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PENTATEUCO
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OS FUNDAMENTOS ÉTICOS E RELIGIOSOS
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DE ISRAEL NO ANTIGO TESTAMENTO
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Samuel Suana
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©2006, Samuel Suana
Título original:
PENTATEUCO - Os Fundamentos Éticos e Religiosos de Israel no Antigo Testamento

ª Reimpressão 201

Todos os direitos reservados por


IBAD
Rua São João Bosco, 1114 – Santana
12403-010 – Pindamonhangaba , SP

da
Telefax – (12) 3642-5188
www.ibad.com.br

PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAÇÕES,


COM INDICAÇÃO DA FONTE.

bi
Impresso no Brasil

Coordenação
Reverendo Mark Jonathan Lemos
oi
Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão revista e corrigida, salvo indicação ao contrário.
Pr
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Dados Internacionais de catalogação na publicação (cip)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Suana, Samuel
PENTATEUCO - Os Fundamentos Éticos e Religiosos de Israel no Antigo Testamento
Ve

Pindamonhangaba: IBAD, 2006

ISBN – 85-60068-00-7

Índice para catálogo sistemático


Pentateuco: Povo de Israel: Antigo Testamento: História: Religião.
da
PENTATEUCO
bi
OS FUNDAMENTOS ÉTICOS E RELIGIOSOS
oi
DE ISRAEL NO ANTIGO TESTAMENTO
Pr
Samuel Suana
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Sobre o livro

Categoria – Religião

Fim da execução – Junho de 2006


ª Reimpressão- +BOFJSPEF

Formato – 16 x 23 cm
Mancha – 12,3 x 19,2 cm

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Tipo e corpo: Garamond
Papel: Offset75/m2
Tiragem: 3 mil exemplares

Impresso no Brasil – Printed in Brazil

Equipe de Realização

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Produção gráfica: Imprensa da Fé
oi
Supervisão: Mark Jonathan Lemos
Pr
Fotolito: MJ Serviços de composição

Produção editorial
Coordenação
Mark Jonathan Lemos
a

Normatização do Texto
Nadirce Barros dos Santos Gregório
nd

RevisãoTeológica
Emerson de Moura Cavalheiro

Revisão de Português
Silvia Helena Siqueira
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Capa
HeitorGalvãoSouzaBeckman

Todas as imagens publicadas neste livro foram cedidas pela Editora Vida

S IQUEIRA
Sumário

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A PRESENTAÇÃO 7
COMO ESTUDAR A DISTÂNCIA 9
INTRODUÇÃO 13
a

UNIDADE I - UM COMEÇO ESPECIAL 15


nd

1. A Bíblia dos Hebreus . ...............................................................17


2. O Começo de Tudo . .................................................................23
3. Os Juízos Universais . ................................................................29
4. Gente Antiga e Importante .......................................................39
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5. Os Continuadores da Promessa . ...............................................49

UNIDADE II - UM POVO ESPECIAL 63


1. Na Periferia das Pirâmides ......................................................65
2. Moisés e sua Missão . ................................................................73
3. Um “Sete de Setembro” Diferente . .........................................81
4. Em Direção à Liberdade ............................................................89
5. A Importância das Leis . ............................................................97

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PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

UNIDADE III - UM ESPAÇO ESPECIAL 107


1. A Casa de Deus .......................................................................109
2. O Significado Espiritual do Tabernáculo . ............................... 119
3. Os Homens com Uniforme Branco . ....................................... 127
4. Os Valores Espirituais dos Sacerdotes .................................... 135

UNIDADE IV - 6.$6-50&41&$*"- 



1. Grãos, Bolos e Animais no Culto ........................................... 143

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2. O Significado Espiritual das Ofertas ..................................... 151
3. Tempos de Celebração: as Festas de Israel . ............................ 157
4. O Deserto: uma Fonte de Lições . ........................................... 167

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5. Uma Geração Diferente .......................................................... 177

C ONCLUSÃO 187
E XERCÍCIOS
oi 189
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 203
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Apresentação

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Em 15 de Outubro de 1958, começavaN a tomar forma o sonho e
a visão dadPT por Deus aos missionários João Kolenda e sua esposa,
Ruth Doris Lemos. Nesta data, nasceu o IBAD, com o objetivo de
proporcionar aos jovens vocacionados a oportunidade de se preparem
a

para melhor servir o Senhor.


Na trajetória destas cinco décadas, o IBAD tem se mantido fiel à
nd

sua missão. Hoje, mais de quatro mil ex-alunos trabalham na Seara do
Mestre como pastores, missionários, evangelistas, autores, conferen-
cistas e em outras áreas do serviço cristão. Estes homens e mulheres
Ve

atuam em todos os estados do Brasil e em 31 nações. O sol nunca se


põe sobre os ex-alunos do IBAD.
Atento às necessidades educacionais da Igreja, o IBAD desenvol-
veu um projeto para atender um público que deseja um maior conhe-
cimento e preparo na Palavra de Deus. Esse projeto é denominado
Curso de Teologia a Distância, apresentado em 24 livros que oferecem
ao estudante a oportunidade de obter uma base sólida para o serviço
cristão.
Essa coleção teológica é fruto de meio século de experiência, tradi-
ção e qualidade no ensino da Palavra de Deus. Os autores dessa cole-
ção são professores e ex-alunos do IBAD, homens e mulheres ativos no

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PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

ministério do ensino teológico, que promovem, dessa forma, a visão e a


missão dessa Instituição.
Este livro foi produzido pelo Pastor e professor Samuel Suana.
Após concluir seus estudos teológicos no IBAD, continuou-os na área
da pedagogia.
O apóstolo Paulo declara em IITm 2.15 – “Procura apresentar-te a
Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem a palavra da verdade”. Tenho certeza que este livro, bem

da
como toda a coleção teológica, será de grande valor para sua edificação
espiritual e seu embasamento na formação ministerial.

Mark Jonathan Lemos

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Diretor do IBAD
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Como estudar a distância

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Caro estudante
Nosso curso a distância foi estruturado com o objetivo de atender
a todos que desejam ter maior entendimento sobre a Bíblia. Para atingir
esse objetivo, tivemos o cuidado de planejar e produzir um material
a

adequado para proporcionar a você a melhor experiência educacional


possível. Nesse planejamento, chegamos à conclusão de que oslivros
nd

deveriam não só ter um bom conteúdo, mas também ser acessível a


todas as pessoas que desejam ter maior conhecimento das Escrituras
Sagradas. Também observamos a necessidade de atender pessoas de
qualquer região do país, com diferentes níveis de conhecimento. A
Ve

partir de tais critérios, desenvolvemos uma coleção de vinte e quatro


livros, a qual se constitui em um curso Médio de Teologia adistância.
Esses vinte e quatro livros, escritos de forma clara e objetiva, a-
presentam, de modo geral, vinte capítulos divididos em quatro unidades.
Em cada unidade e em cada capítulo, há sempre uma introdução para
que o leitor tenha ciência do que estudará naquela unidade e naquele
capítulo. Tudo isso foi realizado com o intuito de facilitar a leitura.
Comesse mesmo intuito, solicitamos que você observe as orientações
para o estudo.

9
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

1- Recomendações para melhor aproveitamento de seu curso


Esse estudo requer atitudes próprias de qualquer estudante, porém
ele tem como objetivo essencial abençoar sua vida cristã e dar-lhe ins-
trumentos para que você desenvolva o ministério cristão com maior
eficácia. Isso implica que serão necessárias, de sua parte, atitudes espi-
rituais corretas, tais como:
1) Ore sempre antes de começar a lição. Isso preparará o seu cora-
ção para receber não apenas as informações, mas principalmente os

da
princípios que serão úteis na sua vida com Deus.
2) Tenha o cuidado de sempre consultar a Bíblia. A leitura bíblica é
primordial e insubstituível. Quanto mais você conhecer a Bíblia pela
leitura diária, mais facilidade terá na compreensão de estudos que lhe

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auxiliarão no conhecimento dela.
3) Tenha sempre uma atitude de humildade. Deus revela verdades
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importantes àqueles que mantém essa atitude em seus corações.
Além desses cuidados, atente também para a dedicação, a disciplina
e a perseverança, atitudes essenciais para a obtenção de êxito em todas
Pr
atividades. Ao iniciar este curso de Teologia, conscientize-se da impor-
tância da manutenção desses princípios para o sucesso de sua aprendi-
zagem. Concentre-se sempre no que estiver fazendo, pois a vida está
no presente. O passado é a fonte das experiências, e o futuro, um tem-
po que deve ser planejado para que, quando transformado em presen-
a

te, possibilite a colheita do que foi plantado, isto é, a obtenção dos


resultados desejados. Se mantivermos tudo isso em mente, teremos
nd

sempre grandes chances de alcançarmos nossos objetivos.

2- Regras Básicas para a Compreensão do Texto


A leitura bem sucedida – compreensão de texto – requer do leitor a
Ve

observância de alguns procedimentos básicos. São eles:


• Leitura do texto - Ao iniciar seu estudo, preste atenção à apre-
sentação do livro e à introdução de cada unidade e de cada capítulo.
Isto é importante porque essas introduções facilitarão sua compreen-
são do texto.
• Leitura de unidades de pensamento - A leitura de palavras, ao
contrário da de unidades de pensamento, faz com que o leitor interpre-
te um texto erroneamente. Isto significa que não devemos ler palavra
por palavra e sim atentar para a idéia geral do texto.
• Conhecimento do vocabulário - O conhecimento do significa-

10
C OMO E STUDAR A D ISTÂNCIA

do das palavras auxilia todo o processo de leitura. Por isso, tenha sem-
pre à mão um dicionário da língua portuguesa e também um dicionário
ou enciclopédia bíblica. É importante que essa consulta ao dicionário
seja feita somente após uma primeira leitura do texto para que você
não corra o risco de fazer uma leitura com interpretação inadequada.
• Leitura de diversos tipos de texto - A diversidade de textos
permite que o leitor não só amplie seus conhecimentos, como também
adquira maior habilidade para leitura. Procure ler outros livros que

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falem sobre o mesmo assunto.

3- Aplicação Pessoal
• Questões para reflexão - Em todos os capítulos, há questões

bi
com o objetivo de levar o estudante a refletir sobre os temas aborda-
dos, bem como fazer uma aplicação dos mesmos à realidade atual.
oi
• Exercícios - No final de cada livro, o estudante encontrará exercí-
cios relacionados a cada capítulo estudado para a verificação do
conhecimento e fixação do conteúdo.
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Introdução

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Este livro apresenta as principais temáticas encontradas na Torá – à
qual damos o nome de Pentateuco (cinco rolos ou livros). A Torá, pri-
meira parte da Revelação escrita, considerada por muitos anos a Bíblia
dos hebreus, foi suporte para gerações que serviram ao Senhor em um
a

passado bem distante. Esta parte da Bíblia foi o norte para a nação de
Israel durante toda a sua caminhada antes do nascimento de Jesus.
nd

Suas orientações ajudaram Israel a cultuar a Deus, a viver em socieda-


de e também a conviver com outros povos. Os princípios norteadores
apresentados no Pentateuco ganham um significado especial no Novo
Testamento, dentro do novo projeto de Deus que foi formar um orga-
Ve

nismo muito maior que a nação de Israel, a igreja.


Devido à importância histórica, cultural e religiosa desta obra para
a nação de Israel e para a Igreja de Cristo, é de fundamental impor-
tância que examinemos esses textos, pois eles nos ajudarão a compre-
ender grandes verdades que devem ser praticadas hoje. O Pentateuco
aparece com outros títulos como: “Lei de Moisés” ou “Lei do Se-
nhor”, pois o próprio Jesus se referiu a ele assim, justificando a im-
portância deste texto sagrado. Em seus dias, os judeus debruçavam-se
sobre ele para examiná-lo, transformando-o em ensino, aplicando-o
às suas reais necessidades.

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PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Neste trabalho, refletiremos sobre os principais assuntos encontra-


dos nos cinco primeiros livros de nossa Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio. Estudaremos a criação e queda do homem,
a formação da nação de Israel e os fundamentos da fé judaica, entre os
quais destacamos: o tabernáculo, as leis, os sacerdotes, as festas de
Israel e os sacrifícios oferecidos na antiga aliança. Faremos também
esforço para perceber como aquelas informações que se distanciam de
nós por mais de 3.500 anos se relacionam com nossa fé e prática no

da
começo do terceiro milênio da era cristã. É importante ressaltar que
este livro foi elaborado com ênfase nos pontos mais relevantes desta
parte das Escrituras, pois nosso objetivo maior é que ele sirva de estí-
mulo e base para estudos mais aprofundados.

bi
Para facilitar esse primeiro contato do estudante com o assunto,
dividimos o livro em quatro unidades. Com exceção da terceira unida-
oi
de, todas elas apresentam cinco capítulos. Na primeira unidade, abor-
daremos os começos relatados no livro de Gênesis. Na segunda, trata-
remos da formação do povo de Israel. Na terceira, discutiremos a res-
Pr
peito do espaço sagrado e seus ministros. E na quarta e última unida-
de, abalizaremos o culto e sua repercussão no dia a dia da nação de
Israel.
Esperamos que, ao concluir o estudo deste livro, o estudante dedi-
que tempo examinando a palavra de Deus, pois o Senhor Jesus disse
a

que a Palavra de Deus é o fundamento sólido para toda construção


espiritual (Mt 7.24 e 25).
nd
Ve

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UNIDADE I

UM COMEÇO ESPECIAL

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Nesta unidade, estudaremos as características gerais do Pentateuco,
a formação e as finalidades deste conjunto de livros tão importante
do Antigo Testamento. Em seguida, discutiremos o livro de Gênesis,
o primeiro livro da Bíblia, e titulado assim pelos tradutores do texto
a

hebraico para a língua grega em um documento chamado Septuaginta.


Esse livro bíblico, cujo título significa origem, começo, aguça a curio-
nd

sidade a respeito de como foi o início dessa fase da raça humana e


auxilia-nos a refletir sobre nossa própria existência e a finalidade de
estarmos aqui.
O livro de Gênesis cobre um período muito longo, mais ou menos
Ve

de dois a três mil anos. Nesse livro, são registrados, do capítulo 1 ao


capítulo 11, fatos gerais relativos a toda a humanidade e, a partir do
capítulo 12, fatos específicos relacionados à história dos patriarcas.
Nesta unidade, observaremos a importância do Pentateuco e depois
focalizaremos nossa atenção em fatos como: a criação do ser humano
e a sua experiência com o pecado; os juízos, como a grande enchente
e a confusão das línguas e, por fim, a história de quatro homens que
foram escolhidos para ser os progenitores da nação de Israel: Abraão,
Isaque, Jacó e José.

15
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CAPÍTULO 1

A Bíblia dos Hebreus

da
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Neste capítulo, apresentaremos algumas informações gerais sobre o
Pentateuco. Essas informações são importantes porque nos ajudam a
entender um pouco da estrutura deste conjunto de livros, de algumas
das características que lhes são próprias e das articulações de seu con-
a

teúdo consigo mesmo e com o restante do Antigo Testamento.


Para tanto, discutiremos neste capítulo os seguintes tópicos: a re-
nd

lação do Pentateuco com o Antigo Testamento; uma visão panorâmi-


ca do Pentateuco (tabela comparativa entre os cinco livros) e, por
fim, a importância da Torá (Pentateuco) na expressão religiosa do
Antigo Testamento.
Ve

1.1 - A Relação do Pentateuco com o Antigo Testamento


Para entendermos melhor a relação do Pentateuco com o Antigo
Testamento, é necessário explicar que esse conjunto de livros foi
organizado em quatro seções temáticas: Lei, História, Poesia e Pro-
fecia. Tal organização foi resultado do esforço de tradutores e edito-
res que trabalharam muito tempo depois que o texto fora escrito, e
assim foi feito para facilitar a compreensão, uma vez que os livros
que possuem temáticas semelhantes seriam mais bem entendidos se
agrupados na mesma seção.

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PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Observe na tabela abaixo que a Lei, que é o nosso foco, aparece na


parte inicial do Antigo Testamento, fazendo a abertura das Escrituras.

Tabela referente às divisões do Antigo Testamento em Categoria.

Lei – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.


História –Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas,
II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.
Poesia – Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos.

da
Profecia – Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias,
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias.

bi
1.2 - Considerações gerais sobre o Pentateuco
A lei, por ser a primeira parte da Revelação escrita e por registrar
fatos dos primórdios, ganhou profunda apreciação do crente hebreu e
oi
por essa razão estabeleceu uma estreita relação com as demais seções
que formam o Antigo Testamento. É nessa primeira parte, também
Pr
denominada Pentateuco, que começamos a perceber as primeiras in-
formações sobre a pessoa de Deus e sua atividade criadora, Gênesis 1,
tema retomado em muitos outros livros do Antigo Testamento.
Neste conjunto de livros, cuja contribuição foi fundamental para
o desenvolvimento das demais escrituras, encontramos relatos sobre
a

o plano que o Criador elaborou para a sua criatura, plano no qual o


homem ocupa uma posição de relevância apesar de sua dureza e resis-
nd

tência. Também, nesse mesmo conjunto, há muitas histórias de pes-


soas que conheceram a Deus de um modo especial. Histórias que nos
trazem grandes ensinamentos e que nos tornarão, se aprendidas, tão
excelentes como seus personagens, entre eles Abraão, José e Moisés.
Ve

Os exemplos dados por esses personagens atrelados a orientações de


como fazer o culto ao Senhor, de como se relacionar bem com o pró-
ximo e de como lidar com os recursos materiais, transformam-se em
uma poderosa ferramenta de influência espiritual. Observemos a se-
guir, uma tabela comparativa, na qual estão relacionados os cinco
livros do Pentateuco, contendo o título do livro, a ocasião em que foi
escrito, a nota predominante que é o seu tema e a finalidade para a
qual foi escrito.

18
A B ÍBLIA DOS H EBREUS

Tabela comparativa dos livros que compõem o Pentateuco.

Título Ocasião e Data Tema Propósito

Gênesis Terra de Midiã, depois Criação Informar sobre as origens


(Começo) que Moisés fugiu do de todas as coisas e sobre
Egito, 1460 a.C. os fundamentos das
grandes doutrinas da Bíblia
Êxodo Península do Sinai no Redenção Descrever a trama que

da
(Saída) primeiro ano depois da envolve a libertação da
saída do Egito, 1444 escravidão no Egito e
a.C. apresentar os evidentes
atributos de Deus
naquele momento.

bi
Levítico No Sinai, na mesma Santificação Apresentar normas para
(Dos levitas) ocasião do livro do o trabalho sacerdotal dos
Êxodo, 1444 a.C.
oi ministros da Antiga Aliança
(Guia do Pastor no AT)
Números Nas planícies de Moabe Disciplina Contar sobre os
(Censo) já no final das jornadas sucessos e insucessos
no deserto, 1406 a.C. de Israel no deserto e
Pr
sobre a importância do
deserto na experiência
de aprendizagem
Deuteronômio Mesmo contexto do Reflexão Levar a segunda geração a
(2ª Lei) livro de Números, 1406 considerar os erros e acertos
a

a.C. de seus pais e lembrarem


dos próximos desafios
nd

O gráfico acima, como podemos perceber, apresenta fatos ocorridos


na Arábia Pétrea (Midiã, Sinai e Moabe) em datas que oscilam entre
1406 a.C e 1460 a.C, circunstâncias e locais ligados à experiência de
Ve

Moisés, esse grande vulto da história bíblica. Tais conhecimentos fa-


zem com que o judaísmo e os principais segmentos do cristianismo
creditem a Moisés a autoria de todos esses livros, cujos títulos repre-
sentam de modo geral uma síntese do conteúdo apresentado. Assim,
foi dado o nome de Gênesis (começo) ao livro que relata a criação; de
Êxodo (saída) ao livro que registra o maior fato histórico dos hebreus:
a saída do Egito; de Levítico (dos levitas) ao texto que dá orientações
aos sacerdotes; de Números (censo) àquele cuja ênfase está na conta-
gem do povo e de Deuteronômio (literalmente, Segunda Lei) ao texto
no qual está registrada a palavra de Moisés à segunda Geração. Entre

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PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

esses livros, ressaltamos a inadequação do título Números por não ter


sua ênfase no censo, mas na descrição das jornadas dos israelitas no
deserto do Sinai, um palco de provisões e de tragédias que permitiu e
que ainda permite a aprendizagem das profundas experiências com o
Senhor. Essa tabela ainda nos possibilita a visualização geral do
Pentateuco, a observação das peculiaridades de cada um de seus livros
com as devidas articulações das idéias com as orientações e a percep-
ção de como o fio histórico alinhava toda a trama bíblica dessa época.

da
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nd

O F ÉRTIL C RESCENTE

1.3 - A importância da Torá na expressão religiosa do Antigo


Ve

Testamento
A sociedade israelita foi formada basicamente a partir de sua visão
religiosa, por isso não é possível separar o que era vida religiosa e o que
não era, uma vez que em todas as dimensões da vida judaica havia um
tom daquilo que era contado ou prescrito na lei. Como ilustração, cita-
mos as comunidades orientais que, apesar de as considerarmos pagãs
por questionarmos os fundamentos de suas religiões, apresentam prin-
cípios religiosos nos diversos procedimentos adotados, tais como: ali-
mentação, modo de vestir e tratamento dos animais. Israel teve melhor
oportunidade em relação a outros povos, pois tinha recebido a Revela-

20
A B ÍBLIA DOS H EBREUS

ção do seu Criador, o Deus que fez o céu e a terra. Era intenção desse
Deus que a comunidade israelita se tornasse um modelo para as de-
mais comunidades no que se refere ao culto, à postura ética, aos com-
promissos sociais, ao modo de estruturar a família, ao jeito de adminis-
trar o dinheiro, à política e ao cuidado com a saúde. Para todas essas
situações e muitas outras, havia uma abundância de orientação, e sem-
pre que Israel atentou para isso a nação foi abençoada.
O culto, exercício da dependência e da obediência ao soberano Se-

da
nhor, ganhou uma atenção especial na Lei para que o povo hebreu, ao
cultuar, assimilasse modos nobres para sua prática de vida. Os símbo-
los e representações utilizados eram levados ao altar com o objetivo de
fazer com que o povo percebesse a presença de Deus cotidianamente e

bi
relacionasse essa presença com as diversas atividades executadas. As-
sim, cada vez que as pessoas levavam ofertas ao altar, tinham a oportu-
oi
nidade de lembrar que o Senhor era o Deus da provisão e da sobrevi-
vência. Essa verdade era evidenciada em todos os trabalhos ocorridos
no Tabernáculo (casa de Deus) através do ministério dos sacerdotes, os
Pr
interlocutores de um povo agradecido, de uma gente que dependia ple-
namente do cuidado do Todo Poderoso.
De acordo com a orientação de Deus registrada na Torá, o povo
deveria ter procedimentos humanos e humanitários. O ideal de socie-
dade justa e igualitária deveria ser perseguido com muita seriedade
a

para que a sociedade não fosse dividida e que não houvesse “bolsões”
de pobreza e miséria. Todos esses cuidados seriam evidências de uma
nd

espiritualidade sadia e a garantia da continuidade da presença de Deus


no meio do povo.
No tocante aos demais aspectos da expressão religiosa, vale salien-
tar que Deus prescreveu uma alimentação adequada para a manuten-
Ve

ção da saúde do povo de Israel e estabeleceu normas para os procedi-


mentos sexuais, objetivando a saúde da mulher e sua capacidade de
procriação. Consideremos, como exemplo, a recomendação da circun-
cisão que, embora tivesse um sentido religioso e fosse símbolo do pac-
to entre Deus e seu povo, contribuiu para que as mulheres não sofres-
sem com doenças em seu aparelho reprodutor. Esses fatos, descobertas
recentes que ganham espaço no diaadia dos que trabalham na área da
saúde, permite-nos perceber a dimensão do cuidado de Deus para com
seu povo e compreender melhor as orientações de Deus reveladas atra-
vés das Escrituras.

21
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

A partir do que foi exposto, podemos concluir que o Pentateuco,


embora se constitua nos fundamentos históricos e doutrinários da fé
judaica, é a porta de entrada da revelação divina que auxilia a compre-
ensão de outros temas importantes encontrados nos demais livros da
Bíblia. Também é necessário atentar para o fato de que essa introdução
da Bíblia, ao contrário do que muitos acreditam, apresenta ensinamentos
fundamentais para o exercício da fé cristã.

da
Questão para reflexão.
Como tem sido explanado, são encontrados muitos princípios e va-
lores nas histórias e ensinamentos do Pentateuco. Tais princípios e va-
lores foram fundamentais para o desenvolvimento da vida e da fé do

bi
povo de Israel. Podemos aplicar os princípios bíblicos presentes no
Pentateuco aos diferentes aspectos de nossa vida? Exemplifique.
oi
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22
CAPÍTULO 2

O Começo de Tudo

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Pr
Este capítulo trata de fatos primordiais que envolveram a raça hu-
mana no seu todo, isto é, nos diferentes aspectos apresentados pelas
Escrituras Sagradas, referentes à Criação. Esses fatos vão desde a pre-
paração da “estrutura” pelo Senhor Criador para a chegada da huma-
a

nidade, criação do céu e a Terra (Gn 1.1), até o momento em que se
tornaram visíveis os resultados funestos da desobediência dos primei-
nd

ros habitantes da terra (Gn ).

2.1 - A criação do universo e do homem


Nossa capacidade de investigação não dá conta de perceber a magni-
Ve

tude da criação do universo e da existência da vida, por isso é de funda-


mental importância que olhemos para esse fato com os olhos da fé como
orienta o escritor da epístola aos hebreus que “pela fé entendemos que o
universo foi feito pela palavra de Deus, de sorte que aquilo que é visível, não foi
feito do que é aparente!” (Hb 11.3). Para facilitar o entendimento, tratare-
mos desse assunto observando três aspectos específicos: a pessoa do
Criador, a criação do universo e, por fim, a criação do homem.

2.1.1 - O Senhor Criador


A Bíblia diz que “No princípio criou Deus...” Gn. 1.1. Deus é o sujeito

23
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

da criação. Esta narrativa firma uma tremenda verdade: existe um Deus


e todas as coisas foram feitas por Ele. Quando paramos para pensar
sobre essa verdade somos remetidos a refletir sobre a natureza do Cria-
dor. Na linguagem teológica, isso é tratado por atributos, isto é, aquelas
qualidades que são próprias da pessoa de Deus. Dentre as qualidades de
Deus que se destacam nessa narrativa, queremos notar o seu poder, sua
racionalidade e sua bondade. Seria impossível pensar na natureza em
sua vasta dimensão e diversidade, incluindo o mundo animal, vegetal e

da
mineral, sem supormos que, de uma forma maravilhosa e através de
alguém muito poderoso, isso viesse a acontecer.
As informações que temos é que tudo foi acontecendo através do
poder da Palavra de Deus: “Haja luz” (v.3); “Haja expansão” (v.6);

bi
“Ajuntem as águas” (v.9); “produza a terra” (v.11); “Haja luminares”
(v.14); “Produzam as águas” (v.20); “frutificai e multiplicai”, v.22. O
oi
Salmo (33.6,9) revela: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o
exército deles pelo espírito da sua boca; porque falou e tudo se fez; mandou e logo
tudo apareceu!” O poder divino evidenciou-se na sua palavra de coman-
Pr
do. O universo e toda criatura são frutos da ação poderosa do Senhor
Criador através da Sua Palavra. Também ficou evidente no Ato Criador
de Deus a sua bondade: “E viu Deus que era bom” (v. 10, 12, 18 e 21).
Acerca da criação do ser humano, temos em Gênesis (1.31): “E viu Deus
que tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”. Tudo isso nos permite
a

perceber que, apesar de lidarmos com desafios e tragédias, a obra pri-


ma do Senhor Criador foi marcada com sua bondade, uma bondade
nd

que traz sabor ao paladar, prazer aos olhos e alegria à vida.


O Criador é um Deus racional que pensa antes de suas ações, que
age com planejamento e ordem e que tem propósitos bem definidos.
Ele fez a Terra para produzir; fez os animais, plantas e peixes para
Ve

sustentar o homem; e fez o homem para cuidar da terra. Prova dessa


capacidade de Deus é que em sua criação tudo ocorreu com cuidado,
atenção e apreciação.

2.1.2 - O Universo e a Terra


O universo e a terra foram feitos antes que o homem fosse criado
(Gn 1.27). O Criador preparou a estrutura depois criou o homem para
realizar o Seu propósito. Essa estrutura foi feita gradativamente, ao
longo da “Semana Magna”, isto é, a semana da criação (Gn. 1.5,8, 13,
19,23 e 3). Por ordem, depois de dar existência à Luz, que é o começo

24
O C OMEÇO DE T UDO

de toda atividade criadora, o Senhor fez o dia e a noite (v.5); distinguiu


a Atmosfera (ar) da Litosfera, isto é, da crosta (v.8); separou terra dos
mares, permitindo a porção seca (v. 10); criou os luminares, o sol, a lua
e as estrelas (v.16); criou os animais e peixes (v.21).
Algumas considerações especiais devem ser feitas. A primeira, sobre
a qualidade do verbo empregado na língua hebraica para criar (bará),
Gn 1.1,21 e 27 que pode significar “criar a partir do nada”, isto é, sem
ter matéria-prima, e também pode significar que não havia precedente,

da
ou seja, algum modelo para referência. Em ambos os casos, Deus é
exaltado, tanto em seu poder, quanto em sua criatividade. A segunda
consideração se refere à luz, tanto no primeiro quanto no quarto dia já
existia luz. Isto significa que a luz existiu antes dos corpos celestes

bi
serem criados. Atualmente, há comentários a respeito de uma “luz cós-
mica” que marcou o começo da criação e que foi indispensável a todo
oi
trabalho de Deus (no hebraico para essa primeira luz, o termo é Or e
para os corpos celestes é Ma-or). Por último, o relato da criação (Gn
1.1-2.25) não faz referência ao universo todo, mas apenas àquilo que
Pr
se relaciona com a vida no planeta. Também não faz parte da descrição
o ambiente angelical ou como esses seres foram criados.
a
nd
Ve

25
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

2.1.3 - A obra-prima: O homem


O homem é considerado a coroa da criação, não por ter sido o últi-
mo a ser criado, mas pelo grau de importância no contexto de toda a
obra de Deus. Em Gênesis (1.26), “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; e domine...”, podemos observar que o Cria-
dor não somente fez o homem de um modo especial para realizar uma
missão especial como também utilizou a Si mesmo como referência
para essa criação. É preciso observar que essa referência não está relaci-

da
onada a uma aparência corporal, mas espiritual. João (4.24) revela:
“Deus é espírito e importa que os verdadeiros adoradores o adorem em espírito e
em verdade”. Quando a Bíblia menciona braços, mãos e ouvidos do Se-
nhor, vale-se de um recurso de linguagem para falar do modo de Deus

bi
nos tratar. Esse recurso, na teologia, é chamado de antropomorfismo
(atribuição de características humanas a Deus).
oi
A imagem de Deus na vida do homem está nas qualidades —
espiritualidade, racionalidade e afetividade — que o diferencia dos
animais que vivem norteados por seus instintos. Deus é espiritual, lo-
Pr
go, por sermos à Sua imagem, cultuamos, adoramos e oramos. O Cria-
dor pensa, planeja e exerce sua capacidade de criatividade, ações que
também fazem parte do modo de agir do ser humano. Ser imagem de
Deus é sentir, ter prazer, alegrias, tristezas, é ter emoções. É evidente
que Deus percebe isso em um universo diferente do nosso e que Seus
a

sentimentos não podem ser dimensionados por nossa inteligência.


Também é verdade que toda essa semelhança do homem com o Cria-
nd

dor ficou comprometida após o pecado, um ato que fez com que o
homem passasse a usar sua criatividade pró-destruição, produzindo,
entre outras coisas, armas e bombas. Porém, apesar de tudo isso, Deus
foi misericordioso e enviou seu próprio filho com o propósito de res-
Ve

taurar a humanidadeDBÓEB MPOHFEP$SJBEPS(+P).

2.2 - Tentação e Queda: O momento da desintegração


A tentação proposta ao primeiro casal deveria ter sido uma oportu-
nidade relevante para ele; os protótipos da humanidade poderiam ter
crescido em santidade e dedicação pessoal ao Senhor, pois se crê que o
Criador ao fazê-lo sua imagem, investiu na criatura uma capacidade
espiritual que poderia assegurar-lhe um relacionamento correto com o
Todo Poderoso. Porém, ao contrário do que poderia ter sido, o homem,

26
O C OMEÇO DE T UDO

influenciado por Satanás, inimigo de Deus, abriu mão dessa possibili-


dade e resolveu percorrer o caminho da desobediência.
Satanás, para atingir seu objetivo, influenciar o homem e atrapalhar
o projeto de Deus para a humanidade, utilizou a figura da serpente
(Gn 3.1) para fazer a proposta do pecado e direcionou essa proposta
maligna para áreas estratégicas da estrutura do homem, a da concupis-
cência. I João (2.16) registra: “tudo que há no mundo, a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não são do Pai, mas são

da
do mundo”. Gênesis traz a seguinte revelação: “vendo a mulher que aquela
árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu a seu marido, ele comeu com
ela” (Gn 3.6). No paralelo entre essas duas citações bíblicas, temos a

bi
explicação do comportamento do primeiro casal ao ceder à tentação.
Ao perceber o fruto, sentiram a vontade de comer, foram possuídos
oi
pelo desejo de usufruir, concupiscência da carne; ao olharem e terem
prazer, o desejo de possuir invadiu seus corações, concupiscência dos
olhos; ao pensarem na possibilidade de experimentar, o desejo de se-
Pr
rem iguais a Deus, a soberba da vida.
As conseqXências foram inevitáveis e seus efeitos estão espalhados
por entre todos os povos e dentro de cada ser humano. Deus tinha
dito em Gênesis (2.17) que o homem morreria se num ato de desobe-
diência comesse o fruto da árvore proibida; e isso aconteceu. A mor-
a

te entrou no mundo, manifestando-se inicialmente com o rompimen-


to da comunhão com Deus – o casal escondeu-se da presença do Se-
nd

nhor (Gn. 3.8,9). Posteriormente, a morte aconteceu de forma real e


concreta (Gn. 4 e 5). Se isso não bastasse, foi incorporada ao jeito de
viver do homem a tendência ao pecado, que muitas vezes no Novo
Testamento é denominada de cobiça, carne ou concupiscência da car-
Ve

ne. Apesar desse triste episódio, Deus fez promessa de restauração.


Gênesis (3.15) registra: “da semente da mulher nasceria um que esmagaria
a cabeça da serpente”. Abstrai-se daí que a semente é o Senhor Jesus
que, através da sua obra redentora, acabaria com a força do inimigo e
restabeleceria a beleza e a harmonia deste universo criado por Deus
para um propósito especial.
É de suma importância que as pessoas tenham conhecimento desse
propósito especial de Deus para ter a tranqXilidade na mente e no cora-
ção e não incorrer no fatalismo de que não existe uma razão especial
para se viver e que um dia tudo vai acabar.

27
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Questão para reflexão.


A História da criação é um dos mais encantadores temas encontra-
dos nas Escrituras Sagradas, principalmente no que diz respeito à cria-
ção do ser humano. Em seu modo de pensar, qual foi o maior legado do
criador à sua criatura?

da
bi
oi
Pr
a
nd
Ve

28
CAPÍTULO 3

Os Juízos Universais

da
bi
oi
Pr
Os juízos divinos sobre a humanidade, os quais estão muito relacio-
nados às ocorrências que marcaram o início da raça humana, levam
muitas pessoas a acreditarem que esses atos divinos foram ações nega-
tivas, punitivas e desagregadoras. Mas, ao contrário do que muitos
a

pensam, as Escrituras Sagradas nos revelam que o Juízo de Deus foi


sempre um ato para o recomeço, para a reconstrução e para a retomada
nd

de seu projeto original; um modo para permitir que o homem pudesse


voltar a cultuá-Lo e amá-Lo. Foi isso o que aconteceu nas duas históri-
as que compõem este capítulo: O Dilúvio e a Torre de Babel.
Ve

3.1 - O Dilúvio: A Primeira grande catástrofe natural da história.


O Dilúvio, palavra hebraica que significa “Grande Enchente”, pri-
meira catástrofe natural da história, ceifou a vida de quase toda huma-
nidade. Dessa catástrofe, sobreviveram apenas Noé e sua família, oito
pessoas que, obedecendo à voz de Deus, abrigaram-se dentro de uma
“Arca”, uma grande embarcação.
O livro de Gênesis (6.1,2 e 4) traz algumas indicações a respeito das
razões para essa grande enchente:
“Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasce-
ram filhas, vendo os filhos de Deus, que as filhas dos homens eram

29
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

formosas, tomaram para mulheres, as que, entre todas, mais lhes


agradaram... Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e tam-
bém depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos
homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de
renome, na Antigüidade”. Gn 6.1,2 e 4.

Como podemos observar, os versículos acima revelam pelo menos


dois problemas básicos que fizeram parte do cenário antidiluviano. O

da
primeiro, foi a controvertida questão do casamento entre os filhos de
Deus e as filhas dos homens. O segundo, a proliferação de gigantes,
isto é, pessoas valentes. Há aqueles que afirmam que o livro de Gênesis
(6.1) faz menção de relações sexuais que anjos (filhos de Deus) manti-

bi
veram com as mulheres bonitas da época, filhas dos homens. Essa ar-
gumentação é curiosa, porém desprovida de fundamentos bíblicos, pois
oi
nosso Senhor, quando falava sobre a vida na ressurreição, afirmou que
“nela seremos como os anjos que nem se casam e nem se dão em casamento” (Mt
22.30). Isto significa que os anjos são seres com uma natureza diferen-
Pr
ciada da natureza humana, sem chance de reprodução biológica e pra-
zeres dessa natureza; são seres assexuados. Assim, resta-nos a clássica e
coerente argumentação de que a expressão “filhos de Deus” é uma refe-
rência aos descendentes de Sete, que formavam uma linhagem piedo-
sa, e a expressão “filhas dos homens”, às mulheres descendentes de
a

Caim, geração ímpia, que usava a sensualidade como ferramenta para


atrair os crentes setistas (descendentes de Sete). De acordo com Gênesis
nd

(), os descendentes de Sete (O 


, por não resistirem às tentações,
mantiveram relações sexuais com as moças caimitas, descendentes
de Caim (Gn 4.17-26) e desses casamentos surgiram gigantes,
Ve

aberrações genéticas na formação física desses mestiços.


Esses gigantes, ao serem mencionados em Gênesis, capÓUVMP 4,
têmsua estatura gigantesca associada a um caráter violento. Esse fato
permite-nos abstrair que isso tornou um sério problema para aquela
sociedade. Também fez parte dessa geração o orgulho exacerbado.
A Bíblia, versão revista e corrigida, chama esses gigantes de famosos,
na versão revista e atualizada, chama-os de afamados, e isso parece
revelar que esses gigantes davam grande importância ao prestígio e
à reputação. O orgulho, atrelado à violência, colocava naquela
sociedadepessoas que abusavam do poder, apelando para a agressão
como ferramentas de comando.

30
O S J UÍZOS U NIVERSAIS

Além desses problemas, Gênesis (6.5) registra um outro: “Viu o Se-


nhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continu-
amente má a intenção do seu coração”. Por todo lugar havia maldade. As
pessoas nutriam prazer pela desobediência e pela sensualidade. Isso
causou tão grande tristeza em Deus que O levou a planejar a extinção
daquela geração. O Eterno não suporta o mal, pois Ele é o Sumo Bem
e todo o seu projeto está fundamentado na qualidade que traz alegria
para todos nós. O Senhor Criador foi o maior interessado nessa situa-

da
ção; seu arrependimento, que não deve ser entendido como mudança
de idHia, mas sim como entristecimento, estabeleceu uma mudança,
visando à construção de um novo cenário para a humanidade.

bi
3.1.1 - Como ocorreu o Dilúvio
É impossível pensar ou falar sobre Dilúvio sem associá-lo a Noé,
oi
uma figura muito importante para o seu tempo e para a história bíbli-
ca. Esse herói da fé, cujo nome significa descanso, talvez tenha tido,
já por ocasião do seu nascimento, sua indicação profética sobre a
Pr
nova ordem que seria estabelecida a partir da eliminação daqueles
pecadores obstinados.
Em Hebreus (11.7) encontramos o relato sobre algumas qualidades
espirituais desse principal protagonista dessa história: “Pela fé, Noé, di-
vinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo
a

temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual
condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem pela fé”. Esse texto
nd

nos permite perceber que Noé foi um homem que viveu pela fé e que
rendeu sua vontade à vontade do Criador, obedecendo à Sua palavra
de comando. Tinha grande temor a Deus, não medo, mas reverência e
respeito, uma atitude que lhe permitiu ouvir a voz do Senhor com
Ve

muita clareza e ter entendimento dos acontecimentos futuros. Através


da história, também temos conhecimento de que esse temente a Deus
se dispôs ao trabalho da preparação da arca, uma tarefa não só difícil e
demorada como também ignorada por aquela sociedade. Toda essa
dedicação resultou em salvação para sua casa, juízo aos pecadores e fez
dele “herdeiro da justiça que vem pela fé”.
II Pedro (2.5), um texto do Novo Testamento, refere-se a Noé como
um pregador: “Deus não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pre-
gador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o Dilúvio sobre o mundo dos
ímpios”. Não temos o registro de nenhum de seus discursos e não so-

31
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

mos informados acerca de “cruzadas evangelísticas” promovidas por


esse servo de Deus, mas com certeza sua vida foi uma mensagem. Noé
viveu de modo diferente em meio àquela sociedade. O fato de cons-
truir “algo estranho”, com certeza deve ter levado aquelas pessoas a
alguns questionamentos e isso foi a prova de que pregou, que comuni-
cou uma mensagem à sua geração.
Pensar na construção de um navio em época tão remota é admitir
uma sabedoria especial fruto de uma intervenção divina. Gênesis (6.15)
diz-nos “deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento, de cin-

da
qüenta a largura e a altura de trinta”. O côvado, unidade de medida da
época corresponde a 45 centímetros. Sendo assim, a Arca tinha 135
metros de comprimento, 22,5 metros de largura e 13,5 metros de altu-
ra. Foi por essa razão que tantas espécies puderam ser abrigadas. Essa

bi
embarcação possuía três pavimentos (Gn 6.16) construídos de uma
madeira resistente à água e era calafetada com betume por dentro e por
oi
fora (Gn 6.14). Para Noé executar essa obra foram necessários muitos
anos de trabalho, talvez um século, pois a informação que temos em
Gênesis (5.32) é que seus três filhos já haviam sido gerados, e que Noé,
Pr
ao iniciar a obra, estava com 500 anos. Em Gênesis (7.6), temos a
informação de que quando o dilúvio das águas veio sobre a terra, ele já
estava com 600 anos. Se foi um século, foi um tempo considerável para
aquela geração ouvir a pregação da palavra e se arrepender de sua mal-
dade (ver I Pe 3.20). E quando a arca ficou pronta, o Senhor Deus
a

moveu o instinto dos animais para que, de forma organizada, entras-


sem na arca (Gn 7.8,9). Noé e sua família também entrarame a partir
nd

desse momento as águas começaram a encher a terra (O    


.
Deduz-se das informações encontradas em Gênesis (8.2) que “a
grande enchente” ocorreu devido às chuvas e ao rompimento dos
Ve

lençóis freáticos.
O dilúvio aconteceu ao longo de um ano e um mês. A Bíblia registra
que era o ano 600 da vida de Noé, quando as águas começaram a au-
mentar, e o ano 601, quando esse herói da fé retomou a vida fora da
arca. Temos detalhes acerca desses 394 dias, pouco mais de um ano, que
são distribuídos da seguinte forma: 40 dias, inundação de toda a terra e
extinção de todo ser vivente (homens e animais); 150 dias, permanência
das águas sobre a terra (nesse momento o Senhor Deus fechou as “tor-
neiras” das águas); mais 150 dias, diminuição das águas; nos outros 40
dias, houve o envio de um pássaro para verificar a existência de terra; 7
dias depois, o envio de uma pomba e o retorno dessa com uma folha de

32
O S J UÍZOS U NIVERSAIS

oliveira e Noé demorou ainda uma semana para sair da arca. Esse tempo,
no modo hebraico de contar, corresponde a 14 meses. A seguir, apresen-
taremos uma tabela alusiva ao tempo do Dilúvio.

Tabela sobre o tempo do Dilúvio.

Dias O que aconteceu Texto bíblico


1-40 Toda terra é inundada pelas águas Gn 7.13

da
41-190 As águas prevalecem sobre a terra Gn 7.24
191 – 340 As águas diminuem Gn 8.3
341 – 380 Os montes são descobertos Gn 8.6
381 – 387 A Terra fica seca Gn 8.10
388 – 394 Última semana na Arca Gn 8.12

bi
Após a execução do juízo, o cenário estava pronto para o recomeço,
mas Noé ainda não sabia o que deveria fazer naquele novo momento.
oi
Na primeira fase, ele havia percebido a maldade de sua geração (Gn
6.8e 9); na segunda, trabalhado na Arca e pregado o “evangelho” (Gn
Pr
6.22), porém, naquele momento, ao sair da Arca (Gn 8.18), precisava
de norte para seus últimos 350 anos. Assim, Noé cultuou a Deus (Gn
8.20), o Senhor dos Pactos, que veio ao seu encontro para ministrar
sua bênção a ele e à sua família (Gn 9.1) e estabelecer normas para a
convivência entre homens e animais, dando especial atenção ao ambi-
a

ente humano com a proibição do homicídio (Gn 9.2-6). Naquele mo-


mento, o Eterno convocou a família à missão de repovoar a terra atra-
nd

vés da procriação multiplicadora (Gn 9.7) e fez um pacto, evidenciado


nas cores do Arco, de não mais extinguir a humanidade através de
enchentes (Gn 9.8-17).
Apesar das diversas referências bíblicas a respeito do dilúvio, al-
Ve

guns se esforçam em defender a parcialidade dessa enchente, restrin-


gindo-a à região da Mesopotâmia (região entre o Tigre e o Eufrates) e
afirmando ser esse o espaço povoado naquela época. Outros, apoian-
do-se em textos bíblicos, asseguram que o dilúvio atingiu todo plane-
ta e os seres que nele existiam. Polêmicas à parte, consideremos o que
Paul Hoff afirma:
“(...) tem sido encontradas em diferentes continentes, tradições que
aludem a um grande dilúvio, inclusive detalhes da destruição de toda
a humanidade, exceto uma única família e a escapatória em um bar-
co. A famosa epopeia de Gilgames, poema babilônico, contém muitas

33
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

semelhanças com o relato bíblico, embora seja politeísta em seu enfoque.


Parece que o dilúvio deixou uma impressão indelével na memória da
raça, e que as tradições, por mais corrompidas que estejam, testificam
do fato que houve um dilúvio”. (Hoff, 1983, p.39)

Essas afirmações confirmam a possibilidade do dilúvio ter caráter


abrangente e mostram que essa catástrofe marcou tão profundamente
a humanidade que, em todas as culturas, contavam essa história.

da
3.1.2 - Os resultados do Dilúvio para a humanidade
Como afirmamos anteriormente, o recomeço foi marcado pelo rela-
cionamento especial de Noé com o Senhor Criador, que fez um pacto

bi
com a humanidade e traçou um plano para o repovoamento da Terra.
Nesse plano, o herói da fé deveria formar uma nova linhagem de pie-
oi
dosos, e isso foi possível através de seu filho Sem (Gn 9.26). No pro-
nunciamento de Noé, há afirmações de que seu filho Cam teria maus
descendentes e que os descendentes de Jafé seriam os hospedeiros dos
Pr
Semitas. Fica evidente na palavra de Noé (Gn 9.26-29) que Sem foi o
progenitor da linhagem piedosa, tendo em vista a sua genealogia (re-
gistro dos descendentes) nos conduzir até Abraão (Gn 11.10-31), ho-
mem escolhido por Deus para formar uma nação especial.
O Dilúvio tornou-se modelo da ação divina, tanto no modo de cas-
a

tigar o pecador por sua insistência no pecado e falta de quebrantamento,


quanto na maneira de recompensar aquele que é piedoso (I Pe 3.20,21).
nd

A arca, de acordo com versículos referidos, é uma figura de Cristo,


porque representa o escape para fugirmos da ira do Todo Poderoso; as
águas submergiram o pecado, mas a arca elevou-os a um relacionamen-
to mais próximo com o Senhor por um livramento especial, evidenci-
Ve

ando a verdade de que o Eterno tem sempre um povo que O ama e que
realiza seus propósitos.
Em Mateus (24.38, 39) está escrito: “assim como foi nos dias anteriores
ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em
que Noé entrou na arca, e não perceberam, até que veio o Dilúvio, e os levou a
todos, assim será a vinda do Filho do Homem”. Estas palavras mostram o
valor profético do Dilúvio. Se esse juízo é figura da salvação, também é
indicador da indiferença espiritual característica da geração que estiver
na terra por ocasião da vinda do Senhor. Aquela geração se apegou às
coisas temporais, tais como: comida, casamento e festas. Coisas legíti-

34
O S J UÍZOS U NIVERSAIS

mas, porém não prioritárias no relacionamento com Deus. É isso que


tem ocorrido em nosso tempo. As pessoas são materialistas, valorizam
demasiadamente o “aqui e o agora” e não se preocupam com os
ensinamentos de Deus, com o viver correto. Ignoram que, brevemente,
“o Filho do Homem virá à hora em que não penseis” (Mt. 24.44).

3.2 - A torre de Babel e o surgimento das Etnias


Após o Dilúvio a população da terra cresceu e formou três grupos

da
distintos a partir dos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé.

Tabela sobre os povos oriundos de Noé.

bi
Filho de Noé Texto Bíblico Povos Referentes Localidades
Sem (Semitas) Gn 10.22-31 Elamitas, Assírios, Oriente Médio
Caldeus, Arameus (Ásia), do
oi e Hebreus. Mediterrâneo
ao Índico.
Pr
Cam (Camitas) Gn 10.6-21 Líbia, Egito, África e parte
Etiópia, Canaã e da orla do
Comunidades Árabes. Mediterrâneo.

Jafé (Jafistas) Gn 10.2-5 Celtas, Citas, Medos, Ásia Menor, Ilhas


Persas e Gregos. do Mar e Regiões
a

do Golfo Pérsico.
nd

Esses troncos já existiam em potencial, porém a terra toda era de


uma mesma língua (Gn 11.1). No capítulo anterior (Gn 10.5,20 e 31),
há referências aos grupos étnicos, com suas respectivas línguas, mas
isso se tornou realidade só depois da confusão das línguas em Babel
Ve

(Gn 11). Esse novo juízo mostra o cuidado de Deus em levar adiante
seus projetos. Ficou evidente para os sobreviventes do Dilúvio, com
quem o Senhor fizera um pacto, que a humanidade deveria se multipli-
car e povoar a terra. Mas, ao contrário do que deveriam fazer, decidi-
ram ficar juntos e construir um edifício, a Torre de Babel. Vejamos o
que a Bíblia registra sobre esse intento:
“E aconteceu que partindo eles do oriente, acharam um vale na
terra de Sinear, e habitaram ali. E disseram uns aos outros:
Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi lhes o tijolo por
pedra e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma

35
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um


nome para que não sejamos espalhados sobre a face de toda ter-
ra”. Gn 11.2-4.

Esse texto nos revela que eles não desejavam ser espalhados pela
terra. No tratado que fizeram sempre usaram os verbos na primeira
pessoa do plural: façamos, queimemos (v.3); edifiquemos, façamos,
sejamos (v.4). A resolução era conjunta, porém feria diretamente a ori-

da
entação do Criador quando dissera no pacto, “mas vós frutificai e
multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra e multiplicai-vos nela” (Gn
9.7). Estabelecidos em uma mesma localidade, a missão não seria cum-
prida, pois o planeta não seria povoado. A segunda informação que

bi
esse texto nos traz é a de que a torre funcionaria como “Memorial da
Humanidade”. No projeto deles, a preocupação era “fazer um nome
oi
para não serem espalhados sobre a terra”, um ato não apenas de deso-
bediência, mas também de soberba. A última informação sobre a torre
e que merece nossa atenção é que, com a construção, queriam “tocar os
Pr
céus” (v.4). Tais atitudes talvez tenham sido incitadas por Ninrode,
homem influente da época, acerca de quem a Bíblia diz que foi “o
primeiro grande conquistador do mundo” (Gn 10.8).
Ninrode fundou um reino com oito cidades-estado (Gênesis 10.10-
12), que remonta às primeiras civilizações da Mesopotâmia. Entre es-
a

sas cidades está Babel (local do projeto da torre), cujo nome posterior-
mente veio a ser Babilônia, o berço da astrologia, um procedimento
nd

espiritual fundamentado nos astros como recurso para a orientação


humana, o qual continua a ser praticado nos dias atuais. Essa região,
após a “confusão das línguas”, também foi marcada pelo surgimento
dos Zigurates, prédios feitos para observação dos astros. Deus, ao tra-
Ve

tar com o seu povo, sempre teve o cuidado de adverti-lo acerca destas
práticas, pois elas roubam o espaço da legítima orientação de Deus (Is
47.13, II Rs 17.16).

3.2.1- Babel e Pentecostes


Babel e Pentecostes, embora sejam acontecimentos bastante distin-
tos, apresentam um ponto em comum, o fenômeno lingXístico (Gn 11
e At 2). Babel, pelo aparecimento das línguas como ferramentas de
comunicação entre homens, e Pentecostes, pelo surgimento das lín-
guas como instrumento de comunicação com Deus, sinais de Deus

36
O S J UÍZOS U NIVERSAIS

da
bi
oi
Pr
para os homens. Em Babel, a humanidade se rebela para construir o
seu próprio projeto e Deus os impede. Em Pentecostes, os crentes se
humilham para a construção do projeto divino e Deus, com Sua pre-
sença, alavanca a missão. Na primeira, língua aparece como castigo,
a

como dificuldade; na segunda, língua é uma bênção, um louvor e ex-


pressão da glória de Deus.
nd

É necessário estarmos atentos para o modo de Deus agir e lembrar


que as Escrituras nos contam acerca dos Juízos que executou sobre a
humanidade. Sempre que toma essa decisão, assim faz para resgatar a
legitimidade de seu projeto para as suas criaturas amadas.
Ve

Questões para reflexão.


1- De acordo com afirmações feitas nesse capítulo, ficou claro que o
Dilúvio foi uma intervenção divina através da manifestação de Seu
juízo para redirecionar a história da humanidade. Você pode alistar as
razões básicas para o juízo através do Dilúvio?

2- A lógica humana reluta em admitir que situações dolorosas pos-


sam desempenhar um papel importante na experiência humana. É pos-
sível explicarmos a manifestação da misericórdia de Deus no episódio

37
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

do Dilúvio, visto que tantas coisas foram destruídas e tantas pessoas


foram mortas?

3- A história é uma fonte de lições. Diz-se que podemos aprender


até mesmo com os erros dos outros. O Dilúvio foi um fato que es-
tampa lições até os dias atuais. Aliste alguns ensinamentos a partir
do Dilúvio.

da
4- Aparentemente o projeto de construção de uma torre não possui
nada de errado, afinal as pessoas são livres para realizarem o que en-
tendem ser necessário e prazeroso. O que estava errado com a geração
de Babel ao realizar aquele projeto?

bi
oi
Pr
a
nd
Ve

38
CAPÍTULO 4

Gente Antiga e Importante

da
bi
oi
Pr
Os patriarcas, Abraão e Isaque, as primeiras pessoas a serem usadas
por Deus para a formação da importante nação de Israel, deixaram
como maior herança a seus descendentes a espiritualidade e o relacio-
namento com o Deus eterno. Suas histórias de lutas e desafios, de
a

vitórias e conquistas permitem um fortalecimento da fé, pois possibili-


ta a reflexão sobre a grandeza do projeto que o Grande Yahweh tem
nd

para com a humanidade. Para entendermos melhor a importância des-


ses heróis da fé para o projeto divino, analisaremos neste capítulo os
aspectos que marcaram a vida desses homens e os tornaram tão impor-
tantes na realização do plano de Deus para a nação de Israel e também
Ve

para a humanidade.

4.1 - Abraão, o amigo de Deus


Por volta de 2.000 a.C., em Ur dos caldeus, uma das mais próspe-
ras cidades da Mesopotâmia, hoje sul do Iraque, teve início a intri-
gante e significativa história dos hebreus. Abraão, cujo nome signifi-
ca pai de uma grande nação, foi chamado por Deus. Nesse chamado
Deus disse:
“Ora, o Senhor disse a Abrão: sai-te da tua terra, e da tua paren-
tela, e da casa de teu pai, para a terra que mostrarei. E far-te-ei

39
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome e


tu serás uma benção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldi-
çoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as
famílias da terra”. Gn 12.1-3.

Essa convocação divina, como encontramos em Atos 7.2-4, teve seu


cumprimento em duas fases distintas. A primeira, quando Abraão dei-
xou a cidade de Ur com toda sua família. A segunda, quando Deus

da
ordenou-lhe que fosse à terra de Canaã. O cumprimento desse propó-
sito ocorreu assim porque, à medida que tinha novas experiências espi-
rituais, avançava um pouco mais, executando os projetos de Yahweh.
Era de fundamental importância que Abraão saísse de Ur dos caldeus e

bi
fosse a Canaã, pois era ali que demonstraria a sua fé e firmaria as raízes
para a formação de seu povo. oi
Pr
a
nd
Ve

A história de Abraão, que faz parte da história da nação de Israel,


foi significativa porque, dentro do plano elaborado por Deus para
abençoar as outras nações, ela foi a principal ferramenta. Apesar de

40
G ENTE A NTIGA E I MPORTANTE

muitas vezes incompreendido e hostilizado, o povo hebreu, repre-


sentante do Criador, recebeu uma revelação especial. Nessa revela-
ção, havia uma proposta de vida melhor do que aquelas ligadas a
outros sistemas religiosos, a qual serviria para as nações futuras.
Deus precisava forjar um modelo nesse momento e colocá-lo em um
lugar estratégico,  de onde o testemunho do Senhor fosse visto e
compreendido. Pela disposição que Abraão teve em ouvir o Senhor
e se envolver no projeto que lhe fora apresentado, Deus o teve na

da
mais alta consideração, chamando-o de amigo (Tiago 2.23). Essa
amizade permitiu a Abraão falar com Deus, ser visitado por Ele, e
ouvir, de primeira mão, planos especiais que o Senhor tinha consigo
e com a sua descendência.

bi
Canaã, na época de Abraão, era habitada por sete nações: heteus,
jebuseus, girgaseus, amorreus, heveus, cananeus e perizeus, povos
oi
pequenos e sem força política, que muitas vezes estavam sob o
controle de povos mais poderosos como os babilônicos e egípcios,
os quais tinham grande interesse naquele território, por esse esta-
Pr
belecer ligação entre os três continentes mais antigos: Ásia, Euro-
pa e África. Dessa forma, em termos geográficos, a Terra de Canaã
tornava-se o centro do mundo conhecido, aspecto muito importan-
te no plano estratégico de Deus, que era o de alcançar e abençoar
todas as etnias da terra. Essa ação abençoadora de Deus implicava
a

usar um povo especial em um local que permitisse fácil contato com


os povos antigos.
nd

Abraão, desde sua saída de Ur (sul do Iraque), sua passagem por


Harã (5VSRVJB) e peregrinações na terra de Canaã, nunca possuiu
terra nenhuma, exceto o terreno onde foi sepultada sua esposa
Sara, no túmulo de Macpela. Porém, enquanto fazia essa história,
Ve

com desdobramentos significativos, nutria a esperança de que um dia


a promessado Senhor se realizasse de forma integral em sua vida.
Em Hebreus (11.8) seu escritor diz que “(...) sendo chamado obedeceu,
indo para um lugar que haveria de receber por herança”.
Do capítulo 12 ao 25 do livro de Gênesis, temos o relato dos princi-
pais fatos ligados à história do patriarca Abraão. Podemos ver como foi
a sua chamada e suas primeiras peregrinações por Canaã (Gn 12); seu
envolvimento solidário na defesa do território de Canaã e o seu encon-
tro com o sacerdote e rei Melquisedeque (Gn 14); o recebimento dos
anjos em sua casa e sua intercessão pelas cidades pecadoras, Sodoma e

41
PENTATEUCO
OS F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Gomorra (Gn 18); o cumprimento da promessa de recebimento de


umfilho, nascimento de Isaque (Gn 21) e sua resistência diante da
provade oferecer seu filho em sacrifício (Gn 22).
A história de Abraão foi tão forte que é do interesse das três
religi-ões monoteístas do mundo: o judaísmo, o islamismo e o
cristianismo.O local onde passou uma boa parte de sua vida e onde
foi sepultado,Hebrom, hoje conta com o interesse e a apreciação de
adeptos desses diferentes segmentos, existindo, nesse local,

da
mesquitas muçulmanas, sinagogas judaicas e templos cristãos.

4.1.1 - A fé de Abraão
Abraão, também chamado de “o pai da fé” e o “pai dos

bi
crentes” (Gl 3.7,9 e 29), foi um homem que teve uma vida dedicada a
crer em Deus, a obedecer-Lhe e a relacionar-se com Ele. Essa figura
de vida exemplar enfrentou grandes desafios ao cultuar o Deus certo
oi
em meio aos pagãos e ao acreditar na realização de uma promessa
feita pelo Senhor. Para isso, precisou ter muita fé, coragem e
determinação.
Pr
A chamada feita pelo Senhor Deus (Gn 12) foi o primeiro
grande desafio que esse homem enfrentou, pois, ao ser orientado
pelo Criador, teve de deixar a terra onde vivia, os parentes, as suas
posses e os seus relacionamentos (Gn.12.4,5) para ir a outro
lugar, designado por Deus, e dar início à construção de uma grande
a

nação. Em Gênesis (12.6), encontramos a informação de que


Abraão, ao fazer a trajetória de Harã (5VSRVJB) para
Canaã (Israel) peregrinou por esses novos espaços na
nd

condição de estrangeiro e necessitou da compreensão


dos nativos (Gn 12.6), pois os desafios de morar em uma
terra que não era sua, de falar a língua estrangeira e de
administrar a questão cultural não foram tarefas fáceis.
Ve

"CSBÍP OÍP UFWF   OFOIVNB QPTTF EF UFSSB  FYDFUP P DFNJUÏSJP RVF
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UFWFRVFFOGSFOUBSSFJTJOWBTPSFTRVFUPNBSBNDJEBEFTDBOBOFJBT MFWBOEP

42
G ENTE A NTIGA E I MPORTANTE

presos os nobres e influentes da terra, (Gn 14). O texto bíblico diz


que Abraão foi militante na luta contra o abuso de autoridade da-
quele tempo (Gn 14.14).
Esse homem manifestou uma grande fé para cultuar o Deus certo
em meio aos pagãos. As culturas da época eram marcadas por proce-
dimentos religiosos que mais retratavam a malícia e maldade humana
do que a genuinidade e pureza da fé. Tanto a religião de Ur dos caldeus
como a dos cananeus tinham como pilar o culto aos deuses; ambas

da
contavam com panteões bem compostos e articulados, cujos deuses
brigavam entre si, praticavam atos violentos e imorais na defesa de
seus interesses, e muitos deles promoviam orgias e liberações sexuais.
Também esse último segmento (cananeu) incentivava sacrifícios hu-

bi
manos e a prostituição como expressão de adoração nos templos. Es-
sas sociedades possuíam ídolos, rituais e objetos que caracterizavam
oi
o modo de viver dos seus membros. Tudo girava em torno de uma
religiosidade criada para satisfazer o ego das pessoas, para permitir-
lhes um prazer barato e descompromissado. Foi nesse contexto que a
Pr
fé desse grande homem ganhou forma, pois seguiu o caminho que
não era o da maioria, recebeu uma revelação pessoal do projeto do
Deus Todo Poderoso e esforçou-se para expressar a fé na orientação
que a revelação lhe trouxe. Em diversas partes da Bíblia, encontramos
relatos sobre a construção de altares por Abraão dedicados ao Deus
a

Todo Poderoso e, em momento algum, cultuando nos altares pagãos.


(Gn. 12.7,8; 21.33 e 22.9). Devido a esse zelo devocional, foi o pre-
nd

cursor do monoteísmo para o segmento judaico-cristão. Sua fé foi


fundamental nesse momento para o resgate do culto certo, o culto ao
Deus criador dos céus e da terra.
Por fim é necessário ver como Abraão se relacionou com a promes-
Ve

sa feita pelo Senhor à sua vida. Ao tratá-lo, Deus apresentou-lhe um


plano e fez esclarecimentos sobre a concretização desse plano. Yahweh
disse que esse plano incluía uma descendência, uma terra e uma bên-
ção (Gn 12.1-3; 14.13-17; 15.5-7; 17.1-8). Essas promessas, sérias e
significativas, pareciam impossíveis de serem concretizadas, pois co-
mo um casal de estrangeiros, idosos e com dificuldades de procriação
poderia ter uma descendência numerosa, ser proprietário de uma ter-
ra e receber uma bênção especial para terem a missão de influenciar
outros povos, visto que ainda não possuíam sequer descendentes. Ali
estava o desafio da fé, e, apesar das crises e dificuldades, o nosso pa-

43
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

triarca abraçou essa promessa e, em momento algum, abriu mão da


esperança, antes treinou o coração desejando ver seu cumprimento
(Hb 11.8-10).
Essa fé foi imprescindível à missão de Abraão, principalmente, quan-
do, em um teste de fé, Deus lhe pediu o sacrifício de seu único filho.
Esse homem, sem perder a confiança em Deus, acreditou que seu filho
ressuscitaria dos mortos (Gn 22 e Hb 11.171) e multiplicaria seus
descendentes a ponto de serem numerosos como “as estrelas dos

da
céus” (Gn 15.5). Com relação à possessão da terra, houve muitas
lutas edisputas decorrentes: da cobiça de Ló (Gn 13); das invasões
dos reisvindos da Mesopotâmia (Gn 14); da força dos filisteus (Gn
21.25) e da destruição das cidades Sodoma e Gomorra, que foram

bi
incendiadaspelo Justo Juiz (Gn 19.24-29).
A fé não teve pressa, pois garantias havia acerca da possessão de
oi
Canaã. Deus havia dito a Abrão em Gênesis (15.13-16) que seus des-
cendentes seriam peregrinos na terra e que 400 anos mais tarde ocu-
pariam permanentemente aquela nesga (tira), que vai desde o Líbano
Pr
até o Egito. Isso aconteceu e é um fato histórico até nossos dias. Por
aproximadamente 100 anos Abraão peregrinou na terra de Canaã (Gn
16.3 e 25.7) e em seus dias nada possuiu, senão o campo onde estava
o sepulcro onde fora sepultado (Gn 23.16  1 e 25.7 e 8). Não
obstante, creu e quem viveu depois viu como a fé de Abraão virou
a

história; os hebreus marcaram as civilizações antigas, cumpriram o


propósito de Deus revelado a Abraão e aquela bênção que foi prome-
nd

tida ao patriarca e à sua descendência nos alcançou, pois Jesus, o


descendente direto de Abraão, foi enviado pelo Pai para salvar pesso-
as de todas as nações da terra.
Ve

4.2 - Isaque, o Filho da promessa.


Isaque foi personagem importante na construção da base
progenitora da nação de Israel. Não teve a mesma notoriedade de seu
pai Abraão, porém manteve-se com o mesmo compromisso e fé que
tivera seu pai. Sua história, embora singular e simples, foi marcada
por fatos significativos e relevantes àqueles que estudam as marcas da
fé na antiga aliança. Ao pensarmos em Isaque, o filho da promessa,
devemos lembrar do esforço de Abraão e Sara para ver nascer um
descendente. Essa necessidade ficou mais evidente com o apareci-
mento de Ismael, gerador de crises dentro da casa patriarcal. Outro

44
G ENTE A NTIGA E I MPORTANTE

momento que merece observação é aquele quando Isaque se torna o


protagonista principal de um dos episódios mais comentados do livro
dos Começos – o sacrifício de Isaque. Na seqVência desses momentos
vividos por esse personagem, encontramos relatos de como a fé este-
ve presente na formação de sua família, em especial, em seu casamen-
to, e no modo de enfrentar seus desafios.

4.2.1 - Alguns desafios

da
Assim como Abraão, Isaque enfrentou alguns desafios, que, direta
ou indiretamente, solidificaram sua fé e o levaram para mais perto da
promessa feita a ele por Deus (Gn 21.12 e 26.3-5). O primeiro grande
desafio enfrentado por esse herói foi o “problema Ismael”, que decor-

bi
reu da sugestão de Sara para que Abraão tivesse um filho com Agar,
uma escrava (Gn 16.3). Essa atitude permitida e bastante comum na-
oi
quela sociedade só passou a ser um problema quando Sara se percebeu
grávida (Gn 16.4). Nesse momento, o nascimento de Isaque, seu filho,
passou a ser motivo de escárnio e de zombaria, atitudes que contribu-
Pr
íram para que Abraão despedisse Ismael e sua mãe Agar (Gn 21.9,14 a
21). A existência de Ismael ajudou a construção da identidade de Isaque
como o sucessor legítimo da promessa, pois foi dito pelo próprio Se-
nhor: “Em Isaque será chamada a tua descendência.” (Gn 21.12). Toda essa
história possibilitou ao novo patriarca a percepção do teor do projeto
a

que se realizava em sua família e o conhecimento do Deus que condu-


zia esse momento da história.
nd

O segundo desafio de Isaque, registrado em Gênesis 22, refere-se à


história do seu sacrifício, ou melhor, de seu “quase” sacrifício. Esse fato
ocorreu em um momento especial da família patriarcal, quando Deus
submeteu seu servo Abraão a uma prova: o sacrifício de Isaque (Gn
Ve

22.2). Essa não era prova apenas para Abraão, mas também para Isaque,
pois este já não era mais uma criança, mas um jovem (Gn 22.5,12). Ele
sabia perfeitamente o que Deus estava propondo ao seu pai e como
isso resultaria em sofrimentos e dificuldades para si. Apesar disso, sub-
meteu-se totalmente a Deus, exercitando-se na mesma fé que seu pai
possuía como fundamento (Hb 11.18-20). O final dessa história mos-
tra a aprovação de Deus a esses fiéis e a substituição de Isaque por um
carneiro, que apareceu como ‘provisão’ para que a promessa fosse con-
cretizada (Gn 22.13 e 14).
O terceiro desafio de Isaque foi seu casamento. Esse lindo episódio

45
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

ocorreu algum tempo depois da morte de Sara, fato que lhe trouxe um
vazio (Gn 24.63). Nesse contexto, o servo principal de Abraão foi ori-
entado a ir até Harã, norte da Mesopotâmia, (hoje 5VSRVJB) para
buscar uma esposa para o jovem patriarca. Cada etapa desse grande
desafiofoi marcada com fé, oração (Gn 24.2-4, 11-14 e 60) e milagres
especiais (Gn 24.15-21). Ao fim dessa etapa, a escolhida, Rebeca,
uma mulher movida pela fé, deslocou-se de sua terra, casou-se com
Isaque, mostrou-se uma esposa querida e se transformou em um

da
importanteelo na história dos hebreus (Gn 24.606).
O quarto e último desafio está relacionado ao seu conflito com os
filisteus (Gn 26). Naquela terra de peregrinações, Gerar, os nativos
dificultavam a estada de Isaque e de sua família, entulhando os poços

bi
que eram fontes de recursos para a sobrevivência desses (Gn 26.15-
22). Diante daquela situação, Isaque teve uma atitude de fé, coragem e
oi
confiança naquele que disse: “Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas
porque eu sou contigo, e abençoar-te-ei e multiplicarei a tua semente por amor de
Abraão, meu servo” (Gn 26.24). Isaque não ressentiu e nem ficou desa-
Pr
nimado, pois outros poços foram abertos, permitindo assim a conti-
nuidade de seus projetos naquela terra.
Diante do que foi exposto, podemos perceber a importância da his-
tória de Isaque, um homem que guardou a fé que recebeu de seu pai
Abraão e prosseguiu na mesma direção da promessa. Suas lutas se cons-
a

tituíram em oportunidades para cultivar o relacionamento com Yahweh


e não permanecer à sombra da fé de seu pai, uma atitude que deu
nd

prosseguimento a solidificação do propósito de Deus para a humani-


dade. Entre suas lições, passadas através de sua própria história, está a
de confiar em Deus mesmo que as circunstâncias sejam totalmente
Ve

contrárias, um procedimento que deve ser sempre mantido pelo cren-


te. O cristão deve sempre ter em mente que precisa caminhar por fé,
não por vista, e lembrar que grandes resultados sobrevirão àqueles que
assim procederem.

Questões para reflexão.


1- Percebe-se que Abraão foi um herói da fé, uma pessoa muito
importante em um projeto que atendia aos interesses de Deus. Por essa
razão, esse patriarca cultivou valores e princípios que contribuíram para
a realização de sua missão. Que lições práticas podemos extrair da vida
de Abraão para aplicar em nossas vidas?

46
G ENTE A NTIGA E I MPORTANTE

2- Todo e qualquer projeto, grande ou pequeno, implica desafios.


Muitas vezes, os desafios enfrentados por uma pessoa são semelhantes
aos enfrentados por outra pessoa. Em que sentido os desafios de Isaque
foram semelhantes ao de seu pai Abraão?

da
bi
oi
Pr
a
nd
Ve

47
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 5

Os Continuadores
da Promessa

da
bi
oi
Pr
O sólido projeto estruturado em Abraão e Isaque, que visava a
formação das bases da nação de Israel, ganhou continuidade em Jacó
e José. Nessa continuidade do projeto, assunto deste capítulo, obser-
varemos a importância de Jacó e seu filho José para a solidificação do
a

plano feito por Deus, o qual só seria possível se esses descendentes


mantivessem seus olhos na Promessa feita por Deus aos seus pais
nd

Abraão e Isaque.
Jacó e seu filho José foram homens que enfrentaram grandes desafi-
os e que, por diversas vezes, foram incompreendidos e até mesmo mal-
tratados. Esses homens vivenciaram momentos que aos olhos huma-
Ve

nos pareciam ser o fim, mas foram corajosos e exercitaram a fé, realida-
de em seus ancestrais. Abordaremos esses indivíduos a partir daquilo
que foi a marca principal em sua experiência de vida; em Jacó olhare-
mos para a sua transformação e em José para sua fidelidade e confiança
no Deus todo poderoso. Jacó e José unem-se aos dois primeiros patriar-
cas, estudados anteriormente, formando o time dos progenitores da
nação de Israel, o povo que foi chamado por Deus para ser “luz para os
gentios”, isto é, para testemunhar de Deus dos Seus feitos e ensinos às
outras nações. Ao pensarmos neles, observaremos como o Senhor diri-
ge a história daqueles que, apesar de seus limites e desafios, contam

49
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

com a graça e o poder de Deus. “Pela fé, Jacó, próximo da morte, abençoou
cada um dos filhos de José e adorou encostado à ponta de seu bordão. Pela fé,
José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel e deu ordem
acerca de seus ossos” (Hb 11.21,22).

5.1 - A Luta de Jacó com Deus e com os homens


Jacó é dos personagens do Antigo Testamento cuja história é uma
das mais tumultuadas. Sua história, registrada a partir de Gênesis 26,

da
mistura-se com a de seu pai Isaque e de seu filho José. Apesar de mui-
tos dos fatos e experiências desse patriarca estarem relacionados a sua
vida familiar e a seu relacionamento com seus pais e com seu irmão, há
também uma experiência no exterior onde conheceu suas mulheres e

bi
onde trabalhou para a sustentação de sua família.
A vida desse servo de Deus pode ser olhada em três momentos espe-
oi
ciais: primeiro em Canaã; depois em sua estada em Padã-Harã e, por
fim, em seu retorno a Canaã. O primeiro momento se refere à constru-
ção da base de seu relacionamento familiar; o segundo, à sua experiên-
Pr
cia com o trabalho e formação de sua família; e o terceiro ao momento
do encontro e reconciliação com seu irmão. Podemos perceber em sua
história, um crescente desenvolvimento em sua vida espiritual desde o
momento em que vivia à sombra
da experiência de seus antepassa-
a

dos até o momento em que teve


profundas experiências com o Se-
nd

nhor, quando O adorou em alta-


res dedicados a Yahweh.
A vida desse patriarca apresen-
ta-nos lições importantes, verda-
Ve

des profundas que devem ser con-


sideradas e seguidas por aqueles
que se sentem chamados ao pro-
jeto do Todo Poderoso. Entre es-
sas lições, destacamos: a não pre-
ferência por determinado filho; a
não utilização de meios ilícitos
para conquistar o que se deseja;
o pedido de perdão, quando ne-
cessário; a não permissão da pre-

50
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

servação de sentimentos negativos; a oração e a busca da presença de


Deus em épocas difíceis; e a construção de altares como marcos em
nossa vida devocional.

5.1.1 - A experiência familiar de Jacó


Temos um breve, porém significativo relato sobre a experiência fa-
miliar de Jacó, um importante momento de sua vida. Esse relato, regis-
trado no livro de Gênesis, desde o capítulo 25, versículo 21 até o capí-

da
tulo 28, versículo 5, traz informações pertinentes ao seu nascimento,
seu relacionamento com os pais, a disputa pela primogenitura e a bên-
ção recebida. Fatos que culminaram no rompimento com a casa dos
pais e na busca de um novo espaço. Esse rompimento ocorreu princi-

bi
palmente por dois fatores: a importância dada por Yahweh à família e
a preferência filial. oi
A Família, uma das instituições mais sagradas e encantadoras, por
ser um espaço de ação pensado e escolhido pelo Senhor Yahweh para
realizar seu maravilhoso plano, em diversos momentos da história, so-
Pr
freu, sérios ataques e enfrentou grandes desafios. Com a família de Jacó
não foi diferente. Seus pais, Isaque e Rebeca, estavam no lugar certo, na
hora certa, e com uma promessa certa, todavia a arte de construir o lar,
não foi aprendida muito cedo. Cedo sim começaram a aparecer os desa-
fios, e o primeiro foi a presença da preferência filial. Gênesis (25.28) diz-
a

nos que “Isaque amava a Esaú, porque a caça era do seu gosto; mas Rebeca
amava a Jacó”. Esse amor dividido entre filhos não contribuiu em nada
nd

para o fortalecimento daquela casa, ao contrário, foi abertura para a


entrada da competição, disputa e rivalidade entre os irmãos.
Com o passar do tempo esse amor preferencial por um filho em
detrimento do outro, foi fertilizando terras que muito rápido começa-
Ve

ram a frutificar. Não demorou muito até que surgiu o primeiro grande
conflito, a tomada da Primogenitura. Primogenitura era a condição
estabelecida por direito ao filho primogênito, isto é, o primeiro filho de
sexo masculino nascido na família. A ele eram dados alguns privilégios
e também algumas responsabilidades. Teria ele a maior parte da heran-
ça da família, o direito a uma bênção especial e à autoridade, transferida
pelo pai, dando status e nome. Era também seu dever assistir seus pais
em idade avançada, dando-lhes toda assistência e amor. Gênesis (25.29-
34) registra que Jacó sendo o irmão mais novo (como gêmeo de seu
irmão, nasceu por último) foi oportunista, tomando de seu irmão Esaú

51
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

esse privilégio, oferecendo-lhe em troca um prato de sopa. Por conta


dessa fragilidade de Esaú, o escritor da epístola aos Hebreus (12.16),
chamoV-o de profano, dizendo: “e ninguém seja fornicador ou profano,
como Esaú, que por um manjar, vendeu seu direito de primogenitura”.
Apesar da atitude do irmão não ter colocado ressentimento em seu
coração, foi uma abertura para que em outro momento sua
fragilidade fosse novamente explorada, levando-o à perda da bênção.
A bênção era uma oração especial feita pelo pai um pouco antes de

da
sua morte, fazendo atribuições especiais ao filho primogênito, invo-
cando uma graça especial, para que esse filho ocupasse um lugar de
distinção no plano de Deus. Muitas vezes ocorriam profecias especiais
que previam bênçãos e prosperidades, falando de um futuro promissor,

bi
quando seus descendentes viriam a construir uma história bonita e
abençoadora. Existia a previsão de uma bênção que Isaque repassaria a
oi
Esaú, mas quem de fato foi abençoado foi Jacó. Novamente o irmão
mais velho é esvaziado de um dos seus direitos. O velho pai estava bem
idoso e, por sensibilidade espiritual, percebeu que sua partida estava
Pr
chegando (Gn 27.1 e 2). Então, chamou Esaú e pediu-lhe que fizesse
um jantar especial para celebrarem a transmissão da bênção (Gn 27.3
e 4). Rebeca escutou a conversa e orientou Jacó a enganar seu pai,
passando-se por Esaú, podendo assim receber aquela impetração espe-
cial, retirando de seu irmão também esse precioso bem espiritual. Jacó
a

foi abençoado em lugar de Esaú, quando Isaque disse: “Assim, pois, te dê
Deus do orvalho dos céus e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de
nd

mosto. Sirvam-te povos, e nações se encurve a ti; sê senhor de teus irmãos, e os
filhos da tua mãe se encurvam a vós. Malditos sejam os que te amaldiçoarem e
benditos sejam os que te abençoarem” (Gn 27.28,29). Essa bênção referia-
se a provisões, incluindo a fertilidade da terra e o sustento para casa;
Ve

ao domínio sobre pessoas e povos; e, por último, à garantia de seguran-


ça para obtenção de vitória e de superação sobre os inimigos.
A perda da bênção trouxe muita amargura para o coração de Esaú,
pois o pronunciamento de Isaque a ele foi vazio, pois apenas disse que
seria pai de uma nação e que se alimentaria das gorduras da terra.
Isaque não fez menção de um propósito especial de Deus para si e seus
descendentes (Gn 27.39 e 40), como havia feito quando abençoou
Jacó. O sentimento foi crescendo e amadurecendo em seu interior, e
por essa razão “aborreceu Esaú a Jacó por causa daquela bênção, com que seu
pai o tinha abençoado; e Esaú disse em seu coração; chegar-se-ão os dias de luto

52
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

de meu pai, então matarei a Jacó meu irmão” (Gn 27.41). A inimizade
estava viva e arraigada em Esaú. Rebeca percebeu a situação e orientou
Jacó a viajar para o exterior, indo à 5VSRVJB, a uma região chamada
Padã-"rã, à casa de parentes para safar-se da fúria do irmão lesado e
irado. Esse contexto apresentado é o pano de fundo para uma
história marcada por profundas experiências com Deus. É bom
lembrarmos que a movimentação na história desse indivíduo não foi
BQFOBT resultado deerros cometidos por seus pais, um casal piedoso, o

da
qual possuía a promessa de descendentes e orava acerca dessa pro-
messa, mas a oportunidade de Jacó para ter suas próprias experiências
e caminhar nos propósitos do Senhor. Jacó teve boas oportunidades
para rever seus conceitos e para organizar-se dentro de um programa

bi
espiritual que fora pensado para ele. Percorreu caminhos difíceis,
mas isso lhe ensinou preciosas lições; e aprendeu a importância do
oi
culto, por causa disso, foi um construtor de altares. Essa
espiritualidade permitiu-lhe que se tornasse mais fraterno e humilde e
que tivesse a força do perdão e a constante presença de Deus em sua
Pr
vida. O conhecimento desses fatos nospermite concluir que as crises
são momentos especiais que permitem oamadurecimento do caráter e 
o aprofundamento das experiências com o grande Deus.

5.1.2 - Os altares na experiência espiritual de Jacó


a

Os altares, memoriais para os adoradores da velha aliança, eram


lugares consagrados ao Senhor para oferendas. Construídos com pe-
nd

dras que permaneciam no local por séculos, transformavam-se em pon-


tos de adoração coletiva e centros de decisões nacionais a partir de
experiências especiais marcadas pela presença de Deus. Jacó teve a opor-
tunidade de construir diversos altares em sua trajetória de fé, porém
Ve

três deles se destacam por terem sido construídos em momentos de


enormes desafios para esse patriarca. São eles, Betel, Peniel e El-Betel.

5.1.2.1 - Betel
O primeiro altar, Betel, cujo significado é casa de Deus, está intima-
mente ligado à fuga da presença do furioso Esaú (Gn 28). O momento
era de lutas internas, temores e expectativas. Jacó saiu em direção à
casa dos parentes de sua mãe (Padã-"rã) e naquela primeira noite,
Deus apareceu a ele através de uma visão. Na visão, havia uma escada
que ligava a terra aos céus e através dela os anjos transitavam (Gn

53
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

28.12,13). Deus, com essa visão, queria mostrar a Jacó que existia um
caminho mais excelente que ele poderia percorrer, o caminho do relaci-
onamento com Yahweh, o Deus que havia chamado Abraão e Isaque e
que desejava relacionar-se também com Jacó. Ao percorrer esse cami-
nho, teria condições suficientes para enfrentar novos desafios e tam-
bém contaria com a garantia de uma cobertura espiritual para sua vida
ao formar sua nova família em Padã-"rã. Na casa de Deus, o patriar-
ca fugitivo ganhou suporte. Estava no relento, mas se sentiu aconche-

da
gado nos braços do Senhor, tendo a percepção de que o céu era o lugar
do trono de Deus e a terra o estrado de seus pés. Jacó viu o interesse
divino por sua vida e ali fez um voto. Um voto que o vinculava a uma
esperança, que o fazia crer em um futuro abençoado. Assim disse: “Se

bi
Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer
e roupa para vestir e em paz tornar a casa de meu pai, Yahweh será o meu
oi
Deus!” (Gn 28.20 e 21). Apesar do histórico religioso, somente naquele
momento é que começou a priorizar os interesses do Eterno Senhor.
Os próximos capítulos de Gênesis (29-31) relatam milagres financeiros
Pr
e estruturação de uma grande família, porém algumas coisas ainda es-
tavam por acontecer.

5.1.2.2 - Peniel
O segundo altar foi Peniel – a face de Deus. Jacó estava retornando
a

ao seu antigo lar, Canaã, com recursos financeiros, família e promessas


do Senhor a respeito de um plano especial naquela terra. Ao retornar,
nd

teria de resolver um grande problema: conseguir o perdão de seu ir-


mão e reconciliar-se com ele. Enquanto refletia sobre isso, um ser an-
gelical MVUPVDPNFMF, bem de madrugada (Gn 32.24). Esseser fez uma
Ve

ministração ao coração de Jacó, tocando no seu ponto nevrálgico,


sua deficiência de caráter. Jacó, cujo nome tornou-se sinônimo de
enganador, havia enganado pessoas a sua volta, por isso deveria sofrer
uma mudança de nome e uma transformação em seu caráter.A partir
daquele momento, Jacó passou a se chamar Israel, príncipe de Deus.
Essa experiência foi uma preparação para encontrar-se com seu
irmão: “Esaú correu-lhe ao encontro e abraçou-o e lançou-se sobre o seu pescoço
e beijou-o, e choraram” (Gn 33.4). O nó estava sendo desatado, os canais
desobstruídos e as feridas curadas (O

Como aconteceu com Jacó, temos preciosas oportunidades quando
podemos refletir sobre nossas posturas, repensar nossos valores e resga-

54
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

tar o que tínhamos de mais importante – o relacionamento com nossos


irmãos. O culto ao Senhor nos ajuda nessa caminhada, a caminhada da
confissão e do perdão; a caminhada da transformação de nosso caráter.

5.1.2.3 - El-Betel
El-Betel é o último altar (Gn 35.7) Esse terceiro altar retrata uma
espiritualidade mais amadurecida. Os momentos anteriores tratam de
conversão e cura (Betel e Peniel), mas El-Betel, de gratidão. Jacó fez

da
um retrospecto e tributou ao Senhor adoração. Uma adoração não ape-
nas por Suas obras, mas por Sua própria essência. O foco era Deus,
não sua face ou sua casa.

bi
5.2 - José, um homem de fidelidade e obediência.
Em um contexto muito distante de nós, por volta dos anos 1800 aC.,
oi
sobre o solo de Israel e do Egito, ocorreu a linda história de José. O José
que virou filmes e livros; o José que sempre é lembrado em pregações e
estudos, não por erros ou deficiências, mas por seu caráter forjado em
Pr
meio a grandes desafios. Esse homem que tem, no livro de Gênesis (37-
50), 14 capítulos destinados ao relato de sua história, uma parte maior
do que aquela destinada ao registro dos fatos pertinentes aos primórdios
da humanidade, submeteu-se, por causa de um sonho, a grandes prova-
ções. Nessas provas, ao mesmo tempo que sofreu, nutriu a esperança da
a

realização de um grande projeto de Deus em sua vida e reorganizou o


seu modo de ser e de agir. Uma das expressões que marcam o relato de
nd

sua vida é a de que “Deus estava com José” (Gn 39.2 e 23). Foi exatamente
essa presença que deu o tom em toda sua trajetória. José foi um homem
de sonhos realizados. Sonhos que marcaram sua vida e que proporciona-
ram a muitas pessoas momentos de bênçãos e provisões.
Ve

Ao observarmos a história desse valoroso servo de Yahweh, procure-


mos aplicar à nossa experiência, princípios que regeram seu relaciona-
mento com Deus e também com as pessoas. Paremos para lembrar que
história bonita não se faz com ‘passe de mágica’, mas se constrói com
esforço e determinação, sempre com o olhar voltado para o propósito
do Soberano para a nossa vida.

5.2.1 - A trajetória da humilhação


A primeira fase da vida desse herói da fé, Hb 11.22, foi marcada
por muitos desafios e sofrimentos, incompreensões, perseguições e

55
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

humilhações. Foi um tempo marcado por uma caminhada de rebaixa-


mento desde o momento em que vivia desfrutando do prestígio pa-
terno (Gn 37.3) até o momento em que mofava em um cárcere cruel
(Gn 39.20). A humilhação faz bem à alma, ela permite sermos mais
sensíveis a Deus, pois a Bíblia diz que a “tribulação produz a paciência e
a paciência produz a experiência e a experiência a esperança, e a esperança
não traz confusão, porquanto o amor de Deus foi derramado em nossos cora-
ções pelo Espírito Santo” (Rm 5.3-5). De fato o que veremos, ocorreu

da
paulatinamente e dentro de um processo espiritual que tinha por fi-
nalidade moldar esse homem para uma grande obra.
A inimizade dentro da casa de Jacó foi o começo do problema. A
família era numerosa, com 12 filhos e uma filha. José estava entre os

bi
mais novos, porém o procedimento dos mais velhos gerava preocupa-
ção a Jacó (Gn 37.2). Por conta disso Jacó se valia do bom rapaz para
oi
fiscalizar o procedimento dos seus filhos mais velhos. Com isso, fez
grandes atribuições a José, a ponto de dar-lhe uma roupa especial que o
distinguia de seus irmãos Gn 37.3
. Isso aguçou a maldade de
Pr
seus irmãos que começaram a maltratá-lo Gn 37.4
. Além disso,
José contou-lhes dois sonhos que tinha tido. Sonho que falava de uma
possível subordinação de toda a sua família a si (Gn 37.5-11). A
reação foi certa. À medida que ouviam os sonhos, sentimentos
negativos e punitivos começaram a emergir. O texto diz que
a

aborreciam a José, que brigavam através de palavras e que sentiam


inveja em seus corações (Gn 37. 5,8, e 11).
nd

O coração do homem é mal, dizia o profeta Jeremias, é como cister-


na que jorra pensamentos, sentimentos e imaginações perversas. Nes-
sa história, cada vez que os filhos de Jacó viam José com aquela roupa
especial, lembravam de seus sonhos e desejavam eliminá-lo, matando-
Ve

o e simulando que uma fera o tinha devorado (Gn 37.20-23). Na ver-


dade, esse plano foi barrado por Rubem, sendo sucedido por outra
maldade, pois o lançaram em uma cisterna sem água (Gn 37.23 e 24).
A presença de alguns beduínos mudou a sorte de José, colocando-o a
caminho do Egito, após ter sido tirado daquele buraco desconfortável,
Gn 37.25-28.
O Egito naquela época era o centro econômico e político mais im-
portante do mundo. Contava com uma agricultura e arquitetura bem
avançada. Desenvolvia técnicas de irrigação e fazia grandes colheitas
nas terras que margeavam o Rio Nilo, principalmente àquelas mais

56
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

próximas de sua foz. O Egito agora era o novo lar de José. Com certeza
um lar não muito aconchegante, pois ao chegar trazido pelos beduínos,
fora colocado à venda no comércio escravagista. Gn 37.36 nos diz que
“fora vendido a Potifar, um alto funcionário na corte egípcia”. José estava em
pleno processo de humilhação, pois perdera a capa de honra dada por
seu pai, para vestir a roupa de serviçal, trabalhando em casa de gente
estrangeira. Todavia encontramos o seguinte esclarecimento: “E o Se-
nhor estava com José, e foi varão próspero; e estava na casa de seu senhor... José

da
achou graça aos olhos de Potifar e servia-o; e ele pôs sobre a sua casa e entregou
na sua mão tudo que tinha”, Gn 39.2 e 4.
Administrar negócios pessoais
não é tarefa fácil, muito mais com-

bi
plexo é administrar o que é de ou-
trem. Foi essa a habilidade que José
oi
precisou desenvolver nesse novo
desafio. Apesar de acertar no que
fazia (Gn 39.3), correu sérios ris-
Pr
cos. Foi vítima de uma terrível acu-
sação, pois a esposa de Potifar o
acusou de ter atentado ao pudor,
quando de fato o que tinha acon-
tecido fora o esforço de proteger
a

sua integridade e também de zelar


pela honra de seu patrão, rejeitan-
nd

do manter relações sexuais com sua


patroa, Gn 39.8 e 9. Mesmo assim
a acusação resultou-lhe em perda
de sua liberdade, indo para a pri-
Ve

são. Todavia sua prisão foi diferen-


te, pois novamente teve a oportu-
nidade de manifestar habilidades
onde estava. Gênesis (39.22 e 23)
nos diz que o “carcereiro-mor entre-
gou na mão de José todos os presos que
lá estavam, não tinha nenhuma preo-
cupação, porquanto o Senhor estava
com José e o Senhor prosperava tudo o
que fazia”. O E GITO

57
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Às vezes, nós não entendemos algumas circunstâncias pelas quais


passamos e perguntamos por quê. Fazemos assim porque não entende-
mos a finalidade da prova. Ficamos sensibilizados com a dor do sofri-
mento e não conseguimos enxergar o que está pela frente. José vivenciou
com tranqXilidade aquela situação. Lá chefiou a cadeia e pôde ser
interpretador de sonhos. Gênesis (capítulo 40) diz de dois presos que
tiveram seus sonhos interpretados por José. Com o cumprimento do
sonho do copeiro-mor, sendo restituído à antiga função no governo,

da
faz a ponte para trazer José ao centro decisório daquela época. Um
novo capítulo começou na vida desse servo de Deus. A humilhação,
marcada por dependência em Deus, frutificou, dando lugar a reconhe-
cimento e prestígio.

bi
5.2.2 - Reconhecimento e exaltação oi
A segunda fase da vida de José foi marcada por ascensão e destaque.
José saiu daqueles longos anos de lutas e aborrecimentos para uma
posição de reconhecimento e coroação, mas também de trabalho e in-
Pr
fluência. Essa ascensão o permitiu fazer parte da estrutura de coman-
do daquele país (Egito), pois Deus estava criando a ocasião para fazer
crescer os descendentes de Jacó, formando um povo numeroso, para
realizar o plano de ser nação modelo e abençoadora para todos os po-
vos. José foi a pessoa-chave para que isso viesse a acontecer. José teve
a

uma participação especial em um tempo de bonança, administrando


sabiamente os recursos do Egito, para que nos próximos anos, tempos
nd

de crises, o país não viesse à falência. Foi na fase final desse período
que voltou a ver sua família, podendo abraçar seus irmãos e trazer todo
o clã para a terra das provisões. Pôde também construir uma família e
ter filhos, filhos que foram abençoados, tornando-se posteriormente
Ve

cabeças de tribos, príncipes entre os maiorais de Israel. No final da sua


história, refletindo sobre os tempos de lutas marcadas pela hostilidade
fraterna, disse: “Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou
em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo
grande”, Gn 50.20. José compreendeu o curso de sua história e pôde ver
o seu sonho tornar-se realidade.

5.2.2.1 - A chegada de José ao governo


A chegada de José ao governo aconteceu de forma sobrenatural,
pois o próprio Deus, com sua sabedoria, foi conduzindo a situação.

58
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

Ainda na cadeia, o jovem patriarca interpretou sonhos, e essa notícia


chegou ao palácio em um dia que o faraó da época estava preocupado
com um sonho enigmático que havia tido durante a noite. José inter-
pretou o sonho do faraó, o “sonho das vacas gordas e das vacas ma-
gras”, Gn 41.1-37 e por conta dessa demonstração de sabedoria foi
promovido a governador do Egito, vejamos o que o próprio rei falou:
“Acharíamos um varão como este, em quem há o Espírito de Deus?
Depois disse faraó a José: Por que Deus te fez saber tudo isso, não

da
há ninguém tão inteligente e sábio como tu. Tu estarás sobre a mi-
nha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo; somente no
trono eu serei maior que tu. Vês aqui, te tenho posto sobre toda a
terra do Egito. E tirou faraó o anel da sua mão e o pôs na mão de

bi
José, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pôs um colar de ouro no
seu pescoço, e o fez subir no segundo carro que tinha, e o aclamaram
oi
todo o povo, e assim foi posto sobre toda a terra do Egito”, Gn
41.3-43.
Pr
José tinha mais que a aprovação popular e oficial, tinha a sabedoria
de Deus para administrar naquele momento. O Deus que estivera con-
sigo nos tempos críticos, também estava presente nesse momento. José
não abriu mão da graça de Deus por conta da força da sedução munda-
na, política e material. Ele nos dá o exemplo de que é possível estar
a

com Deus em todos o momentos de nossa história sem abrir mão das
coisas espirituais.
nd

5.2.2.2 - A reconciliação
Na história de José, temos uma situação semelhante àquela que houve
na história de seu pai Jacó: a necessidade de parar para reconciliar-se
Ve

com seus irmãos. De Gênesis 42 ao 45, temos os irmãos de José des-


cendo de Canaã ao Egito em busca de alimentos por causa de uma
grande fome e, para surpresa deles, quem encontraram no comando e
administração dos armazéns egípcios foi José, o irmão hostilizado. Aos
poucos José buscou informações em seus irmãos e também lhes infor-
mou acerca da sua vida, mas não de uma vez. Foi estratégico, criando
vínculos sem assustá-los e sem perdê-los de vista. Montou estratégias a
que voltassem ao país da fartura para novas compras. Enquanto isso,
fazia a mobilização para o grande momento do reatamento da amizade
e do perdão. Gênesis 45 diz-nos que José deu-se a conhecer aos seus

59
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

irmãos. Fez assim, não para realçar a malignidade que imperou em seus
corações em anos passados. Mas fê-lo porque precisava de reaproximação
e de liberação de perdão àqueles que eram seus pares na formação de
um povo especial. A Bíblia diz que foi um momento de grande como-
ção: “Levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviram e até
no palácio chegou aquele som”, Gn 45.2. José viu o seu sonho sendo con-
cretizado, não com arrogância em seu coração, mas na função de
abençoador; cumpria-se ali o significado do seu nome egípcio, Zafenate-

da
PanHia, que é, salvador do mundo. José aproveitou o momento para
dizer-lhes que não existia amargura ou ressentimento, mas que Deus o
tinha conduzido por caminhos difíceis.
“Ele disse: Eu sou José, vosso irmão a quem vendestes para o Egi-

bi
to. Agora pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos
por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da
oi
vida, Deus me enviou diante da vossa face. Porque já houve dois
anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que
não haverá lavoura nem colheita. Pelo que Deus me enviou diante
Pr
da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guar-
dar-vos em vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós
que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de
faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a
terra do Egito”. Gn 45.-8.
a

José mais uma vez nos dá uma preciosa lição. Nos mostra que ser
nd

bem sucedido é também ter a capacidade de abrir o coração e ministrar


perdão aos ofensores. Ao nascer seus filhos Manassés e Efraim, quis
falar sobre isso lhes dando esses nomes. O primeiro “Deus me fez es-
quecer” e o segundo “Deus me prosperou”, Gn 41.50-52. Precisamos
Ve

aprender essas lições, pois só teremos prosperidade em nossa vida, à


medida que damos tratamento correto às lembranças amargas do pas-
sado. José nos mostra que vale a pena ser humilde. A Bíblia diz que
“Deus abate aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Questões para reflexão


1- Os valores culturais de um povo determinam o seu modo de vida
e posicionamentos assumidos ao longo de sua história. A época de Jacó
foi rica em valores que são seus principais traços. Fale sobre a impor-
tância da primogenitura e da bênção para a sociedade patriarcal.

60
O S C ONTINUADORES DA P ROMESSA

2- O caráter é o modo de ser e de agir de cada pessoa. Algumas


pessoas desenvolvem um bom caráter, e outras, um mau caráter. José
foi um indivíduo que se preocupou com a formação de seu caráter, e o
aspecto que ganhou destaque foi a fidelidade. Quais são os fundamen-
tos da fidelidade de José?

da
bi
oi
Pr
a
nd
Ve

61
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
UNIDADE II

UM POVO ESPECIAL

da
bi
oi
Pr
Na unidade anterior, ao tratarmos de Abraão, Isaque, Jacó e José,
lembramos que o Todo-Poderoso tinha alguns pensamentos especiais,
os quais se tornariam realidade à medida que o povo fosse crescendo, o
que aconteceu. Nesta unidade, denominada “Um povo especial”, a
a

segunda deste livro, observaremos como os descendentes de Jacó vie-


ram a ser um povo numeroso e forte em quem Deus realizou seus pro-
nd

pósitos. No primeiro capítulo, estudaremos sobre o ambiente onde esse


povo se multiplicou, o Egito, e quais as contribuições que Israel rece-
beu desse ambiente. No segundo capítulo, olharemos para Moisés, o
líder que foi levantado por Deus para conduzir o povo em direção à
Ve

Terra Prometida. No terceiro, deteremos nossa atenção no final do pe-


ríodo quando Israel esteve no Egito e analisaremos o significado das
pragas enviadas por Deus à terra dos faraós. No quarto, examinaremos
como se deu a saída do Egito, o Êxodo dos hebreus, e quais desafios
estavam pela frente. Por último, olharemos para as leis, aquelas orien-
tações elementares dadas por Deus a essa gente que deveria cumprir
um papel importantíssimo no plano de Deus.

63
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 1

Na Periferia das Pirâmides

da
bi
oi
Pr
A formação histórica de Israel se deu no Egito e esse relato aparece
na Bíblia em Êxodo (1-4). Lá, os descendentes de Abraão estiveram
por 430 anos, quase meio milênio, e ao longo desse tempo, muitas
circunstâncias se somaram à execução do plano que Deus tinha para
a

esse povo, tanto as circunstâncias favoráveis quanto as desfavoráveis.


Os desígnios do Eterno Criador vinham sendo cumpridos ou através
nd

da simpatia de alguns governantes demonstrada aos hebreus ou atra-


vés da hostilidade e dureza de outros governantes. Com relação aos
últimos, temos a escravidão dos hebreus e a matança de suas crianças,
todavia Deus continuava a dirigir sua história. Neste capítulo, tentare-
Ve

mos responder à questão sobre a importância da permanência do povo


de Israel no Egito para o propósito do Senhor.

1.1 - A descida de setenta pessoas ao Egito


A terra de Canaã distava do Egito em aproximadamente 500 quilô-
metros. Foi através desse percurso que os hebreus saíram para ficar fora
de Canaã por 430 anos. O livro do Êxodo nos diz que foram 70 hebreus
que desceram ao Egito e tendo se instalados nessa terra formaram uma
grande comunidade (Ex.1.5-7). Canaã era uma terra habitada não só
pelos povos cananeus, mas também por Abraão e seus descendentes,

65
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

que estiveram ali por um século e meio. Essa terra, de muitos recursos
naturais, tinha grandes conflitos pelo fato de ser o elo entre os três
continentes antigos. Por causa do constante trânsito de pessoas, quer
guerreiros, exploradores ou comerciantes, suas cidades eram todas mu-
radas e cada uma tinha um governo autônomo, isto é, um rei-prefeito.
Nessa terra, por onde todos passavam, os hebreus estiveram no momen-
to inicial de sua história e foi acerca dessa terra que Yahweh fez promes-
sas para seu povo. Canaã hospedou por muito tempo os hebreus que

da
vieram, posteriormente, a ser os seus legítimos donos.

bi
oi
Pr
a
nd
Ve

Do outro lado estava o Egito, país que na época era considerado não
só o berço da medicina como também o centro político, financeiro e
cultural mais avançado. Essa sociedade já desenvolvia práticas de

66
N A P ERIFERIA DAS P IRÂMIDES

embalsamamento, técnicas de irrigação e canalização, e grandes proje-


tos de construção civil, tais como, as enormes pirâmides que estão em
pé até o dia de hoje. Esse país também se destacou com desenvolvi-
mento do papiro, material que serviu para farta documentação na ida-
de antiga, e com a agricultura também avançada, desenvolvida nas ter-
ras férteis do vale do Nilo e nas imediações do Delta do Nilo, terra de
Gósen. Todo esse ambiente físico contribuiu favoravelmente para a
instalação e o desenvolvimento do povo de Israel.

da
O Egito não tinha apenas
qualidades de destaque, mas
também algumas características
que se transformaram em gran-

bi
des desafios para o povo de
Deus. Naquela época, esse país
oi
politeísta (adorador de muitos
deuses) creditava a alguns deu-
ses a produtividade da terra e a
Pr
capacidade de governo do rei.
O próprio faraó era reverencia-
do como uma divindade. Tudo
isso fazia do Egito um modelo
excessivamente negativo para
a

os hebreus.
Essa situação poderia des-
nd

pertar os herdeiros da promes-


sa para lembrarem de seu com-
promisso com o grande
Yahweh, por saberem da reve-
Ve

lação feita aos seus antepassa-


dos como o único Deus, ou
então, distanciá-los desta reve-
lação, por estarem sob o controle egípcio, e parece que isso foi aconte-
cendo ao longo da permanência desse povo na “terra das múmias”.
Josué disse, orientando o povo: “Agora temei ao Senhor e servi-o com since-
ridade e com verdade, e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais
dalém do rio e no Egito, e servi ao Senhor”. Js 24.14. Apesar do texto nos
dizer que os pais veneraram aquelas divindades, é bom lembrarmos
que sempre houve um grupo de pessoas que mantinha vivas as verda-

67
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

des ditas a Abraão, Isaque e Jacó e não desprezavam essa revelação


feita por Deus.

1.1.1 - Os Hicsos
O Senhor Deus sempre fez coisas especiais àqueles que o amam, por
isso é chamado de Yahweh-Jireh, o Deus que provê. Yahweh também é o
Deus da Providência, pois possui planejamento especial para conduzir
com sabedoria todo seu projeto. Foi assim que agiu ao permitir que os

da
Hicsos, reis de origem pastoril, procedentes das imediações da Ásia Me-
nor (atual Turquia), entrassem no Egito no século XVIII a.C, afastassem
as lideranças nacionais para a parte mais isolada do país, chamado de
Alto Egito, região ocupada hoje pelo Sudão e Uganda, e estruturassem

bi
uma nova força de comando naquela potência mundial.
José, que chegou ao Egito naquele mesmo período, conheceu o país
oi
em pleno domínio dessa dinastia, a qual valorizava os estrangeiros re-
sidentes no país oferecendo-lhes vários incentivos para que esses se
tornassem seus mais poderosos aliados. Aos hebreus foi oferecida, no
Pr
nordeste do Egito, a terra de Gósen, uma terra fértil, produtiva e de
fácil acesso para outras partes do mundo e para a sede do governo. A
eles também foram estendidos outros favores oficiais que estão
registrados em Gênesis (45.26  2): “Então lhe anunciaram dizendo: José
ainda vive e ele também é regente em toda terra do Egito. E o seu coração
a

desmaiou, porque não os acreditava. Porém, havendo-lhes contado todas as pa-


lavras ditas por José, e vendo os carros que José enviara para levá-lo, reviveu o
nd

espírito de Jacó, seu pai. E disse Jacó: Basta!”. No capítulo 46 desse mesmo
livro, encontramos o relato sobre a recepção feita pelo faraó à família
de José e a sua permissão para que aquele homem tocasse todos os seus
Ve

projetos sem qualquer restrição ou dificuldade.


Os reis pastores investiram em um clã que, em menos de 500 anos
passou a ter aproximadamente 3.000.000 de pessoas. Êxodo (1.7) re-
gistra que “os filhos de Israel frutificaram, e aumentaram muito e multiplica-
ram-se e foram fortalecidos grandemente, de maneira que a terra se encheu
deles”. Em 1570 a.C., os Hicsos foram expulsos do país, e os nacionais,
que estavam recuados no sul do país, voltaram a governar o Egito e
deram início a um novo capítulo na vida dos hebreus.

1.2 - O trabalho forçado e a construção das pirâmides


A retirada dos Hicsos desencadeou o florescimento do movimento

68
N A P ERIFERIA DAS P IRÂMIDES

nacionalista egípcio. As autoridades, que durante séculos ficaram recu-


adas na parte mais isolada do país (Alto Egito), retomaram a região
mais estratégica e desmantelaram toda estrutura anterior. Esse movi-
mento destinou dureza e hostilidade a todos quantos foram aliados
dos Hicsos, em especial, nações estrangeiras residentes na terra. No afã
de dar um tom egípcio à vida e às instituições do governo, tentaram
fazer do Egito um país parecido com aquele pré-hicsos. Para que isso
fosse possível, algumas estratégias foram montadas, entre elas, a subor-

da
dinação dos hebreus à condição de escravos, dando-lhes um trabalho
por demais duro. A Bíblia nos informa acerca desse tempo:
“Depois se levantou um novo rei sobre o Egito, que não conhecera
José, o qual disse ao povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito

bi
e mais poderoso do que nós. Eia, usemos sabiamente para com ele,
para que não se multiplique, e aconteça que, vindo a guerra, ele
oi
também se ajunte com nossos inimigos e peleje contra nós, e suba da
terra. E os egípcios puseram sobre eles maiorais de tributos, para os
afligirem com suas cargas. E edificaram a faraó cidades de tesouros,
Pr
Pitom e Ramessés, mas quanto mais os afligiam, tanto mais se
multiplicavam e tanto mais cresciam; de maneira que se enfadavam
por causa dos filhos de Israel. E os egípcios faziam servir os filhos de
Israel com dureza; assim, lhes fizeram amargar a vida com dura
servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo, com
a

todo o seu serviço, em que os serviam com dureza”. Ex 1.8-14.


nd

O texto supracitado nos revela que os egípcios tentaram dificultar o


crescimento do povo de Israel por acreditarem que o trabalho forçado
reduziria as forças, a vitalidade e, também, os sonhos de uma nação.
Essa tentativa ocorreu porque os egípcios tinham a preocupação de
Ve

que, aumentando a população hebrFia no Egito, em algum momento


poderiam fazer como os Hicsos fizeram, governar o país, relegando os
nacionais a um segundo plano. Mas os egípcios desconheciam a verda-
de, que o único Deus estava cuidando de seu povo e um milagre estava
por acontecer; pois quanto mais sofrimentos, hostilidades, crueldades
e trabalhos duros, mais esse povo ficaria numeroso e forte. Deus estava
no comando da situação e no final tudo reverteria de forma positiva
para a concretização de seus planos. A Bíblia registra que: “todas as
coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são
chamados de acordo com o seu propósito!” Rm 8. 28. Mesmo que os hebreus

69
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

não conseguissem fazer essa leitura, o propósito de Deus estava se con-


cretizando.

 $PDWDQoDGRVPHQLQRVUHFpPQDVFLGRVKHEUHXV
Novas estratégias foram pensadas pelos egípcios para diminuir a
força e o crescimento dos hebreus, pois as anteriores não estavam apre-
sentando eficácia. Como nova estratégia, decidiram matar Ps NFOJOPT
recém-nascidPs desse povo. Êxodo (1.15 e 16) revela que o rei do Egito

da
falou às parteiras das hebrHias, Sifrá e Puá: “Quando ajudardes no parto
as hebrFias e as virdes sobre os assentos, se for filho, matai-o; mas, se for filha,
então, viva”. A essência dessa tática seria acabar com os homens hebreus,
deixando apenas as mulheres, que, por questão de sobrevivência,

bi
viriam a casar-se com homens egípcios, contribuindo, assim, para a
anulação da identidade do povo hebreu. Essa medida violenta e
oi
desumana também foi frustrada porque Deus colocou no coração
dessas duas parteiras egípcias, que prestavam serviços às hebrHias, a
vontade de preservar a vida daquelas crianças que faziam parte do
Pr
grande projeto do Todo-Poderoso mencionado a Abraão. Esse povo
oprimido veria, depois de 400 anos afligido em uma terra que não
era sua, o opressorjulgado e sairia com grande fazenda (Gn 15.13 e
14). A pressão foi aumentando e 'BSBØPSEFOPVRVFPTNFOJOPTGPTTFN
MBOÎBEPT no rio "MHVOT QPEFNUFSTJEP escondidPs como foi o caso de
a

Moisés, todavia os intentos do Senhor não seriam frustados, todo o


sofrimento que o povo de Israel estavapassando chegaria ao fim.
nd

O Egito foi, durante muito tempo, um berço para Israel, benefici-


ando-os, na sua chegada, com uma política favorável e com uma terra
que lhe permitia o sustento, porém ali não era a terra definitiva para
Ve

os hebreus. O Senhor Deus, em suas promessas, tinha sinalizado que


esse povo deveria ir para Canaã e que o momento da partida se apro-
ximava. Assim, o som da hostilidade emitiu a mensagem de que em
breve deixariam esse país, a escravidão e a matança das crianças seri-
am fatos do passado. Essa mensagem, embora fosse uma resposta aos
pedidos de libertação do povo hebreu, não foi de fácil cumprimento.
Muitos desafios deveriam ser enfrentados até que oportunamente
deixariam aquela terra.
Tal como naqueles dias, o povo de Deus ainda enfrenta oposições
para que os propósitos do Criador não se realizem em sua vida, por
isso é necessário manter uma fé inabalável naquele que nos chamou e

70
N A P ERIFERIA DAS P IRÂMIDES

lembrar da verdade apresentada por Paulo aos romanos: “a tribulação


produz a paciência e a paciência a experiência e a experiência a esperança e a
esperança não traz confusão a ninguém porque o amor de Deus foi derramado
em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5.3-5). Foi esse o desafio en-
frentado pelo Mestre, mas a cruz não O deteve, pelo contrário ressur-
giu e Sua mensagem se espalhou pelos quatro cantos da terra. Precisa-
mos olhar para esses exemplos e ter nossa fé animada para que os pro-
pósitos de Deus possam ser cumpridos em nossa vida.

da
Questão para reflexão
A formação de um povo demanda muito esforço e capacidade para
suportar as experiências amargas da vida. O hebreus permaneceram

bi
por 430 anos em uma terra que não era sua, e foram submetidos a
muitos sofrimentos. Argumente como a experiência dos hebreus no
oi
Egito contribuiu para a realização do plano de Deus em sua história.
Pr
a
nd
Ve

71
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 2

Moisés e sua Missão

da
bi
oi
Pr
A história de Moisés é uma das mais ricas e interessantes de todo o
Antigo Testamento, pois não apenas retrata o que significou para si
mesmo, mas também para a vida de seu povo, Israel. O livro de Êxodo
dá destaque aos detalhes referentes à sua infância, formação, experiên-
a

cias vividas no palácio e vocação recebida de Deus para liderar a nação


rumo à Terra Prometida. Observe o que a Carta Aos Hebreus revela
nd

acerca de Moisés:
“Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais,
porque viram que era um menino formoso; e não temeram o man-
damento do rei. Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser cha-
Ve

mado filho da filha de faraó, escolhendo, antes, ser maltratado


com o povo de Deus do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do
pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que
os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé,
deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como
vendo o invisível”. Hb 11.23-27.

De acordo com essa citação bíblica e outras referidas em Hebreus


(11.28 e 29), Moisés foi um líder que procedeu de acordo com a fé, um
“Herói da Fé”. Aquele momento pedia esse posicionamento, pois, caso

73
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

contrário, não teria condição de enfrentar os desafios com coragem e


resignação. Os hebreus estavam prontos para saírem da escravidão e da
opressão egípcia e a grande necessidade era a de uma liderança para
libertá-los. Neste capítulo, observaremos o cuidado que Yahweh teve
para forjar esse libertador e as circunstâncias que convergiram para o
aperfeiçoamento e amadurecimento de seu caráter. Para isso, dividi-
mos em três momentos específicos a experiência de Moisés: seu conta-
to com a corte, seu trabalho no campo com as ovelhas e por fim sua

da
história mediando os interesses do povo de Israel.

2.1 - A Vida de Moisés


A vida de Moisés nos é apresentada, em linhas gerais, em três etapas

bi
de 40 anos. A primeira etapa está relacionada à opressão egípcia, ao
extermínio dos meninos hebreus e à vida palaciana. A segunda, diz res-
oi
peito ao período vivido por Moisés na terra de Midiã, um território do
lado oriental da península do Sinai. Naquele local, esse hebreu pode
refletir mais sobre sua vida e ter a oportunidade de ser transformado por
Pr
Deus para executar sua grande tarefa. A terceira e última etapa foi marcada
pelo cuidado e atenção que esse herói da fé dedicou ao seu povo.

2.1.1 - A vida no Palácio


De acordo com Êxodo (2.1-9), os pais de Moisés o esconderam por
a

três meses. Após esse período, percebendo a impossibilidade de mantê-


lo naquela situação começaram a pensar em uma estratégia de sobrevi-
nd

vência. Decidiram colocá-lo dentro de um cesto flutuante e levá-lo a


uma parte do rio Nilo onde a princesa sempre se banhava. Quando a
princesa lá chegou, teve grande interesse por aquele bebê. Estrategica-
mente lá estava Miriã, a irmã mais velha de Moisés, que, ao ver a
Ve

reação da filha de faraó, propôs arrumar uma babá. A babá contratada


para cuidar do menino foi sua própria mãe, Joquebede: “E sendo o meni-
no já grande, ela o trouxe à filha de faraó, a qual o adotou; e chamou o seu nome
Moisés e disse: Porque das águas tenho tirado” (Ex. 2.10). É provável que
Joquebede, apesar da situação nada recomendável, tenha se aproveita-
do dessa proximidade para educar Moisés na orientação dada por Deus
aos seus antepassados sobre o plano que tinha com os hebreus.
Moisés, durante o período que viveu no palácio, teve todo conforto
e possibilidades da vida palaciana. Estevão, diácono da igreja primiti-
va, refere-se a esse momento de Moisés, através das seguintes palavras:

74
M OISÉS E SUA M ISSÃO

“Nesse tempo, nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três
meses em casa de seu pai. E sendo enjeitado, tomou-o a filha de
faraó e o criou como seu filho. E Moisés foi instruído em toda a
ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras. E,
quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir
visitar seus irmãos, os filhos de Israel. E vendo maltratado um
deles, o defendeu e vingou o ofendido, matando o egípcio. E ele
cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar

da
a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam. E, no dia
seguinte, pelejando eles, foi por eles visto e quis levá-los à paz,
dizendo: Varões, sois irmãos; porque vos agravais uns aos outros?
E o que ofendia o seu próximo o repeliu, dizendo: Quem constituiu

bi
príncipe e juiz sobre nós? Queres tu matar-me, como ontem ma-
taste o egípcio?” At 7.20-28.
oi
Esse texto sugere algumas verdades a respeito de Moisés. Primeiro,
que Moisés era uma criança fisicamente formosa, um menino prodígio.
Pr
Essa foi a percepção de seus pais e, muito provavelmente, da princesa.
Essa notícia era muito bem-vinda aos hebreus, que ansiavam por liberta-
ção e acreditavam que Moisés pudesse ser a resposta às suas muitas
orações. E para a princesa, ser mãe de um menino prodígio estampava a
oportunidade de aproveitá-lo nos negócios do governo. Segundo, que
a

Moisés, ao ter sido adotado pela filha de faraó, recebeu educação formal
de alto nível e, com certeza, aprendeu muito sobre as leis, pois eviden-
nd

ciou habilidade para lidar com preceitos e mandamentos. Esse homem


poderoso em palavras e obras mostrou-se, devido a seus conhecimentos
e habilidades, uma ferramenta muito importante no projeto do Senhor
Deus para estruturação da nação israelita. Terceiro, que sua indignação
Ve

com as injustiças cometidas naquela sociedade, trouxe-lhe problemas de


relacionamentos, inclusive de rejeição por parte de seu próprio povo.
A vivência no palácio deu a Moisés um conhecimento especial so-
bre o funcionamento político e religioso do Egito, um conhecimento
que lhe permitiu mapear aquela realidade e perceber os desafios que
uma pessoa enfrentaria para libertar o povo hebreu. Nesse período,
pôde também perceber o sofrimento do povo hebreu e a falta de sintonia
desse povo com o programa do Mestre. Apesar disso, esse homem ain-
da não iria executar sua missão porque precisava, antes de tudo, conhe-
cer mais a si mesmo e receber as revelações especiais do grande Yahweh.

75
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

2.2 - O Cuidado com as Ovelhas


O segundo momento na vida de Moisés, vivido na terra de Midiã,
uma nesga de terra do lado oriental da península do Sinai, teve início
após ter matado um egípcio e ser incompreendido por seus patrícios.
Êxodo (2.15) revela: “ouvindo faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas
Moisés fugiu diante da face de faraó e habitou na terra de Midiã...”. Parece
que essa ruptura foi necessária para que Moisés olhasse de longe para
aquela realidade. Naquele novo ambiente, no qual passou a viver, en-

da
volveu-se com atividades que lhe permitiram pensar um pouco mais na
vida, nas pessoas e também em Deus. Parece que se desintoxicou da
vida complexa e agitada do império e ganhou a oportunidade de ser
transformado por Deus em um homem com estrutura adequada para a

bi
grande tarefa de abençoar um povo que durante longos anos estava
sendo maltratado. Esse período permitiu também que Moisés não só
tomasse consciência da sua identidade e do sofrimento do seu povo,
oi
como também tivesse as condições necessárias para ser o libertador de
Israel. De acordo com o relato histórico feito por Estevão e registrado
Pr
por Lucas, esse tempo foi de grande importância para Moisés, pois foi
nessa ocasião que recebeu do Senhor a vocação para ser o guia de Isra-
el. Vejamos o que está registrado em Atos (7.30-34):
“E completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor,
no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo de um sarçal.
a

Então, Moisés, quando viu isto, se maravilhou da visão; e, apro-


ximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor, di-
nd

zendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque e o Deus de


Jacó. E Moi-sés, todo trêmulo, não ousava olhar. E disse o Se-
nhor: Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás, é
terra santa. Tenho visto atentamente a aflição do meu povo que
Ve

está no Egito, e ouvi os seus gemidos, e desci a livrá-los. Agora,


pois, vem, e enviar-te-ei ao Egito”.

O trabalho de Moisés deveria ser desenvolvido sobre fortes funda-


mentos. Nesse momento, através de uma revelação especial, Yahweh
queria revelar-se como o Deus dos patriarcas, queria também demons-
trar sua autoexistência e eternidade e comunicar o socorro que estava
prestes a ministrar ao seu povo. Um desses momentos está registrado
em Êxodo 3. Nesse capítulo, há o registro de uma das mais significati-
vas histórias do diálogo de um homem com o seu Criador. Nessa con-

76
M OISÉS E SUA M ISSÃO

versa, ocorrida nas imediações do Monte Sinai, o Senhor se dirigiu a


Moisés como sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Em outras pala-
vras, mostrava-se como sendo o Senhor do projeto, o Deus das pro-
messas, o Deus de um plano específico para os descendentes de Israel.
Isso era de relevância tamanha para Moisés, pois a história daquela
gente também era a sua história e, sendo assim, o testemunho de Deus
revelava que a história estava viva e o Seu plano de libertação se man-
tinha. Deus também deixou evidente Sua natureza divina e Suas in-

da
tenções: “Tira os teus sapatos porque o lugar que estás é terra santa”. Isso
significa que Yahweh tem repulsa ao pecado e à injustiça, e espera que
um povo redimido se incline a Si em reverência sincera.
Essa revelação dada ao Seu servo informava-o acerca de Seu nome

bi
Yahweh que revela Sua natureza. É provável que este nome divino ve-
nha da raiz do verbo ser. Deus é aquele que tem existência própria,
oi
aquele que não é limitado pelo tempo; o passado e o futuro para ele são
a mesma coisa. Ele é para sempre, por isso disse: “Eu Sou o que
Sou”(Ex 3.14). Nesse sentido, suas promessas estão sempre firmes,
Pr
e os seus projetos não desaparecem com o passar dos tempos.
Yahweh é o Eterno. Diante da imponência egípcia e do poderio dos
faraós era necessário que Moisés soubesse que havia um Deus que
estava acima dasestruturas humanas; um Deus que agia, mesmo que
isso contrariasse os projetos pensados pelos governantes humanos.
a

Essa mensagem lhetraria coragem e esperança, afinal o Deus Eterno e


Todo-Poderoso, havia prometido conduzir a história de seu povo.
nd

Foi ainda no contexto do campo, cuidando das ovelhas que esse


herói da fé pôde ouvir nitidamente acerca do plano que Yahweh tinha
para ministrar socorro à comunidade hebrFia:
“E disse o Senhor: tenho visto atentamente a aflição do meu povo,
Ve

que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus
exatores, porque conheci as suas dores. Porquanto desci para livrá-
lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir àquela terra boa e
larga, a uma terra que mana leite e mel... e agora, eis que o clamor
dos filhos de Israel chegou a mim e também tenho visto a opressão
com que os egípcios os oprimem” Ex 3.7-9.

Foi nessa circunstância que o Senhor Deus revelou a Moisés o seu


cuidado para com o seu povo, afirmando que não estava desatento à
maldade egípcia, por isso estava chamando o seu servo para que fosse

77
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

a ferramenta a ser usada no processo de libertação de Israel: “Vem ago-


ra, pois, e eu te enviarei a faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel do
Egito”, Ex 3.10. Naquele momento, Moisés foi revestido pelo poder de
Deus para realizar a obra que Yahweh colocava em suas mãos.

da
bi
oi
Pr
P ASTOR DE OVELHAS EM I SRAEL

2.3 - A Liderança do povo


a

Os últimos 40 anos da vida de Moisés foram marcados pelo cuidado


e atenção que dedicou ao seu povo. Essa dedicação foi fruto da ‘visão’
nd

que tivera e da ordem que Yahweh, o “Deus de Abraão, Isaque e Jacó”,


dera-lhe no Horebe. Desde aquele encontro com Deus, abraçou sua no-
bre vocação e mediou os interesses do povo hebreu contra o faraó. As
palavras de Estevão no livro de Atos confirmam esta afirmação.
Ve

“A este Moisés, ao qual haviam negado, dizendo: quem te consti-


tuiu príncipe e juiz? A este enviou Deus como príncipe e liberta-
dor, pela mão do anjo que lhe aparecera no sarçal. Foi este que os
conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito,
no Mar Vermelho e no deserto, por quarenta anos. Este é aquele
Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus, nos
levantará dentre vossos irmãos um profeta com eu; a ele ouvireis.
Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que
lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as pa-
lavras de vida para no-las dar”. At 7.35-38

78
M OISÉS E SUA M ISSÃO

Moisés não estava mais no aconchego de um lar piedoso, nem no


conforto do Palácio, muito menos no silêncio recluso dos campos
midianitas; mas às portas de uma árdua tarefa, a de conduzir o povo, e
para que isso acontecesse precisava encarar o grande faraó, cuja força,
resistência e soberba eram tamanhas. Alguém que, de modo algum,
seria favorável à saída porque sabia que, naquele momento, a força do
trabalho hebreu era um dos sustentáculos da economia egípcia, e por-
que entendia que os hebreus deveriam ser punidos e castigados. Dian-

da
te de tarefa tão árdua, o libertador precisava de provas de que o Senhor
o estava levantando para a penosa missão de ficar frente a frente com o
faraó e de reivindicar a saída de seu povo. Como resposta, Yahweh
permitiu sinais que evidenciavam a autoridade concedida a Moisés. O

bi
primeiro sinal foi a transformação de uma vara em cobra e depois em
vara novamente (Ex. 4.1-4). Após esse momento, Deus disse a Moisés
oi
que aquele sinal era para que cresse que quem estava falando era real-
mente o Deus de seus pais (Ex 4.5). O segundo sinal foi a lepra tempo-
rária, manifestada na mão de Moisés. Esses dois sinais foram o início
Pr
de uma sucessão de intervenções divinas na trajetória desse homem
escolhido por Deus, uma etapa de sua vida que deveria ser vivida no
poder e autoridade divina, pois a libertação de Israel era uma obra
espiritual que aconteceria não por méritos humanos, mas pela ação
sobrenatural de Deus ³Y

a

Questão para reflexão


nd

Um líder é forjado em meio a lutas e desafios. Moisés está entre as


principais autoridades que os israelitas conheceram. Todas as suas
experiências convergiram para a qualidade de sua liderança. Quais
aspectos da formação de Moisés são necessárias na formação de um
Ve

líder hoje?

79
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 3

Um “Sete de Setembro”
Diferente

da
bi
oi
Pr
Quase todos os países do mundo possuem alguns referenciais histó-
ricos, isto é, fatos que marcaram sua história, contribuindo para a rea-
lização de importantes conquistas do seu povo. O processo de liberta-
ção e independência de Israel acompanha a mesma lógica, pois estan-
a

do este povo na condição de escravos de um país opressor, algumas


coisas foram ocorrendo e culminaram em um desfecho importante que
nd

foi sua libertação. Trataremos, neste capítulo, sobre o último ano de


Israel no Egito e como Yahweh se valeu de algumas pragas para forçar
o Egito a dar a liberdade para Seu povo. Esta história que nos é conta-
da no livro de Êxodo do capítulo 5 ao capítulo 11, revela-nos impor-
Ve

tantes detalhes sobre uma das mais importantes ocorrências da vida de


Israel: sua libertação, obra milagrosa realizada pelo Todo-Poderoso.

3.1 - Analogia a partir da história


A história da libertação do povo de Israel, embora tenha acontecido
há milhares de anos, permite-nos estabelecer um paralelo com a atua-
lidade. Em linhas gerais, o Egito representa o mundo; Moisés, o liber-
tador (o Salvador); a passagem pelo mar, o Êxodo, a salvação; e a pere-
grinação no deserto, a nova vida em Cristo.
O Egito representa o mundo no sentido de ter sido uma sociedade

81
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

estruturada com e para o pecado. A história nos conta sobre práticas


pagãs realizadas naquele lugar na época de Moisés. Práticas como: a
idolatria, a feitiçaria, os encantamentos, os abusos de autoridade, as
opressões, as explorações, as guerras, a ganância e outras coisas seme-
lhantes. Aquele ambiente não era um ambiente que contribuía para o
culto a Yahweh e muito menos para a promoção espiritual daqueles
que queriam viver de forma consagrada ao Senhor. Podemos utilizar as
palavras de João que nos diz “tudo que há no mundo, a concupiscência da

da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não são do Pai, mas do
mundo e o mundo passa e a sua concupiscência, mas quem faz a vontade de
Deus, permanece para sempre”, I Jo 2.16 e 17. Os elementos apresentados
nesse texto faziam parte daquela composição social e religiosa e isso

bi
transformava o Egito em uma fonte de maldição, pois possuía uma
espiritualidade distorcida e sem fundamentos na revelação. Havia um
oi
povo que não conseguia enxergar a vida pela ótica do Criador, pois um
misticismo opressor estava por toda parte, um fato que fazia dos egíp-
cios pessoas cegas para as realidades espirituais. Quando olhamos para
Pr
a nossa realidade, percebemos as semelhanças. Como na sociedade
daquela época, nossa sociedade também parece preferir expressões
religiosas que estão mais adequadas ao modo consumista de ser. É muito
comum vermos pessoas, que, por desejarem respostas rápidas para suas
necessidades, enveredaram pelo misticismo e esoterismo. Mas o Se-
a

nhor Deus propõe algo mais sólido para os nossos corações e por isso
condena essa espiritualidade barata.
nd

Acompanhando a mesma linha de raciocínio, vemos na pessoa de


Moisés, a figura do libertador (Ex 4.30; 5.22 e 7.1,2). Moisés se inter-
pôs entre o povo e Deus, e entre o povo e o governo, por isso aparece
como um dos mais expressivos mediadores de Israel, cuja história está
Ve

registrada nos anais bíblicos. Moisés, nessa função de mediador, asse-


melha-se a Jesus Cristo, pois assim como foi o meio para a libertação
de Israel da escravidão egípcia, assim também Jesus, em seu papel de
mediador, interpôs-se entre Deus e a humanidade, para resgatá-la da
sua escravidão do pecado. (Jo 3.15,16 e Hb 3.1-6). Moisés, ao servir de
mediador, trouxe a libertação dos hebreus (Ex 6.6,7), alívio, bem-estar
e a possibilidade de um futuro abençoado para aquela nação. Jesus, em
um período posterior, trouxe salvação para pecadores perdidos e sua
eterna redenção, dando à igreja uma condição de paz e de alegria na
nova vida com Deus.

82
U M “S ETE DE S ETEMBRO ” D IFERENTE

A passagem pelo meio do Mar Vermelho indica a decisão que a


pessoa faz entregando sua vida a Jesus Cristo. Quando assim fazemos,
rompemos com o nosso antigo modo de pensar e agir e começamos
uma vida nova proposta pelo Senhor Jesus aos nossos corações. Deixa-
mos o velho mundo com todas as suas seduções e iniciamos uma nova
caminhada de relacionamento íntimo com Deus.
O deserto do Sinai, o primeiro espaço percorrido por Israel depois
de sua saída, local de novos desafios e total dependência de Yahweh,

da
pode muito bem representar o caminhar do cristão logo depois de fa-
zer seu compromisso com o Senhor Jesus. Foi ali, no deserto, que os
israelitas passaram por muitas provações, assim como a igreja enfrenta
lutas e dificuldades em servir a Jesus aqui nesta terra. O apóstolo Paulo

bi
faz comentários a respeito dessa analogia em I Coríntios, afirmando
que aquelas experiências foram figuras, isto é, situações ocorridas com
oi
Israel e que são fontes de ensinamentos para nós hoje, I Co 10.6,11.

3.2 - A importância das pragas no processo de libertação


Pr
Para efetuar de forma efetiva a redenção de Israel, Yahweh fez várias
ameaças aos egípcios, atacando de forma direta a natureza e os seres
vivos (homens e animais) e indiretamente às divindades que eram tidas
como seus protetores. Essas ameaças foram chamadas de pragas e se
manifestaram de forma gradativa, dificultando consideravelmente a
a

vida na terra. Os propósitos de Yahweh, através da manifestação das


pragas, eram bem definidos. Ele queria punir os egípcios pela maldade
nd

destinada aos hebreus durante os longos anos de escravidão e revelar a


fragilidade das divindades egípcias, pois toda expressão de vida no Egi-
to estava ligada ao seu panteão de deuses. Também queria se revelar
como único para os egípcios e para os hebreus e fazer com que esses
Ve

últimos desejassem sair daquela terra, pois, apesar de estarem submeti-


dos a vários sofrimentos, estavam apegados àquele país.
As pragas ocorreram, provavelmente ao longo de um ano, algumas
foram manifestas a todas as pessoas, outras somente aos egípcios. É
importante observarmos que o texto sagrado diz que à medida que as
pragas eram manifestas, o coração de faraó ia se endurecendo (Ex.4.21;
5.2; 7.3,13; 8.15,19,32; 9.7,12,35; 10.20,27 e 11.10). Nesse processo,
cada nova manifestação divina fazia o coração de faraó ficar mais resis-
tente à admissão de que Yahweh tinha uma obra a realizar no Egito e
que a essência dessa obra era a libertação de Israel. Algumas das refe-

83
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

rências alistadas acima informam que era Yahweh quem promovia o en-
durecimento no coração de faraó, outras, que era o próprio faraó o res-
ponsável por tamanha dureza. Alguém tentando explicar essa situação
disse que “o mesmo sol que amolece a cera, endurece o barro”. Yahweh é
esse sol que incide luz sobre todas as pessoas, dependendo da natureza
do coração se terá uma reação positiva ou negativa. Parece que enquanto
Moisés era “cera” que se amolecia com a voz e presença do Senhor, faraó
era “argila” que se endurecia e se tornava insensível ao comando do

da
Todo-Poderoso. Refletindo sobre essa situação, podemos dizer que feli-
zes são as pessoas que se abrem ao tratamento de Yahweh, porque esses
serão alvo de Suas misericórdias, mas aqueles que resistem à Sua pala-
vra, não terão as mesmas oportunidades. Em Provérbios de Salomão é

bi
afirmado que: “a soberba precede a ruína e a altivez de espírito a queda” (16.18)
e concorda com isso as palavras de 5JBHP, “porquanto diz: Deus resiste aos
oi
soberbos, dá porém, graça aos humildes” (Tg 4.6).

3.3 - A descrição das pragas


Pr
A primeira praga foi a transformação das águas do rio Nilo em sangue
(Ex 7.19-25). Essa praga fez com que a água ficasse avermelhada e impró-
pria para consumo. Todos os peixes morreram, provocando fedor e des-
conforto por toda a terra. Esse rio, por representar um veio de produtivi-
dade e vida naquele país, havia recebido uma consideração especial. Foi
a

por essa razão que foi considerado que “o Egito era uma dádiva do Nilo”.
nd
Ve

E SFINGE , MONUMENTO TUMULAR EM G IZÉ , E GITO

84
U M “S ETE DE S ETEMBRO ” D IFERENTE

A segunda praga (Ex 8.1-15) foi a proliferação de rãs por todo o Egi-
to. Em Êxodo (8.3) encontramos: “E o rio criará rãs, que subirão e virão a
tua casa, e ao teu dormitório, e sobre a tua cama e as casas dos teus servos, e so-
bre o teu povo, e aos teus fornos, e as tuas amassadeiras”. Esse texto traz co-
mentários a respeito do desconforto provocado por essa praga. Havia
rãs por toda parte, tanto dentro das casas dos nobres como nas casas
do povo simples. Certamente, aqueles animais estavam trazendo gran-
des dificuldades às pessoas. Com a morte das rãs, a situação agravou

da
por causa do mau cheiro que se espalhou por toda a terra (Ex. 8.14).
A terceira praga foi o surgimento de piolhos a partir do pó da terra
(Ex 8.16-19). A situação se agravou de forma considerável quando a
praga se espalhou por todas as bandas, produzindo coceiras e ferimentos

bi
em homens e em animais e causando desespero à população que já
havia sofrido com a agressão do Nilo e a proliferação das rãs.
oi
A quarta praga permitida por Deus foram as moscas (Ex 8.20-32).
Grandes enxames de moscas apareceram por todo Egito. É bom ressal-
tarmos que houve um ciclo desintegrador através das pragas: sujeira e
Pr
bactérias no rio, conseqXência dos peixes mortos; depois o mau cheiro
provocado pelas rãs; os piolhos e, em seguida, as moscas, que aumenta-
ram a degradação do ambiente com contaminações e odores desagra-
dáveis por toda parte.
A quinta praga foi a peste nos animais (Ex 9.1-7). De acordo com o
a

versículo 3, temos a informação de que os animais como bois, jumen-


tos, cavalos, camelos e ovelhas foram acometidos por uma gravíssima
nd

pestilência, uma epidemia que trouxe a morte para uma boa parte dos
animais dos egípcios.
A sexta praga foi o surgimento de úlceras em homens e animais (Ex
9.8-12). Essa praga, surgida das cinzas espalhadas pelo ar, provocou
Ve

feridas terríveis nos homens e nos gados, que haviam sobrevivido à


praga anterior.
A sétima praga foi a chuva de granizo, chamada na Bíblia de Saraiva
(Ex 9.22-35). A natureza, já muito prejudicada, sofreu mais uma vez
um golpe. Dessa vez com uma forte tempestade, composta de granizo
e relâmpagos, que devastou as lavouras egípcias.
A oitava praga foi provocada por enxames de gafanhotos (Ex 10.1-
20). Para completar a devastação iniciada pela chuva de pedras, chega-
ram nuvens de gafanhotos que cobriram toda a terra do Egito e que
dizimaram a erva da terra e todos os frutos das árvores daquele local.

85
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

Com isso, a vida no Egito estava se tornando inviável. Inviável tam-


bém estava ficando a detenção dos hebreus naquela terra, pois as pra-
gas não parariam enquanto eles ali estivessem.
A nona praga foi a chegada da escuridão (Ex 10.21-29). A natureza
continuava sendo agredida. Durante três dias houve uma escuridão
geral no Egito. Provavelmente, uma sucessão de eclipses, tanto do sol,
quanto da lua. A Bíblia nos revela que a escuridão era tão densa que as
pessoas precisavam apalpar para locomoverem-se de um lado ao outro.

da
A décima e última praga foi causada pela morte dos primogênitos
(Ex 11). O desfecho dessas pragas ocorreu com o anúncio da morte dos
primogênitos: “E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o
primogênito do faraó, que se assenta com ele sobre o seu trono, até o primogênito

bi
da serva que está detrás da mó, e todo primogênito dos animais” (v.5).

Tabela referente às pragas impostas ao Egito.


oi
Praga Texto Área atingida Divindade tocada
Água do rio Ex 7.19-24 Rio Nilo Hapi, das inundações
Pr
em sangue
Rãs Ex 8.1-15 As casas Hapi e Ecté
Piolhos Ex 8.16-19 Homens e gado O pó da terra era sagrado
Moscas Ex 8.20-32 Todos os lugares
Peste Ex 9.1-12 Gado Amom
a

Úlceras Ex 9.8-12 Homens e gado Sacerdotes egípcios


Saraiva Ex 9.22-35 Natureza Todas as divindades
Gafanhotos Ex 10.1-20 Natureza Ísis e Seráfis
nd

Trevas Ex 10.21-29 O país Rá, o deus solar e Faraó


Morte dos Ex 11.1-10 Famílias Faraó, deus para os egípcios
primogênitos
Ve

As pragas tinham por finalidade fazer a abertura para a saída de


Israel do Egito. O rei era resistente e não queria autorizá-la. Todavia
Yahweh em sua eterna sabedoria fez essa terrível mobilização para cri-
ar essa ocasião. O cenário foi construído de forma paulatina, uma crise
próxima à outra. O país ficou assolado. Deus estava no comando e a
semente da opressão estava frutificando, e toda maldade estava sendo
punida, não apenas isso, mas também as divindades vinculadas a cada
um desses segmentos da natureza, atingidos pelas pragas, também es-
tavam sendo agredidas e reveladas como fracas para fazer a proteção e
segurança do país.

86
U M “S ETE DE S ETEMBRO ” D IFERENTE

Questão para reflexão


As pragas foram ferramentas utilizadas nas mãos de Deus para pu-
nir um povo opressor, idolatra e averso aos propósitos de Deus. Atra-
vés delas o Egito ficou completamente assolado e os hebreus sensibili-
zados a deixar a terra de seus opressores. Você acha que Deus ainda usa
mecanismos dolorosos para realizar seus propósitos?

da
bi
oi
Pr
a
nd
Ve

87
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 4

Em Direção à Liberdade

da
bi
oi
Pr
O objetivo deste capítulo é explicar como se deu o Êxodo dos hebreus,
isto é, como ocorreu a saída do Egito. O relato bíblico referente a esse
assunto encontra-se no livro do Êxodo do capítulo 12 ao capítulo 15.
Esse bloco de capítulos é iniciado com as orientações de Yahweh ao
a

povo de Israel sobre uma celebração que marcaria sua saída, a Páscoa
(Pesash). Nessa parte da Bíblia, também há detalhes referentes à mor-
nd

tandade dos primogênitos e à passagem do povo hebreu pelo Mar Ver-


melho, onde os exércitos egípcios foram abatidos. A saída do Egito foi
o fato histórico mais significativo para o povo hebreu, pois marcou sua
libertação da opressão e deu-lhe a possibilidade de possuir uma terra e
Ve

governo próprios e de ser uma nação forte e vigorosa. Esse relato bíbli-
co é muito importante porque não só apresenta um momento histórico
fascinante como também contém muitos princípios espirituais que
podem nos ajudar em nosso relacionamento com Deus.

4.1 - O sangue nas portas e a morte no Egito


Uma das últimas orientações de Yahweh ao seu povo, ainda no Egi-
to, foi a de que se reunisse para uma refeição e aguardasse a libertação.
Naquele momento, o Todo-Poderoso Deus estaria derramando sobre a
nação opressora a última taça de juízo. A orientação era simples: cada

89
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

família deveria providenciar um cordeiro sem mancha com a idade de


um ano para ser sacrificado no décimo quarto dia daquele mês. Após o
sacrifício do animal, o sangue desse deveria ser aplicado no batente da
porta principal, em suas sustentações e em sua verga; e sua carne deve-
ria ser assada e consumida com pão sem fermento e ervas amargas.
Caso a família fosse pequena, essa deveria se reunir com uma outra
para fazer a refeição. As pessoas deveriam, para essa refeição, vestir
seus trajes de viagem, ou seja, corpo bem vestido e os pés calçados. Os

da
hFCSFVT, além dos trajes, deveriam portar um cajado. Essa refeição de-
veria ser feita apressadamente e as sobras da carne assada, queimadas
pela manhã (Ex 12.1-11).
Enquanto as famílias participavam dessa refeição, marcada com

bi
obediência, reverência e expectativa, o Senhor, em franca atividade,
percorria o Egito e matava “os primogênitos dos egípcios”, isto é, o
oi
primeiro filho homem de cada família. Êxodo (12.12) revela-nos: “E eu
passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo o primogênito na Terra do
Egito, desde os homens até aos animais e sobre todos os deuses do Egito farei
Pr
juízos. Eu sou o Senhor”. Este episódio converge ao que está registrado
no capítulo anterior acerca das pragas, que Yahweh tinha por objetivo
não só punir os egípcios pela opressão feita aos israelitas, mas também
lhes mostrar que suas divindades eram fracas diante de seu poder e de
sua autoridade. Com a morte dos primogênitos, a nação ficaria total-
a

mente abalada e toda a resistência faraônica para a saída dos hebreus


seria quebrada. Esse acontecimento foi o marco principal na história
nd

desse povo, pois passavam de passivos escravos a sujeitos ativos desti-


nados a conduzir um dos momentos mais especiais de toda a sua histó-
ria. É importante explicar que as marcas de sangue nos batentes das
portas eram o sinal de que ali residiam pessoas obedientes ao Senhor e
Ve

que, portanto, o anjo destruidor deveria passar de largo, preservando


os primogênitos dos hebreus (Ex 12.13).

4.2 - O significado da Páscoa


A palavra Páscoa, do hebraico Pesash, que significa passar e que está
relacionada ao procedimento do anjo que tinha a missão de executar o
juízo divino no Egito, destruindo os primogênitos e ao mesmo tempo
preservando os hebreus dessa terrível tragédia, tem profundo significa-
do na vida e na história do povo de Israel.
Essa libertação passou a ser comemorada pelos hebreus e lembrada

90
E M D IREÇÃO À L IBERDADE

como momento de comunhão, de libertação, de intervenção especial


de Deus em suas vidas e história, enfim, um momento muito especial
que deu origem à construção de uma nova história com independência
e autonomia para os hebreus. A lembrança daquele momento trazia
aos remanescentes de Israel o reconhecimento da importância de ser o
povo escolhido pelo Senhor. “E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-
eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo”
(Ex 12.14).

da
A Páscoa traz em seu bojo a noção de culto. Não foi por mérito
pessoal que tudo aquilo aconteceu, mas por causa da intervenção po-
derosa de Yahweh; fora o Senhor, por causa de seu eterno propósito,
que operara tamanha maravilha. Moisés e Miriã fizeram manifesta-

bi
ções de gratidão e adoração por tão grande benção (Ex. 15). Yahweh
tinha que ser tributado e honrado, pois teve cuidado com seu povo e
oi
cumpriu suas promessas, fazendo acontecer o que tinha dito anterior-
mente (Gn 15.13-16). Centenas de outros textos do Antigo Testamen-
to incluíram a Páscoa em seus registros de celebração e adoração e isso
Pr
determinou a liturgia e a hinologia de Israel. É muito comum vermos
belíssimas composições fazendo referência a esse episódio, entre elas, o
Salmo 78 e o 105.
Na mesma linha de raciocínio, é importante lembrar que essa festa
possuía um aparato litúrgico bem complexo, cheio de detalhes simbóli-
a

cos, porém muito bem entendido pelos israelitas, os quais mantinham


a tradição de ensinar, dentro do lar, tudo a respeito dessa comemora-
nd

ção tão importante às suas crianças (Dt 6).


Por fim, a Páscoa permitia o congraçamento entre as pessoas
israelitas. Por ser uma das ocasiões festivas marcadas por convocação
oficial, adoradores de diferentes partes do país e procedentes de dife-
Ve

rentes tribos, podiam se encontrar na cidade que sediava a festa, e isso


propiciava momentos de conhecimento, amizade e comunhão. O Sal-
mo (133.1) afirma: “Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união”. Sendo assim, a Páscoa se transformava em uma excelente opor-
tunidade para promover o crescimento espiritual da nação.

4.3 - O valor simbólico e tipológico da Páscoa


A Páscoa, rica em significados e simbolismos, por causa de sua im-
portância histórica e posição na revelação de Deus no Antigo Testa-
mento, serve à Tipologia Bíblica, isto é, uma área do conhecimento

91
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

teológico que faz o aproveitamento de elementos bíblicos do Antigo


Testamento relacionando-os com as realidades do Novo Testamento.
Esse paralelo é interessante porque nos permite entender com mais
facilidade a relação entre as verdades do Antigo Testamento com aque-
las que estão no bojo do Novo Pacto.
Em primeiro lugar é de fundamental importância que consideremos
a pessoa de Jesus Cristo representada no cerimonial pascoal, a partir da
figura do cordeiro novo e sem defeito que era imolado e assado e do

da
pão sem fermento que acompanhava a refeição principal. Apesar de
haver outros elementos, esses dois eram básicos e a Revelação do Novo
Testamento relaciona-os com a obra do Senhor Jesus e o seu significa-
do espiritual para a vida cristã.

bi
Quando João Batista, o precursor do Senhor Jesus começou seu
ministério e arrebanhou alguns discípulos, ao apresentar Jesus a eles,
oi
referiu-se ao Filho de Deus como o Cordeiro, usando as seguintes pala-
vras: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29 e 36).
Como judeu, João Batista sabia o que estava falando por conhecer os
Pr
rituais do judaísmo, em especial a Páscoa; e por ter a revelação dada
pelo Espírito Santo de que, aquele Jesus, seria crucificado, sacrificado,
como eram os cordeiros na ocasião da festa. Assim como o sangue do
cordeiro pascoal, aplicado nas casas da terra das opressões, o Egito, foi
fundamental para a libertação do povo hebreu, assim também o san-
a

gue do Senhor Jesus, no plano redentor do Pai, foi de vital importância


para nossa purificação. O escritor da epístola aos hebreus afirma: “sem
nd

derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22). Uma outra


palavra do mesmo autor reitera: “e, por isso, também Jesus, para santificar
o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta” (Hb 13.12).
Jesus também pode ser visto no pão sem fermento, o segundo ele-
Ve

mento básico da Páscoa. Sobre esse assunto, o apóstolo das gentes,


Paulo, disse o seguinte: “Alimpai-vos pois, do fermento velho, para que sejais
uma nova massa, assim como estais sem fermento” (I Co 5.7). O pão sem
fermento representa a vida santa que o mestre querido levou, vida sem
pecado (Hb 4.15), que o habilitou a intervir pelos pecadores. O relato
sagrado mostra que, no exercício da vida cristã, é possível desenvolver-
mos uma vida santa como Ele possuiu. Ele é o modelo. A carta aos
Hebreus nos incentiva a olhar para Jesus, autor e aperfeiçoador de
nossa fé. Somente dessa forma é possível cumprir o dito de Yahweh ao
seu povo: “sede santos porque Eu sou Santo” (Lv 11.44 e I Pe 1.16). Todas

92
E M D IREÇÃO À L IBERDADE

essas verdades relacionadas com a pessoa de Cristo a partir da Páscoa


são ditas por Ele próprio ao instituir a Ceia no livro de Mateus, capítu-
lo 26, do versículo17 ao 30.
Em segundo lugar a
Páscoa representa a liber-
tação do crente para a for-
mação de uma nova co-
munidade. Yahweh dese-

da
java ter uma nação de
adoradores, um povo que
resplandecesse a sua gló-
ria entre as outras nações

bi
através do modo de ser e
de viver. Tal qual o povooi
antigo, a igreja represen-
ta essa comunidade. Uma
comunidade formada a
Pr
partir dos redimidos do
U M JANTAR NO O RIENTE M ÉDIO
Senhor, pessoas que fo-
ram libertas, entre outras
coisas, de vícios, práticas erradas e maus costumes. Essas pessoas, seme-
lhantemente àquelas primeiras, têm a oportunidade de refletir a glória
a

do Senhor. O apóstolo Pedro disse à igreja: “Mas vós sois a geração eleita, o
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes
nd

daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe 2.9).
Israel só pôde ser nação do Senhor através da Páscoa, ação redentora de
Yahweh, e a igreja só pode ser comunidade dos santos através de Jesus.
O apóstolo Pedro comentou que não éramos povo e que só pode-
Ve

mos ser por causa da misericórdia de Deus manifesta em nossas vidas.


Paulo concordou com Pedro ao escrever sua carta aos crentes de Éfeso
dizendo que a formação de uma nova comunidade fazia parte do pro-
pósito eterno do Senhor (Ef 1.5,8 e 11) e que tinha por finalidade o
Seu louvor e glória (Ef.1.6, 12 e 14).
Em terceiro lugar, a Páscoa foi uma porta de entrada para um relaci-
onamento mais íntimo de Israel com Deus, incluindo uma revelação
especial e provisões maravilhosas. Se não fosse a Páscoa e, conseqüen-
temente, a saída do povo daquele lugar, Israel não teria tido o entendi-
mento do propósito de Deus evidenciado nas leis e nas orientações

93
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

dadas pelo Senhor ao seu servo Moisés. Nesse período, muitas pala-
vras esclarecedoras vieram diretamente de Yahweh ao povo de Israel,
entre elas, os 10 mandamentos, normativos e vitais (Ex.20). Além des-
se texto, há muitos outros que também são ricos em instrução. E tudo
isso graças ao pacto evidenciado na Páscoa.
O cristão, salvo em Jesus, possui também uma palavra de revelação.
Ele conta com uma palavra dada por Deus que será instrumento de
direção em sua vida. O salmo 1 diz que bem aventurado é o homem

da
que, semelhante à árvore plantada na margem do rio que está sempre
verde por causa da sua proximidade com a água, gasta tempo meditan-
do na revelação do Senhor. O próprio Cristo afirmou: “nem só de pão
viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor” (Mt 4.4).

bi
Esse relacionamento não foi marcado apenas pela revelação, mas tam-
bém por provisões maravilhosas dadas pelo Senhor a este povo que
oi
estava em seu coração. Em Êxodo 16, temos o maná, a refeição diária
dada graciosamente pelo Eterno. Em Êxodo 17 e Números 20, temos a
água dada por provisão sobrenatural àquele povo. Acerca disso Paulo
Pr
faz as seguintes considerações: “e todos comeram de um mesmo manjar
espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da
pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo”, I Co 10.3,4.
Essas verdades, trazidas para a realidade da vida cristã, constatam o
que a palavra de Deus nos afirma que por sermos povo de Deus e filhos
a

espirituais, todas as nossas necessidades serão supridas, quer sejam


físicas, emocionais ou espirituais. Pode ser roupa, calçado ou alimento;
nd

pode ser alegria, realização pessoal; pode ser paz de espírito ou prote-
ção espiritual, pois assim está nas Escrituras Sagradas: “O meu Deus,
segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por
Cristo Jesus” (Fl 4.19). Isso é possível porque somos do Senhor, ele nos
Ve

salvou para nos abençoar.


Em quarto lugar, a Páscoa nos traz a lembrança da existência de
uma pátria superior; um solo que ainda não foi pisado por nós, porém
será a nossa eterna casa. Os hebreus tinham a expectativa da Terra,
pois fazia parte das promessas do Senhor aos patriarcas com a saída do
Egito rumo a Canaã, a terra que o Senhor tinha prometido ao seu
povo. Essa posse se consolidou com o trabalho de Josué e seus coman-
dantes que, ao abaterem os povos cananeus daquele local, tornou-o o
lar definitivo dos filhos de Israel.
O cristão almeja por um espaço melhor, um lugar que não tem mor-

94
E M D IREÇÃO À L IBERDADE

te e adversidades enfrentadas neste mundo. São muitas as promessas


do Senhor, pois a Bíblia nos diz que “Deus não é homem para que minta ou
filho do homem para que se arrependa” (Nm. 23.19). Esperamos um lugar
melhor preparado por Deus como o revelado em Hebreus (11.16 e
13.14): “Mas agora desejou uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também
Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou
uma cidade”; “porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a
futura”. Essa cidade na teologia cristã é o céu, lugar de glória, de triun-

da
fo, quando todas as aflições terrenas tiverem cessado, então, o povo de
Deus, ovelhas de Seu pasto, entrará no gozo do Senhor.
Por fim, a Páscoa é um constante aviso para que vivamos alegremente
uma vida comunitária cristã. Os israelitas, devido a essa celebração tão

bi
especial se ajuntavam, em uma grande concentração de fé, com crentes
provenientes das diferentes tribos de Israel. Nesse ajuntamento existia
oi
comunhão, alegria e celebração. Existem registros bíblicos que falam so-
bre riso, gritos e danças que refletiam o contentamento da vida comunal.
O apóstolo Paulo procurou trazer este princípio para o viver cristão
Pr
e dá a seguinte recomendação: “Pelo que façamos festa, não com o fermento
velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ásmos da
sinceridade e da verdade” (I Co 5.8). O princípio aqui pode ser traduzido
pela seguinte pergunta: O que nos motiva em nossas celebrações? Por
sermos o povo eleito do Senhor, nosso relacionamento com os irmãos
a

não pode ser marcado por motivações pecaminosas, tais como a sensu-
alidade e a maldade, as relações ou as práticas de levar vantagem sobre
nd

o outro; mas deve ser marcado pela sinceridade e verdade, isto é, trans-
parência e respeito, considerando o irmão superior a nós mesmos, lem-
brando que o irmão também é do Senhor e assim sendo, deve ser hon-
rado por também ter experimentado a salvação em sua vida. A Páscoa
Ve

deve provocar, em nossos corações, uma séria reflexão e profunda fé,


deve nos lembrar da importância de Cristo e do amor e do apreço que
precisamos devotar a Ele.

Questão para reflexão


As celebrações feitas pelos israelitas estabelecem profundas relações
com as celebrações praticadas pelos cristãos, pois os rituais quase sem-
pre retratam experiências ocorridas em nossas vidas no campo de nos-
sa espiritualidade. Que indicações a Páscoa faz acerca do processo de
libertação ocorrido na vida do cristão?

95
Ve
nd
a
Pr
oi
bi
da
CAPÍTULO 5

A Importância das Leis

da
bi
oi
Pr
Logo após a libertação, o povo de Israel seguiu, de acordo com os
projetos divinos, para Canaã e recebeu as orientações que deveriam
moldar sua vida e história – as leis. Sem elas, o povo ficaria sem dire-
ção, sem condições de fazer o culto verdadeiro, ou ainda, de apresentar
a

uma ética diferenciada das outras gentes que moravam naquelas ime-
diações. Com leis tudo isso seria possível, pois as normas tinham sido
nd

destinadas a todas as áreas do viver israelita, ou seja, seu culto, seus


relacionamentos, seus hábitos e sua moral. Neste capítulo, conceitua-
remos as leis, comentaremos sobre sua necessidade e também sobre
suas funções, relacionando-as em categorias e, por fim, olharemos para
Ve

elas à luz do Novo Testamento.

5.1 - Os Conceitos acerca das Leis


As leis dadas por Yahweh tinham por finalidade a orientação do
povo de Israel quanto à conduta correta. Esses preceitos e estatutos
indicavam aos hebreus não somente o modo como deveriam cultuar o
Senhor, como também a importância desse culto. Apresentavam tam-
bém orientações básicas sobre os hábitos corretos relacionados à ali-
mentação, à saúde, à vida sexual, ao trabalho e à socialização,
explicitações divinas a respeito da conduta e das responsabilidades

97
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

humanas; e refletiam sobre o caráter e a natureza do Deus eterno, e a


fragilidade e limites humanos.

da
bi
oi
Pr
R OLO DE I SAÍAS , DATADO DE 100 A C, ENCONTRADO NO M AR M ORTO EM 1947

De acordo com MacLaren, citado por Hoff, a Lei é “um código muito
breve, porém completo, no qual estão entretecidas a moral e a religião, tão livres
a

de peculiaridades locais ou nacionais e tão estreitamente relacionadas com os


deveres fundamentais que até hoje são autoridade entre as civilizações moder-
nd

nas” (HOFF, 1983, p.131). Poderíamos conceituá-las mais praticamen-


te, afirmando que se trata do “Manual do Fabricante”, um “Guia de
Sobrevivência” para uma geração que resplandeceria a glória de Yahweh
às outras nações. È importante observar que essas leis não foram pala-
Ve

vras de condenação, nem tão pouco frases para incitar o pecador à


prática de seus pecados, mas o cuidado de Deus para com seu povo. O
registro sagrado diz-nos que foram inscrições feitas pelo “dedo de Deus”
em um momento especial quando o monte fumegava e a glória do
Senhor refletia sobre o mediador daquela aliança – Moisés.

5.2 - A necessidade das leis


As leis eram necessárias para que o povo de Israel abandonasse os
valores e princípios errados, incorporados ao longo do período vivido
no Egito. Valores e hábitos muito diferentes daqueles informados por

98
A I MPORTÂNCIA DAS L EIS

Yahweh aos patriarcas. Naquele momento, Israel estava como uma cri-
ança que desconhecia o perigo e suas conseqüências, por isso, enquanto
nação, precisava de orientação, de norma de conduta de acordo com a
vontade do Senhor. Com as leis, Yahweh queria fazer de Israel um povo
especial, e através dele, evidenciar a sua glória para todas as nações (Ex
19.5 e 6). O Senhor disse: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz
e guardardes o meu concerto, então sereis a minha propriedade peculiar dentre
todos os povos: porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e

da
o povo santo”. Como podemos observar, esse sempre foi o propósito de
Deus para com Israel. Essa nação cumpriria os propósitos do Eterno em
meio a povos que não O conheciam e nem Lhe obedeciam. Esta seria a
oportunidade de Israel praticar a mediação do conhecimento e da reve-

bi
lação que receberam de Deus, ministrando aos outros o conhecimento
que a si fora ministrado, estampando a glória do Senhor e servindo de
oi
referência às nações para o tipo de culto e de vida que deveriam ser
praticados. A lei do Senhor faria de Israel um povo santo, povo consa-
grado ao Senhor, o que Ele de mais sublime possuía na terra.
Pr
Por fim, com a orientação do Sinai, o Senhor queria fazer de Israel
uma nação resistente contra os hábitos dos cananeus. Em Levítico 18,
vemos uma lista de uniões consideradas abomináveis, a maioria delas,
relações sexuais não recomendadas, porque fogem da normalidade hu-
mana. Esse tipo de comportamento era tão abominável ao Senhor que
a

O levou a extinguir os cananeus de sua terra. Os versículos 27 e 28


trazem a seguinte informação: “Porque todas essas abominações fizeram os
nd

homens dessa terra, antes da vossa entrada e a terra ficou contaminada. Não
procedam daquela forma para que a terra não vos vomite, havendo-a contami-
nado, como vomitou aquela gente”. Durante todo tempo que os cananeus
estiveram na terra, desenvolveram uma cultura pregressa e corrupta,
Ve

desprovida dos interesses de Deus, marcada com sensualidade e depra-


vação. Por essa razão Yahweh desejava imprimir na mente e coração
dos israelitas sua lei, como um antídoto contra toda essa bagagem cul-
tural dos cananeus. A glória de Deus só resplandeceria em Israel à me-
dida que essa nação resolvesse andar pela orientação de Deus, despre-
zando toda e qualquer influência mundana.

5.3 - As funções da lei


As leis exerceram inúmeras funções na vida do povo de Israel, que
podem ser vistas em três dimensões especiais: a que se refere ao relacio-

99
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

namento com Deus, a que trata do relacionamento com o próximo e a


que envolve a vida pessoal. Comentaremos aqui algumas funções desse
santo manual dado graciosamente a Israel pelo seu amoroso Redentor.
Uma das funções da lei foi oferecer diretrizes ao povo de Deus no
cultivo de um relacionamento saudável e duradouro a fim de que an-
dassem em harmonia com Yahweh e com seus irmãos. A religião é uma
construção de relacionamento entre o homem e Deus. Assim, por to-
das as alegações que Deus fez ao faraó através de Moisés é que o povo

da
deveria sair do Egito, para que Lhe prestasse culto e O servisse (Ex
5.3). Também vemos escrito em Êxodo (6.6-8) palavras da parte de
Yahweh a Moisés sobre o desejo de libertá-los para que fossem seu
povo e tivessem comunhão consigo. Yahweh desejava ter um relaciona-

bi
mento harmonio-so com Israel. Esse tipo de relacionamento refletiria
no modo de cada pessoa viver e relacionar-se, pois dedicando amor ao
oi
Senhor teriam condições de amar também o seu próximo.
A lei funcionou no sentido de demonstrar o caráter de Deus, em
especial sua justiça e santidade, estabelecendo o critério de um viver
Pr
justo e santo como base para uma conduta digna e correta. A proibição
dos preceitos era, ao mesmo tempo, uma afirmação da verdade sobre a
natureza do Criador e uma desmistificação do poder das divindades
egípcias e cananHias. Era comum entre as religiões da época uma ten-
dência à libertinagem e promiscuidade, inclusive divindades que eram
a

a representação da sensualidade e luxúria. Essas religiões não valoriza-


vam a pessoa, a família e a verdadeira espiritualidade. Yahweh, ao se
nd

revelar ao seu povo, apresenta-se como Santo, isto é, aquele que não é
maculado com a malícia e a sujeira, mas alguém de onde procede a
pureza e justiça; foi Ele mesmo quem disse: “Santo sereis, porque Eu, o
Senhor vosso Deus, sou Santo” (Lv.11.44,45 e 19.2).
Ve

A lei também mostrou que o pecado sempre seria um problema na


vida do homem e estaria ligado ao erro, à maldade. Tirar a vida alheia,
por exemplo, é um ato de crueldade e perversidade, fruto, muitas ve-
zes, do capricho e do egoísmo de alguém. Para se ter uma mentalidade
sadia é necessário prestar atenção no informe legal de não matar. Êxodo
(20.13) nos mostra a relevância da vida, lembrando-nos de que ela
teve origem no Criador e, portanto, deve servir aos Seus interesses.
A orientação de Yahweh também indicou o caminho da misericór-
dia, afirmando haver nela perdão e redenção. A máxima do Antigo
Testamento de que “a alma que pecasse certamente morreria” corres-

100
A I MPORTÂNCIA DAS L EIS

ponde a do Novo Testamento, de que “o salário do pecado é a morte”


(Ez. 18.4 e Rm 6.23). É importante ressaltar que a lei não apenas apre-
sentava o problema, como também a solução para ele. Em Levítico (4-
7), encontramos diversas orientações, entretanto as que mais nos cha-
mam a atenção são aquelas relacionadas aos sacrifícios para o perdão
de culpas e de pecados. Nesses casos, um animal deveria ser executado
e seu sangue derramado como demonstração de misericórdia do Se-
nhor ao pecador perdido.

da
Por fim, as orientações também tiveram a função de preservar a
sociedade através dos seus mecanismos de recompensas e punições. O
clássico exemplo é a lei de Talião “olho por olho e dente por dente”. Ao
executar o assassino, a mensagem que era ouvida no coletivo social era

bi
a de que matar trazia sérias conseqXências, portanto não valia a pena
matar, era “melhor obedecer do que sacrificar”.
oi
5.4 - As leis em categorias religiosas, sociais e sanitárias
Como comentamos anteriormente, as leis se relacionavam com to-
Pr
das as áreas da vida do povo de Israel. Em dimensão vertical, ao culto
ao Senhor com as normas para os ministros, e as especificações dos
diferentes tipos de ofertas, dias festivos e assuntos afins. Em dimensão
horizontal, à conduta social como o tratamento dos funcionários (es-
cravos); a administração da terra; o relacionamento com os órfãos, as
a

viúvas, os pobres e os parentes; a lida com o poder político; a condução


da guerra e a administração das finanças. Em dimensão pontual (pes-
nd

soal), à questão da saúde com os tipos de alimentos adequados; o des-


canso semanal, a prevenção de doenças e a cura delas; a reprodução
(incluindo o cuidado feminino) e as relações sexuais de risco. Apesar
dessa divisão em dimensões, não podemos perder a noção de conjun-
Ve

to, a relação existente entre elas. A observância do sábado, por exem-


plo, tinha por objetivo não só o culto como também descanso semanal
(Ex 20.3-11); a circuncisão, ao mesmo tempo que evidenciava o pacto,
cumpria um papel importantíssimo no campo da higiene e saúde.

5.4.1 - Leis referentes ao culto a Yahweh


O culto de Israel foi o ponto mais alto da expressão desse povo e o
seu grande diferencial. Há muitos textos com a recomendação de que o
culto fosse direcionado ao único Deus Yahweh, criador dos céus e da
terra e a ninguém mais. (Ex 20.3,23; 22.20; Lv 19.4 e Dt 5.7-9). Nes-

101
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

sas referências, há proibição da prática de culto a imagens e promessa


de punição àqueles que assim procedessem.
Um ponto importante no culto era a ministração de sacrifícios, por
um lado demonstração da graça de Deus na redenção de seu povo, por
outro lado evidência de um coração contrito e grato a um Deus miseri-
cordioso. Para essas ministrações existiam parâmetros bem definidos,
tais como, o tipo de oferenda a ser apresentada a Deus e o modo de
utilização do sangue nesse cerimonial. Encontramos recomendações

da
sobre esse assunto em diversos livros (Ex 20.24-26; 22.29,30; 23.18
e19; Lv 1-7; Nm 15.2-31 e Dt 12.13,14). Relevante também eram as
orientações dadas à categoria sacerdotal, aos ministros da antiga alian-
ça no ofício das coisas sagradas. Essas normas são explicitadas em Êxodo

bi
28 e 29 e Levítico 21 e 22. Ainda há outros textos, porém esses são su-
ficientes para que se perceba que Yahweh esperava que seus ministros
oi
vivessem uma vida santa e exemplar, possuindo autoridade para minis-
trar diante do povo a quem serviam como mediadores e intercessores.
De igual valor eram as orientações sobre o calendário religioso de
Pr
Israel. Existia uma sinalização bem detalhada sobre os dias de adora-
ção e sobre celebrações especiais chamadas “festas” que davam o tom
no estilo de vida israelita. Essa pontuação começava pelo sábado (Ex
20.8-11), passando pelas três festas principais (Páscoa, Pentecostes e
Tabernáculos) (Ex 23. 14-19) e fechava com o Ano Jubileu, um ano
a

todo de celebrações e liberações de amor e misericórdia que ocorria a


cada 50 anos (Lv. 25.8-34 e Dt 15.1-18). Podemos ainda alistar regula-
nd

mentos sobre dízimos e ofertas (Ex 30.12-16 e Dt 12.17-19); sobre os


votos feitos ao Senhor e o modo de cumpri-los (Lv. 27 e Dt 23.18, 21-
23), que são, na verdade, manifestações dessa adoração graciosa proce-
dente de um coração impactado pelo amor de Yahweh.
Ve

5.4.2 - Leis referentes aos relacionamentos interpessoais


A vida em coletividade, incluindo os direitos e deveres do cidadão
ganhavam muita importância no pacto do Sinai, isto é, nas leis dadas
por Yahweh ao seu povo. Em primeiro lugar, destacava-se a importân-
cia das pessoas e o respeito devido a elas (Ex 20.13; 21.12-32; Lv 24.17-
22 e Dt 5.17). O teor dessas orientações é a valorização da vida, pois
esta é sagrada. Em segundo lugar, destacava-se a dignidade devida ao
trabalhador, na Bíblia chamado de escravo, porém com tratamento di-
ferenciado daquele destinado a escravos de outras nações, tais como os

102
A I MPORTÂNCIA DAS L EIS

africanos que trabalharam em colônias em diversas partes do mundo.


Em Êxodo (21.1-11), Levítico (25.39-55) e Deuteronômio (23.15,16),
temos muitas informações a respeito de trabalhadores, os quais deveri-
am ser respeitados e nunca oprimidos, pois essa era a oportunidade
dos israelitas lembrarem de sua experiência no Egito e de abençoá-los
com recursos que graciosamente receberam do Senhor.
Existiam normas acerca do uso da terra, a qual é propriedade do
Senhor. Salmo (24.1) registra que “do Senhor é a terra e toda a sua pleni-

da
tude”. A terra é fonte de recursos para a sustentação da vida e não pode
ser retida por indivíduos ambiciosos, que por sua ganância, privam
parte do povo de seu grande benefício (Ex 23.10,11; Lv 19.9,10; 25.1-
7 e Dt 19.14). Todas essas referências evidenciam princípios éticos e

bi
humanitários; explicitam o cuidado que se deve ter com os menos fa-
vorecidos. Soma-se a esses textos o de Deuteronômio (24.14-22). Nes-
oi
se livro, a nota de destaque é a ação caridosa e benevolente aos órfãos,
viúvas, pobres e estrangeiros. Quem observa esses princípios, planta
sementes preciosas e, com certeza, fará excelente colheita, ajuntando
Pr
para si um tesouro de grande valor como recompensa por ter incluído
o outro na administração de seus bens.
É importante observarmos também o cuidado que Yahweh teve com
a instituição família e o valor que a ela dedicou ao falar da importância
do casamento (Ex 20.14) e do valor da autoridade paterna na forma-
a

ção dos filhos (Ex 20.12). Está vinculada a esse preceito uma excelente
promessa. Levítico (19.3, 29 e 32) aponta os pais como representantes
nd

de Deus dentro do lar.


Por fim destacamos orientações dadas por Deus àqueles que estari-
am conduzindo politicamente a nação. Existem normas ao trabalho
dos líderes populares e juízes, mas o destaque em Deuteronômio (17.14-
Ve

20) é do trabalho do rei, expondo como deveria ser seu caráter, e o


cuidado com a vida devocional e com a tentação do poder, do dinheiro
e das mulheres. A observância desses aspectos era fundamental para o
cultivo do poder e para o exercício eficaz do seu trabalho.

5.4.3 - Leis referentes à saúde e à higiene


Se por um lado Deus queria orientar seu povo no que se refere ao
culto, por outro, tentava guiá-los em seus relacionamentos, não dei-
xando de fora sua preocupação com a pessoalidade e corporeidade.
Yahweh desejava que cada pessoa vivesse bem consigo mesma e para

103
PENTATEUCO
O S F UNDAMENTOS É TICOS E R ELIGIOSOS DE I SRAEL NO A NTIGO T ESTAMENTO

isso os incentivava a terem uma dieta balanceada e saudável, a cuida-


rem do corpo, especialmente no que diz respeito ao cuidado com algu-
mas doenças, e a disciplina da vida sexual. Em Êxodo (22.19), Deus
condena a zoofilia, possível fonte de contaminação e doenças. Em
Levítico (18.19-24 e 20.10-21), encontramos condenações para outras
modalidades de relações, as quais minam as forças da pessoa. Além
dessas condenações, há também nesse mesmo livro, capítulo 12 e 15,
algumas orientações para abstinência sexual da mulher no período pós-

da
parto e no período menstrual. O cuidado com a vida sexual, de acordo
com a norma de Yahweh, era fonte de saúde e vida. Atrela-se a isso o
cuidado com a alimentação. Em Levítico (11), temos uma lista dos
alimentos recomendados e a indicação daquilo que não faria bem ao

bi
organismo humano. No capítulo 7, versículos 22-27, há proibição da
gordura e do sangue. Além desses cuidados para uma vida saudável,
oi
também havia a recomendação para o descanso semanal. Yahweh foi
enfático sobre esse assunto, obrigando a parada das atividades sema-
nais no limiar do sétimo dia da semana. Essa parada era fundamental
Pr
na revitalização das forças e renovação da alegria. Podemos com isso
concluir que Yahweh foi minucioso no cuidado com seu povo. Todos
aqueles que caminharam de acordo com esse padrão, puderam desfru-
tar de uma melhor qualidade de vida como diz o Salmo 119.
a

5.5 - A questão legal no Novo Testamento


O Novo Testamento não desconsidera a orientação Sinaítica dada a
nd

Moisés, tendo em vista seus princípios vitais e necessários, ao contrá-


rio, dá a confirmação. O próprio Senhor Jesus disse não ter vindo para
anular a lei, mas para cumpri-la. É preciso observar que os ensinos do
Antigo Testamento não se chocam com os do Novo, porém se faz ne-
Ve

cessário entender que, o Novo Testamento foi escrito em um momento


em que muitas tradições tinham sido formadas a partir daqueles prin-
cípios legais e que isso havia dado origem a um legalismo doentio que
marcou o Judaísmo do primeiro século da era cristã, um fato bastante
problemático.
Os evangelistas e apóstolos enfrentaram muitas dificuldades na aber-
tura de comunidades cristãs, em decorrência da mentalidade existente
na religiosidade dos cristãos procedentes do judaísmo. Esses cristãos
acreditavam que o cristianismo só estaria pleno à medida que incorpo-
rasse a tradição legalista dos judeus do tipo “não toques, não proves e não

104
A I MPORTÂNCIA DAS L EIS

manuseies”, (Cl 2.21). Temos duas epístolas que são enfáticas no com-
bate a essa tendência: a epístola aos Romanos e a epístolas aos Gálatas.
Ao escrevê-las, Paulo teve o cuidado de não anular o significado daqui-
lo que foi dado por Yahweh como instrumento de orientação e bênção
ao seu povo. É necessário, para não fazer qualquer análise equivocada,
que percebamos o princípio espiritual existente no âmago do manda-
mento e não a sua forma. Foram palavras do "QØTUPMP 1BVMP: “A
letra mata, o espírito porém vivifica” **$P


da
Questão para reflexão
O cristão atual possui muitas dificuldades em aceitar a recomenda-
ção de regulamentos como dispositivos de promoção de sua fé e

bi
espiritualidade. Mas ao olharmos para as leis dadas por Deus ao Seu
povo, podemos perceber que seus princípios eram espirituais e neces-
oi
sários. Procure argumentar com alguém sobre a atualidade dos princí-
pios encontrados na lei do Senhor.
Pr
a
nd
Ve

105

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