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O SIGNIFICADO CLÁSSICO E termo de referência a pólis, ou seja, o

MODERNO DE POLÍTICA Estado.


I. O SIGNIFICADO CLÁSSICO E Dessa atividade a pólis é, por vezes, o
MODERNO DE POLÍTICA. sujeito, quando referidos à esfera da
Política atos como o ordenar ou proibir
Derivado do adjetivo originado de pólis
alguma coisa com efeitos vinculadores
(politikós), que significa tudo o que se
para todos os membros de um
refere à cidade e, conseqüentemente, o
determinado grupo social, o exercício
que é urbano, civil, público, e até
de um domínio exclusivo sobre um
mesmo sociável e social, o termo
determinado território, o legislar
Política se expandiu graças à influência
através de normas válidas erga omnes,
da grande obra de Aristóteles, intitulada
o tirar e transferir recursos de um setor
Política, que deve ser considerada como
da sociedade para outros, etc.; outras
o primeiro tratado sobre a natureza,
vezes ela é objeto, quando são referidas
funções e divisão do Estado, e sobre as
à esfera da Política ações como a
várias formas de Governo, com a
conquista, a manutenção, a defesa, a
significação mais comum de arte ou
ampliação, o robustecimento, a
ciência do Governo, isto é, de reflexão,
derrubada, a destruição do poder
não importa se com intenções
estatal, etc. Prova disso é que obras
meramente descritivas ou também
que continuam a tradição do tratado
normativas, dois aspectos dificilmente
aristotélico se intitulam no século XIX
discrimináveis, sobre as coisas da
Filosofia do direito (Hegel, 1821),
cidade. Ocorreu assim desde a origem
Sistema da ciência do Estado (Lorenz
uma transposição de significado, do
von Stein, 1852-1856), Elementos de
conjunto das coisas qualificadas de um
ciência política (Mosca, 1896), Doutrina
certo modo pelo adjetivo "político", para
geral do Estado (Georg Jellinek, 1900).
a forma de saber mais ou menos
Conserva parcialmente a significação
organizado sobre esse mesmo conjunto
tradicional a pequena obra de Croce,
de coisas: uma transposição não
Elementos de política (1925), onde
diversa daquela que deu origem a
Política mantém o significado de
termos como física, estética, ética e,
reflexão sobre a atividade política,
por último, cibernética. O termo Política
equivalendo, por isso, a "elementos de
foi usado durante séculos para designar
filosofia política". Uma prova mais
principalmente obras dedicadas ao
recente é a que se pode deduzir do uso
estudo daquela esfera de atividades
enraizado nas línguas mais difundidas
humanas que se refere de algum modo
de chamar história das doutrinas ou das
às coisas do Estado: Politica methodice
idéias políticas ou, mais genericamente,
digesta, só para apresentar um
história do pensamento político à
exemplo célebre, é o título da obra com
história que, se houvesse permanecido
que Johannes Althusius (1603) expôs
invariável o significado transmitido
uma das teorias da consociatio publica
pelos clássicos, teria de se chamar
(o Estado no sentido moderno da
história da Política, por analogia com
palavra), abrangente em seu seio várias
outras expressões, como história da
formas de consociationes menores.
física, ou da estética, ou da ética: uso
Na época moderna, o termo perdeu seu também aceito por Croce que, na
significado original, substituído pouco a pequena obra citada, intitula Para a
pouco por outras expressões como história da filosofia da política o capítulo
"ciência do Estado", "doutrina do dedicado a um breve excursus histórico
Estado", "ciência política", "filosofia pelas políticas modernas.
política", etc., passando a ser
II. A TIPOLOGIA CLÁSSICA DAS
comumente usado para indicar a
FORMAS DE PODER.
atividade ou conjunto de atividades
que, de alguma maneira, têm como O conceito de Política, entendida como
forma de atividade ou de práxis
humana, está estreitamente ligado ao senhor; o político, pelo interesse de
de poder. Este tem sido quem governa e de quem é governado,
tradicionalmente definido como o que ocorre apenas nas formas
"consistente nos meios adequados à corretas de Governo, pois, nas viciadas,
obtenção de qualquer vantagem" o característico é que o poder seja
(Hobbes) ou, analogamente, como exercido em benefício dos governantes.
"conjunto dos meios que permitem Mas o critério que acabou por
alcançar os efeitos desejados" (Russell). prevalecer nos tratados jusnaturalistas
Sendo um destes meios, além do foi o do fundamento ou do princípio de
domínio da natureza, o domínio sobre legitimação, que encontramos
os outros homens, o poder é definido claramente formulado no cap. XV do
por vezes como uma relação entre dois Segundo tratado sobre o governo de
sujeitos, dos quais um impõe ao outro a Locke: o fundamento do poder paterno
própria vontade e lhe determina, é a natureza, do poder despótico o
malgrado seu, o comportamento. Mas, castigo por um delito cometido (a única
como o domínio sobre os homens não é hipótese neste caso é a do prisioneiro
geralmente fim em si mesmo, mas um de guerra que perdeu uma guerra
meio para obter "qualquer vantagem" injusta), do poder civil o consenso. A
ou, mais exatamente, "os efeitos estes três motivos de justificação do
desejados", como acontece com o poder correspondem as três fórmulas
domínio da natureza, a definição do clássicas do fundamento da obrigação:
poder como tipo de relação entre ex natura, ex delicto, ex contractu.
sujeitos tem de ser completada com a Nenhum dos dois critérios permite, não
definição do poder como posse dos obstante, distinguir o caráter específico
meios (entre os quais se contam como do poder político. Na verdade, o fato de
principais o domínio sobre os outros e o poder político se diferenciar do poder
sobre a natureza) que permitem paterno e do poder despótico por estar
alcançar justamente uma "vantagem voltado para o interesse dos
qualquer" ou os "efeitos desejados". governantes ou por se basear no
consenso, não constitui caráter
O poder político pertence à categoria do
distintivo de qualquer Governo, mas só
poder do homem sobre outro homem,
do bom Governo: não é uma conotação
não à do poder do homem sobre a
da relação política como tal, mas da
natureza. Esta relação de poder é
relação política referente ao Governo
expressa de mil maneiras, onde se
tal qual deveria ser. Na realidade, os
reconhecem fórmulas típicas da
escritores políticos não cessaram nunca
linguagem política: como relação entre
de identificar seja Governos
governantes e governados, entre
paternalistas, seja Governos despóticos,
soberano e súditos, entre Estado e
ou então Governos em que a relação
cidadãos, entre autoridade e
entre Governo e súditos se
obediência, etc.
assemelhava ora à relação entre pai e
Há várias formas de poder do homem filhos, ora à entre senhor e escravos, os
sobre o homem; o poder político é quais nem por isso deixavam de ser
apenas uma delas. Na tradição clássica Governos tanto quanto os que agiam
que remonta especificamente a pelo bem público e se fundavam no
Aristóteles, eram consideradas três consenso.
formas principais de poder: o poder
paterno, o poder despótico e o poder
político. Os critérios de distinção têm III. A TIPOLOGIA MODERNA DAS
sido vários com o variar dos tempos. FORMAS DE PODER.
Em Aristóteles se entrevê a distinção Para acharmos o elemento específico
baseada no interesse daquele em do poder político, parece mais
benefício de quem se exerce o poder: o apropriado o critério de classificação
paterno se exerce pelo interesse dos das várias formas de poder que se
filhos; o despótico, pelo interesse do
baseia nos meios de que se serve o três formas de poder fundamentam e
sujeito ativo da relação para determinar mantêm uma sociedade de desiguais,
o comportamento do sujeito passivo. isto é, dividida em ricos e pobres com
Com base neste critério, podemos base no primeiro, em sábios e
distinguir três grandes classes no ignorantes com base no segundo, em
âmbito de um conceito amplíssimo do fortes e fracos, com base no terceiro:
poder. Estas classes são: o poder genericamente, em superiores e
econômico, o poder ideológico e o inferiores.
poder político. O primeiro é o que se Como poder cujo meio específico é a
vale da posse de certos bens, força, de longe o meio mais eficaz para
necessários ou considerados como tais, condicionar os comportamentos, o
numa situação de escassez, para poder político é, em toda a sociedade
induzir aqueles que não os possuem a de desiguais, o poder supremo, ou seja,
manter um certo comportamento, o poder ao qual todos os demais estão
consistente sobretudo na realização de de algum modo subordinados: o poder
um certo tipo de trabalho. Na posse dos coativo é, de fato, aquele a que
meios de produção reside uma enorme recorrem todos os grupos sociais (a
fonte de poder para aqueles que os têm classe dominante), em última instância,
em relação àqueles que os não têm: o ou como extrema ratio, para se
poder do chefe de uma empresa deriva defenderem dos ataques externos, ou
da possibilidade que a posse ou para impedirem, com a desagregação
disponibilidade dos meios de produção do grupo, de ser eliminados. Nas
lhe oferece de poder vender a força de relações entre os membros de um
trabalho a troco de um salário. Em mesmo grupo social, não obstante o
geral, todo aquele que possui estado de subordinação que a
abundância de bens é capaz de expropriação dos meios de produção
determinar o comportamento de quem cria nos expropriados para com os
se encontra em condições de penúria, expropriadores, não obstante a adesão
mediante a promessa e concessão de passiva aos valores do grupo por parte
vantagens. O poder ideológico se da maioria dos destinatários das
baseia na influência que as idéias mensagens ideológicas emitidas pela
formuladas de um certo modo, classe dominante, só o uso da força
expressas em certas circunstâncias, por física serve, pelo menos em casos
uma pessoa investida de certa
extremos, para impedir a
autoridade e difundidas mediante insubordinação ou a desobediência dos
certos processos, exercem sobre a subordinados, como o demonstra à
conduta dos consociados: deste tipo de saciedade a experiência histórica. Nas
condicionamento nasce a importância relações entre grupos sociais diversos,
social que atinge, nos grupos malgrado a importância que possam ter
organizados, aqueles que sabem, os a ameaça ou a execução de sanções
sábios, sejam eles os sacerdotes das econômicas para levar o grupo hostil a
sociedades arcaicas, sejam os desistir de um determinado
intelectuais ou cientistas das comportamento (nas relações entre
sociedades evoluídas, pois é por eles, grupos é de somenos importância o
pelos valores que difundem ou pelos condicionamento de natureza
conhecimentos que comunicam, que se ideológica), o instrumento decisivo para
consuma o processo de socialização impor a própria vontade é o uso da
necessário à coesão e integração do força, a guerra.
grupo. Finalmente, o poder político se
baseia na posse dos instrumentos Esta distinção entre três tipos principais
mediante os quais se exerce a força de poder social se encontra, se bem
física (as armas de toda a espécie e que expressa de diferentes maneiras,
potência): é o poder coator no sentido na maior parte das teorias sociais
mais estrito da palavra. Todas estas contemporâneas, onde o sistema social
global aparece direta ou indiretamente
articulado em três subsistemas continuidade (uma associação de
fundamentais, que são a organização delinqüência, uma chusma de piratas,
das forças produtivas, a organização do um grupo subversivo, etc.), que exerce
consenso e a organização da coação. A um poder político. O que caracteriza o
teoria marxista também pode ser poder político é a exclusividade do uso
interpretada do mesmo modo: a base da força em relação à totalidade dos
real, ou estrutura, compreende o grupos que atuam num determinado
sistema econômico; a supra-estrutura, contexto social, exclusividade que é o
cindindo-se em dois momentos resultado de um processo que se
distintos, compreende o sistema desenvolve em toda a sociedade
ideológico e aquele que é mais organizada, no sentido da
propriamente jurídico-político. Gramsci monopolização da posse e uso dos
distingue claramente na esfera supra- meios com que se pode exercer a
estrutural o momento do consenso (que coação física. Este processo de
chama sociedade civil) e o momento do monopolização acompanha pari passu o
domínio (que chama sociedade política processo de incriminação e punição de
ou Estado). Os escritores políticos todos os atos de violência que não
distinguiram durante séculos o poder sejam executados por pessoas
espiritual (que hoje chamaríamos autorizadas pelos detentores e
ideológico) do poder temporal, havendo beneficiários de tal monopólio.
sempre interpretado este como união Na hipótese hobbesiana que serve de
do dominium (que hoje chamaríamos fundamento à teoria moderna do
poder econômico) e do imperium (que Estado, a passagem do Estado de
hoje designaríamos mais propriamente natureza ao Estado civil, ou da anarchía
como poder político). Tanto na à archía, do Estado apolítico ao Estado
dicotomia tradicional (poder espiritual e político, ocorre quando os indivíduos
poder temporal) quanto na marxista renunciam ao direito de usar cada um a
(estrutura e supra-estrutura), se própria força, que os tornava iguais no
encontram as três formas de poder, estado de natureza, para o confiar a
desde que se entenda corretamente o uma única pessoa, ou a um único corpo,
segundo termo em um e outro caso que doravante será o único autorizado a
como composto de dois momentos. A usar a força contra eles. Esta hipótese
diferença está no fato de que, na teoria abstrata adquire profundidade histórica
tradicional, o momento principal é o
na teoria do Estado de Marx e de
ideológico, já que o econômico-político Engels, segundo a qual, numa
é concebido como direta ou sociedade dividida em classes
indiretamente dependente do espiritual, antagônicas, as instituições políticas
enquanto que, na teoria marxista, o têm a função primordial de permitir à
momento principal é o econômico, pois classe dominante manter seu domínio,
o poder ideológico e o político refletem, alvo que não pode ser alcançado, por
mais ou menos imediatamente, a via do antagonismo de classes, senão
estrutura das relações de produção. mediante a organização sistemática e
eficaz do monopólio da força; é por isso
que cada Estado é, e não pode deixar
IV. O PODER POLÍTICO.
de ser, uma ditadura. Neste sentido
Embora a possibilidade de recorrer à tornou-se já clássica a definição de Max
força seja o elemento que distingue o Weber: "Por Estado se há de entender
poder político das outras formas de uma empresa institucional de caráter
poder, isso não significa que ele se político onde o aparelho administrativo
resolva no uso da força; tal uso é uma leva avante, em certa medida e com
condição necessária, mas não suficiente êxito, a pretensão do monopólio da
para a existência do poder político. Não legítima coerção física, com vistas ao
é qualquer grupo social, em condições cumprimento das leis" (1, 53). Esta
de usar a força, mesmo com certa definição tornou-se quase um lugar-
comum da ciência política da história, para o reino sem tempo da
contemporânea. utopia.
Escreveram G. A. Almond e G. B. Powell Conseqüência direta da monopolização
num dos manuais de ciência política da força no âmbito de um determinado
mais acreditados: "Estamos de acordo território e relativas a um determinado
com Max Weber em que é a força física grupo social, assim hão de ser
legítima que constitui o fio condutor da consideradas algumas características
ação do sistema político, ou seja, lhe comumente atribuídas ao poder político
confere sua particular qualidade e e que o diferenciam de toda e qualquer
importância, assim como sua coerência outra forma de poder: a exclusividade,
como sistema. As autoridades políticas, a universalidade e a inclusividade. Por
e somente elas, possuem o direito, tido exclusividade se entende a tendência
como predominante, de usar a coerção revelada pelos detentores do poder
e de impor a obediência apoiados nela. político ao não permitirem, no âmbito
de seu domínio, a formação de grupos
Quando falamos de sistema político,
armados independentes e ao
referimo-nos também a todas as
debelarem ou dispersarem os que
interações respeitantes ao uso ou à
porventura se vierem formando, assim
ameaça de uso de coerção física
como ao iludirem as infiltrações, as
legítima". A supremacia da força física
ingerências ou as agressões de grupos
como instrumento de poder em relação
políticos do exterior. Esta característica
a todas as outras formas (das quais as
distingue um grupo político organizado
mais importantes, afora a força física,
da "societas" de "latrones" (o
são o domínio dos bens, que dá lugar
"latrocinium" de que falava Agostinho).
ao poder econômico, e o domínio das
Por universalidade se entende a
idéias, que dá lugar ao poder
capacidade que têm os detentores do
ideológico) fica demonstrada ao
poder político, e eles sós, de tomar
considerarmos que, embora na maior
decisões legítimas e verdadeiramente
parte dos Estados históricos o
eficazes para toda a coletividade, no
monopólio do poder coativo tenha
concernente à distribuição e destinação
buscado e encontrado seu apoio na
dos recursos (não apenas econômicos).
imposição das idéias ("as idéias
Por inclusividade se entende a
dominantes", segundo a bem conhecida
possibilidade de intervir, de modo
afirmação de Marx, "são as idéias da
imperativo, em todas as esferas
classe dominante"), dos deuses pátrios
possíveis da atividade dos membros do
à religião civil, do Estado confessional à
grupo e de encaminhar tal atividade ao
religião de Estado, e na concentração e
fim desejado ou de a desviar de um fim
na direção das atividades econômicas
não desejado, por meio de instrumentos
principais, há todavia grupos políticos
de ordenamento jurídico, isto é, de um
organizados que consentiram a
conjunto de normas primárias
desmonopolização do poder ideológico
destinadas aos membros do grupo e de
e do poder econômico; um exemplo
normas secundárias destinadas a
disso está no Estado liberal-
funcionários especializados, com
democrático, caracterizado pela
autoridade para intervir em caso de
liberdade de opinião, se bem que
violação daquelas. Isto não quer dizer
dentro de certos limites, e pela
que o poder político não se imponha
pluralidade dos centros de poder
limites. Mas são limites que variam de
econômico. Não há grupo social
uma formação política para outra: um
organizado que tenha podido até hoje
Estado autocrático estende o seu poder
consentir a desmonopolização do poder
até à própria esfera religiosa, enquanto
coativo, o que significaria nada mais
que o Estado laico pára diante dela; um
nada menos que o fim do Estado e que,
Estado coletivista estenderá o próprio
como tal, constituiria um verdadeiro e
poder à esfera econômica, enquanto
autêntico salto qualitativo, à margem
que o Estado liberal clássico dela se
retrairá. O Estado todo-abrangente, ou hajam alguma vez proposto... Só se
seja, o Estado a que nenhuma esfera da pode, portanto, definir o caráter político
atividade humana escapa, é o Estado de um grupo social pelo meio... que não
totalitário, que constitui, na sua lhe é certamente exclusivo, mas é, em
natureza de caso-limite, a sublimação todo o caso, específico e indispensável
da Política, a politização integral das à sua essência: o uso da força" (1, 54).
relações sociais.

Esta rejeição do critério teleológico não


V. O FIM DA POLÍTICA. impede, contudo, que se possa falar
corretamente, quando menos, de um
Uma vez identificado o elemento
fim mínimo na Política: a ordem pública
específico da Política no meio de que se
nas relações internas e a defesa da
serve, caem as definições teleológicas
integridade nacional nas relações de
tradicionais que tentam definir a
um Estado com os outros Estados. Este
Política pelo fim ou fins que ela
fim é o mínimo, porque é a conditio sine
persegue. A respeito do fim da Política,
qua non para a consecução de todos os
a única coisa que se pode dizer é que,
demais fins, conciliável, portanto, com
se o poder político, justamente em
eles. Até mesmo o partido que quer a
virtude do monopólio da força, constitui
desordem, a deseja, não como objetivo
o poder supremo num determinado
grupo social, os fins que se pretende final, mas como fator necessário para a
mudança da ordem existente e criação
alcançar pela ação dos políticos são
de uma nova ordem. Além disso, é lícito
aqueles que, em cada situação, são
falar da ordem como fim mínimo da
considerados prioritários para o grupo
Política, porque ela é, ou deveria ser, o
(ou para a classe nele dominante): em
resultado imediato da organização do
épocas de lutas sociais e civis, por
poder coativo, porque, por outras
exemplo, será a unidade do Estado, a
palavras, esse fim, a ordem, está
concórdia, a paz, a ordem pública, etc.;
totalmente unido ao meio, o monopólio
em tempos de paz interna e externa,
da força: numa sociedade complexa,
será o bem-estar, a prosperidade ou a
fundamentada na divisão do trabalho,
potência; em tempos de opressão por
na estratificação de categorias e
parte de um Governo despótico, será a
classes, e em alguns casos também na
conquista dos direitos civis e políticos;
justaposição de gentes e raças
em tempos de dependência de uma
diversas, só o recurso à força impede,
potência estrangeira, a independência
em última instância, a desagregação do
nacional. Isto quer dizer que a Política
grupo, o regresso, como diriam os
não tem fins perpetuamente
antigos, ao Estado de natureza. Tanto é
estabelecidos, e muito menos um fim
assim que, no dia em que fosse possível
que os compreenda a todos e que possa
uma ordem espontânea, como a
ser considerado como o seu verdadeiro
imaginaram várias escolas econômicas
fim: os fins da Política são tantos
e políticas, dos fisiocratas aos
quantas são as metas que um grupo
anarquistas, ou os próprios Marx e
organizado se propõe, de acordo com
Engels na fase do comunismo
os tempos e circunstâncias. Esta
plenamente realizado, não haveria mais
insistência sobre o meio, e não sobre o
política propriamente falando.
fim, corresponde, aliás, à communis
opinio dos teóricos do Estado, que Quem examinar as definições
excluem o fim dos chamados elementos teleológicas tradicionais de Política, não
constitutivos do mesmo. Fala mais uma tardará a observar que algumas delas
vez por todos Max Weber: "Não é não são definições descritivas, mas
possível definir um grupo político, nem prescritivas, pois não definem o que é
tampouco o Estado, indicando o alvo da concreta e normalmente a Política, mas
sua ação de grupo. Não há nenhum indicam como é que ela deveria ser
escopo que os grupos políticos não se para ser uma boa Política; outras
diferem apenas nas palavras (as díspares, para delas se poderem tirar
palavras da linguagem filosófica são indicações úteis para a identificação do
não raro intencionadamente obscuras) fim específico da política.
da definição aqui apresentada. Toda Outro modo de fugir às dificuldades de
história da filosofia política está repleta uma definição teleológica de Política é o
de definições normativas, a começar de a definir como uma forma de poder
pela aristotélica: como é bem que não tem outro fim senão o próprio
conhecido, Aristóteles afirma que o fim poder (onde o poder é, ao mesmo
da Política não é viver, mas viver bem tempo, meio e fim, ou, como se diz, fim
(Política, l278b). Mas em que consiste em si mesmo). "O caráter político da
uma vida boa? Como é que ela se ação humana", escreve Mário Albertini,
distingue de uma vida má? E, se uma "torna-se patente, quando o poder se
classe política oprime os seus súditos, converte em fim, é buscado, em certo
condenando-os a uma vida sofrida e sentido, por si mesmo, e constitui o
infeliz, será que não faz Política, será objeto de uma atividade específica" (p.
que o poder que ela exerce não é um 9), diversamente do que acontece com
poder político? O próprio Aristóteles o médico, que exerce o próprio poder
distingue as formas puras de Governo sobre o doente para o curar, ou com o
das formas deturpadas, coisa que já rapaz que impõe seu jogo preferido aos
antes dele fizera Platão e haviam de companheiros, não pelo prazer de
fazer, durante vinte séculos, muitos exercer o poder, mas de jogar. A este
outros escritores políticos: conquanto o modo de definir a Política se poderá
que distingue as formas deturpadas das objetar que ele não define tanto uma
formas puras, seja que nestas a vida forma específica de poder quanto uma
não é boa, nem Aristóteles, nem todos maneira específica de o exercer,
os escritores que lhe sucederam, lhes ajustando-se, por isso, igualmente bem
negaram nunca o caráter de a qualquer forma de poder, seja o poder
constituições políticas. Não nos iludam econômico, seja o poder ideológico,
outras teorias tradicionais que atribuem seja qualquer outro poder. O poder pelo
à Política fins diversos do da ordem, poder é um modo deturpado do
como o bem comum (o mesmo exercício de qualquer forma de poder,
Aristóteles e, depois dele, o que pode ter como sujeito tanto quem
aristotelismo medieval) ou a justiça exerce o grande poder, qual o político,
(Platão): um conceito como o de bem
quanto quem exerce o pequeno, como
comum, quando o quisermos o do pai de família ou o do chefe de
desembaraçar da sua extrema seção que supervisiona uma dezena de
generalidade, pela qual pode significar operários. A razão pela qual pode
tudo ou nada, e lhe quisermos atribuir parecer que o poder como fim em si
um significado plausível, ele nada mais mesmo seja característico da Política
poderá designar senão aquele bem que (mas seria mais exato dizer de um certo
todos os membros de um grupo homem político, do homem
partilham e que não é mais que a maquiavélico), reside no fato de que
convivência ordenada, numa palavra, a não existe um fim tão específico na
ordem; pelo que toca à justiça Política como o que existe no poder que
platônica, se a entendermos, o médico exerce sobre o doente ou no
desvanecidos todos os fumos retóricos, do rapaz que impõe o jogo aos seus
como o princípio segundo o qual é bom companheiros. Se o fim da Política, e
que cada um faça o que lhe incumbe não do homem político maquiavélico,
dentro da sociedade como um todo fosse realmente o poder pelo poder, a
(República, 433a), justiça e ordem são a Política não serviria para nada. E
mesma coisa. Outras noções de fim, provável que a definição da Política
como felicidade, liberdade, igualdade, como poder pelo poder derive da
são demasiado controversas e confusão entre o conceito de poder e o
interpretáveis dos modos mais de potência: não há dúvida de que
entre os fins da Política está também o reservando ao Governo o direito de
da potência do Estado, quando se indicar o inimigo externo... É, pois, claro
considera a relação do próprio Estado que a oposição amigo-inimigo é
com os outros Estados. Mas uma coisa politicamente fundamental" (p. 445).
é uma Política de potência e outra o Não obstante pretender servir de
poder pelo poder. Além disso, a definição global do fenômeno político, a
potência não é senão um dos fins definição de Schmitt considera a
possíveis da Política, um fim que só Política de uma perspectiva unilateral,
alguns Estados podem razoavelmente se bem que importante, que é a
perseguir. daquele tipo particular de conflito que
caracterizaria a esfera das ações
políticas. Por outras palavras, Schmitt e
VI. A POLÍTICA COMO RELAÇÃO
Freund parecem estar de acordo nestes
AMIGO-INIMIGO.
pontos: a Política tem que avir-se com
Entre as mais conhecidas e discutidas os conflitos humanos; há vários tipos de
definições de Política, conta-se a de conflitos, há principalmente conflitos
Carl Schmitt (retomada e desenvolvida agonísticos e antagonísticos; a Política
por Julien Freund), segundo a qual a cobre a área em que se desenrolam os
esfera da Política coincide com a da conflitos antagonísticos. Que esta seja a
relação amigo-inimigo. Com base nesta perspectiva dos autores citados parece
definição, o campo de origem e de não caber dúvida. Escreve Schmitt: "A
aplicação da Política seria o oposição política é a mais intensa e
antagonismo e a sua função consistiria extrema de todas e qualquer outra
na atividade de associar e defender os oposição concreta será tanto mais
amigos e de desagregar e combater os política quanto mais se aproximar do
inimigos. Para dar maior força à sua ponto extremo, o do agrupamento
definição, baseada numa oposição baseado nos conceitos amigo-inimigo"
fundamental, amigo-inimigo, Schmitt a (p. 112). De igual modo Freund: "Todo o
compara às definições de moral, de desencontro de interesses. . . pode, em
arte, etc., fundadas também em qualquer momento, transformar-se em
oposições fundamentais, como bom- rivalidade ou em conflito, e tal conflito,
mau, belo-feio, etc. "A distinção política desde o momento que assuma o
específica a que é possível referir as aspecto de uma prova de força entre os
ações e os motivos políticos, é a grupos que representam esses
distinção de amigo e inimigo... Na interesses, ou seja, desde o momento
medida em que não for derivável de que se afirme como uma luta de poder,
outros critérios, ela corresponderá, para tornar-se-á político" (p. 479). Como se
a Política, aos critérios relativamente vê pelas passagens citadas, o que têm
autônomos das demais oposições: bom em mente estes autores, quando
e mau para a moral, belo e feio para a definem a Política baseados na
estética, e por aí afora" (p. 105). Freund dicotomia amigo-inimigo, é que existem
se expressa enfaticamente nestes conflitos entre os homens e entre os
termos: "Enquanto houver política, ela grupos sociais, e que entre esses
dividirá a coletividade em amigos e conflitos há alguns diferentes de todos
inimigos" (p. 448). E explica: "Quanto os outros pela sua particular
mais uma oposição se desenvolver no intensidade; é a esses que eles dão o
sentido da distinção amigo-inimigo, nome de conflitos políticos. Mas,
tanto mais ela se tornará política. É quando se procura compreender em
característico do Estado eliminar, que é que consiste essa particular
dentro dos limites da sua competência, intensidade e, por conseguinte, em que
a divisão dos seus membros ou grupos é que a relação amigo-inimigo se
internos em amigos e inimigos, não distingue de todas as outras relações
tolerando senão as simples rivalidades conflitantes de intensidade não igual,
agonísticas ou as lutas dos partidos, e logo se nota que o elemento distintivo
está em que se trata de conflitos que, espiritual ao poder temporal, o que era
em última instância, só podem ser desconhecido do mundo antigo. De
resolvidos pela força ou justificam, pelo outro, com o surgir da economia
menos, o uso da força pelos mercantil burguesa, foi subtraído à
contendores para pôr fim à luta. O esfera da Política o domínio das
conflito por excelência de que tanto relações econômicas, originando-se a
Schmitt como Freund extrapolaram sua contraposição (para usarmos a
definição de Política, é a guerra, cujo terminologia hegeliana, herdada de
conceito compreende tanto a guerra Marx e hoje de uso comum) da
externa quanto a interna. Ora, se uma sociedade civil à sociedade política, da
coisa é certa, é que a guerra constitui esfera privada ou do burguês à esfera
uma espécie de conflito eminentemente pública ou do cidadão, coisa que
caracterizado pelo uso da força. Mas, se também era ignorada do mundo antigo.
isso é verdade, a definição de Política Enquanto a filosofia política clássica se
em termos de amigo-inimigo não é de baseia no estudo da estrutura da pólis e
modo algum incompatível com a das suas variadas formas históricas ou
definição antes apresentada, que se ideais, a filosofia política pós-clássica se
refere ao monopólio da força. Não só caracteriza pela contínua busca de uma
não é incompatível, como é uma delimitação do que é político (o reino de
especificação da mesma e, em última César) do que não é político (quer seja
análise, sua confirmação. É justamente o reino de Deus, quer seja o de
na medida em que o poder político se Mammona), por uma contínua reflexão
distingue do instrumento de que se sobre o que distingue a esfera da
serve para atingir os próprios fins e em Política da esfera da não-Política, o
que tal instrumento é a força física, que Estado do não-Estado, onde por esfera
ele é o poder a que se recorre para da não-Política ou do não-Estado se
resolver os conflitos cuja não solução entende, conforme as circunstâncias,
acarretaria a decomposição do Estado e ora a sociedade religiosa (a ecclesia
da ordem internacional: são os conflitos contraposta à civitas), ora a sociedade
em que, confrontados os contendores natural (o mercado como lugar em que
como inimigos, a vita mea é a mors tua. os indivíduos se encontram
independentemente de qualquer
imposição, contraposto ao ordenamento
VII. O POLÍTICO E O SOCIAL. coativo do Estado). O tema
Contrastando com a tradição clássica, fundamental da filosofia política
segundo a qual a esfera da Política, moderna é o tema dos limites, umas
entendida como esfera do que diz vezes mais restritos, outras vezes mais
respeito à vida da pólis, compreende amplos conforme os autores e as
toda a sorte de relações sociais, tanto escolas, do Estado como organização
que o "político" vem a coincidir com o da esfera política, seja em relação à
"social", a doutrina exposta sobre a sociedade religiosa, seja em relação à
categoria da Política é certamente sociedade civil (entendida como
limitativa: reduzir, como se fez, a sociedade burguesa ou dos privados).
categoria da Política à atividade direta
ou indiretamente relacionada com a
É exemplar também sob este aspecto a
organização do poder coativo é
teoria política de Hobbes, articulada em
restringir o âmbito do "político" quanto
torno de três conceitos fundamentais
ao "social", é rejeitar a plena
que constituem as três partes em que
coincidência de um com o outro. Esta
se divide a matéria do De Cive. Estas
limitação baseia-se numa razão
partes são assim denominadas: libertas,
histórica bem-definida. De um lado, o
potestas, religio. O problema
cristianismo subtraiu à esfera da
fundamental do Estado e, por
Política o domínio da vida religiosa,
conseguinte, da Política é, para Hobbes,
dando origem à contraposição do poder
o problema das relações entre a
potestas simbolizada no grande Leviatã, política, o problema da relação entre
por um lado, e a libertas e a religio, por Política e moral. A Política e a moral
outro: a libertas designa o espaço das estendem-se pelo mesmo domínio
relações naturais, onde se desenvolve a comum, o da ação ou da práxis
atividade econômica dos indivíduos, humana. Pensa-se que se distinguem
estimulada pela incessante disputa pela entre si em virtude de um princípio ou
posse dos bens materiais, o Estado de critério diverso de justificação e
natureza (interpretado recentemente avaliação das respectivas ações, e que,
como prefiguração da sociedade de em conseqüência disso, o que é
mercado); a religio indica o espaço obrigatório em moral, não se pode dizer
reservado à formação e expansão da que o seja em Política, e o que é lícito
vida espiritual, cuja concretização em Política, não se pode dizer que o
histórica se dá na instituição da Igreja, seja em moral; pode haver ações
isto é, duma sociedade que, por sua morais que são impolíticas (ou
natureza, se distingue da sociedade apolíticas) e ações políticas que são
política e não pode ser com ela imorais (ou amorais). A descoberta da
confundida. Relacionados com esta distinção que é atribuída, injustificada
dupla delimitação dos confins da ou justificadamente a Maquiavel (daí o
Política, surgem na filosofia política nome de maquiavelismo dado a toda a
moderna dois tipos ideais de Estado: o teoria política que sustenta e defende a
Estado absoluto e o Estado liberal, separação da Política da moral), é
aquele com tendência a estender, este geralmente apresentada como
com tendência a limitar a própria problema da autonomia da Política. Este
ingerência em relação à sociedade problema acompanha pari passu a
econômica e à sociedade religiosa. Na formação do Estado moderno e sua
filosofia política do século passado, o gradual emancipação da Igreja, que
processo de emancipação da sociedade chegou até, em casos extremos, à
quanto ao Estado avançou tanto que, subordinação desta ao Estado e,
por primeira vez, foi por muitos conseqüentemente, à absoluta
aventada a hipótese da desaparição do supremacia da Política. Na realidade, o
Estado num futuro mais ou menos que se chama autonomia da Política
remoto e da conseqüente absorção do não é outra coisa senão o
político pelo social, ou seja, do fim da reconhecimento de que o critério
Política. Conforme o que se disse até segundo o qual se julga boa ou má uma
aqui sobre o significado restritivo de ação política (não se esqueça que, por
Política (restritivo em relação ao ação política, se entende, em
conceito mais amplo de "social"), fim da concordância com o que se disse até
Política significa exatamente fim de aqui, uma ação que tem por sujeito ou
uma sociedade para cuja coesão sejam objeto a pólis) é diferente do critério
indispensáveis as relações de poder segundo o qual se considera boa ou má
político, isto é relações de domínio uma ação moral. Enquanto o critério
fundadas, em última instância, no uso segundo o qual se julga uma ação
da força. Fim da Política não significa, moralmente boa ou má é o do respeito
bem entendido, fim de toda a forma de a uma norma cuja preceituação é tida
organização social. Significa, pura e por categórica, independentemente do
simplesmente, fim daquela forma de resultado da ação ("faz o que deves,
organização social que se rege pelo uso aconteça o que acontecer"), o critério
exclusivo do poder coativo. segundo o qual se julga uma ação
politicamente boa ou má é pura e
simplesmente o do resultado ("faz o
VIII. POLÍTICA E MORAL. que deves, a fim de que aconteça o que
Ao problema da relação entre Política e desejas"). Ambos os critérios são
não-Política, está vinculado um dos incomensuráveis. Esta
problemas fundamentais da filosofia incomensurabilidade está expressa na
afirmação de que, em Política, o que coerência da ação com a intenção; para
vale é a máxima de que "o fim justifica o segundo o que importa é a certeza e
os meios", máxima que encontrou em fecundidade dos resultados. A chamada
Maquiavel uma das suas mais fortes imoralidade da Política assenta, bem
expressões: "... e nas ações de todos os vistas as coisas, numa moral diferente
homens, e máxime dos príncipes, da do dever pelo dever: é a moral pela
quando não há indicação à qual apelar, qual devemos fazer tudo o que está ao
se olha ao fim. Faça, pois, o príncipe por nosso alcance para realizar o fim que
vencer e defender o Estado: os meios nos propusemos, pois sabemos, desde
serão sempre considerados honrosos e início, que seremos julgados com base
por todos louvados" (Príncipe, XVIII). no sucesso. Entram aqui dois conceitos
Mas, em moral, a máxima maquiavélica de virtude, o clássico, para o qual
não vale, já que uma ação, para ser "virtude" significa disposição para o
julgada moralmente boa, há de ser bem moral (contraposto ao útil), e o
praticada não com outro fim senão o de maquiavélico, para o qual a virtude é a
cumprir o próprio dever. capacidade do príncipe forte e sagaz
que, usando conjuntamente das artes
da raposa e do leão, triunfa no intento
Uma das mais convincentes de manter e consolidar o próprio
interpretações desta oposição é a domínio.
distinção weberiana entre ética da
convicção e ética da responsabilidade:
"... há uma diferença insuperável entre IX. A POLÍTICA COMO ÉTICA DO
o agir segundo a máxima da ética da GRUPO.
convicção, que em termos religiosos Quem não quiser ficar apenas na
soa assim: 'O cristão age como justo e constatação da incomensurabilidade
deixa o resultado nas mãos de Deus', e destas duas éticas e queira procurar
o agir segundo a máxima da ética da entender a razão pela qual o que é
responsabilidade, conforme a qual é justificado num certo contexto não o é
preciso responder pelas conseqüências em outro, deve perguntar ainda onde é
previsíveis das próprias ações" (La que reside a diferença entre esses dois
politica come professione, in II lavoro contextos. A resposta é a seguinte: o
intellettuale come professione, Torino, critério da ética da convicção é
1948, p. 142). O universo da moral e o
geralmente usado para julgar as ações
da Política movem-se no âmbito de dois individuais, enquanto o critério da ética
sistemas éticos diferentes e até mesmo da responsabilidade se usa
contrapostos. Mais que de imoralidade ordinariamente para julgar ações de
da Política e de impoliticidade da moral grupo, ou praticadas por um indivíduo,
se deveria mais corretamente falar de mas em nome e por conta do próprio
dois universos éticos que se movem grupo, seja ele o povo, a nação, a
segundo princípios diversos, de acordo Igreja, a classe, o partido, etc. Poder-se-
com as diversas situações em que os á também dizer, por outras palavras,
homens se encontram e agem. Destes que, à diferença entre moral e Política,
dois universos éticos são ou entre ética da convicção e ética da
representantes outros tantos responsabilidade, corresponde também
personagens diferentes que atuam no a diferença entre ética individual e ética
mundo seguindo caminhos quase de grupo. A proposição de que o que é
sempre destinados a não se obrigatório em moral não se pode dizer
encontrarem: de um lado está o homem que o seja em Política, poderá ser
de fé, o profeta, o pedagogo, o sábio traduzida por esta outra fórmula: o que
que tem os olhos postos na cidade é obrigatório para o indivíduo não se
celeste, do outro, o homem de Estado, pode dizer que o seja para o grupo de
o condutor de homens, o criador da que o indivíduo faz parte. Pensemos
cidade terrena. O que conta para o quão profunda é a diferença de juízo
primeiro é a pureza de intenções e a
dos filósofos, teólogos e moralistas Que o Estado tenha razões que o
acerca da violência, quando o ato indivíduo não tem ou não pode fazer
violento é praticado só pelo indivíduo valer é outro dos modos de evidenciar a
ou pelo grupo social de que ele faz diferença entre Política e moral, quando
parte, ou, por outras palavras, quando tal diferença se refere aos diversos
se trata de violência pessoal que, afora critérios segundo os quais se
os casos excepcionais, é geralmente consideram boas ou más as ações
condenada, e quando se trata de desses dois campos. A afirmação de
violência das instituições que, afora os que a Política é a razão do Estado
casos excepcionais, é geralmente encontra perfeita correspondência na
justificada. Esta diferença tem a sua afirmação de que a moral é a razão do
explicação no fato de que, no caso de indivíduo. São duas razões que quase
violência individual, não se pode nunca se encontram: é até desse
recorrer quase nunca ao critério de contraste que se tem valido a história
justificação da extrema ratio (salvo secular do conflito entre moral e
quando em legítima defesa), ao passo Política. O que ainda é necessário
que, nas relações entre grupos, o acrescentar é que a razão de Estado
recurso à justificação da violência como não é senão um aspecto da ética de
extrema ratio é usual. Ora, a razão por grupo, conquanto o mais evidente,
que a violência individual não se quando menos porque o Estado é a
justifica funda-se precisamente no fato coletividade em seu mais alto grau de
de que ela está, por assim dizer, expressão e de potência. Sempre que
protegida pela violência coletiva, tanto um grupo social age em própria defesa
que é cada vez mais raro, quase contra outro grupo, se apela a uma
impossível, que o indivíduo se venha a ética diversa da geralmente válida para
encontrar na situação de ter de recorrer os indivíduos, uma ética que responde à
à violência como extrema ratio. Se isto mesma lógica da razão de Estado.
é verdadeiro, resultará daqui uma Assim, ao lado da razão de Estado, a
conseqüência importante: a não história nos aponta, consoante as
justificação da violência individual circunstâncias de tempo e lugar, ora
assenta, em última instância, no fato de uma razão de partido, ora uma razão de
ser aceita, porque justificada, a classe ou de nação, que representam,
violência coletiva. Por outras palavras, sob outro nome, mas com a mesma
não há necessidade da violência força e as mesmas conseqüências, o
individual, porque basta a violência princípio da autonomia da Política,
coletiva: a moral pode resolver ser tão entendida como autonomia dos
severa com a violência individual, princípios e regras de ação que valem
porque se fundamenta na aceitação de para o grupo como totalidade, em
uma convivência que se rege pela confronto com as que valem para o
prática contínua da violência coletiva. indivíduo dentro do grupo.
O contraste entre moral e Política,
entendido como contraste entre ética
individual e ética de grupo, serve
também para ilustrar e explicar a
secular disputa existente em torno à
"razão de Estado". Por "razão de
Estado" se entende aquele conjunto de
princípios e máximas segundo os quais
ações que não seriam justificadas, se
praticadas só pelo indivíduo, são não só
justificadas como também por vezes
exaltadas e glorificadas se praticadas
pelo príncipe ou por quem quer que
exerça o poder em nome do Estado.

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