do material circulante na origem do acidente de Agosto na Linha do Tua CARLOS CIPRIANO • 23 de Outubro de 2008, 0:00
A Refer pondera agora agora suspender
também a circulação nas Linhas do Tâmega e Corgo, enquanto houver dúvidas sobre o material
a Um empeno (carris desnivelados) na linha
férrea e excesso de rigidez dos amortecedores da automotora terão contribuído para o descarrilamento ocorrido em 22 de Agosto na Linha do Tua que provocou uma vítima mortal. Estas as principais conclusões do relatório ao acidente, que foi ontem entregue ao ministro Mário Lino.A conjunção dos dois factores - defeito na via e inadequabilidade do material circulante - é uma situação improvável, mas aconteceu naquele manhã de Agosto e a Refer pondera agora suspender a circulação dos LRV (light rail vehicles) também na Linha do Tâmega e Corgo enquanto não forem resolvidas todas as dúvidas sobre a sua adequação àquelas linhas. Um empeno de via significa que os dois carris que constituem a linha férrea não estavam correctamente nivelados. Se a diferença for pequena, a situação não é grave, mas neste caso a automotora ia cheia, havendo muitos passageiros a viajar de pé por falta de lugar e o comportamento dos amortecedores não é o mesmo quando um veículo está vazio ou carregado. A equipa de peritos não detectou nenhuma avaria no sistema de suspensão, mas pôs em causa a adequabilidade deste material às características específicas da Linha do Tua. As automotoras que ali circulam resultaram da modernização de material que tinha sido comprado à então Jugoslávia nos anos setenta. Os ferroviários chamavam-lhes as "Xepas", em alusão à telenovela da época porque andavam sempre coxas, isto é, com avarias sucessivas. Em 2000 as Duro Dakovic, como oficialmente se designavam, recolheram às oficinas de Guifões, em Matosinhos, e foram "descascadas", aproveitando-se apenas a estrutura da caixa para sobre esta reconstruir um veículo ferroviário moderno. Já quanto ao estado da via, um documento da Universidade Complutense de Madrid garante que a sua conservação, a cargo da Refer, tem sido a adequada, tendo em conta o tipo e a frequência de comboios. Mas peritos suíços e os próprios portugueses da Faculdade de Engenharia do Porto, que lideraram a inquérito, chamam a atenção para o mau estado da via em alguns troços. Um dos testes efectuados pela comissão de inquérito consistiu em filmar a passagem de um comboio pelo local do acidente, tendo-se verificado que, por alguns décimos de segundo, uma das rodas ficou no ar. Apenas alguns milímetros, mas o suficiente para se perceber que havia um empeno naquele local. À medida que a Linha do Tua foi perdendo importância e as circulações se foram reduzindo, diminuíram também os meios humanos para a sua conservação. O troço onde se deu esta acidente sofreu a última renovação de via nos anos noventa, mas entre a estação do Tua e Santa Luzia, onde ocorreram os descarrilamentos de Fevereiro de 2007 e de Junho deste ano, a linha propriamente dita não é renovada desde os anos oitenta. Ontem, em declarações à Lusa, o coordenador da equipa da Faculdade de Engenharia do Porto que averiguou as causas do acidente disse à Lusa que o relatório agora entregue possui "material para tomar várias decisões".