamentos
confiáveis e relativamente precisos em escala adequada (AMORIM, 2010), oferecendo
possibilidades de interação com mapas e edificações no campo virtual.
Para produzir o material necessário para o mapeamento das edificações e disponibilização
das informações para consulta na internet, foram utilizados serviços gratuitos disponíveis:
SketchUp, Google Earth, Google Maps e Panoramio. As fotos e modelos tridimensionais das
edificações do campus foram produzidos de acordo com os critérios estabelecidos para sua
exibição permanente no Google Earth e Google Maps. Após o período requerido para
análise, a grande maioria das fotos e modelos de edificações foi carregada
permanentemente para as referidas plataformas, tornando-se facilmente acessados.
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2 MATERIAL E MÉTODO
A primeira etapa realizada para desenvolvimento do projeto foi o estudo dos critérios de
aceitação para publicação definitiva de fotos e modelos tridimensionais nas camadas do
Google Earth e Google Maps e a interface entre as diferentes ferramentas empregadas:
SketchUp, Google Earth e Panoramio. No início do Projeto de Extensão Campus Virtual, já
existiam alguns modelos tridimensionais e fotos de edificações do Campus Central da UFRN
carregados para o Google Earth e Google Maps, contudo sem um padrão de tratamento
comum, pois foram produzidos por diferentes pessoas que já utilizavam esses serviços sem
ter necessariamente os mesmos objetivos.
O SketchUp é um programa destinado à criação de modelos tridimensionais virtuais
bastante utilizado para representação de projetos de arquitetura. Até 2012, pertencia à
empresa Google Inc., quando foi adquirido pela Trimble Navigation. O software dispõe para
os usuários uma versão gratuita e mesmo após sua aquisição pela Trimble Navigation,
conta com uma ferramenta de integração com o Google Earth para realizar o
georreferenciamento dos modelos produzidos.
O Google Earth é um software desenvolvido pela Google Inc., capaz de apresentar um
modelo tridimensional e interativo do globo terrestre. Através de um reticulado de imagens
de satélite e aéreas, associadas a informações de georreferenciamento, é possível
identificar e localizar edificações, ruas, praças, sítios históricos e outros elementos urbanos,
periurbanos e rurais.
O Panoramio, outro serviço do Google, permite fazer o armazenamento e compartilhamento
de fotos de locais diversos e associá-las a pontos georreferenciados no Google Earth e
Google Maps, possibilitando a visualização em detalhes das paisagens no entorno destes
pontos.
Os três serviços podem ser utilizados de forma integrada como instrumentos de orientação
espacial. Após modelagem com o uso do SketchUp e carregamento de fotos de edificações
no Panoramio, tais informações podem ser carregadas na plataforma do Google Earth,
tornando-se disponíveis para qualquer pessoa que deseje realizar a consulta.
Paralelamente ao estudo da integração dos instrumentos citados, foi criado um perfil do
projeto no Google para utilização dos serviços e definidos os padrões esperados para o
material a ser produzido. Para identificação dos produtos carregados para as plataformas do
Google, foi criada uma logo para o Projeto Campus Virtual (Figura 1).
266
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Registro
fotográfico
3 RESULTADOS
As premissas iniciais do projeto de extensão Campus Virtual visavam apenas dois tipos de
produtos: fotos e modelos tridimensionais das edificações do Campus Central. Contudo, em
função dos procedimentos necessários para seu planejamento, a execução do projeto
resultou em quatro tipos de produtos:
a) Mapa interativo para orientação do Campus Central da UFRN disponibilizado no
Google Maps;
Construído inicialmente para planejamento do projeto de extensão, o mapa do
Campus Central foi posteriormente configurado como “público” na plataforma do
Google maps (Figura 4).
Em uma consulta realizada, verificou-se que entre abril e outubro de 2013, o mapa
de orientação produzido foi visualizado 709 vezes. Menos de um ano após a última
consulta, este número multiplicou-se quase que 10 vezes. Buscas no Google com as
palavras “UFRN”, “mapa” e “orientação” tem atualmente como primeiro resultado o
mapa produzido pelo projeto Campus Virtual, que também pode ser acessado
diretamente pelo endereço:
«https://maps.google.com.br/maps/ms?msa=0&msid=218053254339725377634.000
4db9752167cf507e12&dg=feature»
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d) Curso de capacitação;
Após testes de registro e modelagem das primeiras edificações, foi necessário
estabelecer padrões para o material produzido. Isto foi possível com a realização de
um minicurso para apresentar etapas da modelagem tridimensional e aplicação das
fotos como textura, segundo os critérios do Google para exibição permanente nas
camadas 3D do Google Earth e Google Maps. O minicurso “Interface entre Google
Sketchup x Google Earth”, com carga horária de 3h, teve 20 participantes, em sua
maioria, estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN e foi dividido em
duas partes:
Parte 01
- O que é necessário para enviar uma edificação para a camada 3D do Google Earth:
a experiência do Campus Virtual;
Parte 02
- Como georreferenciar um modelo do SketchUp;
- Como realizar estudo de insolação considerando o entorno real da edificação;
- Como modelar terreno no SketchUp integrado à topografia importada do Goolge
Earth;
- Como gerar um arquivo do Google Earth com o edifício modelado.
Com relação ao processo de modelagem, constatou-se que embora o Google Earth seja um
serviço muito acessível ao público e o SketchUp um software muito popular entre
estudantes e profissionais de Arquitetura e Urbanismo, a utilização desses instrumentos de
forma integrada abre espaço para exploração de aplicações ainda pouco difundidas entre
seus usuários, fato identificado no curso ministrado.
As visualizações de mapa, fotos e modelos superaram 13.000 e demonstram que existe a
necessidade de familiarização de estudantes, professores, visitantes e comunidade em geral
com as estruturas físicas do Campus Central da UFRN. Essas informações atualmente
estão disponíveis apenas nos serviços Google, logo, conclui-se que a grande maioria dos
usuários que chegou até elas estavam de fato fazendo buscas relacionadas à UFRN.
O download de modelos pode indicar o interesse da comunidade usuária do SketchUp, ou
do campo da Arquitetura, Planejamento Urbano e áreas afins, em utilizar o material
produzido no Projeto Campus Virtual em outros estudos ou modelagens, visto que, com 40
modelos de edificações carregados até o momento, já foram realizados cerca 740
downloads.
Em outubro de 2013, no final do plano de execução do Projeto Campus Virtual, o Google
decidiu por interromper o envio de modelos de edificações para a camada 3D, para
utilização de uma nova tecnologia de mapeamento tridimensional, a Imagery, que já estava
presente há mais tempos na representação de grandes cidades, como Nova York, por
exemplo. A implantação da nova ferramenta inviabilizou a publicação definitiva no Google
Earth dos 24 últimos modelos enviados pelo Campus Virtual.
4 CONCLUSÕES
As aplicações expostas nesta experiência ilustram o potencial da utilização de ferramentas
gratuitas e acessíveis ao público para criação de bancos de dados, modelagem
tridimensional e orientação espacial. Estas ações promovem um grande alcance do trabalho
272
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desenvolvido, uma vez que os produtos resultantes são armazenados em plataformas que já
são naturalmente compartilhadas por um grande número de usuários.
Embora com aplicação no Campus Central da UFRN com o objetivo de criar um banco de
dados sobre a infraestrutura atual da instituição, o método empregado pode ser replicado
para outros universos de estudos e objetivos.
A construção de um acervo virtual a partir do mapeamento, registro fotográfico e modelagem
tridimensional de edificações da UFRN contribui para formação de um panorama do atual
patrimônio edificado do Campus Central da UFRN e preservação da memória da instituição.
Segundo Trigueiro (2008), além deste patrimônio ter grande representatividade
arquitetônica, somam-se a este fato a vinculação desses edifícios a eventos e pessoas
memoráveis, e a propriedade que têm os bens imóveis de informar sobre épocas de
formação e desenvolvimento da cidade.
Como continuidade deste projeto de extensão, pretende-se agrupar todos os produtos
atualmente armazenados nos serviços Google em um único endereço virtual e disponibilizar
mais informações textuais sobre as edificações representativas da UFRN. Dessa forma,
mapas, modelos tridimensionais, fotografias digitais e um serviço de tour virtual na UFRN
podem ajudar um visitante a se localizar rapidamente e ainda constituem uma base de
dados para pesquisadores e estudiosos da História da UFRN.
AGRADECIMENTOS
A UFRN pelos recursos cedidos ao projeto de extensão PJ113-2013 Campus Virtual:
Ferramentas de interação com patrimônio edificado da UFRN, durante o ano de 2013.
REFERÊNCIAS
AMORIM, Arivaldo Leão de. A documentação digital do patrimônio construído:
possibilidades e desafios. I ENANPARQ - I Encontro Nacional da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Dez 2010.
GASPAR, João Alberto da Motta. Google SketchUp Pro 8 passo a passo (em português).
São Paulo: [s.n.], 2010.
GOOGLE. Panoramio Central de ajuda. Panoramio política de foto. Disponível em:
<http://www.panoramio.com/help/acceptance_policy>. Acesso em: 04 mar. 2013.
GOOGLE. Sketchup Central de ajuda. Critérios de aceitação para a camada de
Construções em 3D fotorrealistas do Google Earth. 2013. Disponível em:
<http://support.google.com/sketchup/bin/answer.py?hl=pt-BR&answer
= 158683>. Acesso
em: 04 mar. 2013.
NEWTON JÚNIOR, Carlos et al. (Org.). Portal da Memória: Universidade Federal do Rio
Grande do Norte 50 anos (1958 - 2008). Brasília: Senado Federal, 2008.
TRIGUEIRO, Edja Bezerra Faria et al. Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. In: NEWTON JÚNIOR, Carlos et al (Org.). Portal da Memória: Universidade
Federal do Rio Grande do Norte 50 anos (1958-2008). Brasília: Senado Federal, 2008. p.
45-72.
UFRN. Superintendência de Infraestrutura da UFRN. Acervo de projetos de arquitetura da
UFRN. Natal, 2013.
UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. História. Disponível em:
<http://www.sistemas.ufrn.br/portal/PT/institucional/historia/#.U-U9AmMylBR>. Acesso em:
02 jul. 2014.
273
DIGITALIZAÇÃO TRIDIMENSIONAL DE ELEMENTOS
ARQUITETÔNICOS DO CONVENTO FRANCISCANO DE SANTA
MARIA MADALENA COM SOFTWARE DE FOTOGRAMETRIA
AUTOMÁTICO
RESUMO
O presente trabalho aborda o processo de digitalização tridimensional de elementos arquitetônicos do
Convento Franciscano de Santa Maria Madalena em Marechal Deodoro – AL por meio dos recursos
1
de fotogrametria disponíveis no programa de computador Autodesk©, 123D Catch . Denomina-se
“fotogrametria” a técnica de restituição digital feita a partir de imagens, a qual está sendo utilizada
para criação do acervo digital do Museu de Arte Sacra de Alagoas e será apresentada nesse texto. O
programa de computador 123D Catch rompeu paradigmas de softwares similares antecessores a
partir do momento em que implementou um sistema automático e eficiente de correlação entre os
pixels¹ de fotografias complementares para agrupá-las no espaço tridimensional. Para alcançar esse
mesmo objetivo, softwares anteriores como o Photomodeler (MALARD 2005), demandam um
cuidadoso processo de costura entre as fotografias, sendo necessária a indicação manual dos pontos
de interseção entre as imagens. A relevância da experiência aqui descrita está na grande inovação
que representa ao demonstrar a utilização de uma ferramenta capaz de gerar modelos
tridimensionais digitais de objetos complexos a partir de fotografias simples. Este trabalho irá analisar
as funcionalidades do software, seus processos, produtos, e formas de utilização.
Palavras-chave: Fotogrametria, 3D, Digitalização, Museu, Convento, Acervo digital.
ABSTRACT
This paper discusses the process of scanning three-dimensional architectural elements of the
“Convento Franciscano” of “Santa Maria Madalena” in the city of Marechal Deodoro - AL throughout
techniques of photogrammetry resources available in the computer program Autodesk© 123D Catch.
We call "photogrammetry" the technique of digital restitution made up from images, which is being
used to create the digital collection of the “Museu de Arte Sacra de Alagoas” and will be presented in
1
Programa para computador, tablet e celular que utiliza uma sequência de fotografias de um mesmo objeto para
construir seu modelo tridimensional digital.
274
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
this text. The computer program 123D Catch broke paradigms if compared to similar previous
softwares when it implements an automated and efficient pixels correlation between photographs to
group them in the three-dimensional space. To achieve the same goal with the previous software
PhotoModeler (Malard 2005), it requires a careful process of seam between shots and manual
indication of the intersection points in each image. The relevance of the experiment described here is
the major innovation that demonstrates the use of a tool able to generate three-dimensional digital
models of complex objects from simple photographs. This paper will analyze the features of the
software, its processes, products and ways of use.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo foi desenvolvido a partir dos estudos realizados pela equipe técnica envolvida no
projeto de museografia para o Museu de Artes Sacras de Alagoas. O edital licitatório foi
lançado pelo IPHAN/AL neste ano de 2014 e engloba os bens móveis integrados tombados
em conjunto com o Convento Franciscano de Santa Maria Madalena na cidade de Marechal
Deodoro – AL. Associada à proposta museográfica, o corpo técnico responsável pelo projeto
pretende elaborar também uma plataforma que permita a visitação digital do museu e dos
bens móveis tombados a partir da tecnologia de escaneamento ou digitalização
tridimensional (3D). Será apresentada nesse trabalho a metodologia de digitalização
utilizada que irá propiciar a visualização do acervo em três dimensões e por meio da qual os
usuários poderão girar as peças e ver detalhes minuciosos dos entalhes e baixos relevos
em pedra ou madeira.
Optou-se por incorporar ao trabalho algumas tecnologias de representação do espaço
aliadas às ferramentas computacionais, que fazem parte da pesquisa de mestrado do
arquiteto Leandro dos Santos Magalhães pela Escola de Arquitetura da UFMG. Neste caso,
especificamente, o foco está na metodologia de obtenção de modelos 3D a partir de
fotografias, a chamada fotogrametria (AMORIM 2012). Dado o caráter histórico e religioso
do complexo conventual de Marechal Deodoro veremos que o próprio edifício será
musealisado e, por isso, alguns de seus elementos arquitetônicos foram digitalizados em
três dimensões e encontram-se disponíveis para visualização em uma galeria criada com a
finalidade exclusiva de ser apresentada neste seminário.
O edifício deste estudo de caso passou recentemente por um processo de restauração que
foi concluído em 2013. Isso justifica o fato de grande parte de suas dependências e
elementos arquitetônicos estarem em excelente estado de conservação. Será possível
verificar que o material resultante da digitalização em 3D estabelece um parâmetro digital de
grande utilidade museográfica para futuras ações de conservação e restauração dos
elementos ao armazenar com riqueza de detalhes os aspectos volumétricos e cromáticos.
2 O CONVENTO
Figura 1 – Convento Franciscano de Santa Maria Madalena. a) Vista externa da fachada
principal a partir do adro. b) Claustro.
275
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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1. Pia de água benta Normalmente tem o formado de uma concha marinha, onde
a água benta é depositada, existindo uma em cada acesso
da igreja. Serviam para que o fiel se benzesse antes de
entrar no templo.
2. Púlpito Local onde eram proferidos os sermões e discursos em
ocasiões solenes;
3. Capela-mor e Altar do Os elementos mais trabalhados de todo o conjunto,
Santíssimo (lateral) desenvolvendo-se em estilo barroco, talhado com motivos
florais e elementos antropomórficos, folheados a ouro e
policromias;
4. Retábulos a) Retábulo lateral esquerda. b) Retábulo lateral direita. c)
Retábulo para crucifixo. (ver figura 2)
5. Pedestal Ornamento vertical em pedra torneada localizado na base
da escada principal.
6. Nicho com Utilizado para contemplação da paisagem, assim como o
conversadeiras mirante;
7. Cozinha Local da preparação das refeições coletivas no convento.
3 METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO
Para a obtenção automática de modelos digitais tridimensionais dos elementos
arquitetônicos do Convento a partir de fotografias deve ser aplicada a metodologia
adequada de captura de fotos. O próprio software utilizado (123D Catch) fornece as
orientações por meio de diversas mídias, incluindo vídeos explicativos. A partir da
compreensão destas orientações, a equipe técnica desenvolveu uma metodologia específica
para o trabalho que é coerente com os objetivos do material a ser produzido.
Recomenda-se que sejam feitas mais de 20 fotografias por objeto a ser digitalizado,
circundando-o por 360º horizontalmente e com no mínimo duas alturas diferentes de
posicionamento da câmera no eixo vertical. Em alguns casos, como o do Púlpito da capela
do convento, foi possível obter um modelo satisfatório com apenas oito fotos. A sequência
de fotos deve ser feita prevendo uma repetição de elementos para que o software consiga
correlacionar os pixels2 das imagens tornando possível a reconstrução da posição da
câmera na representação digital do espaço.
Figura 3 – Digitalização do púlpito. a) Imagem do modelo 3D gerado. Em magenta estão as
posições da camera em cada uma das oito fotos tomadas. b) Fotografia do púlpito. c)
Constituição da malha digital tridimensional em diversos polígonos
Com relação ao pedestal, que tem uma geometria prismática quadrangular com ao menos
uma das faces ligada ao edifício (similar ao púlpito), foram realizadas 19 fotografias. Porém,
nesse caso, observou-se uma falha do software que gerou uma malha incompleta, sem
visualização da face voltada para escada. Isso se deve ao fato das fotos terem sido tiradas
distantes umas da outras, com um intervalo de ângulos não contemplados impedindo a
devida correlação entre pixels. Nesses casos, o programa apresenta a tradicional opção de
conectar os pontos manualmente.
Figura 4 – Digitalização do pedestal. a) Imagem do modelo 3D gerado com a falha. Em
magenta estão as posições da camera. b) Interface para correção manual. c) Faces bem
contruídas pelo software. Sem falhas.
2
É o menor elemento num dispositivo de exibição (como por exemplo um monitor), ao qual é possível atribuir-se
uma cor. (Wikipedia)
277
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A alteração da iluminação de uma foto para outra pode dificultar a identificação de pontos
similares entre as imagens e o modelo 3D não ficará completo. Nesta experiência, obteve-se
alguns resultados insatisfatórios com modelos incompletos, originados por uma iluminação
inadequada com reflexos fortes. Recomenda-se então o controle na iluminação do ambiente
e na captura da câmera. Estes parâmetros devem se repetir caso o objeto de interesse ou
outro projete sombras pois estas serão incorporadas à textura do modelo 3D. Deve-se ainda
prezar pelo estabelecimento de contraste apropriado entre figura e fundo.
279
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caso a própria dimensão do espaço foi preponderante, afinal, um modelo maior também
demanda grandes quantidades de polígonos.
Fig. 9 – Modelo 3D da cozinha. a) Malha de polígonos e posição da câmera. b) Modelo 3D
281
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5 DESDOBRAMENTOS E CONCLUSÕES
Os modelos digitais abrem diversas possibilidades de ações principalmente no sentido da
visitação digital do museu e seu acervo, educação patrimonial, divulgação e gestão do
acervo. A própria Autodesk©4, oferece em sua página diversas possibilidades para os
modelos 3D, que vão desde a produção de vídeo à integração com circuitos e prototipagem
rápida com impressoras 3D.
Apresentamos abaixo duas derivações que atestam as potencialidades de produtos obtidos
da digitalização ou escaneamento em três dimensões.
4
Empresa desenvolvedora e proprietária do 123D Catch©.
282
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A tecnologia de obtenção de modelos 3D está cada vez mais madura e vem caminhando
para uma simplificação e barateamento dos processos, o que é bastante positivo. Cabe
agora investigar possíveis fusões entre esta e outras capacidades computacionais no
sentido de aprimorar as ferramentas de gestão, observação, conservação e construção de
conhecimento sobre o ambiente edificado.
Finalizamos com a sugestão para que outros colegas que já trabalharam com os softwares
de fotogrametria antecessores do 123D Catch (e próximos que virão) que testem usar as
mesmas bibliotecas de fotografias neste novo recurso e por favor, divulguem os resultados.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à arquiteta Mariana Borel à EquipeB Arquitetura Design e Multimidias LTDA
ME e toda sua equipe, ao CNPq, ao NPGAU, ao professor Renato César Ferreira de Sousa,
ao IPHAN e à Arquidiocese de Maceió.
REFERÊNCIAS
AMORIM, A. L. . Fotogrametria: uma introdução 1ed.Brasília: Faculdade de Tecnologia da
Universidade de Brasília, 2012, v. 1, p. 63-90.
BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil: Estudo histórico e
morfológico. Volumes 1-2. Editora Record: Rio de Janeiro, 1983.
IPHAN. CONVENTO FRANCISCANO DE MARECHAL DEODORO – Santa Maria
Madalena. Organização, Ana Cláudia Magalhães, Josemary Ferrare e Maria Angélica da
Silva. Brasília, DF: IPHAN, 2012.
MALARD, M. L. Fotogrametria simplificada - Photomodeler. 2005. (Desenvolvimento de
material didático ou instrucional - Manual de instruções.)
MUNIZ, Bianca Machado e MACHADO, Roseline Vanessa Oliveira. Alagoa do Sul de Vila
à Cidade: memórias urbanas na perspectiva da Cartografia Histórica. 1º Simpósio
Brasileiro de Cartografia Histórica. Paraty, 10 a 14 de maio de 2011.
SILVA, Maria Angélica da, e Magalhães, Ana Cláudia V. O Barroco como Horizonte e a
Paisagem vista do particular. Uma Prática dos Conventos Franciscanos do Nordeste
Anais do II Encontro Internacional de História Colonial. Mneme – Revista de Humanidades.
UFRN. Caicó (RN), v. 9. n. 24, Set/out. 2008. ISSN 1518-3394. Disponível em
www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais
Sites:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Computa%C3%A7%C3%A3o_em_nuvem (Consultado em agosto
2014)
http://www.123dapp.com/catch (Consultado em agosto de 2014)
https://sketchfab.com/ (Consultado em agosto de 2014)
http://www.ceci-br.org/ceci/index.php (Consultado em agosto de 2014)
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaInicial.do (Consultado em agosto de 2014)
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/alagoas/marechaldeodoro.pdf (Consultado em
agosto de 2014)
http://khristianos.blogspot.com.br/2013/09/museu-arquidiocesano-de-arte-sacra.html
(Consultado em agosto de 2014)
283
MODELAGEM GEOMÉTRICA DE EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS:
ESTUDO DO ANTIGO COLÉGIO MARISTA DE SALVADOR
RESUMO
O trabalho aborda a história e as transformações físicas do Antigo Colégio Marista (situado no Bairro
do Canela em Salvador), focando na representação digital do prédio original (principal), com o uso do
software Sketchup Pro (versão 8). Grande parte dos dados deste trabalho (dados históricos, fotos e
cadastro) tem como fonte a dissertação do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de
Monumentos e Núcleos Históricos da UFBA, de autoria da arquiteta Aline dos Santos Rocha, cujo
tema é: Adaptação do Edifício do Antigo Colégio Marista à Sede da Reitoria do IFBA (concluído em
julho de 2013). Neste âmbito, faz-se uma explanação de sua história contextualizada com o bairro e
do edifício principal individualmente, no intuito de se entender as suas mudanças físicas de caráter
arquitetônico sofridas com o tempo e de promover o desenvolvimento de modelo geométrico do
mesmo, evidenciando sua configuração atual, dando ênfase ao detalhe se seus elementos
construtivos (colunas, cimalhas, balaústres, esquadrias, etc.). O modelo produzido é mais uma
ferramenta que auxiliará todo o processo de reforma e restauro do prédio em questão, visando sua
ocupação definitiva pela a reitoria do IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia).
Palavras-chave: História. Transformações físicas. Modelo geométrico.
ABSTRACT
The paper discusses the history and physical transformations of the Old Marist College (located in the
neighborhood of Canela in the Salvador), focusing on the digital representation of the original building
(main), using SketchUp Pro (version 8) software. Much of the data of this work (historical data, photos
and registers) has as its source the dissertation of the Professional Masters in Conservation and
Restoration of Monuments and Historical Centers of UFBA, authored by architect Aline dos Santos
Rocha, whose theme is: Building Adaptation Marist College Old Rectory to the Headquarters of the
IFBA (completed in July 2013). In this context, it is an explanation of a contextualized history with the
neighborhood and the main building individually in order to understand the physical changes of
architectural character suffered over time and promote the development of geometric model of the
same, showing their current setting, emphasizing the detail if its constructive elements (columns,
cornices, balusters, window frames, etc..). The model produced is another tool that will help the whole
process of reform and restoration of the building in question, seeking its final occupation by the rectory
of the IFBA (Federal Institute of Education, Science and Technology).
Keywords: History. Physical transformations. Geometric model.
284
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
1 INTRODUÇÃO
O antigo Colégio Marista de Salvador localiza-se no bairro do Canela, entre as ruas Araújo
Pinho, Marechal Floriano e Moreira de Pinho, como mostrado na Figura 1. O estilo
arquitetônico que caracteriza o prédio principal (na sua configuração atual) é uma mistura da
arquitetura eclética e a arquitetura moderna do início do século XX, já contando com
diversos elementos construtivos em concreto armado.
A edificação encontra-se provisoriamente tombada desde 2008 e aguarda uma decisão final
do Governo do Estado. Tal tombamento é fruto de reivindicações junto ao Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), advindas da Associação de Pais e Mestres
do Marista de Salvador (APAMEMA) para salvarguardar o colégio das “mãos” da
especulação imobiliária, uma vez que este fora posto a venda, ameaçando assim, a sua
integridade física.
O tombamento promoveu a desistência da compra do estabelecimento por parte das
grandes incorporadoras e possibilitou a compra pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia (IFBA), para implantação de sua reitoria, o que foi efetivado em 2010.
285
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
O desenvolvimento do trabalho seguiu as seguintes etapas principais:
• Levantamento histórico, usando, na sua quase totalidade, fontes contidas em Rocha
(2013), uma dissertação do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de
Monumentos e Núcleos Históricos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), concluída
em 2013, cujo tema é: Adaptação do edifício do antigo Colégio Marista à sede da
Reitoria do IFBA;
• Levantamento cadastral realizado por Rocha (2013) complementado com a atualização,
também cadastral, de alguns elementos arquitetônicos (colunas, balaústre, esquadrias e
cimalhas) que requereram melhor detalhamento visando a representação mais fiel dos
modelos. Para estes trabalhos, foram utilizadas trenas do tipo convencional e à laser;
• Registro fotográfico realizado por Rocha (2013) para a referida dissertação, com o uso
de câmera digital semiprofissional, complementado por novas fotos do autor, feitas com
uma câmara digital compacta (visando a melhor representação);
• Compilação das informações coletadas e formuladas as hipótese de evolução física da
edificação através de esboços, tomando-se como base a iconografia histórica e outros
documentos.
• Construção dos modelos geométricos, empregando-se os softwares AutoCAD e
Sketchup Pro, versão 8. O primeiro programa foi utilizado para a preparação das plantas
(foram deixadas nelas somente as linhas de paredes e esquadrias) e o segundo para a
execução do modelo geométrico, através da importação destas plantas já preparadas.
Para a modelagem de alguns elementos arquitetônicos, como por exemplo, colunas,
cimalhas e balaústres, usou-se diretamente o software Sketchup (utilizando-se do
cadastro), sem a necessidade do software AutoCad.
3 CONTEXTO HISTÓRICO
O contexto histórico é fundamental para o melhor conhecimento do empreendimento como
um todo. Aborda-se a seguir, um resumo da evolução histórica de forma separada: Do bairro
e da edificação principal.
3.1 Do bairro
A partir das pesquisas de Rocha (2013), pode-se estabelecer que a evolução urbana do
bairro do Canela deu-se segundo estes marcos:
• Chegada a Salvador no século XIX, das ideias modernistas do sanitarismo e do
saneamento, que promoveram investimentos no centro da cidade insalubre e saturado,
como também nas suas áreas de expansão, compreendendo obras de alargamento das
ruas existentes e de abertura de novas avenidas no sentido Campo Grande/Canela;
• Dadas as melhorias promovidas na área do bairro do Canela e a deterioração do centro
da cidade, há o deslocamento da elite burguesa da época, culminando com a construção
de sobrados com tipologia arquitetônica bem característico do período. Algumas poucas
destas edificações se mantem até hoje, desempenhando novas funções, como: a Escola
de Belas Artes, a Galeria Canizares, a Escola de Teatro, a Escola de Nutrição, todas
elas pertencentes a UFBA;
• Pela chegada ao antigo bairro do Canela da Faculdade de Medicina da Bahia, através
da compra da Chácara Bom Gosto, em 1918, para abrigar as suas novas instalações e o
286
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Hospital das Clínicas. Esta Faculdade particular, fundada em 1818, juntamente com a
incorporação dos cursos de Farmácia (1832), Odontologia (1864), Academia de Belas
Artes (1877), Direito (1891) e Politécnica (1896), vai dar origem a Universidade Federal
da Bahia alguns anos depois (website https://www.ufba.br/histórico). Apesar do aumento
crescente de moradores durante as décadas de 1920 e 1930, a consolidação da
ocupação do bairro do Canela se deu a partir da implantação da UFBA no local;
• Pela chegada, em junho de 1906, dos Irmãos Maristas ao Canela. Anteriormente, estes
ocupavam um espaço cedido pela Igreja de São Pedro dos Clérigos, no Terreiro de
Jesus e posteriormente uma casa, localizada no Corredor da Vitória, que passou a ser
utilizada como sede provisória do Colégio, até que foi adquirido em junho do mesmo
ano, o imóvel de número 12, sito à Rua do Canella, que pertencia ao Coronel Pedro
Emílio de Cerqueira Lima, família proprietária de outros imóveis na região.
Figura 2 – (a) Vista geral do Campus da UFBA no Canela em 1948, com o Hospital das
Clínicas à direita e Colégio Marista à esquerda; (b) Vista geral do bairro do Canela (data
desconhecida), com o Hospital das Clínicas ao centro e Colégio Marista à esquerda
Fonte: CONDER.
287
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Figura 5 – (a) Proposta de acréscimo do segundo pavimento à edificação; (b) Foto após a 1a
ampliação
288
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Figura 6 – (a) foto de 1927, evidenciando que a varanda lateral já existia; (b) ilustração de
uma vista geral do colégio em 1978
Figura 7 – Fotografias recentes do antigo Colégio: (a) panorâmica; (b) fachada principal
289
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A edificação contém diversos tipos de colunas, todas com características próprias do estilo
dórico. A Figura 9 mostra os modelos de quatro diferentes tipos de colunas existentes nas
fachadas frontal e lateral da edificação. Para a execução destas, se utilizou dos dois
processos citados anteriormente (comandos: “Push / Pull” e “Follow Me”).
Figura 9 – (a) Esboço de uma das colunas; (b) modelos geométrico das colunas
290
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Figura 10 – (a) Modelo das esquadrias na fachada; (b) detalhe dos componentes já
inseridos
Figura 11 – Dois tipo de rendering aplicados ao modelo: (a) acabamento padrão; (b)
acabamento com o plug-in V-Ray
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso das tecnologias digitais tem se revelado como um importante aliado para a
documentação do patrimônio cultural. No que diz respeito ao patrimônio arquitetônico, a
fotogrametria, o escaneamento a laser e os programas para modelagem da informação da
construção (Building Information Modelling - BIM) e, mais recentemente, o surgimento do
conceito de Historic Building Information Modeling (HBIM), vem evidenciando grande
importância deste tipo de modelagem para a proteção do patrimônio arquitetônico, seja
como simples documentação para visualização e preservação da memória, seja com
representação de informações técnicas para fins de restauro, manutenção e gestão desse
patrimônio.
Neste âmbito e no que diz respeito à tecnologia aqui empregada, destaca-se a facilidade
para a geração dos modelos (modelos de superfícies simples), porém com grande dispêndio
de trabalho para o processo de modelagem, haja vista a necessidade, na grande maioria
das vezes, de se desenhar linha por linha para a obtenção de uma determinada superfície.
Desta forma, sabendo-se que os modelos gerados não contêm as informações técnicas
suficientes para os processos, por exemplo, de restauro, condiciona-se somente como uma
documentação para avaliação e preservação da memória, somente auxiliando no
291
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AGRADECIMENTOS
O autor registra os seus agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram
para a realização deste estudo, em especial, a Aline Rocha, amiga e colega de trabalho, que
forneceu os dados essenciais para a realização deste trabalho.
REFERÊNCIAS
ESCRITURA de compra e venda entre Cel. Pedro E. de C. Lima e sua esposa e a Ordem
dos Irmãos Maristas das Escholas, Salvador, 28 jun 1906. Tabelião Affonso Pedreira de
Cerqueira, Arquivo Público do Estado da Bahia, L. 1130, F. 27-27V.
FONTES, Antônio Nelson Dantas. Breve histórico dos campi da Universidade Federal da
Bahia. 2010. 192 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de
Arquitetura, 2010.
KEHL, Caroline; SIVIERO, Luís Artur; ISATTO, Eduardo Luis. A Tecnologia BIM na
Documentação e Gestão da Manutenção de Edifícios Históricos. In: TIC, V.,2011,
Salvador, Bahia. Artigo… Faculdade de Arquitetura, Universidade FEEVALE, Escola de
Engenharia, UFRGS, NORIE, UFRGS, 2011;
Rocha, Aline dos Santos. Adaptação do edifício do antigo Colégio Marista à sede da
Reitoria do IFBA. 2013. 143 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia,
Faculdade de Arquitetura, 2013;
292
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293
PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE ARQUITETURA EM
ARQUIVOS PÚBLICOSO: O CASO DO PLANO DE AÇÃO –
PAGE (1959-1963)
RESUMO
O trabalho tem como objetivo analisar a produção de edifícios públicos no Estado de São
Paulo, elaborados durante o Plano de Ação do governo Carvalho Pinto- PAGE (1959-
1963). Pretende-se além de analisar o que viabilizou a produção de equipamentos
modernos, discutir como uma ação governamental, até hoje quase desconhecida, constituiu-
se em um momento significativo da produção arquitetônica moderna no Estado de São
Paulo. Isto, na medida em que os arquitetos envolvidos, em boa parte desta produção, eram
comprometidos com a arquitetura moderna, como Vilanova Artigas, Paulo Mendes da
Rocha, Joaquim Guedes, Fábio Penteado, etc. Pelo desconhecimento do conjunto das
ações que caracterizam o objeto, lacunar apesar de envolver um montante de 646 obras de
prédios públicos com financiamento pelo IPESP, sendo que 520 foram entregues e
construídas durante o exercício do plano, a recorrência a fontes primárias através de
consulta a arquivos (IPESP, DOP, CPOS, FDE, Secretarias da Justiça e da Agricultura) foi
de fundamental importância para a leitura das obras arquitetônicas produzidas no período,
porque muitas delas encontram-se descaracterizadas e algumas demolidas. Unido às
informações constantes em processos administrativos, visitas técnicas e entrevistas o
trabalho busca agregar novos significados a produção da arquitetura moderna,
particularmente, no campo dos equipamentos públicos.
Palavras-chave: Edifícios públicos. Plano de Ação. PAGE. Arquitetura moderna. IPESP.
ABSTRACT
The work aims to analyze the production of public buildings in the State of São Paulo, developed
during the Action Plan of the Government Carvalho Pinto-PAGE (1959-1963). It is intended also to
analyze which enabled the production of modern equipment, discuss how government action almost
unknown until today constituted a significant moment in the modern architectural production in the
State of São Paulo. This, to the extent that the architects involved in much of this production, were
committed to modern architecture, as Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Joaquim Guedes,
294
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Fábio Penteado, etc. The ignorance of all the actions that characterize the object, lacunar despite
involving an amount of 646 works of public buildings funded by IPESP, and 520 were built and
delivered during the year of the plan, the recurrence of the primary sources through the query files
(IPESP, DOP, DMFS, FDE, Departments of Justice and Agriculture) was of fundamental importance to
the understanding of architectural works produced during the period because many of them are
disfigured and some demolished. Attached to the information contained in administrative, technical
visits and interviews work seeks to add new meanings to produce modern architecture, particularly in
the field of public facilities.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho integra e é derivado da pesquisa em curso “Difusão da Arquitetura Moderna
no Brasil - O Patrimônio Arquitetônico Criado pelo Plano de Ação do Governo Carvalho
Pinto (1959-1963)” que conta com o aporte financeiro da FAPESP.
Conforme Giulio Carlo Argan, o historiador de arte ao realizar o seu trabalho em face do
evento obra de arte como documento a ser investigado, vivencia uma condição particular,
distinta do historiador que, por exemplo, investiga um momento pretérito qualquer, uma
guerra entre nações, a vida em uma determinada corte, etc. Ao historiador de arte, e deve
ser acrescentado ao historiador de arquitetura, é dada a possibilidade substantiva de
interpretar os eventos, face à face, e não “evocá-los, reconstruí-los, ou narrá-los”.
Entretanto o próprio Argan alerta que a leitura de uma produção artística por parte do
historiador, ou de uma produção arquitetônica, como neste trabalho, não pode abstrair a
reconstrução de “toda a cadeia de juízos que foram pronunciados a respeito das obras que
trata”. Cada obra para Argan acrescentaria ao conjunto, como no caso do Plano de Ação do
Governo Carvalho Pinto (PAGE) responsável por um programa de equipamentos públicos,
que possui uma historicidade, um acúmulo de leituras que informam o olhar e o pensamento
sobre ele. As interpretações feitas realizam-se num campo conceitual denso, culturalmente
disseminado do qual a obra de arte/arquitetura é parte constitutiva. Reconstruir os juízos
que teceram o campo cultural, portanto, seria reconhecer numa obra, ou num conjunto que
formaria a produção de um artístico ou de um arquiteto, ou ainda de um programa de
equipamentos, não apenas os valores dessa produção, mas o que comunica, como corpo
conceitual das análises feitas e os julgamentos que informavam a ação do produtor ou
produtores artísticos.
A arquitetura moderna brasileira conforma um grande campo cultural. Sua produção é
vastíssima, guardando vertentes, soluções e tipologias variadas. Entretanto, a historiografia
simplificou os seus valores e vertentes, ao transformar uma delas em sinônimo da
arquitetura moderna brasileira. Assim, a chamada “escola carioca”, passou a ser parâmetro
e resolução da “boa” arquitetura. Note-se que as qualidades dessa arquitetura são
inegáveis, entretanto, o julgamento de qualquer tipologia arquitetônica frente aos seus
valores estabeleceu um estreitamento cultural profundo.
Esta construção historiográfica Carlos Martins e Agnaldo Farias denominaram “trama
hegemônica da historiografia da arquitetura moderna brasileira”.
Discutindo a noção de trama, para Beatriz Sarlo:
“É a trama que define a pertinência das inclusões e das exclusões: na
realidade poderíamos dizer que não existe discurso sobre os fatos e sim
discurso sobre (das) tramas.”
(SALO, 1997)
Adotando a proposição da trama, o trabalho pretende analisar o lugar da produção
arquitetônica do PAGE, ou melhor, discutir a ausência dessa produção na historiografia da
arquitetura moderna brasileira. Para tanto, inicialmente o trabalho discutirá o modernismo
295
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brasileiro, a arquitetura moderna brasileira, a formação do PAGE, para depois discutir sua
produção e o que ela revela.
1
O engajamento da intelectualidade com a identidade nacional mostrou-se bem-sucedido, em particular na
arquitetura, a ponto de escrever a sua história, gerando uma versão dominante. Analisando-a mais atentamente
verificamos que tal historiografia consiste em determinar e qualificar o momento de inflexão da atividade
arquitetônica no Brasil como, por exemplo, ocorreu com o arquiteto Gregori Warchavichk, ora considerado
apenas como pioneiro, ora como executor de uma arquitetura imatura.
2
Conforme o sociólogo Otávio Ianni, “A nação, em seus diferentes e múltiplos aspectos, pode ser vista como
uma longa narrativa. Uma narrativa a muitas vozes, harmônicas e dissonantes, dialogando e polemizando, em
diferentes entonações. São narrativas empenhadas em taquigrafar as diferenças e múltiplas características da
formação e transformação da sociedade nacional. (...)Todas, em diferentes gradações e entonações, contribuem
para o entendimento de como a nação se pensa e repensa, buscando constituir-se, explicar-se e imaginar-se.”
Ianni, Otavio, “Nação e Narração,” p.71, in: Antonio Candido: pensamento e militância, org. Aguiar, Flávio.
296
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297
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3
Carvalho Pinto e Plínio de Arruda Sampaio, coordenador do PAGE e Chefe de Gabinete eram filiados ao PDC
Partido Democrata Cristão, partido que se aproximou das propostas formuladas pelo movimento internacional
Economia e Humanismo, introduzido no Brasil pelas mãos do padre francês Louis Joseph Lebret seu criador.
Ver: COELHO, Sandro Anselmo, O partido democrata cristão (1945-1965): dilemas e inconsistência da terceira
via brasileira. Curitiba: mimeo. 2002. Lebret também dirigiu a Sociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica
Aplicada aos Complexos Sociais (SAGMACS), reconhecida por trabalhar e pesquisar os problemas das
periferias da capital. Em entrevista ao grupo de pesquisa Arte e Arquitetura Brasil, diálogos da cidade moderna e
contemporânea da EESC-USP, em 2007, Plínio A. Sampaio e Francisco Whitaker Ferreira, arquiteto do grupo
técnico do PAGE, informaram a influência de Lebret nos fundamentos do PAGE. Whitaker começou sua vida
profissional trabalhando com Lebret. O arquiteto Celso Lamparelli que também participou do grupo técnico do
PAGE como responsável pela área da educação, em entrevista ao arquiteto Mário Henrique de Castro Cadeira
em 2004, corroborou a influência de Lebret com quem trabalhou nas pesquisas da SAGMACS.
4
Composição inicial do Grupo de Planejamento: Plínio Soares de Arruda Sampaio- Coordenador; Diogo Adolho
Nunes Gaspar - Economista, Secretário Executivo; Celeste Angela de Souza Andrade - Diretor Geral do
Departamento de Estatística do Estado; Paulo Menezes Mendes da Rocha - Professor Catedrático da Escola
Politécnica - U.S.P.; Ruy Aguiar da Silva Leme - Professor Catedrático da Escola Politécnica - U.S.P.; Antônio
Delfim Netto - Assistente da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas - U.S.P.; Sebastião Advíncula
da Cunha _ Do Departamento Econômico do B.N.D.E.; Orestes Gonçalves _ Chefe do Gabinete de Estudos
Econômicos e Financeiros da Secretaria da Fazenda; Ruy Miller Paiva - Engenheiro Agrônomo do Departamento
da Produção Vegetal da Secretaria da Agricultura.
5
PINTO, Carvalho, Mensagem apresentada pelo Governador Carvalho Pinto à Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo em 14 de março de 1961, São Paulo: Imprensa Oficial. s/d.
6
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo foi criada em 1960 (Lei Orgânica 5.918, de
18.10.1960) e começa a funcionar de fato em 1962 (Decreto 40.132, de 23.05.1962).
298
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Figura 1: Gráfico da distribuição setorial de investimentos do Plano de Ação. As demandas das Secretarias eram
submetidas diretamente às avaliações do grupo técnico responsáveis pelos atendimentos setoriais ordenados
pelo plano. Fonte: PAGE, 1959.
299
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Outro procedimento técnico importante desse levantamento de fonte primária são as visitas
técnicas (in loco) que estão sendo feitas. Estas estão distribuídas inicialmente a partir das
regionais administrativas do estado e em cidades localizadas no seu raio de 150 km de
301
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distância. Os municípios foram secionados a partir dos projetos autorais reconhecidos pelo
entrecruzamento de fontes pesquisadas.
Para se ter uma dimensão da distribuição dos equipamentos no território do estado e o grau
de complexidade dessa pesquisa está sendo elaborado mapas georeferenciados com as
localizações dos empreendimentos por cidade do estado.
Além disso, estão sendo realizados redesenhos de projetos (através de programas gráficos)
escaneados, cuja leitura encontra-se muito comprometida, maquetes eletrônicas de obras
construídas, maquetes produzidas por impressora 3D e maquetes produzidas através de
cortadora à laser. Os materiais produzidos através de meios eletrônicos comporão um site
sobre a produção do Plano de Ação, bem como a análise da mesma.
6. CONCLUSÃO PRELIMINAR
Apesar da grande produção moderna no país na década de 1950, o Estado de São Paulo
através de seus órgãos, não havia produzido nenhuma obra moderna, até a implantação do
PAGE, á exceção do edifício denominado E1 da Escola de Engenharia de São Carlos.
Todas as suas obras, até então, eram de extração eclética ou neocolonial.
Havia algumas edificações com uma organização espacial funcionalista, o que autores,
como Hugo Segawa, denominaram “vertentes racionalistas” (SEGAWA p.66), mas mesmo
quando isso ocorria, a linguagem das edificações tendia ao ecletismo mais tradicionalista,
que era baseado na reprodução de estilos pretéritos, por vezes vários em uma mesma
edificação. A historiografia da arquitetura moderna, não apenas obliterou vários arquitetos,
como omitiu casos significativos, como a permanência não moderna em alguns segmentos
importantes, como a produção de edificações do estado paulista, bem como a ruptura desta
situação, como no caso do PAGE. A historiografia da arquitetura moderna brasileira e
paulista apesar das diversas monografias e publicações atuais que buscam alargar o
conhecimento de autores e obras, reconhecendo novas produções, ainda sofre da carência
de textos analíticos e, por vezes, são em parte tributárias da trama hegemônica da
historiografia.
Há, por assim dizer uma memória seletiva da produção moderna, as obras que questionam
a historiografia são “esquecidas”. A produção do Page, cuja linguagem moderna é múltipla,
extrapolando as configurações da “escola carioca” impõe ao historiador rever conceitos e a
própria historiografia corrente, seus valores e parâmetros. As redes de equipamentos,
produzidas, dotaram o interior do estado de uma nova dimensão qualitativamente política e
social, redefinindo o lugar das cidades no território e estabelecendo para este um novo
padrão e uma nova dimensão espacial-administrativa.
O volume de obras produzidas durante o PAGE identificadas até o presente pela pesquisa
representa, aproximadamente, 7.000 novas salas de aula para o (antigo) primário, 1.100
para o (antigo) secundário, construção de edificações de ensino superior na Cidade
Universitária Armando Salles de Oliveira - USP, 113 Cadeias e Delegacias, 57 novos
Fóruns, 100 postos de Assistência Médica Sanitária, 308 Casas da lavoura, etc. Assim o
Plano de Ação não só espacializou uma ordenação do território do Estado de São Paulo a
partir de ações de serviços urbanos (as redes de equipamentos) associadas a obras de
infra-estrutura, estradas, hidrelétricas, etc, como produziu um patrimônio arquitetônico, em
grande parte moderno, que marcou as cidades do interior paulista, be como a própria
capital.
7. REFERÊNCIAS
ARANTES, O. B. Fiori e ARANTES, Paulo Eduardo, Um Ponto Cego no projeto Moderno
de Jurgens Habermas, São Paulo: Brasiliense, 1992.
302
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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ARGAN, G. C., História da Arte, in História da Arte como História da Cidade, São Paulo:
Martins Fontes, 1992, 1983, (traduzida pela Martins Fonte).
BRUAND, Y.Arquitetura Brasileira Contemporânea, São Paulo: Perspectiva, 1981.
FERREIRA, C. A. M. F., Arquitetura e Estado no Brasil - Elementos para uma
Investigação sobre a Constituição do Discurso Moderno no Brasil; a Obra de Lúcio
Costa (1924/1952). Mimeo. Dissertação de mestrado FFLCH-USP, 1987.
GIEDION, S. O Brasil e a Arquitetura Contemporânea. in Arquitetura Moderna no Brasil,
Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
IANNI, O., Nação e Narração, p.71, in Antonio Candido: pensamento e militância, org.
AGUIAR, ., São Paulo: Editora Perseu Abramo/. Humanitas/FFLCH/USP,1999.
PINTO, C., Mensagem apresentada pelo Governador Carvalho Pinto à Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo em 14 de março de 1961, para a Lei nº 6.047, de 27
de janeiro de 1961, São Paulo: Decretos e Relatórios. Imprensa Oficial. s/d.
S/A, Segundo Plano de Ação do Governo, 1963-1966, São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado, 1962.
S/A, Estado de São Paulo, Plano de Ação do Govêrno- 1959-1963- Administração
Estadual e Desenvolvimento Econômico e Social, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,
1959.
S/A, Exposição do Gov. Carvalho Pinto para a 4ª Reunião de Governadores com o
Exmo Senhor Presidente da República, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1961.
S/A, Mensagem apresentada pelo Governador Alberto A. de Carvalho Pinto à
Assembléia Legislativa do estado de São Paulo em 14 de março de 1961. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 1961, vol I e vol. II.
SARLO, B., Clio Revisitada, in Paisagens Imaginárias, São Paulo: Edusp, 1997.
SEGAWA, H., Arquiteturas no Brasil, 19001-1990, São Paulo: Edusp, 1998.
TAFURI, M. - Teoria e História da Arquitetura, Lisboa: Presença/Martins Fontes, 1981.
ENTREVISTAS: Concedidas ao Grupo de Pesquisa “Arte e Arquitetura, Brasil – diálogos na
cidade moderna e contemporânea” (ArtArqBr)
SAMPAIO, P. de A., Plínio de Arruda Sampaio: depoimento [MAIO, 2007] Entrevistadores:
SIMONI, L. N.; BUZZAR M. A.
CASTALDI, I. G., Ivan Gilberto Castaldi: depoimento, [maio, 2007] Entrevistadores: M. T.
R. L. B.; BUZZAR M. A.
LAMPARELLI C. M., Celso Monteiro Lamparelli, depoimento, [abril, 2007] Entrevistadores:
SIMONI, L. N.; CORDIDO, M. T. R. L. B.; BUZZAR M. A.
VACCARI, M.; PASSOS, M.L.B.; Marcolino Vaccari, Maria Lúcia de Brito Passos [março
2007], Entrevistadores: 26/03/2007 - CORDIDO, M. T. R. L. B. e BUZZAR M. A.
PENTADO, F.M., Fábio Moura Penteado [abril, 2007] Entrevistadores CORDIDO, M. T. R.
L. B.; BUZZAR M. A.
FERREIRA, F.W. Francisco Whitaker Ferreira, [abril, 2007] Entrevistador; CORDIDO, M.
T. R. L. B.
303
A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA
DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO
RESUMO
O cadastro de um bem cultural tem como finalidade conservar a imagem e a história deste, visando
sua preservação. No Brasil, grande parte dos bens de valor histórico não foi devidamente
documentada e o número de técnicas e tecnologias utilizadas para o levantamento cadastral é
extenso. Dada a ausência de um sistema de cadastro e gestão do patrimônio arquitetônico que utilize
as tecnologias digitais de forma adequada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) e pelos órgãos de preservação estaduais, busca-se estudá-las, compará-las e possibilitar
esta utilização, tornando o processo de documentação mais ágil, a gestão dos bens eficaz e a
preservação do Patrimônio efetiva. Neste artigo, descreve-se o levantamento da Capela de Nossa
Senhora do Vencimento utilizando medição direta e fotogrametria digital. Inicialmente, a planta baixa,
os cortes e as fachadas foram desenhados em AutoCAD, a partir do levantamento feito utilizando
medição direta. A necessidade de um maior detalhamento das fachadas exigiu novo levantamento.
Fotografias tomadas com uma câmara digital calibrada foram feitas para servirem de base para a
criação de ortofotos das fachadas. Utilizando o programa PhotoModeler, ortofotos foram geradas. A
partir da inserção destas no AUTOCAD, novas fachadas com maior riqueza de detalhes foram
desenhadas.
Palavras-chave: Cadastro. Tecnologias Digitais. Patrimônio Histórico. Fotogrametria. HBIM.
ABSTRACT
The registry of a cultural asset has the objective of keeping the image and the history of this asset with
a view to its preservation. In Brazil a great number of the assets with a historical value has not been
properly documented and the number of techniques and technologies used in the process of
registration is very great. Given the absence of a system of registration and management of the
architectural heritage, making adequate use of digital technologies, available to the National Institute
of Historical and Artistic Heritage (IPHAN), the author aims to study and compare the use of those
technologies, speeding up the documentation process, making the management of historical assets
efficient and the preservation of the historic heritage effective. In this paper, the author describes the
process of registration of the chapel of Nossa Senhora do Vencimento. Initially, the floorplan, the
sections and the façades were drawn in AutoCad, using data obtained by means of direct
measurement. The need for a better specification of details in the façades demanded a new gathering
of data. Photos taken with a calibrated digital camera were used as a basis for the creation of
orthophotos of the façades. Orthophotos were generated using the Photomodeler program. By
inserting these orthophotos in the AutoCad, new and much more detailed façades were drawn.
Keywords: Registry. Digital Technologies. Historical Heritage. Photogrammetry. HBIM.
304
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
1 INTRODUÇÃO
Oliveira (2008), no livro “A Documentação como Ferramenta de Preservação da Memória”,
alerta que:
Um dos instrumentos importantes para a preservação da memória é o seu
registro iconográfico, quer pelos métodos milenares, quer pelos processos e
instrumentos mais recentes que a ciência e a técnica do nosso tempo nos
trouxeram. Neste caso, desaparecido o objeto que testemunha o nosso
passado, a sua imagem pode substituir, embora parcialmente, a
necessidade imanente à natureza humana de manter contato com o que se
foi. Daí uma das várias utilidades das representações cadastrais como
forma de preservação da memória. (OLIVEIRA, 2008, p. 13).
Além disso, o cadastro feito com apuro e exatidão é a base sobre a qual serão elaborados
os projetos de intervenção, além de informar a evolução do bem, suas transformações e
deformações ao longo do tempo. Oliveira (2008) defende:
Para aqueles que se ocupam da análise histórico-crítica do monumento, os
cadastros são de primordial importância, pois podem permitir a leitura e o
entendimento das corretas proporções do projeto original e descobrir
eventuais traçados reguladores que comandaram a concepção da
arquitetura, perfeitamente resgatáveis a partir de uma boa representação.
(OLIVEIRA, 2008, p. 13).
O autor ainda revela que o levantamento cadastral não é uma operação que se encerra com
o levantamento rigoroso da geometria do bem, mas deve sofrer atualizações a cada
momento em que é encontrada uma informação nova.
A partir da experiência como Secretária de Obras da Prefeitura Municipal de Serro e da
Coordenação do Programa Monumenta na mesma cidade, além da pesquisa junto aos
órgãos competentes (IPHAN e IEPHA-MG), ficou evidenciado que não existe normatização
com relação às técnicas e tecnologias utilizadas para o levantamento cadastral de bens de
interesse histórico. Entretanto, alguns esforços vêm sendo feitos neste sentido.
Beirão (2011) cita a criação, pela Sociedade Internacional de Fotogrametria e
Sensoriamento Remoto (ISPRS) e pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
(ICOMOS), do Comitê Internacional para Documentação de Patrimônio Cultural (CIPA),
visando a excelência na medição, documentação e monitoramento dos bens, além do
armazenamento adequado destas informações.
No Brasil, o IPHAN vem desenvolvendo e testando o Sistema Integrado de Conhecimento e
Gestão (SICG), criado para integrar os dados sobre o Patrimônio Cultural do Brasil. O
sistema está sendo desenvolvido nas plataformas Word e Excell, entretanto o IPHAN vem
trabalhando para a formulação de um sistema informatizado mais amplo, cujos usuários
serão, além do IPHAN, os estados, municípios e entidades parceiras (como universidades,
centros de estudo, museus, e outros).
Na Bahia, o Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho
(LCAD) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), vem
desenvolvendo uma ação com o apoio das instituições responsáveis pela preservação dos
bens culturais no Estado e de parcerias internacionais, com o objetivo de apropriar e
desenvolver técnicas com o emprego de tecnologias digitais que buscam aprimorar e agilizar
o registro documental de bens arquitetônicos e integrados.
Persegue como objetivo mais amplo, a implantação de um de um Centro de Documentação
do Patrimônio Arquitetônico e de Bens Integrados, ligado à FAUFBA e em parceria com os
órgãos relacionados ao patrimônio cultural que atuam na Bahia.
No artigo intitulado “Um centro de documentação do patrimônio arquitetônico”, os autores
Amorim, Groetelaars e Lins (2008) defendem a criação do Centro e explicam:
Sob o aspecto das tecnologias utilizadas, o Centro estará estruturado em
305
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
2 O CONTEXTO TECNOLÓGICO
O número de técnicas e tecnologias utilizadas para o levantamento cadastral é extenso e a
escolha daquela que deverá ser utilizada em cada situação depende de fatores tais como a
localização do bem, sua dimensão, a precisão pretendida, dentre outros aspectos. Entre as
principais técnicas já consolidadas, pode-se destacar:
• Medição direta: é tradicionalmente executada com o auxílio de instrumentos simples,
como trenas, fios de prumos e níveis. Sobre os esboços do objeto a ser cadastrado são
anotadas as dimensões levantadas. Atualmente é possível trabalhar com instrumentos
de medição automatizados, como as trenas, níveis e goniômetros eletrônicos, que
aumentam a precisão e reduzem o tempo do trabalho em campo.
• Modelagem geométrica: permite o registro e a visualização tanto de modelos
simplificados quanto de objetos sofisticados, com alto nível de realismo. Pode ser
executada a partir de modeladores tridimensionais, como AutoCAD, ou a partir de
programas para Fotogrametria Digital.
• Fotogrametria: possibilita extrair das fotografias a geometria dos objetos com alto grau
de precisão. O objeto é fotografado e através de um software específico, como o
PhotoModeler, é realizada a restituição fotogramétrica, permitindo gerar representações
2D (desenhos) e (3D) modelos geométricos.
306
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USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
garantiria uma maior uniformidade dos produtos resultantes, gerando uma base de dados
confiável e de fácil manipulação para técnicos e pesquisadores do Patrimônio Histórico.
Pretende-se estudar e comparar os métodos tradicionais de registro documental e as
tecnologias digitais de forma a auxiliar aos técnicos responsáveis a escolherem com
segurança a melhor técnica a ser utilizada para o levantamento cadastral de um bem
específico e o gerenciamento da documentação gerada, tendo como parâmetros a
localização (relacionada à acessibilidade), a disponibilidade de recursos, equipamentos e
pessoal técnico, o grau de comunicabilidade com a comunidade onde está inserido, dentre
outros.
Neste artigo, descreve-se um levantamento cadastral utilizando duas destas técnicas: a
medição direta e fotogrametria digital.
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Dada a necessidade de um maior detalhamento das fachadas, no dia 13 de julho de 2014 foi
feita nova visita ao local. O intuito desta visita foi realizar o registro fotográfico para a
posterior elaboração de um modelo geométrico e de ortofotos através de fotogrametria
digital, com a utilização do programa PhotoModeler. A Figura 7 mostra a fachada principal a
partir da ortofoto produzida.
311
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou o levantamento cadastral da Capela de Nossa Senhora do
Vencimento, utilizando medição direta e fotogrametria digital. Na primeira visita ao local, o
levantamento foi feito utilizando medição direta. Na segunda visita, foram tomadas
fotografias com uma câmara digital calibrada.
Durante a primeira visita, a enorme quantidade de lixo encontrada no local e a degradação
do edifício, que apresenta rachaduras e o telhado comprometido, tornaram a tarefa perigosa.
Durante a segunda visita, as condições de luminosidade, prejudicadas pela chuva
intermitente, e a localização da edificação, implantada em meio a outras muito próximas
entre si dificultaram a produção de um conjunto de fotos mais adequadas para a geração
das ortofotos das várias fachadas. Também a impossibilidade em tomar fotos do telhado,
devido à ausência de edificações mais altas ou de uma grua de onde as fotos pudessem ser
tomadas, dificultou a geração de ortofotos que melhor representassem os bulbos revestidos
de azulejos que arrematam as torres.
As fachadas vetorizadas em AutoCAD a partir das ortofotos geradas no PhotoModeler
(Figura 8) apresentam um nível de detalhamento superior às desenhadas a partir dos
esboços feitos com medição direta (Figura 5). Ainda assim, alguns elementos decorativos,
como os localizados acima das portadas são de vetorização extremamente trabalhosa. Uma
solução possível para o cadastro de edifícios com tal nível de pormenores, poderia ser a
apresentação da própria ortofoto em escala e cotada.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos o professor Arivaldo Leão Amorim pela orientação consistente.
312
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REFERÊNCIAS
AMORIM, A. L.; GROETELAARS, N. J.; LINS, E. A. Um centro de documentação do
patrimônio arquitetônico. Fórum do Patrimônio. Belo Horizonte: v. 2, n. 1, mai./ago. 2008.
AZEVEDO, E. B. Capela de Nossa Senhora do Vencimento. Disponível em:
<http://www.hpip.org/Default/pt/Homepage/Obra?a=1207>. Acesso em: 27 jul. 2014.
BEIRÃO, Carla Castelo Branco. O potencial do laser scanner terrestre para o inventário
do patrimônio arquitetônico. 2011. 79 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.
DORE, C.; MURPHY, M. Integration of Historic Building Information Modeling and 3D GIS for
Recording and Managing Cultural Heritage Sites. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON
VIRTUAL SYSTEMS AND MULTIMEDIA: Virtual Systems in the Information Society, 18.,
2012, Milan. p. 369-376.
GOODCHILD, M. F. Citizens as sensors: the world of volunteered geography. GeoJournal,
v. 69, n. 4, 2007, p. 211-221.
IPAC. Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia. SIPAC: Sistema de
Informações do Patrimônio Cultural da Bahia. Disponível em:
<http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/documentacao-e-memoria/ipac-sic/>. Acesso em: 24 abr.
2014.
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sistema Integrado de
Conhecimento e Gestão – SICG. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=14897&retorno=paginaIphan>.
Acesso em: 24 abr. 2014.
MURPHY, M.; MCGOVERNA, E.; PAVIA, S. Historical Building Information Modelling -
Adding Intelligence to Laser and Image based surveys. In: INTERNATIONAL
WORKSHOP 3D-ARCH, 4., 2011. p. 7.
OLIVEIRA, Mario Mendonça de. A Documentação como Ferramenta de Preservação da
Memória. Brasília: IPHAN / Programa Monumenta, 2008.
SOUZA, Guilherme Henrique Barros. Método de Modelagem da Parcela Espacial para o
Cadastro Tridimensional. Tese (doutorado em Ciências Cartográficas) - Universidade
Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2011.
313
PATRIMONIO, GEOMETRIA E REPRESENTAÇÃO: SOB UMA
ABORDAGEM DIDÁTICA E TECNOLÓGICA
RESUMO
Neste trabalho relata-se um processo de análise e de representação de elementos metálicos,
previamente inventariados, relativos a um conjunto arquitetônico de interesse patrimonial, da cidade
de Pelotas, RS, constituído entre o final do séc. XIX e início do séc. XX. Estabeleceu-se uma
dinâmica colaborativa e sistematizada, caracterizada como atividade didática da área de
representação gráfica e digital, de disciplina curricular de graduação em arquitetura. Através de
análises sob uma abordagem geométrica, os estudantes ampliam informações sobre cada elemento,
detalhando suas características formais, utilizando esta informação para o planejamento de métodos
de representação. Estes exercícios, os quais incluem a edição e vetorização das fotografias, a
obtenção dos modelos digitais e a impressão em 3D de tais elementos metálicos, além de garantirem
uma trajetória de aprendizagem em geometria e em técnicas avançadas de representação,
disponibilizam os modelos para incrementar sistemas de documentação, de educação patrimonial e
de difusão do patrimônio, incluindo, especialmente a atribuição de acessibilidade a tais sistemas,
tendo em vista que os modelos produzidos podem ser apropriados para a experiência tátil.
314
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
ABSTRACT
This paper reports on the analysis and representation of metallic elements, previously inventoried,
relative to a set of architectural heritage interest, the city of Pelotas, Brazil, formed between the end of
the century process. And early nineteenth century. XX. Established a collaborative and systematic
dynamic, characterized as didactic activity area and digital graphical representation of curricular
undergraduate course in architecture. Through analysis under a geometric approach, students expand
information on each element, detailing its formal characteristics, using this information to plan methods
of representation. These exercises, which include editing and vectorization of photographs, obtaining
digital models and the 3D printing of such metallic elements, in addition to guaranteeing a trajectory of
learning in geometry and advanced techniques of representation, provide models to enhance systems
documentation of heritage education and distribution of the assets, including in particular the allocation
of access to such systems, given that the models produced may be appropriate for tactile experience.
Keywords: Heritage. Teaching Geometry. Digital graphic representation. 3D printing. Documentation.
1 INTRODUÇÃO
A prática de adoção da arquitetura de interesse patrimonial como objeto de referência no
âmbito de processos formativos e de investigação na área de representação gráfica e digital,
junto ao contexto que se insere este trabalho, foi estabelecida há quinze anos. Inicialmente
em um contexto de pós-graduação e, recentemente, no âmbito de disciplinas de graduação
em Arquitetura.
Os resultados desta prática, junto à pesquisa e à pós-graduação, tem caracterizado uma
trajetória de produção de modelos a partir de diferentes técnicas de representação e com
diferentes níveis de proximidade com a realidade, seja em relação à geometria ou à
aparência dos objetos (Borda et al, 2010). Desta maneira, a aprendizagem e a estruturação
de técnicas de representação em realidade virtual, e atualmente incluindo as técnicas de
realidade aumentada e impressão 3D, promove o desenvolvimento dos modelos (Borda et
al, 2012 A).
Entretanto, neste contexto de pesquisa e pós-graduação, a produção se refere a objetos
dispersos, tendo-se poucos exemplares que contemplam, por exemplo, um objetivo de
documentação completa de uma edificação ou de uma coleção particular de interesse
patrimonial. Os exercícios estão focados no desenvolvimento de métodos e de apropriação
das tecnologias de representação. Alguns trabalhos de pesquisa (Schneid e Borda, 2014;
Borda et al, 2012 B) e de conclusão de curso (Lannes e Borda, 2003) até avançaram neste
propósito, mas a maioria acaba por representar elementos isolados das edificações,
selecionados para abarcar uma complexidade formal que garanta o aprendizado proposto
em geometria e técnicas de representação associadas.
Esta produção, de qualquer maneira, tem contribuído para disponibilizar uma infraestrutura
conceitual e metodológica. E, a partir disto, permite desencadear um processo de produção
sistematizado e contínuo, caso exista o propósito de constituição de acervos particulares.
Acervos com fins documentais e/ou para a disponibilização de uso dos modelos por outras
áreas como, por exemplo, de memória e patrimônio, educação patrimonial, conservação e
restauro, história, turismo e museologia.
Para desencadear tal processo faz-se necessário considerar a exigência de um determinado
número de horas de trabalho, muitas vezes não disponível em um contexto formativo ou
mesmo de pesquisa, para produzir a representação de um acervo. Faz-se necessário
também que o acervo a ser representado esteja previamente organizado, com informações
acessíveis e suficientes para sustentar tal processo de representação.
315
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
2 METODOLOGIA
Este estudo consiste em estabeler um processo colaborativo e sistematizado, caracterizado
como atividade didática da área de representação gráfica e digital, de disciplina curricular de
graduação em arquitetura.
O estabelecimento deste tipo de atividade didática está sendo possível no âmbito de uma
disciplina criada em 2011, a partir de uma reforma curricular junto à Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas. Uma disciplina obrigatória,
situada no primeiro semestre de formação, cujo objetivo é investir em atividades que
integrem, desde os estágios iniciais, conteúdos de geometria, de representação, gráfica e
digital, e de projeto. Para a conexão com o projeto, é abordado um conjunto de conceitos
que objetiva sustentar a atividade de análise e compreensão de ações projetuais sobre o
ponto de vista da geometria, conforme relatado em Borda, Pires e Vasconselos (2012). As
técnicas de geração e controle da forma são abordadas a partir do conhecimento gerado em
processos de análise de obras de arquitetura de referência.
Em Dametto (2009) encontra-se um inventário dos elementos metálicos pertencentes a um
conjunto arquitetônico de interesse patrimonial, da cidade de Pelotas, RS, constituído entre
o final do séc. XIX e início do séc. XX. Este conjunto preserva na memória um momento
histórico de apogeu da economia da cidade decorrente da produção de charque. Desta
maneira, partiu-se da consideração de que além da relevância do inventário referido, a
forma e a variedade dos elementos metálicos que estão presentes em tais edificações
justificam a adoção de tais elementos como objetos de referência de representação. E,
especialmente, por poder contar com uma documentação sistematizada e acessível para a
complementação de informações, como fotografias, por estar constituído em um contexto
imediato dos estudantes.
O estudo foi desenvolvido através das seguintes etapas:
316
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Deve-se destacar que o inventário de Dametto (2009) está constituído pela identificação de
dezesseis (16) tipos de artefatos metálicos. Estes tipos foram caracterizados com o critério
de aparecerem pelo menos duas vezes no conjunto arquitetônico analisado, sendo eles:
balcão, bandeira, grade em bandeira, grade em janela de porão, grade em janela, grade em
platibanda, grade em porta de madeira, gradil, guarda-corpo, janela, luminária, marquise,
montante, peitoril, porta e portão. Tal inventário está organizado segundo os aspectos
funcionais e de linguagem visual, destacando as principais influências estilísticas nas
composições dos artefatos no período de 1870 a 1931. A representação dos elementos
junto a este inventário foi realizada através de registro fotográfico. Entretanto, conforme a
autora, também coautora do presente trabalho, as fotografias para tal inventário foram
obtidas sem o propósito de subsidiar processos de geração de modelos bi ou
tridimensionais precisos de cada elemento.
Sendo assim, para constituir um acervo de modelos a partir deste inventário, é necessário
estabelecer uma etapa de aquisição de dados, através da medição e tomada de fotos sob
pontos de vista apropriados para apoiar uma representação fiel ao elemento. Nesta direção,
junto à ação didática, são explicitados todos os procedimentos necessários, atentando-se
para a conveniência em posicionar a câmera fotográfica em busca do paralelismo entre a
lente e a face do objeto a ser representada, para que os efeitos da perspectiva sejam
minimizados, aproximando-se de uma projeção paralela. As edições, para a retificação das
fotografias, junto aos experimentos, foram realizadas em um programa de código aberto
(open source), o GIMP 2.8, através da ferramenta de transformação de perspectiva.
A Figura 2 ilustra os experimentos de aplicação do método para analisar a forma da janela
bandeira, sobre uma fotografia retificada. À esquerda, demonstram-se os traçados para
investigar sobre possíveis relações dimensionais entre as partes do módulo básico da
composição, tendo sido identificada a presença da proporção raiz de dois. À direita,
registram-se os traçados para investigar sobre o uso do conceito de recursão. Foi possível
associar o desenho da bandeira ao tipo de recursão com adição de elementos em escala
1
Denominação da área da propriedade rural em que se produz o charque através de um processo em que a
carne salgada é exposta para sofrer desidratação (https://pt.wikipedia.org/wiki/Charqueada).
317
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
maior, aplicada de maneira não uniforme. Esta recursão obedece também um movimento
cíclico em torno de um ponto central.
A Figura 3 traz recortes das imagens que registram os exercícios de aplicação do conceito
de concordância, tratado na disciplina. Á esquerda da figura aplicado ao caso da grade e à
direita, ao da janela de bandeira.
318
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
PROPORÇÕES
Áurea (1.61803398875)
Raiz de 2 (1,4142135624)
Raiz de 3 (1,7320508076)
Raiz de 5 (2,2360679775)
319
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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também uma curvatura em sua parte central. Na sequencia tem-se o modelo virtual,
previamente modelado (Pires e Borda, 2007); logo, tem-se o modelo impresso, processo
descrito em Veiga et al (2013 B).
Figura 5 - À esquerda, fotografia do Casarão 2, Praça Coronel Pedro Osório, Pelotas, RS;
ao lado o modelo digital do balcão, destacado na fachada com a elipse vermelha; seguidos
do modelo físico da parte metálica do balcão e logo com a adição de seu elemento de apoio
Deve-se destacar que o modelo digital deste balcão foi produzido, na época, sem considerar
a possibilidade de ser impresso em 3D. Durante o experimento de uso deste mesmo modelo
para a impressão foram detectados principalmente dois problemas: falta de precisão no
processo de conexão entre as partes do modelo (desalinhamentos) e espessura muito
pequena dos elementos, incompatível com a tecnologia utilizada (espessura mínima de 0,3
mm para cada camada de plástico depositado), gerando falhas no processo, ilustradas na
figura 6. O elemento foi assim todo remodelado com maior espessura (em torno de 1 mm,
para permitir o manuseio do modelo). Buscou-se também, com o uso de técnicas de
reflexão de elementos simétricos, otimizar o tempo do processo de modelagem. Entretanto,
estas técnicas não foram reconhecidas pelo software que acompanhava a impressora na
época, conforme ilustrado pelos elementos mais escuros ao centro da figura 6, não os
considerando na impressão. Uma atualização, em 2014, do software que acompanha a
máquina de impressão demonstrou que a incompatibilidade com as técnicas de cópias de
elementos foi sanada, verificada após a reimpressão do mesmo modelo digital conforme o
protótipo apresentado em cor azul, também junto à figura 6, o qual anteriormente não tinha
sido possível imprimir com todos os seus elementos constituintes.
Figura 6 – Na sequencia da esquerda para a direita: modelo digital de uma das grades
planas; modelo impresso com falhas de preenchimento geradas pela baixa espessura e
desalinhamento do modelo digital; os elementos metálicos não reconhecidos pelo software
de impressão 3D, mais escuros; o modelo impresso faltando elementos; em azul, modelo
impresso após uma atualização do software em 2014; impressão após a segunda
remodelagem destes elementos
A impressão da parte curva da grade exigiu associar técnicas artesanais com as digitais,
devido a sua característica geométrica com elementos vazados e curvos simultaneamente.
Tal característica se demonstrou complexa de ser executada com o tipo de tecnologia de
impressão 3D utilizada, tanto com o modelo disposto em posição vertical como horizontal.
Todos os testes realizados resultaram em peças incompletas e/ou fragilizadas. Na figura 7,
ao centro tem-se o resultado da impressão utilizando-se do recurso de uso de material de
320
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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suporte, o qual deve ser removido após a impressão. O processo de remoção acarretou
falhas no modelo. À direita, o modelo impresso sem o uso de material de suporte,
observando-se a limitação da tecnologia para o caso em questão.
Figura 7 - Modelo digital da grade central curva; impressão com o recurso de material de
suporte; impressão sem este recurso
Figura 9 - À esquerda, desenho das linhas curvas da grade; à direita, modelo tridimensional
da grade após a extrusão das linhas curvas
2
Ferramenta disponibilizada pelo plug-in Curve Maker, http://www.drawmetal.com/curvemaker.
321
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Foram feitas três experimentações de impressão 3D, gerando-se modelos digitais da grade
com espessuras diferentes, conforme ilustrado na tabela da Figura 10. Junto a esta tabela
foram registrados os dados obtidos nas impressões, tais como: gasto de material, custo e
tempo de impressão, para cada um dos modelos digitais.
Pela necessidade de se adequar o modelo digital ao tamanho da mesa de impressão,
aplicou-se inicialmente uma escala de redução de 1:10. O modelo impresso (referente a
uma seção de 0,05x1,00 cm) apresentou bastante fragilidade para ser manuseado. Logo, foi
realizado o experimento utilizando-se o dobro da espessura (seção de 1x2 cm),
configurando-se um modelo desproporcional à grade representada. Optou-se por testar um
modelo com espessura intermediária entre as duas primeiras, buscando-se identificar o
limite mínimo de impressão que preservasse a resistência estrutural do modelo. O resultado
da impressão deste terceiro experimento demonstrou ser adequado, pois o modelo não se
demonstrou frágil para o manuseio e foi possível aproximar-se das proporções do artefato
real, otimizando-se com isto os gastos com material.
Figura 10 – Registro de dados sobre o processo de modelagem da grade atribuindo 0.5, 0.8
e 1.0 cm à seção do ferro, com os respectivos protótipos impressos em 3D
A partir dos registros realizados tem-se um primeiro referencial para a impressão dos
próximos modelos, sem, contudo, considera-lo determinante para um método a ser
reproduzido sem questionamentos.
Ainda, em processo de construção, está o método de configuração dos modelos para que
sejam apropriados à experiência tátil. Os experimentos de representação com os elementos
metálicos até então ficaram concentrados nas questões tecnológicas, sobre os limites de
espessura admitidos pela técnica empregada e de resistência para a manipulação dos
modelos. Entretanto, paralelamente, a partir de Borda et al (2012 B) e de Veiga et al (2013
A), se avança para também considerar aspectos fundamentais, de adequação da qualidade
da informação a ser veiculada por cada modelo. Junto ao estudo referido, passou-se a
322
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deste trabalho são parciais.
Considera-se que o método de análise está suficientemente delimitado para ser aplicado
junto a um contexto de graduação. Os experimentos realizados anteriormente permitem
exemplificar a aplicação do método proposto, constituindo-se então como materiais
didáticos. Entretanto, esta etapa segue em desenvolvimento, pretendendo avançar junto à
etapa de aplicação, em um processo colaborativo com os estudantes, aperfeiçoando
continuamente o método. Especialmente no que diz respeito à aplicação dos conceitos de
lógica e gramática da forma. A hipótese é de que os estudos individualizados sobre cada
elemento irão subsidiar a compreensão dos procedimentos compositivos do conjunto dos
elementos, quem sabe identificando regras particulares para cada tipo de elemento
inventariado. A produção em escala de graduação permite acelerar o processo e ter
análises quantitativas, além das qualitativas.
A etapa de delimitação do método de representação também exige um investimento
contínuo e trabalha-se com a hipótese de que a aplicação do método permita intensificar,
junto à graduação, a postura de investigação já proposta junto ao método de análise. Tanto
o processo de apropriação das técnicas de impressão 3D como o projeto dos modelos
físicos para serem adequados à experiência tátil são questões a serem abordadas como
problemas de estudo. Estudos que podem transitar entre a pesquisa e o ensino, buscando-
323
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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Fonte: Autores
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A transposição do método aqui apresentado para o contexto de graduação além de
promover uma postura de investigação junto ao estudo de geometria e de técnicas de
representação, já em estágios iniciais de formação, está demonstrando a possibilidade de
construção de conhecimento sobre o patrimônio representado e permitido a constituição
efetiva de uma coleção de modelos relativos a um conjunto de objetos de interesse
patrimonial.
Ainda está permitindo apontar para significados especiais de uso dos modelos, como é o de
acessibilidade, junto ao desenvolviemnto das competências de representações com
impressão 3D e geração de modelos apropriados para a experiência tátil.
Desta maneira, considera-se a perspectiva de através de um processo colaborativo, de
estudantes, pesquisadores e agentes de instituições responsáveis pela preservação,
documentação e difusão de patrimônio, estabelecer um processo contínuo de produção de
modelos. Modelos em realidade virtual, aumentada e em impressão 3D, que possam ser
explorados para incrementar diversas atividades profissionais, sociais e culturais.
REFERÊNCIAS
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ESTUDO DE OBRAS MODERNISTAS DO ARQUITETO MIGUEL
CADDAH EM TERESINA-PI ATRAVÉS DO SOFTWARE
SKETCHUP
RESUMO
O presente artigo busca estudar obras do arquiteto Miguel Caddah produzidas na cidade de Teresina-
Piauí, durante os anos de 1965 a 1985, caracterizadas como os primeiros elementos do modernismo
arquitetônico urbano na cidade. Os estudos foram feitos utilizando-se de softwares de modelagem
virtual (maquetes eletrônicas com o programa Google Sketchup) e softwares de desenho em duas
dimensões (AutoCAD) para a análise da estética, soluções arquitetônicas, materiais e técnicas
construtivas. As obras em estudo são o prédio anexo do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piauí- IFPI, a escola João Clímaco d’ Almeida e a Igreja da Santíssima Trindade. O
presente artigo faz parte da pesquisa científica intitulada “O uso de modelagem virtual (software
Google Sketchup Pro) como instrumento de melhoria da representação gráfica e metodologia de
projetos arquitetônicos”, sob a coordenação da autora principal, na instituição de ensino em que
leciona. O objetivo do estudo é divulgar o resultado das pesquisas realizadas sobre a arquitetura
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ABSTRACT
This article aims to study works of architect Miguel Caddah produced in the city of Teresina/ Piauí,
during the years 1960 to 1980, characterized as the first elements of the urban architectural
modernism in the city. The studies were done using software modeling virtual (electronic models with
Google Sketchup program) software and two-dimensional design (AutoCAD) for the analysis of
aesthetic, architectural solutions, materials and construction techniques. The works studied are the
annexe building of the Federal Institute of Education, Science and Technology Piauí- IFPI, the school
João Clímaco d 'Almeida and the Holy Trinity Church. This article is part of scientific research entitled
"The use of virtual modeling (Google Sketchup Pro software) as a tool for improving the methodology
and graphical representation of architectural projects", coordinated by the lead author in the
educational institution in which teaches. The objective is to disseminate the results of research
conducted on piauiense modern architecture in the specified period. After the literature surveys,
interviews the architect and photographic surveys it is concluded that, despite the changes of the
buildings still retains the features that made the works as elements of preserving the architectural
history of the city.
1 INTRODUÇÃO
As maquetes são instrumentos da representação volumétrica de projetos
arquitetônicos. Elas auxiliam na visão geral das soluções adotadas bem como nas escolhas
operativas implícitas no conjunto decada obra (conforto ambiental, técnicas construtivas,
materiais empregados, adequação da construção ao entorno, etc.).
Consalez (2011, p. 3) define maquetes como um misto de elementos que unificam
um partido, uma ideia projetual:
“[maquetes] São simultaneamente objetos de estudo, instrumentos
de representação e resultados autônomos formais de um processo
criativo que pode, em casos extremos, resumir na própria maquete
todo o conteúdo da pesquisa do projeto do autor.” (CONSALEZ,
2011, p. 3).
Segundo Oliveira (2010, p. 13) as edificações com geometrias mais complexas de
serem representadas, hoje, “são facilmente expressas em folhas de papel devido a
computação gráfica incrementar consideravelmente a quantidade de técnicas e produtos
gráficos disponíveis”. O uso de softwares que fabricam maquetes é uma evolução na forma
de representação gráfica na construção civil e tem sido um dos instrumentos que mais
beneficiaram a produção da arquitetura.
Na área de ensino, Florio (2007) aponta a modelagem 3D como ferramenta para
auxílio de novas descobertas e compreensões durante o processo de criação do aluno na
fase projetual, já que permite a reflexão de suas ações na inserção de dados.
O Google Sketchup Pro 8, comumente chamado de Sketchup, é segundo definição
de Cavassani (2012, p. 18), um programa de computação gráfica para modelagem de
objetos que oferece comandos de seccionar os objetos, mostrar vistas ortográficas, produzir
pranchas para apresentação dos objetos e comandos que facilitam a representação gráfica
de projetos de arquitetura.
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Durante a disciplina em que o autor principal leciona, no ano de 2013, foram feitas
análises de residências projetadas por arquitetos brasileiros consagrados como Lina Bo
Bardi, Oscar Niemeyer, Rino Levi, entre outros. Arquitetos que, com seus princípios
baseados no modernismo, deixaram um rico e belíssimo acervo de obras arquitetônicas,
sejam residenciais ou institucionais. As obras foram selecionadas devido a relevância à
história da arquitetura nacional. Foram encontradas em livros sobre arquitetura do século XX
e artigos como o de Guerra e Ribeiro (2006, p. 1) e, escolhidas por conterem traços do estilo
modernista (aspectos formais e volumétricos utilizados até os dias atuais).
Pretendia-se utilizar os conhecimentos em modelagem virtual para reproduzir as
maquetes virtuais e analisar, através dos recursos do software, edificações que eram
conhecidas apenas através de levantamentos do projeto arquitetônico e fotografias. Após os
primeiros resultados das análises foi criado um grupo de pesquisa científica que passou a
estudar edificações modernistas no âmbito local e foram escolhidas obras do arquiteto
Miguel Caddah para as análises iniciais.
As obras escolhidas na pesquisa foram todas em estilo moderno: Igreja da
Santíssima Trindade (1968), com foto e maquete na figura 01; o edifício anexo (bloco C) da
Escola Técnica Federal do Piauí, Atual IFPI (1985) e a Unidade Escolar Clemente Fortes
(1973), atual SEMTCAS. As obras estão no centro de Teresina e foram construídas durante
fase de crescimento urbano da cidade, quando a paisagem urbana originalmente com
arquitetura em estilo eclético estava recebendo os primeiros exemplares de arquitetura
moderna (décadas de 1960 a 1990).
Figura 01: foto da Igreja da Santíssima Trindade (2014) e maquete virtual (2014)
Fonte: Marina Vasconcelos e Nayane Costa (2014)
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3 RESULTADOS
Foram reproduzidas 22 casas brasileiras do século XX e algumas do século XXI em
estilo modernista e, esperava-se que todos os alunos conseguissem reproduzir fielmente
todos os aspectos gráficos dos projetos arquitetônicos bem como produzir a análise das
obras de relevância à arquitetura nacional.
Constatou-se que 100% dos alunos conseguiram reproduzir o projeto arquitetônico
(planta baixa, cortes e fachadas) e fizeram a análise da volumetria e partido arquitetônico.
Pode-se conferir que 100% dos alunos conseguiram distinguir o zoneamento nas
casas, que 64% dos alunos conseguiram fragmentar a obra em sistemas de piso, vedações
e cobertura (Figura 02).
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5 BIBLIOGRAFIA
CAVASSANI, Glauber. V-Ray para Google SketchUp 8: Acabamento, Iluminação e
Recursos Avançados para Maquete Eletrônica para Windows. São Paulo: Editora Érica,
2012.
CONSALEZ, Lorenzo. Maquetes: A Representação do Espaço no Projeto Arquitetônico.
Barcelona: Gustavo Gili, 2001.
FILHO, Miguel Dib Caddah. Entrevista concedida à autora. 14/ 03/ 2014. Teresina. 2014.
FLORIO, W. Contribuições do building information modeling no processo de projeto
em arquitetura. In: ENCONTRO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
NA CONSTRUÇÃO CIVIL, 3., 2007, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: ANTAC, 2007. CD-
ROOM
GUERRA, Abilio; RIBEIRO, Alessandro José Castroviejo. Casas brasileiras do século XX.
[S.I.]: Portal Vitruvius, 2006. Disponível em
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.074/335>. Acesso em: 26 fev.
2014.
OLIVEIRA, Marcos Bandeira de. Google SketchUp Pro: aplicado ao projeto
arquitetônico. São Paulo: Novatec Editora, 2010.
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A FAZENDA DE CRIAR SERIDOENSE DO SÉCULO XIX: A
MODELAGEM GEOMÉTRICA DIGITAL TRIDIMENSIONAL COMO
FERRAMENTA DE REGISTRO E MEMÓRIA
RESUMO
O presente artigo apresenta os resultados parciais da pesquisa “A fazenda de criar seridoense:
Documentação de uma referência para construção no clima quente e seco”, em andamento, que tem
como um de seus objetivos a documentação e ampliação do registro existente sobre as casas de
fazenda de gado do século XIX na região do Seridó potiguar. A arquitetura produzida para subsidiar a
atividade pecuarista, que impulsionou o povoamento e assentamento das famílias no sertão potiguar,
tem grande relevância para a identidade seridoense. Entretanto, grande parte deste importante
acervo arquitetônico encontra-se em mau estado de conservação, ou estão em processo de
dilapidação ou já estão em ruínas, evidenciando a necessidade de ações para a preservação do
referido acervo. Os procedimentos adotados no desenvolvimento da pesquisa foram: levantamento
bibliográfico nos inventários existentes sobre a arquitetura rural seridoense; levantamento
arquitetônico e registro fotográfico das fazendas; e, por fim, modelagens geométricas digitais
tridimensionais das fazendas visitadas e renderização dos modelos produzidos. Para exemplificar os
resultados obtidos, foram selecionadas três fazendas: Pitombeiras, Garrotes e Palma. Em análise aos
resultados, conclui-se que a modelagem geométrica digital tridimensional não exclui as formas
tradicionais documentação, mas as complementa e permite uma leitura mais ampla dos edifícios
patrimoniais, oferecendo base para intervenções e outros estudos.
Palavras-chave: Arquitetura rural. Seridó. Fazendas de gado. Documentação. Modelagem
geométrica.
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ABSTRACT
This paper presents partial results of an ongoing research entitled: “The creation farm in Seridó:
Documentation of a reference for buildings in the warm and dry climate”, which has as one of it’s goals
th
the documentation and enlargiment of the existenting register about 19 century cattle farm houses in
Seridó region. The architecture to support the pastoralist activity, which boosted the occupation and
settlement of the families in potiguar’s hinterland, has a great relevance for Seridó’s identity. However,
a great part of this important architectural collection is in bad conservation conditions, either in process
deterioration, or finally already in ruins, alerting to the necessity of actions to preserve this collection.
The procedures selected in this research were: bibliographical research of existing inventories on
Seridó´s rural architecture; architectural survey and photographic record of the farms; and finally, the
geometric modeling and rendering the produced models of the visited farms. Three farms were
selected to illustrate the results obtained: Pitombeiras, Garrotes and Palma. Analysing the results, we
conclude that the geometric modeling doesn’t exclude the traditional forms of documentation, it rather
complements and provides a larger reading of the countryside building heritage, offering data for
interventions and for others studies.
Keywords: Rural architecture. Seridó. Cattle farms. Documentation. Geometric modeling.
1 INTRODUÇÃO
O Seridó é uma microrregião do Rio Grande do Norte, que teve seu povoamento iniciado no
século XVII com a pecuária como principal atividade econômica, levando ao assentamento
das famílias no sertão potiguar. Posteriormente, o cultivo do algodão, foi associado à
referida atividade, servindo para expansão e fortalecimento da fixação da população no
Seridó. Este processo de formação territorial resultou na produção de um importante
patrimônio arquitetônico rural no Rio Grande do Norte, as fazendas de gado, que se
constituem em exemplares de significativa relevância para a identidade da região e para a
compreensão do modo de construir que melhor se adéqua ao local.
O presente artigo apresenta os resultados parciais da pesquisa “A fazenda de criar
seridoense: Documentação de uma referência para construção no clima quente e seco”, em
andamento, que tem como um de seus objetivos a documentação e ampliação do registro
existente sobre as casas de fazenda do século XIX na região do Seridó potiguar. Em análise
aos inventários existentes, foram identificados 210 exemplares dentro desse conjunto
arquitetônico, dos quais aproximadamente 30%, 72 fazendas, ainda apresentam bom estado
de conservação e preservação, mas grande parte deste importante acervo arquitetônico
encontra-se em mau estado de conservação, isto é, ou estão em processo de dilapidação
ou já estão em ruínas. Tal constatação torna evidente a necessidade de realizar a
documentação deste acervo antes que venha a extinguir-se, e contribuir para ações de
valorização deste patrimônio arquitetônico. Como principal limitação no decorrer do
processo podemos apontar para a dificuldade de acesso e o abandono de muitas dessas
casas, o que inviabiliza a realização do levantamento arquitetônico da edificação. Por esta
razão, o estado de preservação e conservação e a disponibilidade de acesso à edificação
como um todo, externa e internamente, foram os critérios adotados na escolha das fazendas
que estão sendo documentadas.
A pesquisa desenvolveu-se em três etapas, conforme os procedimentos adotados. A
primeira etapa consiste no levantamento bibliográfico nos inventários existentes sobre a
arquitetura rural seridoense (DINIZ, 2008; FEIJÓ, 2002; IPHAN, 2012), bem como visitas de
reconhecimento para ampliação dos inventários. Na segunda etapa, realizaram-se os
levantamentos arquitetônicos e registro fotográfico das casas de fazendas. A terceira e
última destina-se às modelagens geométricas digitais tridimensional das fazendas visitadas
e renderização dos modelos produzidos.
Para exemplificar os resultados obtidos, foram selecionadas três fazendas: Pitombeiras e
Garrotes, situadas no município seridoense de Acari, e Palma, situada no município de
Caicó. Em análise aos resultados, conclui-se que a modelagem geométrica digital
tridimensional não exclui as formas tradicionais documentação, mas as complementa e
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permite uma leitura mais ampla dos edifícios patrimoniais, oferecendo base para
intervenções e outros estudos. No caso específico da pesquisa principal, do qual este artigo
apresenta resultados parciais, esta documentação realizada nas casas de fazenda auxilia na
realização de medições de conforto ambiental para obtenção de referências projetuais
adequadas às condicionantes locais da região semiárida, onde se insere o Seridó potiguar.
3 MÉTODO
A pesquisa tem seu universo de estudo formado por edificações rurais de uso residencial
datadas do século XIX, localizadas na região do Seridó potiguar, e desenvolveu-se em três
etapas, conforme os procedimentos metodológicos adotados.
A primeira etapa consistiu no levantamento bibliográfico nos inventários existentes sobre a
arquitetura rural seridoense (DINIZ, 2008; FEIJÓ, 2002; IPHAN, 2012), bem como visitas de
reconhecimento para ampliação dos inventários. Em 2002, Feijó inseriu em sua dissertação
de mestrado inventários de 11 fazendas do município de Acari; no ano de 2008, Diniz,
incluiu em sua dissertação inventários de 55 fazendas de 12 municípios seridoenses e em
2012 o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) realizou um inventário
onde constam 178 casas de fazenda. Tomando por base estes inventários e acrescentando
mais 3 casas de fazendas visitadas no início de 2013 no município de Jucurutu, temos o
total de 210 fazendas, com o cuidado de não contabilizar mais de uma vez aquelas que
encontram-se presente em pelo menos dois dos 3 inventário. Nesta etapa foi ainda realizada
uma triagem para identificar o estado de conservação, preservação e viabilidade de acesso,
resultando em 72 fazendas ao todo.
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4 RESULTADOS
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5 CONCLUSÕES
Os resultados obtidos a partir da modelagem geométrica digital tridimensional dos
exemplares de casas de fazendas do Seridó potiguar permitem-nos concluir que este tipo de
documentação não exclui as formas tradicionais como o registro fotográfico, croquis e
desenhos em CAD, mas as complementa e oferece uma visão mais ampla a respeito do
edifício, favorece também ações de preservação, por proporcionar também um material de
base para intervenções e estudos posteriores, tais como os de conforto ambiental que são
realizados no projeto de pesquisa do qual este artigo apresentou os resultados parciais.
REFERÊNCIAS
DINIZ, N. M. M. Velhas Fazendas da Ribeira do Seridó. Dissertação de Mestrado. FAU-
USP. São Paulo, 2008.
FEIJÓ, Paulo Heider Forte. A arquitetura tradicional de Acari no século XIX: estudo
comparativo entre a casa grande de fazenda e a casa urbana. Dissertação de mestrado.
PPGAU-UFRN. Natal, 2002.
IPHAN/RN. Inventário de conhecimento do patrimônio rural da região do Seridó
Potiguar. Natal, 2012.
LUMION. Version 4.0.2. Act-3D B.V, 2013. Programa de computador. 1 CD-ROM.
SKETCHUP. Version 8.0. Google, 2010. Programa de computador. 1 CD-ROM.
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GATO POR LEBRE: EVIDÊNCIAS DE DESAPARECIMENTO DE
QUALIDADES URBANAS QUE CONTINUAM A ANCORAR O
MARKETING IMOBILIÁRIO EM NATAL, RN
Edja Trigueiro
PhD (Bartlett School, UCL, University of London). Professora Universidade Federal do Rio Grande do
Norte - UFRN. E-mails: edja_trigueiro@ct.ufrn.br / edja.trigueiro@gmail.com
RESUMO
Desde os anos 1990 estamos compilando um acervo digital composto por trabalhos acadêmicos de
naturezas diversas que tratam do ambiente construído do Rio Grande do Norte de fins do século 18
aos anos 1970. A construção desse acervo foi motivada pelo processo intenso de transformação que
se estava observando então nas cidades potiguares, sobretudo nos núcleos mais antigos. Reúne
imagens e dados quantitativos e qualitativos que sintetizam estudos histórico-morfológicos sobre
edifícios, muitos não mais existentes, de modo que grande parte do que se perdeu só pode ser
estudada a partir desses e de registros afins. Neste estudo são enfocados edifícios localizados nos
bairros de Petrópolis e Tirol nas frações aproximadamente correspondentes ao perímetro da Cidade
Nova, primeira área projetada de Natal, entendida como espaço urbano socioeconômica e
ambientalmente privilegiado desde sua origem e até os dias atuais. O monitoramento da
transformação e desaparecimento dos edifícios aí registrados, paralelamente à análise morfológica da
estrutura espacial de Natal em épocas sucessivas, fornece evidências que autorizam afirmar ser este
processo não só um reflexo de fatores socioeconômicos e culturais que estão na raiz da perda do
etos privilegiado da área, mas um fator gerador dessa perda, ainda que a propaganda imobiliária e
comercial acerca dos bairros expressem qualidades ali não mais existentes.
ABSTRACT
Since the 1990s we have been developing a digital database in which information is assembled from
academic works of various kinds that address the built environment of the state of Rio Grande do
Norte, Brazil, from the late eighteenth century do the 1970s. The development of that database was
motivated by the intense transformation process that could then be observed in towns round the state,
particularly in the older settlements. The quantitative and qualitative data as well as the images
compiled in the base synthetise historic and morphologic studies about buildings which are often no
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longer extant, so that much of what has been lost can only be studied from these and similar records.
This paper focuses on buildings located in the neighbourhoods of Petropolis and Tirol (Natal) in an
area fairly corresponding to the perimeter of Cidade Nova, first planned settlement in town, seen as a
privileged urban space both in socioeconomic and environmental terms, from its origins to the present
day. The observation of the way and pace in which the recorded buildings are changed or disappear,
alongside the analysis of Natal’s spatial structure over time, offer evidence that this course of events
not only reflects socioeconomic and cultural factors underlying a growing loss of quality in the area,
but are a key factor for that loss, despite the discourse conducted by real estate agents, still heavily
based on those vanishing qualities.
Keywords: digital database.pre-modern and modern architecture. urban transformation. Cidade Nova.
Natal.
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partir da segunda ou terceira década do século 20, cujo desmonte monitoramos há anos,
mediante a organização de um acervo digital reunindo informações sobre edifícios
construídos até os anos 1970, década que assinala o início do “dinâmico processo de
renovação do estoque habitacional e [...] verticalização”.
Argumentamos, também, que a transformação desse conjunto edílico não só reflete fatores
socioeconômicos e culturais que estão na raiz da perda do etos privilegiado da área, como
promove um progressivo distanciamento em relação aos citados “elementos paisagísticos
de grande valor”, e demais qualidades urbanas listadas no verbete Wikipedia, que
intentamos discutir aqui: “localização central”, “acesso fácil a todas as partes da cidade” e
“altos preços imobiliários”; “um ar de modernidade”, e “provimento de infraestrutura e
serviços públicos”; “status especial” e “qualidade de vida de quem mora nesses bairros”.
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Nos últimos anos, a inclusão de Natal nas varreduras fotográficas Street View, parte dos
mecanismos de busca Google, e o lançamento da plataforma Google Fusion Tables
inspiraram-nos a aproveitar esses recursos para monitorar o ritmo e alcance da
transformação edilícia, comparando as imagens de nossos acervos a imagens mais
recentes (2011) das ruas, bem como para armazenar, visualizar e disponibilizar nossos
dados na rede mundial de computadores, experiência detalhada por Nicholas Martino
(2014), que vislumbrou essa possibilidade e iniciou a transposição dos dados para o blog
ilustrado na Figura 2 (sede social da ASSEN, como exemplo).
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afetaram frações urbanas específicas, sobretudo as mais antigas, e o conjunto edilício ali
existente.
Procedimentos de análise sintática do espaço (Hillier e Hanson, 1984) possibilitam
quantificar a acessibilidade topológica, ou valor de integração, definido como a
acessibilidade relativa de cada via ou segmento de via, consideradas todas as demais que
compõem a estrutura espacial estudada (cidade, área metropolitana, etc). Ou seja, mede-se
aí a maior ou menor facilidade de se chegar, a partir de cada via e mediante menos ou mais
mudanças de direção, a todos os componentes de uma malha viária, que podem, então, ser
hierarquizados em uma escala de acessibilidade topológica (porque contempla a localização
relativa de cada componente em face de todos os demais). O conjunto de vias mais
acessíveis, conceituado como núcleo de integração, costuma corresponder às vias mais
movimentadas daquela estrutura espacial.
A análise sintática da malha viária de Natal em perspectiva diacrônica, de meados do século
19 ao final do século 20 (Trigueiro e Medeiros, 2000; Trigueiro, 2006), revelou relações
estreitas entre estágios sucessivos de transformação da estrutura espacial e a setorização
de atividades comerciais que acompanharam a formação e deslocamento do núcleo de
integração. Nos anos 2000 (Trigueiro et al, 2003), verificou-se que o núcleo de integração
ampliou-se, expandindo-se sobre a malha ortogonal de Petrópolis e Tirol, que se tornou uma
das tessituras topologicamente mais acessíveis da cidade, conforme representação (em
linhas de tons quentes – vermelhas, laranjas e amarelas) na figura 3.
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Fontes: Topo - (E) Tribuna do Norte online; (D), Google Maps 2014; centro – autoras; base - Google Maps 2014
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Ao final dos anos 1990, a aceleração do processo de mudança, iniciado nos anos 1970,
saltava aos olhos, clamando por providências ou, ao menos, por registros capazes de
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informar sobre um ambiente e um modo de vida que se estava perdendo quase em surdina.
Tal situação inspirou diversos estudos no âmbito da academia, alguns aqui referidos.
Alexandra Melo (2004) compilou dezenas de projetos de casas construídas em
Petrópolis/Tirol em um esforço de documentar e avaliar nossa produção da arquitetura
moderna, apurando especificidades dos seus aspectos formais, construtivos e espaciais,
identificando e ressaltando a atuação dos projetistas, muitos deles sem formação
acadêmica. Maria Heloisa Oliveira (2013) comparou o estado de conservação e preservação
de edifícios da Av. Afonso Pena com o que havia sido observado cinco anos antes, e
destacou o aparecimento de terrenos vazios, decorrentes da demolições de casas. algumas
ilustres representantes da nossa produção modernista, questionando o sentido dessa perda
em prol de um ideal que muitos acreditam ser de “modernidade”. Parte dos registros que
compõe hoje nosso acervo deve-se a Henrique Ramos (1999) que inventariou a arquitetura
pré-modernista de Petrópolis ainda existente em finais do século 20 e constatou que:
Constroem-se edifícios de apartamentos em um ou mais lotes antes
ocupados por residências. Casas antigas são reformadas, principalmente
para comportar novos usos, como estabelecimentos comerciais e de
serviços, assim como clinicas médicas e odontológicas. Vestígios das
primeiras décadas de ocupação do bairro são apagados. (RAMOS, 1999, p.
86)
Em estudo publicado em 2003 (Trigueiro et al), foi dito que caso se confirmasse a tendência
de exacerbação do já então elevado ritmo de reconstrução de Petrópolis/Tirol, os vestígios
que carregaram até o alvorecer do século 21, uns ares da feição original da Cidade Nova do
alvorecer do século 20, seriam, em breve, história. Passados onze anos, aquela afirmativa
soa como presságio, conforme demonstram os gráficos da Figura 5.
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Vestígios de moradias humildes ainda podem ser identificados pela presença de edifícios
situados em lotes minúsculos nas bordas de algumas quadras cujos miolos são ocupados
por “correres” de casas ou “vilas” (Figura 7).
Por outro lado rareiam, mais e mais, as residências que demarcaram, dos anos 1920 aos
1970 o “status especial” da área. Mutiladas e degradadas, para abrigar usos que muitas
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vezes poderiam ter sido acomodados nas estruturas originais, esses restos delineiam um
triste quadro, bem diferente do “aspecto bastante agradável” de que falavam os jornais de
outrora e falseiam os anúncios atuais. As maiores, com terrenos mais cobiçados pela alta
valorização do solo, são substituídas por torres residenciais ou comerciais; outras são
apenas demolidas para dar lugar a estacionamentos rotativos (Figuras 8 e 9).
Figura 8 – Edifício descaracterizado (R. Açu, 707), substituído (R. Jundiaí, 721); e demolido
para estacionamento (R. Maxaranguape, 615)
Tristes e sujas estão hoje em Petrópolis/Tirol, casas, calçadas, terrenos e, pior, menores, na
maioria meninos “pastoradores” de carros (conforme o dialeto local) que adolescem e
morrem nas drogas e na violência urbana antes dos 30. Em um espaço público cujo nexo
principal é a circulação de automóveis, meninos mal saídos da infância pagam “aluguel” por
vagas públicas de veículos aos mais fortes ou que chegaram primeiro, não raro vivendo e
dormindo nas calçadas.
No momento presente, estão sendo demarcadas pistas para pedestres ao longo dos
canteiros centrais de algumas ruas em Petrópolis/Tirol. Recapeadas com asfaltamento
macio e iluminadas por uma infinidade de pequenos postes, especialmente direcionados
(ainda em implantação) a essas nesgas de rua funcionam como estacionamento durante o
dia e servirão, supostamente, para jogging após as 20h. Enquanto isso os quilômetros e
quilômetros de “passeios” públicos, as calçadas, jazem “impassiáveis” - esburacadas,
bloqueadas, inúteis. Soa ironia grosseira que dinheiro público seja usado para viabilizar o ir
e vir de nenhum lugar para lugar nenhum, enquanto o ir e vir de e para os lugares da cidade
como parte da rotina de atividade diária do cidadão não ofereçam passagem.
Seria porque aqueles que andam a pé durante o dia não se qualificam, de fato, como
cidadãos, salvo em véspera de campanha eleitoral? E seria “qualidade de vida” viver
cercado por muros afins aos de penitenciárias – ainda que lá dentro reinem a abundância e
o privilégio – e de onde só se sai em carros fechados ou, no máximo, para caminhadas
noturnas envergando uniformes de jogger?
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A figura 9 ilustra o que nos parece ser o panorama de dissolução de uma cidade que FOI.
Figura 9 – Um panorama da dissolução: casas mutiladas (R. D. José Pereira Alves, 501; Av.
Hermes da Fonseca, 754; R. Maria Auxiliadora, 776); substituídas (Av. Floriano Peixoto,
374; R. Jundiaí, 721; Rodrigues Alves, 726) e demolidas (R. Jundiaí, 698; R. Seridó, 450)
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AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ e Pro-Reitoria de Pesquisa da UFRN pelas bolsas de iniciação científica e à
bolsista colaboradora Maria Heloísa Alves.
REFERÊNCIAS
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Natal entre 1900 e 1930. Natal-RN: EDUFRN, 2008.
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Brasília, INL; Natal: UFRN, 1980.
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transformação.” Natal, Monografia. Departamento de Arquitetura da UFRN, 2007.
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MARTINO, N. “Explorando e divulgando um acervo iconográfico de arquitetura
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MELO, A.C.S. “Yes, nós temos arquitetura moderna! Reconstituição e Análise da
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Mestrado. Natal: PPGAU. UFRN, 2004.
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<http://actas.memoriaviva.com.br/2009/10/21/natal-cidade-sempre-nova.> Acesso em: 20
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OLIVEIRA, G.P. De Cidade a Cidade: O processo de modernização do Natal 1889/1913.
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OLIVEIRA, M.H.A. “A Cidade Nova será sempre nova? Como as adequações às novas
necessidades tem modificado o cenário edificado do Bairro de Petrópolis.” Natal,
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curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, 2013.
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Graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1999.
TRIGUEIRO, E.B.F; et al. “Cidade Nova: entre novos padrões e dilemas emergentes”. In:
Encontros Nacionais da ANPUR,2003, Belo Horizonte.Anais... Encruzilhadas do
Planejamento: Repensando Teoria e Prática, v10, Belo Horizonte, 2003.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE
TECNOLOGIAS DIGITAIS | João Pessoa.PB
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PROJETO “ATLAS URBANÍSTICO DE VITÓRIA”
RESUMO
O principal objetivo do projeto “Atlas Urbanístico de Vitória”, em andamento, é a compilação de
acervo cartográfico e bibliográfico dos planos urbanísticos e bases cartográficas elaborados, a partir
do final do século XIX e ao longo do século XX, para a cidade de Vitória que documentam as suas
transformações e exprimem, de forma sintetizada, à vontade e a necessidade dos governantes em
organizar e controlar o seu território (ANDREATTA, 2008). Motivam e justificam a elaboração deste
projeto, principalmente, a atual situação de guarda destes documentos, em locais distintos do
município, e mesmo eventualmente fora dele, sem conformar base de dados conjunta e completa, e o
estado de fragilidade em que alguns se encontram. O objetivo deste artigo é registrar a metodologia
de pesquisa utilizada para confecção do “Atlas Urbanístico de Vitória” que inclui as seguintes etapas:
pesquisa de fontes primárias e secundárias; inventariação e catalogação das bases cartográficas e
dos planos urbanísticos selecionados; digitalização dos documentos em alta definição;
georreferenciamento da cartografia em software GIS e vetorização em software CAD.
Palavras-chave: Atlas. Inventário. Planos Urbanísticos. Cartografia. Vitória.
ABSTRACT
The main goal of the project "Urban Atlas of Vitória", in progress, is the compilation of the cartographic
and bibliographic collection of the selected cartographic bases and urban plans, elaborated from the
th th
late 19 century and throughout the 20 century, for the city of Vitória documenting their
transformations and expressing, in a synthesized form, the will and the need of governments to
organize and control its territory (ANDREATTA, 2008). Motivate and justify the development of this
project, mainly the current situation of keeping the documents in different places of the city, and
possibly even out of it, without conforming a complete and uniform data base, and also the fragile
state of which some are. The aim of this paper is to register the research methodology used for
production of "Urban Atlas of Vitória" that includes the following stages: survey of primary and
secondary sources, inventorying and cataloging of the selected cartographic bases and urban plans,
digitization of documents in high definition; cartographic georeferencing with GIS software and
vectorization with CAD software.
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1 O ATLAS
O principal objetivo do projeto, em andamento, “Atlas Urbanístico de Vitória” é a
sistematização e publicação de acervo cartográfico e bibliográfico dos planos urbanísticos e
da base cartográfica elaborados, a partir do final do século XIX e ao longo do século XX,
para a cidade de Vitória e que documentam as suas transformações e exprimem, de forma
sintetizada, a vontade e a necessidade dos governantes em organizar e controlar o seu
território (ANDREATTA, 2008).
Motivam e justificam a elaboração deste projeto, principalmente, a atual situação de guarda
destes documentos, em locais distintos do município, e mesmo eventualmente fora dele,
sem conformar uma base de dados conjunta e completa, bem como o estado de fragilidade
em que alguns se encontram. Além disso, pode-se afirmar que, ao contrário da relevância e
importância atribuída ao patrimônio arquitetônico, o patrimônio urbanístico se encontra
subvalorizado e ainda pouco trabalhado no que tange questões das bases cartográficas,
podendo acarretar em perdas severas para a produção cientifica atual e futura.
Grande parte da identificação e localização dessa documentação deu-se durante o
desenvolvimento da dissertação de mestrado intitulada "Áreas centrais em transformação:
Os tempos e os espaços no centro tradicional de Vitória (ES)" e que teve como referência os
trabalhos de Derenzi (1965; 195), Novaes (1969), Campos Jr. (1996), Curbani (2004), Leme
(2005), Freitas (2010), Mendonça (2009).
A constituição de um atlas como base de conhecimento e intervenção sobre a cidade é
recorrente na história urbana como atestam as obras antológicas “Nuova Topografia di
Roma” (1748) de Giambattista Nolli, “Plan de Turgot” (1739) organizado por Michel-Etienne
Turgot a pedido de Louis Bretez, “Plano de Barcelona” (1858) de Garriga y Roca, “Carta
Topográfica de Lisboa” (1856) realizada por Filipe Folque, entre outros.
Recentemente, foram publicados alguns trabalhos que servirão de referência conceitual e
formal como Busquets (2004), Salgado; Lourenço (2006), Andreatta (2008), além do projeto
de pesquisa “Atlas morfológico de Portugal”, realizado pelo grupo FORMA URBIS Lab.
Assim como em outras cidades no Brasil, a partir da Proclamação da República, em 1889,
Vitória (e adjacências) foi alvo de sucessivos planos urbanísticos. Considerando-se como
marco inicial o ano de 1896, data do “Plano para um Novo Arrabalde”, de autoria do
engenheiro sanitarista Francisco Saturnino de Brito, até o atual Plano Diretor Urbano, de
2006, pretendeu-se desenhar e ordenar, através de formas e normas, o desenvolvimento
da cidade. Ao longo do século XX, estes planos assumiram diferentes enquadramentos
num reflexo do que foi a prática urbana no Brasil (SIMÕES Jr., 1994) e, também, diferentes
recortes territoriais, haja vista que os planos abrangeram desde a, atualmente conhecida
por, área central até, parte ou toda, região metropolitana.
O objetivo deste artigo é descrever os métodos e meios que serão usados na elaboração
do “Atlas Urbanístico de Vitória” – composto por cinco principais atividades, a saber:
pesquisa documental e bibliográfica, inventariação, digitalização, georeferenciamento e
vetorização, e explicitar as possibilidades que novas tecnologias oferecem para suportar
cada uma destas atividades.
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Além destas instituições, também é relevante a pesquisa nos acervos privados de: Serviços
Aéreos Cruzeiro do Sul, MAPLAN Aerolevantamentos S.A., Maria do Carmo Novaes
Schwab, Fernando Bettarello, Jolindo Martins Filho, Antenor Guimarães, Octavio
Cantanhede, Escritório M. Roberto, Centro de Memória do Museu Vale.
Ao fim desta etapa de pesquisa em fontes primárias e secundárias, elaborou-se uma
listagem de planos urbanísticos e bases cartográficas (Quadro 2). Entendendo que o plano
constitui-se num documento de intenções de transformação territorial, nem sempre
efetivamente implementado ou mesmo representado como tal; e que os mapas são
documentos de registro da forma urbana numa determinada época com títulos, finalidades,
escalas e precisões distintos, variando de acordo com a época e as tecnologias disponíveis.
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Ambos são documentos complementares quando se trata de estudos urbanísticos, uma vez
que há planos que são precedidos pela contratação de levantamentos, ou mesmo desenho
de planos que foram representados diretamente sobre as bases formando documentos
mistos.
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pesquisa no local é feita pelo próprio pesquisador no sistema on-line, sem acesso as
estantes com livros. Não há organização do acervo segundo cartografia.
Os acervos da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha incluem obras de
literatura e técnica, organizadas em oito coleções. A esta pesquisa interessou a coleção que
compõe a Divisão de Documentação Capixaba , constituída por livros, revistas e
documentos relativos à memória do Estado do Espírito Santo.
Este acervo pode ser consultado no local através de um bibliotecário, não há digitalização
de exemplares, digitalizações não são permitidas e o usuário não tem acesso ao sistema
para que ele mesmo proceda com a pesquisa através de palavras chave. Não há
organização de acervo dando destaque a cartografia. E uma vez que não há digitalização de
material do arquivo a pesquisa em cartografia, cuja iconografia é fonte primária de consutla,
encontra-se dificultada.
A biblioteca do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) possui “[...] acervo especializado
em temas socioeconômicos e políticas governamentais, estudos e projetos nas diversas
áreas de atuação do Estado e dos municípios, publicações de órgãos estaduais,
documentos de valor histórico, periódicos, artigos de jornais, fotografias antigas e aéreas,
mapas analógicos e digitais.”
O acesso aos documentos, de modo digitalizado, pode ser feito através do website da
Instituição. O acervo cartográfico encontra-se em fase de organização e pode ser
consultado no local.
O processo de elaboração do inventário do Atlas Urbanístico encontra-se em andamento
tendo percorrido as duas primeiras atividades propostas (pesquisa de fontes primárias e
secundárias; inventariação e catalogação das bases e dos planos levantados) e está sendo
financiado pela Arcelor Mittal através da troca de bônus da lei de incentivos fiscais da Lei
Rubem Braga, Prefeitura Municipal de Vitória.
É importante pontuar que o inventário busca oferecer um quadro sumário de um ou mais
fundos ou coleções e que uma descrição de cada fundo arquivístico permite que o usuário
consiga detectar, preliminarmente, a possível existência e a localização de documentos de
seu interesse e que a busca pelos mapas será suporte instrumental para estudos da forma
urbana, ampliando e validando conceitos da história urbanística local, além de fator
investigativo de características da cidade e sua extensão, em cada uma das referidas
épocas.
A fim de proceder com os trabalhos, é necessário seguir metodologia com o acervo
cartográfico, elaborada com referência em consultor da área da Arquivologia. Arquivística
(NOBRADE), dos principais planos urbanísticos identificados, através da consultoria do
professor mestre André Malverdes, especialista em projetos arquivísticos e de inventariação,
a partir da Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE).
Como nem todas as instituições apresentam seus acervos em conformidade com esta
norma, grande parte da informação é extraída diretamente dos documentos originais.
A partir da confecção de uma planilha em formato .xls, cada documento foi catalogado a
partir dos seguintes elementos (metadados): ACERVO, COTA (no projeto e no acervo),
DATA, LOCAL, PLANO, TÍTULO, DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO, DESCRIÇÃO FÍSICA,
DESCRIÇÃO MATEMÁTICA, INSTITUIÇÃO PRODUTORA, AUTOR, DESENHISTA,
CONDIÇÕES DE ACESSO, ESTADO DE CONSERVAÇÃO, PUBLICAÇÃO e
OBSERVAÇÕES.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa encontra-se em andamento. Entretanto, a partir do que foi feito nas primeiras
etapas de desenvolvimento (correspondente aos subitens 2.1 e 2.2) pode-se afirmar que
parte dos documentos que representam o patrimônio urbanístico local encontra-se em vias
de desaparecimento. O que se observa, de modo geral, são documentos relativos aos
planos urbanos incompletos, danificados ao longo do tempo, além de estarem hoje alocados
em diferentes lugares dificultando tanto acesso e quanto sua interpretação. A parte este
fato, a indicação das fontes dos documentos cartográficos e da bibliografia citada em
pesquisas anteriores, já não permite a sua localização atualmente. Alguns acervos de local
de acondicionamento, de Instituições ou mesmo não foram localizados nas listagens atuais
das Instituições referenciadas em livros ou artigos.
A importância do estudo da cartografia se confirmou e reafirmou, pois há no material
encontrado, a despeito de todos os problemas, registros preciosos de diferentes etapas de
transformação morfológica da cidade.
Outro ponto relevante é o importante aporte e suporte que as novas tecnologias podem dar
a este trabalho. Desde a disponibilização dos produtos através de mídias digitais ou da
elaboração de websites e blogs até os processos de digitalização, georreferenciamento em
GIS e vetorização em CAD, as potencialidades são inúmeras e não terminam em si criando
uma obra aberta e colaborativa.
Acredita-se que ao final dos trabalhos, a divulgação do “Atlas Urbanístico de Vitória” poderá
formar as bases para o desenvolvimento de pesquisas futuras em morfologia e historiografia
urbana, preenchimento de lacunas e revisão teórico-conceitual, preservando e valorizando
os documentos, contribuindo à produção de conhecimento em urbanismo.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa tem o apoio institucional e financeiro por meio de edital da Lei Rubem Braga
(Prefeitura de Vitória) e da empresa Arcelor Mittal Tubarão. Agradecimento especial aos
funcionários do Arquivo Geral da Prefeitura Municipal de Vitória, Arquivo Público do Estado
do Espírito Santo e Centro de Documentação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
da Cidade que muito gentilmente ajudaram na localização documental. Compõe também a
equipe de pesquisadores do “Atlas Urbanístico de Vitória” o professor André Malverdes e o
arquiteto e professor Jolindo Martins Filho.
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O
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REFERÊNCIAS
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Beaurepaire-rohan ao Plano Estratégico. Rio de Janeiro: Mauad, 2008.
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tradicional de Vitória (ES). 2001. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e
Urbanismo, Núcleo de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (NPGAU), Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
BRASIL. Conselho Nacional de Arquivos. NOBRADE: Norma Brasileira de Descrição
Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2006
BUSQUETS, J. et al. El centro historico de Barcelona: un pasado con futuro. Barcelona:
Ajuntament de Barcelona, 2004.
CAMPOS Jr., C. T. O Novo Arrabalde. Vitória: PMV, Secretaria Municipal de Cultura e
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CURBANI, S. G. Henrique de Novaes em diferentes momentos: Plano Geral da Cidade de
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CIDADE E DO URBANISMO, 8., 2004, Niterói. Anais... . Niterói: SCHU, 2004. v. 8, p. 1 - 6.
DERENZI, S. Biografia de uma ilha. Vitória: Secretaria Municipal de Turismo: 1995. 2ª
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FREITAS, J. F. B. (org.) Diálogos: Urbanismo BR. Vitória: EDUFES; Niterói: EDUFF, 2010.
LEME, M. C. da S. (org.) Urbanismo no Brasil 1895-1965. Salvador: EDUFBA, 2005.
MENDONÇA, E. M. S. et al. Cidade Prospectiva: o projeto de Saturnino de Brito para
Vitória. Vitória: EDUFES; São Paulo: Annablume, 2009.
NOVAES, M. S. História do Espírito Santo. Vitória: Fundo Editorial do Espírito Santo, sd.
ROSANELI, A.F.; SHACH-PINSLY, D. Anne Vernez Moudon. Vitruvius, Entrevista, São
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10.040/3397/pt_BR>.
SALGADO, M.; LOURENÇO, N. (org.). Atlas urbanístico de Lisboa. Lisboa: Argumentum,
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SAMPAIO, M. G. T. de. Forma urbana da parte baixa da Lisboa destruída: Análise e
avaliação da cartografia (1756-1786). 2011. 715 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura
e Urbanismo, Departamento de Escola de Tecnologias e Arquitura, Instituto Universitário de
Lisboa, Lisboa, 2011.
SIMÕES Jr., J. G. Revitalização de centros urbanos. Publicações Pólis, São Paulo, n.19,
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TEIXEIRA, M. A história urbana em Portugal: desenvolvimentos recentes. Análise Social,
Lisboa, Vol. XXVIII, n.121, p. 371-390, 1993.
365
Posters
BIBLIOTECAS DO NORDESTE DO BRASIL
REUNINDO DADOS SOBRE A BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (RECIFE/PE).
COSTA, Carolina; FERREIRA, Anna Cristina Andrade; NASCIMENTO, Rodrigo Costa do; VAN WOENSEL, Fernando Coutinho; GOMES, Andrezza Lira Cavalcanti; BRAZ,
Ana Larissa de Andrade Rolim; GONÇALVES, Bruna Macedo; SOUSA,Kellington Dantas de; PESSOA, Priscila Oliveira; BRAGA, Rayanne Cintya Anacleto.
ABSTRACT
This work represents a fragment, in early stage, of a research that proposes to register the Libraries inside the Federal Universities
in Northeast of Brazil. The brasilian feredal universities emerged since the 30s using the pre-existing structures of schools and
institutes, but suffered a process of reconfiguration, specially from the universities reform, in 1968: the departments were joined in
a single spatial model of implantation generally located away from the urban center, following the type location of the others
brasilian universities (Pinto and Buffa, 2009). This reform focused the scientific research as the fundamental functions of the
universities, reinforcing the libraries contribution to the education centers. Therefore, is compreensive that buildings, like the
others with equal significance, have a strategic location and present an expressive architecture. This work aims to rescue the
historic importance of the Central Library of the Federal University of Pernambuco as a relevant element to the knowledge,
compreension and research of the mordern architecture production in Northeast of Brazil, and your peculiar characteristics.
INTRODUÇÃO
Até a década de 1960 as universidades brasileiras não apresentavam uma configuração homogênea, cada curso (ou grupo de
cursos) utilizava a estrutura de institutos e escolas existentes e espalhados pelo tecido urbano das principais cidades. Essa
configuração acadêmica foi alterada principalmente com a reforma universitária de 1967, quando as universidades receberam uma
nova organização estrutural: os cursos passaram a ser reunidos em departamentos que, por sua vez, se agrupavam em um modelo
espacial único – situado, em sua maioria, em locais afastados dos centros urbanos estabelecidos. Essa nova configuração espacial
consolidou o novo modelo de campus para as universidades brasileiras, que passou a ser adotado quase que inteiramente em todos
os estados da federação, favorecendo os interesses das estruturas política e administrativa estabelecidas na época (P INTO e BUFFA,
2009).
A Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco, projetada no ano de 1969 pelo arquiteto Maurício Castro, surge em
uma época em que se adotava predominantemente o zoneamento funcionalista da Carta de Atenas e a racionalização construtiva.
O projeto apresenta ênfase na exposição dos materiais e da estrutura, axiomas do brutalismo (ZEIN, 2005), tendência arquitetônica
difundida a partir dos anos 50 no Brasil e que exerceu forte influência sobre a produção da Escola do Recife (Amorim, 2001),
Figura 1. Biblioteca Central UFPE. instaurando um período de afirmação local no modo de projetar. Nesse sentido, considera-se relevante a realização da
Fonte: Acervo UFPE, s/d. documentação sobre a biblioteca em função da necessidade de se preservar elementos gráficos que podem ser digitalizados ,
servindo assim de pesquisa tanto no âmbito histórico como arquitetônico.
O PROJETO DO CAMPUS E DA BIBLIOTECA CENTRAL
A universidade de Recife foi o primeiro centro universitário do Norte e Nordeste do Brasil, se formou a partir da união das
faculdades de Direito, fundada em 1827, Medicina (1927), Filosofia (1941), Escola de Belas Artes (1932) e de Engenharia (1895). Em
1948 foi iniciada a construção do campus universitário, que acabou por ocupar a área da faculdade de Direito, no Centro do Recife,
e um loteamento na Várzea, onde antes funcionou o Engenho do Meio. Uma das razões para escolha do terreno foi por existir uma
avenida projetada para o local. Apenas em 1965 a Universidade passou a integrar o novo sistema de educação do país com o nome
de Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (figura 2).
O arquiteto responsável pelo projeto do campus da UFPE foi Mario Russo, italiano que chegou à Recife por volta de 1949. Porém o
edifício da biblioteca (figura 1) foi concebido por Maurício Castro, discípulo de Russo e integrante do Escritório Técnico da UFPE,
responsável por desenvolver projetos do campus. Este ainda contou com a colaboração de Reginaldo Esteves e Aluísio Magalhães
(COSTA, 2008). A Biblioteca Central revela soluções que enfatizam o aproveitamento da luz natural(figuras 2 e 3) e isolamento
acústico, aspectos garantidos pela sua implantação bastante recuada em relação à via de tráfego existente e bem próxima a massas
Figura 2. Vitrais da Biblioteca Central vistos Figura 3. Aproveitamento da iluminação natural. vegetais.
internamente. Fonte: Anna Cristina, 2014. Fonte: Anna Cristina, 2014.
O edifício mantém características próprias do estilo modernista como as linhas retas e os grandes panos de vidro, brises verticais e
coberta protegida por platibandas que auxiliam a imprimir ao prédio a forma prismática típica da escola brutalista (figura 1 e 4 ) . Os
materiais de revestimento realçam a exposição dos elementos construtivos que compõem com outras edificações do entorno. Sua
configuração espacial apresenta um pátio interno que favorece a captação de luz e ventilação natural, porém este espaço se
encontra subutilizado com seus jardins sem manutenção e servido de depósito de equipamentos danificados (figura 4). A maior
parte das instalações internas é feita por divisórias reforçando a característica de planta livre (figura 5).
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa possui um caráter histórico e exploratório, através da coleta de dados sobre a configuração arquitetônica da Biblioteca
Central do Campus da UFPE.
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema, considerando os autores, a tipologia arquitetônica e
influências, buscando um entendimento amplo sobre a edificação.
Posteriormente foi realizada uma visita à Biblioteca Central onde foram coletadas plantas antigas, contendo a proposta original, e
plantas posteriores que diziam respeito às adaptações realizadas (figuras 6, 7 e 8). Parte desse material já se encontra disponível em
meio digital, porém no que diz respeito aos documentos mais antigos, observa-se a necessidade de sistematização desses dados e
Figura 4. Pátio interno servindo de Figura 5. Ambientes interno da biblioteca mostrando a planta disponibilização eletrônica, tanto para a salvaguarda desse material como facilidade de acesso.
depósito. livre. Também foi realizado o levantamento fotográfico da edificação e seu entorno, além da aquisição de fotos antigas disponíveis no
Fonte: Anna Cristina, 2014. Fonte: Anna Cristina, 2014. acervo da instituição, buscando o resgate completo de sua histórica e comparação com o estado atual.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O principal objetivo que se pretende com esta pesquisa é o resgate documental dos projetos realizados para abrigar as Bibliotecas
Centrais dos Campi Universitários Federais do Nordeste. Observa-se que estas edificações comumente apresentam características
relacionadas a arquitetura modernista brasileira, tendo uma preocupação com a racionalização das formas e adequação ao clima
local. A principal discussão desencadeada diz respeito a importância deste patrimônio edificado para a história da arquitetura
brasileira e a necessidade de sua preservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Modernismo recifense. Uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns
paradoxos. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 012.03, Vitruvius, maio 2001 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.012/889>. Acesso em: 28 jun. 2014.
CABRAL, Rebata Canoello. Mário Russo: um arquiteto racionalista italiano em Recife. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2006.
COSTA, Alcilia Afonso de Albuquerque. A produção arquitetônica moderna dos primeiros discípulos de uma Escola. São Paulo:
Vitruvius/Arquitextos, ano 09, n. 098.05, julho de 2008.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.098/128>. Acesso em: 20 de junho de 2014.
PINTO, Gelson de Almeida; BUFFA, Ester. Arquitetura e Educação: Campus Universitários Brasileiros. São Carlos: EESC/USP e
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ZEIN, Ruth Verde. A arquitetura da escola paulista brutalista: 1953-1973. Tese (Doutorado) – Programa de Pesquisa e Pós-
Graduação em Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
Figura 6, 7 e 8. Plantas do térreo, primeiro e segundo pavimentos da Biblioteca Central da UFPE.
. Fonte: Acervo UFPE, 2012.
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de 5 a 7 de novembro de 2014
367
URBANO ORNAMENTO
MEMÓRIA GRÁFICA DAS GRADES ORNAMENTAIS
Fernanda Guimarães Goulart – Universidade Federal de Minas Gerais
ABSTRACT
Having a wide presence of ornamentation in the urban space, this research intends to launch an
interdisciplinary look at the ornamental grills in Belo Horizonte. The knowledge of Architecture and Arts,
not only for the obvious graphical integrated force that characterizes these objects, but also by other
interfaces - ethnographic , critical-history, poetical and fictional - that enable them to communicate.
Adopts, as a starting point, the photographic documentation of facades of houses located in the oldest
neighborhoods of the city and this stage is completed by the scanning of the found models, providing
graphic vectors in open and editable files. This inventory must hold a free anda an heritage memory, by
reconstituting a kind of formal landscape, able of storing and offering these forms to the public domain of
creation. Meaning, returning them to the city.
INTRODUÇÃO
Tendo como amplo mote a presença do ornamento no espaço urbano, o projeto “Urbano Ornamento”
pretende lançar um olhar interdisciplinar para as grades ornamentais em Belo Horizonte, aproximando os
Figuras 1 e 2. O livro Urbano Ornamento, que campos de saber da Arquitetura e das Artes Gráficas, não apenas pela evidente força gráfica que
pode ser adquirido através do email caracteriza esses bens integrados, mas também por outras interfaces – etnográfica, histórico-crítica,
urb.ornamento@gmail.com poético-ficcionais – que lhes possibilitem comunicar. Adotou, como ponto de partida, a documentação
fotográfica de mais de 4000 fachadas de casas situadas em bairros mais antigos da cidade e, cumprida
essa etapa, a digitalização dos modelos encontrados, disponibilizando desenhos vetoriais gráficos, em
arquivos abertos, editáveis. Tal inventário deve ser detentor de uma memória patrimonial – através da
reconstituição de uma espécie de paisagem formal, capaz de guardar e lançar essas formas ao domínio
público da criação, ou seja, devolvê-las à cidade – e outra mais livre, a partir das reflexões que os saberes,
que nele tangenciam, possam suscitar.
O produto da pesquisa é, além do próprio inventário e de uma tese de doutorado, um livro, homônimo
dela, publicado em agosto de 2014, que contém o inventário completo impresso e digitalizado, num DVD
anexo. A ideia foi revisitar os antigos catálogos de ornamentos e criar uma versão atual – um tipo de
edição bastante usual nos dias de hoje, capaz de doar à cultura material imagens históricas – que pudesse
abrigar um diálogo entre os saberes citados, não apenas sobre o bem arquitetônico integrado per se.
Figura 3. fragmentos desenhados à mão, com a caneta digital e replicações. MATERIAIS E MÉTODOS
A escolha das regiões a serem percorridas na cidade respondeu ao seu primeiro traçado, a partir da
crença de que ali, nas áreas mais antigas, estariam concentradas as maiores quantidade e variedade das
grades. O anel da avenida do Contorno marcou, assim, uma referência para procurá-las, em bairros
centrais (dentro dos limites da avenida) e pericentrais (adjacentes a ela). A partir dessa delimitação
espaço-temporal, percorremos, em 92 trajetos, 35 bairros da capital, registrando mais de 4000 fachadas.
O registro das casas foi feito assim: todas as casas detentoras de grades ornamentadas, situadas ao longo
dos caminhos, foram contempladas, recebendo um registro que enquadrasse sua fachada frontal e cada
modelo de grade que estivesse ao alcance dos olhos, mesmo nas fachadas laterais, obtendo-se quantas
fotografias fossem necessárias para registrá-las. Cumprida essa etapa, passamos à
digitalização/vetorização dos modelos encontrados, utilizando como ferramenta a caneta digital, que gera
desenhos vetoriais editáveis.
Se as grades são produzidas na fronteira entre o artesanal e o industrial – entre o orgânico que é fruto da
plasticidade do ferro e o geométrico e gráfico que se caracteriza pelo limite do projeto, dos moldes, da
máquina – também com os desenhos algo se processa assim. Com a caneta digital foi possível desenhar
cada módulo primário manualmente, de maneira mais artesanal (orgânica) e menos geometrizada do que
as ferramentas que criam ‘nós’ no software de ilustração gráfica adotado, o Illustrator. Uma
‘organicidade’ que se aproxima dos processos artesanais de dobrar e moldar o ferro, remetendo-nos
sutilmente a sua liquidez incandescente e ao endurecer que obedece aos limites frios e as batidas do
martelo. Os desenhos podem ser comparados a uma espécie de escrita que, de modo inevitável e
inefável, diferenciará cada desenhista, resultando únicos, irrepetíveis.
AGRADECIMENTOS
Figura 4. Poster anexado ao livro Urbano Ornamento, com módulos de padronagem do inventário Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), Santander e Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais);
NPGAU (Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo/UFMG), Escola de Belas Artes/UFMG e Universidad de
Alcalá de Henares/España
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João
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368
SISTEMATIZAÇÃO DO ACERVO ICONOGRÁFICO
SOBRE O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DO RN
Cleyton Santos; Nicholas Martino; Maria Heloisa Alves
Bolsistas MUsA – UFRN – www.acervoiconografiodorn.blogspot.com.br
ABSTRACT
The paper is part of a project of teaching and provides the continuance of the
previous actions to storage of an iconographic collection about rural and urban
architecture in several municipalities from Rio Grande do Norte, result of
decades of researches developed or oriented by the involved professors in this
project. The goal of this step is the divulgation the picture’s collections,
composed mainly by pictures of rural and urban architecture from RN, and with
a huge part existent only in the photos nowadays. Is being used storage’s
medias and divulgation from Google through Blogspot.com and Picasa Web.
The pictures collection systematized by the monitors during the project will be
an important contribution for the preparation of didactics resources with especial
projection for the subjects of Theory and History of the Architecture, as well as
Figura 1. Quadro de figuras das possibilidades de acesso do público ao acervo iconográfico. to studies of the formation and transformation of the built environmental. We
Fonte: Autores hope that the collection be universally accessed through the digital repository in
the internet in order to take this material beyond from the academics walls.
INTRODUÇÃO
Na esteira das contribuições sobre a documentação da arquitetura como um instrumento para o entendimento
da formação e transformação dos assentamentos humanos o presente trabalho é resultado de um projeto de
ensino formulado pelos docentes Edja Trigueiro e Paulo Heider Feijó dentro das disciplinas de Teoria e História
da Arquitetura e Urbanismo da graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFRN e dá continuidade às ações de
projetos anteriores, empreendendo agora a sistematização deste acervo tendo como objetivo a montagem de
um banco de dados digital sobre a arquitetura, a partir da classificação e conversão, para formato digital de
imagens em papel, diapositivos e negativos. A sistematização executada pelos autores deste artigo como
monitores tomaria como instrumento o banco de dados idealizado nos projetos anteriores, no entanto, novos
caminhos foram tomados. A nova abordagem enfoca o armazenamento e divulgação das imagens em mídias
da empresa Google através do Blogspot e do Picasa Web, visto que o armazenamento dentro do Microsoft
Access apresentou limitações quanto à implantação da interface em um sítio de internet ou a implantação em
outros computadores.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A habilidade em lidar com questões de taxonomia é essencial para a formação dos arquitetos que trabalham
com os processos e identificação, conservação e preservação dos edifícios de interesse histórico como
também dos sítios históricos nos quais estão inseridos. Dessa forma, a contribuição deste projeto é a
construção um banco de dados iconográfico digital resgatando o acervo já existente para uma nova interface
de armazenamento contendo o material atualmente existente apenas em suportes de difícil acesso (papel,
diapositivos, negativos e banco digital inativo). Através deste, atender à distintos interesses quanto à aquisição
e transmissão de conhecimento sobre a arquitetura do RN e do Brasil a partir da observação e análise das
imagens.
Figura 2. Quadro dos processos de armazenamento nas interfaces da Google. MATERIAIS E MÉTODOS
Fonte: adaptação dos Autores A metodologia compreende o processo de formatação do acervo iconográfico digital fruto de ações de ensino e
pesquisa dos docentes envolvidos no projeto através das disciplinas envolvidas e demais estudos. Para tanto,
O QUE TEM NO ACERVO: foram feitas as seguintes etapas:
1. Resgate das imagens do banco digital presente no Microsoft Access existente em um
computador da base de pesquisa dos professores envolvidos no projeto de ensino.
2. Sistematização das imagens por localidade municipal dentro de pastas e, por conseguinte,
sistematização por tipo funcional ou conteúdo iconográfico.
3. Transporte das pastas seguindo a mesma sistematização supracitada para uma página do
grupo MUsA (Morfologia e Usos da Arquitetura) no Picasa Web a fim de formatar o repositório digital e
disponibilizar acesso público.
4. Divulgação das imagens em mídias de armazenamento da empresa Google através do
Blogspot e do Picasa Web, utilizando o blog (acervoiconograficodorn.blogspot.com.br) como a interface digital
para visitação pública.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No acervo imagético são apresentadas imagens de: equipamentos da economia do açúcar; detalhes dos
sistemas construtivos da arquitetura rural e urbana; edifícios de interesse patrimonial registrados como objetos
isolados ou em conjuntos urbanos; imagens de bens móveis da arte sacra; entre outras categorias
iconográficas. Ao todo se chegou a 82 municípios encontrados e um número próximo a três mil imagens
inventariadas. Apesar do novo repositório não apresentar as informações de classificação de imagens
presentes na interface anterior, vislumbra-se agora um novo momento a fim de classificar essas imagens do
repositório digital. Espera-se que este acervo sistematizado pelos monitores continue a contribuir para a
preparação de recursos didáticos, alcançando projeção para além da academia, uma vez que oferece recursos
potenciais para subsidiar uma ampla diversidade de estudos sobre formação e transformação do ambiente
construído. Além disso, o novo formato de acervo iconográfico oferece mais possibilidades de acesso,
interação e divulgação do material imagético acumulado durante anos de pesquisa e ensino dos docentes
envolvidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TRIGUEIRO, E.B.F. RUFINO, I. BATISTA, G. DINIZ, N. Seridó’s built heritage: to whom it may concern. City
and Time 3 (1) [on line]. CECI, 2007. www.ct.ceci-br.org.
Sítios eletrônicos:
<picasaweb.google.com>
<blogspot.google.com>
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369
MODELO DIGITAL DO CLUBE CABO BRANCO
FERRAMENTA DE REGISTRO E COMPREENSÃO DA ARQUITETURA
Prof. Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro
Cleuton de Sousa Silva, Graduando em Arquitetura e Urbanismo - UFPB
ABSTRACT
This work intends to demonstrate the importance of digital modelling in the
process of comprehension of the architectural project of the Cabo Branco Club,
designed in 1956 by Acácio Gil Borsoi, in the city of João Pessoa, Paraíba, Brazil.
At the same time, it intends to serve as a tool of digital register which supports the
creation of a database of the modern brazilian architecture, through referential
Figura 2. Empena lateral do works produced in Paraíba. It presents sights extracted from a three-dimensional
Ginásio desde o nível da geometric digital model, reproducing the shape, the internal spatiality and the
quadra..
constructive solution used in the original project.
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende demonstrar a importância da modelagem digital no
processo de compreensão do projeto arquitetônico do Clube Cabo Branco,
projeto do arquiteto Acácio Gil Bórsoi, projetado em 1956, na cidade de João
Pessoa, Paraíba. Ao mesmo tempo objetiva servir como instrumento de registro
digital de apoio à criação de um banco de dados da arquitetura moderna
Figura 3. Perspectiva interna brasileira, através de obras referenciais produzidas na Paraíba. Apresenta vistas
restaurante. extraídas de um modelo geométrico tridimensional digital reproduzindo a forma, a
espacialidade interna e as soluções construtivas utilizadas no projeto original. O
modelo foi desenvolvido por Cleuton de Sousa Silva, Jésus Jessé Diniz Pimentel
e Oséas Pedrosa Barreto Neto, estudantes do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, para a disciplina de Estágio
Supervisionado, sob a orientação do professor Aristóteles Lobo de Magalhães
Cordeiro, para este trabalho editado por Cleuton Sousa e Aristóteles Cordeiro,
utilizando como ferramenta de modelagem tridimensional o programa Sketchup
versão 2014, atualmente da Trimble.
Figura 4. Perspectiva geral do clube
mostrando os seus diferentes Figura 1. Perspectiva geral do clube mostrando os diferentes JUSTIFICATIVA
níveis. níveis de sua implantação. As demandas espaciais e territoriais contemporâneas têm destruído grande parte
do acervo da arquitetura moderna na Paraíba, inclusive porque essas obras
ainda não são alvo de reconhecimento ou de políticas públicas de proteção. As
tecnologias digitais têm sido grandes aliadas nesse processo de documentação,
subsidiando o registro, memória e intervenção nesse patrimônio. A ideia central
dessa comunicação é mostrar como essas tecnologias têm contribuído para a
documentação digital do acervo paraibano e para a construção do seu inventário,
tendo como objeto empírico o Esporte Clube Cabo Branco, obra paradigmática
no cenário da arquitetura moderna paraibana.
MATERIAIS E MÉTODOS
Semelhante à construção de um edifício, o processo de modelagem digital 3D
também requer um bom entendimento da lógica na concepção arquitetônica, que
viabilizou a concretização do ambicioso programa de necessidades do Clube
Cabo Branco. Na modelagem digital é possível representar simultaneamente as
Figura 5. Perspectiva geral do clube mostrando os diferentes programas Figura 6. Perspectiva escada helicoidal de acesso diferentes partes que compõem o objeto, e relaciona-las logicamente da mesma
e espacialidades internas ao restaurante. forma que o sistema construtivo real. Permitindo a decomposição do objeto,
facilitando o estabelecimento das relações entre as partes e o todo na
arquitetura. Assim, enriquece a investigação das relações entre a estrutura e a
forma arquitetônica, entre o sítio e o edifício, como também, entre os materiais,
suas funções e técnicas e, os resultados estéticos na arquitetura.
Para inicio do processo de modelagem o objeto foi dividido em três partes, onde
cada integrante seria responsável pelo seu desenvolvimento, com o decorrer do
processo de modelagem percebeu-se que a interação entre as parte se fazia
necessária à sua compreensão, aliado ao entendimento do programa e a
vivencia in loco conferi-o ao modelo o maior numero possível de informações
realísticas, sobre tudo confiabilidade e precisão das informações atreladas a
modelo digital.
Figura 7. Perspectiva entrada principal. Figura 8. Perspectiva externa ginásio de esportes
RESULTADOS
Ao final da construção do modelo digital, percebeu-se claramente a capacidade
de transmissão de informações do modelo geométrico tridimensional, com forma
e representação gráfica bastante satisfatória, garantindo plena visualização e
vistas privilegiadas do edifício, vistas de pontos impossíveis no conjunto real. O
registro virtual do Clube Cabo Branco, por meio da modelagem digital 3D, é uma
das formas mais simples e didáticas de se registrar e preservar características
arquitetônicas.
Figura 9. Corte transversal mostrando a relação do bloco administrativo, salão de festas, restaurante e piscinas com o relevo.
AGRADECIMENTOS
A ideia e incentivo original para a realização deste trabalho devemos a
professora Nelci Tinem. Para a realização do modelo, foi de suma importância o
levantamento e representação bidimensional feita pelos então estudantes de
arquitetura Adailton Pessoa de Figueiredo e Walter Loureiro C. Grilo assim como
a colaboração do Arquiteto Fúlvio Natércio, pesquisador da arquitetura moderna
na Paraíba, que nos forneceu este e outros levantamentos, que serviram de base
para inicio do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, Marcos Bandeira. Google Sketchup Pro Aplicação ao Projeto
Figura 10. Corte transversal mostrando a relação do ginásio esportivo e quadras de tênis com o relevo. Arquitetônico. Novatec, São Paulo 2010
GASPAR, João. Sketchup Passo a Passo. Vectro, São Paulo 2010
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370
PALACETE DO PRESIDENTE JOÃO PESSOA
MODELAGEM DIGITAL NA COMPREENSÃO E REGISTRO DA ARQUITETURA
ARYAN FRANCISCO AZEVEDO SILVA
Graduando em Arquitetura e Urbanismo - UFPB - aryan.azevedo@hotmail.com
AMÉLIA DE FARIAS PANET BARROS
Professora do Departamento de Arquitetura - UFPB - map2001@terra.com.br
ABSTRACT INTRODUÇÃO
The present work seeks to understand and register through digital modeling the O Palacete 92, projeto do engenheiro Solto Barcelos, localizado no entorno da Praça da Independência, na cidade de
configuration of the mansion where President Joao Pessoa lived; located in the area João Pessoa, tem uma grande importância para a história urbana e arquitetônica da cidade. Além de sua tipologia típica
surrounding the Square of Independence. At the beginning of the twentieth century de palacete, nele residiu, no início do século XX, o então Presidente da Paraíba João Pessoa. João Pessoa Cavalcanti
this housing typology was the residence of the elite in the city, especially the de Albuquerque ficou conhecido nacionalmente por ser candidato, em 1930, a vice-presidente do Brasil na chapa de
examples located in the new axis of growth; Tambiá and Trincheiras, thanks to the Getúlio Vargas. Também, quando ainda era governador da Paraíba (1928-1930), foi assassinado por João Dantas em
white gold economy: cotton. The digital modeling was made using Google Sketchup Recife, tendo esse episódio conhecido como uma das causas da Revolução de 1930.
software, through on-site visits and analysis of the current plan provided by IPHAEP. Hoje, o Palacete 92 encontra-se em estado preocupante de conservação. Alguns projetos já foram feitos, no entanto,
The methodology and the digital tools used, allowed accuracy in detailing for the sua restauração física ainda não ocorreu comprometendo, a cada dia, a autenticidade desse patrimônio.
purpose of the study, which has a set of complex and loud volumes. This work is of Assim, a modelagem digital do Palacete 92, apresentada neste trabalho, é uma estratégia para registrar a importância
great importance and contribution to the heritage collections and architecture, as it desse patrimônio e compreender um pouco sobre as mudanças urbanas e arquitetônicas que a cidade passou no início
shows a new way of living for the time, thus preserving the history of the city. do século XX, caracterizando assim, a nova forma de morar da elite, graças à economia do algodão.
A pouca informação sobre essa tipologia habitacional, bem como, o desinteresse e abandono por parte do poder público
somado à especulação imobiliária que mostra interesse em grandes lotes no centro da cidade revela o risco de
desaparecimento de algumas edificações semelhantes. Nesse caso, o palacete em estudo trata-se de um bem
tombado pelo IPHAEP de propriedade do Governo do Estado, localizado numa área de preservação rigorosa definida
pelo Decreto No. 25.138/2004 não sofrendo, à princípio, com o processo de especulação imobiliária. Com o objetivo de
entender como esses palacetes eram implantados no lote, sua complexa planta e o jogo de volumes, foi realizada a
modelagem digital da edificação. Dessa forma, entendemos melhor como esses palacetes guardam parte da memoria
da cidade e, ao mesmo tempo, colaboramos com o seu registro e documentação. Essa modelagem ocorreu como parte
do trabalho da Disciplina de Projeto de Edificações III da UFPB, que tem como objetivo desenvolver um projeto em um
conjunto arquitetônico de valor histórico–patrimonial no perímetro do Centro Histórico da cidade.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Produção dos palacetes ecléticos na Paraíba foi impulsionada principalmente pela economia do algodão no início do
século XX, tendo em vista que essa tipologia habitacional era adquirida por fazendeiros e pessoas de grande poder
aquisitivo. Essas edificações foram implantadas, em sua maioria, nos dois principais eixos de expansão da cidade: na
Figura 1. Perspectiva Avenida João Machado, aberta em 1910, caracterizando-se como o Boulevard da cidade e, no outro eixo, sentido
Fonte: AZEVEDO e PANET (2014) Tambiá, que possuía ligação com a Avenida Trincheiras através da Avenida Maximiano de Figueiredo.
Os Palacetes eram próximos dos espaços públicos como a Praça da Independência e a Praça Venâncio Neiva, entre
eles o que morou o presidente João Pessoa. Sobre esse palacete, Rodrigues e Moura Filha (2013) explicam que essa
edificação possui telhado de inspiração normanda, e ornamentação Art. Nouveau nos terraços e esquadrias da fachada
principal (Figura 2). Essa implantação de casa solta no lote com recuos laterais e frontais generosos (Figura 7) e
próximos às praças e áreas de lazer era característica da nova forma de morar da elite, influenciada diretamente por
questões sanitaristas e por uma necessidade de vivenciar os espaços públicos. Segundo Rodrigues e Moura (2013)
uma das características dos palacetes era a planta formada por uma geometria complexa que resultava num jogo de
volumes dinâmicos enriquecidos por planos variados de coberta. As varandas e terraços projetados assumem a função
de comunicação com o espaço externo e mirantes privilegiados. Rodrigues e Moura Filha (2013) destacam que:
“O programa inclui novos usos da classe abastada da época como distintas salas de estar,
espera, visita e de jantar; jardim de inverno, sala de música, mirante, gabinete, engomados,
Figura 2. Fachada Principal. Figura 3. Torre da edificação Figura 4. Detalhe da Escada. quarto de hóspedes, vestiário. Também surgiram a garagem e dormitório dos empregados, mas
Fonte: AZEVEDO e PANET (2014) Fonte: AZEVEDO e PANET (2014) Fonte: AZEVEDO e PANET (2014) estes, em geral, não estavam no corpo principal da casa, mas em construções anexas, então
denominadas de edículas. A comunicação com o exterior acontecia pelas varandas cobertas,
terraços e alpendres, e foi visto que alguns palacetes ainda usam estes como circulações
externas.” (RODRIGUES E MOURA FILHA, 2013, p. 09)
MATERIAIS E MÉTODOS
O levantamento arquitetônico (plantas em DWG) do palacete fornecido pelo IPHAEP (Figuras 5 e 6) foi fundamental
para entender como as intervenções posteriores alteraram a configuração original do palacete. Para comprovar essas
modificações e compreender os detalhes existentes, algumas visitas à edificação foram necessárias para sanar as
dúvidas e comprovar as informações. Durante as visitas in loco foi feito o registro fotográfico do exterior e dos detalhes
internos. Na modelagem do Palacete, foi utilizado o software Google Sktechup8 Pro (Figura 1), que permitiu uma maior
precisão estrutural de sobreposição das paredes do 1º pavimento sobre aquelas localizadas no térreo. Outra grande
Figura 5. Planta Baixa do pavimento superior. Figura 6. Planta Baixa do Térreo. riqueza pode ser registrada, a escada central da edificação, toda feita em madeira, ainda em bom estado de
Fonte: IPHAEP Fonte: IPHAEP
Editado por : AZEVEDO e PANET (2014)
conservação (Figura 4). A edificação ainda possui uma torre frontal (Figura 3) que se projeta em direção ao acesso da
Editado por : AZEVEDO e PANET (2014)
edificação marcando a entrada principal e, em sua parte superior, servindo de mirante privilegiado para a Praça da
Independência.
CONCLUSÕES
O processo de modernização da cidade no século XX revela como a elite buscava se diferenciar das demais camadas
sociais, através de uma tipologia habitacional típica do ecletismo vigente em todo País. Para a cidade de João Pessoa,
em plena expansão urbana, essa tipologia “Palacete” aparecia como uma nova forma de morar. A modelagem digital do
Palacete 92 nos ajudou a compreender a sua configuração espacial, sua disposição estrutural, seus detalhes
construtivos e sua implantação. E, para além do nosso objetivo, nos revelou os melhores ângulos a serem valorizados
num possível processo de requalificação desse patrimônio. Assim, procuramos mostrar a importância desse registro e
Figura 7. Planta Baixa do Térreo.
documentação para o acervo histórico e arquitetônico da nossa cidade. Nesse caso, o registro e a documentação de um
Fonte: IPHAEP exemplar de valor parece ser mais duradouro que a própria edificação. Essa permanece em estado iminente de
Editado por : AZEVEDO e PANET (2014) desaparecimento, mesmo tendo a condição de bem tombado. Assim, a documentação através do modelo digital revela
a necessidade de valorizar e cuidar do nosso patrimônio.
RESULTADOS E DISCUSSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os resultados foram satisfatórios, tendo em vista o objetivo de contribuir com o registro de GUEDES, Kaline Abrantes. O ouro branco abre caminhos: O algodão e a modernização do espaço urbano da Cidade
um patrimônio tombado pelo IPHAEP. A maior dificuldade esteve relacionada à da Parahyba (1950-1924). Dissertação (mestrado). Natal, 2006
compatibilização entre o levantamento fornecido pelo IPHAEP e a situação real, tornando a REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999.
modelagem do palacete complexa e, um tanto, imprecisa. Para uma definição real devemos RODRIGUES, Artur, M.V; MOURA FILHA, Maria Berthilde. A Elite e seus palacetes: Ecletismo e modernidade em João
efetuar um levantamento mais preciso. Como investigação arquitetônica o exercício foi de Pessoa no século XX. João Pessoa, 2013.
grande importância, nos revelou alguns segredos da intimidade doméstica de um período Modelagem Digital do Palacete: Aryan Azevedo, Anderson Freitas, Pedro Paulino, Rickson Carvalho, 2014
áureo para a história da cidade. IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico do Estado da Paraíba
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371
PROJETO “INVENTÁRIO ARMANDO DE HOLANDA”
DIGITALIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ACERVOS DE ARQUITETURA
Patricia Ataíde Solon de Oliveira
Clarissa de Carvalho e Silva
Kamila Cavalcanti Silva
ABSTRACT
The collection of documents from the Armando de Holanda Cavalcanti’s office, which was donated by the
architect’s family to the Architecture and Urbanism Department of Universidade Federal de Pernambuco, is
comprised of around 1500 documents, containing architecture, urbanism and landscaping designs,
developed over the years of operation of his office. The entire collection was in the process of deterioration,
due, mainly, to inadequate storage conditions to which it was subjected. Therefore, it was urgent an
initiative that promotes not only the conservation of this material, but also its dissemination, encouraging
new research projects and recognition of the heritage value of modern architecture in Pernambuco. In
addition to the technical for blueprints conservation, which include cleaning and small repairs, the cultural
project aims to scan part of the collection, creating a digital archive containing the most relevant works of
this architect and also a web site, in which works and biographical information of the architect will be
available.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os acervos iconográficos são uma peça essencial para a pesquisa de arquitetura e urbanismo. Mas, apesar da evidente relevância deste
tipo de material para a memória a cidade, em Recife - PE, estas coleções geralmente encontram-se em franco processo de destruição,
sendo constantemente negligenciadas pelas instituições que as detém. Digitalizar este material traria grandes benefícios tanto para a
difusão de informações quanto para a preservação do material, já que, promove, entre outros benefícios, diminuição do seu manuseio.
Segundo Vieira (2013. P. 19) “A política de digitalização dá prioridade à manutenção de seu acervo para consulta on-line de dados,
Figura 2. Remoção de fita adesiva com auxílio de bisturi. Fonte: principalmente para atender a demandas de pesquisa daquelas que são consideradas como coleções de grande procura.”
autoras Mesmo que o caráter pioneiro destas experiências ainda tragam alguns problemas operacionais, como aponta Gumlich, “Os desafios
desse setor são grandes, uma vez que as técnicas de conservação para as mídias digitais ainda estão sendo testadas, em muitos casos,
pela primeira vez.” (2013. P. 23, a existência deste tipo de iniciativa que proporciona a preservação de valiosos registros de arquitetura, até
então esquecidos nos arquivos de diversas instituições, geraria excelentes resultados, uma vez que, ainda não existe na cidade do Recife
um centro de documentação específico de arquitetura capaz de captar os acervos de arquitetura originais, conservá-los e disponibilizá-los
como fonte de pesquisa.
MATERIAIS E MÉTODOS
• Os projetos encontram-se inicialmente acondicionados em tubos de papelão. Dentre eles há uma série de sujidades que interferiram
negativamente nas pranchas (Figura 1).
•O processo de conservação do acervo inicia-se na sala de higienização, onde se confere a quantidade de pranchas e é feita a
identificação provisória das mesmas utilizando um lápis 6B, cuja ponta macia não danifica o papel.
• Após há a higienização e realização de pequenos reparos nas pranchas, o qual envolvem limpeza das mesmas com trincha – para
retirada de sujidade superficial, e com bisturi – para sujidades aderidas ou fitas adesivas. (Figura 2)
Figura 3. Remoção de sujidades com água deionizada. Fonte: • O algodão umedecido em água deionizada é utilizado para retirada de manchas restantes (Figura 3), por fim, são umedecidos cotonetes
autoras em álcool ou acetona para complementar a limpeza. Os reparos são feitos com fita de restauro (Figura 4).
• Após estes procedimentos as pranchas seguem para a digitalização. Para esta etapa foi utilizado um scanner do tipo Colortrac Smartlf
SC 42, onde foram gerados dois arquivos: um em formato .JPGE e outro em formato .TIFF. (Figura 5). Parte do material digital será
disponibilizado em uma página da web.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este projeto abre uma importante discussão a respeito da conservação e valorização do patrimônio arquitetônico moderno em
Pernambuco. É de extrema importância reconhecer que o acervo digital em nenhuma circunstância substitui o acervo de documentos
originais. O projeto busca também tornar mais acessíveis as informações sobre o arquiteto por meio de uma página na web, tornando-se
um dos primeiros passos para uma ligação das tecnologias digitais com a história da arquitetura moderna em Pernambuco. Diante do
imenso acervo de projetos deixado pelo escritório de Armando de Holanda, torna-se evidente que o autor do célebre “Roteiro para
construir no Nordeste: Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados” ainda não recebeu o merecido reconhecimento por sua
contribuição como profissional liberal. Esta iniciativa pretende, sobretudo, estimular novos estudos e pesquisas acerca de produção deste
arquiteto, através da fácil difusão de informações promovida pela criação de um acervo digital.
Figura 4. Realização dos reparos com fita de restauro. Fonte:
autoras.
CONCLUSÕES
É necessário registrar nosso agradecimento à equipe do Laboratório da Imagem de Arquitetura e Urbanismo (LIAU), envolvida no
desenvolvimento do projeto Cultural Inventário do Arquiteto Armando de Holanda sobretudo, a produtora cultural Guilah Naslavsky e a
coordenadora Adriana Freire. Também aproveitamos este espaço para agradecer o envolvimento de outras instituições que contribuem
para o desenvolvimento deste projeto: A Universidade Federal de Pernambuco através do Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Urbano (MDU) e Laboratório de Tecnologia do conhecimento (LIBER); a Fundação Joaquim Nabuco; e ao Governo do
estado de Pernambuco, pelo fomento, através do Edital FUNCULTURA 2013, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco (FUNDARPE).
REFERÊNCIAS
GUMLICH, Albrecht. Coleções de modelos tridimensionais de Arquitetura e seus cuidados: conservação, abrigo e acondicionamento. Pós, São Paulo, n. 34, vol. 20, p.
12-32, Dez.2013.
Figura 5. Processo de digitalização. Fonte: autoras VIEIRA, João. O sistema de informação e questões acerca da conservação de acervos de arquitetura: os casos do Sipa e do Forte de Sacavém, em Portugal. Pós,
São Paulo, n. 34, vol. 20, p. 12-32, Dez.2013.
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João
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372
MODELO DIGITAL DO FAROL DO CABO BRANCO
MODELAGEM TRIDIMENSIONAL COMO FORMA REGISTO E COMPREENSÃO DO ESPAÇO
Ana Paula Paluszkiewicz Hermann - Graduanda em Arquitetura e Urbanismo na UFPB
Natália Luna da Silva - Graduanda em Arquitetura e Urbanismo na UFPB
Prof Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro
ABSTRACT
This poster presents the results of supervised practice in undergraduate degree of Architecture and Urbanism at the
Federal University of Paraíba, in the school year of 2013.1, under the guidance of Prof Dr. Aristóteles Lobo de
Magalhães Cordeiro..). Aimed to generate a three-dimensional digital model of the Cabo Branco Lighthouse and its
surroundings that could be shared across the Internet to contribute to the dissemination and preservation of such an
important and symbolic building of the national heritage.
RESUMO
Este poster apresenta o resultado da disciplina Estágio Supervisionado do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Paraíba, no período letivo de 2013.1, sob a orientação do Prof. Dr. Aristóteles Lobo de
Magalhães Cordeiro. Teve como objetivo gerar um modelo tridimensional digital do Farol do Cabo Branco e de seu
entorno que pudesse ser compartilhado através da Internet de forma a contribuir para a divulgação e preservação de
uma edificação tão importante e simbólica do patrimônio histórico nacional.
INTRODUÇÃO
O Farol do Cabo Branco, localizado na ponta do bairro de mesmo nome está localizado na parte sul de João Pessoa,
Estado da Paraíba. A ponta do Cabo Branco é um acidente geográfico que juntamente com o ponto mais oriental das
Américas, a Ponta do Seixas, tornaram-se símbolo da cultura paraibana, o que levou a criação do famoso slogan “Onde
o sol nasce primeiro”.
O projeto do Farol do Cabo Branco foi o vencedor de um concurso público de arquitetura, restrito a arquitetos e
engenheiros da Paraíba em 1971. Foi escolhido por unanimidade o projeto do Arquiteto Pedro Abrahão Dieb, então
Figura 1. Planta de locação e coberta.
Fonte: Arquivo pessoal
professor da Universidade Federal da Paraíba. O farol foi inaugurado no dia 21 de abril de 1972 às 21 horas, pelo
governador Ernani Sátiro, mesma data fixada pelo presidente da República Emílio Garrastazu Médici para o início das
comemorações, em todo País, dos 150 anos de independência.
A ideia era uma torre triangular de concreto armado, com uma marquise em seu terço médio em forma de estrela de
três pontas, com 17,75 metros de altura e que, a certa distância, lembrava ao navegante um castiçal encimado por uma
vela, cuja chama orienta os navegantes durante a noite. Uma vista de topo mostrava ao observador uma estrela de seis
pontas, formada pela projeção de sua marquise triangular sobre um passeio também de mesma forma.
Tanto a base e a marquise, quanto a própria torre são de concreto armado, uma vez que, o concreto resiste aos
esforços de compressão, e as armaduras de aço dispostas de acordo com o fluxo de esforços internos, absorve a
tração. Foi através desse conjunto de materiais que esta pôde ser facilmente moldável, adaptando-se aos tipos de
formas e volumes, permitindo liberdade à concepção arquitetônica. Além de ser resistente ao fogo, às influências
atmosféricas e ao desgaste mecânico, o concreto resiste bem a grandes ciclos de carga. Atualmente a torre possui
revestimento cerâmico e esquadrias de alumínio, acreditamos que seja para evitar o aparecimento de fissuras no
concreto e o baixo custo de manutenção que estes materiais demandam.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste estudo, fomos à Capitania dos Portos, onde obtivemos informações históricas e de localização,
que serviram de base para o nosso projeto, além de uma planta de implantação e coberta e que, a partir desta,
juntamente com o levantamento físico, foi produzida a maquete eletrônica. A partir disto, foi possível construir um
modelo digital através do programa 3D Google Sketchup. O arquivo organiza-se em camadas (layers) que podem ser
acionadas ou desligadas, fazendo com que fiquem visíveis (ou não) os diversos elementos arquitetônicos, como a figura
03 em que as paredes externas foram movidas para cima para a visualização da escada. O entorno do terreno foi
capturado através do Google Earth e feito através das curvas de nível disponibilizada no site da prefeitura de João
Pessoa.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
Figura 3. Decomposição do modelo tridimensional em
Figura 2. Perspectiva do entorno a partir do mar.
paredes, esquadrias, coroamento, escada e base.
Com a finalização da modelagem, percebemos que a representação foi satisfatória e permite uma visualização
Fonte: Arquivo pessoal. completa da edificação, principalmente pela possibilidade de obter vistas acima da altura do nosso campo de visão,
Fonte: Arquivo pessoal.
além da completa decomposição do modelo. O registro do modelo tridimensional do Farol do Cabo Branco é uma
forma simples e didática de preservar esta obra de grande importância, que encontra-se disponível para download
gratuito no site 3d Warehouse (3dwarehouse.sketchup.com).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARINHA DO BRASIL: DIRETORIA DE TELECOMUNICAÇÕES DA MARINHA. BOLETIM DE ORDENS E NOTÍCIAS
Nº 214 DE 19 DE ABRIL DE 2002, fotografado em 25/07/2013 na Capitania dos Portos da Paraíba.
Figura 4. Perspectiva do Farol a partir da vista lateral. Figura 5. Perspectiva do Farol a partir da vista frontal.
Fonte: Arquivo pessoal. Fonte: Arquivo pessoal.
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João
Pessoa.PB
de 5 a 7 de novembro de 2014
373
CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFPB
UM MODELO GEOMÉTRICO DIGITAL DA CONSTRUÇÃO ORIGINAL
Ana Paula Paluszkiewicz Hermann – Graduanda de Arquitetura e Urbanismo na UFPB
Natália Luna da Silva – Graduanda de Arquitetura e Urbanismo na UFPB
Prof. Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro
ABSTRACT
This poster presents the results of supervised practice in undergraduate degree of Architecture and Urbanism at the Universidade
Federal da Paraíba, in the school year of 2014.1, under the guidance of Prof Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro. Aimed to
generate a three-dimensional digital model of the original buildings of UFPB Technology Center that are experiencing a
decharacterization process, in order to contribute to the dissemination and preservation of a set of buildings in the modern
architecture in Brazil.
RESUMO
Este poster apresenta os resultados do estágio supervisionado em curso de graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal da Paraíba, no ano letivo de 2014.1, sob a orientação do Prof Dr. Aristóteles Lobo de Magalhães Cordeiro. Com o objetivo de
gerar um modelo digital tridimensional dos edifícios originais da UFPB Centro de Tecnologia que estão experimentando um
processo de descaracterização, a fim de contribuir para a divulgação e preservação de um conjunto de edifícios da arquitetura
moderna no Brasil.
INTRODUÇÃO
Localizado dentro do Campus I da Universidade Federal da Paraíba, na porção sudeste da cidade de João Pessoa, o
Figura 1 Vista geral do Centro de Tecnologia projeto do Centro de Tecnologia idealizado por Leonardo Stuckert deu inicio à ampliação do Campus para a área
Fonte: Arquivo Pessoal tecnológica, abrigando as instalações dos novos cursos oferecidos pela instituição. A arquitetura moderna da cidade de
João Pessoa nas décadas de 1960-70, tem mostrado valores intrínsecos merecendo ser divulgada no âmbito nacional
considerando-se seu valor arquitetônico, artístico e memorial. Nosso trabalho se constitui em um registro histórico
importante da produção arquitetônica moderna na UFPB não só pela qualidade arquitetônica destas edificações, mas
também pelo acentuado estado de descaracterização em que algumas delas se encontram e as reformas que poderão
vir a sofrer futuramente.
MATERIAIS E MÉTODOS
Em primeira instância, buscou-se registros do projeto idealizado por Stuckert na Prefeitura Municipal de João Pessoa e
na Prefeitura Universitária, onde foram encontradas algumas plantas já digitalizadas em arquivo de AutoCAD.
Verificando que o material encontrado não condizia com a execução do projeto em questões primordiais (como
dimensões e locação de elementos estruturais), optou-se então por ir a campo efetuando-se o levantamento de
medidas in loco. Buscando identificar quais as mudanças ocorridas ao longo dos anos, ouvimos funcionários e
professores antigos do Centro de Tecnologia que, através de suas memórias, nos possibilitaram reconstruir a forma e
aparência das edificações com o máximo de fidelidade possivel. Destacam-se ainda as dificuldades em saber com
Figura 2: Centro Administrativo. certeza da originalidade do projeto, uma vez que muitas paredes receberam revestimentos novos, fechamentos para
Fonte: Arquivo Pessoal condicionamento artificial de ar, ampliações e supressões de espaços e saídas existentes.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
Após analises de plantas e medições, foi possivel contruir um modelo tridimensional do projeto de Stuckert para o
Centro de Tecnologia. Para isto, usou-se o programa de modelagem 3D Google SketchUP. Nele estão contidas todas as
informações descritas neste memorial, bem como materiais utilizados, modelos de luminárias, dutos de iluminação e
esquadrias da época. O modelo organiza-se em camadas (layers) que podem ser acionadas ou desligadas, destacando
visiveis os diferentes elementos arquitetonicos da construção. Todos os elementos presentes no modelo estão
reconstruidos fielmente com o material existente e pesquisado, como estruturas, revestimentos, bancos e esquadrias. A
utilizãção desta ferramenta de modelagem em 3D proporciona precisão de dados e detalhes construtivos com materiais
e dimensões que podem ser consultados a qualquer momento. Dessa forma, acredita-se na importancia desse software
para a preservação, registro e documentação histórica do cojunto construido e seus edificios.
Figura 3. Vista interna do Centro Administrativo Figura 4. Vista interna do Centro Administratico REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fonte: Arquivo Pessoal Fonte: Arquivo Pessoal
Prefeitura Municipal de João Pessoa
Prefeitura Universitária
Plano Piloto
oto da Construção do Centro de Tecnologia da UFPB
Figura 7. Vista entre os blocos B e C Figura 8. Vista do centro administrativo para os blocos de aula Figura 9. Vista entre os blocos D e E. Centro administrativo ao fundo
Fonte: Arquivo Pessoal Fonte: Arquivo Pessoal Fonte: Arquivo Pessoal
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João
Pessoa.PB
de 5 a 7 de novembro de 2014
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TECNOLOGIAS DIGITAIS E A DOCUMENTAÇÃO
DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
Darlene Karla Araújo
Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - UFBA
darlenekaraujo@hotmail.com
ABSTRACT
This article proposes to describe the experience of using the technology of Autodesk 123D Catch software to
obtain the geometric model of a storage silo at Industrias Reunidas Francisco Matarazzo, in João Pessoa,
Paraíba. The process began with getting photographs, which some care has been taken for the success of the
geometric model generated. With photographs overlapping around the silo and covering it entirely, geometric
modeling was performed automatically by the program. After performing minor edits, to its improvement, the
result was a faithful representation of the object in form, detail, color, texture and difference of the level. However,
the absence of distance around the object and the absence of photographs of the upper parts generated a partial
geometric model. The object was exported to AutoCAD, resulting in wireframe triangular mesh, where it was
possible to realize new editions. For the case of industrial heritage, in particular, the use of 123D Catch software
for documentation proved to be of great value, considering mainly the ability to shoot integrally smaller pieces.
Keywords: Industrial heritage, 123D Catch. Digital Technologies
INTRODUÇÃO
Este artigo analisa a adoção de novas tecnologias para a rápida obtenção de dados e realização de cadastros
Figura 1 – Método de obtenção de fotografias Figura 2 – Grupo de fotos selecionadas para upload do patrimônio industrial paraibano. Para tanto, a tecnologia empregada foi o software 123D Catch, da Autodesk
a serem processadas pelo 123D Catch no programa 123D Catch V.3.0.0.54 / 2014, utilizando como objeto um silo de armazenamento da antiga sede das Indústrias Reunidas
Fonte: 123D Catch, 2014 Fonte: Gerado no 123D Catch, pela autora, 2014. Francisco Matarazzo em João Pessoa/PB. Com a ferramenta realizou-se um modelo geométrico, o qual foi
exportado para o AutoCAD e obteve-se uma animação em formato avi. A escolha do programa justificou-se pela
facilidade de acesso, pois é gratuito e de fácil operação. Dificuldades foram encontradas, pois para o sucesso
da modelagem geométrica, é necessária a obtenção de fotografias em torno do objeto, sendo que, cada tomada
deve cobri-lo na íntegra, o que ficou impossibilitado por não haver recuo suficiente para o posicionamento das
estações fotográficas, nem condições que possibilitassem fotografar partes superiores do silo.
CONCLUSÕES
A utilização das tecnologias digitais da documentação do patrimônio, já tem sua eficácia comprovada conforme
mostram diversos trabalhos, (NOGUEIRA, 2010 e GROETELAARS, 2005). Assim, o objetivo deste, gerar um
modelo geométrico de elemento que compõe o patrimônio industrial, foi alcançado.
Se possível obter fotografias conforme as instruções do programa, a geração de modelos geométricos de
objetos arquitetônicos, no 123D Catch é satisfatório. Caso contrário, os resultados obtidos são parciais, o que
ocorreu em nosso exemplo. Conclui-se que, para a documentação de edificações implantadas isoladas no
Figura 7 – Resultado da modelagem Figura 8 – Modelo geométrico exportado para o AutoCAD em TIN terreno ou objetos de menores dimensões, o programa pode ser de grande utilidade. O emprego da técnica
geométrica após edição no 123D Catch Fonte: Visualização gerada no AutoCAD pela autora, 2014. poderá possibilitar a documentação de sítios complexos, a obtenção rápida de medidas, entre outros.
Fonte: Gerado no 123D Catch, pela
autora, 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
123DCATCH. Disponível em:< http://www.123dapp.com/catch>. Acesso em jul de 2014.
GROETELAARS, N. J. Um estudo da fotogrametria digital na documentação de formas arquitetônicas e urbanas. 275 f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.
NOGUEIRA. Fabiano, Mikalauskas de Sousa. A representação de sítios históricos: Documentação Arquitetônica Digital.
215 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS | João
Pessoa.PB
de 5 a 7 de novembro de 2014
375
ISBN 978-85-237-0903-7