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Seu desempenho como um centroavante goleador que também voltava para buscar
jogo e puxar os marcadores para fora da área, tabelando com os meias, lhe deixou
como um dos mais revolucionários jogadores europeus no início do século
passado.[1]Embora os registros em filme de suas atuações sejam ínfimos, a elegância e
qualidade de seu futebol foram asseguradas pelos jornalistas que o viram em ação. O
jogador, porém, ficaria ainda mais marcado como um herói de resistência ao nazismo,
inspirando diversos mitos reforçados por sua misteriosa morte, embora estudos
modernos tenham desfeito algumas versões romanceadas dessa história.[3]
Sindelar também seria conhecido como "Mozart do futebol" (os amigos o chamavam
pelo diminutivo Motzl)[2]ou "Pelé do Danúbio"[4]Pela seleção austríaca, Sindelar foi o
principal expoente de uma talentosa geração apelidada de Wunderteam. Marcou o
primeiro gol da Áustria na Copa do Mundo FIFA, o que ocorreu na edição de 1934,
onde a equipe terminou em quarto lugar, posição que seria superada apenas uma vez,
na edição de 1954, com um time que contava, dentre outros, com Stojaspal. Também
obteve o único título da seleção, na Copa Internacional, torneio precursor da
Eurocopa; bem como protagonizou as primeiras vitórias austríacas sobre a Inglaterra
e a Escócia, nação que jamais havia sido derrotada por uma seleção de fora das Ilhas
Britânicas - ambas consideravam-se as melhores do mundo e desprezavam a Copa do
Mundo e a Copa Internacional.
Índice
Infância
Hertha Viena
Amateure
Austria Viena
Despontando
A consagração continental
Seleção Austríaca
Uma estrela entre outras
Líder do Wunderteam
Copa do Mundo de 1934
Após a Copa
Estatísticas
Morte e polêmica nazi-empresarial
Legado
Títulos
Austria Viena
Seleção Austríaca
Individual
Referências
Bibliografia
Infância
Matěj Šindelář nasceu no povoado
de Kozlov, situado no distrito de
Jihlava, capital regional da
subregião de Vysočina, nos limites
da região da Morávia e no centro da
atual República Tcheca e na época
pertencente a Áustria-Hungria – em
cuja língua alemã Kozlov chamava-
se Koslau, Jihlava chamava-se Iglau
e Vysočina chamava-se Hochland. O vilarejo de Kozlov, local de nascimento
Quando nasceu, Kozlov tinha cerca de Sindelar.
de setecentos habitantes. O
sobrenome tcheco Šindelář derivava da pronúncia do alemão Schindler, sobrenome
que originalmente designava quem trabalhasse com telhas.[7] Seu pai, Johann
Šindelář, tinha como pai František Šindelář (por sua vez filho de outro Johann
Šindelář com Kateřina Ježek) e tinha como mãe Franziska Ryšavý (filha de Johann
Ryšavý com Kateřina Krátká). Já sua mãe, Marie Švenger, tinha como pai Johann
Švenger (por sua vez filho de outro Johann Švenger com Marie Pollak) e tinha como
mãe Rosalia Krčal (filha de Johann Krčal com Barbara Muheil).[8]
Começou a vida escolar em 1909. Nela, aperfeiçoou o idioma alemão, ainda que a
família continuasse a falar em tcheco em casa – com o alemão usado de modo
rudimentar (Johann, em cartas na Primeira Guerra Mundial, grafava "Vin" ao invés do
que seria correto em alemão, "Wien", quando destinava correspondências à Viena).
Em 1913, ganhou outra irmã, Theresa, falecida já em 1922. Foi na vida escolar que foi
introduzido ao futebol, em oficinas extracurriculares para o esporte ainda
negativamente visto como "da classe operária". Dos dois distritos mais humildes de
Viena, Favoriten e Floridsdorf, é que sairiam mais de um terço dos futebolistas
profissionais das ligas principais da Áustria, de acordo com censo de 1937.[12] Seu
último dia na escola foi na data em que completou 14 anos, em 10 de fevereiro de 1917.
Cumpriu sete dos oito ciclos letivos obrigatórios em meio à Primeira Guerra Mundial,
que fez com que diversos colégios tivessem de se dispor aos militares. Nesse contexto,
a evasão escolar era comum.[13]
Naquele mesmo ano de 1917, em 21 de agosto, o pai Johann faleceu em luta pelo
Exército Austro-Húngaro nas proximidades de Gorizia, na décima primeira Batalha do
Isonzo, sendo enterrado naqueles mesmos arredores, em cemitério que hoje fica na
Eslovênia. Para sustentar sozinha as quatro crianças, a mãe Maria improvisou uma
lavanderia em casa; o filho já vinha alternando atividades nos juvenis do Hertha Viena
com curso técnico cursando para serralheria e, já famoso, sempre mostrou-se grato à
mãe.[14] Curiosamente, outro soldado austro-húngaro da mesma batalha que vitimou
Johann foi Hugo Meisl, futuro técnico de Matthias na seleção austríaca.[15]
Hertha Viena
O próprio Sindelar, em 1932, declararia que começou no Hertha, situado no distrito de
Favoriten, por permissão que as escolas locais davam aos garotos para que
praticassem futebol duas vezes por semana no campo dessa equipe – que, admitida
em 1911 na primeira divisão austríaca, focava precisamente em aperfeiçoar seu estádio
de 15 mil lugares. Após uma exibição em que marcou cinco gols, chamando a atenção
também pelos dribles, Sindelar foi então convidado por um dirigente de sobrenome
Febus a integrar-se oficialmente aos juvenis do clube, ingressando oficialmente em 26
de maio de 1918. Na época, apesar da estrutura do Hertha ser elogiada, sua situação
esportiva estava crítica, normalmente sempre nos últimos lugares do campeonato
austríaco; como os rebaixamentos estavam suspensos em função da Primeira Guerra
Mundial, o time permanecia na elite. A chegada de Sindelar veio justamente em um
momento de reação dos dirigentes do Hertha aos resultados ruins, vendo uma solução
em reforçar as categorias de base com a prospecção de jovens talentos que sabiam
existir pelo distrito.[16]
Sob essa nova política, o clube não tardou a melhorar seus resultados, conseguindo na
temporada 1920–21 a mais alta posição de sua história, um quinto lugar. Sindelar
estreou no time adulto na temporada seguinte, em visita ao Wacker pela sexta rodada,
em 8 de outubro de 1921. A escalação foi alinhada com Karl Ostricek, Karl Schneider e
Wilhelm Sevcik; Raimund Nowak, Karl Kantner e Johann Listopad; Alois Picha, Josef
Sylvester, Franz Widhalm, Sindelar e Johann Richter, treinados por Rudolf Klika.
Curiosamente, a partida precisou ser jogada em dois dias: uma tempestade forte a
interrompeu após os trinta minutos iniciais, com o jogo em 1–1, sendo o restante
disputado em 21 de janeiro do ano seguinte, ocasião em que Adolf Thimmler começou
jogando no lugar de Sindelar. O Hertha venceu por 3–2. Sindelar atuou ao todo oito
vezes na temporada, que rendeu um sexto lugar. Embora não tenha marcado gols,
continuou visto como promissor.[17]
Para a temporada subsequente, ante um certo desmanche que incluiu o técnico Klika
(substituído por Karl Fink), o Hertha realizou uma excursão preparatória pela
Iugoslávia, Alemanha e Tchecoslováquia, rendendo os primeiros gols de Sindelar. Seu
primeiro gol em jogo oficial, pela liga austríaca, viria por sua vez na segunda rodada da
temporada 1922–23, anotando no fim do primeiro tempo o segundo gol para empatar
partida que o Hertha perdia de 2–0 para o Admira – não se registrou mais detalhes
porque, curiosamente, os repórteres estavam em greve e assim os diários não
circularam. O segundo gol de Sindelar viria em derrota de 4–3 para o poderoso Rapid
Viena. A despeito do resultado ruim em uma campanha irregular do Hertha, que
acumulou apenas o suficiente para não se preocupar com o rebaixamento, nesta
atuação o diário Sport-Tagblatt o descreveu como um jogador de talento. Ele esteve
em todas as partidas do Hertha na liga, marcando ainda um outro gol, em derrota de
3–1 para o Simmeringer.[18]
Por outro lado, Sindelar já atraía críticos que viam um confiança demais nele:
"Sindelar joga em excesso para as câmeras fotográficas", argumentavam estes.[19] O
gol contra o Simmeringer viria a ser o último de Sindelar pelo Hertha. O jogador
também apreciava a natação e, na segunda quinzena de maio de 1923, sofreu um
acidente nessa recreação, em piscina pública situada a quadro quadras de sua casa.
Após tropeçar, Sindelar fraturou os meniscos no joelho direito na queda. Em tempos
de medicina esportiva não tão avançada, a lesão comprometeu-lhe a carreira, além de
render-lhe demissão de seu emprego na Brüder Schafranek, algo significativo em
tempos de futebol ainda oficialmente amador (mesmo que os jogadores já recebessem
clandestinamente alguma ajuda de custo). Em paralelo, mesmo sem ele em campo, o
Hertha conseguiu resultados satisfatórios, fazendo com que os dirigentes voltassem a
focar na ampliação do estádio – ainda que contraindo em contrapartida uma dívida
enorme.[20]
Amateure
Inicialmente, o Amateure adquiriu outros dois membros do Hertha: Max Reiterer e
Karl Schneider. Foram estes que solicitaram ao novo clube que buscasse Sindelar
também. Precisando substituir seu artilheiro húngaro Kálmán Konrád, o Amateure,
treinado por Gustav Lanzer, que havia defendido como jogador o Hertha e conhecia
pessoalmente Sindelar quando este ainda era juvenil, aceitou. Embora as condições
físicas de Sindelar fossem um obstáculo, o mesmo foi ultrapassado quando o vice-
presidente do Amateure, Emanuel Schwarz, que era médico, respaldou a contratação
– avalizada também por Hugo Meisl, um dos agentes envolvidos nas conversações
com o Hertha. O clube formador de Sindelar pedia três mil xelins pela promessa, mas,
ante sua crise interna, precisou aceitar vender por esse preço todo o trio junto.[22]
Duas semanas depois, contra o Hakoah, Sindelar marcou seu primeiro gol no novo
clube, concluindo uma combinação brilhante com Neumann e Alfréd
Schaffer,[23]outro astro húngaro, embora reprovado no meio esportivo por ser um
assumido negociante, visto como mercenário em um esporte que oficialmente ainda
era amador. Schaffer, seu clube de origem MTK, o adversário Hakoah e o próprio
Amateure eram todos vistos como instituições judaicas.[24] Ao fim do primeiro turno,
o Hakoah era o líder, com dois pontos acima do Amateure. Das nove partidas, Sindelar
havia atuado em sete e marcado duas vezes. No segundo turno, ele inicialmente
marcou outros dois gols e sua equipe acumulou invencibilidade de sete jogos, tomando
a liderança – embora o Hakoah, por ter uma partida a menos, ainda dependesse
apenas de si. De fato, o Hakoah terminaria campeão. O Amateure perdeu as chances
de título ainda na antepenúltima rodada, em derrota de 2–1 para o Wiener que
terminou particularmente trágica a Sindelar: ele lesionou-se aos 67 minutos. Não foi
usado nas rodadas finais e perdeu toda a campanha do título da Copa da Áustria.[23]
Austria Viena
Despontando
No dia em que adotou tal nome, o Austria Viena bateu por 6–1 fora de casa o
Floridsdorfer, com três gols de Sindelar, cuja atuação foi equiparada pelo Sport-
Tagblatt com o de "um verdadeiro maestro como diretor de orquestra", e "a essência
de todas as suas ações foram levadas a cabo com um estilo maravilhoso". Em 25 de
dezembro e no dia seguinte, Sindelar e colegas visitaram o Athletic de Bilbao,
ganhando ambas as partidas em dias seguidos, com Sindelar acumulando quatro gols;
em 1 de janeiro, anotou dois diante do Barcelona, embora no dia seguinte o oponente
tenha ganho por 5–0 uma revanche – sobre a qual o jornal La Vanguardia notou que
se Sindelar "se vê cercado estreita e afortunadamente como foi", "as chances da linha
ofensiva diminuem muito". No retorno ao campeonato austríaco, o time ficou apenas
em sétimo, embora pudesse chegar à quarta final seguida na Copa da Áustria – ainda
que derrotado por 3-0 no Dérbi de Viena com o rival Rapid, que assim classificou-se
para a primeira edição da Copa Mitropa. A despeito da temporada irregular do clube,
aquela foi a melhor que Sindelar tivera individualmente até então, com dezoito gols
em 23 jogos no campeonato; três em cinco pela Copa; e, sobretudo, 21 em catorze
amistosos, permitindo ao todo 42 gols em igual quantidade de jogo, além de obter
reconhecimento internacional pelas exibições na Espanha.[27]
Foi por essa época que sobreveio seu apelido de Der Papierene, "O Homem de Papel",
apropriado a quem tinha 1,75 metros e distribuía-os em 74 quilogramas em uma
contextura esguia que, somada à proteção no joelho, lhe davam aparência frágil.[28] O
Austria, por sua vez, desfez-se de muitas figuras para a temporada 1927–28, sobretudo
o artilheiro Gustav Wieser (de 67 gols em 85 jogos) e o goleiro Theodor Lohrmann. O
clube, após não respeitar o teto salarial, estava afundando em dívidas de cem mil
xelins, perdendo também seu técnico Gustav Lanzer após cinco anos de serviços.
Lanzer pedira rescisão e foi substituído por Robert Lang, ex-jogador do clube e que, de
origem judaica, não sobreviveria ao Holocausto. Sindelar, novamente, não fez uma
temporada negativa, convertendo oito gols em 19 jogos no campeonato e outro na
Copa, mas tornando-se líder em campo de um time irregular e criticadíssimo pelo
desempenho medíocre: o Austria teve pontuação mais próxima dos rebaixados do que
do campeão Admira na liga e na Copa caiu no segundo mata-mata. Um episódio
destacado foi a primeira vez que Sindelar, que seguia vivendo em Favoriten, enfrentou
sua ex-equipe do Hertha.[28]
A temporada 1929–30 rendeu um quinto lugar, com ligeira melhora ofensiva, com os
quinze gols de Sindelar em dezoito jogos complementando-se aos dezesseis de Rudolf
Viertl e aos oito de Walter Nausch, que havia retornado. O campeão foi o rival Rapid,
dez pontos à frente, embora derrotado em um clássico histórico: o oponente abriu 3–0
em dezoito minutos, mas ainda no primeiro tempo levou o empate com Sindelar
marcando o terceiro. No segundo tempo, o Rapid anotou o provisório 4–3, logo
revertido pelo Austria: os violetas golearam por 8-4 com Sindelar marcando ainda
outros dois gols. Ele também marcou pela única vez sobre o Hertha, o terceiro em
triunfo de 3–1.[30] Após a temporada de 1929–30, o Austria voltou a visitar o
Barcelona, perdendo por 6–3 no dia de natal. O resultado não impediu que Sindelar,
que marcou o segundo gol austríaco, realizasse "jogadas magistrais" na avaliação do
jornal Mundo Deportivo, que registrou também que ele foi "uma maravilha" na
opinião do árbitro. Na revanche, o Barcelona venceu novamente, por 4–2, apesar de
novo gol de Sindelar - um tiro livre de 25 metros descrito como "uma coisa magna". A
excursão buscava fundos ao clube, que seguia em crise, com Meisl destacando-se como
hábil negociador com credores estrangeiros. O próprio Sindelar só não foi vendido ao
Slavia Praga porque não desejava afastar-se de sua família.[31]
Em meio ao início da Grande Depressão e com o clube à beira da bancarrota, o
presidente Curt Hahn deixou o cargo, que permaneceu vago até 1932.[32] Assim, a
temporada de 1930–31 não foi muito diferente das anteriores; o Austria terminou em
quarto, longe do título da liga, embora fosse bem na Copa - disputada naquela edição
também em formato de liga, mas em turno único. Nela, o Austria terminou um ponto
atrás do campeão Wiener, que no confronto direto já na estreia, embora tenha sofrido
gol de Sindelar, venceu por 3–2. A estrela marcou catorze gols em dezessete jogos no
campeonato e oito em nove na Copa.[31]Marcada pela austeridade no clube, a
temporada seguinte foi razoável no gramado: após um primeiro turno aceitável, o
Austria chegou a ganhar sete partidas em oito, com Sindelar marcando nove vezes
nessa sequência - incluindo quatro dobletes. O clube teve chances de título até a
rodada final, embora tenha terminado em quarto, na melhor campanha desde o título
de 1925-26. Sindelar marcou ao todo quinze vezes em 22 jogos, incluindo um em
clássico com o Rapid.[32]
A consagração continental
Na temporada 1933–34, Sindelar voltou a ter um desempenho superlativo na liga
embora não suficiente para o título no campeonato austríaco; o Austria Viena ficou em
terceiro, após 23 gols em 21 jogos do seu astro, que marcou quatro vezes em três jogos
da Copa da Áustria – onde terminou eliminado nas quartas-de-final pelo Admira (que
venceria os dois troféus). Era o suficiente para que o jogador, desfrutando de um
ótimo relacionamento com o novo presidente do clube, o antigo vice Emanuel
Schwarz, fosse cada vez mais empregado nas mais diversas publicidades em um país
que chegou a vivenciar em fevereiro de 1934 uma guerra civil de quatro dias; Sindelar
também conseguia estabelecer uma pequena rede familiar de comércio, especialmente
com a grande conquista da temporada: um título internacional, na estreia na Copa
Mitropa, ainda em 8 de setembro de 1933. O primeiro mata-mata foi contra o Slavia
Praga, que em casa venceu por 3-1 castigando os tornozelos de Sindelar. Em Viena,
porém, os austríacos superaram a desvantagem ao vencer por 3-0, com Sindelar
marcando, já no segundo tempo, o terceiro diante do astro František Plánička.[35]
No jogo final, Sindelar abriu de pênalti o placar aos 44 minutos. No segundo tempo,
Meazza forneceu uma assistência, mas o gol terminou anulado por impedimento;
pouco depois, teve dois jogadores expulsos. Sindelar, de voleio, ampliou, e o título já
era dado como certo na plateia de 58 mil pessoas, provavelmente o maior público fora
do Reino Unido que uma partida de futebol tivera até então. Aos 38 da segunda etapa,
porém, um cabeceio de Meazza descontou para um resultado que forçaria uma terceira
partida. Contudo, a dois minutos do fim, um cruzamento a esmo do Austria encontrou
Sindelar no horizonte e ele assinalou seu terceiro gol no jogo, no lance visto como o
que marcou a fogo sua carreira de jogador. A conquista também foi vital para a
economia do clube, renovando o interesse dos vienenses nos jogos da temporada
nacional que viria a começar.[35]
A temporada seguinte começou com nova Copa Mitropa sendo iniciada somente duas
semanas depois da Copa do Mundo de 1934. A falta de descanso foi vista como
essencial para o campeão Austria cair no primeiro confronto, com Sindelar chegando a
perder pênalti por cima do travessão contra o Újpest enquanto o ditador nacionalista
Engelbert Dollfuss, contrário a uma unificação com a Alemanha, era assassinado em
plena chancelaria por nazistas locais. No campeonato, Sindelar e colegas tiveram uma
campanha terrível, chegando a ocupar a zona de rebaixamento ao fim do primeiro
turno, rendendo a demissão do treinador Josef Blum – substituído por Jenő Konrád,
ex-jogador do clube aposentado por lesão nos meniscos em 1925 e irmão do ex-
jogador Kálmán Konrád. O novo técnico vinha de um bom trabalho no Nuremberg
vice-campeão alemão para o Bayern Munique, mas era hostilizado por lá por ser judeu
em uma cidade que sediava os congressos nazistas, sendo expulso do clube local
mesmo antes de o país promulgar leis com essa ordem. O húngaro conseguiu evitar o
rebaixamento, com o Austria terminando cinco pontos acima com Sindelar marcando
nove vezes em quinze jogos. Em contraste, o time obteve novo título, na Copa da
Áustria. O craque, mesmo sofrendo com idade elevada e lesões na avaliação do Sport-
Tagblatt, marcou sete gols em quatro jogos, dois deles na vitória de 5–1 na final com o
Wiener, ao fim de uma campanha sem maiores obstáculos; na decisão, os violetas
ganhavam de 4–0 com 25 minutos de jogo. Outro ponto positivo da temporada foi a
chegada de Karl Sesta para a defesa.[37]
Porém, embora o craque tenha marcado outro gol em Budapeste, terminou derrotado
por 6–1. Foi um fim de ciclo a Sindelar, que não participaria mais do torneio, que
ainda representa o troféu internacional mais relevante já vencido pelo Austria. Na
Mitropa, Sindelar totalizou 24 gols em 31 jogos e naquela campanha havia pela
primeira vez marcado gols em todos. No decorrer da temporada, marcou mais nove
gols em quinze jogos na liga, em que o Austria terminou em terceiro. Na Copa, porém,
o time foi eliminado inesperadamente pela surpresa da competição: o campeão
Schwartz-Rot, que pertencia à segunda divisão. Em paralelo, o início de 1938 viu a
anexação da Áustria pela Alemanha Nazista. Na reta final da temporada, o clube
precisou novamente mudar o nome: o Austria Viena virou Ostmark, nome alemão
para a província que o país havia se tornado. Mesmo em fim de carreira, Sindelar
voltou a ser sondado pelo futebol britânico, recusando, porém, a oferta feita pelo
Charlton Athletic. Sua última partida pelo Austria/Ostmark ocorreria ainda em
1938.[41]
Seleção Austríaca
Apesar do ótimo início, Sindelar não se firmou de modo definitivo na seleção; jogou só
quatro das 28 partidas realizadas pela Áustria a partir do ano seguinte. Não
apresentava baixo rendimento,[46] mas na época ainda era visto como uma entre
tantas estrelas disponíveis para o ataque,[47] que faziam o treinador Meisl realizar
diversos testes, sem uma escalação titular, até começar a preferir um centroavante de
características opostas às de Sindelar: Friedrich Gschweidl, alto e potente.[46]Sindelar,
porém, também teria se prejudicado ao discordar abertamente do treinador depois de
uma dura derrota não-oficial de 5–0 em 6 de janeiro de 1929, para um combinado do
Sul da Alemanha, ocasião em que Meisl tentara escalar Gschweidl e Sindelar juntos –
com este improvisado na meia-direita e o concorrente mantido como centroavante.
Além dessa partida não-oficial, Sindelar defendeu a seleção uma única vez entre
outubro de 1928 e maio de 1931. Os bons resultados que a Áustria conseguia mesmo
sem ele também contribuíam para seu afastamento, mesmo com Meisl também
afastando-se da seleção entre 1929 e 1931 para tratar um sério problema de saúde.[47]
Líder do Wunderteam
Uma sequência ruim de duas vitórias em sete
jogos e a pressão de enfrentar uma forte Escócia,
que até a década de 1980 possuía mais vitórias do
que derrotas em seu clássico com a Inglaterra,[48]
e havia sido derrotada só cinco vezes nas 36
partidas anteriores, fez Meisl em 1931 reconvocar
Sindelar e inverter sua posição com a de
Gschweidl, que passou a ser o deslocado à meia-
direita.[47]
O encantamento era tamanho que uma vitória por 3–1 sobre a Suíça foi vista como
insuficiente ao fim de um jogo descrito como tecnicamente pobre, rendendo vaias da
plateia, incluindo sobre Sindelar, embora o resultado colocasse a seleção muito
próxima de seu primeiro (e único) título na Copa Internacional – a conquista seria
confirmada dias depois, quando a concorrente Itália foi derrotada em Praga pela
Tchecoslováquia.[49]A Áustria foi então convidada para enfrentar a Inglaterra, sendo a
terceira seleção de fora das Ilhas Britânicas a ser contemplada com a oportunidade.[52]
Os ingleses desprezavam a Copa do Mundo FIFA e a Copa Internacional,
considerando-se donos do melhor futebol do mundo, adotando a política de convidar
seleções estrangeiras que se destacassem para provarem sua superioridade.[48]Antes
da viagem pelo Expresso do Oriente, Meisl então promoveu uma concentração de
dezoito dias na qual proibia cigarros (regra desrespeitada por Sindelar) e até contato
com familiares, além de passar treinos com bola apenas uma vez na semana: o resto
do tempo foi dedicado a aulas da história do futebol britânico para conscientizar os
austríacos sobre a oportunidade histórica que tinham;[52]em casa, a Inglaterra jamais
havia sido derrotada por uma seleção de fora das ilhas.[48]
A derrota de 4–3 foi considerada honrosa na Áustria, com sua imprensa atribuindo o
resultado a alguma má sorte e vendo sua seleção em pé de igualdade com a Inglaterra.
A própria imprensa britânica reconheceu que o Wunderteam conseguiu o "triunfo
moral", no relato do Daily Mail. Sindelar, que reunia dezessete gols em vinte jogos
pela seleção àquela altura, chegou inclusive a ser sondado por Manchester United e
Arsenal,[52]embora o tratamento de estrela fosse mais proporcionado pela imprensa
do que em autopromoção: sofria timidez e não gostava de ser o centro das atenções.
Seu jogo seguinte pela Áustria foi um 4-0 sobre a França dentro do Parc des Princes,
marcando o primeiro gol naquela que chega a ser considerada como a última exibição
da Áustria como o Wunderteam - ainda que a equipe acumulasse invencibilidade de
doze jogos entre abril de 1933, após derrota para a Tchecoslováquia, e a Copa do
Mundo de 1934.[53]
Essa derrota para a Tchecoslováquia, por 2–1, ocorreu em Viena e a imprensa local foi
impiedosa, falando em "dia negro" e "fim do Wunderteam". A sequência de jogos que
viria rendeu uma gradual reformulação por Meisl em algumas peças. Sindelar foi um
dos remanescentes, tornando-se cada vez mais a referência da seleção, como em
reencontro em Praga contra os tchecoslovacos no qual marcou duas vezes em empate
em 3-3. A seleção mantinha uma invencibilidade, mas já sem encantar como antes. O
próprio Sindelar, após jogar mal em empate com a Escócia, foi criticado publicamente
por Meisl, que declarou que talvez não o chamasse mais. E de fato o craque ausentou-
se de algumas partidas, com Meisl promovendo Josef Bican de titular.[54] Em uma
dessas partidas sem ele, já em 11 de fevereiro de 1934, a Áustria ganhou por 4–2 da
Itália mesmo dentro de Turim, resultado que, ocorrido mesmo na ausência de
Sindelar, fez os italianos intensificarem a preparação à Copa do Mundo de 1934, que
sediariam em breve.[55]
O oponente posterior foi a anfitriã Itália, que havia vencido uma única partida e
perdido oito nos treze jogos que já havia realizado contra a Áustria até então. Porém,
as circunstâncias eram outras, em partida marcada por arbitragem desfavorável aos
visitantes, prejudicados também pelo estado ruim do gramado de Milão sob chuva.
Enrique Guaita abriu o placar em lance reclamado como faltoso no goleiro Peter
Platzer, que teria sido empurrado por Angelo Schiavio e, ao tentar recuperar-se,
chocou-se com Meazza, que buscava fazer o gol – a bola então sobrou para Guaita
marcar. O jogo tornou-se brusco dos dois lados, com Luis Monti e Sindelar reeditando
uma rivalidade originada nos duelos por seus clubes na Copa Mitropa. A marcação
pesada de Monti em Sindelar foi preponderante para que ficasse com uma má fama
internacional, em reconhecimento do próprio treinador Pozzo.[56]
Em sua melhor oportunidade, aos 33 minutos do segundo tempo, Sindelar chutou
para fora ao ficar frente a frente com o goleiro Giampiero Combi.[59] O 1–0 foi
mantido ao fim do jogo, e Sindelar terminou-o sem condições físicas - a ponto de não
atuar na partida pelo terceiro lugar, vencida por 3–2 pela Alemanha. Hugo Meisl,
irritado com as circunstâncias das semifinais, retirou-se do gramado sem
cumprimentar Pozzo. O treinador, no retorno à Áustria, foi o grande alvo das críticas
da imprensa, que não foi complacente com o que julgavam ter sido uma decepção.[56]
Embora não houvesse premiações oficiais à época, com a FIFA introduzindo o prêmio
de melhor jogador oficialmente apenas em 1978, e a seleção dos melhores jogadores
do torneio em 1994, Sindelar foi considerado informalmente como o segundo melhor
jogador daquela edição, atrás de Meazza, e para a seleção do torneio como um dos
melhores atacantes da edição.[60]
Após a Copa
As críticas não cessaram após a Copa: vice-campeã mundial, a Tchecoslováquia
manteve uma invencibilidade de três anos contra os austríacos, segurando um 2–2 em
Viena. Em seguida, a Áustria perdeu de 3–1 para a Hungria, ainda que Sindelar tivesse
um gol anulado por um impedimento que jurava não ter existido. Apesar disso, foi
julgado como "lento" pelo Wiener Sonn- und Montags-Zeitung. O jogador perdeu
provisoriamente espaço nas escalações de Meisl, que buscava rejuvenescer a seleção e
não via como ele e Josef Bican jogarem juntos. Só o fizeram uma vez mais, ainda que
em dia de triunfo dos mais ressonantes, na primeira vitória austríaca sobre a
Inglaterra (em Viena), em 1936,[61] jogo que encerrou quatorze meses e nove partidas
de ausência de Sindelar pela Áustria.[62]
Uma semana antes do plebiscito ordenado para legitimar uma anexação já ocorrida na
prática, os nazistas programaram um amistoso entre Áustria e Alemanha em Viena
para simbolizar a unificação - embora a seleção austríaca fosse referida na divulgação
como a "seleção austro-alemã",[67] e a alemã, como Altreich ("Antigo Império").[68] A
partida geraria diversas lendas, dentre as quais fora combinada para terminar
empatada e que teria partido do próprio Sindelar a ideia para que ele e colegas
usassem um uniforme nas cores da bandeira da Áustria. Os austríacos dominaram a
partida desde o início, embora falhassem em marcar o gol e o primeiro tempo
terminou em 0–0, reforçando a impressão de que o empate estaria arranjado. No
intervalo, houve comício político pela aprovação da anexação, com os jogadores
austríacos Rudolf Zöhrer e Otto Marischka portando cartazes de "os esportistas votam
sim", enquanto seus colegas repousavam.[67]
Estatísticas
A tabela abaixo resume as aparições e gols de Sindelar pela seleção austríaca.[65][68]
Em 1º de junho de 1938, Drill enfim pôs o Annahof à venda por 54 mil marcos, um
pouco além do declarado faturamento anual da cafeteria. O certo renome de Drill
entre os esportistas vienenses provocou dúvidas em Sindelar em seguir com sua ideia,
mas em 15 de junho o jogador formalizou proposta perante a Oficina de Arianizações,
em cujo formulário declarou-se como "ariano", mas sem filiação ao Partido Nazista.
Nela, declarava ter patrimônio de 25 mil marcos, estando disposto a pagar uma
entrada em espécie de 15 mil, além de cinco mil em cotas semestrais de trezentos a
partir de 1 de janeiro de 1939.[76]
Um dia antes de falecer, Sindelar demonstrara bom humor ao longo desse dia, fato
que afastaria a hipótese de suicídio, na visão dos que a refutam. Na noite desse dia,
Sindelar bebeu e jogou cartas com amigos no Café Weidinger. Depois foi encontrar
Camilla Castagnola, italiana divorciada com quem vinha publicamente namorando
havia duas semanas, no apartamento em que ela locava. Ambos consumiram álcool e
tiveram relações sexuais antes de adormecerem. O primeiro estranhamento que
levaria à descoberta da morte do craque veio com o sumiço de Castagnola, que era
sócia de um restaurante chamado Weises Rössl, tendo o costume de nele chegar às 4
horas da madrugada. Seu sócio, no decorrer da manhã, chegou então a realizar
telefonemas também à casa e à cafeteria de Sindelar, sem ser atendido. Um amigo do
jogador, Gustav Hartmann, então procurou-o pessoalmente nesses lugares e, ao não
encontra-lo, rumou ao apartamento de Castagnola, forçando a porta e encontrando
ambos desacordados. Acreditando que Sindelar ainda estava vivo, tentou reanima-lo,
só desistindo quando os médicos que chegaram concluíram que estava morto havia
doze horas. Castagnola ainda vivia e foi levada a um Pronto Socorro, com uma das
irmãs de Sindelar se dirigindo até lá buscando notícias do que havia ocorrido. Porém,
Castagnola não recobrou a consciência e faleceu às 15h30. A notícia da morte não
tardou a chegar à Itália, onde o técnico Vittorio Pozzo assinou um texto publicado três
dias depois em La Stampa, em 26 de janeiro, com os seguintes trechos:[83]
No mesmo dia 26 de janeiro, foi feita uma autópsia final que apontou que o jogador
falecera por inalação de monóxido de carbono, descartando qualquer outro tipo de
envenenamento.[84] Mortes assim não chegavam a ser incomuns na época, outro fator
levantado pelos que refutam as hipóteses de suicídio e assassinato, afastada na visão
destes também por como se deu a despedida final, com honras de Estado e sem auras
de protesto embora Sindelar não deixasse de ser investigado como "pró-judeu" e
"social-democrata" (dois crimes) pelos nazistas.[85] O enterro ocorreu em 28 de
janeiro, atraindo 15 mil pessoas, apesar das baixas temperaturas, com oferendas
florais provenientes de Turim, Berlim, Budapeste, Praga, Düsseldorf, Colônia e
Londres, além de outras cidades do mundo, bem como de Ernst Kaltenbrunner,
general da SS. Suas irmãs e sua mãe, que desmaiou mais de uma vez, não se
separaram do caixão.[86]
Legado
À data de 2018, Sindelar mantinha a posição 24.º maior artilheiro do campeonato
austríaco, com 161 gols, na realidade igualado em números absolutos com o 23º. À
altura de sua inesperada morte em 1939, porém, estava muitas posições acima.
Catorze dos jogadores acima dele começaram a carreira após 1938, incluindo os dois
primeiros colocados (Robert Dienst e Hans Krankl). Outros seis já jogavam na época,
mas tiveram carreira que ainda seguiu pelo menos pelos cinco anos seguintes ao
falecimento do astro. Os dois nomes que restam são os de Richard Kuthan, que fizera
apenas onze a mais, entre 1911-29; e Anton Schall, que fez 231 gols e parou de jogar
em 1941, dois anos após a última partida de Sindelar.[89] Com total de 226 gols entre
todas as competições, o "Homem de Papel" segue como segundo maior artilheiro do
Austria Viena, e por alguns anos foi o maior, sendo superado pelos 258 gols do fã
Ernst Stojaspal.[6]
Já o ano de 1999 rendeu algumas listas de cem maiores do século. Sindelar apareceu
na dos cem maiores segundo a revista britânica World Soccer e na dos cinquenta
maiores segundo a italiana Guerin Sportivo – que o pôs na 36ª colocação, à frente
novamente dos citados Rummenigge, Passarella e também de Franco Baresi, Paulo
Roberto Falcão, Gabriel Batistuta, Nilton Santos e Rivellino dentre outros.[93] Já a
Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol considerou Sindelar o
maior jogador austríaco, o 13.º maior europeu e o 22.º maior do mundo, lista em que
esteve à frente de Fritz Walter, Bobby Moore, Hugo Sánchez, George Weah, Roger
Milla, Just Fontaine, Sándor Kocsis, Josef Masopust, Raymond Kopa, Uwe Seeler e
Zizinho, além dos citados Baresi e Rummenigge. A lista de maiores do mundo foi
formada por cinquenta nomes e Sindelar ele era o único austríaco.[94]
Sindelar segue enterrado no Cemitério Central de Viena, onde também jazem Ludwig
van Beethoven, Johannes Brahms, Franz Schubert, Johann Strauss e Johann Strauss
Jr., dentre outros.[5]Ele não tem parentes próximos vivos; não teve filhos, tampouco
suas irmãs. Após a morte de Theresa, falecida ainda criança, Rosa Sindelar faleceu em
15 de dezembro de 1942 e Leopoldine, em 15 de janeiro de 1988. A mãe Marie não
casou novamente e não teve outros filhos, falecendo em 22 de janeiro de 1961, em casa
geriátrica tal como a filha Leopoldine, chegando a receber auxílio financeiro ocasional
de dirigentes do Austria Viena.[96]
Títulos
Austria Viena
Copa da Áustria: 1924-25, 1925-26, 1932-33, 1934-35 e 1935-36
Campeonato Austríaco: 1925-26
Copa Mitropa: 1933 e 1936
Seleção Austríaca
Copa Internacional: 1931-32
Individual
Segundo melhor jogador da Copa do Mundo FIFA de 1934[60]
Seleção dos melhores jogadores da Copa do Mundo FIFA de 1934[97]
Melhor futebolista austríaco do século XX, segundo a Federação Internacional de
História e Estatísticas do Futebol (IFFHS)[94]
Artilharia da Copa Mitropa: 1933 (5 gols)[98]
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