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126 Outros Escritos de Linguística Geral

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2 a [P rim eira con ferência n a U n iversida d e d e G enebra vocou a súbita revelação de um mundo insuspeitado — na verdade, no valor
(no vem b ro d1 e8 9 1 ) ] absoluto das indicações que a língua pode dar, foi, ainda assim, o fundador de
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Se a cadeira, que neste momento eu tenho a honra de inaugurar, uma séria linha de pesquisas ainda hoje cultivada, com toda razão, por uma
representasse uma nova ordem de estudos em nossa Universidade, se série ininterrupta de sábios — eu insistiria, assim sendo, na capacidade
eu tivesse hoje a missão ou o privilégio de introduzi-los no edifício que singularmente precisa que assumiu a linguística para a etnografia, a tal ponto
a ciência da linguagem está empenhada em construir há setenta anos, que o dado [linguístico] é sempre, até a mais ampla informação, a prova
de descrever em linhas gerais o presente estado dessa ciência, de primeira para o etnologista, e que se pergunta como o etnologista, sem esse
percorrer seu passado, que não é muito longo, ou de prognosticar seu dado, poderia afirmar, por exemplo (para escolher um exemplo entre mil),
futuro, de definir seu objetivo, sua utilidade, de estabelecer o lugar que que, entre os húngaros, os ciganos representam uma raça totalmente distinta
ela ocupa no círculo dos conhecimentos humanos e os serviços que ela do magiar, que no império austríaco o magiar, por sua vez, representa uma
pode prestar numa Faculdade de letras, eu recearia não realizar muito raça totalmente distinta do checo e do alemão; que, em troca, o checo e o
dignamente minha tarefa, mas certamente não poderia me queixar, alemão, que se odeiam do fundo do coração, são parentes muito próximos; que
aqui, de abandono. Sem exaltar desmedidamente os méritos da o magiar, por sua vez, é primo próximo das populações finlandesas do império
linguística, qual é a vantagem que pode tirar desse estudo, por russo, nas margens do Báltico, das quais jamais ouviu falar, que os ciganos,
exemplo, a erudição clássica, o conhecimento das línguas grega, latina por sua vez, de quem eu falava, são um povo saído da índia — eu passaria em
e francesa, tivesse ela um objetivo simplesmente literário, que interesse seguida, e isso nos aproximaria bastante do objeto verdadeiro, a tudo aquilo que
pode ter, depois, o mesmo estudo, para a história ou para a história da a psicologia é, provavelmente, desafiada a acolher, proximamente, do estudo da
civilização? — e eu teria, aqui, a relembrar, o nome genebrino, de que linguagem; mas, depois disso, ou antes disso, eu colocaria, primeiro, esta
temos orgulho, também sob outros aspectos, por nossa pátria, de simples questão: vocês pensam seriamente que o estudo da linguagem teria
Adolphc Pictet, de Adolphe Pictet que primeiro concebeu, necessidade, para se justificar ou para se desculpar por existir, de provar que é
metodicamente, o partido que se pode tirar da língua como testemunha útil às outras ciências? Essa é uma exigência que, eu comecei por constatar, ela
das eras pré-históricas. Mesmo confiando talvez demais – como era satisfaz largamente e talvez muito mais do que um grande número de ciências,
inevitável no entusiasmo inicial que pro- mas eu não considero, admito, que essa exigência seja justificada. A que ciência
se pede, como condição preliminar para existir, que se empenhe em fornecer
resultados destinados a enriquecer outras ciências que se ocupam de outros
objetos? Isso é recusar a ela qualquer objeto próprio. Pode-se apenas pedir, a
cada ciência, que aspire a se fazer reconhecer, que tenha um objeto digno de
uma atenção séria, ou seja, um objeto que tenha um papel incontestável nas coi-
sas do Universo, onde se incluem, antes de tudo, as coisas da humanidade; c a
posição que ocupará essa ciência será proporcional à importância do objeto
no grande conjunto das ideias.
Agora, estima-se que a linguagem seja, nesse conjunto, um fator digno do
ser notado ou um fator nulo, uma quantidade apreciável ou uma quantidade
desprezível. É disso (mas apenas disso) que depende um julgamento
equitativo e esclarecido sobre o valor do estudo da linguagem no conheci-
mento geral; os raios de luz que, de tão intensos que foram, puderam, de
repente, jorrar da língua sobre outras disciplinas e sobre outros objeios de
pesquisa, só poderiam ter uma importância absolutamente episódica e inci-
dente para o estudo da própria língua, para o desenvolvimento interior desse
estudo e para o objetivo para o qual ele caminha. Vale ou não a pena
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128 Outros Escritos de Linguística Geral midos na idéia de linguagem é um trabalho ainda mais destituído_de qualquer
significação séria, de qualquer base científica válida.
estudar, em si mesmo, o fenómeno da linguagem, seja nas manifestações O estudo geral da linguagem se alimenta incessantemente, por conse-
diversas, seja em suas leis gerais, que poderão ser deduzidas apenas de suas guinte, de observações de todo tipo que terão sido feitas no campo particular
formas particulares? — tal é, se é para indicá-lo de maneira totalmente clara e de tal ou tal língua. Supondo que o exercício da fala constitua, no homem, uma
categórica, o terreno em que se coloca, atualmente, a ciência da lingua gem. função natural, o que é um ponto de vista eminentemente falso v em que se
colocam certas escolas de antropologistas e linguistas, seria preciso, ainda
Pode-se considerar a linguagem ou a língua como um objeto que pede, por si
assim, sustentar absolutamente que o exercício dessa função só é abordável
mesmo, esse estudo? Tal é a questão que se coloca. Eu não a discuto. Eu lhes
pela ciência pelo lado da línguaou pelo lado das línguas existentes.
direi, Senhores, que se recusou à nossa pobre espécie humana, como Mas, reciprocamente, o estudo das línguas existentes se condenaria a
característica distintiva em face de outras espécies animais, tudo, e absolu - permanecer quase estéril, a permanecer, em todo caso, desprovido, ao mesmo
tamente tudo, incluindo aí o instinto de indústria, incluindo aí a religiosida de, a tempo, de método e de qualquer princípio diretor, se não tendesse cons-
moralidade, o julgamento e a razão, tudo, exceto a linguagem, ou como se diz, a tantemente a esclarecer o problema geral da linguagem, se não procurasse
fala articulada, sendo o termo articulada, no fundo, um termo obs curo e muito destacar, de cada fato particular que observa, o sentido e o proveito claro que
vago, ao qual eu faço todas as reservas. Eu não ignoro que, neste momento, dele resultam para o conhecimento que temos das operações possíveis do
muitas espécies de macacos, como anunciam os jornais, estão em vias de instinto humano aplicado à língua.3283 continuação e isso não tem uma signi-
disputar conosco esse último florão da nossa coroa, a lin guagem articulada, e ficação vaga e geral: qualquer pessoa um pouco versada em nossos estudos
não discuto quais os títulos desses macacos~qïïê"po- dëm serfêu admito, sabe com que alegria e triunfo cada pesquisador chama a atenção para um caso
dignos de consideração. O que é claro, como-se repetiu mil vezes, é que o teórico novo ao descobri-lo seja onde for, no último de nossos dialetos ou no
homem sem a linguagem seria, talvez, o homem, mas não um ser que se mais ínfimo idioma polinésio. É uma pedra que ele traz ao edifício e que não
comparasse, mesmo que aproximadamente, ao homem que nós conhecemos será destruída. A todo instante, em todos os ramos da ciência das línguas,
e que nós somos, porque a linguagem foi, por um lado, a mais formidável todos estão sobretudo ansiosos, atualmente, para tornar público o que pode
ferramenta de ação coletiva e, por outro, de educação indi vidual, o interessar à linguagem em geral. E, fenômeno notável, as observações teóricas
que trazem aqueles que concentraram seus estudos em tal ou tal ramo especial,
instrumento sem o qual o indivíduo ou a espécie jamais poderia aspirar a
como o germânico, o românico, são muito mais apreciadas e consideradas do
desenvolver, em algum sentido, suas faculdades nativas.
que as observações dos linguistas que abraçam uma série maior de línguas.
3283=3281 Aqui se apresenta esta objeção, para nós, mais ou menos
Percebe-se que o último detalhe dos fenómenos é também sua razão última e
fundamentada: vocês transformam o estudo das línguas em estudo da
que, assim, a extrema especialização pode servir eficazmente à extrema
linguagem, da linguagem considerada como faculdade do homem, como um
generalização. Não são linguistas como Friedrich Müller, da Universidade de
dos signos distintivos de sua espécie, como característica antropológica ou,
Viena, que abraçam quase todos os idiomas do globo, que fazem avançar o
por assim dizer, zoológica. Senhores, seria necessário um tempo considerável
conhecimento da linguagem; mas, os nomes que se deveria citar neste sentido
para expor esse ponto, desenvolvê-lo e justificar meu ponto de vista, que não
seria nomes de romanistas como Gaston Paris, Paul Meyer, Schuchardt, nomes
é diferente do ponto de vista de todos os linguistas atuais: que, com efeito, o
de germanistas como Hermann Paul, nomes da escola russa que se ocupam
escudo da linguagem como fato humano está todo ou quase todo contido no
especialmente do russo e do eslavo, como N. Baudouin de Courtenay,
estudo das línguas. O fisiologista, o psicólogo e o logicista poderão dissertar
Kruszewski.
longamente, o filósofo poderá retomar, depois, os resultados combinados da
O ponto de vista a que chegamos, Senhores, e que é, simplesmente, o
lógica, da psicologia e da fisiologia, mas, eu me permito dizer, os mais
ponto de vista em que se inspira, sem exceção, o estudo das línguas, em todos
elementares fenómenos da linguagem jamais serão vislumbrados, nem cla-
os seus ramos, faz ver muito claramente que não há separação entre o estudo
ramente percebidos, classificados e compreendidos, se não se recorrer, em
da linguagem e o estudo das línguas, ou o estudo de tal ou tal língua ou família
primeira e em última instância, ao estudadas línguas. Língua e linguagem são
de línguas; mas que, por outro lado, cada divisão e subdivisão de língua
apenas uma mesma coisa:uma é a generalização da outra. Querer estudar a
representa um documento novo, interessante como qualquer outro
linguagem sem se dar ao trabalho de estudar suas diversas manifestações
que, evidentemente, são as línguas, é uma empreitada absolutamente inútil
e quimérica, por outro lado, querer estudar as língua esquecendo que elas são
primordialmente regidas por certos princípios que estão resu-

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