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A absorção de recursos externos deve ser disciplinada por uma política que tenha em conta
seus efeitos positivos e negativos. [...] Não se pode perder de vista que o comércio exterior é o
pulmão pelo qual se respira o avanço tecnológico. Se mal administrado, esse comércio pode
levar a economia a uma paralisia progressiva. O formidável sobreendividamento que sofremos
entre 1995 e 1998 – o déficit em conta corrente somou algo como 100 bilhões de dólares –
ocorreu num período em que o crescimento econômico foi praticamente zero. Ora, esses
foram anos em que dobrou o grau de controle por grupos estrangeiros do capital fixo
reprodutivo do país. Furtado (1999, p. 36-38) FURTADO, Celso. Formação econômica do
Brasil. 19. ed. São Paulo: Nacional, 1984.
INTRODUÇÃO
Brasil e China são dois candidatos a potências globais. Nesses países tudo é superlativo, a
começar pelos territórios, passando pelos desafios e terminando nas oportunidades. A China,
apesar do seu território extenso, tem o desafio de compatibilizar o uso dos escassos recursos
naturais com a dimensão das necessidades em uma perspectiva de sustentabilidade, nacional
e global. Já o Brasil, com menores limitações ambientais e de recursos naturais do que a China,
tem o desafio de gerar riqueza para garantir o seu desenvolvimento, tendo por base
justamente seus recursos naturais. Nesse cenário, a China terá dificuldade de alimentar a sua
população e garantir matéria-prima sem recorrer às importações, enquanto o Brasil pode
projetar a geração sustentável de excedente agropecuário. Entretanto, o Brasil enfrenta
dificuldades para viabilizar os investimentos necessários para assegurar o crescimento
eficiente da produção agrícola, enquanto a China dispõe de riqueza para fomentar produções
em qualquer lugar do planeta. Ou seja, no contexto atual, Brsail e China, além de competirem
em vários mercados relevantes, apresentam desafios e oportunidades complementares.
A exploração do Brasil [...] foi uma empresa concebida nos mesmos termos do Império
das Índias: como um simples empreendimento comercial. As necessidades da
colonização mudarão, entretanto, a fisionomia externa da nova empresa. Essa mudança,
porém, afetará apenas a roupagem exterior. O sentido de empresa comercial se
conservará bem marcado. Esse sentido, que será o da evolução econômica da colônia,
presidirá a formação da sociedade. A análise da economia colonial é tão importante para
a compreensão da economia brasileira quanto a da formação histórica de Portugal para
compreender-se a razão de ser das grandes expedições e o sentido que tomou a empresa
de colonização. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 19. ed. São
Paulo: Nacional, 1984.
No período de 1930 a 1964, instala-se no País a fase do populismo, que ainda hoje
guarda suas marcas na maneira personalista de condução da Administração Pública. O
Estado brasileiro adquire no populismo características patrimonialistas em que o
público tornase quase que uma extensão do privado, inaugurando uma outra fase na
economia nacional, na qual o setor dinâmico deixa de ser a agricultura. Nesse momento,
a indústria passou a ser o centro das atenções.
O período do governo militar foi dividido em quatro fases, segundo Gremaud, Saes e
Toneto Júnior (1997), assim descritas:
Primeira de 1964/1967: fase marcada pela estagnação das atividades econômicas,
grandes reformas institucionais e preparação para entrada da economia brasileira na
economia mundial.
Segunda de 1968/1973: fase conhecida como a do “Milagre Econômico”, tendo o país
colhido os frutos dos ajustamentos anteriores, além da situação internacional apresentar
um quadro animador.
Terceira de 1974/1979: fase do recrudescimento da economia, com instabilidade na
economia internacional, após o choque do petróleo, que atingiu o mundo em cheio. Foi
nesse período que foi criado o II Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico com
vistas a organizar a economia diante das dificuldades.
Quarta de 1980/1984: fase assinalada internamente por recessão, inflação elevada,
redução do investimento estatal; e externamente por um quadro desfavorável devido à
elevação dos juros, ao segundo choque do petróleo e à instabilidade cambial.
GREMAUD, Amaury Patrick; et al. Formação econômica do Brasil. São Paulo:
Atlas, 1997.
Até pouco tempo atrás, o setor primário de nossa economia ainda era predominante em nosso
PIB. Somente partir dos anos 1960 a indústria superou a agricultura no valor agregado para o
conjunto de nossa economia. Contudo, a dinâmica de nossa economia já era considerada
industrial desde o fim da década de 1940. De qualquer forma, é importante chamarmos a
atenção para o caráter tardio em que se dá o processo de industrialização no Brasil, se
comparado aos países de capitalismo mais avançado, como os da Europa Ocidental, os Estados
Unidos, a Rússia e o Japão.
A primeira razão para entender o retardamento em nosso salto industrial consiste no longo
período de regime de trabalho escravista em nosso território. E é apenas por meio da
generalização da relação assalariada, a partir da abolição da escravatura, em 1888, que
podemos falar de capitalismo no Brasil, quando surgiriam, gradativamente, as condições
econômicas e políticas para o desenvolvimento industrial.
Essa é a segunda razão para entendermos a demora na industrialização no Brasil, na medida
em que as políticas econômicas adotadas ao longo de toda a República Velha tiveram como
preocupação central atender às necessidades da elite cafeeira, que, além do poder econômico,
detinha o poder político no período.
Vimos ainda que a estratégia brasileira de industrialização foi caracterizada por uma políti ca
de substi tuição de importações, que ganhou em complexidade até ati ngir o seu ápice no
início de 1970, com a nacionalização da produção de bens de capital. A ditadura militar (1964-
1984) marcou o fi nal do processo de industrialização por substi tuição de importações, por
causa de uma série de escolhas feitas pela equipe econômica no poder nesse período, como a
políti ca salarial regressiva e o aumento da dependência de capitais estrangeiros. Por fi m,
vimos que a estagnação econômica dos anos 1980, com altos índices de infl ação e dívida
externa crescente, afetou duramente o setor manufatureiro nacional. Dá-se início a um
processo de desindustrialização no País com a abertura comercial a parti r de 1990.
Um breve olhar sobre a história chinesa é importante para a compreensão do momento atual
e das perspectivas para a economia chinesa. Defende-se, aqui, que esse percurso analítico que
resgata o passado transcende o que poderia ser entendido como mera ilustração – ou
erudição – histórica, mas fornece as bases para a efetiva compreensão dos (firmes) passos
dados pelo país na metade de século que antecede o período central de análise do artigo, o
século XXI. É necessário recuar ao menos até a Revolução Chinesa, pois a simples menção às
“reformas pró-mercado” pós-1978 – como é comum em muitos estudos – não dá conta de
explicar o vigor da economia chinesa atual e, portanto, de suas potencialidades. De fato, as
reformas iniciadas em dezembro de 1978 não teriam resultado se não fossem as bases
deixadas pelo período maoísta. Popov (2015) afirma que as conquistas mais importantes desse
período foram: i) instituições fortes; ii) capital humano. Deixando de lado qualquer tentativa
de neutralidade semântica e explicitando o que de fato foram essas conquistas, é razoável
anunciá-las como: i) Estado forte; ii) trabalho, saúde e educação para a população4 . Alguns
poucos – mas eloquentes – fatos e números dão a dimensão do grau de radicalidade dessas
mudanças: enquanto no fim do século XIX, o governo central tinha um orçamento de apenas
3% do PIB e o governo do Kuomintang (1912-49) de 5% do PIB, o Estado que Mao deixa para as
reformas de Deng Xiapoping conta com um orçamento de 20% do PIB. Um amplo programa de
reforma agrária permite à população preponderantemente rural a possibilidade de trabalhar
na terra. A expectativa de vida na China, em 1950, era de apenas 35 anos (!) e atinge, no fim
dos anos 1970, 65 anos (Popov, 2015). Contando com “clearly the greatest experiment in the
mass education in the history of the world” (Unesco, 1984) 5 , a taxa de alfabetização saiu de
28% em 1949 para 65% no fim da década de 1970. A taxa de investimento no período pré-
1949 era de algo como 5% do PIB (Perkins, 1997) – insuficiente até para manter o estoque de
capital – e, no período pós-Revolução, avançou rapidamente para 20% e, posteriormente, 30%
do PIB. O investimento governamental – que liderava o processo – foi inicialmente
concentrado na indústria e nos setores de transportes e comunicação. Sob influência da
experiência soviética, o Primeiro Plano Quinquenal (1953-57) teve como objetivo desenvolver
a indústria pesada no país e, simultaneamente, a infraestrutura. Houve de imediato uma
mudança extraordinária no dinamismo econômico e o PIB começou a crescer de forma
acelerada. Se entre 1820 e 1950, o PIB chinês ficara praticamente estagnado6 , entre 1950 e
1973, sua taxa de crescimento médio foi de 5% ao ano, o que significou uma elevação média
do PIB per capita de 2,9% ao ano7 . Mesmo o comércio externo, apesar de ainda assentado em
bens básicos, já não era desprezível. Quando, portanto, Deng Xiaoping inicia as reformas de
1978, o país era outro, com uma parcela não desprezível da população com melhores
condições de vida, um Estado com capacidade de planejamento e execução, e uma economia
já a pleno vapor. De toda forma, o diagnóstico de seu governo indicava um desajuste
estrutural grave na economia chinesa, resultante, em grande medida, de performances
bastante distintas entre os diversos setores. O foco na indústria pesada resultara em baixas
taxas de crescimento no setor agrícola e na indústria de bens leves. Dada a relevância desses
dois setores para, respectivamente, a geração de emprego e a oferta de bens de consumo
acessíveis aos trabalhadores, o bem-estar da população estava sendo comprometido
(Monteiro Neto, 2005). No âmbito internacional, os anos 1970 foram marcados por uma
reaproximação da China com os Estados Unidos (EUA). Antagônicos em muitos aspectos, os
dois países uniam-se pelo desejo de enfrentamento à União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS). A aproximação se iniciou com a visita de Nixon a Mao, em 1971, e
prosseguiu com Kissinger e depois Carter, resultando na decisão de conferir o status de nação
mais favorecida à China. Mas, ao contrário de Japão, Coreia do Sul e Taiwan, que viveram um
“desenvolvimento a convite”, a China soube conciliar esse apoio com a manutenção de uma
estratégia autônoma (Medeiros, 2008). Nesse contexto, iniciou-se na China um movimento
inequívoco do planejamento econômico centralizado em direção a um uso maior dos
mercados, e das sinalizações e mecanismos de incentivo mercantis (Singh, 1993). No entanto,
esse movimento – e as mudanças institucionais implicadas – foram muito graduais, seguindo à
máxima de “atravessar o rio sentindo cada pedra” (Deng Xiaoping). A estratégia foi modernizar
a economia, mas preservando a unidade nacional, as instituições políticas assentadas no
monopólio do poder pelo PCC e a propriedade preponderantemente pública das terras e do
capital. Houve, de fato, uma conciliação entre a manutenção do planejamento central, mas
com grau maior – e crescente – de descentralização administrativa. Do ponto de vista da
produção setorial, os principais objetivos alinhavam-se com a necessidade de dar uma
resposta ao diagnóstico supracitado com relação aos desajustes estruturais, ou seja, buscava-
se o aumento da produção agrícola e uma transição da indústria pesada para a leve. Isso foi
feito primordialmente por mudanças nos mecanismos de organização produtiva, um pesado
investimento em infraestrutura e a facilitação da aquisição de bens intermediários8 . No
tocante ao comércio exterior, a chamada política das “portas abertas” partia do
reconhecimento da necessidade de importação de tecnologia e, em termos mais amplos, da
pertinência do aprofundamento do comércio exterior chinês como importante vetor para o
desenvolvimento econômico do país9 . Os mecanismos iniciais foram a descentralização
decisória, o aumento do acesso de algumas empresas ao mercado cambial e a criação das
zonas econômicas especiais (ZEE), com menos restrições e regulações. Ademais, foram sendo
gradualmente aliviadas algumas restrições relativas à entrada de Investimento Direto
Estrangeiro (IDE). Adicionalmente, houve reformas na gestão das empresas estatais,
liberalização de uma parte dos preços da economia, realização de uma política monetária
expansionista, uma política cambial favorável e expansão do gasto público. Os resultados
econômicos foram impressionantes. De 1978 a 1989, o consumo per capita dobrou; a
população abaixo da linha de pobreza, que ainda era de 28% em 1978, caiu para 8,6% em 1989
(menos 170 milhões pessoas consideradas pobres); de 1978 a 1991, as exportações chinesas
cresceram de 0,3% para 1,8% das exportações mundiais; já em 1992, 80% dessas exportações
eram de manufaturados. Obviamente, isso aumentou muito a capacidade da China de
importar, sobretudo bens de capital. O ano de 1992 é tido como um novo marco na evolução
da estratégia chinesa. Nesse momento, Deng Xiaoping se afastou do governo e uma nova
rodada de reformas foi colocada em prática. Foi implementada uma estratégia de
diversificação das exportações e de catching up tecnológico que passava primordialmente por
uma abertura adicional para os IDEs, pela criação de novas ZEEs e pela formação de
conglomerados empresariais 10 em setores estratégicos (com o intuito de torná-los
futuramente capazes de competir com as grandes multinacionais globais). O padrão de
crescimento chinês continuou acelerado, assim como os ganhos de participação no comércio
internacional e a entrada em setores e produtos de tecnologias cada vez mais avançadas.
Assim, por meio de uma estratégia absolutamente autêntica – a despeito da inspiração
seletiva em algumas políticas bem sucedidas em outros países –, a China criou seu próprio
caminho, denominado por Deng de “socialismo de mercado”11 . Análises que vinculam o
dinamismo chinês à mercantilização de sua economia não podem jamais ignorar, portanto, o
absoluto protagonismo do Estado na definição dos rumos da economia. Ao final do século XX,
já era clara a re-emergência da China como grande potência mundial. Não era claro, porém, se
a velocidade e a intensidade das transformações poderiam ser mantidas no século que se
iniciaria. (Impactos da economia chinesa sobre a brasileira no início do século XXI: o que
querem que sejamos e o que queremos ser Bruno De Conti Nicholas Blikstad Unicamp. IE,
Campinas, n. 292, abr. 2017)
O paraíso brasileiro natural
Foco no Brasil: falar sobre recursos naturais brasileiros, tanto de terras, commodities,
minérios e um foco especial pra geografia e extensão territorial pra introduzir ao
campo na energia
A água é um dos principais, sendo que o Brasil possui 12% das águas superficiais
disponíveis no planeta. Além disso, 90% do território recebe chuvas com regularidade e
contamos com uma das maiores reservas de água doce do mundo.
A exploração de recursos minerais é uma atividade com grande potencial, e o Brasil está
a par de grandes potências nesse quesito, como Rússia, China e Estados Unidos.
Nosso principal minério é o ferro, com cerca de 90% das exportações de mineração
brasileiras para comerciá-lo. Ele é usado como matéria-prima para fazer o aço. Já a
extração brasileira dos metais nióbios e ferro representa 75% de suas produções
mundiais.
Outro minério muito encontrado no país para fazer aço é o manganês, presente
principalmente na região norte. O Brasil possui também uma das maiores reservas de
bauxita. Esse mineral é mais difícil de ser encontrado e é usado para a produção de
alumínio.
As regiões que possuem mais recursos minerais no Brasil são Minas Gerais, no
Quadrilátero Ferrífero; na Província Mineral de Carajás, no Pará e no Estado do Mato
Grosso do Sul.
A China possui atualmente uma das economias que mais crescem no mundo, embora
tenha apresentado uma desaceleração nos últimos anos. A média de crescimento
econômico deste país, nos últimos anos é de quase 7,5%. Uma taxa superior a das
maiores economias mundiais, inclusive a do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB)
da China atingiu, em valores correntes, US$ 12 trilhões ou 82,7 trilhões de iuanes em 2017
(com crescimento de 6,9%), fazendo deste país a segunda maior economia do mundo (fica
apenas atrás dos Estados Unidos). Estas cifras apontam que a economia chinesa
representa atualmente cerca de 15% da economia mundial.
2018 1 394 102 196 0.52 %
Para preservar o crescimento econômico vigoroso, a economia chinesa está passando por
mudanças estruturais profundas que envolvem a urbanização, a elevação da produtividade e
da eficiência em setores intensivos de mão de obra, o controle da poluição e a maior
preocupação com o meio ambiente e os recursos naturais. Também são relevantes a
introdução de uma rede de proteção social e da melhoraria contínua dos meios de vida da
população nas dimensões cultural e da justiça social. O desenvolvimento futuro da China
depende de transformações econômicas e da modernização, com ênfase na expansão do
consumo interno decorrente tanto de uma “nova” indústria, calcada na tecnologia e no
“verde”, quanto do crescimento do setor de serviços. Essas mudanças, fortemente baseadas
em aplicações da tecnologia da informação (TI) e das novas ciências (nanotecnologia,
biotecnologia e microeletrônica), assim como na mudança da matriz energética e na
urbanização, não serão sustentáveis sem a modernização agrícola. As reformas devem
considerar desafios, como o meio ambiente e o padrão de vida da população, o que tem
implicações com o consumo e a geopolítica. Todas essas questões determinarão o apetite
chinês e, consequentemente, dizem respeito à agricultura, tanto em escala regional quanto
global. Nesse sentido, nos próximos subtópicos serão discutidas as causas e as consequências
do apetite chinês, bem como a capacidade da China em saciar a sua fome.
Tanto a política energética da China quanto o avanço na direção da tecnologia e dos serviços
corroboram a estratégia de industrialização de produtos agrícolas com maiores possibilidades
de agregações de valor ao longo da cadeia. Isto significa que a China vem buscando a
construção de novas bases para sua competitividade, até pouco baseada na abundância e na
baixa remuneração da mão de obra, e que aos poucos vão deslocando-se para a tecnologia e
os ganhos de eficiência sistêmica.
O BRASIL ALIMENTARÁ A CHINA OU A CHINA ENGOLIRÁ O BRASIL? Pedro Abel Vieira1 Antônio
Marcio Buainain2 Eliana Valeria Covolan Figueiredo, revista tempo do mundo | rtm | v. 2 | n. 1
| jan. 2016
a Iniciativa One Belt, One Road (OBOR) representa uma ampliação e aprofundamento de
proatividade da China na configuração da dinâmica de integração regional. Antes centrada
num vetor a leste (ASEAN+1) e outro a oeste (OCX), agora alcança grande parte da Europa,
Oriente Médio e até África. É nitidamente um transbordamento do protagonismo diplomático
chinês e um alargamento do sistema sinocêntrico.
O cinturão e a Rota perpassam a Ásia, a Europa e a África, conectando o vibrante eixo
econômico da Ásia Oriental com a Europa, englobando diversos países com enorme potencial
de desenvolvimento econômico. O Cinturão Econômico tem como foco trazer junto China, Ásia
Central, Rússia e Europa (Báltico); ligando a China com o Golfo Pérsico e o Mar Mediterrâneo
através da Ásia Central e Ásia Ocidental; e conectando a China com o Sudeste Asiático, Ásia
Meridional e Oceano Índico. A Rota da Seda Marítima está desenhada para ir da costa chinesa
a Europa através do Mar do Sul da China e do Oceano Índico em uma rota, e do Mar do Sul da
China para o Sul do Pacífico em outra rota (CNRD, 2015). NATIONAL DEVELOPMENT AND
REFORM COMMISSION (CNRD). Vision and Actions on Jointly Building Silk Road Economic
Belt and 21st-Century Maritime Silk Road. 2015.
De maneira geral, as autoridades chinesas relacionam a Iniciativa OBOR aos Cinco Princípios da
Coexistência Pacífica e à busca por relações “win-win”, fundadas em “bases comuns de
cooperação e desenvolvimento” (CNRD, 2015). Em consonância, Yiwei (2016) argumenta que a
Iniciativa OBOR se difere da globalização tradicional na medida em que a sua proposta possui o
potencial de proporcionar uma globalização inclusiva, sem assimetrias entre o marítimo e o
terrestre; o urbano e o rural; os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. A inserção e a
inclusão estariam centradas no que o autor denominou como “cinco fatores de
conectividade”, nomeadamente: a) comunicação política; b) conectividade de infraestrutura;
c) comércio desimpedido; d) circulação monetária; e) entendimento entre pessoas. No que diz
respeito à comunicação política, percebe-se que a RPC se encontra em um processo de
estabelecimento de “parcerias estratégicas” no plano externo, sobretudo com países
associados ao Cinturão e a Rota Marítima. ZHANG, Feng. China as a Global Force. Asia &The
Pacific Policy Studies, vol.3, no.1, pp.120- 128, 2015 YIWEI, Wang. The Belt and Road
Initiative. What Will China Offer the World In Its Rise. New World Press. 2016
A entrada da China na OMC, a queda da tarifa média de importação ao longo da década de
199014 e os esforços adicionais empreendidos pelo país, a partir de 2001, para a abertura de
novos mercados (Zana, 2016), propiciaram uma maior integração comercial do país com o
resto do mundo. Ao mesmo tempo, a aceleração da economia internacional, a partir de 2002-
2003 – assentada em um círculo virtuoso de estímulos recíprocos notadamente entre as
economias chinesa e estadunidense – manteve e até acelerou a tendência de forte dinamismo
das exportações e importações da China, com uma taxa de crescimento anual superior aos
20% em grande parte do período 2002-2008 (ver Tabela 1). Com a eclosão da crise financeira
global, em 2007-2008, ocorreu uma desaceleração da taxa de crescimento do comércio
mundial e a China não passou ilesa, com uma expressiva contração de 11% das exportações
em 2009. A despeito de uma recuperação pontual no ano seguinte, as taxas de crescimento
das exportações e importações totais chinesas se reduziram drasticamente desde então,
havendo até uma rara contração das exportações em 2015. Impactos da economia chinesa
sobre a brasileira no início do século XXI: o que querem que sejamos e o que queremos ser
Bruno De Conti Nicholas Blikstad Unicamp. IE, Campinas, n. 292, abr. 2017
O acelerado crescimento econômico vivenciado pela China a partir do início dos anos 2000
aumentou vertiginosamente a demanda interna por diversas matérias-primas. Devido à sua
escassez relativa de recursos naturais, a produção chinesa de bens baseados nos mesmos não
conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento do consumo, fazendo com que a dependência
de importações se elevasse rapidamente. Para assegurar o fornecimento de longo prazo, o
país asiático criou uma sistemática de acesso global, através de três vias, ou seja, importação,
investimento estrangeiro direto e financiamento externo. A América Latina vem se tornando
cada vez mais importante no fornecimento de matérias-primas para China e é muito provável
que, no futuro, a região venha a assumir uma posição de ainda maior destaque. Entre 2000 e
2015, o valor das importações chinesas com origem na região latino-americana se multiplicou
por 21. Recentemente, o país asiático também vem realizando investimentos no setor de
recursos naturais da região de forma crescente, e firmando diversos contratos de empréstimo
com contrapartida em petróleo. Rocha, Felipe Freitas da. Acesso chinês a recursos naturais na
América Latina / Felipe Freitas da Ro- cha. – 2016.
Em 2016, a China tornou-se o segundo maior país investidor depois dos Estados Unidos
O IDE na China caiu 1% em 2016, enquanto a participação do país nos investimentos
no exterior continuou a crescer. Uma década atrás, as saídas de IDE da China
representavam apenas 1,3% dos fluxos globais, comparado com 16,5% para os Estados
Unidos (o maior investidor). Em 2016, a participação da China nos investimentos
externos em IDE subiu para 12,6%, tornando-se o segundo maior investidor mundial
depois dos Estados Unidos (20,6%). ■ A estratégia “Go Global” da China, lançada há
mais de uma década, consolidou seu papel de player global que se integra ao
funcionamento de setores cada vez mais sofisticados, engajando-se ativamente nas
novas tendências tecnológicas da quarta revolução industrial, particularmente por meio
de fusões. e aquisições. ■ Os investimentos da China no exterior atingiram o recorde de
US $ 183,1 bilhões em 2016 e, pela primeira vez, superaram os ingressos de IED,
tornando esse país um investidor líquido.
A China está se tornando líder mundial em inovação tecnológica por trás da promoção
do desenvolvimento tecnológico, sua participação no valor agregado da atividade
manufatureira global e o desenvolvimento e uso de novas tecnologias de produção,
como tecnologias digitais e de automação e avanços em robótica. As estratégias e
políticas implementadas pelo Governo incluem o Plano Nacional de Médio e Longo
Prazo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (2006-2020), a decisão do
Conselho de Estado para acelerar o desenvolvimento de indústrias emergentes
estratégicas (2010) e o Made in Programas China 2025 (2015) e Internet Plus (2015).
O programa Made in China 2025 identifica 10 setores prioritários: tecnologia da
informação da próxima geração; máquinas de controle numérico e robótica de ponta;
equipamentos aeroespaciais e de aviação; equipamentos de engenharia marítima e
fabricação de embarcações marítimas de alta tecnologia; equipamento ferroviário
avançado; veículos de poupança de energia e de nova energia; equipamento elétrico;
máquinas e equipamentos agrícolas; novos materiais; e dispositivos médicos de
biomedicina e de alto desempenho.
A China aumentou sua participação no investimento global em P & D de 4,7% para
24%, enquanto a América Latina continua pairando em torno de 3% do total mundial
O Brasil recebeu 55% dos investimentos feitos por empresas chinesas na região desde 2005,
incluindo as estimativas de 2017, seguido pelo Peru, com 17%, e pela Argentina, com 9%.
Assim, os três principais países receptores respondem por 81% do IDE chinês na região.
O setor de energia tem sido o principal alvo de fusões e aquisições de empresas chinesas na
América Latina e no Caribe. Com relação às aquisições de empresas chinesas na região, 49%
do total foram para este setor e 12% para energias renováveis. Enquanto isso, mineração e
utilitários representaram 9% e 33% do total, respectivamente. Nesse contexto, o
considerável crescimento dos investimentos chineses em 2017 deveu-se à venda das
principais empresas brasileiras de energia, cujo valor ultrapassou US $ 17 bilhões.
Além de projetos de investimento e fusões e aquisições, os contratos de construção com
empresas chinesas ganharam importância crescente na América Latina e no Caribe. Em muitos
casos, esses contratos de construção são concedidos pelo Estado e recebem financiamento de
bancos chineses. ■ Entre 2011 e 2016, várias empresas chinesas receberam contratos de
construção na região no valor de quase US $ 40 bilhões, 40% acima do valor total de novos
projetos e de fusões e aquisições no mesmo período, que somaram US $ 28 bilhões. ■ A
maioria dos contratos foi nos setores de energia (representando 66% do valor total dos
contratos entre 2011 e 2016) e de transporte (16%). Grandes projetos hidrelétricos
representaram a maioria (40%) desses contratos.