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Avanços e desafios do planejamento no Sistema Único de Saúde

TEMAS LIVRES FREE THEMES


Advances and challenges of the Unified Health System planning

Fabíola Sulpino Vieira 1

Abstract Since the Unified Health System creation, Resumo Desde a criação do Sistema Único de Saú-
managers have been expending efforts to discuss the de (SUS), os gestores têm despendido esforços para a
planning and, made attempts to institutionalize it, discussão do planejamento, enquanto componente
considering that it’s a basic management compo- fundamental da gestão, e feito tentativas para insti-
nent. However, despite advances obtained, there are tucionalizá-lo.Entretanto, mesmo com os avanços,
aspects that are priorities and that constitute chal- há aspectos que se colocam de forma prioritária e
lenges for the institutionalization of the planning at que constituem desafios para a institucionalização
the Unified Health System. In this direction, this do planejamento no SUS. Nesse sentido, este estudo
study describes the planning evolution in the sys- procura descrever a evolução do planejamento no
tem, by legal and technician material analysis of sistema, por meio da análise de documentos legais e
published documents by Ministry of Health. From materiais técnicos publicados pelo Ministério da
the planning conception in these publications, it Saúde. A partir da concepção de planejamento pre-
leads a reflection on the used approach, considering sente nessas publicações, faz-se a reflexão sobre a abor-
the established management instruments, and its dagem empregada, considerando os instrumentos de
entailing to the more currently accepted theory and gestão estabelecidos e sua vinculação às abordagens
methodology of health planning. Aspects that need teórico-metodológicas mais aceitas atualmente para
to be observed are pointed for the effectiveness to o planejamento em saúde. Para finalizar, apontam-
ascendant planning at the Unified Health System. se aspectos que precisam ser observados para a efeti-
Key words Unified Health System, Health plan- vação do planejamento ascendente no SUS.
ning, State health plans Palavras-chave Sistema Único de Saúde, Planeja-
mento em saúde, Planos governamentais de saúde

1
Ministério da Saúde,
Secretaria Executiva.
Departamento de Economia
da Saúde e
Desenvolvimento.
Esplanada dos Ministérios
Bloco G Anexo B Sala 454
B. 70058-900 Brasília DF.
fabiolasulpino@uol.com.br
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Introdução manutenção de um grau de consistência das prio-


ridades da política de saúde em todo o sistema e os
Não poderia iniciar este trabalho sem apresentar benefícios propostos da descentralização, por meio
um argumento que justifica a importância do pla- da participação das esferas subnacionais na defini-
nejamento para os governos e as organizações. De ção das prioridades locais. O resultado disso é a
sorte que em Carlos Matus1 encontra-se um pen- fragmentação de prioridades, a desarticulação das
samento que sintetiza sua relevância e, por isso, a intervenções nas esferas de governo e ineficiência
escolha de citá-lo: “Negar o planejamento é negar na alocação dos recursos4.
a possibilidade de escolher o futuro, é aceitá-lo seja Considerando este contexto, o presente traba-
ele qual for”. lho discute o planejamento em saúde no SUS, por
Sob essa visão, o planejamento assume papel meio da apresentação de seus antecedentes e de
vital para o direcionamento de ações a fim de que se reflexão a partir do estado da arte, a fim de apon-
atinja ou alcance o resultado previamente escolhi- tar aspectos que precisam ser observados para a
do. Daí a percepção de que o planejamento não se efetivação do planejamento ascendente no SUS.
resume a um conjunto de intenções ou à tomada de
decisão em si. Para Mintzberg2, consiste em forma-
lização de procedimento para a obtenção de resul- Histórico do planejamento no SUS
tado articulado, de forma que as decisões possam
estar integradas umas às outras. Este é o conceito A criação do SUS, resultante do movimento de re-
adotado no desenvolvimento deste artigo. forma sanitária, que reivindicava que o Estado as-
Sem a realização de planejamento, as ativida- sumisse maiores compromissos com a saúde, cons-
des são executadas por inércia. Os serviços de saú- tituiu um avanço para o setor no país, na medida
de funcionam de forma desarticulada, sendo ape- do reconhecimento de que o acesso aos serviços e
nas orientados pela noção de qual seja seu papel e ações deveria se dar de forma universal e igualitá-
esta noção é produzida de acordo com a visão de ria, em uma rede hierarquizada.
mundo de cada dirigente e colaborador ou de seu Promulgada a Constituição Federal5 que pre-
entendimento sobre as diretrizes estabelecidas pela viu este direito, pode-se concluir que automatica-
política setorial do Estado. Subjetiva-se, fragmen- mente gerou-se desequilíbrio entre a oferta de ser-
ta-se e desordena-se o funcionamento do sistema viços e a demanda, pois não existiu a etapa de pre-
de saúde na medida de tantas quantas visões e, paração da administração pública para a assun-
consequentemente, modos de operação existam. ção de novas responsabilidades. A oferta estava
Se não há visão clara de onde se deseja chegar, cada limitada à rede assistencial existente até então, pre-
indivíduo conduzirá e realizará suas atividades a parada para atendimento de um público restrito e
sua maneira. Se tantos caminham para direções norteada pelo viés curativo, em que se privilegia-
diversas, os avanços de uns se neutralizam pelos vam os serviços de atenção hospitalar. Quanto à
retrocessos de outros. Dificilmente haverá ganhos demanda, de um dia para outro, ampliou-se para
de qualidade e com certeza os recursos serão utili- o conjunto de toda a população residente no terri-
zados de forma menos eficiente. tório nacional. Nesse sentido, o direito previsto
Quando analisamos o planejamento no Siste- tornava-se letra morta diante da impossibilidade
ma Único de Saúde, reconhecidos os avanços de- de garanti-lo, frente às restrições administrativas e
correntes das iniciativas para ordená-lo e integrá- orçamentárias existentes.
lo, a fim de consolidar o sistema no aspecto da Ainda por meio da Constituição Federal de
unicidade de modo de operação e integração das 19885, estabeleceram-se os instrumentos de plane-
decisões entre os gestores em suas esferas de go- jamento da gestão, aos quais deveriam se submeter
verno, ainda encontram-se obstáculos e vazios que todos os órgãos da administração pública, defla-
impedem esta unicidade e integração. grando processo de planejamento para sua obten-
O planejamento ascendente previsto na Lei ção, a fim de que pudessem ser programados os
Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080 de 19 de setembro recursos financeiros necessários à execução das ati-
de 1990)3 não se concretizou, apesar dos esforços vidades em cada setor (despesas e investimentos),
despendidos. Observa-se a desarticulação entre as em consonância com a receita arrecadada, em cada
diretrizes, objetivos e metas definidas em cada es- ente federado. Estabeleceram-se, então, o Plano Plu-
fera de governo. Muitas vezes a União, por meio rianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias
do Ministério da Saúde, define linhas estratégicas (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
que não são as mesmas defendidas por estados e O PPA deve estabelecer as diretrizes, objetivos e
municípios. Existe tensão entre a necessidade de metas da administração pública para as despesas
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de capital e outras delas decorrentes e para as rela- O trabalho propõe ainda três eixos para nortear
tivas aos programas de duração continuada. Para a elaboração dos planos de saúde: a) situação epide-
cada ano de vigência do PPA, elaboram-se as Leis miológica; b) situação organizacional da rede de aten-
de Diretrizes Orçamentárias (LDO), com o objeti- ção à saúde; c) situação político-gerencial. Além dis-
vo de estabelecer as diretrizes, objetivos e metas da so, enfatiza que o caráter ascendente do planejamen-
administração pública para as despesas de capital to mostra que a construção da Política Nacional de
para um exercício financeiro, ou seja, um ano, e a Saúde realiza-se a partir das necessidades locais. Des-
LDO de cada ano tem o papel de orientar a formu- taca a importância da aprovação de cada plano no
lação das Leis Orçamentárias Anuais (LOA) do ano Conselho de Saúde correspondente e da participa-
correspondente, englobando toda a programação ção social no processo de planejamento.
de gastos da administração pública, direta e indi- De modo mais normativo, recomenda que a
reta, e os investimentos das empresas estatais. vigência do plano deva ser a mesma dos governos
Considerando esta normativa emanada do mais em cada esfera e apresenta um roteiro para a sua
importante instrumento legal do país, os órgãos da elaboração, contendo os seguintes tópicos: a) iden-
saúde (Ministério e Secretarias Municipais ou Esta- tificação; b) análise da situação atual de saúde; c)
duais de Saúde) necessariamente deveriam realizar seleção e priorização dos problemas; d) definição
seu planejamento para a definição das despesas de dos objetivos, metas e estratégias; e) recursos fi-
custeio e de capital, na conjuntura global dos de- nanceiros e f) conclusões.
mais órgãos da administração em cada esfera de Orienta-se que o desdobramento do plano se
governo. Explicita-se aí a importância do planeja- dê por meio da programação e orçamentação em
mento e da existência de instrumentos que contem- saúde, que tem o propósito de para cada ano de
plem o conjunto de objetivos e metas estabelecidas vigência do plano detalhar os objetivos e metas,
para orientar a alocação dos recursos públicos. com a previsão dos custos para o exercício finan-
Até então o SUS tinha sido criado, mas não re- ceiro, que deverão ser utilizados na elaboração do
gulamentado. Com a publicação da Lei 8.080/19903, orçamento anual do respectivo governo. Recomen-
além dos instrumentos de gestão pública citados e dam-se os seguintes tópicos para a sua elabora-
da necessidade de realização de planejamento nos ção: a) identificação; b) introdução; c) análise da
municípios, estados, Distrito Federal e União para situação atual de saúde; d) prioridade, metas e ações
obtê-los, tornou-se clara a necessidade de que fosse propostas; d) recursos financeiros; e) conclusões.
interiorizada ao setor saúde a lógica do planeja- Com o objetivo de normalizar o processo de
mento, por meio de um sistema articulado em que descentralização político-administrativa, estabele-
as decisões e escolhas das esferas subnacionais do cendo parâmetros para sua garantia, responsabi-
SUS pudessem ser consideradas quando da for- lidades e critérios de financiamento das ações e ser-
mulação das estratégias em âmbito nacional. A lei viços, em 1993 foi publicada a Norma Operacio-
estabeleceu a lógica de ascendência do planejamen- nal Básica (NOB-SUS 1993)7. A NOB-SUS 1993
to e orçamento no SUS para a elaboração dos pla- estabelece um novo modelo de pactuação federati-
nos de saúde (do nível local até o federal), os quais va e nesse modelo consolida-se o papel dos conse-
deveriam ser utilizados para a formulação das pro- lhos de saúde, especialmente pela definição de que,
gramações de saúde que, por sua vez, deveriam es- para que um município recebesse os recursos fi-
tar contempladas nas respectivas propostas orça- nanceiros por meio de transferências, seria neces-
mentárias. Os planos de saúde deveriam ser sub- sário comprovar a existência do respectivo conse-
metidos e aprovados pelos respectivos Conselhos lho e de seu funcionamento8.
de Saúde em cada esfera de governo. A partir da necessidade de formulação de ajus-
Como forma de orientar este planejamento, o tes nos parâmetros de operação do sistema, em
Ministério da Saúde produziu em 19926, por meio 1996, a Norma Operacional Básica do Sistema
de um grupo técnico, um documento que teve por Único de Saúde (NOB-SUS 1/96)9 institui um novo
objetivo apresentar uma proposta para o proces- elemento que deve se integrar ao processo de pla-
so em nível nacional. Sugere-se então a criação do nejamento da saúde; trata-se da Programação Pac-
Sistema Nacional de Planejamento que supõe: a) a tuada e Integrada (PPI). A PPI envolve as ativida-
rearticulação e coordenação das atividades de pla- des de assistência ambulatorial e hospitalar, de vi-
nejamento abrangendo o Ministério da Saúde, os gilância sanitária e epidemiológica, constituindo o
estados, o Distrito Federal e os municípios; b) a instrumento proposto para reorganização do
superação dos entraves na orçamentação e no fi- modelo de atenção e da gestão do SUS, de alocação
nanciamento da saúde; c) a estruturação de práti- de recursos e de explicitação do pacto estabelecido
cas de avaliação, controle e acompanhamento. entre as três esferas de governo.
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Os municípios passaram a elaborá-la para de- cia e o acesso da população aos serviços e ações de
pois da aprovação pelo Conselho Municipal de saúde de acordo com suas necessidades. A partir
Saúde, submeterem-na aos respectivos estados, que do PDR, elaboram-se as PPI anuais.
por sua vez fariam a harmonização entre as PPI Com a organização da regionalização em saú-
pela incorporação de suas responsabilidades dire- de, agrega-se mais um componente ao planejamen-
tas, mediante negociações na Comissão Interges- to no SUS. Para a maioria dos municípios brasilei-
tores Bipartite (CIB). ros, os gestores precisam elaborar planos e progra-
Neste momento, estava flagrante no SUS que a mar a assistência à saúde em bases não coinciden-
descentralização municipalista precisava ser com- tes com o seu território e sua autonomia político-
patibilizada com um instrumento que permitisse administrativa e, portanto, com menor governabi-
que as populações tivessem acesso aos serviços de lidade sobre a questão. Este aspecto revela a com-
saúde, conforme a integralidade prevista enquanto plexidade de efetivação do planejamento em saúde
princípio do sistema, mesmo que seus municípios em um sistema universal do porte do SUS.
não os disponibilizassem. Daí a necessidade de pac- Para exemplificar esta complexidade no loco
tuar a sua oferta por outros entes federados, o que regional, a Figura 1 esquematiza as relações entre
foi inicialmente feito pela inclusão do instrumento municípios em uma macrorregião de saúde, quanto
PPI, para mediar esta relação com o estado. aos fluxos de referência e contra-referência para
Entretanto, embora a pactuação da oferta de organização da assistência.
serviços entre municípios e seus estados, por meio Nesse mesmo período, estabeleceu-se a Agen-
da PPI, tivesse constituído um avanço para a orga- da de Saúde como mais um instrumento de plane-
nização do sistema, ainda persistiam inúmeros jamento, por meio da Portaria GM nº 393, de 29 de
problemas para garantia do acesso a eles por parte março de 200112, sendo regulamentada pela Porta-
da população. Era urgente a discussão de um novo ria GM nº 548, de 12 de abril de 200113. Foi conce-
modelo para a regionalização da assistência à saú- bida como um instrumento fundamental para a
de, que incluísse os estados enquanto coordena- orientação estratégica da política de saúde no Bra-
dores desse processo. sil, definindo os eixos a serem considerados como
Para resolver esta questão, foi publicada a referenciais prioritários no processo de planeja-
Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS mento em saúde14.
01/2001)10, que basicamente ampliava o papel dos O processo de construção das agendas foi ide-
municípios na atenção básica à saúde e definia o alizado de forma descendente, em que os eixos pri-
processo de regionalização da assistência. Estabe- oritários de intervenção são vistos como de natu-
lece o Plano Diretor de Regionalização (PDR) como reza nacional, pactuados entre os representantes
instrumento de ordenamento do processo de regi- das três esferas de governo. Elas constituiriam o
onalização da assistência em cada estado e no Dis- início do planejamento, que resultaria na elabora-
trito Federal, baseado nos objetivos de definição ção dos planos de saúde e no orçamento anual.
de prioridades de intervenção, de acordo com as Por sua vez, os planos seriam elaborados de
necessidades de saúde da população e garantia de forma ascendente e se desdobrariam para cada ano,
acesso dos cidadãos a todos os níveis de cuidado. em cada esfera de governo, no respectivo Quadro
Os estados passam a assumir responsabilida- de Metas, no qual constariam os indicadores e a
de maior na gestão do SUS, na medida em que metas prioritárias de saúde.
passou a ser de sua competência a elaboração do Para a sistematização e divulgação das infor-
Plano Diretor de Regionalização, em consonância mações sobre os resultados obtidos e sobre a pro-
com o Plano Estadual de Saúde. Além disso, a sub- bidade dos gestores, enquanto instrumento de pres-
missão deste à aprovação da Comissão Interges- tação de contas, foi instituído o Relatório de Ges-
tores Bipartite (CIB) e do Conselho Estadual de tão, que estabelece a correlação entre as metas, os
Saúde (CES) e seu envio ao Ministério da Saúde. resultados e a aplicação dos recursos.
A NOAS 01/2001 foi aperfeiçoada em alguns
aspectos e substituída pela NOAS 01/200211. Por
essa norma operacional, o PDR constitui instru- O planejamento na atualidade
mento de organização dos territórios estaduais em
regiões/microrregiões e módulos assistenciais; de Recentemente, o Ministério da Saúde revisou todos
conformação de redes hierarquizadas de serviços; os instrumentos de gestão do SUS e criou o Sistema
de estabelecimento de mecanismos e fluxos de re- de Planejamento do SUS (PlanejaSUS), por meio
ferência e contra-referência intermunicipais, com da Portaria GM nº 3.332, de 28 de dezembro de
o objetivo de garantir a integralidade da assistên- 200615. Esta revisão das diretrizes do planejamento
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Municípios
Região de Saúde 1
Municípios-sede
Município-pólo
X

X
X

X X

X
X

X
Região de Saúde 4 Região de Saúde 2
Região de
Saúde 5

X
X X X X X X
X

X
X X X X X X
X X
X X X
X X X
X

X
X

X
X

X X
Fluxo da referência para
X
X serviços de média complexidade
X
X

Fluxo da referência para serviços


X
de média e alta complexidade
Região de Saúde 3

Figura 1. Representação do fluxo de atendimento de média e alta complexidade em uma macrorregião de saúde.

veio em um momento em que reformas institucio- (PAS); e c) Relatório Anual de Gestão (RAG). O PS
nais são implementadas, por meio do Pacto pela é o instrumento que, a partir da análise situacio-
Saúde, com redefinição das responsabilidades de nal, apresenta as intenções e resultados a serem
cada gestor em função das necessidades de saúde alcançados no período de quatro anos, sendo es-
da população e da busca da equidade social16. truturado em objetivos, diretrizes e metas. A PAS é
Os objetivos do PlanejaSUS são: a) pactuar as o instrumento que operacionaliza as intenções do
diretrizes gerais para o processo de planejamento PS e o RAG apresenta os resultados alcançados
no âmbito do SUS; b) formular metodologias uni- com a execução da PAS18.
ficadas e modelos de instrumentos básicos do pro- Recomenda-se que a elaboração do PS seja fei-
cesso de planejamento; c) implementar e difundir a ta em dois momentos: análise situacional e formu-
cultura de planejamento que integre e qualifique as lação dos objetivos, diretrizes e metas. Sugerem-se
ações do SUS entre as três esferas de governo e sub- três eixos norteadores para a elaboração do PS e
sidie a tomada de decisão por parte de seus gesto- suas vertentes, como segue: a) condições de saúde
res; d) promover a integração do processo de pla- da população (vigilância em saúde, atenção básica,
nejamento e orçamento no âmbito do SUS; e) mo- assistência ambulatorial especializada, assistência
nitorar e avaliar o processo de planejamento, das hospitalar, assistência de urgência e emergência e
ações implementadas e dos resultados alcançados17. assistência farmacêutica); b) determinantes e con-
Os instrumentos básicos do PlanejaSUS, defi- dicionantes de saúde; c) gestão em saúde (planeja-
nidos a partir desta perspectiva são: a) Plano de mento, descentralização/regionalização, financia-
Saúde (OS); b) Programação Anual de Saúde mento, participação social, gestão do trabalho em
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saúde, educação em saúde, informação em saúde e volvimento das instâncias de controle social para
infraestrutura). discussão e implementação desse processo.
Além dos três instrumentos citados, mantém- Nesse sentido, os planos de saúde, sejam naci-
se o Plano Diretor de Regionalização (PDR) e a onal ou estaduais, não são elaborados de acordo
Programação Pactuada e Integrada (PPI). Reco- com os planos de saúde municipais, os quais de-
menda-se que o PS seja elaborado obedecendo à vem refletir a necessidade local. Dessa forma, fa-
vigência do PPA em cada esfera de governo. lham enquanto instrumentos para a gestão de um
sistema com caráter único. A possibilidade de dis-
sonância entre as visões e estratégias adotadas em
Algumas reflexões cada esfera é elevada e, assim, não se alcança maior
sobre o planejamento no SUS eficiência na alocação de recursos e maior efetivi-
dade das políticas públicas para a resolução dos
A discussão do planejamento em saúde no SUS problemas de saúde da população.
parece já ter ultrapassado as questões metodológi- Outro aspecto que contribui para menor efetivi-
cas, quanto à definição de instrumentos para sua dade das políticas é a desconexão entre as programa-
realização, evidenciando-se na atualidade a necessi- ções de saúde e o orçamento em cada ente federado.
dade de definição de fluxos e mecanismos de inter- Invariavelmente, o orçamento é elaborado sem con-
ligação entre os diversos atores, tanto do ambiente siderar as ações definidas para o exercício financeiro.
interno quanto externo a cada esfera de governo. É preciso assumir que, embora a dificuldade
Quando a questão tange ao planejamento no de articulação do planejamento entre os entes fe-
ambiente intra-organizacional (Secretarias de Saú- derados exista, é imprescindível à consolidação do
de e Ministério da Saúde), geralmente o tema é SUS a articulação do planejamento entre as instân-
tratado como assunto de um setor específico, res- cias de gestão, uma vez que o sistema consiste de
ponsável pelo planejamento da instituição. Nesta uma rede única, regionalizada e hierarquizada5.
lógica, há escasso envolvimento dos profissionais Dessa forma, o desafio está posto. Mas como
de saúde, que seriam responsáveis pelo alcance dos de fato implementar o planejamento ascendente?
objetivos e metas propostos. Como estes não fa- Essa é uma pergunta que não se responde facil-
zem parte do processo de sua definição, invaria- mente. A dificuldade de sua institucionalização bem
velmente se observa o distanciamento entre o pla- o demonstra. Daí a observação de que se faz neces-
no estabelecido e os resultados alcançados. O pla- sária a construção coletiva, por meio do compro-
no constitui-se apenas de um conjunto de inten- metimento dos gestores do SUS, com a vinculação
ções que figuram em um documento, mas que não das escolhas e decisões em cada esfera de governo.
levam a resultados práticos. O planejamento aca- A seguir, são feitas algumas considerações so-
ba sendo feito para o cumprimento de exigência bre aspectos que precisam ser analisados quanto
legal, em vez de instrumento para a implementa- ao planejamento no SUS. Longe de apresentar qual-
ção da política de saúde ou como base para a alo- quer caráter prescritivo, tais ponderações visam
cação de recursos4. apenas chamar a atenção para questões que po-
No ambiente inter-organizacional, um dos dem estar associadas às dificuldades de concreti-
grandes desafios que se apresentam é o da articu- zação da ascendência do planejamento, estabeleci-
lação entre os entes federados para que o planeja- da na Lei Orgânica da Saúde3.
mento em saúde de fato torne-se efetivo. A descen-
tralização político-administrativa do sistema com
consequente autonomia de gestão dos 5.564 mu- Momentos do planejamento
nicípios, 26 estados e o Distrito Federal traz consi- e os instrumentos de gestão do SUS
go a dificuldade de integração entre eles.
Nesse contexto, reconhece-se o esforço do Mi- Considerando o conceito de planejamento de Mint-
nistério da Saúde em propor e discutir o Sistema de zberg2, que o define como “procedimento formal
Planejamento do SUS (PlanejaSUS); entretanto, até para produzir um resultado articulado, na forma
o momento, não foi pactuada normativa para re- de um sistema integrado de decisões”, tem-se que
gulamentar o funcionamento do planejamento as- com o planejamento coordenam-se as decisões na
cendente, de modo que estados e a União pudessem organização. Daí, depreende-se que há uma rela-
estabelecer seus objetivos e metas, em seu âmbito ção entre planejamento e decisões, na qual o pla-
de competência, baseados nas necessidades obser- nejamento constitui-se no mecanismo empregado
vadas e assumidas pelos municípios. Tampouco para auxiliar a tomada de decisão e para orientar a
tem-se observado movimento de articulação e en- implementação das decisões tomadas.
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A literatura sobre o processo decisório nas or- Ainda segundo ele, o planejamento está dividi-
ganizações enfatiza que as decisões são tomadas do em duas partes: o diagnóstico de saúde e as
de forma diferenciada, de acordo com os níveis propostas programático-estratégicas. O diagnós-
hierárquicos dessas organizações. No nível orga- tico em saúde faz a análise da realidade de saúde da
nizacional alto, constituído pelos dirigentes, as de- população e está subdividido em três aspectos: a)
cisões são tomadas para a definição dos objetivos administrativo – no qual se procede a enumeração
e das diretrizes organizacionais, o que é chamado e quantificação da população, doenças, mortes,
de nível estratégico de tomada de decisão. No nível recursos disponíveis e atividades realizadas em saú-
organizacional, dito intermediário, e no de super- de; b) estratégico – que consiste na análise das re-
visão, as decisões dizem respeito a questões admi- lações de poder no setor: desigualdades na situa-
nistrativas e às operações realizadas no dia a dia, ção de saúde e na atenção à saúde entre grupos
correspondendo ao nível tático-operacional de to- sociais, determinadas por diferenças de classes;
mada de decisão19. além das distribuições de poder nos serviços de
A partir do conceito de planejamento de Mint- saúde (poder técnico, administrativo e político); c)
zberg2 e da assunção de que existem níveis diferen- ideológico – em que se analisa a ideologia dos gru-
ciados de tomada de decisão nas organizações, ex- pos sociais. Após o diagnóstico, formula-se a sín-
plicita-se a existência de pelo menos dois momen- tese diagnóstica, a qual reconstrói a realidade de
tos do planejamento, enquanto procedimento for- saúde analisada. A partir da síntese diagnóstica,
mal e gerador de sistema articulado de decisões, procede-se à elaboração das propostas programá-
que são o estratégico e o tático-operacional. tico-estratégicas, com o objetivo de realizar ações
Matus, em sua proposta de planejamento es- de saúde para a mudança24.
tratégico-situacional, defende a existência de qua- Considerando o estabelecimento de dois ins-
tro momentos de planejamento: explicativo, nor- trumentos básicos de gestão, frutos de processo
mativo, estratégico e tático-operacional. O conceito de planejamento, quais sejam os planos de saúde
de momento é o de circunstância ou conjuntura de (OS) e as programações anuais de saúde (PAS),
um processo contínuo. No momento explicativo, como previstos no Sistema de Planejamento do
questionam-se as oportunidades e problemas que SUS (PlanejaSUS)25, torna-se claro que o PS é obti-
o ator que planeja enfrenta. No normativo, esque- do por meio de planejamento estratégico e o PAS,
matiza-se a realidade. No estratégico, avalia-se a por planejamento tático-operacional, em que os
viabilidade das alternativas para chegar à situação- dois documentos representam produtos dos mo-
objetivo e no tático-operacional definem-se as ações mentos (etapas) do planejamento em saúde. De
para fazer acontecer20,21. Fica claro na concepção do acordo com o sistema de planejamento proposto,
autor que o planejamento se dá de forma centrali- o PS contém diretrizes, objetivos e metas para um
zada, em que a explicação da situação-problema, a período de quatro anos, constituindo resultado de
sua esquematização, a definição de estratégias e a planejamento de médio a longo prazo, o qual foca
sua operação são realizadas pela ótica de apenas as linhas mestras de direcionamento da política de
um ator. Para ele, há uma articulação entre planeja- saúde, para as quais a organização deve enveredar
mento e governo, em que a tomada de decisão é esforços. Já o PAS detalha as ações que devem ser
responsabilidade de quem governa e só planeja quem realizadas dentro de um exercício financeiro (um
governa. Daí o desenvolvimento desta abordagem ano), com base nas diretrizes, objetivos e metas
teórico-metodológico-prática para servir aos diri- estabelecidas no PS, constituindo, portanto, ins-
gentes políticos, no governo ou na oposição22. trumento de gestão para a concentração de esfor-
Diferentemente desta abordagem, Mario Tes- ços da organização, programação de recursos e
ta, em sua proposição para o planejamento em execução de ações, possibilitando o alcance dos
saúde, enfatiza a importância da participação no propósitos definidos no PS.
processo de elaboração das propostas programá- Vê-se na proposta de formulação da PAS do
tico-estratégicas, pois possibilitaria a acumulação PlanejaSUS25 a inspiração nas idéias de Mario Tes-
de poder para os dominados e a mudança das re- ta para o planejamento em saúde. A análise situa-
lações de poder, por meio da formação de uma cional proposta é coincidente com a dele na pro-
consciência sanitária social e de classe. Propõe for- posição de realização de diagnóstico a partir dos
mas organizativas internas, democráticas, para a aspectos administrativo, estratégico e ideológico.
construção da igualdade e mudança das relações O que precisa ficar mais evidente é a correspon-
de poder, com equipe colaborativa e possibilitan- dência entre as ações da PAS e os respectivos obje-
do a participação social, com o objetivo de que a tivos do PS. A PAS existe para dar consecução às
população se torne um ator do processo23. metas definidas no PS. Se esta correspondência é
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débil ou as PAS são alteradas sem as devidas revi- Articulação entre setor de planejamento
sões dos PS, desfaz-se a articulação entre os ins- e áreas técnicas
trumentos e perde-se a lógica do processo, desvin-
culando ou distanciando os resultados obtidos do Considerando que as decisões se diferenciam de
futuro que fora escolhido outrora. acordo com o nível hierárquico da organização,
O Quadro 1 resume os aspectos considerados sendo tratadas em momentos distintos do plane-
nesta abordagem do planejamento, com a vincu- jamento, sejam estratégias de médio a longo prazo
lação entre PS e PAS. (momento estratégico), sejam ações para o curto

Quadro 1. Tópicos necessários à elaboração da Programação Anual de Saúde (PAS).


PLANO DE SAÚDE PROGRAMAÇÃO ANUAL DE SAÚDE - PAS

Objetivos Metas Objetivos PAS Metas PAS Ações Prazo Resp. Orçam. Indicadores

1 - Condições de saúde da população


1.1 Assistência ambulatorial especializada

1.2 Assistência farmacêutica

1.3 Assistência hospitalar

1.4 Assistência de urgência e emergência

1.5 Atenção básica

2. Determinantes e condicionantes de
saúde

3. Gestão em saúde
3.1 Descentralização/regionalização

3.2 Educação em saúde

3.3 Financiamento

3.4 Gestão do trabalho em saúde

3.5 Informação em saúde

3.6 Infraestrutura

3.7 Participação social

3.8 Planejamento
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prazo (momento tático-operacional) a fim de ga- Assim, as Secretarias de Saúde mais comple-
rantir o alcance dos objetivos definidos no mo- xas, que possuem para uma mesma área de atua-
mento estratégico, a participação dos colaborado- ção vários níveis hierárquicos, poderiam contar
res das Secretarias de Saúde necessita estar em con- com apenas o representante superior da área para
sonância com as atividades por eles desenvolvidas. compor o grupo técnico (GT), com o propósito
Além disso, considerando que a Lei Orgânica de elaborar o plano de saúde. Isso se justifica pelo
da Saúde definiu as áreas de atuação do SUS, é fato de que o plano de saúde é documento que
com base nessas áreas que o processo de planeja- define as diretrizes, objetivos e metas da organiza-
mento precisa se orientar. Nesse sentido, é neces- ção no nível estratégico e também pelo fato de que
sário considerar que a elaboração de qualquer ins- não se deve ter grupos de trabalho com um núme-
trumento de gestão, seja o plano de saúde ou a ro excessivo de participantes, a fim de evitar difi-
programação anual de saúde, precisa envolver os culdades de condução do planejamento.
coordenadores dessas áreas no âmbito da organi- Para a elaboração da PAS, como esta envolve a
zação, constituindo um grupo de trabalho perma- definição de objetivos, metas, ações, etc. no nível
nente de planejamento (GT), o qual ficará respon- tático-operacional, é pertinente que o representante
sável pela elaboração, monitoramento e avaliação superior de cada área de atuação deflagre planeja-
dos instrumentos de gestão. mento interno, considerando as diretrizes, objeti-
A elaboração dos instrumentos referidos, sem vos e metas estabelecidas no plano de saúde. As
a participação das áreas técnicas, resulta na obten- definições internas seriam levadas por ele ao GT
ção de documentos que não contarão com a ade- permanente de planejamento para elaboração do
são do pessoal necessário ao seu processo de im- documento final (PAS).
plementação. As teorias de organização têm de- Para as Secretarias de Saúde menos complexas
monstrado que esta participação é vital para o su- em termos de estrutura organizacional, poderia
cesso da implementação e, assim, pode-se concluir existir apenas um GT, sem a necessidade de reali-
que este processo é participativo e que são inefica- zação do planejamento tático-operacional em duas
zes as iniciativas que delegam ao setor de planeja- etapas. A Figura 2 ilustra a articulação entre os
mento a sua elaboração, sem o envolvimento des- momentos do planejamento e a representação das
se pessoal. Os “planejadores”, profissionais do se- áreas de atuação do SUS.
tor de planejamento, precisam atuar como facili-
tadores do processo. Este é o seu papel e de grande
relevância para o sucesso da iniciativa24,26. Articulação entre o planejamento no SUS
Também é preciso salientar que esta participa- e o orçamento público
ção deve ser diferenciada, devendo estar em con-
sonância com o instrumento que está sendo de- Um dos grandes problemas de governança no SUS
senvolvido (plano de saúde, programação anual reside na desarticulação entre os instrumentos de
de saúde ou relatório de gestão) e a complexidade gestão do sistema e os instrumentos de planeja-
da organização que o está elaborando. mento e orçamento público. Como geralmente são

Momento estratégico Plano de Saúde - PS Elaboração pelo GT Representação superior


permanente de das áreas de atuação do
planejamento SUS na organização

Momento tático- Programação Anual de Etapa 1 - Etapa 1 - Participação da


operacional Saúde - PAS Planejamento interno equipe técnica da área
da área de atuação de atuação

Etapa 2 - Validação Etapa 2 - Representação


pelo GT permanente superior das áreas de
Níveis hierárquicos de planejamento tuação do SUS na
da organização organização

Figura 2. Momentos do planejamento, instrumentos de gestão e participação das áreas de atuação do SUS.
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Vieira FS

elaborados de forma independente, ocorrem defi- A Figura 3 mostra a relação entre os instru-
ciências no financiamento das ações planejadas4. mentos de gestão do SUS e os de planejamento e
Em virtude disso, considerando que os instru- orçamento da gestão pública.
mentos de planejamento e orçamento, tais como o A etapa 1 da Figura 3 corresponde ao momento
Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orça- em que as diretrizes do governo são formuladas
mentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual para orientar as atividades dos órgãos da adminis-
(LOA) existem como leis de iniciativa do Poder tração pública, neste caso, o Ministério da Saúde na
Executivo e já tiveram seus prazos de elaboração elaboração do Plano Nacional de Saúde e o Minis-
definidos no âmbito federal, no Ato das Disposi- tério do Planejamento, Orçamento e Gestão na for-
ções Constitucionais Transitórias (Constituição mulação do Plano Plurianual (etapa 4). Conside-
Federal)27, faz-se necessário regulamentar prazos rando essas orientações, o Ministério da Saúde ela-
para elaboração dos instrumentos de gestão do bora o Plano Nacional de Saúde (etapa 2). Por sua
SUS que possibilitem a vinculação entre todos eles. vez, este plano deve subsidiar a formulação do PPA,

GOVERNO FEDERAL 1 X MINISTÉRIO DA SAÚDE

4 2
X

X
Plano Plurianual - PPA Plano Nacional de Saúde - PNS
4 anos 4 anos
X 3
2º ano 3º ano 4º ano 1º ano do 2º ano 3º ano 4º ano 1º ano do
próximo próximo
governo governo

5
X

LDO LDO LDO LDO


2º ano 3º ano 4º ano 1º ano do 7
próximo
governo

6
X

X
X

X
X

LOA LOA LOA LOA PAS PAS PAS PAS


2º ano 3º ano 4º ano 1º ano do 2º ano 3º ano 4º ano 1º ano do
próximo próximo
governo governo
X

X
X

Legenda: a) LDO = Lei de Diretrizes Orçamentárias; b) LOA = Lei Orçamentária Anual; c) PAS = Programação Anual de Saúde

Figura 3. Interligação necessária entre os instrumentos de planejamento e orçamento da gestão pública e


instrumentos de gestão do SUS no âmbito da União.
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o qual deve estabelecer as diretrizes, objetivos e metas deve se dar a partir da observação das necessidades
da administração pública federal para as despesas locais. Encontra-se aí o postulado de integração entre
de capital e outras delas decorrentes e, para as rela- os planos de saúde elaborados por municípios e
tivas aos programas de duração continuada (etapa estados para subsidiar a elaboração do instrumen-
3). Para cada ano de vigência do PPA elaboram-se to na etapa nacional. Estados e a União precisam
as Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO), com o considerar os objetivos e metas definidos pelos
objetivo de estabelecer as diretrizes, objetivos e me- municípios para, a partir desta leitura local, fomen-
tas da administração pública federal para as despe- tar as iniciativas, além de definir outras, de acordo
sas de capital para um exercício financeiro, ou seja, com a sua visão sobre a realidade.
um ano (etapa 5), e a LDO de cada ano tem o papel O Plano Diretor de Regionalização (PDR) inse-
de orientar a formulação das Leis Orçamentárias re-se nessa lógica como substrato para a elabora-
Anuais (LOA) do ano correspondente, englobando ção dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde.
toda a programação de gastos da administração Por sua vez, estes precisam orientar a elaboração
pública, direta e indireta e os investimentos das da Programação Pactuada Integrada (PPI), assim
empresas estatais (etapa 6)5. como o PDR também o faz. Por fim, todos estes
Voltando à perspectiva do setor saúde, o PNS instrumentos são utilizados para a formulação da
se desdobra em Programações Anuais de Saúde Programação Anual de Saúde (PAS), a qual está
(PAS) para cada ano de sua vigência, com o pro- intimamente associada aos planos de saúde.
pósito de que sejam detalhados, para cada exercí- Assim, considerando que todos estes instru-
cio financeiro, os objetivos, metas, ações e, especi- mentos de gestão do SUS ainda precisam se inte-
almente, recursos necessários para realização das grar aos instrumentos de planejamento e orçamen-
ações (etapa 7). Nesse sentido, as PAS devem ori- to da gestão pública e que estes últimos têm prazos
entar a formulação das LOA, para que haja vincu- estabelecidos para elaboração pela Constituição
lação entre ações e recursos necessários progra- Federal, o estabelecimento de fluxos e prazos para
mados e o orçamento aprovado, portanto, garan- a formulação dos primeiros precisa ser regulamen-
tido, para sua execução (etapa 8). tado para promoção desta integração.
O funcionamento adequado desse fluxo é con-
dição imprescindível à garantia de financiamento
adequado, para a realização das ações de saúde em Considerações finais
tempo oportuno.
Nota-se que, desde a criação do SUS, houve preo-
cupação com a discussão do planejamento e tenta-
Em busca do planejamento ascendente tivas de institucionalizá-lo como componente fun-
damental de gestão. A definição de instrumentos
A implementação do planejamento ascendente tal- tais como os Planos de Saúde e as Programações
vez seja um dos maiores desafios da gestão do SUS, Anuais de Saúde, obtidos por meio de planejamen-
para sua consolidação como sistema único. Está- to e inspirados em abordagem teórico-metodoló-
se tratando da articulação entre diferentes leituras gica do planejamento em saúde, revela o cuidado
sobre uma situação-problema, as quais geram di- que se deu a esta questão.
ferentes propostas de intervenção, em um ambi- Entretanto, mesmo com os avanços, há aspec-
ente de autonomia político-administrativa. Daí a tos que se colocam de forma prioritária e que cons-
importância das instâncias de negociação e da cons- tituem desafios para a efetivação do planejamento
trução coletiva, para a definição de fluxos e instru- em saúde, enquanto elemento da gestão no SUS. A
mentos, além da pactuação. superação dos obstáculos à institucionalização do
A Figura 4 apresenta em linhas gerais o fluxo e a planejamento ascendente é um deles e constitui
articulação necessária entre os principais instrumen- tema primordial para a consonância entre as ações
tos de gestão do SUS. Conforme determina a Lei nº de saúde nas três esferas de governo e para obten-
8.080/1990, a elaboração do Plano Nacional de Saúde ção de maior eficiência na alocação de recursos.
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Plano Nacional de Saúde - PNS (4 anos)

X
Conselho Nacional
de Saúde

Ministério da Saúde
Proposta de Plano Nacional de Saúde (4 anos)

X
Programação Anual de Saúde - PAS
X X
GT Planejamento (áreas de atuação do SUS)
2º ano 3º ano 4º ano 1º ano

X
Sistematização dos objetivos e metas dos PES
X

Plano Estadual de Saúde - PES (4 anos)


Programação Anual de Saúde - PAS

Secretarias Estaduais de Saúde


X

Conselho Estadual 2º ano 3º ano 4º ano 1º ano


de Saúde

X
X
X
X
Proposta de Plano Estadual de Saúde (4 anos)
X

X
Plano Diretor de Regionalização - PDR (4 anos)

X
2º ano 3º ano 4º ano 1º ano
GT Planejamento (áreas de atuação do SUS) X

Programação Pactuada e Integrada - PPI


X

Sistematização dos objetivos e metas dos PMS


X

Plano Municipal de Saúde - PMS (4 anos)


Secretaria Municipaisde Saúde
X

Conselho Municipal
Programação Anual de Saúde - PAS
de Saúde
2º ano 3º ano 4º ano 1º ano
Proposta de Plano Municipal de Saúde (4 anos)
X
X
X
X
X

X 2º ano 3º ano 4º ano 1º ano


X
GT Planejamento (áreas de atuação do SUS)
X Programação Pactuada e Integrada - PPI

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PLANEJAMENTO TÁTICO-


OPERACIONAL

Figura 4. Planejamento ascendente e a relação entre os instrumentos de gestão do SUS.


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