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à posterior independência do Kosovo6. Além disso, manutenção da paz, para pacificar a área, se deseja-
depois do Kosovo, as operações mais óbvias de mudan- do, podendo-se, também, instalar um novo governo
ça de regime pelos EUA ocorreram no Afeganistão e favorável aos EUA e ao Ocidente (figura 3).
no Iraque. A Rússia considera essas operações muito Essa teoria pode soar absurda aos ouvidos norte-a-
semelhantes à conduzida no Kosovo. Na ótica russa, o mericanos, mas é uma visão bastante comum por toda
padrão de mudança forçada de regime pelos EUA tem a antiga União Soviética. Esse discurso também explica,
sido o seguinte: decidir executar uma operação militar; em parte, a hostilidade do governo russo em relação às
encontrar um pretexto adequado, como a necessidade ONGs7. Embora não haja, de modo geral, alegações de
de prevenir um genocídio ou de apreender armas de ONGs que sejam controladas, direta ou indiretamente,
destruição em massa; e, finalmente, iniciar uma ope- por governos estrangeiros, a maioria das reportagens
ração militar para provocar uma mudança de regime russas sobre tais entidades afirma que estão sendo fi-
(figura 1). nanciadas apenas por terem algum objetivo de influen-
Entretanto, a Rússia acredita que o padrão de ciar um governo em particular de uma determinada
mudanças forçadas de regime patrocinadas pelos EUA forma ou de causar a instabilidade geral. Um aspecto
foi, de modo geral, suplantado por um novo método. interessante dessas alegações é o fato de que a Agência
Em vez de uma invasão militar ostensiva, as primeiras Central de Inteligência (CIA) — um dos “bodes expia-
“salvas” de um ataque norte-americano consistem no tórios” favoritos para qualquer infortúnio russo — não
estabelecimento de uma oposição política por meio é mais citada, normalmente; os típicos culpados (na
da propaganda estatal (ex.: CNN, BBC), da internet e nova narrativa) são o Departamento de Estado dos
mídias sociais e de organizações não governamentais EUA e a Agência dos EUA para o Desenvolvimento
(ONGs). Após os EUA conseguirem incitar a con- Internacional (USAID)8.
testação política, o separatismo
e/ou a agitação social, o governo
legítimo enfrenta uma crescente
Abordagem Adaptável para o
dificuldade em manter a ordem. Emprego de Força Militar
Conforme a situação de segurança
Emprego oculto de Força Militar
for se deteriorando, movimentos
Instrução militar Suprimento de Utilização de forças Reforço de uni-
separatistas podem ser estimulados
de rebeldes armas e recursos às de operações dades da oposição
e fortalecidos e forças especiais, por instrutores forças antigoverno especiais e empresas com combatentes
convencionais e contratadas não estrangeiros militares privadas estrangeiros
declaradas podem ser introduzidas
Busca (criação) de um pretex-
para combater o governo e causar Não
mais confusão. Quando o governo to para uma operação militar A resistência do lado
legítimo for obrigado a usar méto- Proteção de Acusar parte adversário foi
civis e oponente no conflito suprimida?
dos cada vez mais agressivos para
cidadãos de usar armas de
manter a ordem, os EUA terão um estrangeiros destruição em massa
pretexto para a imposição de san- Sim
ções econômicas e políticas — e até
militares, às vezes, como as zonas de
Operação Militar
Mudança de
exclusão aérea — com o objetivo de
atar as mãos dos governos sitiados
Regime Político
e de promover ainda mais discórdia
(figura 2). Figura 2 – Adaptada de um briefing apresentado
Por fim, quando o governo en- pelo Gen Valery Gerasimov durante a Terceira
tra em colapso e surge a anarquia, Conferência de Moscou sobre Segurança
forças militares podem, então, Internacional, realizada pelo Ministério da
ser empregadas sob o pretexto de Defesa da Rússia9.
Condução de Operações de
operações militares manutenção da paz
- início das operações militares após des- - início de operações militares por
dobramento estratégico agrupamentos de unidades combatentes
(forças) em tempo de paz
- choque frontal de grandes agrupa-
mentos de unidades combatentes, - operações de combate sem contato e
baseadas em tropas terrestres de alta maneabilidade de agrupamentos
de unidades combatentes conjuntas
- destruição de efetivos e armas e con-
sequente posse de linhas e áreas com o - redução do potencial militar econômico
objetivo de obtenção de territórios do Estado pela destruição de instalações
essenciais de sua infraestrutura militar e
- destruição do inimigo, destruição do
civil em um curto período
potencial econômico e posse de seus
territórios - emprego maciço de armas de alta
precisão, uso em larga escala de forças
- condução de operações de combate em
de operações especiais, assim como
terra, ar e mar
sistemas robóticos e armas baseadas
- comando e controle de agrupamen- em novos princípios físicos e a participa-
tos de unidades combatentes (forças) ção de um componente civil-militar nas
dentro de uma estrutura hierárquica operações de combate
estritamente organizada de agências de
- efeitos simultâneos nas unidades com-
comando e controle
batentes e instalações inimigas em toda a
profundidade de seus territórios
- combate simultâneo em todos os am-
Figura 5 – Gráfico extraído do artigo bientes físicos e no espaço de informa-
do Gen Gerasimov na publicação ções
Voyenno-Promyshlennyy Kurier, - uso de operações assimétricas e indiretas
26 Fev 13 [tradução a partir da - comando e controle de forças e meios
em um espaço de informações unificado
versão em inglês de Charles Bartles]
de defesa antimísseis balísticos e Prompt Global Strike, Para desempenhar essas atribuições, o indivíduo que
os quais, na sua opinião, poderiam degradar as capa- ocupa essa função precisa ter a capacidade de previ-
cidades de dissuasão estratégica russas e abalar o atual são para entender os atuais e futuros ambientes
equilíbrio estratégico. operacionais, assim como as circunstâncias que os
produziram ou que devam alterá-los. O artigo de
Conclusão Gerasimov não está propondo um novo modo russo
A função de Gerasimov como Chefe do Estado- de combate ou uma guerra híbrida, como foi afirma-
Maior Geral faz dele o principal planejador e arquite- do no Ocidente. Além disso, na visão de Gerasimov
to operacional e estratégico para o desenvolvimento sobre o ambiente operacional, os EUA são a principal
da futura estrutura de força e capacidades russas. ameaça à Rússia.
Referências
1. Gabriel Gatehouse, “The Untold Story of the Maidan Massacre”, Being Prepared in Azerbaijan, Money for which Was Brought by ‘Fifth
BBC, 12 Feb. 2015, acesso em 5 nov. 2015, http://www.bbc.com/news/ Column’ NGOs”, Interfax, 8 Sept. 2015.
magazine-31359021. 8. Velimir Razuvayev, “Senators Approve First List of Russia’s Foes”,
2. Military Encyclopedic Dictionary (Moscow: Voyenizdat, 1983), p. Nezavisimaya Gazeta Online, 9 Jul. 2015, acesso em 14 jul. 2015, http://
585, s.v. “foresight”. www.ng.ru/politics/2015-07-09/3_senatory.html; “Putin agrees that
3. Jacob Kipp, “The Methodology of Foresight and Forecasting in USAID is trying to influence politics in Russia”, Interfax, 20 September
Soviet Military Affairs”, Soviet Army Studies Office, Fort Leavenworth, 2012; Veronika Krasheninnikova, “Who Is Serving in USAID? Watching
Kansas, 1988, acesso em 30 out. 2015, www.dtic.mil/dtic/tr/fulltext/u2/ over the Health of Russians Are American Career Military Persons and
a196677.pdf. Security Specialists”, Komsomolskaya Pravda online, 25 September
4. Anthony H. Cordesman, Ph.D., assistiu à Terceira Conferência 2012, acesso em 30 out. 2015, http://www.kp.ru/daily/25955/2896580/.
de Moscou sobre Segurança Internacional, realizada pelo Ministério 9. Cordesman, apresentação de slides de Gerasimov.
da Defesa da Rússia, em 23 de maio de 2014. Na ocasião, Cordesman 10. Ibid.
pôde tirar fotos da apresentação de slides do Gen Valery Gerasimov. 11. Charles K. Bartles, “Russia’s Indirect and Asymmetric Methods
Alguns dos principais slides da apresentação (figuras 1, 2 e 3) foram as a Response to the New Western Way of War”, em via de publica-
significativamente recriados para acompanhar este artigo. Cordesman ção; 2014 Russian Military Doctrine, acesso em 30 out. 2015, http://
elaborou, posteriormente, um relatório sobre a conferência que inclui news.kremlin.ru/media/events/files/41d527556bec8deb3530.pdf.
uma seleção maior dos slides apresentados por Gerasimov, assim 12. Ruslan Puhkov, “The Myth of Hybrid Warfare, Nezavisimaya
como materiais apresentados por outros participantes. O relatório é Gazeta online, 29 May 2015, acesso em 30 out. 2015, http://nvo.ng.ru/
intitulado “A Russian Military View of a World Destabilized by the US realty/2015-05-29/1_war.html; Jacob W. Kipp e Roger N. McDermott,
and the West”. É possível visualizá-lo na íntegra no site do Center for “The Bear Went Under the Mountain: Is Russia’s Style of Warfare
Strategic & International Studies, acesso em 20 nov. 2015, http://csis. Really New?” European Leadership Network online, 15 December
org/publication/russia-and-color-revolution. 2014, acesso em 17 jan. 2015, http://www.europeanleadershipnet-
5. Mark Galeotti, “The ‘Gerasimov Doctrine’ and Russian Non-Li- work.org/the-bear-went-under-the-mountain-is-russias-style-of-war-
near War”, In Moscow’s Shadows (blog), 6 July 2014, acesso em 5 nov. fare-really-new_2263.html.
2015, https://inmoscowsshadows.wordpress.com/2014/07/06/the-ge- 13. General Valeriy Gerasimov, “The Value of Science Is in the
rasimov-doctrine-and-russian-non-linear-war/. Toda análise do artigo Foresight: New Challenges Demand Rethinking the Forms and Methods
de Gerasimov deve incluir uma leitura minuciosa do blog de Mark of Carrying out Combat Operations”, Voyenno-Promyshlennyy Kurier
Galeotti, Ph.D., sobre o tema. O blog de Galeotti também apresenta online, 26 February 2013, acesso em 30 out. 2015, http://vpk-news.ru/
uma tradução do artigo [para o inglês] com comentários valiosos. articles/14632. [A tradução deste artigo consta desta mesma edição: “O
6. Nathan Hausman, “Competing Narratives: Comparing Perspec- Valor da Ciência está na Previsão: Novos Desafios Exigem Repensar as
tives on NATO Intervention in Kosovo”, December 2014, acesso em Formas e Métodos de Conduzir as Operações de Combate” (baseada
30 out. 2014, http://www.cla.temple.edu/cenfad/SAandJROTC/docu- na tradução para o inglês de Robert Coalson, p. 38). Cabe observar que
ments/Hausman%20US-Russia%20Kosovo.pdf. a tradução da citação no presente artigo baseia-se na tradução para
7. Roger N. McDermott, “Protecting the Motherland: Russia’s Cou- o inglês fornecida por Charles K. Bartles a partir do original em russo,
nter–Color Revolution Military Doctrine”, Eurasia Daily Monitor 11, 18 ligeiramente diferente da apresentada por Robert Coalson. — N. do T.]
November 2014, p. 206, acesso em 30 out. 2015, http://www.james- 14. Nikolai N. Sokov, “Why Russia calls a limited nuclear
town.org/single/?tx_ttnews%5Btt_news%5D=43094&no_cache=1#. strike ‘de-escalation’”, Bulletin of the Atomic Scientists, 13 Mar-
VJzJe14AA; Tony Papert, “Moscow Conference Identifies ‘Color ch 2014, acesso em 30 out. 2015, http://thebulletin.org/
Revolutions’ as War”, Executive Intelligence Review, 13 June 2014, aces- why-russia-calls-limited-nuclear-strike-de-escalation.
so em 30 out. 2015, http://www.larouchepub.com/eiw/public/2014/ 15. O. Yu. Aksyonov, Yu N. Tretyakov e Ye N. Filin, “Basic
eirv41n24-20140613/07-25_4124.pdf; Anthony H. Cordesman, Principles of a System to Assess Current and Anticipated Damage
“Russia and the ‘Color Revolution’: A Russian Military View of a to Key Strategic Deterrence System Elements”, Military Thought
World Destabilized by the US and the West”, Center for Strategic & 24(3), 2015, p. 44-51; Charles K. Bartles, “Russia’s Way of Maintai-
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csis.org/publication/russia-and-color-revolution; “Aliyev: ‘Maidan’ Was ‘Prompt Global Strike’ Countermeasures”, Interfax, 30 out. 2015.