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Liberalismo e conservadorismo: entre Edmund Burke e Friedrich Hayek

Artigo publicado no Lado Direito, N.º 4, Dezembro de 2011

Liberalismo e conservadorismo são duas das mais importantes correntes


da teoria política, cujos pontos em comum, pese embora algumas
divergências, são de salientar. Para este propósito, nada melhor do que
analisar Edmund Burke, o chamado pai do conservadorismo, e Friedrich
Hayek, um dos mais importantes liberais do século XX, que em muito se
inspirou em Burke. Aliás, mais do que catalogar os autores de acordo
com categorias por nós atribuídas a posteriori, importa realmente
estudar as ideias destes, já que os pontos coincidentes são muitos.

Burke e Hayek subscrevem a mesma filosofia política, havendo uma


partilha de valores comuns. Embora existam diferenças entre alguns dos
seus pontos de vista, partilham “visões similares quanto à natureza da
sociedade, o papel da razão na conduta humana e as tarefas do governo,
bem como, até certo ponto, quanto à natureza das regras morais e
legais”(1). As parcas diferenças parecem ficar a dever-se ao credo
religioso, sendo Burke um seguidor do cristianismo e Hayek um
agnóstico.

De certa forma, Hayek tentou completar o pensamento de Burke com


uma base científica, para além da espiritual, o que fica patente no
entendimento hayekiano quanto à natureza da sociedade que, tal como
o entendimento de Burke, deriva das ideias dos iluministas escoceses
que contribuíram para desenvolver a doutrina Whig (partido político
britânico de que Burke foi a figura maior). Para Adam Ferguson, David
Hume e Adam Smith, a sociedade e as suas instituições são o resultado
de um processo de crescimento cumulativo em que a ordem social é um
produto da interação entre instituições, hábitos, costumes, lei e forças
sociais impessoais. Tanto Burke como Hayek possuíam uma visão
idêntica, de que as instituições sociais são o produto de um complexo
processo histórico, caracterizado pela experimentação, ou seja, por
tentativa e erro. Para ambos, as condições para que uma sociedade
floresça consubstanciam-se no necessário respeito e compreensão pelas
forças que mantêm a ordem social, que não deve ser alvo de
manipulação e controlo por parte de teorias que pretendam acabar com
ela, sendo o desejo de apagar o que existe e desenhar a sociedade de
novo apenas a demonstração de uma profunda ignorância quanto à
natureza da realidade social. Esta mesma acepção inspira a forma como
encaram o papel da razão, considerando que a civilização não é uma
criação resultante de uma construção racional, mas o imprevisto e não
intencionalmente pretendido resultado da interação espontânea de
várias mentes numa matriz de valores, crenças e tradições não racionais
ou supra racionais, o que não significa que o liberalismo e
conservadorismo sejam irracionais, mas apenas que não o são no
sentido cartesiano, socialista, preferindo reconhecer limites ao poder da
razão humana e considerando o “homem não como um ser altamente
racional e inteligente mas sim muito irracional e falível, cujos erros
individuais são corrigidos apenas no decurso do processo social”(2).

Este ponto de partida perpassa os edifícios teóricos burkeano e


hayekiano no que à política e à economia diz respeito. Ambos são
defensores do mercado livre e objetores à manipulação por parte do
governo dos processos do mercado, dado que viola as regras e princípios
do comércio livre, sendo, por isso, uma intervenção arbitrária corrosiva
da liberdade e da justiça.

No que à já referida divergência concerne, se no entendimento de Burke


a sociedade civil fundamenta-se no cristianismo e, logo, também o
estado, instituição sagrada providenciada pela Vontade Divina, Hayek,
por seu lado, sendo agnóstico, não partilhava da mesma acepção por
temer a antropomorfização da Vontade Divina, em que uma particular
vontade humana – ou várias – ficaria a dirigir o curso da vida social,
inspirando esforços equivocados para controlar o processo social
espontâneo através da direção consciente.

Esta divergência, contudo, não constitui obstáculo a uma defesa da


tradição e do mercado, que ambos realizam, inclusivamente em termos
morais. Em Hayek encontramos a defesa da tradição, do costume e de
uma moralidade baseada no senso comum, de índole prática, como
aponta Roger Scruton. Este filósofo conservador britânico assinala que
Hayek encara o mercado livre como sendo parte de uma ordem
espontânea alargada, fundada na livre troca de bens, ideias e interesses
– o jogo da cataláxia, na terminologia hayekiana. Este jogo acontece ao
longo do tempo e para além dos vivos tem nos mortos e nos ainda por
nascer os restantes jogadores, como Burke também havia afirmado, que
se manifestam através das tradições, instituições e leis. A assertividade
dos argumentos apresentados por Scruton quanto à compatibilidade
entre a tradição, a moral e o mercado é por de mais evidente: “Aqueles

que acreditam que a ordem social exige restrições ao


mercado estão certos. Mas numa verdadeira ordem
espontânea as restrições já lá estão, sob a forma de
costumes, leis e princípios morais. Se essas coisas boas
decaem, então de forma alguma, de acordo com Hayek,
pode a legislação substituí-las, pois elas surgem
espontaneamente ou não surgem de todo, e a imposição
de éditos legislativos para a “boa sociedade” destrói o
que resta da sabedoria acumulada que torna tal
sociedade possível. Não é, por isso, surpreendente que
pensadores conservadores britânicos – notavelmente,
Hume, Smith, Burke e Oakeshott – tendam a não ver
qualquer tensão entre a defesa do mercado livre e uma
visão tradicionalista da ordem social. Eles puseram a
sua fé nos limites espontâneos que o consenso moral da
comunidade coloca ao mercado. Talvez este consenso
esteja agora a quebrar-se. Mas esta quebra resulta, em
parte, da interferência estatal, e é certamente
improvável que venha a ser reparada pela mesma”(3).

Por tudo isto, nada como terminar subscrevendo José Adelino Maltez,
quando este afirma que partilhamos de “uma concepção do mundo e da
vida anti-construtivista, anti-revolucionária e anti-estadista, segundo a
qual não é a história que faz o homem, mas o homem que faz a história,
mesmo sem saber que história vai fazendo.”

1 – Linda C. Raeder, “The Liberalism/Conservatism Of Edmund Burke


and F. A. Hayek: A Critical Comparison”, in Humanitas, Vol. X, N.º 1,
1997. Disponível em http://www.nhinet.org/raeder.htm.
2 – F. A. Hayek, “Individualism: True and False”, in Individualism and
Economic Order,Chicago, The University ofChicago Press, 1996, pp. 8-9.
3 – Roger Scruton, “Hayek and conservatism”, in Edward Feser (ed.), The
Cambridge Companion to Hayek,Cambridge, Cambridge University
Press, 2006, p. 219.
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Principio é uma norma geral que pode ser aplicada indefinidamente sem
levar a contradições.
Liberdade não é principio porque ela não é ilimitada.
Liberdade não pode ser o principio estruturador da sociedade, porque
sociedade pressupõe organização que é antagônico à liberdade.

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