Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Conceito
Na “mitodologia” de Durand (neologismo que ele propõe para designar o complexo
e vasto campo de estudos dos mitos), destaca-se o conceito de bacia semântica. Esse
estudioso declara sobre a noção de bacia semântica: "O pluralismo taxinômico, a tópica e
a dinâmica permitem abarcar as bacias semânticas que articulam aquilo que é "próprio do
homem", o imaginário, com uma precisão mensurável" (2001, p. 117) - mensurável, em
termos de bacia semântica, significa apreensível em um conjunto de ideias e
representações de uma época, que será diferente de outras épocas, ao ponto de se dizer
que cada época tem seu estilo, seus modismos, seus líderes, seus ideólogos, seus ídolos,
suas atitudes marcantes, seu tipo de arte, seu tom.
No estudo antropológico e mitológico do imaginário, Durand lembra que todas as
sociedades possuem "uma memória armazenada nas suas instituições informativas:
monumentos, documentos, modos de vida, línguas naturais" (1996, p. 164). Esse
processo pressupõe uma "sobreposição das fases tópicas", no sentido de que mitos
nascem e se esgotam continuamente, uns influenciando outros, num processo dialético
constante. "O renascimento de um mito desenha-se com muita antecedência sob os
mitologemas1 dominantes que se esgotam (perdem o seu "dinamismo" mitogênico)"
(1996, p. 164). Esses estratos diversos, às vezes contraditórios, memorizados pela
cultura, são reutilizados em ressurgimentos de mitologemas, em tempos diferentes,
porque o armazenamento é limitado. Durand declara: "No devir humano, como na
morfogênese matemática, física ou biológica, não existe uma infinidade de escolhas. As
ocorrências são em número limitado e impõe-se a reutilização" (1996, p. 164). Ele
prossegue:
1 Segundo Károly Kerényi, os elementos mínimos reconhecíveis de um complexo de material mítico que é
continuamente revisto, reformulado e reorganizado, mas que na essência permanece, de fato, a mesma
história primordial.
Clareando o conceito de bacia semântica, em um item denominado “A dinâmica do
imaginário: a bacia semântica" (2001, p. 100 a 120), Durand destaca o fenômeno da
existência de fases no curso da história, a presença de momentos culturais e artísticos
diferentes, indicando mudanças e tornando característica cada época:
2 Trend (inglês); a general development or change in a situation or in the way that people are behaving.
Ex.: “Surveys show a trend away from home-ownership and toward rented accommodation”; (moda) a
new development in clothing, make-up, etc. Ex.: “Whatever the latest fashion trend, you can be sure Nicki
will be wearing it”; fonte: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/trend [Economia] Movimento
econômico (histórico, ético etc.) de longa duração; tendência; Ex.: “The stock market trends are
displayed on a screen”; fonte: https://www.linguee.com.br/ingles-portugues/traducao/trend.html.
embriólogos a fim de descrever certo processo do encaminhamento formativo necessário
para a maturação do embrião. Também nas tópicas de Durand (ou anéis, ou fases do
imaginário sociocultural), o processo de formação, deformação e mudança do
pensamento (mítico, simbólico, artístico, cultural, psicológico, arquetípico) dos grupos se
dá por etapas imbricadas umas nas outras numa linha de continuidade e descontinuidade,
em uma dinâmica sociocultural dialética constante, ininterrupta e integrada.
Assim ele explica a criação da expressão "bacia semântica":
Nessa parte dos seus estudos, Durand refere-se ao estudo do sociólogo russo
radicado nos Estados Unidos Pitirim Sorokin, que, "após uma pesquisa sociológica
gigantesca efetuada por sua equipe de Harvard, foi o primeiro a elaborar a classificação
da "dinâmica sociocultural" de uma entidade sócio-histórica num número de fases" (2001,
p. 102). As fases expostas por Sorokin são apenas três (sensate, ideational, idealistic),
número que Durand considera restrito. Durand julga que essas três fases ficaram vagas
quanto à duração e também ao conteúdo (figuras míticas, estilos, motivos pictóricos,
temas literários, etc.). Então ele amplia o esquema de Sorokin com a finalidade de
preencher essas lacunas metodológicas. Durand escreve: "Assim, levando em
consideração estas várias constatações, aperfeiçoamos 3 o conceito de "bacia semântica".
3 Duas palavras nesse trecho de Durand lançam dúvida quanto ao verdadeiro autor da expressão "bacia
semântica", se é ele ou Sorokin: "aperfeiçoamos" e "estava implícito". Ele diz que "aperfeiçoou" o
conceito de bacia semântica e não que o "criou". Só se aperfeiçoa o que já existe (no caso, o conceito
denominado "bacia semântica"). Por outro lado, ele admite que o conceito estava implícito em sua tópica,
mas não explícito (exposto, escrito). Nessa obra (2001), após aperfeiçoar o processo de bacia
semântica, ampliando de três (propostas por Sorokin) para seis as fases da dinâmica sociocultural de
uma entidade sócio-histórica (2001, p. 104-114), Durand volta a falar em Sorokin ao expor a sexta e
última fase da "bacia semântica": "Esta ocorre quando a corrente mitogênica (...) se desgasta, atingindo,
segundo Sorokin, uma saturação "limite" (op. cit. 114). Ou seja, Sorokin também trabalhou com as fases
da bacia semântica. O detalhe de três ou seis fases não importa muito (o que importa é que Sorokin
pode ter usado, antes de Durand, a expressão "bacia semântica"). Durand fecha o assunto com outro
detalhe do seu anunciado aperfeiçoamento, voltando a usar o nome de Sorokin: "Agora, resta responder
à pergunta que não foi resolvida por Sorokin: a duração de uma "bacia semântica" (2001, p. 115). Essa
frase dá de entender que Sorokin usou a expressão "bacia semântica", sem definir a sua duração. Diante
de tudo isso, pode-se pensar que, se a noção de "bacia semântica" (tão criativa, interessante e
divulgada) fosse original de Durand, ele teria dito claramente que a criou (como afirma ter forjado a
noção de mitanálise (1985, p. 246)), o que ele não faz (como também não declara abertamente que o
conceito seja de Sorokin). Portanto somente uma leitura cuidadosa de todas as obras de Sorokin
(Durand cita a obra Social and cultural dynamics, 4 volumes, Porter Sargent Pub., 1957) poderia
proporcionar essa resposta (por talvez conter a noção de bacia semântica); ou a leitura de toda a obra
de Durand com o objetivo de verificar se em outra apresentação ele declara a autoria do conceito de
"bacia semântica". No entanto tal esclarecimento não é relevante para esta nossa pesquisa. Portanto
Ele já estava implícito em nossa tópica, matizando em subconjuntos o movimento
sistêmico" (2001, p. 103).
As seis fases da bacia semântica descritas por Durand (também em metáforas
potamológicas, em referência aos rios) são: 1. escoamento (o nascimento, a eflorescência
de pequenas correntes ainda desconexas, às vezes antagônicas; porém com algum
elemento do momento histórico congregando vários dos escoamentos da época histórica;
então "escorre um novo imaginário"); 2. divisão das águas ("momento da junção de
alguns escoamentos que formam uma oposição mais ou menos acirrada contra os
estados imaginários precedentes e outros escoamentos atuais"; "esta é a fase propícia
para as querelas das Escolas", para o confronto de forças políticas, ideológicas, etc.; 3.
confluências (pequenas correntes paralelas que contribuem na formação do rio, além dos
seus afluentes; na fase da organização dos rios, as confluências desempenham um
grande papel. "Assim como um rio é formado dos seus afluentes, uma corrente
nitidamente consolidada necessita ser reconfortada pelo reconhecimento, o apoio das
autoridades locais e das personalidades e instituições"); 4. nome do rio ("O nome do rio,
que, de alguma forma, é o "nome do pai" solidamente mitificado, esboça-se quando um
personagem real ou fictício caracteriza a bacia semântica como um todo" - DURAND,
2001, p. 111-112); 5. organização dos rios / ordenamento das margens conceptuais ou
ideológicas (organização dos afluentes e das margens, "consolidação teórica dos fluxos
imaginários", às vezes com exageros da tendência por seguidores ou "segundos
fundadores"); 6. declínio / deltas e meandros ("Esta ocorre quando a corrente mitogênica -
o "inventor" dos mitos - que transportou o imaginário específico ao longo de todo o curso
do rio se desgasta, atingindo, segundo Sorokin 4, uma saturação "limite", e deixa-se
penetrar aos poucos pelos escoamentos anunciadores dos deuses por vir", DURAND,
2001, p. 114); é a "morte" de uma bacia semântica, o desagregamento, quando nova
bacia está se formando).
Em outra obra (1996), Durand afirma sobre essas seis fases da bacia semântica:
Estas seis etapas englobam as duas fases da nossa tópica mas sem
as isolar em seis sectores. Elas escalonam-se num movimento em
espiral sob as "margens" filosóficas de uma bacia semântica formam-
se já "escoamentos" de uma outra bacia e, sob "os deltas e os
meandros", determina-se a "separação das águas" do rio que está
para vir... (1996, p. 165).
Porém Durand cita outro estudioso, Georges Dumézil, que realizou um trabalho
filológico (linguístico) minucioso sobre narrativas históricas do lendário indoeuropeu (a
língua-mãe de todas as línguas), mostrando um alicerce mitológico profundo, a
heterogeneidade e mesmo contraditoriedade dos mitos. Ele escreve sobre Dumézil:
Como já afirmado, neste nosso trabalho, tomamos a mitologia dos orixás como
uma bacia semântica, da qual derivaram outras bacias semânticas "filhas".