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Guia de leitura da obra de Gilles Deleuze1

Felipe Fernandes
felipefernandesfc@gmail.com

Este texto foi feito para aqueles que possuem algum interesse na obra de Gilles Deleuze,
mas não sabem muito bem por onde começar ou como proceder em sua leitura. Não é um guia
definitivo; pretendo somente apresentar algumas indicações que considero preciosas para
começar a se aventurar no deleuzismo. Primeiro, vejamos algumas considerações sobre a obra
deleuziana.

A obra deleuziana

Deleuze foi um filósofo francês de uma geração de célebres pensadores, como Michel
Foucault e Jacques Lacan. Como seus contemporâneos, possui uma extensa obra, sendo
composta por quase trinta livros e uma série televisiva gravada para ser transmitida depois da sua
morte. Uma das características mais marcantes da obra deleuziana é a heterogeneidade das
temáticas e referências que seus livros abarcam, já que Deleuze escreveu monografias sobre
filósofos, sobre literatura, pintura, cinema etc., além de livros sobre a filosofia. Fora esses livros,
a obra deleuziana é composta por algumas coletâneas de artigos e entrevistas, e um livro recém-
publicado com cartas e outros textos. Encontramos ainda pela internet alguns cursos
universitários que Deleuze ministrou. Outra característica notável de sua produção é o fato de
Deleuze ter escrito uma série de livros em parceria com o psicanalista Félix Guattari, lembrando
algumas colaborações célebres na história da filosofia como a de Theodor Adorno e Max
Horkheimer.
Sua obra é comumente divida em três fases. A primeira é a fase das monografias, que se
dá prioritariamente nos anos 60 e é constituída de monografias sobre diversos filósofos (Hume,
Kant, Nietzsche, Bergson e Espinosa), assim como sobre escritores (Proust e Sacher-Masoch).
Essa fase tem seu término no lançamento de Diferença e repetição e Lógica do sentido, seus
primeiros livros autorais de filosofia. A segunda fase, que se dá nos anos 70, é marcada pela
parceria com Guattari e pelo forte interesse político de Deleuze, que de fato publicou poucos

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Publicado em 22 de junho de 2016 no site Razão Inadequada.
Disponível em: https://razaoinadequada.com/2016/06/22/guia-de-leitura-da-obra-de-gilles-deleuze

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livros nessa época, embora tenha realizado diversas entrevistas, reunidas em suas coletâneas. A
terceira fase vai dos anos 80 até sua morte nos anos 90 e tem como foco os escritos sobre estética
(pintura e cinema, especialmente) e uma pequena retomada na produção de monografias sobre
pensadores.
Quase todos os seus livros foram traduzidos, o que torna relativamente fácil o acesso a
qualquer obra de Deleuze em português. No entanto, alguns livros se encontram esgotados e sem
novas edições, enquanto alguns outros só possuem edição portuguesa, dificultando o acesso
material ao livro. Apesar de “popular”, Deleuze consta pouco pelas bibliotecas afora, de modo
que a internet é o melhor meio de se obter contato com seus livros, tanto em português como em
francês – lembramos aqui a importância de sempre que possível ler o autor no original ou
cotejando traduções. Para os livros ainda não traduzidos é possível encontrar pela internet
algumas traduções independentes que podem ajudar em uma primeira aproximação. No geral, as
traduções de Deleuze para o português não contam com muitos problemas – assim, essa questão
não configura um impedimento para quem quer lê-lo, diferentemente da leitura de um
Heidegger, por exemplo. Lembro que baixar livros pela internet é pirataria; e embora eu goste da
ideia de navegações clandestinas e saques abruptos, não posso dizer que indico a realização
desse ato ilegal, ficando a critério do leitor realizar ou não a pirataria virtual como uma ótima
solução para a obtenção de fontes de conhecimento e informação.

Como ler Deleuze?

Essa é uma pergunta fundamental. Como ler Deleuze? De fato, trata-se de uma questão
bem particular, já que cada pessoa busca algo diferente em cada leitura que realiza. Para quem
está preocupado em fazer uma boa leitura filosófica, acredito que a melhor forma seja sempre
abordar um autor procurando entender a forma como ele pensa, como seus conceitos são
construídos e que problemas eles envolvem. Esse é justamente o modo como Deleuze entendia a
leitura de outro autor, buscando compreender a intuição fundamental que guiava o
desenvolvimento de seu pensamento. Mais que isso, nenhuma leitura é desinteressada, é sempre
uma leitura engajada que pergunta algo ao autor. Deleuze era conhecido pela maneira como
“enrabava” os autores, utilizando-se do pensamento alheio para responder perguntas que não
estavam claramente presentes nele.
E por onde começar a leitura da obra de Deleuze? Existem basicamente duas opções:
começar pelo primeiro livro e seguir até o último fazendo o percurso histórico, ou partir de um

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livro específico e daí ir para os outros mais próximos de sua temática. O primeiro caso tem a
vantagem de nos apresentar passo a passo o desenvolvimento do pensamento de Deleuze,
indicado para aqueles que buscam essa leitura sistemática da obra completa e possuem tempo
disponível. O ponto fraco desse tipo de leitura é que nem sempre é o percurso mais empolgante,
pois às vezes nos deparamos com um livro na ordem cronológica que gostaríamos de pular ou ler
depois, mas temos que ler para seguir essa ordem. No segundo caso, parte-se de uma obra que
pareça mais interessante e a partir daí vão sendo lidos os outros livros que possuam mais
afinidade com ela. O problema, neste caso, é que algumas obras apresentam uma dificuldade que
seria pormenorizada pela leitura de livros publicados anteriormente, exigindo o esforço de saída
e retorno do livro para compreendê-lo integralmente.
Considero essa segunda forma de abordar Deleuze a mais interessante, pois nos coloca
diretamente em contato com algo que nos interessa. O primeiro caso seria mais interessante para
aqueles que já possuem uma noção da obra e resolveram estudá-la globalmente. Nesse sentido, é
importante começar a ler Deleuze tendo em vista duas questões: buscar o livro deleuziano de
conteúdo que lhe seja mais intrigante, e não se esquecer que todo livro de Deleuze está
trabalhando questões pessoais do filósofo. É por isso que os livros dele sobre cinema, por
exemplo, apesar de falar sobre a arte cinematográfica, estão trabalhando conceitos e questões
como a noção bergsoniana de movimento, o pensamento e a ação. Dito isso, faço uma lista
abaixo de sugestões e comentários sobre os livros deleuzianos.

MONOGRAFIAS – as monografias de Deleuze sobre outros filósofos são as mais


indicadas para se ler inicialmente. Além de serem simples e claras, apresentam as bases de seu
pensamento. Os livros sobre Nietzsche (Nietzsche e Nietzsche e a filosofia) e sobre Bergson
(Bergsonismo) são os mais indicados.

O ABECEDÁRIO – uma ótima introdução é o famoso Abecedário Deleuze, vídeo-


entrevista para Claire Parnet que encontramos na internet com facilidade. Além de introduzir
algumas questões do pensamento deleuziano, tem a vantagem de nos apresentar a figura do
filósofo.

COLETÂNEAS – as coletâneas de artigos e entrevistas são altamente indicadas,


igualmente. Com textos curtos e explicativos sobre diversas questões, elas nos permitem ter uma
noção geral da obra de Deleuze. Indico a leitura das introduções que ele escreveu para edições
estrangeiras de seus livros, que ajudam a compreender a questão central de cada livro e estão

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publicadas majoritariamente em Deux régimes de fous, infelizmente sem tradução ainda.
Também indico o texto Sobre a filosofia e Carta a um crítico severo, ambos publicados em
Conversações. Este último texto é talvez a melhor introdução ao pensamento de Deleuze feito
por ele mesmo em resposta a um crítico ressentido.

TEMÁTICOS – para aqueles que possuem conhecimento em psicanálise, Apresentação


de Sacher-Masoch e O anti-Édipo são livros fundamentais, este último mais difícil que o
primeiro. Já no campo das artes, Deleuze escreveu sobre Proust em Proust e os signos; com
Guattari, escreveu Kafka: por uma literatura menor; escreveu sobre a pintura de Francis Bacon
em Lógica da sensação; e também sobre cinema em Imagem-Tempo e Imagem-Movimento.

NÃO INDICAMOS a leitura logo de início de Diferença e repetição, Lógica do sentido e


Mil Platôs. Não só por serem livros mais difíceis conceitualmente, mas também por exigirem
certo entendimento das obras anteriores, especialmente no caso de Diferença e repetição.

Indicações bibliográficas

A seguir, indico alguns livros sobre Deleuze que podem ajudar na compreensão de suas
obras. Lembro que para cada questão que possa surgir durante a leitura é possível pesquisar
artigos, dissertações ou teses separadas que expliquem a temática em questão. Deleuze é um
pensador complexo, com alguns textos bem difíceis, mas a insistência nesses textos nos mostra
um pensamento autêntico e extremamente generoso; basta saber utilizar seus conceitos para além
de problemas já dados para percebermos o nível da criação que sua obra abarca.

DOSSE, FRANÇOIS. Gilles Deleuze e Félix Guattari: biografia cruzada.


Essa biografia é muito indicada. Além de apresentar não só a vida de Deleuze, mas
também a de Guattari, é uma espécie de itinerário intelectual e nos mostra o contexto de
produção e leitura que gerou cada livro de Deleuze. Tem também algumas curiosidades sobre
sua vida, o que não deixa de ser interessante.

MACHADO, ROBERTO. Deleuze, a arte e a filosofia.


Melhor comentário em língua portuguesa sobre Deleuze, escrito por alguém que assistiu
às suas aulas e nos traduziu alguns de seus textos. Roberto Machado introduz o pensamento

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deleuziano de forma sistemática, apresentando seu método, suas questões, suas leituras. Texto
preciso e bem geral.

LAPOUJADE, DAVID. Deleuze, os movimentos aberrantes.


Ótimo texto sobre o deleuzismo, escrito por um aluno seu e editor de suas coletâneas.
Nesse livro, Lapoujade nos apresenta o pensamento de Deleuze partindo daquilo que ele julga
ser sua questão central: os movimentos aberrantes, e com isso percorre seus diversos livros e
conceitos. Tem o mérito de não recorrer à apresentação de Deleuze a partir dos filósofos que ele
leu, mas dos conceitos que produziu.

HARDT, MICHAEL. Gilles Deleuze – um aprendizado em filosofia.


Boa obra de introdução que foca em expor as leituras deleuzianas de Bergson, Nietzsche
e Espinosa. Com a leitura desse livro já é possível se aventurar mais pelas obras autorais de
Deleuze sem medo.

FOUCAULT, MICHEL. Theatrum philosophicum.


Publicado no segundo volume de Ditos e escritos, esse artigo introduz o pensamento
deleuziano a partir dos livros Diferença e repetição e Lógica do sentido. Um belo texto de
alguém próximo de Deleuze e que compreendeu muito bem suas questões centrais.

BADIOU, ALAIN. Deleuze, o clamor do ser.


Diferente de Foucault, Badiou é uma espécie de antípoda de Deleuze, mas que escreveu
esse livro com um belo testemunho de quase proximidade. Apesar de possuir algumas teses que
dizem respeito mais ao seu pensamento que ao de Deleuze propriamente, Badiou nos fornece um
bom livro e nos lembra da importância de ler também aqueles que não concordam com aquilo
que pensamos.

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