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“À guerra, cavaleiros

esforçados! Pois os
anjos sagrados em
socorro estão em terra.
À guerra!”
(Gil Vicente)

Edição especial | 2ª quinzena de agosto de 2014 Vol.XXI, nº6

Marina Silva
e a astúcia ambientalista
de um velho colonialismo
2 Solidariedade Ibero-americana

Marina Silva e a astúcia


ambientalista de um
velho colonialismo
A
ascensão de Marina Silva nas Nesse cenário, o País se vê diante da
pesquisas eleitorais, com reais possibilidade de vir a ser governado por
possibilidades de chegar à Presi- uma personagem com uma visão arcaica
dência da República, após a trá- e bucólica sobre o desenvolvimento
gica morte de Eduardo Campos, reflete socioeconômico e que, apresentando-
o desencanto com o putrefato sistema -se como opositora da “política tradi-
político-partidário atual, implicando em cional” e seus defeitos, tem uma face
uma cega manifestação de repúdio sem menos conhecida. De fato, toda a traje-
propostas políticas alternativas viáveis. tória política de Marina foi feita à som-
Na Europa das décadas de 1920-1930, bra de um insidioso aparato oligárquico
condições análogas ensejaram o – para internacional, integrado por entidades
muitos inimaginável – surgimento do privadas e governamentais de certos
nazifascismo. No Brasil de hoje, o vácuo países do Hemisfério Norte, que, nas úl-
de perspectivas positivas gera o risco de timas décadas, tem manipulado os pro-
um processo de convulsões desagrega- blemas ambientais e indígenas do Bra-
doras, com consequências imprevisíveis. sil, utilizando-os como instrumentos de
Neste contexto, são preocupantes as pro- pressão para enquadrar as políticas pú-
postas de “democracia direta” ou plebis- blicas nacionais na sua agenda hege-
citária feitas pela candidata do PSB, que mônica. Este aparato supranacional
implicam na substituição das institui- funciona como uma estrutura de “gover-
ções legítimas do Estado nacional sobe- no mundial”, com grande capacidade de
rano – incluindo aí o sistema sindical –, impor parcial ou integralmente a sua
hoje, profundamente fragilizadas, por agenda aos governos nacionais.
uma rede de organizações não-governa- A influência desse aparato de poder,
mentais (ONGs) e movimentos sociais, até agora, tem se dado por meio de pres-
insuflados por interesses internacionais. sões diretas de governos estrangeiros,

Diretora: Silvia Palacios Rua México, 31 s.202


CEP 20.031-144 – Rio de Janeiro-RJ
Conselho editorial: Angel Palacios Zea,
Geraldo Luís Lino e Lorenzo Carrasco Telefax: + (21) 2532-4086
E-mail: msia@msia.org.br
Publicado pelo Projeto Gráfico: Maurício Santos Sítio: www.msia.org.br
MSIA – Movimento
de Solidariedade Foto da capa: Marina Silva recebendo a Medalha Duque de Edimburgo, das mãos
Ibero-americana do príncipe Philip, presidente de honra do WWF (foto Theodore Wood)
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dotações de verbas oficiais e privadas


direcionadas para a implementação de “Marina sempre teve boa relação com as
certas políticas ambientais (muito apre- casas reais da Europa e com a
ciadas por governos às voltas com restri- aristocracia europeia. Não podemos
ções orçamentárias), ações diretas de determinar quem a Casa Real vai
uma bem financiada rede de ONGs e a convidar, fazer o que?”
cooptação de lideranças políticas, acadê-
(Ministro dos Esportes Aldo Rebelo)
micos, profissionais de áreas diversas,
jornalistas e outras personalidades capa-
zes de influenciar a opinião pública em
favor da agenda ambientalista-indige- surpresa do governo: “Marina sempre
nista. Em condições de crise mais aguda, teve boa relação com as casas reais da
abre-se a possibilidade da manipulação Europa e com a aristocracia europeia.
de multidões, como as que se manifesta- Não podemos determinar quem a Casa
ram em junho de 2013, para a imposição Real vai convidar, fazer o que?” (Agên-
de reformas radicais. cia Estado, 27/07/2012).
Com a sua visão anticientífica e pré- Comentando o episódio, o veterano
-cristã dos problemas ambientais e indí- jornalista Mauro Santayana observou:
genas e uma imagem pública de política “Marina Silva transita à vontade pelos
ética e contrária “a tudo isso que está salões da aristocracia europeia e norte-
aí”, Marina tem sido uma importante -americana. É homenageada, com fre-
agente de influência daquela rede oligár- quência, pelas grandes ONGs, como o
quica, que, desde a década de 1980, tem WWF [Fundo Mundial para a Natureza],
conseguido obstaculizar projetos de in- que contava, até há pouco, com o caça-
fraestrutura fundamentais para a plena dor de ursos e de elefantes, o rei Juan
integração física do território nacional, Carlos, da Espanha, como uma de suas
além do desenvolvimento de certas tecno- principais personalidades. Na melhor
logias avançadas, como a energia nuclear, das hipóteses, a senhora Marina Silva é
a biotecnologia e outras. ingênua, inocente útil, o que é comum
O seu status global pode ser avaliado nas manobras políticas internacionais.
pelas numerosas premiações recebidas de Na outra hipótese, ela sabe que está sen-
instituições estrangeiras, desde a década do usada para enfraquecer a posição da
de 1990, a sua vinculação a um impor- nação quanto à defesa de sua prerrogati-
tante grupo internacional de discussões, va de exercer plenamente a soberania
o Diálogo Interamericano, e, não menos, sobre o nosso território (Jornal do Brasil
a sua emblemática e polêmica participa- Online, 30/07/2012).”
ção na abertura dos Jogos Olímpicos de Meses depois, após o anúncio da cria-
2012, em Londres, quando, sem conheci- ção da Rede Sustentabilidade, Santaya-
mento do governo brasileiro, ela foi uma na sintetizou assim o seu papel: “A Sra.
das oito personalidades de todo o mundo Silva, como alguns outros brasileiros que
convidadas para entrar com o pavilhão se pretendem na esquerda, é uma inter-
olímpico no Estádio Olímpico. nacionalista. O meio ambiente, que que-
Na ocasião, o ministro do Esporte, rem preservar tais verdes e assimilados,
Aldo Rebelo, justificou com ironia a não é o do Brasil para os brasileiros, mas
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é o do Brasil para o mundo. Quando a competentes, como pelas excessivas com-


Família Real Inglesa e os círculos oficiais pensações socioambientais exigidas dos
e financeiros norte-americanos cercam a empreendimentos maiores, em uma trans-
menina pobre dos seringais de home- ferência de atribuições e custos que deve-
nagens, usam de uma astúcia velha dos riam caber aos poderes públicos.
colonialistas, e fazem lembrar os france- Os resultados foram equivalentes
ses na aliança com a Confederação dos aos de uma guerra econômica contra o
Tamoios, e os holandeses em suas rela- País, com grandes atrasos na ampliação
ções com Calabar (Jornal do Brasil On- da infraestrutura necessária às ativida-
line, 22/02/2013).” des produtivas. Um estudo do Banco
No Ministério do Meio Ambiente Mundial, divulgado em 2008, demons-
(2003-2008), Marina empenhou-se em trou que o processo de licenciamento de
consolidar a imposição de estritos limi- projetos hidrelétricos chegava a durar
tes ambientais às políticas e iniciativas três vezes mais que os prazos estabeleci-
de desenvolvimento. Com ela, a pasta dos pela própria legislação ambiental.
passou a ser chamada o “Ministério das Outros estudos apontaram que o custo
ONGs”, devido aos muitos represen- das condicionantes socioambientais os-
tantes do movimento ambientalista no- cilava entre 15% e 30%, em alguns ca-
meados para cargos de direção. Com o sos, chegando perto de 50% – provocan-
MMA convertido em um autêntico en- do um desnecessário encarecimento dos
clave neocolonial de interesses interna- empreendimentos, com os devidos im-
cionais, o processo de licenciamento am- pactos socioeconômicos. Embora tais
biental se tornou um dos maiores entra- tendências já se manifestassem antes,
ves a todo tipo de empreendimentos, elas ganharam ímpeto com Marina.
tanto pelo retardamento (com frequên- Igualmente, Marina contribuiu para
cia, deliberado) das análises dos estudos um dos mais desastrosos resultados da
de impactos ambientais pelos órgãos campanha ambientalista, a limitação do
tamanho dos reservatórios das usinas
hidrelétricas, que restringe drastica-
mente a sua capacidade de armazena-
“A Sra. Silva, como alguns outros
mento de água nos períodos secos –
brasileiros que se pretendem na como o que afetou a Região Sudeste este
esquerda, é uma internacionalista. O meio ano, aumentando o risco de um novo
ambiente, que querem preservar tais racionamento de energia.
verdes e assimilados, não é o do Brasil A visão radical de Marina sobre o
para os brasileiros, mas é o do Brasil para meio ambiente, que coloca os benefícios
socioeconômicos dos empreendimentos
o mundo. Quando a Família Real Inglesa
de infraestrutura em um plano bem in-
e os círculos oficiais e financeiros norte- ferior ao dos impactos ambientais dos
americanos cercam a menina pobre dos mesmos, motivou numerosos atritos
seringais de homenagens, usam de uma com os seus colegas do governo e, em úl-
astúcia velha dos colonialistas.” tima análise, foi a responsável pela sua
(Mauro Santayana) saída do MMA, em maio de 2008, em
protesto pela entrega da coordenação
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Marina Silva na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres (foto Getty Images)

do Programa Amazônia Sustentável ao a autonomia formal do Banco Central e


ministro da Secretaria de Assuntos Es- a preservação da “trindade monetária”,
tratégicos, Roberto Mangabeira Unger. com um férreo compromisso com a ob-
O seu questionável conceito de hu- tenção de superávits fiscais, o controle
manismo lembra o da personagem dos da inflação com a taxa de juros (altos) e
Irmãos Karamazov de Dostoiévski, que a manutenção das taxas de câmbio flu-
admitia: “Quanto mais amo a humani- tuantes. Não por acaso, entre os seus as-
dade em geral, menos amo as pessoas em sessores, destacam-se a cientista social
particular, como indivíduos.” Maria Alice Setúbal, herdeira da família
Talvez, a percepção desse fato expli- controladora do Banco Itaú, e os econo-
que por que, na eleição de 2010, os elei- mistas André Lara Resende, ex-presi-
tores do Acre, que a conhecem de perto, dente do BNDES no governo Fernando
a tenham deixado em terceiro lugar, a Henrique, e Eduardo Giannetti da Fon-
mesma posição geral no quadro nacio- seca, ambos ligados aos processos espe-
nal, sendo que as suas maiores votações culativos dos mercados financeiros.
proporcionais foram obtidas nos estados Em suma, Marina Silva bem pode ser
mais distantes da Região Amazônica. definida como um moderno derivativo
Além da questão ambiental, outra da velha astúcia colonialista.
área em que Marina demonstra posições Nas páginas seguintes, detalharemos
convergentes com a agenda oligárquica é a intimidade da candidata herdada pelo
a da “financeirização” da economia, em PSB com a oligarquia internacional, para
detrimento das atividades produtivas. que os leitores avaliem que interesses
Aqui, as suas propostas soam como músi- serão mais bem servidos, caso ela e a sua
ca aos ouvidos dos mercados financeiros: rede cheguem ao Palácio do Planalto.
6 Solidariedade Ibero-americana

Marina Silva
nas redes da
“Máfia Verde”
A
militância de Marina Silva como entidades supranacionais e não-gover-
campeã da causa ambiental re- namentais, consolidando estruturas de
monta ao início da investida do “governo mundial” (ou “governança
aparato ambientalista interna- global”); 2) erradicar o “vírus do pro-
cional contra o Brasil. gresso” entre os estratos educados das
Ao contrário do que se pensa geral- sociedades de todo o mundo, com a difu-
mente, o surgimento dos movimentos são do irracionalismo e da descrença nas
ambientalista e indigenista no cenário conquistas científico-tecnológicas como
mundial, como influentes forças políti- motores do desenvolvimento; 3) reduzir
cas, nas últimas décadas, não decorreu o crescimento da população mundial; e
de um processo espontâneo de conscien- 4) controlar uma grande proporção dos
tização de amplos setores das sociedades recursos naturais do planeta.
de todo o planeta sobre as necessidades Da mesma forma, o Dr. Donald Gi-
reais de cuidados com o meio ambiente bson, professor de Sociologia da Uni-
e de atenção com as comunidades indí- versidade de Pittsburgh, escreve, em
genas. Em vez disto, ambos foram arti- Environmentalism: Ideology and Power
ficialmente criados por altos círculos (Ambientalismo: ideologia e poder –
oligárquicos anglo-americanos, desde as 2002): “De uma maneira geral, o am-
décadas de 1950-1960, com o propósito bientalismo e seus antecessores [refe-
bem definido de empregá-los como ins- rência à eugenia e aos movimentos de
trumentos políticos contra o impulso de controle de população – n.e.] expressam
progresso que se espalhava pelos países um receio da classe superior, de que a as-
em desenvolvimento, baseado em vigo- censão de outros grupos diminua ou
rosos programas de industrialização e ameace o seu poder e status. O ambien-
expansão da infraestrutura física. talismo é uma expressão política dos
Como define Lorenzo Carrasco, no receios da classe superior sobre o pro-
livro Máfia Verde: o ambientalismo a gresso. O neocolonialismo e o darwinis-
serviço do Governo Mundial (2001), tal mo social são outras expressões desse
estratégia visava, basicamente: 1) trans- medo. Quando uma classe superior age
ferir o controle dos processos de desen- motivada por esses medos, ela se torna
volvimento, dos Estados nacionais para uma ameaça ao progresso.”
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Desde o início, o propósito principal sem que haja alternativas tecnológica e


do ambientalismo tem sido o de impor a economicamente viáveis aos combustí-
falaciosa ideia da impossibilidade física veis fósseis, baseada na promoção de
de que todos os países do mundo possam uma inexistente influência humana no
desfrutar de elevados níveis de desenvol- clima em escala global. Enfim, quase in-
vimento e justiça social, como os experi- variavelmente, os alvos principais das
mentados pelos países industrializados, suas ruidosas campanhas têm sido ele-
sob o pretexto da “escassez” de recursos mentos que são sinônimos de bem-estar
naturais e dos impactos ambientais ale- e progresso, dos quais pretendem afastar
gadamente inaceitáveis. Como esta ideia os países em desenvolvimento.
aberrante é contrária ao senso comum O Brasil entrou na alça de mira desse
da grande maioria das pessoas, para que aparato intervencionista a partir da dé-
estas passassem a aceitá-la e integrá-la cada de 1980, tendo como alvos prin-
na sua visão do mundo, seria preciso cipais os projetos de desenvolvimento
apresentá-la sob uma forma disfarçada e na Amazônia, como o Polonoroeste, um
mais “palatável”. Daí surgiu o conceito programa de assentamento de popula-
de que as expectativas de desenvolvi- ções rurais em Rondônia, e os projetos
mento dos países que ainda não moder- de infraestrutura planejados para a re-
nizaram as suas economias teriam que gião, como usinas hidrelétricas, rodovias
ser cuidadosamente restringidas, para e outros. As pontas-de-lança da inves-
não prejudicar o meio ambiente e as pos- tida foram as ONGs estadunidenses
sibilidades das futuras gerações. Temos, Natural Resources Defense Council
assim, um colonialismo de um novo tipo, (NRDC), Environmental Defense Fund
que, reconheça-se, é bem mais eficiente (EDF) e National Wildlife Federation
que a modalidade direta tradicional, (NWF), das mais influentes do país,
pois força os indivíduos subjugados a apoiadas pela britânica Oxfam e as
organizarem-se contra os interesses da “brasileiras” Centro Econômico de
sua própria sociedade, acreditando que Documentação e Informação (CEDI) e
estão contribuindo para uma causa Instituto de Estudos Sócio-Econômi-
nobre e universal. cos (INESC). Em paralelo, a Gaia Foun-
No currículo desse radicalismo, ali- dation britânica se aproximou do agrô-
nham-se, entre outras “façanhas”: o ba- nomo gaúcho José Lutzenberger, que
nimento do DDT, ainda hoje o mais efi- viria a tornar-se um dos ícones do am-
ciente inseticida já produzido, respon- bientalismo brasileiro.
sável pela preservação de literalmente Por sua vez, o CEDI era vinculado
centenas de milhões de vidas em todo o diretamente ao Conselho Mundial de
mundo, evitando que fossem vitimadas Igrejas (CMI), entidade criada em 1948,
por doenças transmitidas por insetos; por um seleto grupo de oligarcas do
o banimento dos clorofluorcarbonos Establishment anglo-americano, com o
(CFCs), versáteis produtos químicos que propósito de utilizar a causa do “ecume-
possibilitaram a popularização da refri- nismo” religioso para diversas operações
geração e seus incontáveis benefícios; de desestabilização em países como o
um atraso de décadas nos usos pacíficos Brasil, onde os seus representantes ope-
da energia nuclear; a obstaculização de ram desde a década de 1950 (sobre o
incontáveis projetos de infraestrutura; a CMI, ver Quem manipula os povos indí-
campanha de “descarbonização” da ma- genas contra o desenvolvimento do
triz energética da economia mundial, Brasil: um olhar nos porões do Conselho
8 Solidariedade Ibero-americana

Mundial de Igrejas, de Lorenzo Carrasco


e Silvia Palacios, 2013). As carreiras internacionais de Chico
Como resultado direto das ações des- Mendes e Marina Silva como paladinos da
ses grupos, o Banco Mundial começou a causa ambiental foram promovidas pelas
suspender os empréstimos ao Brasil para
ONGs Environmental Defense Fundo,
vários projetos, alegando os impactos
ambientais dos mesmos, começando, em National Wildlife Federation e Oxfam.
1985, pela pavimentação da já existente Chico Mendes não se considerava um
rodovia BR-364 (que, diga-se de passa- ambientalista.
gem, até hoje não foi concluída). Igual-
mente, em lugar de priorizar obras de
infraestrutura, o Banco Interamericano os estadunidenses Stephan Schwartzman
de Desenvolvimento (BID) passou a pro- (EDF) e Barbara Bramble (NWF); o in-
ver recursos para a implantação de reser- glês Tony Gross (Oxfam); e a brasileira
vas extrativistas, para promover uma Mary Allegretti (Instituto de Estudos
das atividades econômicas mais primi- Amazônicos). Marina Silva, então pro-
tivas conhecidas pelo homem, que se fessora secundária, fazia parte do grupo
converteu no paradigma do “desenvolvi- político de Mendes, com quem fundou a
mento sustentado” para a Amazônia. filial acreana da Central Única dos Tra-
Uma parte importante dessas opera- balhadores (CUT), antes de conquistar o
ções foi a conversão do líder seringueiro seu primeiro cargo eletivo, como verea-
acriano Chico Mendes em um campeão dora em Rio Branco, em 1988.
internacional da defesa da Floresta Ama- O assassinato de Mendes, em dezem-
zônica. Para tanto, a NWF, EDF e NRDC bro de 1988, em Xapuri (AC), motivado
patrocinaram uma série de visitas de por uma antiga rixa com um fazendeiro
Mendes a Washington, para fazer lobby local, serviu como pretexto para uma
junto ao Congresso dos EUA, ao Banco impressionante campanha de ataques ao
Mundial e ao BID, além de assegurar-lhe Brasil, que passou a ser apontado como
visibilidade internacional, com a con- “vilão ambiental número um” do planeta.
cessão de dois importantes prêmios am- Embora ele fosse virtualmente desconhe-
bientais, o Global 500 do Programa das cido fora do estado, a sua morte gerou
Nações Unidas para o Meio Ambiente manchetes na imprensa de três continen-
(PNUMA) e a Medalha de Proteção do tes, apresentando-o como um campeão
Meio Ambiente da Better World Society, da causa ambiental planetária. O New
do magnata das telecomunicações Ted York Times o considerou um “mártir do
Turner. Em 1988, Lutzenberger também holocausto amazônico”. O Libération
seria agraciado com o Right Livelihood de Paris afirmou que “os europeus e os
Award, considerado o “Prêmio Nobel Al- estadunidenses não podem assistir im-
ternativo do Meio Ambiente” (em 1990, passivelmente à destruição da Amazô-
por indicação direta do príncipe Charles, nia, achando que não têm nada com o
herdeiro do trono britânico, ele seria no- assunto”. O Asahi Shimbum, maior jor-
meado secretário de Meio Ambiente do nal japonês, publicou um editorial afir-
governo de Fernando Collor de Mello). mando que o crime preocupava “a todos
Os mentores do “projeto Chico Men- os que desejam um ar limpo”.
des” foram quatro personagens que vi- Além disso, missas em sua memória
riam a desempenhar papeis cruciais na foram celebradas em Londres e Wa-
“decolagem” do ambientalismo brasileiro: shington. Na capital estadunidense, foi
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celebrado um culto ecumênico, com a para dar visibilidade internacional às


presença de vários membros do Con- campanhas mobilizadas em torno dos
gresso. Na oportunidade, o presidente indígenas brasileiros. O grande destaque
da NWF, Jay Hare, chegou a comparar propagandístico do encontro foi a foto-
Mendes a Martin Luther King. grafia da índia caiapó Tuíra esfregando
A construção do mito Chico Mendes um facão no rosto do então diretor da
foi reforçada pela publicação de nu- Eletronorte, Antônio Muniz Lopes, re-
merosas biografias, inclusive, de auto- produzida em todo o mundo.
res estrangeiros, e pelo filme cinema- Em 1994, a partir de uma subdivisão
tográfico Amazônia em chamas (The do CEDI, foi fundado o Instituto Socio-
Burning Season), de 1994, em que ambiental (ISA), que viria a tornar-se
Mendes foi interpretado pelo ator por- uma das principais integrantes do apa-
torriquenho Raul Julia, então, uma rato ambientalista-indigenista no Brasil.
das estrelas de Hollywood. Entre os seus fundadores, estavam
É interessante observar que o próprio Schwartzman, Bramble e Gross (que ain-
Mendes não se considerava um ambien- da integra o conselho diretor da ONG).
talista, como admitiu um dos seus Entre as suas campanhas, destaca-se a
biógrafos, o correspondente ambiental movida contra a construção da usina de
do New York Times, Andrew Revkin, Belo Monte, a única que acabou sendo
autor de Tempo de queimada, tempo de construída no rio Xingu, embora com o
morte: o assassinato de Chico Mendes e projeto bastante modificado, por conta
a luta em prol da Floresta Amazônica das pressões ambientalistas e indigenistas.
(1990). No livro, ele registra um comen- Outros fundadores do ISA foram
tário de Mendes, depois de ser retratado Carlos Frederico Marés, Márcio Santilli
na televisão como um lutador em favor e João Paulo Capobianco. Os dois pri-
dos “pulmões do mundo” (um dos mitos meiros viriam a ser nomeados presi-
recorrentes sobre a Floresta Amazônica): dentes da Fundação Nacional do Índio
“Não estou protegendo a floresta por (Funai); Capobianco, o braço direito
estar preocupado com o fato de que o de Marina Silva, tendo acompanha-
mundo será afetado dentro de 20 anos. do-a ao Ministério do Meio Ambiente
Estou preocupado com ela porque há e em suas campanhas presidenciais,
milhares de pessoas vivendo aqui, gente em 2010 e 2014.
que depende da floresta, e suas vidas Após a morte de Chico Mendes, Alle-
estão correndo risco diariamente.” gretti e Schwartzman se encarregaram de
Em fevereiro de 1989, o CEDI, a transferir para Marina o bastão de cam-
NWF e o NRDC, com recursos de ór- peã das causas dos seringueiros e da de-
gãos oficiais do governo do Canadá, or- fesa da Floresta Amazônica. A partir daí,
ganizaram o chamado Encontro de Alta- seria construída a sua imagem de pala-
mira, na cidade paraense, para contestar dina do meio ambiente e, assim como
os projetos de desenvolvimento previstos já havia ocorrido com Mendes, ela foi
para a Amazônia brasileira. O alvo prin- agraciada com vários prêmios interna-
cipal era o complexo de usinas hidrelé- cionais. Entre eles: Prêmio Ambiental
tricas previsto para o rio Xingu. O even- Goldman, do Fundo Richard & Rhoda
to, que reuniu cerca de 3 mil pessoas, Goldman (1996); Prêmio Campeões da
entre representantes de ONGs de vários Terra, do Programa das Nações Unidas
países, indígenas, jornalistas e autorida- para o Meio Ambiente (2007) (entre os
des convidadas, contribuiu decisivamente outros seis premiados, estavam o ex-
10 Solidariedade Ibero-americana

-vice-presidente dos EUA, Al Gore, e o “Primeiramente, o companheiro


presidente do Comitê Olímpico Interna- Chico foi um sindicalista e não ambien-
cional, Jacques Rogge); Medalha Duque talista... Essa visão distorcida do Chico
de Edimburgo, do WWF (2008); Prêmio Mendes ambientalista foi levada para o
Sophie, da Fundação Sophie da Noruega Brasil e a outros países como forma de
(2009); Prêmio de Mudanças Climáticas desqualificar e descaracterizar a classe
da Fundação Príncipe Albert II de Mô- trabalhadora do campo e fortalecer a te-
naco (2009). Além disto, em 2008, o jor- mática capitalista ambiental que surgia.
nal inglês The Guardian a listou entre as “Em segundo, os trabalhadores ru-
“50 pessoas que poderiam salvar o pla- rais da base territorial do Sindicato de
neta”, juntamente com Al Gore, o ator Le- Xapuri (Acre), não concordam com a
onardo DiCaprio, o então presidente do atual política ambiental em curso no
Greenpeace International, Gerd Leipold, Brasil idealizada pela candidata Marina
e outros luminares das causas “verdes”. Silva enquanto Ministra do Meio Am-
No entanto, apesar de a imagem de biente, refém de um modelo santuarista
Marina como paladina ambiental estar e de grandes ONGs internacionais [gri-
invariavelmente vinculada à de Mendes, fos nossos]. (...)”
como ela própria sempre se empenhou Os eleitores do Centro-Sul do Brasil
em ressaltar, os seus antigos companhei- fariam bem em prestar atenção ao que
ros acrianos parecem discordar. Em 27 dizem os antigos companheiros de Ma-
de agosto último, após o debate dos can- rina no Acre.
didatos presidenciais promovido pela Em 2012, a União Internacional para
Rede Bandeirantes, o Sindicato dos Tra- a Conservação da Natureza (UICN),
balhadores e Trabalhadoras Rurais de uma das ONGs que integra o “Estado-
Xapuri divulgou uma nota, refutando -Maior” do aparato ambientalista inter-
um comentário feito por Marina sobre nacional, junto com o WWF, nomeou
Mendes, considerando-o como parte da Marina como membro honorário, por
sua “contribuição inspiradora para a
“elite” nacional. Igualmente, a nota, as-
conservação da natureza”.
sinada pelo presidente do sindicato, José
O ministro Aldo Rebelo não exagera-
Alves, e o assessor jurídico Waldemir So-
va, quando se referiu às simpatias da
ares, aponta os patrocinadores ocultos
aristocracia internacional com Marina.
da trajetória política de Marina:
Curiosamente, as duas biografias
publicadas de Marina (Marina: a vida
por uma causa, de Marília de Camargo
“Os trabalhadores rurais da base César, 2010; e Marina Silva: Defending
territorial do Sindicato de Xapuri não Rainforest Communities in Brazil, de
Ziporah Hildebrandt, 2001, inédita no
concordam com a atual política Brasil) não fazem qualquer menção a
ambiental em curso no Brasil, idealizada tais contatos entre a “sucessora” de
pela candidata Marina Silva enquanto Chico Mendes e as redes ambientalis-
Ministra do Meio Ambiente, refém de tas internacionais.
Em 2002, com a eleição de Luiz Iná-
um modelo santuarista e de grandes cio Lula da Silva para a Presidência da
ONGs internacionais”. República, o ISA articulou uma carta
(Sindicato dos Trabalhadores e aberta de centenas de ONGs, sugerindo
Trabalhadoras Rurais de Xapuri) a indicação de Marina Silva para o Mi-
nistério do Meio Ambiente.
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O “Ministério
das ONGs”
E
m uma entrevista coletiva na capi- (...) Reeleita este ano para mais um man-
tal dos EUA, Washington, em 10 dato, sua atuação concentra-se nas áreas
de dezembro de 2002, o presidente de Direitos Humanos, Cidadania, Meio
eleito Luiz Inácio Lula da Silva Ambiente e Desenvolvimento Susten-
anunciou os dois primeiros nomes que tável. Entre seus projetos de lei mais im-
comporiam o seu ministério: Antonio portantes destacam-se o PL nº 306/1995
Palocci, seu coordenador de campanha, de Acesso a Recursos Genéticos e o PL
para o Ministério da Fazenda, e a então nº 116/1999 de Moratória de 5 anos
senadora Marina Silva para o Ministério para os transgênicos.”
do Meio Ambiente (MMA). Tanto o Em seu entusiasmo, o ISA se esquivou
local do anúncio, como o fato de as de mencionar o PL 136/2001 da sena-
áreas econômica e ambiental terem sido dora, que previa a extinção do imposto
as duas primeiras a ter os titulares anun- sindical, que acabo arquivado.
ciados, denotam o simbolismo e a im- No mês anterior, o ISA havia encabe-
portância atribuídos a ambas as pastas çado o envio de uma carta a Lula, assi-
pelos poderes internacionais aos quais os nada por 140 ONGs ambientalistas e
presidentes eleitos brasileiros costumam personalidades diversas, defendendo a
prestar tributo, com viagens a certas ca- nomeação de Marina. O organizador da
pitais do Hemisfério Norte. carta foi o biólogo João Paulo Capo-
O próprio Lula destacou este as- bianco, um dos fundadores e dirigentes
pecto, ao comentar a escolha de Marina: da ONG e íntimo amigo da senadora,
“O primeiro sinal que eu dei a todo o que seria depois nomeado secretário de
mundo de que a Amazônia será tratada Biodiversidade e Florestas do MMA. Em
diferentemente no meu governo foi que 2008, Capobianco deixou o ministério
escolhi uma companheira que a impren- junto com Marina e, desde então, tem
sa brasileira já cansou de citar o nome. sido um dos seus principais assessores,
Mas certamente a companheira Marina, tanto na campanha presidencial de 2010,
com quem vou conversar nesses dias, vai pelo Partido Verde (PV), como na atual.
tomar conta da política ambiental no Além de Capobianco, Marina levou
meu governo (ISA, 10/12/2002).” para o MMA vários representantes do mo-
O Instituto Socioambiental (ISA), uma vimento ambientalista, o que levou muitos
das mais poderosas ONGs que atuam no a se referirem à pasta como o “Ministério
País, saudou efusivamente a nomeação: das ONGs”. Entre outros, nomeou:
“A indicação da acriana Marina Silva é, • Bruno Pagnoccheschi (Instituto Socie-
sem dúvida, uma excelente notícia para dade, População e Natureza), chefe
o movimento ambientalista brasileiro. de gabinete;
12 Solidariedade Ibero-americana

• Flávio Montiel da Rocha (Greenpea- de uma intensa mobilização contrária


ce e WWF), diretor de Proteção Am- organizada por um grupo de ONGs en-
biental do Ibama;. cabeçado pelo WWF e o ISA. Em no-
• Marcelo Marquesini (Greenpeace), vembro de 2003, cedendo às pressões, o
coordenador de Fiscalização Ambien- governo encarregou um grupo de tra-
tal do Ibama; balho interministerial de elaborar um
plano de “desenvolvimento sustentável”
• Marijane Vieira Lisboa (Greenpeace), ao longo do eixo da rodovia. Na oca-
secretária de Qualidade Ambiental sião, Marina justificou: “A BR-163 deve
do MMA; preservar e não depredar (Gazeta Mer-
• Tasso Rezende de Azevedo (Imaflo- cantil, 5/11/2003).”
ra), diretor de Programa da Secre- Este foi o primeiro de uma longa série
taria de Biodiversidade e Florestas de adiamentos de uma obra fundamental
do MMA; para toda a região – ainda hoje não con-
cluída, uma década depois.
• Muriel Saragoussi (Fundação Vitória No final de 2004, a contrariedade
Amazônica), diretora do Conselho com o radicalismo dos comandados de
Nacional do Meio Ambiente (Cona- Marina já atingia níveis de exasperação.
ma); em agosto de 2004, passou a se- O diretor de Gás e Energia da Petrobras,
cretária de Coordenação da Amazô- Ildo Sauer, reclamou da dificuldade do
nia do MMA. licenciamento para a construção de ga-
Uma das primeiras demonstrações de sodutos: “Evidentemente, é necessário
que Marina comandava, de fato, um analisar os projetos com muita atenção,
“Ministério das ONGs” – um enclave mas também com rapidez. Não dá para
contra o desenvolvimento nacional – ficar três anos esperando por uma licen-
ocorreu com o licenciamento ambiental ça (Gazeta Mercantil, 30/11/2004).”
do asfaltamento do trecho paraense da “O pior é a demora e a imprevisibili-
rodovia BR-163 Cuiabá-Santarém, alvo dade. Até receber a licença, ninguém tem

Concepção artística da usina hidrelétrica de Belo Monte, projeto ao qual Marina Silva moveu uma feroz oposição
Edição especial | 2ª quinzena de agosto de 2014 13

ideia das exigências que serão feitas.


Além disso, a interferência dos movi- “Os madeireiros não são pessoas de bem,
mentos organizados e o nível de deman- são escórias que vêm de várias partes do
da deles é maior do que seria atribuível país. Digo isso porque não é justo dizer
aos donos das usinas”, disse o presidente que são mineiros ou paulistas. São
do consórcio construtor da usina hidre-
létrica Foz do Chapecó, Enio Schneider
pessoas muito barra pesada, que usam a
(Valor Econômico, 30/11/2003).” lei do gatilho e afrontam o Estado.”
O ministro dos Transportes, Alfredo (Ministra Marina Silva)
Nascimento, se queixou dos excessos da
legislação ambiental, que exigia licencia-
mento até mesmo para obras de manu- escórias que vêm de várias partes do
tenção, como recapeamento de estradas país. Digo isso porque não é justo dizer
e dragagens: “O rio Madeira, por onde que são mineiros ou paulistas. São pes-
passa muita carga, é um exemplo. Por soas muito barra pesada, que usam a lei
conta do próprio regime do rio, acontece do gatilho e afrontam o Estado (Folha de
muito deslocamento de terra no leito. S. Paulo, 14/02/2005).”
É comum, inclusive, aparecerem ilhas Receando uma repetição das reper-
no meio do rio, o que provoca muitos cussões internacionais do assassinato de
acidentes. A dragagem é uma necessi- Chico Mendes, o governo reagiu de ime-
dade enorme por lá, mas licenciar uma diato, com um “pacote verde” que colo-
operação dessas no rio Madeira é uma cou 12 milhões de hectares de terras no
questão de anos. Por ora, a solução tem estado, dos quais 8,2 milhões de hec-
sido fazer o licenciamento de trechos do tares na margem oeste da BR-163, sob o
rio (Jornal do Brasil, 30/05/2005).” regime de “limitação administrativa pro-
Em abril de 2005, um relatório da visória”, proibindo até mesmo ativida-
Agência Nacional de Energia Elétrica des de agricultura de subsistência e ex-
(ANEEL) apontou que 24 projetos de ploração extrativista.
usinas hidrelétricas que haviam recebido Na gestão de Marina, mais que nunca,
concessão entre 1998 e 2005, perfa- as palavras madeireiro e ruralista e em
zendo uma potência instalada superior a geral todo o setor rural produtivo foi cri-
4.000 MW, sequer haviam tido sua cons- minalizado para justificar a dissemina-
trução iniciada, por falta de aprovação ção do radicalismo ambientalista.
dos estudos de impacto ambiental. Em 2007, a contrariedade com o
Um exemplo didático da submissão radicalismo ambientalista dentro do
da política ambiental às pressões do governo atingiu o auge. Até mesmo o
aparato ambientalista foi a resposta do presidente Lula, até então, apoiador in-
governo ao assassinato da missionária condicional da “companheira Marina”,
estadunidense-brasileira Dorothy Stang, se irritou com as queixas sobre a intran-
em fevereiro de 2005, em Anapu (PA), sigência dos funcionários do Ibama, que
por encomenda de um fazendeiro local. rejeitaram os estudos de impacto am-
Antes de qualquer investigação policial, biental das usinas hidrelétricas de Jirau e
Marina insinuou que o crime havia sido Santo Antônio, no rio Madeira, afirman-
encomendado por madeireiros, dispa- do que os projetos não tinham “viabili-
rando contra toda a categoria: “Os ma- dade ambiental”. As usinas, com uma
deireiros não são pessoas de bem, são potência instalada conjunta de 6.500
14 Solidariedade Ibero-americana

megawatts, eram consideradas peças


fundamentais do Plano de Aceleração “A soberania do Brasil sobre a
do Crescimento (PAC). Entre os argu- Amazônia é algo relativo, pois até
mentos dos técnicos, estava a incerteza a lei brasileira prevê que os pais
sobre os impactos das barragens sobre as
percam a guarda dos filhos, no caso
mais de 400 espécies de peixes do rio.
Em uma reunião com o seu Conselho de não os tratarem condignamente.”
Político, Lula explodiu: “Agora não (João Paulo Capobianco, braço direito
pode por causa do bagre, jogaram o ba- de Marina Silva)
gre no colo do presidente. O que eu te-
nho com isso? Tem que ter uma solução ex-ministra, para que as conquistas na
(O Estado de S. Paulo, 20/04/2007).” área ambiental fossem mantidas. O lon-
Nos primeiros meses de 2008, as pres- drino The Independent lhe dedicou um
sões aumentaram. No início de maio, editorial intitulado “Salvem os pulmões
Marina soube que o ministro da Secre- do nosso planeta”, lamentando a demis-
taria de Assuntos Estratégicos, Roberto são do “anjo da guarda da Amazônia”.
Mangabeira Unger, e não ela, seria o en- O Guardian manifestou o temor pelo fu-
carregado de tocar o Plano Amazônia turo da maior floresta equatorial do pla-
Sustentável (PAS), cuja finalidade era a neta, após a sua saída. O espanhol El
definição de uma série de diretrizes para País reclamou que Lula dava as costas à
o desenvolvimento sustentável na região. maior defensora da Floresta Amazônica.
Em 13 de maio, Marina encarregou o Para deixar claro o seu ressentimento,
então presidente do Ibama, Bazileu Mar- Marina não compareceu à cerimônia de
garido (atualmente, um de seus assesso- transmissão de posse ao seu sucessor,
res de campanha) de entregar a sua carta Carlos Minc. Em seu lugar, enviou o fiel
de demissão, a qual foi divulgada na in- escudeiro Capobianco, que, em seu discur-
ternet antes que Lula a recebesse. so, incluiu a seguinte “pérola”: “A sobera-
Em outra demonstração do seu pres- nia do Brasil sobre a Amazônia é algo
tígio internacional, a notícia da demis- relativo, pois até a lei brasileira prevê
são fez manchetes nos principais países que os pais percam a guarda dos filhos,
do Hemisfério Norte. O New York Ti- no caso de não os tratarem condigna-
mes lamentou a falta de apoio político à mente (Hora do Povo, 4/06/2008).”

Em breve: 12ª edição de


Máfia Verde: o ambientalismo
a serviço do Governo Mundial
Lorenzo Carrasco (coordenador)
Pedidos à Capax Dei Editora Ltda.
R. México, 31 – s. 202 – Centro – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20.031-144
www.capaxdei.com.br • capaxdeieditora@gmail.com
Edição especial | 2ª quinzena de agosto de 2014 15

O legado de Marina
U
ma reportagem do jornal O Es- executado em sua maior parte já no
tado de S. Paulo (14/05/20008), governo Lula.”
comentando a saída de Marina, Em poucas palavras, aí está uma boa
apresentou uma sugestiva síntese síntese parcial da orientação básica das
da sua atuação no ministério: políticas ambientais que vêm sendo im-
“Em termos de áreas protegidas, postas ao País. Quase literalmente, pro-
Marina deixa uma Amazônia muito teção ambiental “para inglês ver”: um
mais blindada – pelo menos no papel – grande número de unidades de conserva-
do que a anterior. Em cinco anos e meio, ção, desprovidas da infraestrutura e das
o governo Lula criou cerca de 230 mil condições necessárias para que possam
km2 de unidades de conservação (UCs). desempenhar, efetivamente, as funções
Eram 351 mil km2 em 2003; hoje são que tais áreas exercem nos países que
583 mil km2, um aumento de 66% se- levam a sério a proteção ambiental,
gundo os dados do ministério. Muitas como pesquisa científica, recreação etc.,
unidades foram criadas em áreas de con- mas cujo número e distribuição pelo ter-
flito, diretamente na rota de expansão da ritório nacional, estabelecidos por crité-
fronteira agrícola e nas zonas de influên- rios mais políticos do que científicos,
cia de grandes rodovias, como a BR-163 funciona como um sério obstáculo para
(Cuiabá-Santarém). Diferentemente das os projetos de desenvolvimento. Tendên-
UCs anteriores, criadas quase sempre em cia que se reforça quando, às unidades
regiões isoladas da floresta. de conservação, se somam as terras indí-
 “Faltou implementar muitos desses genas e quilombolas, objetos de grupos
parques, que carecem de infraestrutu- de pressão que atuam paralelamente com
ra básica e regulamentação adequada. o movimento ambientalista. De fato,
Mesmo assim, os resultados mostram decretou-se sobre uma enorme área do
que as áreas protegidas coíbem a der- território nacional uma zona de “exclu-
rubada da floresta, ainda que existam são econômica”, na qual o Estado não
apenas no papel. exerce a sua soberania plena.
“Segundo o secretário-geral do Em um trabalho recentemente publi-
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade cado, o engenheiro agrônomo e doutor
(Funbio), associação que gerencia os re- em Ecologia Eduardo Evaristo de Mi-
cursos do Programa de Áreas Protegidas randa, coordenador do Grupo de Inteli-
da Amazônia (ARPA), o Brasil foi res- gência Territorial Estratégica (GITE) da
ponsável por 40% das unidades de con- Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
servação criadas no mundo nos últimos cuária (Embrapa), mostra duas dimen-
5 anos [grifos nossos]. sões de tais exageros. Segundo ele, en-
“‘Foi uma grande contribuição’, disse tre os países do mundo com território
Pedro Leitão. O ARPA foi criado em superior a 2 milhões de quilômetros
2000, no governo Fernando Henrique quadrados, o Brasil é de longe o que tem
Cardoso, mas, de acordo com ele, foi a maior proporção de áreas protegidas,
16 Solidariedade Ibero-americana

equivalente a 34% do território nacio-


nal, quase o dobro do segundo colocado,
a China (Fig. 1).
Em suas palavras:
“Esse quadro complexo de ocupação
e uso territorial representa um enorme
desafio de governança fundiária e envol-
ve conflitos graves, processos judiciais,
impactos sociais e implicações econômi-
cas significativas.
“Além das demandas adicionais des-
ses grupos, minorias e movimentos so-
ciais, todos com sua lógica e legitimi-
dade, há ainda a necessidade de compa-
tibilizar essa realidade territorial com
crescimento das cidades, com a destina- Fig. 1: Repartição espacial do conjunto das
áreas atribuídas legalmente para unidades de
ção de locais para geração de energia, conservação, terras indígenas, assentamentos
para implantação, passagem e amplia- de reforma agrária e quilombolas no Brasil
ção da logística, dos meios de transpor- (seg. Eduardo E. Miranda, 2014)
tes, dos sistemas de abastecimento, arma-
zenagem e mineração. da terra no custo dos alimentos é apenas
“O país campeão da preservação ter- um dos reflexos dessa situação.”
ritorial exige que os agricultores assu- Trata-se de um desafio de grandes
mam o ônus de preservar porções signifi- proporções, cujo enfrentamento efetivo
cativas no interior de seus imóveis rurais, exigirá que o radicalismo ambientalista-
como reserva legal ou áreas de preser- -indigenista seja excluído de vez da for-
vação permanente, num crescendo que mulação das políticas públicas. Por sua
pode começar com 20% e chegar a 80% trajetória, convicções e temperamento,
da área da propriedade na Amazônia. dificilmente, poder-se-á esperar que uma
A repercussão do crescimento do preço presidente Marina siga este caminho.

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