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SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO: A ARTE CONTEMPORÂNEA ............................................. 3


2. ARTE E VIDA................................................................................................. 5
3. ARTE MODERNA: UTOPIA E RENOVAÇÃO ............................................... 7
4. OS “ISMOS” E A MUDANÇA DO MUNDO ................................................. 10
5. OS AGITADORES MODERNISTAS ............................................................ 14
6. O ESCANDALO DO HOMEM AMARELO ................................................... 17
7. READY-MADE: O ARTEFATO TIRADO DO SEU CONTEXTO ................ 20
8. DADA: READY-MADE E ANTIARTE .......................................................... 22
9. READY-MADES: UMA PROPOSTA CONCEITUAL ................................... 26
10. CONCRETISMO, NEOCONCRETISMO E ARTE CONCEITUAL ............. 29
11. A FRONTEIRA ENTRE ARTE MODERNA E ARTE CONTEMPORÂNEA 32
12. ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA COMBINAÇÃO DE DEZENAS DE
ESTILOS .......................................................................................................... 35
13. A POP ART DE ANDY WARROL AO NEW-DADA .................................. 37
14. PÓS-MODERNISMO: O QUE VEM A SER? ............................................. 41
15. PÓS-MODERNISMO E EXPERIMENTAÇÃO: DO UNDERGROUND A
ARTE CONCEITUAL ....................................................................................... 44
16. A ARTE CONCEITUAL.............................................................................. 47
17. NOVOS MEIOS E NOVAS LINGUAGENS: MEDIAN ART OU ARTE MÍDIA
......................................................................................................................... 49
18. TEATRO, PERFORMANCE E HAPPENING ............................................. 53
19. ARTE ABJETA OU BRUT ART E INSTALAÇÕES ................................... 56
CONCLUSÃO .................................................................................................. 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 62

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1. INTRODUÇÃO: A ARTE CONTEMPORÂNEA

A arte contemporânea é um conjunto de manifestações estéticas e


artísticas fruto de uma geração pós Segunda Guerra Mundial, que surgiu a partir
da década de 1950. Não tem uma data precisa que possa determinar sua
existência. Não houve manifestos datados que explicassem sua iniciação, mas
é comum considera-la como um fenômeno da segunda metade do século XX, e
que se estende até o século XXI e nele tem continuidade. O fato é que Arte
Contemporânea é nosso tempo. A arte do hoje; do aqui e agora. Do tempo
presente e de homens e mulheres presentes, que muitas vezes misturam arte e
vida em suas construções ou mais precisamente, desconstruções artísticas.

Ela é resultado de uma mudança dos paradigmas modernistas, como o


humanismo, e a crença no progresso tecnológico advindos das conquistas do
Iluminismo. O Modernismo tem valores intrínsecos, universais e autossuficientes
de arte e de política; acredita num discurso universal e na experimentação
reveladora de uma arte singular, com valores simbólicos relativamente fixos;
aposta no futuro, na história, na recuperação antropológica do passado como
caminho de aprendizados que possam ajudar na reconstrução utópica de um
mundo melhor.

A arte Contemporânea, ao contrário de tudo isso, vem com o chamado pós-


modernismo e a crença no fim da história, a valorização do presente absoluto, a
desconstrução dos signos e símbolos civilizatórios tornando-os ambíguos,
arbitrários e mutáveis. Acredita no fim das utopias e do discurso universal; busca
um homem de geometria variável, mutante, integrado a uma concepção de
heterogeneidade social e uma perspectiva multicultural de criação estética.

A Arte Contemporânea se adapta aos novos conceitos que surgem com o


chamado pós-modernismo, que para muitos críticos nunca existiu. No entanto
vem do “pós-modernismo” a visão de que as esferas da cultura estão
interconectadas e que o conhecimento é construído e determinado pelas
relações de poder. O fato é que essa arte foi produzida a partir de meados do
século XX e ainda se mantém no presente, em nosso século XXI.

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A Arte Contemporânea trabalha numa perspectiva muito nova; acredita na
globalização do planeta, por isso mesmo é uma arte culturalmente diversificada
e avançada tecnologicamente. Não é fácil defini-la, senão pelo fato de trabalhar
com uma combinação de materiais, conceitos e métodos que desafiam as
fronteiras tradicionais num ecletismo diversificado e sem princípios. Muitas vezes
fora de qualquer ideologia e sem pactuar com os chamados “ismos” modernistas
que de certa forma uniformizavam a arte em uma organização própria a seus
movimentos.

A arte contemporânea nesse sentido é antimodernista, por isso mesmo


chamada de pós-moderna. Isto é: ocorre como fato estético que tenta se opor ao
modernismo ou vem depois do modernismo, e por isso busca ter características
muito próprias e diferentes do que se compreendia por arte até então. Mas esta
já é uma de suas contradições, pois como veremos adiante, apesar de ser uma
arte interdisciplinar e intertextual por excelência, que dialoga culturalmente com
estruturas de contextos amplos e dinâmicos, como identidade cultural e pessoal,
familiar e comunitária, ao mesmo tempo em que de diferentes nacionalidades,
nada dela surgiria sem o modernismo principalmente das chamadas Vanguardas
Heroicas da primeira geração. Mas todas estas complexas questões serão vistas
ao longo de nosso estudo.

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2. ARTE E VIDA

Alguns críticos querem ver nas manifestações da arte contemporânea algo


que faça parte da própria vida, ou seja, é produzida dentro do cotidiano muitas
vezes simplório do senso comum. Como arte ela resgata para si elementos
desse cotidiano, e mesmo quando se torna variável está tão comprometida com
a vida e com o cotidiano, que pode considerar como obra de arte, por exemplo,
uma manifestação de rua, ou, ainda, uma escova de dente. Mas estas são
definições genéricas que melhor se compreendem dentro de suas efetivas e
diferentes manifestações.

O que não se pode esquecer é o fato de a arte contemporânea ser uma arte
ou um conjunto estético de manifestações em eterno movimento, ancorados no
presente, e que por não considerar que tem obrigações com escolas ou
correntes a que ser fiel, deixa seus artistas livres tanto para realizar suas
pinturas, por exemplo, assumindo princípios renascentistas quanto para
considerar obra de arte uma roda de bicicleta. Um artista contemporâneo tanto
pode trabalhar com um empilhamento de materiais plásticos recicláveis, quanto
criar bonecos de cera gigantes, rigorosamente anatômicos e realistas de tal
forma que pareçam verdadeiros e não uma reprodução.

A grande característica da arte contemporânea está precisamente nessa


imprecisão de ações e de estilos, ou numa espécie de tolerância a todos os
estilos que surgem no fim da Segunda Guerra Mundial, e que avançam pela
década de 1960 até nossos dias. O fato é que a arte realizada nos últimos 20
anos, que vem da passagem do século XX para o XXI, muitas vezes inclui
características que remontam aos anos de 1970, ou, até mesmo, ao início dos
anos de 1920 do século anterior ao nosso. Podem ser vistas tanto como uma
rejeição, quanto, ao mesmo tempo, como uma consequência da Arte Moderna.
Isto é, tanto como uma aceitação quanto como uma negação da arte, numa
construção radical e muito específica de Antiarte.

Essa arte, por suas próprias características, constitui um problema para os


museus, na medida em que fica difícil formar uma coleção permanente de arte
contemporânea sem que ela possa inevitavelmente num próximo instante ser

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considerada uma velharia, que precisa imediatamente ser substituída. Isso
ocorre por que muitas vezes ela trabalha com temáticas do “aqui” e “agora”.
Para sanar esse problema, muitos Museus trabalham com o conceito de "Arte
Moderna e Contemporânea", mostrando com isso seu entrelaçamento. Críticos
e galerias muitas vezes relutam em dividir esses trabalhos entre o
contemporâneo e o não contemporâneo. E críticos quando se referem à arte
contemporânea especificamente, muitas vezes preferem considerá-la a partir do
século XXI, com marco inicial no ano 2000.

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3. ARTE MODERNA: UTOPIA E RENOVAÇÃO

"Eu não pinto uma mulher, eu pinto um quadro (...). Não vejo a natureza como
ela é, ela é como eu a vejo." - Pablo Picasso- 1909 (FONSECA, 2001: 76).

Não se pode falar de Arte Contemporânea sem compreendermos o que foi


a Arte Moderna, que surge com a passagem do século XIX para o século XX, e
se estendeu por cinco décadas de movimentação ética e estética intensa ao
longo do novo século até a década de 1950. Segundo Benedito Nunes, o
Manifesto Pau Brasil, de Oswald de Andrade, de 1924, nos dá uma ideia do
pensamento da época (NUNES, 2016: 43):

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre


nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-
Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo.
Bárbaro e nosso.

Das contradições de uma humanidade patriarcal, dominada por tabus,


assombros e religiosidade excessiva e ainda entorpecida do século XIX, surgiam
os barulhentos impulsos que transformariam completamente a vida social,
política e cultural do século XX. Um século marcado por um momento único de
grandes descobertas e revoluções e pelo diálogo entre arte, ciência, política e
tecnologia, que possibilitariam a conexão imediata entre as várias manifestações
artísticas. A saber: artes plásticas, fotografia, arquitetura, cinema, música e
literatura.

Trata-se do chamado Momento Futurista das Vanguardas Heroicas e dos


“ismos” na arte e na política. Um século que impulsionado pela evolução da
Revolução Industrial (que teve início no século XVIII), vê surgir a Luz Elétrica,
evolução das Máquinas a Vapor, a fotografia, o cinema, o avião, o automóvel e
consequentemente um aumento da Velocidade e do dinamismo do Mundo
Urbano. Era de confortos desconhecidos de outros séculos, e onde tudo
competia para uma mudança de mentalidades e de atitudes que gerariam um
novo homem.

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Sob a influência de três grandes gênios da passagem do Século. A saber:
Freud, Nietzsche e Marx, todos os valores e crenças do antigo século foram
postos abaixo, impulsionando com essa derrocada uma nova ordem mundial e
favorecendo com ela o surgimento de uma nova arte, nova política e nova
maneira de ser e de estar no mundo. Vale notar que essas três personalidades
com suas ideias incendiárias atravessariam todo o século XX e chegariam ao
século XXI, influenciando arte e vida; e sendo pilares de sustentação tanto da
arte Moderna como da Arte Contemporânea:

Sigmund Freud - o pai da psicanálise - a partir da obra "A Interpretação dos


Sonhos” , de 1900, desvendava a natureza humana e o funcionamento de nossa
mente. Descobriu a existência do que chamou de inconsciente e suas
descobertas levaram às suas teorias dos mecanismos de defesa e repressão
psicológica. Escandalizando os puritanos, Freud descobria o poder da
sexualidade humana em todas as instancias da vida e como ela se dava em
função da civilização. Afirmou que o desejo sexual era a energia motivacional
primária da vida e trouxe à luz uma nova compreensão do ser humano e da
sexualidade, descobrindo que a contradição entre impulsos sexuais reprimidos
e a vida em sociedade gera no ser humano todas as suas neuroses; seus
tormentos psíquicos, sua inadequação e doenças de fundo psicossomático. .

Friedrich Nietzsche, com sua filosofia iconoclasta punha do avesso todos


os valores éticos sedimentados pelo cristianismo, fazia uma crítica à dicotomia
apolínea/dionisíaca e com sua obra "Assim falou Zaratustra" de 1883, anunciava
a "morte de Deus", e o surgimento de seu super-homem: seu Übermensch
(Além-Homem, ou Novo Homem). A filosofia de Nietzsche trouxe uma ideia de
"afirmação da vida”, em oposição a qualquer doutrina que drene uma expansão
de energias. Sua influência atravessaria não só o modernismo, mas
permaneceria com força substancial em toda a tradição filosófica continental
compreendendo existencialismo, pós-modernismo e pós-estruturalismo. Por isso
mesmo, se tornaria um dos motores a impulsionar não apenas o Modernismo,
mas a própria Arte Contemporânea.

Karl Marx - filósofo, sociólogo e revolucionário socialista, cuja obra “O


Capital" de 1867 a 1894 mudaria todos os rumos da política mundial, na medida

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em que contestava o Capitalismo estabelecendo uma base precisa sobre a
exploração do trabalhador dentro da economia capitalista de funcionamento pela
força de trabalho em relação ao capital. Marx influenciou todo o pensamento
econômico posterior a ele. Apesar de escrever vários livros durante sua vida, o
“Manifesto Comunista" de 1848 seria seu outro livro mais influente. Suas teorias
econômicas resultariam na Revolução Russa de 1917 e influenciariam todos os
movimentos políticos e estéticos do século XX, mesmo aqueles que deveriam se
opor a ele.

Marx, Nietzsche e Freud representam toda uma era: A mudança de


mentalidade ao lado das influências recebidas pelo desenvolvimento tecnológico
resultaria num século de homens com atitudes firmes, e numa arte conjugada
com a política e propensa ao experimentalismo e a revolução.

Sob o signo da utopia e da velocidade o novo artista busca uma forma de


expressar a vida moderna. Surge então o Fauvismo, o Futurismo, o Cubismo
entre outros. Os novos artistas proclamam ainda que o novo objetivo da arte é
a expressão interior da emoção e da sensibilidade e não mais da mera
representação do visível, e destaca-se através do Simbolismo, do
Expressionismo, do Suprematismo, Dadaísmo, Surrealismo entre outros.

O modo de vida das pessoas e a nova concepção de forma na arte passam


a ser a grande preocupação de designers, ilustradores e arquitetos. Todos eles
ocupando funções que são fruto desse admirável século XX, destacando-se em
movimentos como Arts & Crafts; Art Nouveau, Construtivismo, Bauhaus, De
Stihl; Arte Decô entre outros. E o que queriam esses estranhos artistas
iconoclastas desse impetuoso momento histórico da humanidade? Mudar o
mundo!

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4. OS “ISMOS” E A MUDANÇA DO MUNDO

E o mundo de fato se transformaria a partir de todos esses ismos, quer seja


na política, com anarquismos, socialismo, marxismos, comunismos, nazismos,
fascismos etc.; quer seja na arte com cubismos, futurismos, dadaísmos,
surrealismos etc. O século XX assistiria uma mudança de estilo que apontaria
para uma tendência contemporânea de arte, onde, entre outras coisas, as
questões humanitárias sensíveis como a desigualdade racial, os problemas
sociais de misérias e diferenças de classe seriam abordadas sob a forma de
peças de vanguarda.

O grande estouro da Arte Moderna começa na Europa, com o Futurismo


sensacionalista do italiano Pólipo Marinetti, que em 1909 lançava o primeiro
"Manifesto Futurista" de um conjunto de 30 artigos escandalosos publicados no
Jornal Francês "Le Figaro". O artista, com suas declarações panfletárias e
contundentes, afirmava que "desejamos demolir os museus e as bibliotecas", e
ainda que "um automóvel de corridas é mais belo que a Vitória de Samotrácia"
(Escultura dedicada a Deusa Grega Nice), mostrando à humanidade que a arte
deveria estar em completa sintonia com a "era das máquinas, da velocidade e
das grandes massas agitadas pelo trabalho, pelo prazer e pela rebelião"
(FONSECA, 2001: 76) (Fig. 01).

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Fig. 01. Pintura Futurista de Giacomo Balla: Velocidade Abstrata e Ruído de
2012/2013. Fonte da imagem: https://www.guggenheim.org/artwork/300 (acesso:
16/05/2018).

Paris era o Centro Mundial de todas essas agitações. Já em 1907, o pintor


espanhol Pablo Picasso, com sua tela "Les demoiselles d'Avignon" lançava o
movimento cubista: uma pintura tridimensional, que numa sobreposição de
formas geométricas surpreendia a todos ao negar a perspectiva clássica,
propondo uma multiplicidade de perspectivas. Era o choque do novo que logo se
espalharia por todo o Ocidente. Assim como Picasso, que vai negar o
classicismo e a cultura Greco-Romana, tão fundamentais para a estética do
passado, ao incorporar a cultura negra em suas pinturas, todos os modernistas
buscavam dentro de sua própria criatividade e identidade pessoal seus caminhos
estéticos, ao invés de adotar os estilos já conhecidos e popularizados em outras
décadas.

Durante a primeira Guerra Mundial o Modernismo seria introduzido na


América trazido para a cidade de Nova York pelo grande artista Dadá Francis
Piabai; que ampliava o conceito de artes visuais com suas colagens, e ao incluir

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trabalhos com fotografia, cinema e charges em suas obras: Entre 1916 e 1924
inclusive, seus cartuns e colagens seriam incorporados nos projetos dadaístas.
O Modernismo também chegaria nessa época a toda a América Latina, gerando
na Argentina nomes fundamentais ao século XX, como os escritores Jorge Luís
Borges, Adolfo Bioy Cassares, e Julio Cortazar, e no Brasil através das atuações
também aglutinadoras de dois grandes escritores: Mário de Andrade e Oswald
de Andrade.

O modernismo brasileiro tem seu marco na Semana de 1922. Esse primeiro


modernismo, que vai de 1920 a 1930 – ao lado das obvias influências de todos
os "ismos” europeus tinha uma singularidade: buscar uma nova identidade
nacional para um país que deixava de ser luso-brasileiro para ser brasileiro. O
modernismo de primeira geração foi marcado pela passagem tumultuada do
Brasil Império para a República e a necessidade de descobrir o próprio país e
fundar a partir dessas descobertas novos valores numa nova nação, que se
descobria mestiça, pois entendia a mistura das raças como uma preciosa
característica nacional. Daí a necessidade de valorizar as manifestações
populares e a incorporação nas práticas artísticas tipicamente urbanas das
raízes indígenas, negras, sertanejas e interioranas de um Brasil profundo.

A redescoberta de um novo Brasil já se anunciava no final do século XIX


entre os chamados pré-modernistas. Nomes como o dos escritores Euclides da
Cunha, com seu livro "Os Sertões”, que versava sobre a Guerra de Canudos;
Juó Bananére, com o sucesso estrondoso de seus artigos macarrônicos –
mistura de Italiano e Português, muitas vezes com uma puxada caipira –,
lançados no avançado Jornal 'O Pirralho" fundado por Oswald de Andrade, e
Monteiro Lobato, escritor e crítico influente que propunha uma reforma
ortográfica como uma forma de impor um idioma tipicamente brasileiro entre nós,
seria essencial aos avanços do novo Século, pois apontavam novos caminhos.

A busca de Identidade Nacional viria a ser uma necessidade definitiva entre


intelectuais, artistas, políticos e toda a “intelligentsia” (pessoas envolvidas em
trabalhos intelectuais) das primeiras décadas do século XX. Encontra-se em
“Macunaíma” obra máxima de Mário de Andrade, na poesia de Raul Bopp, com
seu “Cobra Norato” e na pintura de Tarsila do Amaral, Di Cavalcante, Portinari,

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Lasar Segall entre outros. Este último presente nos manifestos escritos por
Oswald de Andrade, a saber: "Manifesto Pau-Brasil", de 1924 e o "Manifesto
antropófago”, de 1928, as duas formulações mais consistentes de todo o
Modernismo (FONSECA, 2001).

Todas essas grandes obras do modernismo brasileiro acabaram por refletir


uma luz muito própria, pois se demonstravam uma grande influência do cubismo,
do surrealismo ou mesmo do dadaísmo, tinham esse aspecto único de buscar
uma essência própria. Nelas também se veem refletidos os "ismos" europeus
das vanguardas políticas internacionais. A ideologia fascista e suas formas de
ver o nacionalismo influenciam Plínio Salgado e o grupo Verde-Amarelo ou Anta;
o anarquismo pontuou os trabalhos de nossos chargistas como Voltolino ou
escritores como Juó Bananére e Alcântara Machado, e o comunismo foi a grande
influência política de boa parte de nossos artistas de vanguarda.

No Brasil, inclusive, ser artista de vanguarda, em muitos casos, era quase


sinônimo de ser de esquerda, quer seja anarquista ou comunista, ideologias
imperantes entre artistas e intelectuais do mundo todo até os anos 1960. Ainda
que muitos artistas mundo afora tenham abraçado outros “ismos” políticos, como
os Futuristas italianos, claramente fascistas a ponto de ir para a Guerra, ao lado
do grande poeta norte americano Ezra Pound, que por se colocar contra os juros
capitalistas integrou-se às trincheiras italianas de Mussolini. Mas esses eram
exceções entre os grandes intelectuais, que em sua maioria eram marxistas.

A vanguarda das artes e da política do período tinha todas essas


componentes utópicas de querer mudar o mundo mesmo arriscando a própria
vida. Tudo isso fazia parte desse período fulgurante da humanidade, que duraria
até a abertura dos porões do Holocausto, no fim da Segunda Grande Guerra,
que jogaria a Europa numa situação aterradora de descrença absoluta.

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5. OS AGITADORES MODERNISTAS

A arte moderna representa um conjunto de idéias em evolução entre vários


pintores, escultores, escritores e artistas que – tanto individualmente quanto
coletivamente – buscaram novas abordagens para a criação artística. Embora a
arte moderna tenha começado, retrospectivamente, por volta de 1850 com
emergência do impressionismo e do realismo, abordagens e estilos de arte foram
definidos e redefinidos ao longo do século XX. Os praticantes de cada novo estilo
estavam determinados a desenvolver uma linguagem visual original e
representativa dos tempos.

A arte moderna é a resposta do mundo criativo às práticas e a perspectiva


racionalista da nova era que inicia após a revolução industrial, e das ideias
fornecidas pelos avanços tecnológicos da era industrial que levaram a sociedade
contemporânea a se manifestar de novas maneiras em comparação com o
passado. Os artistas trabalharam para representar sua experiência da novidade
da vida moderna de formas apropriadamente inovadoras. Embora a arte
moderna como um termo se aplique a um vasto número de gêneros artísticos
que abrangem mais de um século, esteticamente falando, a arte moderna é
caracterizada pela intenção do artista de retratar um sujeito tal como ele existe
no mundo, de acordo com sua perspectiva única. É tipificada por uma rejeição
de estilos e valores já aceitos ou tradicionais.

A era moderna chegou com o início da revolução industrial na Europa


Ocidental em meados do século XIX, um dos pontos de transformação mais
cruciais na história do mundo. Com a invenção e a ampla disponibilidade de
tecnologias como o motor de combustão interna, grandes fábricas movidas a
máquinas e geração de energia elétrica em áreas urbanas, o ritmo e a qualidade
da vida cotidiana mudaram drasticamente. Muitas pessoas migraram das
fazendas rurais para os centros das cidades para encontrar trabalho, mudando
o centro da vida, da família e da aldeia para as metrópoles urbanas em
expansão. Com esses desenvolvimentos, os pintores, escultores, arquitetos
foram atraídos para essas novas paisagens visuais, agora movimentadas com
toda a variedade de espetáculos e modas modernas (Fig. 02).

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Fig. 02. Pintura de Pit Mondrian (Amersfoort, 7/03/1872 - Nova Iorque, 1 de fevereiro de
1944), um dos mais importantes artistas do modernismo, criador do movimento do
Neoplasticismo. Fonte da imagem: http://cultura.culturamix.com/arte/obras-de-piet-
mondrian (acesso: 15/05/2018).

Um grande desenvolvimento tecnológico intimamente relacionado às artes


visuais foi a fotografia. A tecnologia fotográfica avançou rapidamente e, em
poucas décadas, uma fotografia podia reproduzir qualquer cena com perfeita
precisão. Como a tecnologia desenvolvida, a fotografia tornou-se cada vez mais
acessível ao público em geral. A fotografia conceitualmente representava uma
séria ameaça aos modos artísticos clássicos de representar um assunto pelo
retrato, já que nem a escultura nem a pintura poderiam capturar o mesmo grau
de detalhes que a fotografia. Como resultado da precisão da fotografia, os
artistas foram obrigados a encontrar novos modos de expressão, o que levou a
novos paradigmas e revolucionou a arte.

O modernismo brasileiro foi o início de uma revolução estética sem


precedentes. Além da renovação da linguagem literária, da busca de
experimentação e da liberdade de criação, representou uma ruptura com o
passado artístico brasileiro, introduzindo novos caminhos, ideias e conceitos
para a música, a escultura, a pintura, a arquitetura e as artes plásticas em geral.

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Influiu inclusive na mudança da capital cultural do Rio de Janeiro para São Paulo:
uma cidade que deixava de ser provinciana com o fenômeno da industrialização
e apontava para um progresso sem precedentes na história do Brasil.

Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram os grandes agitadores do


Modernismo de primeira geração. Os verdadeiros mentores das mudanças
radicais anunciadas na Semana de Arte Moderna de 1922 e pivô da revolução
estética ao lado de duas singulares figuras femininas do período: as geniais
artistas plásticas Anitta Malfatti e Tarsila do Amaral que seriam pivôs das
transformações modernistas. Com todo o estardalhaço inicial, passados os dias
do evento, a Semana não teria efeito se não fosse a atuação precisa de Oswald
de Andrade, num momento em que todo o movimento se via fragilizado por falta
de centro.

Faltava um elo entre as diferentes expressões que ali estiveram, por se tratar
de correntes artísticas variadas, com ideias díspares, que ali se juntaram num
verdadeiro saco de gatos. O modernismo precisava de uma formulação mais
consistente para existir, e isso seria dado por Oswald de Andrade, com o
“Manifesto Pau-Brasil” de 1924. Lançado no jornal Correio da Manhã, seu
manifesto foi endossado por Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Guilherme de
Almeida, e Raul Bopp, entre outros. Muitos críticos consideram que foi a partir
desse manifesto que de fato o modernismo começou a fazer sentido em nosso
país. A arte moderna brasileira foi revolucionária, própos uma nova visão do país,
e muitas vezes chocou e escandalizou o pensamento tradicional.

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6. O ESCANDALO DO HOMEM AMARELO

Os escândalos modernistas tiveram início em 1917, com a exposição da


jovem pintora Anita Malfatti, que voltava dos Estados Unidos trazendo a
experiência do cubismo, do futurismo e do expressionismo estampadas em suas
obras. Por incentivo de Di Cavalcanti e de Menotti Del Picchia, ela mostrou suas
pinturas avançadas, que foram duramente criticadas em meio a uma barulhenta
oposição. Isso seria o estopim para que a Semana de Arte Moderna tivesse seu
estrondoso sucesso.

O quadro que mais chocou o público foi o seu “O homem amarelo”, com
fortes princípios cubistas. Sobre essa obra, o mais cáustico de todos os seus
opositores foi o escritor Monteiro Lobato, na época um crítico poderoso. Com
seu artigo intitulado “Paranóia ou Mistificação?” publicado no jornal O Estado de
S. Paulo em 20 de dezembro de 1917. Como resultado, a pintora sofreu uma
tentativa de agressão; além de ter seus quadros devolvidos e a mostra fechada
antes do tempo. Mas uma pessoa viria em sua defesa: o escritor e musicista
Mário de Andrade, que a partir dali se tornaria grande amigo de Malfatti. Diria
Mario desafiadoramente: “Estou impressionado com este quadro, que já é meu,
e um dia eu virei buscá-lo” (FONSECA, 2001: 77). (Fig. 03)

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Fig. 03. O Homem Amarelo (1915/1916), óleo sobre tela de Anita Anita Malfatti. Fonte
da imagem: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2054/o-homem-amarelo (acesso:
15/05/2018).

Mas, o advento modernista brasileiro de maior expressão foi a Semana de


Arte Moderna de 1922. O evento da semana teve o apoio da elite quatrocentona
de São Paulo e do próprio governador do estado da época, Washington Luís.
Resultou numa enorme repercussão. Na mostra podia-se ver toda a nova
pintura, escultura, poesia, literatura e música modernas. Seus participantes, a
maioria paulistana e ricos herdeiros dos grandes latifundiários do café, tornaram-
se nomes consagrados em definitivo do Modernismo. A saber: Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida,
Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti, Ronald de
Carvalho, entre outros.

Plinio Salgado e Menotti Del Piccia vieram do Rio de Janeiro para participar
do evento e Manuel Bandeira, um dos principais poetas modernistas do período
e um dos maiores nomes da poesia brasileira, não pode participar por conta de
uma crise de tuberculose. Mas seu poema “Os Sapos” - verdadeira provocação
aos escritores parnasianos - foi lido explendorosamente por Ronald de Carvalho.
Ainda que Tarsila do Amaral não tenha participado efetivamente das atividades
da Semana de Arte, que ocorreu no Teatro Municipal entre os dias 11 e 18 de
fevereiro de 1922, pois estava em Paris, - sua participação contundente em todo
o modernismo e no avançado Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade,
na época inclusive seu marido, foi fundamental.

Uma nota importante do evento foi à atuação do grande compositor brasileiro


na época, Heitor Villa-Lobos: temperando sua música clássica com maxixe,
samba e chorinhos abalou a velha concepção de música erudita. Isso faz lembrar
que um dos mais importantes aspectos da agitação estética do mundo naquele
momento, e não só do Brasil, foi "a aproximação breve, mas notável entre
vanguarda estética, política radical e cultura popular", como tão bem analisa a
ensaísta norte americana Marjorie Perloff, em seu livro "O Momento Futurista"
(1) ao falar da "arena de agitações" estéticas que a humanidade atravessava nas
primeiras decadas do século XX.

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Os eventos de 1922 assustaram o público tanto quanto os mais radicais
movimentos de arte daquele período na Europa e nos Estados Unidos. Ninguém
imaginava que aquelas manifestações expostas no Teatro Municipal poderiam
ser chamadas de arte. Já as manifestações da Arte Contemporânea que surge
a partir de 1950, em vários aspectos em oposição ao modernismo, apesar de
muitas vezes até bizarras, não assombraram ninguém.

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7. READY-MADE: O ARTEFATO TIRADO DO SEU CONTEXTO

A Arte contemporânea é uma tendência artística que se construiu a partir do


chamado pós-modernismo. Isso significa que se trata de uma expressão artística
vinda depois do que se entende por modernismo. De fato, a Arte Contemporânea
rompeu com algumas características do Modernismo, trazendo ao mundo das
artes novas tendências estéticas, que podem ser enumeradas, como:

1. O uso de novas mídias e tecnologias;

2. A fusão entre vida e arte;

3. Interatividade e mistura de estilos;

4. Aproximação estreita com a cultura popular;

5. Uso variado de materiais para sua produção;

6. Desapego ao passado, e ao futuro, transformando-se “libertariamente” em


obras artísticas de assumida efemeridade;

7. Abandono de suportes tradicionais.

Por outro lado não conseguiu se libertar de duas grandes características do


Modernismo, que seriam o gosto pela experimentação e invenção. Menos ainda
de influencias decisivas como as do Dadaísmo, surrealismo, Construtivismo
Russo e Arte Conceitual. A arte contemporânea vive das concepções do
dadaísta Marcel Duchamp, um artista que seria praticamente o mentor dessa
nova era guardado todas as marcantes diferenças entre suas obras e o que se
realiza hoje em arte.

Ainda que no pós-guerra, o sentimento estético predominante fosse de


reconstrução da sociedade com base principalmente no avanço da globalização,
das novas tecnologias e mídias e a utilização radical de novos meios de
expressão, como o computador, a TV, e as novas formas de difusão, a Arte
Contemporânea não poderia fugir do ideário da arte conceitual modernista e
menos ainda do ideário de Antiarte e do Ready Made lançados por Duchamp e
pelos Dadaístas das Vanguardas Heróicas do século XX.

20
Ao valorizar o conceito, a atitude e a ideia de obra bem mais do que o objeto
final, práticas comuns da arte contemporânea, os novos artistas da atualidade
de certa forma são artistas conceituais ligados a uma espécie de new dada e por
isso muito apegados ao “Grande Vidro” (obra de Duchamp considerada
precursora da arte conceitual), aos Readymades e as Instalações de Duchamp.
Aliás, toda e qualquer Instalação e arte de desempenho contemporânea é filha
das Instalações e performances dadas. Além disso, o extenso leque de estilos,
perspectivas e técnicas da arte contemporânea, que tanto pode se manifestar na
pintura como na música, na dança, na escultura, no teatro, na literatura ou
mesmo na moda eram parte da arte conceitual e das colagens, montagens e
performances dadaístas da primeira metade do século XX.

A verdade é que os artistas contemporâneos devem muito ao Modernismo


e não coseguem fugir em suas atuações e buscas estéticas de dois grandes
nomes que atravessaram o século XX e ainda ecoam no século XXI,
influenciando tudo e todos: Picasso e Marcel Duchamp. O primeiro pela
compreensão que teve da arte e o segundo pela compreensão que teve do que
seria uma Antiarte.

21
8. DADA: READY-MADE E ANTIARTE

Um dos movimentos mais incendiários das chamadas Vanguardas heróicas


do inicio do outro Século foi o Dada ou Dadaismo. Isso por que não foi um
Movimento, mas um antimovimento de arte da vanguarda européia no início do
século 20, com os primeiros centros em Zurique, na Suíça, no Cabaret Voltaire
por volta de 1916 e se estendeu para outros lugares da Europa e Estados
Unidos. O New York Dada começou por volta de 1915. Depois de 1920, Dada
floresceu em Paris. Sendo que a primeira exposição Dada alemã aconteceu em
Berlim no dia 5 de junho de 1920.

Nomes como Hugo Ball, Marcel Duchamp, Emmy Hennings, Hans Arp,
Raoul Hausmann, Hannah Höch, Johannes Baader, Tristan Tzara, Francis
Picabia, Huelsenbeck, George Grosz, John Heartfield, Man Ray, Beatrice Wood,
Kurt Schwitters, Hans Richter, Max Ernst e Elsa Von Freytag-Loringhoven e
Francis Picabia entre outros, seriam algumas das principais personalidades
dessa muitas vezes grotesca e sempre interessante Antiarte.

O inconformismo do movimento já se Expressa na forma como ele se


denomina. Não há consenso sobre a origem do nome Dada. Uma história
comum é que o artista alemão Richard Huelsenbeck mergulhou uma faca ao
acaso em um dicionário, onde pousou em "dada", um termo francês coloquial de
pouco significado. Outros veem no termo as primeiras palavras de uma criança,
evocando uma infantilidade e um absurdo que atraíram o grupo. O importante,
de fato, era que essa palavra não significasse nada e não tivesse sentido em
qualquer idioma, refletindo - segundo uma explicação muito própria e hilária de
seus participantes - o internacionalismo do movimento.

O trabalho dos poetas franceses, dos futuristas italianos (praticamente os


primeiros a usar onomatopéias, por exemplo, em seus versos); e dos
expressionistas alemães influenciariam os Dadaistas a fragmentar ou mudar ou
destruir o significado das palavras. Seus poemas são feitos de urros, frases
soltas, gritos e ruidos interessantes ou ainda como se fossem versos feitos por
uma criança na fase de aprendizagem linguistica. As peças sonoras dadaistas e
surrealistas, por exemplo, continham gritos dilacerantes que lembrariam demais

22
o que hoje se entende, na arte contemporânea, por “grito primal”. Claro que tudo
isso chocava um ouvinte absolutamente surpreso e pego de surpresa. Mas
esses movimentos radicais buscavam isso mesmo; alarmar o espectador, causar
desconforto, ira. Tirar o público de sua “sonolencia” conformista cotidiana.

As raízes do Dada estão na vanguarda pré-guerra. O termo antiarte, um


precursor do Dada, foi cunhado por Marcel Duchamp por volta de 1913 para
caracterizar obras que desafiam definições aceitas de arte. O cubismo e o
desenvolvimento da colagem e da arte abstrata seriam o marco do
distanciamento do movimento das convenções e de outras restrições da
realidade. Obras como Ubu Roi (1896), de Alfred Jarry, e o balé Parade (1916-
1917), de Erik Satien seriam caracterizadas como obras protodadoístas.

O fato é que o Dada, ou Dadaismo, surgiu como uma violenta reação à


Primeira Guerra Mundial, e seus artistas expressavam o seu inconformismo
através do irracionalismo, da rejeição da lógica, e contra o esteticismo da
sociedade capitalista moderna; instaurando em suas obras o absurdo e o
protesto antiburguês a partir e um niilismo intenso, ou mesmo irado. Os princípios
do movimento Dada foram coletados pela primeira vez no “Dada Manifesto” de
Hugo Ball em 1916. O movimento dadaísta incluiu reuniões públicas,
performances e publicação de revistas de arte/literatura; cobertura apaixonada
de arte, política e cultura foram temas frequentemente discutidos em uma
variedade de mídias.

Utilizaram-se das mídias visuais, literárias e sonoras, incluindo colagem,


poesia sonora, redação e escultura. Os artistas dadaístas expressaram seu
descontentamento com a violência, a guerra e o nacionalismo, e mantiveram
afinidades políticas com a esquerda radical. Eles já não apostavam na
civilização, menos ainda nos avanços tecnológicos que responsabilizavam pelo
armamento da humanidade. Acreditavam que a revolução chegaria com um
verdadeiro recomeço, por isso a necessidade de reduzir tudo a um grau zero.
Sua arte se expressava através de colagens, desenhos satiricos, foto
montagens, performances e heppenings extravagantes onde urros e palavrões
desqualificando a platéia eram comuns.

23
Em 1917, nos Estados Unidos, por exemplo, o feroz “demolidor” (lutador
de box) Arthur Craven, poeta e boxer compareceu diante de uma platéia seleta
para falar sobre o destino das artes. Depois de um jorro de palavras
impublicáveis, partiu para um strip- tease grotesco. Francis Picabia, outro grande
nome do dadaismo em Nova York se autodenominava burro, palhaço, vigarista,
batedor de carteiras, mas nunca literato e pintor. E dizia que “a arte deve ser
inestética ao extremo, inútil e impossível de se justificar” (Fonseca: 77).

Na mesma época Marcel Duchamp, um dos grandes artistas desse


movimento, e que já atuava na pintura futurista desde 1912, tentava expor a sua
“Fontaine”; na verdade um urinol (mictório) com sua assinatura, o pseudonimo
“Ruamutt”, que parodiava um conhecido fabricante de sanitários. Com isso
Duchamp inventava a técnica dos ready-made; isto é, o deslocamento de objetos
cotidianos de seu ambiente normal, para transformá-los em “obras”, que ele
chamava de arte (Fig. 04).

Fig. 04: Em 1919, Duchamp apresentou sua provocativa obra: L.H.O.O.Q; uma hilária
reprodução da Monalisa, de Leonardo da Vinci, com bigodes. Fonte da imagem:
http://arteref.com/quiz/o-que-significa-l-h-o-o-q/ (acesso: 15/05/2018).

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Parodiando grotescamente um dos mais famosos e consagrados quadros
do Renascimento, o artista dada profanizava a arte clássica, dessacralizando-a
definitivamente, numa destruição total da sua aura solene de monumento.
Duchamp chamou essa obra de L.H.O.O.Q. (em francês: "Elle a chaud au cul",
que pode ser traduzido para “Ela Tem Um Rabo Quente”). Não só Duchamp,
mas todos participantes do movimento dada influenciaram estilos posteriores
como os movimentos musicais de vanguarda, o surrealismo, o nouveau
réalisme, pop art e Fluxus, e, muito especialmente, os artistas pós-modernos ou
contemporâneos.

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9. READY-MADES: UMA PROPOSTA CONCEITUAL

Os ready-mades de Marcel Duchamp eram objetos manufaturados pelos


fabricantes e usados no cotidiano mais comum, os quais o artista selecionava e
modificava para apresenta-los como obra em oposição à chamada arte da retina,
ou seja, aquela arte visual feita para se apreciar. Numa espécie de ira niilista
contra a arte dos museus, ou ainda contra a própria definição de arte, ele
simplesmente escolhia os objetos, reposicionava em outro contexto dando títulos
e assinando como obra pessoal, titulando-os, assim, de arte. E os expunha nos
Museus (Fig. 05).

Fig. 05. Ready-mades criados a partir de objetos comuns, de Marcel Duchamp. Fonte
da imagem: https://formasanimadas.wordpress.com/2010/10/22/kantor-duchamp-e-os-
objetos/ (acesso: 15/05/2018).

Duchamp sempre buscou selecionar objetos sem nenhum fetichismo, mas


dentro do que ele considerava uma categoria de objetos de indiferença visual,
como por exemplo, uma caneta Bic, uma roda de bicicleta, ou como o seu
famoso Urinol. Ele fez isso em parte para negar a possibilidade de se definir arte
como se define qualquer tipo de ciência. Fez seus ready-mades (termo que
também descreve itens manufaturados em oposição aos produtos artesanais)
por 30 anos, num total de 13 peças, que para ele não tinham a intenção de serem
avaliados por gostar ou não gostar, e enfatizava que era justamente esse
sentimento que almejava provocar, porque, segundo ele, o gosto é inimigo da
arte.

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Ao longo da vida Duchamp nunca definiu ou lançou alguma opinião sobre
seus ready-mades. Como bom dadaísta afirmava que: “O curioso sobre o ready-
made é que eu nunca fui capaz de chegar a uma definição ou explicação que
me satisfaça plenamente." (FONSECA, 2001: 77). Anos mais tarde, Duchamp
acrescentaria: "Não tenho certeza, mas acho que o conceito do ready-made
pode ser a ideia mais importante a sair do meu trabalho" (FONSECA, 2001: 78).
Quem definiu os ready-mades oficialmente foram os surrealistas André Breton
e Paul Eluard, no dicionário do surrealismos criado por eles mesmos. Lá ready-
made é definido como: "Um objeto comum elevado à dignidade de uma obra de
arte pela simples escolha de um artista" (FONSECA, 2001: 78), e assinaram
como se fosse Marcel Duchamp o criador da definição.

Marcel Duchamp foi um dos grandes artistas plásticos, poetas e intelectuais


do século XX. Sua irreverência e capacidade de compreender a arte, negando-
a, se mantiveram ao longo dos tempos, pois chegariam ao século XXI, tornando-
o um dos nomes mais influentes da Arte Contemporânea até hoje. No Brasil,
também temos um modernista que atravessou todo século XX e se mantém no
século XXI influenciando toda a arte brasileira: Oswald de Andrade. A arte
brasileira deve muito a Oswald de Andrade assim como a arte Ocidental deve a
Marcel Duchamp.

Oswald de Andrade ironicamente morreria quase esquecido, em 1954. Anos


depois renasceria das cinzas para influenciar todo o pensamento estético
brasileiro nas artes, na literatura, na música, no cinema e no teatro dos anos
1960 aos dias de hoje. O escritor modernista com suas avançadas ideias
antropofágicas e sua concepção de marco zero estético, bem como de antiarte,
se se tornou pai de uma linha de concretistas e neoconcretistas.

Está presente tanto nas obras dos poetas concretos Décio Pignatari e os
Irmãos Campos, quanto nas obras do artista plástico neoconcretista Hélio
Oiticica. Oswald de Andrade foi fundamental ao Movimento Tropicalista, tanto
na música popular quanto no teatro tropicalista de José Celso Martinez Correa e
ecoa por todas as manifestações artísticas mais consequentes do século XXI.
Pode-se dizer que Oswald de Andrade e Marcel Duchamp foram homens antigos

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que se transformaram em modernos e nessa operação foram além, tornando-se
pós- modernos e eternos!

28
10. CONCRETISMO, NEOCONCRETISMO E ARTE CONCEITUAL

Em oposição a Arte Abstrata e sem ser uma arte figurativa, a Arte Concreta
surge como herdeira da pintura de Piet Mondrian (1872-1944) e Van Doesburg,
que busca a pureza e o rigor formal na ordem harmônica do universo; das
pesquisas do grupo De Stijl (“O Estilo”) de 1917 a 1928. E de alguns aspectos
do ideário da BAUHAUS, de 1933, Principalmente ao adotar o conceito de que
a racionalidade deve estar presente em todos os âmbitos sociais e nas
conquistas da arte democratizadas pela indústria.

O artista suíço Max Bill (1908-1994), nos anos 1950, com a Escola Superior
da Forma em Ulm, Alemanha, seria o responsável pela expansão desse projeto
estético. Para Bill, o grande divulgador da Arte Concreta na América Latina, uma
obra plástica deve se ordenar pela geometria e pela clareza da forma, e a
matemática seria o melhor meio para se chegar ao conhecimento verdadeiro da
realidade objetiva.

Os preceitos da Pintura Concreta são de que A arte é universal; portanto


não deve ter nenhum aspecto regional ou nacional; O quadro deve ser construído
com elementos como a cor e os planos, que são puramente plásticos; a obra de
arte deve ser inteiramente concebida e formada pelo espírito antes de sua
execução; um quadro não tem significação senão ele mesmo ser seu próprio
significado; por isso mesmo, um quadro não pode ser fetichista, sensual ou
expressar sentimentos; toda obra deve ter uma clareza explicita e absoluta; as
técnicas de um quadro devem ser mecânicas. Nada de nu femininos, natureza-
morta ou árvores em movimento, pois estes não são elementos concretos e sim
figurativos.

Na América latina principalmente como consequência do


desenvolvimentismo e da industrialização intensa; fruto das oportunidades
advindas com a Segunda Guerra Mundial (1930-1945) ocorre um grande avanço
econômico e cultural. No Brasil, surgem os Museus MASP (Museu de Arte de
São Paulo) e o MAM (Museu de Arte Moderne), ambos de SP; e o MAM – Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e acontece a Primeira Bienal Internacional
de São Paulo. Em 1950, Max Bill realiza exposição no MASP e, no ano seguinte,

29
sua escultura “Unidade Tripartida” ganha o 1º prêmio na 1ª Bienal Internacional
de São Paulo, passando a influenciar a arte brasileira a partir de então (Fig. 06).

Fig. 06. Escultura Unidade Tripartida (“Tripartite Unity”), do arquiteto e designer suíço
Max Bill, conhecido como um expoente da chamada arte concreta e fundador da Escola
de Ulm. Sua influência na arte moderna e pós-moderna e seu desejo por uma arte
baseada em conceitos matemáticos é notável. Fonte da imagem:
http://10balicevicente.blogspot.com.br/2011_05_01_archive.html (acesso: 15/05/2018).

Surge então, em 1952, o chamado Grupo Ruptura, que realiza uma


exposição no MASP, e um Manifesto de princípios. Liderado por Waldemar
Cordeiro ( 1925-1973) e com nomes que ganhariam grande importância
como Amatol Wladyslaw (1913-2004), Lothar Charoux (1912-1987), Féjer (1923-
1989), Geraldo de Barros (1923-1998), Leopold Haar (1910-1954), o grupo
apregoa que a arte é "um meio de conhecimento deduzível “ e reafirma sua
objetividade.

Em 1956- 1957 ocorrem a Exposição Nacional de Arte Concreta, apoiada


pelo influente crítico Mário Pedrosa (1900-1981), que em 1949 escreveu uma
tese pioneira sobre psicologia da Gestalt e arte. (Nessa exposição, além do
Grupo Ruptura surge o grupo carioca Frente, comandado por Ivan Serpa (1923-
1973), com nomes como Rubem Ludol (1932-2010), Cesar Oiticica (1937- 1980),
Décio Vieira (1022- 1988) e Hélio Oiticica (1937-1980); além deles nomes como

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Lygia Pape (1927-2004), Lígia Clark (1920-1988) e Franz Weissiana (1911-
2005).

Ao analisar a exposição Pedrosa já apontava as diferenças entre os


grupos paulistas, mais teóricos e dogmáticos, dos grupos cariocas, mais
empíricos e intuitivos. Por conta dessas diferenças – em 1959 –, liderados pelo
poeta Ferreira Gullar, os cariocas assinam o Manifesto Neoconcreto. Gullar, que
vinha do grupo de Poesia Concreta paulista desde 1930, rompe em definitivo
tanto com os poetas de São Paulo como com seus pintores.

Em São Paulo o grupo de poesia concreta que levaria adiante o projeto de


poesia “verbivocovisual” (integração do verbal, do visual, e do fonético), e que a
principio era liderado por Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de
Campos, que além de Ferreira Gullar fizeram parte brilhantemente da exposição
de Arte Concreta Carioca em 1956. Na década de 1960 já não estavam com
Gullar e apesar de todas as pressões e perseguições que sofreram por conta da
radicalidade do Movimento, se tornariam um dos mais importantes movimentos
de literatura brasileira no país e no Exterior, e o último grande movimento de
Vanguarda do Brasil.

Os poetas concretos pregaram o fim histórico da poesia escrita e


apregoaram uma integração radical entre a palavra (verbi), o som (voo) e a
visualidade gráfica das letras (visual). Com isso fundavam uma das importantes
vertentes da poesia visual. Muitos críticos consideram que o Movimento
Concreto - quer seja na arte como na literatura - faz parte da chamada Arte
Contemporânea. No entanto os paulistas do Concretismo literário sempre se
consideraram parte de uma linha evolutiva do experimentalismo modernista da
primeira geração. Por isso adotariam o poeta Oswald de Andrade como um dos
principais nomes e mentores.

31
11. A FRONTEIRA ENTRE ARTE MODERNA E ARTE CONTEMPORÂNEA

Dentro do contexto da história da arte, o termo arte moderna se refere à


teoria e prática da arte, predominantemente na Europa Ocidental e na américa
do norte, da década de 1860 até o final da década de 1960 - período associado
ao modernismo. Arte moderna é definida em termos de uma progressão linear
de estilos, períodos e escolas, como impressionismo, cubismo e expressionismo
abstrato. No uso geral, há considerável sobreposição e confusão entre os termos
moderno e contemporâneo, porque ambos se referem ao passado presente e
recente. Moderno é um termo que tem uma ampla aplicação dependendo do
contexto em que é usado. Pode se referir ao presente ou ao contemporâneo. Em
termos de discurso social, político e filosófico, moderno refere-se ao período que
começou com o iluminismo no século XVII. Mais genericamente, o termo
moderno pode ser usado para se referir a todas as coisas desde o início do
Renascimento. A natureza relativa e temporal do termo resiste a uma definição
clara ou fixa, e está sujeita a um debate considerável em termos de significado
e prazo.

O termo arte contemporânea se refere à prática atual e muito recente.


Atribuído, aproximadamente, ao período da década de 1970 até o presente, e
também se refere a obras de arte feitas por artistas vivos. A Arte Contemporânea
tende a ser avaliada tematicamente e subjetivamente, com base em uma ampla
gama de disciplinas teóricas e práticas. A Arte Contemporânea pode ser dirigida
tanto pela teoria quanto pelas ideias, e também é caracterizada por uma
indefinição da distinção entre arte e outras categorias de experiência cultural,
como televisão, cinema, mídia de massa, entretenimento e tecnologia digital.

O período a partir dos anos 1970 também é descrito em termos de pós-


modernismo, movimento social, cultural e intelectual caracterizado pela rejeição
de noções de progressão linear, narrativas totalizantes e os consensos críticos
associados ao modernismo, favorecendo uma abordagem interdisciplinar,
múltiplas narrativas, fragmentação, relatividade, contingência e ironia.

Na história da arte, o período associado ao Modernismo, de 1860 a 1970, é


caracterizado por desenvolvimentos sociais, culturais, tecnológicos e políticos

32
significativos no mundo ocidental. A industrialização, a urbanização, a nova
tecnologia, a ascensão da classe média, a secularização da sociedade e o
surgimento de uma cultura de consumo resultaram nas novas condições em que
a arte foi criada, exibida, discutida e coletada. O mercado aberto substituiu o
clientelismo como meio de financiamento da arte, dando aos artistas a liberdade
de se envolver em formas de prática mais experimentais e inovadoras.
Inspirados por novos desenvolvimentos em tecnologia, em particular a fotografia
e o filme.

Práticas e metodologias tradicionais, incluindo perspectiva e representação,


foram descartadas em favor de abordagens mais experimentais, como a
abstração, resultando em novas formas de expressão. Tal prática inovadora foi
referida como avant guarde (vanguarda), e o Modernismo compreende uma
série de sucessivos movimentos de vanguarda, como o Impressionismo,
Fauvismo e Stijl. O período modernista caracterizou-se pela crença nas
tendências progressistas da modernidade, evidenciadas em movimentos como
o Cubismo, o Construtivismo e o Futurismo, e na arquitetura no estilo
internacional e movimentos como da Bauhaus.

Durante o decorrer do século XX, a desilusão com aspectos do


empreendimento modernista: o impacto da industrialização, a guerra global e os
desenvolvimentos na tecnologia militar, resultaram em alguns artistas adotando
estratégias de ruptura e subversão, evidentes em movimentos como o Dada e o
Surrealismo. Alternativamente, alguns artistas recorreram a formas de prática
mais personalizadas e emocionais, como o movimento Expressionista. Após a
Segunda Guerra Mundial, o centro do modernismo mudou da Europa para a
América e foi dominado pelo Expressionismo Abstrato, que apresentava um
quadro teórico de formalismo, e que enfatizava mais a forma do que o conteúdo,
tanto na criação quanto na recepção da obra de arte. Esse argumento da "arte
pela arte" contribuiu para a crescente visão da obra como objeto e a
mercantilização das obras produzidas.

Mudanças sociais, culturais e políticas durante a década de 1960 resultaram


em mudanças consideráveis na prática artística. Os artistas estavam
preocupados com a crescente mercantilização da arte e o papel da instituição de

33
arte - o museu ou a galeria - e sua relação com processos socioeconômicos e
políticos mais amplos. Corporificado por novos desenvolvimentos através de
uma gama de disciplinas teóricas e práticas, tais como feminismo, teoria pós-
colonial, psicanálise e teoria crítica, e baseando-se em estratégias anteriores de
ruptura, os artistas criaram novas formas e práticas, como trabalho temporário,
textual, performativo ou didático, para repudiar a percepção do objeto de arte
como mercadoria.

Artistas conceituais contemporâneos enfatizavam a primazia da ideia sobre o


objeto da arte material, rejeitando suposições sobre a continuidade histórica da
arte e o consenso crítico associado ao modernismo, os artistas contemporâneos
e pós-modernos ultrapassaram as fronteiras do que era possível na criação,
apresentação e recepção da arte. Formas experimentais e práticas, como o
Fluxus, o Minimalismo, a Pop Art e o Desempenho como Arte (Performance),
entre outros, surgiram em resposta às limitações percebidas no modernismo.

34
12. ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA COMBINAÇÃO DE DEZENAS DE
ESTILOS

Arte Contemporânea engloba muitos e diferentes movimentos. Vamos listar


aqui alguns dos principais movimentos que ocorreram em cada década, e mais
adiante explicar alguns deles. Nos anos 1950 temos o Expressionismo Abstrato;
o Expressionismo Figurativo Americano, o movimento de vanguarda chamado
COBRA; a Geração da Ruptura; Expressionismo Figurativo de Nova York; Arte
Não Conformista Soviética; Escola de Viena de Realismo Fantástico entre
outros.

Nos anos 1960 temos o Expressionismo Abstrato; Expressionismo


Figurativo Americano; Imagistas Abstratos; Movimento de Arte Chicano; Arte de
Computador; Arte Conceitual; Grupo Fluxus; Arte Cinética; Minimalismo; Neo-
Dada; Nouveau Réalisme; Op Art; Arte Performática; Pop Art; Arte Pop; Pós-
minimalismo; Abstração pós-pintura; Arte Psicodélica; Arte de Sistemas; Zero;
Vídeo Arte.

Nos anos 1970 temos todos os movimentos dos anos 1960 que se
mantiveram nos anos seguintes, como a Pop Art e o grupo Fluxus, por exemplo,
além de Expressionismo Abstrato; Imagistas Abstratos; Expressionismo
Figurativo Americano; Arte Performática etc. Nos anos 1980 temos Arte
Corporal; Arte Ambiental. Arte Feminina; Frisagem; Holografia; Instalação de
Arte; Land Art.; Lobo (movimento de Arte Psicodélica do artista Lobo);
Fotorrealismo; Pós-minimalismo; Arte de Processo; Arte Robótica; Arte Funk;
Estilo Selvagem etc.

Nos anos 1980, temos Arte de Coração; Arte Eletrônica; Arte Fractal; Arte
do Grafite; Modernismo Tardio; Arte ao Vivo; Arte pós-moderna; Arte
neoconceitual; Neoexpressionismo; Ensopo; Arte Sonora; Transavantgarde;
Arte Transgressora; Instalação de Vídeo e Crítica Institucional entre outras. Nos
anos 1990 além de todas as outras que prevalecem, temos Arte de Apropriação;
Cultura Amin; Arte Eletrônica; Arte Ambiental e Arte ao Vivo.

Nos anos 2000 até os dias atuais, além da grande maioria dessas manifestações
já citadas, temos ainda Arte Bio; Cyberarts; Realismo Cínico; Arte Digital;

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Hiperrealismo; Arte da Informação; Arte na Internet; Massurrealismo;
Maximalismo; Nova Escola de Leipzig; Nova Arte de Mídia; Nova Pintura
Europeia; Arte Corporal e Arte Relacional.

Como se vê, uma grande mistura de manifestações, preocupações e estilos


configuram o que chamamos de arte contemporânea (ou mesmo pós-moderna).
Preocupações emergentes sobre a ecologia e o meio ambiente são evidentes na
Land Art e na Arte Ambiental. A reconsideração da relação entre a obra de arte
e seu contexto, em particular a sua realocação fora dos parâmetros do espaço
de museu ou galeria, contribuiu para o desenvolvimento da Art Site Specific,
Instalação, Arte Socialmente Engajada e Práticas de Participação. Igualmente,
o discurso feminista e pós-colonial, preocupado com a formação da identidade
dos grupos e comunidades, desafiou a narrativa linear da história da arte
dominada pelo homem ocidental, com visão eurocêntrica, favorecendo às
narrativas múltiplas e a prática híbrida.

Avanços em tecnologia, particularmente em filme, vídeo e tecnologia digital,


contribuíram para o desenvolvimento da New Media Art. O desmantelamento do
museu ou galeria como o principal local de exibição e consideração da arte,
resultou no surgimento de uma gama mais ampla de fóruns e espaços públicos,
tais como Bienal, Arte Pública, e iniciativas Led-Artist (artistas que usam
iluminação led para criar obras em espaços públicos) (Fig. 07.

Fig. 07: Obra do “Led Artist” japonês Makoto Tojiki. Fonte da imagem:
http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/01/artista-japones-cria-esculturas-
luminosas-de-humanos-e-bichos-com-led.html (acesso: 15/05/2018).

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13. A POP ART DE ANDY WARROL AO NEW-DADA

Desde que fez sua estreia colorida na década de 1950, a Pop Art manteve-
se um movimento artístico proeminente. Graças às inovações de mestres
conhecidos como Andy Warhol, David Hockey e Keith Haring, o gênero único
marcou o fim do modernismo e celebrou o início da arte contemporânea. Peças-
chave da Pop Art ajudaram a facilitar essa mudança significativa nas
sensibilidades artísticas. Da colagem não convencional de Richard Hamilton que
desencadeou o movimento para a adaptação de quadrinhos mais icônica de Roy
Lichtenstein, essas obras-primas experimentais provam que a cultura popular é
mais do aquilo que aparenta.

A Pop Art é um gênero distinto de arte que apareceu pela primeira vez na Grã-
Bretanha e nos EUA do pós-guerra. Caracterizada principalmente por um
interesse na cultura popular e interpretações imaginativas de produtos
comerciais, o movimento inaugurou uma abordagem nova e acessível à arte.
Variando de peculiar a crítica, as peças produzidas por artistas pop nos anos
1950 e 1960 comentaram sobre a vida contemporânea e eventos. Além da
iconografia única em si, o tratamento dado pelo artista ao assunto ajuda a definir
o gênero. Renomado por suas imagens ousadas, paletas de cores vivas e
abordagem repetitiva inspirada na produção em massa, o movimento é
celebrado por seu estilo único e facilmente reconhecível (Fig. 08).

Fig. 08. Conhecido por suas pinturas coloridas e inspiradas em histórias em quadrinhos,
o artista Roy Lichtenstein deu uma reviravolta animada e energética na Pop Art. O painel
“Whaam!”, uma de suas composições mais conhecidas, adapta uma cena de “All

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American Men of War”, uma publicação da DC Comics, entre 1956 e 1966 (LIPPARD,
1976). Fonte da imagem: http://mindfarm.it/2017/02/20/roy-lichtenstein-e-larte-di-
decontestualizzare/ (acesso: 15/05/2018).

O americano Andy Warhol (1928 - 1987) tem sido considerado um dos


artistas mais influentes, desde os anos de 1960 aos dias atuais de século XXI.
Além de assunto em numerosas exposições retrospectivas, livros e filmes
documentais. Seu museu em sua cidade natal, Pittsburgh, é o maior museu dos
Estados Unidos dedicado a um único artista: nele se encontram extensa coleção
permanente de arte e arquivos, sendo outra parte de suas obras de coleções
particulares altamente valiosas. Por anos tem liderado o mercado das artes, com
algumas das suas pinturas entre as mais caras já vendidas no mundo das artes
modernas.

No entanto nunca foi analisado seriamente por nenhum dos críticos mais
importantes do mundo. Muitos destes ainda não o consideram um grande artista
plástico. No entanto, analisando a obra do artista parece que de fato foi isso que
ele buscou: estar entre a linha divisória da grande arte e do comércio; ser
ambíguo e não pretender ser levado a sério, buscando tornar-se um herói da
cultura de massa bem mais do que um artista de alto repertório (Fig. 09).

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Fig. 09. Em 1962, o artista norte-americano Andy Warhol explorou pela primeira vez o
seu famoso tema “lata de sopa” – “32 Soup Cans” é composta por 32 telas pintadas à
mão e estampadas à mão, cada uma representando um sabor diferente da Sopa
Campbell's. Warhol, um artista pop pioneiro, escolheu este assunto porque dirigiu seu
foco na Pop Art para a produção em massa e seu próprio interesse artístico na repetição.
Justificou ele: “Eu costumava beber Campbells. Eu costumava ter o mesmo almoço
todos os dias, por 20 anos, eu acho, vi a mesma coisa várias vezes.” (LIPPARD, 1976:
104). Fonte da imagem: http://www.lpm-blog.com.br/?p=27267 (acesso: 15/05/2018).

As obras de Warhol são parte importante da chamada Arte Contemporânea.


Ele foi o artista visual mais influente da Pop Art além de realizar-se também como
diretor e produtor americano, lançando no final dos anos 1960 artistas pop como
o grafiteiro Fasquia e músicos como Lou Reed ao gerenciar e produzir a banda
de rock experimental The Velvet Underground, e fundar a revista Interview.

O grupo de personalidades que ele lançava e viviam em torno do artista


ficou conhecido como superestrelas de Warhol, e foi ele quem disse, numa
verdadeira premonição que no futuro todos teríamos "15 minutos de fama". Viveu
abertamente como gay antes do movimento de libertação homossexual. Apesar
dos escândalos em torno dele, Warhol foi um homem até certa medida muito
discreta. Sua vida pessoal foi de poucas aventuras; embora tenha se aproximado
de ferozes artistas do Rock, sempre manteve alguma distancia dos escândalos
e façanhas desses colegas, vivendo a maior parte de seu tempo com sua mãe.

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Suas obras tem ligação com o Movimento Dada, ainda que os dadaístas
não tivessem apresso por sua arte. Foi um admirador de Marcel Duchamp. A
reciproca parece não ter sido verdadeira mesmo que Duchamp tenha feito
comentários tolerantes sobre Warhol. Mesmo assim o artista da Pop Aart se
deixou influenciar pelo genial francês criando o polêmico movimento New Dada.

As obras de Andy Warhol exploram a relação entre a expressão artística, a


cultura de celebridades e a publicidade dos anos 1960. Abrangem uma
variedade de mídias, incluindo pintura, serigrafia, fotografia, cinema e escultura.
Alguns de seus trabalhos mais conhecidos incluem as gravuras em silkscreen
Campbell's Soup Cans (1962) e Marilyn Diptych (1962), o filme experimental
Chelsea Girls (1966), e os eventos multimídia conhecidos como o Exploding
Plastic Inevitable (1966-1967). Foi sempre em qualquer de suas atuações
um artista controverso, que gostava de se ver rodeado por intelectuais de
renome, drag queens, dramaturgos, gente de rua e da boêmia, celebridades de
Hollywood e ricos patronos. Seu estúdio em Nova York, The Fator, tornou-se um
conhecido ponto de encontro de todos eles.

Foi um criador prolifero, autor de inúmeros livros, incluindo The Philosophy


of Andy Warhol e Popism: The Warhol Sixties. A Pop Art foi o primeiro movimento
artístico do Século XX realmente amado pelo público. Warhol e a Pop Art
conseguiram chocar os artistas eruditos, muitas vezes seus críticos, mas nunca
a sua plateia. Esta talvez seja a diferença entre esse movimento e o Dadaísmo
dos anos 1920, que além dos críticos e outros artistas eruditos, chocava
terrivelmente também o seu público.

SAIBA MAIS

Logo depois de pintar a coleção de telas “32 Soup Cans”, Warhol continuaria
experimentando o tema da lata de sopa e com a ideia de múltiplos. No entanto, com
estes trabalhos posteriores, ele mudou seu processo de pintura para serigrafia, um
método de impressão usado apropriadamente na produção comercial de anúncios
publicitários. Saiba mais sobre Andy Warhol e a Pop Art em:
https://www.comunidadeculturaearte.com/andy-warhol-um-toque-de-pop-que-
mudou-o-mundo/ (acesso: 15/05/2018).

Ouça uma interpretação magnifica de Lou Reed, músico por lançado por Warhol em:
https://www.youtube.com/watch?v=LrMLt9bMd_I (acesso: 15/05/2018).

40
14. PÓS-MODERNISMO: O QUE VEM A SER?

O pós-modernismo é um termo genérico para falar das transformações


ocorridas no mundo – dentro da arte, da política, da ciência, do design, da
arquitetura, da literatura, da filosofia e da cultura depois da Segunda Grande
Guerra, na metade do século XX –. Isto é, dos anos 1950 - considerados como
o final do Modernismo - para os dias de hoje, no século XXI.

O pós-modernismo tem essa característica polêmica de se opor ao que se


entendia por modernismo. Alguns críticos consideram que ele jamais existiu, pois
ainda vivemos na sombra do modernismo. Outros ainda consideram que ele
existiu, mas já terminou. Que estamos entrando numa nova fase, depois do pós-
moderno. O fato é que esse termo designa as mudanças ocorridas na era pós-
industrial, com o surgimento dos multimeios, da informática, da era digital, do
consumismo exacerbado depois da queda do muro de Berlim, e o domínio global
do capitalismo e das novas formas do mundo se relacionar com os meios de
comunicação.

Esse termo foi usado pela primeira vez na arquitetura em 1949, para falar da
mistura de estilos e de características históricas das novas construções. Nos
anos 1960, depois das descobertas tecnológicas que passaram a invadir e
participar cada vez mais do cotidiano humano e da Cultura de massa em plena
expansão começou seu boom ideológico, que seria amplamente percebido na
década de 1980.

Ocorre que essa extraordinária mudança de paradigmas tem suas leis. Uma
delas é a crença no fim da história; a descrença numa única verdade, já que para
essa visão filosófica (o pós-modernismo), o conhecimento foi inventado e não
descoberto, pois depende das pessoas que nele acreditam. Não há uma
“VERDADE REAL”. Apenas crenças impostas por estruturas de poder. Daí o
surgimento das inúmeras teorias da conspiração.

No pós-modernismo acredita-se no presente absoluto, perdeu-se a crença


no progresso social; já que cada um pode considera-lo uma coisa diferente de

41
outra. E a economia, em grande parte do mundo ocidental, mudou de industrial
para uma economia de serviços. Sobre obras de arte, não existe uma linha
evolutiva de desenvolvimento estético, como se acreditou no modernismo, ou
mesmo uma obra mais valorosa do que outra, já que o gosto estético depende
apenas das interpretações individuais, das tribos ou etnias: cada um pensa sobre
a arte, a política, as religiões e mesmo sobre si mesmo da forma que quiser e
como quiser.

A literatura pós-moderna, por exemplo, costuma misturar os tempos


históricos; personagens fictícios a personagens reais; na arquitetura pós-
moderna a mistura de materiais e de estilos históricos dispares muitas vezes faz
parte de sua concepção. Outra mudança trazida no pós-modernismo é a das
relações humanas, das relações amorosas, do casamento, da cultura popular e
erudita. Tudo vale e está no mesmo patamar de aceitação.

O pós-modernismo está ligado à globalização e a grande capacidade de


consumo que o ser humano adquiriu. No domínio técnico que acredita mais na
cópia do que no original, nas relações intermediadas pela máquina e o
exagerado narcisismo individualista que separa os seres em grupos, tribos e
facções ligadas à etnia, a classe social, a padrões de comportamento, gêneros
etc. Além de uma mentalidade relativista e de metamorfose continua da
personalidade, adequando-se a tudo e a todos em função da ocasião. O pós-
modernismo se distingue por um questionamento das narrativas mestras que
foram adotadas durante o período moderno, sendo a mais importante a noção
de que todo progresso - especialmente tecnológico - é positivo.

Ao rejeitar tais narrativas, os pós-modernistas rejeitam a ideia de que o


conhecimento ou a história pode ser englobado em teorias totalizantes,
abrangendo, em vez disso, o local, o contingente e o temporário. Outras
narrativas rejeitadas pelos pós-modernistas incluem a ideia de desenvolvimento
artístico como orientado para objetivos, a noção de que apenas homens são
gênios artísticos e a suposição colonialista de que as raças não brancas são
inferiores. Assim, a arte feminista e a arte minoritária que desafiavam os modos
canônicos de pensar são frequentemente incluídas sob a rubrica do pós-
modernismo ou vistas como representações dela.

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Esses movimentos são diversos e díspares, mas conectados por certas
características: tratamento irônico e lúdico de um sujeito fragmentado, a quebra
de hierarquias de alta e baixa cultura, enfraquecimento dos conceitos de
autenticidade e originalidade e ênfase na imagem e no espetáculo. Além desses
movimentos maiores, muitos artistas e tendências menos pronunciadas
continuam na veia pós-moderna, que desemboca na arte contemporânea até os
dias atuais.

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15. PÓS-MODERNISMO E EXPERIMENTAÇÃO: DO UNDERGROUND A
ARTE CONCEITUAL

Relendo o modernismo, a obra de Marcel Duchamp, na década de 1950 , já


prenunciava o que se chamaria arte conceitual ao propor seus ready-mades:
protótipos de arte que prometiam mais uma ideia de obra do que a obra em si.
O ready-made Dada teve uma influência marcante no pós-modernismo, com seu
questionamento de autenticidade e originalidade. Combinado com a noção de
apropriação, o pós-modernismo muitas vezes levou o enfraquecimento da
originalidade ao ponto da violação de direitos autorais, mesmo no uso de
fotografias com pouca ou nenhuma alteração ao original.

O mesmo ocorreria com a obra musical “4, 33”, realizada em 1952, pelo
compositor norte-americano de vanguarda John Cage. Tanto Cage, que trabalha
com o acaso, quanto Duchamp que concebe sua obra a partir de objetos
manufaturados, são artistas que já trabalhavam com obras que apenas indiciam
a ideia por trás da obra, o que viria a ser a alma da arte conceitual. Marcel
Duchamp trabalhava com uma forma de fazer artístico onde deslocava objetos
industrializados de sua função original para torna-los peças de museu, a partir
daí emprestar-lhes uma aura de arte. Nesse sentido sua arte é gestual, o que
vale é a assinatura e não o objeto em si, e também conceitual, pois o que vale é
a ideia de arte e não a arte: mas a antiarte.

Duchamp foi o primeiro modernista a criar uma arte de ideias e não de


resultados. Ou melhor, uma antiarte que questionasse o próprio papel dos
museus, papel do artista e o fazer da arte. Sua Roda de Bicicleta, por exemplo,
destrói os parâmetros tradicionais da arte, pois o material proposto é algo
inusitado, banal, desprovido de ego ou fetiche. No caso o que vale, como já
afirmamos, é a assinatura e nunca o objeto arte.

Estes seriam os caminhos da chamada arte conceitual, uma práxis de arte


que valoriza mais a ideia de obra do que a própria obra, que muitas vezes sequer
existe. Isto de fato é algo muito novo na história da arte: uma expressão estética
onde o que vale é a interação entre publico e obra; exposições artísticas onde
não há uma definição muito clara sobre o objeto exposto e sim uma intenção,

44
uma provocação pública capaz de suscitar diferentes interpretações de
conceitos, ideias, denuncias, críticas, participações.

O nome Arte Conceitual surgiu pela primeira vez em 1961 com o grupo
Fluxus, formado por artistas que trabalhava com fotografia, textos, vídeos,
instalações, performances, e experiências sonoras e musicais O Fluxos tinha
como ambição promover uma interação entre observador e obra onde até o
espaço físico da exposição fizesse parte dos novos conceitos propostos. Na
Arte Conceitual até o ambiente de exposição, se na rua, num museu ou em
espaços inusitados como hospitais, cadeias públicas etc. são parte do fenômeno
estético.

A obra do Fluxos, por exemplo, tinham a intenção de provocar reflexões


sobre a violência urbana; o consumo, a ecologia. Eram feitas com a intenção de
forçar a interação entre público e arte para que o fenômeno estético ocorresse.
Suas obras tinham uma definição pouco clara sobre arte. De qualquer forma
existiam para suscitar uma participação capaz de permitir diferentes
interpretações de conceitos, ideias, denuncias críticas, etc. Preocupações estas
muito comuns não só na Arte Conceitual, mas em toda arte contemporânea da
qual ela se integra.

Os Fluxos foi um dos movimentos mais importantes da arte conceitual e


da história da Arte Contemporânea. Existiu de 1967 a 1978 e sua influência
sobre os caminhos da arte e sobre outros artistas da atualidade são muito
grandes. Os principais artistas dos Fluxos eram de fato talentosos; tornaram-se
muito famosos e são referencia estética até hoje, neste novo século. Alguns dos
principais nomes dos Fluxos são: A artista conceitual Americana Barbara Kroger;
e o artista conceitual alemão Joseph Beuys; o pintor, escultor e artista gráfico
americano Jasper Johns, o artista plástico brasileiro Paulo Bruscky, o pintor e
artista plástico norte-americano de estilo hiperrealista em suas famosas pinturas,
Richard Estes entre outros. O músico erudito de vanguarda John Cage também
integrou o grupo Fluxus.

Ao lado de toda essa movimentação da Arte Conceitual dos Fluxos ocorria a


chamada Contra Cultura que deflagra toda a importante arte underground dos
anos 1960, que trouxe nomes no cenário musical pop contemporâneo como

45
Janes Joplin, Jimmy Hendrix e os Beatles. No Brasil a Contra Cultura ocorreu
com o fenômeno Tropicalista desencadeado pelo diretor teatral José Celso
Martinez Correa e o Grupo Oficina em 1968, com a montagem da peça “O Rei
da Vela”, de Oswald de Andrade e se desenvolveu intensamente na música
popular brasileira encabeçado por Gilberto Gil e Caetano Veloso, sendo
engrossado pelo artista plástico neoconcretista Hélio Oiticica.

Nesse rico período histórico da cultura brasileira e internacional ocorreu


ainda no Brasil o chamado Cinema Novo: um Movimento cinematográfico
importantíssimo encabeçado pelo baiano Glauber Rocha e que teve como
precursor o cineasta carioca Nelson Pereira dos Santos. O underground
brasileiro foi um fenômeno político e comportamental que se deu não só na
música e no teatro tropicalista, mas também no cinema de Júlio Bressane e de
Rogério Sganzerla, nas artes plásticas representadas por José Roberto Aguilar
e na literatura com José Agrippino de Paula e Jorge Mautner principalmente,
estendendo-se por todos os anos 1970, com a volta de Gilberto Gil e Caetano
Veloso do exílio em 1972.

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16. A ARTE CONCEITUAL

A arte conceitual é um movimento que preza as ideias acima de todos os


componentes formais ou visuais das obras de arte. Como um amálgama de
várias tendências, em vez de um movimento fortemente coeso, o
Conceptualismo assumiu inúmeras formas, como performances, acontecimentos
e apresentações e manifestações efêmeras. De meados da década de 1960 até
meados da década de 1970, os artistas conceituais produziram obras e escritos
que rejeitavam completamente as ideias-padrão de arte. Sua principal
reivindicação – que a articulação de uma ideia artística é suficiente como uma
obra de arte – implicava que preocupações como estética, expressão artística,
habilidade e mercantilização eram padrões irrelevantes pelos quais a arte era
geralmente julgada até então.

Como já observamos um dos precedentes mais importantes para a arte


conceitual foi o trabalho do artista Dada Marcel Duchamp, que do início do século
XX até meados desse período, estabeleceu a ideia de "Readymade" – um objeto
qualquer encontrado que é simplesmente nomeado ou escolhido pelo artista
para ser uma obra de arte, sem adaptações a esse objeto além de uma
assinatura. O primeiro e mais famoso readymade foi “Fountain” de 1917, que
nada mais era do que um mictório de porcelana, reorientado em noventa graus,
colocado em um suporte e assinado e datado sob o codinome "R. Mutt".

Duchamp descreveu seus ready-mades como "anti-retinianos" (que não


eram feitos para agradar a vista) e descartou a concepção popular de que as
obras de arte precisam demonstrar habilidade artística. Nos anos 1950, muito
depois de vários de seus ready-mades originais terem sido perdidos, Duchamp
reeditou Fountaine outros ready-mades para a Sidney Janis Gallery, em Nova
York (LIPPARD, 1976). Esse ato provocou um ressurgimento de interesse em
seu trabalho, que não só trouxe a emergência do movimento intitulado de Neo-
Dada, liderado por John Cage, Robert Rauschenberg e Jasper Johns, e
posteriormente por Andy Warhol, mas também reacendeu um interesse
generalizado na arte baseada em ideias em todo o mundo da arte
contemporânea.

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A arte conceitual, tão drasticamente simplificada, pode parecer a muitas
pessoas que o que se considera arte conceitual não é de fato "arte", por isso as
pinturas de Jackson Pollock (pintura por gotejamento) e a obra “Brillo Boxes” de
Andy Warhol, de 1964, pareciam contradizer tudo o que anteriormente havia se
pensado como arte (Fig. 10).

Fig. 10. À direita: “Brillo Boxes” (1964) de Andy Warhol. Fonte da imagem:
https://culturacolectiva.com/arte/las-47-obras-mas-importantes-en-la-historia-del-arte/
(acesso: 15/05/2018). À esquerda, pintura (por gotejamento) “Number 16” (1949) de
Jackson Pollock. Fonte da imagem: https://br.pinterest.com/pin/266345765440976563/
(acesso: 15/05/2018).

É importante entender a arte conceitual em uma sucessão de movimentos


de vanguarda (cubismo, dada, expressionismo abstrato, pop art etc.) que
conseguiram expandir conscientemente os limites da arte. Conceptualistas
colocam-se no extremo desta tradição de vanguarda. Na verdade, é irrelevante
se esse tipo de arte extremamente intelectual coincide com as visões pessoais
do que a arte deveria ser, porque permanece o fato de que os artistas conceituais
redefinem com sucesso o conceito de obra de arte na medida em que seus
esforços são amplamente aceitos como arte por colecionadores, galeristas e
curadores de museus.

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17. NOVOS MEIOS E NOVAS LINGUAGENS: MEDIAN ART OU ARTE MÍDIA

Um dos aspectos mais importantes da arte contemporânea foi o surgimento


de uma nova forma de expressão artística ligada aos chamados multimeios.
Trata-se do mais moderno conceito de arte da atualidade que são as Artes da
Mídia ou Arte Mídia; uma expressão cunhada pelos ingleses como “Medin Art.”.
Essa foi a primeira grande expressão artística onde a consciência da arte
contemporânea se constituiu de forma clara.

Os novos artistas conseguiram, a partir do uso das novas tecnologias da


mídia, revolucionar a conservadora produção industrial de estímulos agradáveis
desses meios de entretenimento, destruindo com irreverência todas as formas
cristalizadas de um modelo econômico baseado na comunicação de massa,
adotando uma poderosa forma de criticá-los de maneira contundente.

Esses artistas contemporâneos apropriam-se de recursos tecnológicos das


mídias e da indústria do entretenimento para usa-los como forma de expressão.
Criam suas obras a partir, por exemplo, da intervenção em canais de TV para
propor alternativas de maior qualidade do que as existentes para as artes
tecnológicas. Usam recursos da holografia, do vídeo, da computação entre
outras, numa construção consequente de obras de altíssima qualidade e
expressão. Se a arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo, esses
artistas vivem o nosso tempo.

Se a arte renascentista se valia das tintas a óleo, da perspectiva central e


da reprodução mais que perfeita da natureza humana, com a fotografia novas
formas de expressão artística surgiriam. A pintura realista foi substituída pela
pintura abstrata. A fotografia ganhou movimento, tornando-se cinema e a arte
abstrata foi caminhando para a arte conceitual. A partir de fontes inusitadas
saídas dos aplicativos explicitamente destinados às criações eletrônicas do dia
a dia, como a computação gráfica, hipermídia e vídeo digital os artistas plásticos
começaram a desenvolver sua arte. Foram em busca de novos materiais
estéticos oferecidos pelas mídias e não há duvida que pelo menos por um longo
período - que vai de meados do século XX para o século XXI - as artes

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tecnológicas representam um avanço de expressão da criação artística dos
novos tempos.

Analisando toda essa evolução, que pede novas formas de expressão e a


disruptura do antigo, fica fácil entender por que Marcel Duchamp com seus
ready-mades foi o precursor de tudo isso. Sua Mona Lisa de Bigodes quebrando
a aura sacra da arte renascentista mostrou que os tempos são outros. O mictório
colocado no museu, com o título “Fonte”, quebrou a mítica do valor da arte no
Museu, apontando para novos espaços arquitetônicos e novos suportes para a
arte. Ducham mostrou com ironia amarga que mesmo os objetos cotidianos mais
banais podiam ser valorizados de forma diferente, se assinados e postos em
exposição.

A Arte mídia segue a lógica das novas possibilidades de expressão. O termo


é usado com frequência, mas existem diferenças de opinião sobre sua definição
precisa. Um meio é um canal pelo qual se comunica uma mensagem, o veículo
que leva a mensagem. Assim, se considerarmos o termo “arte da mídia”
literalmente, toda arte é arte da mídia. Afinal, cada obra de arte deve ter um
veículo, como um pedaço de papel, um bloco de mármore ou uma fita de vídeo.
Mesmo que o artista tenha uma ideia, e que deseje ver isso como uma obra de
arte, ele deve comunicar isso ao seu público de uma forma ou de outra, antes
que o público possa reconhecê-lo como um trabalho de arte. Portanto, a
definição literal de Arte Mídia não é muito útil.

Mas, o termo Arte Mídia é, no entanto, também usado para indicar um certo
grupo de obras de arte contemporâneas. Em geral, o termo arte da mídia é
entendido como aplicável a todas as formas de obras de arte criadas pela
gravação de imagens sonoras ou visuais. Um trabalho de arte relacionado a
esses formatos e meios é um trabalho que muda e se “move”, em contraste com
formas de arte mais antigas que são estáticas, que ficam paradas, como
pinturas, fotografias e a maioria das esculturas. Obras de arte relacionadas a
arte da mídia incluem trabalhos nas áreas de som, vídeo e arte de computador,
tanto instalações e projetos de internet, quanto trabalhos de canal único.
Trabalhos de canal único são trabalhos de vídeo exibidos por projeção ou em
uma tela de monitor (Fig. 11).

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Fig. 11. Um exemplo de Vídeo Arte: Instalação de Nam June Paik – “Supervia
Eletrônica” –. Usando cinquenta e uma instalações de vídeo de canal aberto, incluindo
uma alimentação de circuito fechado, incluindo som, iluminação, neon, aço e madeira.
Fonte da imagem: https://americanart.si.edu/artwork/electronic-superhighway-
continental-us-alaska-hawaii-71478 (acesso: 16/05/2018).

Artemídia corresponde ao uso de todos meios de comunicação de massa


surgidos a partir de ferramentas analógicas ou digitais que possam transmitir
toda forma de comunicação multiplicadora, como textos, imagens e áudios para
uma multidão (massa humana). Os meios mais conhecidos são os livros, jornais,
revistas, outdoors, quadrinhos, rádio, cinema, televisão, internet e redes sociais
distribuídos pelo mundo. São uma forma complexa de comunicação humana que
implica numa extensa rede de troca de informações de toda espécie pelo
planeta. E se nos primórdios do livro era algo ainda fácil de localizar, hoje sua
extensão é muito ampla. Uma das formas mais expressivas da Arte Mídia é a
Vídeo Arte.

A Vídeo Arte ou Arte do Vídeo é considerada uma das grandes artes


conceituais do século XX e XXI. Trata-se de uma expressão artística urbana,
crítica e corrosiva na medida em que tenta discutir aspectos da comunicação das
sociedades industriais, o fazer eletrônico de arte e as novas mídias apontando

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além das qualidades seus aspectos altamente negativos. Trata-se ainda de uma
dialética reflexão sobre a Televisão e seu papel político e ideológico impositivo
na sociedade de consumo e da cultura de massa. É uma expressão artística
cultural que ensina seu público a desconfiar das mídias e enxergar, de forma
crítica, os aspectos negativos da chamada Indústria Cultural.

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18. TEATRO, PERFORMANCE E HAPPENING

O que começou como um desafio para a categoria de arte iniciada pelos


futuristas e dadaístas nas décadas de 1910 e 1920, surgiu com os movimentos
artísticos contemporâneos de performance, uma expressão artística chamada
de Happening (acontecimentos ao vivo e em continuidade). Os acontecimentos
propostos pelo Happening envolviam mais do que a observação imparcial do
espectador; o artista envolvido com essa forma de arte exigia que o espectador
participasse ativamente de cada peça. Não havia um estilo definido ou
consistente para Happenings, já que eles variavam muito em tamanho e
complexidade. No entanto, todos os artistas encenando Happenings operaram
com a crença fundamental de que a arte poderia ser trazida para o reino da vida
cotidiana. Essa virada para o desempenho foi uma reação contra o domínio de
longa data da estética técnica do Expressionismo Abstrato e foi uma nova forma
de arte que surgiu das mudanças sociais ocorridas nas décadas de 1950 e 1960.

No Brasil, um dos pioneiros da arte que propõe a participação do público foi o


Teatro de Vanguarda Brasileiro, da década de 1950. Um dos mais expressivos
é o Teatro Oficina. Ele surgiu em 1958, no Centro Acadêmico 11 de Agosto, do
Largo São Francisco e logo se tornou um movimento que se propunha a fazer
um novo teatro, distante tanto do aburguesamento do Teatro Brasileiro de
Comédia - TBC quanto do realismo socialismo do Teatro de Arena. Inspirado
pelas ideias existencialistas de Sartre e Camus, o Oficina monta, a partir de
1959, diversas peças em regime amador. Um de seus participantes é José Celso
Martinez que se tornou um dos principais nomes do grupo e arregimenta as
produções da Oficina até hoje. Uma das peças mais famosas montadas e
encenadas pelo Teatro de Oficina foi o Rei da Vela (Fig. 12)

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Fig. 12. “O Rei da Vela” – Montagem da peça de Oswald de Andrade nos anos 1960,
que retrata as relações de poder entre as classes sociais no Brasil. Marco do Teatro
Brasileiro de Vanguarda e uma das mais importantes encenações do Oficina. Fonte da
imagem: http://issocompensa.com/teatro/rei-da-vela (acesso: 16/05/2018).

Em 1970 a Oficina se deixa influenciar pelo grupo performático americano


Living Teathre, que apregoava entre outras coisas o fim da separação entre
plateia e público. Ainda assim e apesar da radicalidade cênica de seus
espetáculos, a Oficina nunca chegou a fazer Performances e nem Happening -
ações típicas do teatro contemporâneo e também das artes do corpo ligadas às
artes plásticas e as artes eletrônicas do chamado pós-modernismo. Mesmo sem
esses componentes em suas produções, ainda hoje o Teatro Oficina é um dos
grupos de vanguarda mais radicais e atuantes da cena brasileira.

O LIVING THEATRE foi fundado em Nova York pela atriz Judith Malina e
seu marido Julian Beck, pintor, poeta, cenógrafo e diretor. Existe desde 1947,
sendo hoje uma das mais antigas companhias de teatro experimental norte
americano. O auge de suas atuações foi na década de 1960 e 1970.
Caracterizou-se por ser um grupo performático e de espetáculo Intervenção que
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pregava o fim das fronteiras entre palco e plateia, das fronteiras entre arte e vida,
e atores e público. Por isso seu público era levado a participar ativamente na
cena de seus famosos e provocativos espetáculos.

Marina Abramović é uma das mais importantes artistas performáticas e


de Arte Conceitual da atualidade. Nasceu em Belgrado, na Servia, em 30 de
novembro de 1946. Sua carreira começou no inicio dos anos 1970. Seu próprio
corpo é o suporte de sua arte e por isso em suas performances radicais, onde o
expor-se é total, algumas vezes já colocou a sua própria vida em risco, pois seu
tema recorrente vem da interação entre plateia e os limites do corpo e da mente,
pois a artista atua nos limites da mente humana. Os elementos-chave do
Happening são:

 O envolvimento do espectador. Em cada ocorrência proposta, o


espectador é usado para adicionar um elemento-chance, de tal modo que,
toda vez que uma peça é executada ou exibida, ela nunca será a mesma
que a anterior. Ao contrário de obras de arte precedentes que eram, por
definição, estáticas, os acontecimentos no Happening podem evoluir e
fornecer um encontro único para cada indivíduo que participe da
experiência.
 O conceito do efêmero. Esse conceito é importante para os Happenings,
pois o desempenho é uma experiência temporária e, como tal, não pôde
ser exibida em um museu no sentido tradicional. Os únicos artefatos
remanescentes dos acontecimentos originais são fotografias e histórias
orais. Este foi um desafio para a arte que anteriormente havia sido
definida pelo próprio objeto de arte. A arte era agora definida pela ação,
atividade, ocasião e/ou experiência que constituí o acontecimento, que é
fundamentalmente passageiro e imaterial.

 Não convencional. O objetivo do Happening é confrontar e desmontar


visões convencionais da categoria de arte. Essas performances foram tão
influentes para o mundo da arte que levantaram a discussão da morte da
pintura.

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19. ARTE ABJETA OU BRUT ART E INSTALAÇÕES

Na Arte Contemporânea, a Arte Abjeta que surge na década de 1980 está


entre as artes de transgressão mais singulares da atualidade, na medida em que
lida com o desprezível como elemento de criação: trabalha com materiais que
causam repulsa relacionada principalmente ao corpo humano e suas funções
fisiológicas com fezes, escarros, sangramentos e decomposições de toda
ordem. Trabalha com o que é considerado impuro e que por isso deveria estar
fora do universo estético da arte. Seus principais artistas são a pintora Francesa
Louise Bourgeois; o escultor americano Robert Gober e a fotografa americana
nascida em New Jersey Cindy Sherman. Essa arte foi conceituada nos anos
1980 sob o ponto de vista psicológico, linguístico e filosófico por Julia Kristeva
em seu trabalho intitulado “Poderes do Horror.”. (CHILVERS, 2015).

A Brut Art ou Arte Bruta foi cunhada assim por Jean Dubuffet, em 1945 para
retratar toda arte de vanguarda livre de estilos ou de imposições mercadológicas.
Feita por artistas autodidatas, que desenvolvem suas obras de forma crua e sem
influencias da arte erudita ou popular, mas que surge como fruto de motivações
intrínsecas. Ações internas da mente ou do espírito. Seus criadores estão fora
do circuito comercial das artes e dos meios artísticos vigentes e muito desses
trabalhos vem de produções feitas por internos dos hospitais psiquiátricos que
realizam suas obras com materiais e técnicas inéditas dentro do universo
tradicional das artes.

No Brasil um dos maiores representantes desse tipo de criação é o


singularíssimo e brilhante artista plástico Arthur Bispo do Rosário. O sergipano
de Japaratuba nasceu em 1909 e veio a falecer em 1989 num hospício de
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro deixando uma obra imensa e toda ela muito
surpreendente.

Suas peças de vanguarda elaboradas na década de 1960 são feitas de


sucata e restos de materiais domésticos que recolhia, como linhas, madeira,
louças quebradas etc. Bispo do Rosário criou faixas, estandartes e um manto
que deu o nome de “Manto da Apresentação”, que Bispo deveria vestir no dia do
juízo final e deixar como marco da passagem de Deus na Terra. Misturavam em

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suas peças detalhistas desenhos e palavras fragmentadas, restos de discursos
e códigos misteriosos que ele próprio inventou (Fig. 13).

Fig. 13. Obra de Arthur Bispo do Rosário, usando madeira, plástico e tecido. Acervo do
Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
(Rio de Janeiro, RJ). Fonte da imagem e das informações:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra25217/vinte-e-um-veleiros (acesso: 16/05/2018).

A INSTALAÇÃO é outra das mais proliferam manifestações da arte


contemporânea ligadas às Artes Visuais, que surge a partir dos anos 1960. É
uma variante do vídeo arte, feita com elementos na sua maioria industrial ou
midiática num ambiente específico. Faz parte das chamadas Artes Conceituais,
pois trabalha com o universo das ideias e conceitos por trás da obra. O
multimídia Wolf Vostell – um dos criadores do Grupo Fluxos – foi um dos artistas
mais prolíferos dessa arte. Pioneiro desse tipo de criação, que surge por volta
de 1954, a partir de suas famosas colagens - as chamadas “decola/ages” - feitas
a partir de Happenings com o uso de televisores. Criou um intenso debate com
o coreano June Paik, debatendo com este os caminhos da arte eletrônica e
estourou publicamente em 1963 com seu vídeo chamado “Sun in hour Heads”
de 1963, acompanhado de uma Instalação composta por um conjunto de
aparelhos de TV que se denominava “6 TV Dé-cool/age” (Fig. 14).

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Fig. 14. Instalação de Wolf Vostell (14 de outubro de 1932 - 3 de abril de 1998). Vostell
foi considerado um dos primeiros a adotar arte de Vídeo Arte e instalação e pioneiro na
arte do Happening. Nesta obra ele incorporou objetos em concreto e o uso de aparelhos
de televisão (CHILVERS, 2015). Fonte da imagem: https://theartstack.com/artist/wolf-
vostell/endogene-depression (acesso: 16/05/2018).

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CONCLUSÃO

Hoje o termo conceitual se banalizou; tem críticos, por exemplo, que


chamam de arte conceitual toda forma de excentricidade surgida na arte atual.
Pensa-se no pós-modernismo como algo novo e excepcional, mas na verdade
tudo que se inventou na arte contemporânea dos idos 1950 aos dias de hoje,
deste novo século XXI, ainda são desdobramentos do Modernismo.

Podemos considerar que a grande novidade estética surgida dos anos 1960
para nossos dias vem da chamada Indústria Cultural e de seus meios. A saber:
Fotografia, Cinema, Rádio e Televisão. Devemos considerar que se ainda nos
anos 1950, e principalmente em função da Escola de Frankfurt e de intelectuais
como Adorno e Benjamin, todas as manifestações da Indústria Cultural e da
Cultura de Massa foram vistas com muitas restrições e críticas corrosivas, nos
anos 1970 passou-se a construir uma imagem respeitosa da mesma.

E isto já acontece de forma desconcertante na Pop Art e mesmo nas ações


e trabalhos de seu principal guru; o artista plástico americano Andy Warrol. Este,
por exemplo, ao mesmo tempo em que deixa visível em muitas de suas atuações
certo desprezo e horror pela Cultura de Massa, por outro lado e
contraditoriamente também tece verdadeiras homenagens às expressões
surgidas a partir nela.

E se a Pop Art se apoia no Dada, principalmente de Marcel Duchamp e de


seus ready-mades; por outro lado, enquanto Duchamp fazia seus trabalhos para
chocar, como por exemplo, colocar uma privada no museu, intitulada “A Fonte”;
a Pop Arte por sua vez acaba agradando seu público com suas manifestações,
mesmo quando a intenção original ambiguamente pareça outra. Ser da Pop Arte
é gostar das coisas e nisso seus artistas diferem dos primeiros dadaístas ao
homenagear a Indústria Cultural.

Por isso, principalmente ao colocar um quadro de Sopa Campbell num


importante Museu ou empilhar cacarecos nas salas da Bienal, ao invés de causar
repulsa, a Pop Art comove. Isso de fato é o que se pode chamar de pós-
modernismo e arte de citação. Diferentemente dos dadaístas, que eram
corrosivos e niilistas diante de todo e qualquer progresso tecnológico, os New

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Dadas - e nisso a Pop Art se inclui esplendidamente – gostam do mundo urbano
da tecnização e da industrialização. Amam os objetos de consumo da civilização
moderna. Os artistas da Pop Arte, ao mesmo tempo em que parecem estar
sendo críticos, ambiguamente estão fazendo apologias desses mesmos objetos.
São felizes; não querem destruir ou desacreditar da civilização. Pelo menos é
dessa forma que o público recebe seus trabalhos, com alegria e aceitação, nunca
surpreendidos ou ofendidos com o que ali está exposto.

Um livro fundamental para se ler sobre pós-modernismo e atualidade, e que


explica muito bem todo esse conceito de pós-moderno, foi escrito pelo crítico
literário Frederic Jameson (2007) “Pós-modernismo: A Lógica Cultural do
Capitalismo Tardio”, sendo ele na verdade um dos inventores desse conceito,
localizando-o como uma Era e não algo apenas situado em alguns aspectos da
modernidade, como a arquitetura, por exemplo. Para o escritor, uma das marcas
da era pós-moderna é o fragmentário, que acaba dando margem às teorias da
conspiração, pois o “eu” não é coeso, mas o ser humano quer ver coesão
onde não há.

São várias as características da era pós-moderna. Uma delas seria a


Intertextualidade. Para o autor vivemos intensamente um momento de
Intertextualidade; acreditamos no fim da História e por isso proclamamos o
presente absoluto e temos uma leitura mais indulgente da Indústria Cultural. No
pós-moderno se incorpora o kitsch (algo de mau gosto) como algo bom já na
estrutura das obras. A importância que a Antiarte e o Ready-made assumem no
mundo pós-moderno é muito grande. A partir desses conceitos a arte já não
precisa se preocupar com inovação permanente. Pode ser inclusive
tradicionalista. Um exemplo exemplar desse conceito de arte se dá no
Hiperrealismo, que chega a criar figuras humanas gigantescas com silicone que
se assemelham a seres vivos, parecem reais.

O pós-modernismo se opõe ao modernismo na medida em que, ao


acreditar no presente absoluto, ele apregoa a antiutopia. Não acredita como os
modernistas na criação de um novo mundo, por isso mesmo o ensaísta e poeta
brasileiro Haroldo de Campos propõe em seus ensaios que se substitua o termo
pós-moderno para definir nossa Era pelo termo “Pós-Utópico”, e a utopia foi a

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grande característica dos modernistas. Eles queriam mudar o mundo e
acreditavam em Utopias.

De fato a arte no Pós Modernismo não esta voltada para o futuro. Talvez
por isso que ela beba da Indústria Cultural. A Pop Art foi à primeira arte a chocar
os cultos. Os eruditos achavam aquilo uma aberração, mas o público sempre
gostou. Os ready-mades para Duchamp eram para chocar o público. Seus
objetos eram o fim de uma narrativa. Ninguém esperava aqueles objetos
colocados nos Museus. O pós-moderno ao contrário faz uma apologia do objeto.
Os objetos corriqueiros colocados no museu para os pós- modernos não
parecem inconsequentes ou estranhos ao local. Mas se tornam um gênero da
antiarte curiosamente aceito. E esse é nosso tempo! .

O comunicólogo Umberto Eco divide os seres humanos em apocalípticos e


em Integrados. A arte Contemporânea hoje vive um hibrido desses dois modos
de ver e de ser. Tanto é apocalíptica quanto integrada, e isso sem prejuízo
nenhum senão para que pensemos num mundo sem arte, ou num mundo que
abandonou a grande arte.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo, Martins Fontes, 2015.

FONSECA, Cristina. Juó Barnaberi. O abuso em Blague. São Paulo, Editora 34,
1977.

LIPPARD, Lucy R. A Arte Pop. São Paulo Edusp. 1976.

NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo, Loyola, 2016.

JAMESON, Frederic. Pós-modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio.


São Paulo, Ática, 2007.

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