Вы находитесь на странице: 1из 3

Para não ter o cérebro devorado

Alceu A. Sperança
Acompanhando
minha filha, vi
muitos filmes de
zumbis. Eles fazem a
cabeça do público
ávido por diversão
ligeira, para a qual
não é preciso usar
quase nada o
cérebro.

Tais monstros já não assustam, porque fora dos filmes há ainda


mais “zumbis”. Uns fazem pena. Outros, os fanáticos, dão asco.
Alguns são apenas iludidos e ainda têm chance de salvação.
Há um tipo de zumbi sobre o qual Brecht já esgotou o assunto: é o
analfabeto político. Pior ainda é o rezador fascista, um zumbi
malandro. Para atacar as conquistas e os movimentos populares, ele
se finge de “cristão” ou moralista de algum tipo. E assim vai
repetindo todo o cabedal de besteiras e enganações da CIA e do Tea
Party usamericano.
Esse zumbi tem saudades do autoritarismo ditatorial. Vive
rezando para que apareça “um líder” ao qual seguir, pois odeia a
menor possibilidade de um povo tomar conta de seu próprio destino,
sem precisar de trapaceiros fingidores que as transnacionais e os
bancos possam comprar facilmente.
O crackento furioso é o zumbi que já perdeu muito de sua
humanidade, a ponto de suas pequenas contravenções evoluírem
para crimes hediondos. Ele não se domina e não se deixa dominar.
Seus crimes o fazem acumular condenações.
Também zumbis são os
guardiões da sociedade.
Não percebem a
necessidade de, além de
prender o viciado,
tratá-lo como
dependente químico
que é.
Difícil distinguir qual zumbi é pior: o drogado perigoso ou o
gestor público que não o trata.
Já o zumbi anticomunista acha (ou meteram na cabeça dele) que
existe ou já existiu comunismo, e assim é “contra” aquilo que ele
acha que existe ou existiu. Algo como ser contra o elefante azul.
Acha que a monarquia da Coreia Democrática é comunismo. Que a
brava China é comunista só porque o partido governante tem esse
nome.
Por falta de cultura teórica, não manja que um partido assumir um
governo não concretiza magicamente sua plataforma. A classe
antagônica não cessa de lutar e pode, além de reagir, atrasar ou
reverter os processos revolucionários. Isso já aconteceu na França,
na Rússia, nos EUA: os libertadores da América não eram esses
estúpidos comandantes das corporações guerreiras transnacionais.
Quando a plataforma partidária é uma revolução mundial as
coisas ficam ainda mais complexas. A cabeça chega a zumbir! O que
existe no mundo, desde a derrota final do feudalismo, é só
capitalismo. Felizmente! Vai mal das pernas, cai pelas tabelas e por
isso mesmo, depois dele, é a lei da evolução, virá uma nova
sociedade.
Convencionamos qualificar essa formação pós-capitalista de
“Socialismo”, mas nossos netos poderão adotar qualquer nome que
lhes agrade mais. Isso é lá com eles. Já o Comunismo será um futuro
ainda distante, quando não houver mais a luta de classes.
O desinformado vira zumbi por não ter acesso à leitura de jornais
e revistas pluralistas. É bombardeado por uma chuva de gossips e
factóides que só confundem, geralmente misturados com mentiras
inteiras ou meias verdades, raramente verdades inteiras. Deste só se
pode sentir pena, pois não tem a menor culpa por uma alienação que
lhe foi imposta pela ideologia.
Mas todos são humanos. Fica valendo, para zumbis e não zumbis,
aquilo que disse nosso Graciliano Ramos:
“Desejo ir além das aparências, tentar descobrir nas pessoas
qualquer coisa imperceptível aos sentidos comuns. Compreensão de
que as diferenças não constituem razão para nos afastarmos, nos
odiarmos”.
E filmes? Para não ter o cérebro devorado, prefira os cineclubes.

Вам также может понравиться