Вы находитесь на странице: 1из 11

ONTOLOGIA E FILOSOFIA DA ARTE

HEIDEGGER

Aula 01:

Este curso pretende investigar a questão da arte em sua referência ao ser no

pensamento de Martin Heidegger. O pressuposto guia deste pensamento é que toda

nossa compreensão do ente só é possível graças a uma compreensão prévia do ser.

Para que possamos compreender um ente qualquer devemos ter já, antecipadamente,

uma visão prévia de seu ser. Isso implica que a questão do ser (Seinsfrage) é sempre o

tema fundamental de toda investigação sobre qualquer ente.

Mas como pensar o ser? Ele é também um ente? Ou é algo irredutível a

qualquer ente? Se o pressuposto inicial é que o ser é totalmente outro respeito ao

ente, como podemos pensar o ser?

Em primeiro lugar, pensar o ser significa encontrar-se em relação com ele, na

referência dele; significa estar, por assim dizer, aberto ao ser. Com efeito, se de um

lado o ser se dá por si mesmo como algo irredutível ao ente, a qualquer ente, razão

pela qual encontra-se esvaziado de qualquer significado real; de outro, porém, em

virtude do fato de se encontrar desde sempre referido ao ente, ele nos é familiar,

mesmo se em modo muito vago. Nestes termos, o pensamento encontra-se em um

círculo: de um lado, o sentido do ser é aquilo que se apresenta em si mesmo como o

mais vago e vazio; de outro, toda compreensão do ente pressupõe uma certa

familiaridade com o ser do ente. Sendo assim, o caminho que pretende levar à

proximidade do sentido do ser não pode mais ser pensado como um percurso que leva

a uma meta. O caminho do pensamento precisamente pelo fato de pensar, isto é,


compreender algo, encontra-se já na proximidade do ser. Mesmo que o sentido do ser

não seja claro, o pensamento pensa sempre o ser; não poderia ser de modo diverso,

uma vez que o pensamento é em si mesmo um dirigir-se a algo que a ele se dá. Desta

forma, a primeira questão a se esclarecer é como o pensamento pensa o ser, ou seja,

como o pensamento encontra-se aberto à doação do ser. Em outras palavras, em que

modo o pensamento se move na proximidade do ser? Ora, se o pensamento nunca

alcança o ser, pois isso comportaria considerar o ser como um ente simplesmente

presente, que se atinge no final de um percurso, então o caminho do pensamento só

pode ser o círculo. Clarear o sentido do ser não pode significar colocar-se diante do

ser, mas caminhando fazer sua experiência (Erfahrung). Se o ser não é um ente, mas ao

mesmo tempo é aquilo que descerra o ente, então fazer experiência do ser significa

sempre e cada vez aprender a colher a diferença entre ser e ente; e colhê-la como

diferença pura, não entre um ente e outro ente, mas entre o ente e aquilo que é outro

respeito a todo ente, o não ente, o nada. Mas como pensar este não ente, este nada,

esta alteridade irredutível ao ente? Em primeiro lugar, o pensamento deve aprender a

experimentar esta alteridade como tal; aprendizado que comporta pensá-la tanto

como a coisa mais próxima do pensamento, uma vez que o pensamento pensa sempre

o ser, quanto como a coisa mais distante, pois contraria o costume a que estamos

habituados de pensar o ser como um ente.

O primeiro passo a ser dado para que esta experiência se dê deve ser então

liberar o pensamento dos condicionamentos metafísicos que consideram o ser como

um ente. Mas este passo não significa pretender ultrapassar o pensamento metafísico,

no sentido de ultrapassar uma região (o ente) em favor de uma outra região (o ser).

Este tipo de operação, com efeito, é o fulcro essencial do próprio pensamento

2
metafísico. Sendo assim, pretender superar a metafísica significa desenvolvê-la na

sua essência. Significa, antes de tudo, colocar-se na essência da metafísica para colher

em seus fundamentos, aquilo que permanece não dito. Este não dito não é um ente,

ou algo que permanece escondido simplesmente porque ainda não foi desvelado, mas

é a reserva obscura, misteriosa, da qual todo fundamento extrai o seu sentido e sua

essencial referência entre uma época e uma outra. Aquilo que permanece não dito é a

própria possibilidade que o transmitido possa chegar até nós. Em outras palavras,

esse não dito é a simples conexão, e por isso mesmo muito difícil de ser

experimentada, entre o impulso para o porvir (para o futuro) e o que nos é transmitido

(a tradição passada), permitindo o desdobrar-se do presente. Com efeito, toda nossa

decisão, ação ou pensamento caracteriza-se sempre por este recolhimento da

temporalidade, onde cada coisa singular joga em uma contínua referência a uma

totalidade de significados, nunca redutível a uma soma finita, mas sempre em um

contínuo oscilar. Isso nós podemos perceber na história das palavras, onde cada

palavra recolhe uma multiplicidade de significados em contínuo colóquio entre si, e

precisamente por isso nunca pode ser reduzida a um único significado. Desta forma,

a tarefa do pensamento não pode ser mais tentar reduzir a multiplicidade de

significados a um único significado, a um sentido único, mas experimentar esta

contínua oscilação, esta contínua transmissão em um discurso sem fim. Para assumir

esta tarefa, contudo, o pensamento deve se tornar caminho que não chega a lugar

nenhum, que não conquista nada; caminho que enquanto vai, vira e volta (Kehre) para

experimentar o “entre” da transmissão. Ou seja, o pensamento não chega nunca a um

sentido único, mas pode sempre colher aquele espaço de tempo (o entre) através do

qual unicamente o transmitido chega até nós e nos permite projetar-nos em

3
possibilidades adquiridas no colóquio com aquilo que já foi. A viravolta (Kehre) do

pensamento se desdobra exatamente nesta tentativa de escutar no dizer aquilo que

permanece não dito, isto é, aquele aberto no qual as coisas e as palavras são deixadas

ser em sua transmissão a nós. Isso é possível unicamente quando renunciamos à

pretensão de querer representar este espaço-tempo como um ente, como um

recipiente que nos envolve, e que por isso estaria já colocado antes de nós e das

coisas; ao contrário, é preciso pensá-lo como o simples deixar ser as coisas, isto é,

como o deixar que as coisas se desdobrem em seu ser. Apenas nesse caso

começaremos a colher a diferença entre ser e ente. Mas isso implica também não

mais pensar o ser como um fundamento, como algo que já se encontra presente antes

de toda coisa, como algo que se encontra além do mundo, e por isso eterno, não

consumível pela erosão do tempo. É preciso, ao invés, pensar o ser como o simples e

puro deixar ser um espaço-tempo para que as coisas possam mostrar-se a nós. É

precisamente neste deixar ser que o Ser (Seyn) se consuma, se vela, se esconde;

evidentemente não como um ente escondido, mas como aquilo que na sua essência é

mistério, que enquanto tal é indizível. Não teria nenhum sentido falar de mistério que

no final é desvendado: o mistério é tal se permanece mistério até o fim.

O pensamento deve experimentar o mistério, que não está além das coisas, em

um espaço para lá de Urano, mas é aquilo que se encontra mais próximo do

pensamento, aquilo que originariamente nos faz pensar. Com efeito, nós nos

encontramos desde sempre envolvidos no mistério, no indizível que nos faz vir à

palavra, mas precisamente porque indizível nenhuma palavra pode nomeá-lo. É por

isso que nenhuma época pode exaurir o não dito; mas também não o pode a

totalidade das épocas, se de totalidade neste sentido ainda podemos falar, pois

4
implicaria excluir a possibilidade do porvir. Esta fonte obscura nunca se exaure.

Mesmo assim, unicamente deste deixar ser cada época é possível transmitir as

verdades finitas de uma época àquelas sucessivas, desdobrando a história em um

contínuo colóquio, que contudo não se deixa dizer plenamente; e não se deixa dizer

não porque se encontra além do transmitido, mas simplesmente porque se consuma

no entre (no trans) que permite transmitir. O movimento da Kehre do pensamento é

um retroceder do transmitido ao entre que permite que o transmitido chegue ao

pensamento, àquele deixar ser que se esconde. O pensamento na Kehre deve, desta

forma, aprender a experimentar este deixar ser em seu contínuo esconder-se, não

como aquilo que no final se conquista, mas como aquilo que mesmo no final

permanece velado, e precisamente neste velar-se (deixar ser) desvela o transmitido.

Onde Heidegger observa esta dinâmica própria do ser? Precisamente na obra

de arte, pensada não como objeto de uma “ciência”, a estética, que permanece sempre

parte integrante da metafísica, mas na perspectiva hermenêutica aqui indicada. Em

primeiro lugar, porque a obra de arte que se transmite de época a época nunca é

redutível a um único sentido. Se tomamos como exemplo uma obra de arte como La

Divina Commedia (1307-1321), de Dante Alighieri (1265-1321), perceberemos que nas

várias épocas em que foi transmitida assumiu significados diversos. Ou melhor, é

exatamente a sua irredutibilidade a um único significado que permitiu sua

transmissão e tradução em modos diversos. Caso pudéssemos recolher a totalidade

destes significados adquiridos nas várias épocas, nem mesmo assim encontraríamos

seu sentido último, isso porque neste caso ela não teria mais nada a nos dizer, seria

como uma equação matemática, uma proposição de lógica fria e clara. Na obra de

arte, ao contrário, não há nada que seja completamente claro, pois tudo oscila e vive

5
de luz obscura: de um lado, a obra de arte se descerra ao homem dispondo-o ao

espanto, à maravilha de seu puro e simples ser aí (Dasein), aberto à escuta; de outro, a

obra sempre se reserva, tem sempre algo ulterior a dizer, e assim nunca se deixa

clarear até o fim. Luz e obscuridade são inseparáveis na obra de arte, ou melhor, são

os caracteres que a fazem pulsar como algo vivo, e por isso ela se dá como choque,

abalo, perturbação... Ela envolve o ser humano no modo mais íntimo, mais simples,

mas ao mesmo tempo mais obscuro. Isso porque a obra faz vibrar no modo mais

simples aquele deixar ser que condiciona desde sempre o pensamento enquanto tal.

Por isso a obra de arte tem antes de tudo para Heidegger um sentido ontológico,

porque faz vibrar aquele duplo sentido do ser como descobrimento e encobrimento:

de um lado, descerra um mundo de significados sempre em contínua oscilação; de

outro, conserva na obscuridade o seu sentido último e duradouro. A obra não mantém

simplesmente estes dois caracteres de maneira estática, mas os coloca em obra, os faz

oscilar em uma luta onde, de um lado, um mundo se descerra abrindo tudo que pode

ser aberto; de outro, o mistério da obra resiste à abertura, produzindo-se como

indizível. Sem um mundo, contudo, a obra perderia inclusive sua reserva obscura: a

obscuridade da obra requer a luz do mundo para ser obscura. Nesta dúplice

característica da obra de arte, índice da diferença entre ser e ente, se descerra o

significado da hermenêutica de Heidegger, onde cada obra, palavra ou época histórica

é escutada na sua duplicidade nunca redutível a um sentido único. Sua hermenêutica

deve ser pensada como um colóquio contínuo onde aquilo que se anuncia se colore

imediatamente por aquilo que permanece não dito. Toda palavra, particularmente

aquela poética, expõe tanto uma multiplicidade de significados quanto o seu não dito

que deixa ser a multiplicidade, ou seja, que novos significados possam advir. Este não

6
dito é o indizível espaço de jogo de tempo no qual a obra é atualizada em um discurso

sem fim, porque não conquista nada: joga jogando, e isso basta.

A especial atenção de Heidegger à arte, como lugar deste jogo, se dá na virada

(Kehre) de seu caminho de pensamento (Denkweg). Referindo-se a esta virada,

Heidegger em uma passagem autobiográfica afirma:

Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por outra, mas porque a
posição de antes era apenas um passo num caminho. No pensamento, o que
permanece é o caminho. E os caminhos do pensamento guardam consigo o
mistério de podermos caminhá-los para frente e para trás, trazem até o
mistério de o caminho para trás nos levar para frente (HEIDEGGER, 1985 p.
94).

Esta Kehre é na verdade o sentido do caminho que de Sein und Zeit (1927) leva a

Zeit und Sein (conferência proferida em 1962). Caminho que não pôde se cumprir na

obra de 1927, precisamente pela falta de uma linguagem apta a dar conta da

passagem; ou melhor, a linguagem da metafísica impediu uma análise genuína de Zeit

und Sein, que deveria se constituir na terceira seção do livro. Ao considerar este

caminho Heidegger afirma que “aqui o todo se inverte” (Hier kehrt sich das Ganze)

(HEIDEGGER, 1976 pp. 327-328). Esta inversão, contudo, não indica uma ruptura com

os pressupostos de sua obra capital, pois faz parte do caminho o dar-se de passos

diferentes.

O mesmo dos diversos passos do caminho é a questão do ser, a Seinsfrage. É o

ser que exige para sua compreensão a Kehre. Este exigir do ser, por sua vez, é o

caminho do pensamento que faz experiência do ser enquanto tal.

O caminho aqui não deve ser entendido como o percurso necessário para

alcançar uma meta; aquilo que conta é unicamente o próprio caminhar. Ele oferece a

7
possibilidade ao pensamento de “habitar” nas proximidades do ser. Mas tal caminho

não leva à simples redução da distância entre os dois, uma vez que o pensamento

pertence desde sempre ao ser; apenas porque o pensamento sempre responde ao ser,

pode habitar na região aberta pelo ser.

O pensamento é sempre o pensamento do ser, no seguinte sentido: ocorre

(ereignet) pelo ser e precisamente por isso ao ser pertence, dá-se na escuta do ser.

Assim, o modo pelo qual o pensamento pertence ao ser é o escutar. Escutar que

não é aqui simplesmente o resultado do adequado funcionamento do aparelho

auditivo: nós escutamos não porque somos capazes de perceber sons, mas ao

contrário, nós podemos perceber sons porque já escutamos; ou mais essencialmente,

nós escutamos porque somos chamados à escuta, ao pensamento. Escutar quer dizer

compreender, recolhendo, o ser como iluminação do ente, e não simplesmente o ente

enquanto tal. E ainda mais, nós nunca escutamos simplesmente sons e rumores, mas

sempre o canto do passarinho, o motor do carro que passa, o latido do cachorro, as

palavras proferidas por uma pessoa, mesmo quando essa fala uma língua

desconhecida. É próprio do pensamento estar na escuta dos acenos pelos quais o ser

se dá (Es gibt).

Como caminho do pensamento, a Kehre indica a originária pertença do

pensamento ao ser. Em razão disso Sein und Zeit não pode exaurir o sentido do ser,

pois representa apenas uma etapa da Kehre. O que permanece constante no pensar é o

próprio caminho. E neste caminho só se avança quando se retrocede. Para a

metafísica isso é uma contradição. Como algo pode avançar retrocedendo? Para

Heidegger o retroceder significa dar um passo atrás. Trata-se na verdade de um salto

(Sprung) que do iluminado (o ente) busca-se alcançar o iluminar-se da abertura (o ser),

8
única região em que o iluminado pode aparecer. O passo atrás é o salto que vai do

ente ao ser. É a tentativa de alcançar a fonte escondida de todas as possibilidades

concedidas ao ente em seu manifestar-se. Desta forma, a Kehre como caminho do

pensamento pertence essencialmente à questão do ser, à Seinsfrage. O pensamento

pode retroceder avançando neste caminho apenas porque, ao considerar o ente que se

encontra diante de si, o recolhe em seu ser. É o ser mesmo que permite este

recolhimento. Permitir quer aqui dizer doar ao pensamento a possibilidade que algo

apareça, que algo se ilumine no recolhimento. Apenas o simples doar do ser dá a

coisa mesma do pensamento. Aquilo que mais conta não é a colheita deste

recolhimento, mas o próprio recolher-se.

O sentido da Kehre está exatamente neste movimento que retrocede daquilo

que é manifesto (o ente) à manifestabilidade como tal, que por sua vez permanece

velada. Este retroceder que permite avançar evidencia desta forma a produção de uma

distância daquilo que se quer aproximar. Este distanciar-se consente a livre

aproximação daquilo que se encontra a pensar. Aquilo que a Kehre como passo atrás

persegue é pensar o movimento do ser que se vela iluminando o ente. E apenas neste

modo a Kehre consente a proximidade do pensamento ao ser. Mas a proximidade de

pensamento e ser ocorre apenas se o pensamento se transformar. Tal transformação,

por sua vez, requer a superação do pensamento metafísico, que em toda sua tradição

interrogou o ser como ser do ente, e não como ser enquanto tal. “A transformação

exigida pelo pensamento é uma luta continuamente conduzida para rever o próprio

ponto de partida de forma que o pensamento se torna livre para a experiência da

verdade do próprio ser” (PÖGGELER, 2001 p. 160).

9
Mas o que indica propriamente a palavra Kehre? Kehre indica uma virada de um

caminho de montanha, ou de uma trilha. Aquele que segue este caminho é obrigado a

virar porque a própria trilha ou caminho vira. Assim, a virada não é algo que o

homem decide livremente, mesmo se de qualquer forma participa desta decisão. No

caminho o homem vira porque presta atenção aos acenos pelos quais o ser se dá (Es

gibt). Os acenos por sua própria natureza não são simples sinais. Eles são pouco

vistosos: “Os acenos são enigmáticos. Acenam para nós e acenam para fora de nós.

Mas nos acenam sobretudo com a fonte de onde repentinamente nos

advêm” (HEIDEGGER, 1985 p. 111).

Este acenar é o livre doar do ser que dá (gibt) a coisa mesma do pensamento. O

pensamento se dá enquanto corresponde aos acenos do ser, quando mostra aquilo que

se dá (es gibt) como clareira (Lichtung), mas que também se dá enquanto oferece a sua

custódia ao dar-se do ser, no sentido que escuta o ser, manifestando seus enigmáticos

acenos. A Kehre como Dekweg é um escutar que mostra aquilo que em seu dar-se

esconde-se.


10
Bibliografia:

HEIDEGGER, M. Wegmarken. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1976.

______. Unterwegs zur Sprache. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1985.

PÖGGELER, O. A via do pensamento de Martin Heidegger. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

11

Вам также может понравиться