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DA GUERRA E DA ESTRATÉGIA
A NOVA POLEMOLOGIA
Autor
Francisco Proença Garcia
Capa:
Armanda Vilar
ISBN: 978-989-652-051-9
Depósito legal n.
Introdução 6
Primeira Parte 14
Subsídios para o Estudo da Guerra 15
1. O despertar dos estudos quantitativos da Guerra 19
2. O Correlates of War Project e os trabalhos posteriores 22
3. Tendências de futuro 34
Segunda Parte 37
Tipologias de Guerra 38
1. O espectro da Guerra 38
2. O uso da Força 43
3. Outras tipologias de Guerra 45
Terceira Parte 60
Uma Perspectiva do Fenómeno da Guerra no Novo Século 61
1. A complexidade do Sistema Internacional no início
do século XXI 61
2. As Guerras no Século XXI 64
3. As Guerras irregulares e a transformação do carácter
dos conflitos armados 73
Quarta Parte 75
A Estratégia da Subversão 76
1. A Estratégia 76
2. Caracterização do fenómeno subversivo 79
3. O fenómeno subversivo na actualidade 85
4. As tipologias subversivas 95
5. Premissas da subversão 98
Quinta Parte 100
A Estratégia da Contra-Subversão 101
1. A Estratégia contra-subversiva e as suas integrantes 101
2. A Estratégia político-diplomática 105
3. A Estratégia socioeconómica 108
4. A Estratégia psicológica 111
-5-
5. A Estratégia de Informações 115
6. A Estratégia militar 117
Sexta Parte 123
O Terrorismo Transnacional – Contributos para
o Seu Entendimento 124
1. Conceito 124
2. Natureza, objectivos e estrutura 126
3. Apoios financeiros e outros 132
4. Recrutamento 135
5. A análise estatística 141
Sétima Parte 148
As Ameaças Transnacionais e a Segurança 149
1. A Segurança dos Estados e as ameaças transnacionais 149
2. Uma possível análise das principais ameaças transnacionais 157
2.1 A proliferação de Armas de Destruição Massiva 157
2.2 O crime organizado transnacional 160
2.3 A SIDA 166
2.4 A degradação do ambiente 176
3.7 Portugal e os Estados fracos: Estratégias de resposta. 201
Bibliografia e Fontes 208
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Acrónimos
-7-
Acrónimos
-8-
Ao Soldado Português
-9-
Agradecimentos
-11-
Agradecimentos
-12-
Agradecimentos
-13-
Prefácio
Adriano Moreira
Presidente da Academia das Ciências de Lisboa
Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa
-15-
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Prefácio
-17-
Introdução
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Introdução
1
Garcia, Francisco Proença (2003) – Análise Global de Uma Guerra (Moçambique 1964 - 1974). Lisboa:
Prefácio Editora. (Prefácio do Professor Adriano Moreira e Posfácio do Professor Amaro Monteiro).
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Introdução
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Introdução
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Primeira Parte
Subsídios para o Estudo da Guerra2
Desde o início dos tempos que ocorreram guerras em todas as partes
do mundo. Este tema que inspirou a literatura, a arte e a música tem
sido uma preocupação de longa data também entre historiadores,
analistas, políticos e militares.
A instituição do sistema de congressos em Viena no ano de 1815
marca o início de um longo período de hegemonia inglesa, em que
os Estados vão estar sobretudo preocupados com a revolução indus-
trial. Na primeira metade desse século são poucos os conflitos entre
os grandes poderes. Na segunda metade, a grande preocupação vai
para as inúmeras intervenções inglesas e francesas num esforço de
conter ambições russas e austríacas em relação ao Império Otomano,
base originária da guerra da Crimeia (1853/1856) que provocou 270
mil baixas militares.
Com o emergir de novos poderes (EUA, Itália, Alemanha uni-
ficada e Japão), o Sistema Internacional evolui de unipolar para
multipolar. Com o novo sistema surge também um novo padrão de
2
Este tema, agora revisto e ampliado, foi inicialmente tratado para uma Conferência no Instituto da
Defesa Nacional a 29 de Setembro de 2003, subordinada ao tema “Tipologias de Guerra” e poste-
riormente publicado na Revista Militar de Novembro de 2003, p. 1103-1136. Dediquei-me depois ao
desenvolvimento deste assunto e acabei por publicar conjuntamente com Francisca Saraiva uma versão
mais documentada do mesmo na Revista Estratégia, Vol. XV, (2005), p. 189-206.
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Actualmente a Peace Research adopta uma agenda muito mais alargada, interessando-se por todas as
formas de violência e injustiça, a temática do desarmamento nuclear e alternativas ao modelo estraté-
gico da dissuasão nuclear.
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Economista polaco. Faz a história da guerra quantitativa ao longo de vários séculos em 6 volumes.
Podemos consultar ainda Jean de Bloch (1903).
5
As análises de Pitrim Sorokin, sociólogo russo, assumem um carácter muito mais sociológico e
cultural.
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7
Depois disso são consensualmente consideradas a Áustria, a Hungria, a Rússia, a Alemanha, a URSS,
a França, o Reino Unido, a Itália, o Japão, os EUA e a China.
8
Para os investigadores do projecto as guerras extra-sistémicas são guerras internacionais onde existe
um membro do sistema internacional apenas num dos lados da guerra, resultando em 1 000 ou mais
mortos em combate por ano e por membro participante do sistema (Singer e Small, 1972; 382). Numa
guerra imperial existe um adversário que é uma entidade política independente, mas que não é mem-
bro do sistema de Estados. As guerras coloniais são guerras em que o adversário é colónia, dependência
ou protectorado com povo etnicamente diferente e distante geograficamente ou, pelo menos, periféri-
co do centro do governo do membro do sistema.
9
Pode ver-se Bremer Jones e Singer (1996).
10
Para estudos recentes a partir do projecto COW, ver David Singer e Melvin Small (1982).
-42-
Subsídios para o Estudo da Guerra
System, 1495-1975, foi escrita por Jack Levy em 1983. O autor efec-
tuou vários estudos, em muitos pontos semelhantes ao projecto de
Singer, tendo começado por definir grande poder (com dificulda-
des, dada a multiplicidade de abordagens possíveis) e enumerou as
guerras em que os grandes poderes participaram. Em conformidade
com os critérios definidos, obteve-se uma base minimamente sólida
para reunir dados estatísticos. O estudo reúne dados que abarcam as
guerras que provocam pelo menos 1 000 mortos militares em com-
bate, sendo também só consideradas as guerras que têm implicações
nas áreas metropolitanas, excluindo desta forma os conflitos colo-
niais. Este autor procura elaborar um padrão para um tipo particular
de conflitos essenciais a fim de se compreender o sistema dos gran-
des poderes.
Num esforço de síntese, cremos poder afirmar-se que as princi-
pais conclusões de Jack Levy relativamente ao período compreendi-
do entre 1495 e 1974 convergem nos seguintes pontos: primeiramen-
te identifica, para cada época histórica, pelo menos 4 e no máximo
8 grandes potências. Em segundo lugar detecta a ocorrência de 119
guerras, onde pelo menos uma das grandes potências esteve envol-
vida. De entre elas destacam-se a Guerra dos 30 anos, a Guerra da
Sucessão de Espanha e da Áustria, a Guerra dos 7 anos, as Guerras
da Revolução e do Império11 e as duas Grandes Guerras.
Tendo como índices de medida a magnitude, a severidade e a in-
tensidade desses mesmos conflitos, Jack Levy concluiu que em mais
de metade dos anos registou-se, pelo menos, uma guerra que en-
volvia um dos grandes poderes. Durante estes 5 séculos, a média de
baixas militares só neste tipo de guerras foi de 6 500 mortos por ano
(Levy, 1983).
11
Na época de Napoleão Bonaparte.
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12
Teoria do equilíbrio de poder. A teoria cíclica de Toynbee baseada na estrutura de equilíbrio de poder
foi a primeira grande tentativa de construção de uma teoria de guerra geral. Esta teoria defendia que o
domínio mundial pela potência dominante levava à coligação de outras potências no sistema e a uma
“guerra geral” para manter o equilíbrio de poder. Para Toynbee uma guerra destas acontece aproxima-
damente de século em século.
13
Teoria dos ciclos longos. A origem do sistema político global seria no ano de 1500. O sistema era
caracterizado por ciclos regulares de liderança mundial e de gestão do sistema, emergindo a potência
mundial de uma guerra global. As guerras globais são conflitos que determinam a constituição do sis-
tema político global e são lutas de sucessão pela liderança precipitadas pelo surgimento de desafiadores
que ameaçam ganhar uma posição de proeminência no continente europeu. Começam com casos loca-
lizados e não com contendas directas entre a potência mundial e o desafiador. Expandem-se em guer-
ras globais quando a potência mundial teme que esta expansão continental desafie a ordem global.
14
A guerra mundial e a economia capitalista. A guerra mundial teria base territorial e envolveria (não
continuamente) quase todas as grandes potências militares da época e seria muito destrutiva em ter-
mos de território e população. Ao mesmo tempo, seria uma luta centrada massivamente no território,
altamente destrutiva, intermitente, com duração de 30 anos, e envolvendo todas as grandes potências
militares da época.
15
A partir das teorias de Wallerstein, Chase-Dunn considerava que as guerras mundiais e a ascensão e
queda das potências hegemónicas principais podiam ser entendidas como uma reorganização violenta
das relações de produção à escala mundial. Posteriormente com Sokolovsky alargou o seu conceito e
a guerra mundial passou a incluir compromissos militares que envolviam coligações rivais das forças
estatais, onde pelo menos uma potência principal era membro de cada uma das alianças em oposição.
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Subsídios para o Estudo da Guerra
Eram tentativas para dominar o sistema interestadual, e não determinavam necessariamente quais as
potências dominantes no sistema. Estes autores afastaram-se da noção de que existe uma pequena
classe de guerras que são fundamentalmente distintas das outras em termos das suas características ou
das suas consequências para o sistema mundial.
16
Teoria da guerra hegemónica e de mudança. A guerra hegemónica tem um papel fundamental na
evolução do sistema global e sistemas internacionais anteriores, governados por uma potência domi-
nante em virtude da sua força militar e económica. Uma guerra hegemónica seria uma disputa directa
entre a potência dominante ou potências num sistema internacional e o surgimento de um desafiador
ou desafiadores, bem como a participação de todos os principais Estados e da maioria dos pequenos
Estados no sistema. Estava fundamentalmente em jogo a natureza e a governança do sistema, pelo que
as guerras hegemónicas seriam ilimitadas quanto aos meios, fins e consequências políticas, económicas
e ideológicas e expandiam-se para abranger todo o sistema internacional. A distribuição internacional
do poder muda com o declínio do poder hegemónico e o emergir de novos desafiadores. A potência
dominante considera que expandiu os seus compromissos e que os custos da liderança não podem ser
suportados por uma erosão da sua base de recursos. Tenta reduzir os seus compromissos ou expandir a
sua base de recurso. A guerra hegemónica determina quem governará o sistema internacional e quem
será detentor dos interesses. A nova ordem política e económica não é permanente.
17
Ciclo do poder relativo. Doran explica a evolução do sistema internacional e o despoletar de uma
guerra extensiva, em termos de economia interna e da dinâmica política dos estados directores do
sistema.
18
Teoria da transição de poder. A probabilidade de uma guerra geral é maior quando as capacidades
militares de um desafiador insatisfeito começam a aproximar-se das capacidades da potência dominan-
te. O desafiador que emerge iniciará uma guerra para ganhar uma influência comensurada com o seu
novo poder adquirido.
19
Teoria dos ciclos económicos, transição de poder e guerra. O emergir de uma grande guerra pode ser
explicado pela interacção entre longas “ondas” de desenvolvimento económico, transições de poder
económico entre os grandes poderes, gestão da política internacional por alianças e pressões políticas
internas. Considera estas variáveis como função das forças económicas e tecnológicas internas. Postula
um ciclo de hegemonia que implica: ascensão, vitória, maturidade e declínio. A hegemonia definida em
termos de predomínio económico (sobretudo produção) e liderança política global. Em vez de ciclos
longos de liderança política global, vê ciclos mais curtos de hegemonia económica em simultâneo com
a rivalidade. A crise provocada pela longa onda de desenvolvimento económico não leva inevitavel-
mente à rivalidade hegemónica e à guerra, porque as pressões geradas pelos ciclos económicos apenas
são condições necessárias para a guerra, mas não suficientes.
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A segunda imagem de Kenneth Waltz. Ver Kenneth Waltz (1954).
21
A terceira imagem de Kenneth Waltz.
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Inicialmente o estudo terminava em 1945. Nova data foi depois estabelecida, 1965, e ainda mais tarde,
22
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Subsídios para o Estudo da Guerra
tados conclusivos e claros, uma vez que não são totalmente consis-
tentes uns com os outros nem apontam sempre na mesma direcção
teórica, servem, sobretudo, para a criação de modelos de análise que
com alguma precisão científica ajudam a compreender o fenómeno
que se apresenta como a manifestação da violência em cada época
histórica – que também é determinada pela organização social e res-
pectiva base técnica. Como Jack Levy23, acreditamos que nos últimos
anos os trabalhos académicos se tornaram mais sistemáticos e rigo-
rosos na análise dos dados; uma mudança facilitada pelo acréscimo
de informação que passou a contemplar outros actores além dos Es-
tados, reconhecendo-se a necessidade de se modificar a concepção
convencional de guerra.
Tal como sabemos, nas actuais circunstâncias, o critério, muito
utilizado neste tipo de investigações de apenas considerar guerras
que envolvem pelo menos 1 000 militares mortos em combate em
cada ano, é de duvidosa utilidade uma vez que muitas guerras irre-
gulares não atingem estes valores e podem existir, inclusive, parâme-
tros mais interessantes para coligir os dados. Neste contexto, importa
dizer que a forma de guerra mais difundida, dentro das novas tipo-
logias que têm surgido, são provavelmente as Guerras de Terceiro
Tipo que, como sustenta Kalevi Holsti, predominam no sistema in-
ternacional desde 1945, e que são guerras fundamentalmente acerca
das pessoas, de cariz subversivo, em que houve uma desvinculação
do estatal. Caracterizaremos estas guerras adiante neste livro.
Em 2003 Singer, Wayman e Sarkees surgem com um texto in-
titulado Inter-State, Intra-State, and Extra-State Wars: a com-
prehensive look at their distribution over time, 1816-1997, onde
23
Este interessante estudo de Jack S. Levy entitulado Reflections on the Scientific Study of War pode
ser consultado em Vasquez (2000).
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24
Este estudo pode ser complementado com outros na mesma monografia de B. Russet (1972).
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3. Tendências de futuro
25
John A. Vasquez editou o seu esclarecedor texto Reexaming the Steps to War: New Evidence and
Theorethical Insights, na monografia de Manus I. Midlarsky (2000).
26
O interesse dos pares de Estados prende-se com as investigações relacionadas com a paridade de po-
der ou com a preponderância de poder, muitas vezes localizadas no nível sistémico (balança de poderes
e teorias de transição de poder), quando a questão é essencialmente um fenómeno de pares de Estados.
Por outro lado, existem cada vez mais mecanismos de negociação internacional, o que poderá levar a
que a guerra seja apenas um assunto relevante na análise de pares de Estados. Acresce que as principais
descobertas da pesquisa empírica sistémica se situam pouco no nível sistémico e mais frequentemente
no nível dos pares de Estados.
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Subsídios para o Estudo da Guerra
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O vocábulo foi pela primeira vez utilizado por Gaston Bouthoul, em França, no ano de 1936, num
livro denominado 100 Milhões de Mortos. Bouthoul liga as causas da guerra essencialmente ao aumen-
to demográfico, resultante da revolução científica e industrial. A sua obra mais conhecida é Traité de
Polemologie: Sociologies des Guerres.
28
A teoria da paz democrática tem vindo a defender a existência de uma “lei” essencial na política
internacional. Estudos empíricos validaram a ideia de que as democracias não fazem a guerra entre si,
explicando-se assim a receptividade que esta corrente de investigação tem recebido nos meios acadé-
micos da especialidade. A este propósito ver Michael Brown et. al. (1998).
29
A teoria da transição de poder é a outra apontada por Midlarsky na sua obra Mature Theories, Second
- Order Properties, and Other Matters. In Vaquez (2000).
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Síntese conclusiva
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Segunda Parte
Tipologias de Guerra30
Nesta parte do nosso livro identificamos alguns conceitos para o ter-
mo “Guerra” e propomos o nosso próprio conceito; depois descre-
vemos os espectros da Guerra e das Operações Militares adoptado
nas escolas militares portuguesas, caracterizando as diferentes tipo-
logias que aí são identificadas.
Feita aquela descrição, reflectimos sobre a utilidade do uso da for-
ça, para posteriormente identificarmos outros conceitos e tipologias
de guerra não abrangidas naqueles espectros e que com frequência
encontramos na bibliografia de referência sobre esta temática.
1. O espectro da Guerra
Carl von Clausewitz na sua obra Vom Krieg, editada por sua mulher
no século XIX, esclareceu que a guerra não é apenas um camaleão,
que se modifica em cada caso concreto, “ mas é também uma surpre-
endente trindade, em que se encontra primeiro que tudo, a violência
original do seu elemento, o ódio e a animosidade, que é preciso con-
30
Uma versão preliminar deste tema, agora revisto e ampliado, foi analisado para uma Conferência no
Instituto da Defesa Nacional a 29 de Setembro de 2003, subordinada ao tema “Tipologias de Guerra”.
O estudo foi posteriormente publicado na Revista Militar de Novembro de 2003, p. 1103-1136.
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Tipologias de Guerra
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O principal critério para distinguir formas de guerra será, de acordo com Kalevi Holsti: 1. O propósito
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da guerra; 2. O papel dos civis durante a guerra; 3. As instituições da guerra (Holsti, 1998).
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Tipologias de Guerra
32
O tema da guerra subversiva será abordado mais detalhadamente num capítulo específico deste livro.
33
Abel Cabral Couto (1989) define guerra subversiva como: “a prossecução da política de um grupo
político por todos os meios, no interior de um dado território, com a adesão e participação activa de
parte da população desse território”.
34
O sublinhado é nosso. Podemos consultar Monteiro (1993), Lara (1987), Aron (1988) e Muchielli
(1976).
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Tipologias de Guerra
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A análise do espectro das operações militares encontra-se sistematizada em diversas publicações
militares. Em Portugal salientamos o Regulamento de Campanha e Operações, editado pelo Exército
e datado de 2005.
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Tipologias de Guerra
2. O uso da Força
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O modelo é datado, mas mesmo assim apresenta à partida diversas fraquezas, desde logo porque na
Ordem dos pactos militares, a coacção militar esteve sempre presente, sendo a confrontação entre as
grandes potências por locução interposta, na luta pelas periferias de desempate geopolítico.
37
Edward Luttwak, num artigo publicado em 1999 na Foreign Affairs, considera que a guerra “ can
resolve political conflicts and lead to peace. This can happen when all belligerents become exhausted
or when one wins decisively. Either way the key is that the fighting must continue until a resolution is
reached. War brings peace only after passing a culminating phase of violence” (Luttwak, 1999).
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Tipologias de Guerra
Para a análise das novas tipologias de guerra é útil reler o livro de Al-
vin e Heidi Toffler, Guerra e anti-guerra, de 1994. Nessa obra anun-
ciaram a divisão tripartida do mundo e das guerras em vagas: A vaga
das “guerras agrárias”, típica do período das revoluções agrárias; a
vaga das “guerras industriais”, produto da revolução industrial, e por
fim a vaga da “guerra da informação”, resultante da revolução da in-
38
Sobre este assunto podemos detalhar em Loup Francart (2002; p. 179-181) e Ruphert Smith (2006;
p. 320-321).
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Tipologias de Guerra
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O General Jomini classificava as guerras como de conveniência, com ou sem aliados, de intervenção,
de invasão, de opinião, nacionais, civis e de religião e as guerras duplas. Jomini (1830 e 1938).
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Tipologias de Guerra
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Veja-se, sobre o tema Loureiro dos Santos (1985).
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Tipologias de Guerra
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Tipologias de Guerra
Schliffen teve de ser accionado em 1914, uma vez que em 1916 seria
tarde demais. Em vez de uma frente de batalha, os alemães teriam de
enfrentar duas frentes, uma com a França e a outra com a Rússia.
Esta terminologia está agora em voga, pois a Administração nor-
te-americana tem-na utilizado como justificativo da sua luta contra
o terrorismo transnacional.
Guerra preemptiva – Guerra em que se ataca o inimigo mas ape-
nas depois de aquele ter mostrado as suas intenções de uma forma
explícita; trata-se de atacar antes de o inimigo o fazer, mas apenas
após a revelação da ameaça.
Guerra religiosa – Guerras desta ordem podem surgir quer en-
tre sociedades de tendências promotoras do laicismo e outras de um
confessionalismo, quer no respectivo interior das mesmas. Esta si-
tuação será exponenciada se existirem interesses concorrentes tanto
internos como projectáveis no exterior. A Turquia em si, e face à Ará-
bia Saudita e ao Irão, é um bom exemplo.
Segundo Amaro Monteiro, podem também eclodir guerras “entre
culturas e grupos culturais portadores de comportamentos rígidos,
com características ou práticas susceptíveis de influenciar massas
consideráveis, como acontece com o hinduísmo militante, o judaís-
mo ultra-ortodoxo, o evangelismo fundamentalista, a seita da “Ver-
dade Suprema” e outras organizações de vocação similar (controlo
da sociedade por uma elite) ”; ou ainda entre o Ocidente cristão e o
Islão que, mesmo se não assumido na Sharia como expressão cul-
tural/transcendente de Estado, transporta nos conteúdos jurídicos
de moderna estruturação formal e nos sedimentos do subconsciente
colectivo um apelo da Comunidade Eleita que requer aquela Refe-
rência indeclinável. Tese/antítese óptima como álibi de agressões ”
(1999/2000; p. 18).
Guerras de terceiro tipo – Kalevi Holsti (1996), tipifica as guerras
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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Tipologias de Guerra
São diferentes das Guerras Compostas, uma vez que estas contêm
em si uma significativa componente de acções regulares e irregula-
res, mas cuja luta tem apenas uma frente, havendo um significativo
grau de coordenação estratégica entre as diferentes forças (regulares
e irregulares). Segundo Hoffman, as guerras compostas possuem
uma sinergia a nível estratégico, mas não a complexidade, a fusão
e simultaneidade a nível operacional e táctico que caracterizam as
guerras híbridas, onde uma ou ambas as partes acabam por fundir a
ampla gama de tipologias do espectro da guerra.
Guerra e crime organizado – Para Steven Metz, a combinação
entre a guerra e o crime organizado constituem uma guerra de
zona cinzenta que vê no momento a sua importância estratégica
acrescida. As guerras de zona cinzenta envolvem um inimigo ou
uma rede de inimigos, que possui importância política significativa
(2000; p. 56-57).
A guerra de zona cinzenta também pode ser considerada como
uma guerra latente ou indefinida e pode ser estratégica, quando
dinamizada por uma organização ou rede de organizações, tendo
os seus objectivos e lucros muito bem definidos, recorrendo à vio-
lência de forma incisiva e temporizada; pode ser considerada não-
-estratégica (Carriço, 2002; p. 622), se concretizada entre grupos
armados, bandenkriege (guerra de bandos), entre guerrilhas sem
ideologia, no reino dos senhores da guerra e sobretudo num am-
biente de impunidade.
Guerra limpa – Face à esmagadora superioridade tecnológica
tende-se para que não haja baixas, ou se houver que sejam pou-
co significativas. Os Centros de Gravidade não são apenas físicos
e entram já no domínio cognitivo. No fundo uma actualização do
preconizado por Sun Tzu, “subjugar o inimigo sem o combater”
(1974; p. 165), de forma a criar um novo ambiente político com per-
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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Tipologias de Guerra
cumprir as missões que a política externa dos seus países lhes atribui.
A guerra em áreas urbanizadas será o cenário assimétrico mais
provável e problemático, no presente e num futuro previsível. Estas
áreas podem caracterizar-se pela existência de um número elevado
de refugiados, deslocados internamente, altos índices de desempre-
go, de uma economia paralela, falta de apoio médico, diversidade
cultural, étnica, política e religiosa, onde a proximidade em que gru-
pos sociais distintos vivem uns dos outros promove um ambiente de
elevada tensão (Diliegge, 1998).
A guerra em áreas urbanizadas conduz a um empenhamento
operacional de cariz subversivo, associados a uma alta, média e baixa
intensidade. Nas operações nestes teatros, onde a actividade de in-
telligence é primordial, vamos assistir a um incremento de utilização
de meios tecnológicos, de robótica, de armamento não letal e a uma
diferente organização para o combate das forças militares e milita-
rizadas. A obra de Ralph Peters (1998), Our Soldiers their cities, é
esclarecedora sobre esta temática.
São inúmeros os exemplos retirados da operação Restore Hope
na Somália, das operações da KFOR no Kosovo e, mais recentemen-
te, da operação Enduring Freedoom no Afeganistão, ou as actuais
operações de estabilização no Iraque. O terrorismo também se pode
inserir nesta tipologia.
Guerra informal – Um dos actores é uma entidade não estatal
como uma milícia étnica ou um exército rebelde (Metz, 2000; p.
48). Será a sucessora dos conf litos de baixa intensidade, caracteri-
zada por um combate próximo, estando os combatentes misturados
com a população. Os seus objectivos, fluidos, podem visar, entre
outros, a secessão, a tomada do poder, o acesso e posterior controlo
de recursos. Nestes conf litos é normal o uso da violência de forma
indiscriminada.
-87-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-88-
Tipologias de Guerra
41
A adopção da expressão RMC e não de RMA deve-se ao facto de considerarmos o fenómeno como um
processo dinâmico, em contínua evolução, tratando-se da revolução actual e não um processo findo e
passível de confusão com outros parecidos ocorridos ao longo da História.
-89-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-90-
Tipologias de Guerra
Síntese conclusiva
-91-
Terceira Parte
Uma Perspectiva do Fenómeno
da Guerra no Novo Século42
Nesta parte do nosso livro entendemos descrever em primeiro lugar
o complexo Sistema Internacional para depois nos outros subcapí-
tulos podermos efectuar uma análise da conflitualidade nesse mes-
mo Sistema.
No capítulo 2. analisamos as guerras associadas às forças da
transformação, de alta tecnologia, bem como o emergir de um novo
e subtil instrumento das relações internacionais, as empresas mili-
tares privadas, que constituem um novo paradigma do uso da força,
surgido devido à significativa transformação ocorrida na actividade
militar. Por fim, no capítulo 3. faremos uma breve abordagem das
guerras irregulares que caracterizam este novo século.
42
Este é um dos temas a que mais tenho dedicado a minha intervenção pública. A versão inicial foi
apresentada no Seminário “Segurança Internacional”, realizado no Instituto Superior de Ciências So-
ciais e Políticas, em 16 de Maio de 2003, sendo o meu tema “A transformação nos assuntos de Defesa
e a Civilinização das Forças Armadas”. Posteriormente apresentei-o no Instituto da Defesa Nacional,
em 12 de Fevereiro e em 29 de Setembro de 2004, com o título “Guerras do Século XXI”. Este tema
foi depois desenvolvido na Revista Militar de Novembro de 2005, com o título “A transformação dos
conflitos armados e as Forças da Revolução nos Assuntos Militares” p. 1299-1307.
-95-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
43
Sobre a abordagem do mundo como um sistema complexo, podemos ver o interessantíssimo estudo
de Neil Harrison no seu livro Complexity in World Politics, datado de 2006.
-96-
Tipologias de Guerra
44
Já Van der Goltz, na obra Das Wolk in Waffen, de 1883, previa que no futuro as guerras não seriam
um assunto exclusivo das Forças Armadas.
-97-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
45
Trata-se aqui de distinguir a soberania externa (que decorre da igualdade jurídica entre Estados) das
condições para exercício da soberania interna, dentro das fronteiras políticas. Este último requisito
tem sido estudado com grande interesse pelas correntes que defendem a possibilidade da ingerência
humanitária.
-98-
Tipologias de Guerra
-99-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-100-
Tipologias de Guerra
46
Termo utilizado por Mira Vaz no seu livro Civilinização das Forças Armadas nas Sociedades De-
moliberais (2002), e que resulta da adaptação do termo civilized soldiers de Janowitz (1974). Também
Peter Singer na sua obra Corporate Warriors – The rise of the privatized military industry, p. 62-63
utiliza esta terminologia como civilianization.
-101-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
47
Este conceito, que era já, em tempos idos, ventilado em especial na doutrina Air Land Battle em
ambiente nuclear potencial ou activo, começa a afirmar-se num ambiente em que começa a imperar a
tecnologia, em especial aquela que permite obter-se uma common picture do espaço de batalha. Hoje,
com a emergência de conceitos como o NCW e as EBAO, a táctica resumida pelo acrónimo 4S é ple-
namente possível e encontra-se a ser desenvolvida pelos EUA e o Reino Unido nos TO do Afeganistão
e Iraque. Ela permite o emprego de pequenas células, como sejam uma ou duas viaturas de reconhe-
cimento, actuando separadamente e a largas distâncias umas das outras, varrendo através dos radares
e/ou do reconhecimento (scan) um espaço de actuação, concentrando-se (swarm) num determinado
ponto onde a ameaça foi identificada e se materializou, no momento certo e com rapidez, evitando os
largos espectros electromagnéticos e as assinaturas térmicas. Depois de elas actuarem (strike) ime-
diatamente se dispersam (scatter). Mas se repararmos, esta é a técnica utilizada, também pelas células
terroristas. Estão dispersas, atentas ao momento certo para actuarem, fazendo o varrimento dos acon-
tecimentos, dos locais e das oportunidades. Depois de identificado o momento e o alvo, concentram-se
no local certo, atacam e imediatamente se dispersam. São interpretações de diferentes tipos de acon-
tecimentos à luz da mesma táctica.
48
Conceitos chave: miniaturização, maior alcance, actuação inteligente, furtividade, veículos não tri-
pulados, robotização e novas formas de energia. Estas armas permitem as intervenções cirúrgicas com
zero baixas, ou quase zero.
49
As outras dimensões são a terra, o mar, o ar e o espaço extra-atmosférico.
-102-
Tipologias de Guerra
50
O Comité Militar da NATO definiu a aproximação às Operações Baseadas em Efeitos como a “aplica-
ção coerente e compreensiva dos vários instrumentos da Aliança, combinadas com a cooperação prá-
tica com os actores envolvidos não-NATO, para criar os efeitos necessários para alcançar os objectivos
planeados e em última análise o estado final NATO desejado” (NATO, 2006 a).
51
A NATO, no documento Comprehensive Political Guidance (2006 b), é explícita sobre a necessidade
de se transformar a superioridade informacional em superioridade de conhecimento de forma a ser
possível obter a superioridade na decisão.
-103-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-104-
Tipologias de Guerra
52
O General Tommy Franks comandou a ofensiva ao Afeganistão a partir do Comando Central (CEN-
TCOM), então situado em Tampa, na Florida. Actualmente a partir de bases em território norte-
americano são controlados aviões não tripulados (UAV) que efectuam as suas missões no Iraque e
no Afeganistão, enviando em tempo real informação sobre as operações, o que permite um melhor
acompanhamento e planeamento das mesmas.
-105-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
53
António Telo (2002; p. 222) entende que há guerra de guerrilha dos tempos modernos; também Mary
Kaldor (2001; p. 7) entende que as novas guerras baseiam a sua actuação nos ensinamentos da guerrilha
e da contra-insurreição. Nós optamos pela comparação com a guerra subversiva, pois esta é mais lata e
na vertente armada pode sim assumir a forma de guerrilha. Pode ainda ser aplicado a outras tipologias
de guerra irregular, isto apesar de a principal táctica ser a guerrilha.
-106-
Tipologias de Guerra
54
A este propósito devemos ver as obras dos Generais Wesley Clark (2004) e Ruperth Smith (2006).
55
De acordo com o primeiro Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 1949, e segundo o seu
artigo 47.º um mercenário apresenta as seguintes características: (a) é especialmente recrutado local-
mente ou fora do local de conflito para lutar nesse mesmo conflito; (b) toma de forma directa parte nas
hostilidades; (c) é motivado pelo desejo de ganhos privados; (d) não é um nacional da parte em conflito
nem um residente do território controlado por uma parte do conflito; (e) não é um membro das forças
armadas de uma parte no conflito.
-107-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
56
São inúmeras as definições que encontramos. Aqui optamos pela síntese das expressas por Singer no
seu livro Corporate Warriors. The rise of the privatized Military Industry (2003).
57
Documento da Câmara dos Comuns britânica que procura regular a actividade destas empresas.
Singer (2003) apresenta outra tipologia: Military Provider Firms que se centram no ambiente táctico,
fornecendo serviços na linha da frente do espaço de batalha, através do empenhamento quer nas linhas
de unidades especiais ou especialistas; Military Consulting Firms que fornecem serviços de aconselha-
mento e treino. Oferecem análise estratégica, operacional e/ou organizacional e têm empenhamento
com o cliente a todos os níveis, mas sem haver “contacto directo”. Não operam no espaço de batalha:
embora a sua presença possa dar forma ao ambiente estratégico, operacional e táctico, é o cliente que
corre o risco final no espaço de batalha; Military Support Firms que fornecem serviços militares su-
plementares, incluindo auxílio não letal; apoio logístico, aprovisionamento e transportes, assim como
apoio técnico.
-108-
Tipologias de Guerra
58
A título de curiosidade, e tendo sempre em consideração as diferentes escalas, lembramos que o PIB
português ronda os 230 mil milhões de dólares.
-109-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
59
Não conhecemos nenhum estudo rigoroso que possibilite a avaliação dos custos efectivos para deter-
minar se de facto a privatização é mais barata.
60
Kevin O´Brien (2002) da Rand Corporation esclarece-nos: “In October 1998 the US government
subcontracted its involvement in the Kosovo monitoring force to DynCorp. The contracting was
done because the US government did not want to send its trained military personnel into harm’s way
unarmed, as the monitors are; it also ensured that the US government did not have to undergo the
political risk associated with sending soldiers into situations that are little understood or supported
domestically”.
-110-
Tipologias de Guerra
64
O problema com o artigo 47 do Protocolo Adicional I às convenções de Genebra, prende-se, so-
bretudo, com a alínea a) pois tem que ser provado que ocorreu um recrutamento especial para um
determinado conflito. Como o pessoal contratado pelas PMCs é, muitas vezes, contratado a longo prazo
ou até numa base permanente, não pode, desta forma, ser considerado mercenário. Com a alínea b)
o problema coloca-se relativamente à exclusão de conselheiros e formadores, entre outros. E como
quase todas as PMCs não entram em combate (na definição da NATO de combate), não podem ser
consideradas mercenárias. A alínea c) acrescenta um elemento perigoso: a motivação. É difícil julgar
alguém como mercenário argumentando que está envolvido só por desejo de lucro. Não só há mais mo-
tivações, como a ideológica ou a política, como também seria fácil mentir neste ponto. Com as alíneas
e) e f) a questão seria facilmente resolvida com o Estado cliente, dando nacionalidade ou residência,
ou integrando simplesmente o indivíduo nas Forças Armadas. Um exemplo deste tipo de prática é a
integração dos Gurkhas nas Forças Armadas Britânicas. Outro problema com este artigo é o facto de
apenas contemplar conflitos armados internacionais e não guerras civis.
-111-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-112-
Tipologias de Guerra
62
Peter Singer no seu livro Children at War apresenta-nos dados impressionantes sobre a dimensão
deste fenómeno, cujo epicentro é o Continente africano; 100.000 só no Sudão, entre 30.000 a 50.000
na RDC. Mas o problema é global; na Turquia o PKK utiliza cerca de 3.000, em Mianmar mais de
75.000, as FARC cerca de 11.000. Devemos ainda consultar a resolução 1612 do CSNU sobre as crianças
e conflitos armados.
-113-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
Síntese conclusiva
-114-
Tipologias de Guerra
-115-
Quarta Parte
A Estratégia da Subversão63
Até aqui, no nosso livro, temos falado de guerra, mas como o pró-
prio título indica abordaremos também temáticas relacionadas com
a estratégia. Nesse sentido, entendemos iniciar esta parte com um
capítulo onde efectuamos uma breve análise da evolução do conceito
de estratégia, para depois passarmos para uma análise da subversão
e da sua estratégia, caracterização e evolução, suas principais causas
e tipologias e identificando ainda as premissas que acompanham o
fenómeno.
1. A Estratégia
63
Este tema foi inicialmente por nós tratado na Revista Militar com o título “As guerras do terceiro tipo
e a estratégia militar. Uma possível análise”, Novembro de 2005, p. 1349-1371; posteriormente voltámos
à sua análise, mais aprofundada e surge uma nova publicação na revista Nação e Defesa do Verão de
2006, com o título “O fenómeno subversivo na actualidade. Contributos para o seu estudo”, p. 169-191.
A investigação sobre este tema continuou e parte dele foi publicado na Revista Estratégia XVI, de 2007,
integrando um trabalho mais vasto intitulado “Descrição do fenómeno subversivo na actualidade. A
estratégia da contra-subversão. Contributos nacionais”, p. 27-98.
-119-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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A Estratégia da Subversão
-121-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-122-
thinking about the choices available to others and how their own en-
deavours might be thwarted, frus-trated or even reinforced. It is this
interdependence of choice that provides the essence of strategy and
diverts it from being mere long-term planning or the mechanical
connection of available means to set ends” (2006; p. 9).
Neste livro, o conceito de Estratégia já não é apenas o da Anti-
guidade Clássica, que a identificava com a “arte do General”, nem
tão abrangente como o de Freedman. Aqui entendemos a Estraté-
gia, que é antecipatória e pró-activa, na sua essência e em sentido
lato, consistindo na escolha do melhor caminho para se atingir um
determinado objectivo com os meios (de hard e soft power) dispo-
níveis, procurando no jogo dialéctico minimizar sempre as vulne-
rabilidades, maximizar as potencialidades e neutralizar as ameças,
tendo a sua aplicação num ambiente hostil ou competitivo, ou seja,
em ambiente agónico. Aqui também se analisa a Estratégia Militar,
entendida como a aplicação do instrumento militar para alcançar
objectivos políticos64.
64
Apesar de não serem aqui analisados, consideramos importante referir que as leituras dos trabalhos
de Horta Fernandes e de Francisco Abreu (dois dos bons jovens pensadores da Estratégia em Portugal)
muito contribuíram para a formulação das minhas ideias e dúvidas acerca dos fenómenos da guerra
e da estratégia. Não posso também deixar de referir as longas conversas com o Amaral Lopes, Sérgio
Marques e com o teimoso do Beja Eugénio.
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-124-
A Estratégia da Subversão
-125-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
65
Thomas Edward Lawrence, que contribuiu em muito para o entendimento da guerra subversiva,
referiu que a rebelião pode ser feita por 2% de uma força activa e por 98% de simpatizantes pacíficos
(1920, p. 69).
-126-
A Estratégia da Subversão
-127-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
66
É importante salientarmos aqui, e relembrando o que já mencionámos a propósito do significado do
termo guerrilha, que na Península Ibérica, as milícias e ordenanças, bem como a actuação da população
foram fundamentais para, no caso português, expulsar o invasor francês por três vezes. Neste período
ficaram registados nos anais da História Militar Portuguesa personalidades como Francisco da Silveira
e diversos Bispos e Clérigos que assumiram o “Comando do Povo” (Bragança e Faro, entre outros), que,
com acções irregulares desgastavam os Exércitos de Junot, Soult e Macena, tendo o primeiro reagido
com uma campanha punitiva de extrema violência sobre as populações, campanha essa comandadas
por Loison, o famoso maneta.
-128-
A Estratégia da Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
67
Infiltração metódica e planeada nas estruturas essenciais do poder a derrubar.
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A Estratégia da Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-132-
A Estratégia da Subversão
As actuais guerras com cariz subversivo são referidas por outros auto-
res como de terceiro tipo (Holsti, 1996), de quarta geração (Hammes,
2004), de debilitação nacional (Gelb, 1994), guerras pós-modernas
(Luttwak, 1995; Cooper, 2004), guerras híbridas (Hoffman; 2009),
ou mesmo, como adianta Mary Kaldor (2001), por guerras novas. No
seu desenvolvimento utilizam todas as formas de coacção disponí-
veis (política, económica, psicológica e militar) para convencerem os
líderes políticos adversários que os seus objectivos são inatingíveis
ou muito caros para os benefícios esperados (Hammes, 2004, p. 2),
provocando consequências no sistema internacional como um todo.
Nestas guerras as maiores vítimas são os civis inocentes que re-
presentam mais de 90% das baixas (Pearson e Rochester, 1997; p.
306) das quais, na última década, 2 milhões eram crianças, numa
média de uma em cada três minutos (Singer, 2005; p. 4-5), consti-
tuindo-se acima de tudo no principal objectivo. Não podemos tam-
bém esquecer os refugiados e deslocados, vítimas humanas que na
década de 70 do século passado eram cerca de 2,5 milhões, e na de
90 eram já mais de 23 milhões.
Considerarmos o fenómeno subversivo como intemporal e, tal
como Clausewitz o fez em relação à guerra, podemos compará-lo com
um camaleão, que modifica um pouco a sua natureza e se adapta a
cada caso concreto (Clausewitz, 1976; p. 89), assumindo actualmen-
-133-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-134-
A Estratégia da Subversão
-135-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
68
O maior gang a nível mundial, contando com cerca de cem mil elementos espalhados por 6 países,
dedicando-se aos mais diversos tipos de crime, como a extorsão, o tráfico de droga, humano e de via-
turas.
-136-
A Estratégia da Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
69
A argumentação de Max Manwaring assenta na seguinte base: “gang-related crime, in conjunction
with the instability it wreaks upon governments, is now a serious national security and sovereignty
problem in important parts of the global community. Although differences between gangs and in-
surgents exist, in terms of original motives and modes of operation, this linkage infers that the gang
phenomenon is a mutated form of urban insurgency. That is, these nonstate actors must eventually
seize political power to guarantee the freedom of action and the commercial environment they want.
The common denominator that can link gangs and insurgents is that some gangs’ and insurgents’
ultimate objective is to depose or control the governments of targeted countries. Thus, a new kind of
war is brewing in the global security arena. It involves youthful gangs that make up for their lack of raw
conventional power in two ways. First, they rely on their “street smarts,” and generally use coercion,
corruption, and co-optation to achieve their ends. Second, more mature gangs (i.e., third generation
gangs) also rely on loose alliances with organized criminals and drug traffickers to gain additional re-
sources, expand geographical parameters, and attain larger market shares” (2005).
-138-
A Estratégia da Subversão
-139-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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A Estratégia da Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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A Estratégia da Subversão
70
Nos EUA, antes do 11 de Setembro de 2001, o relatório da Commission on America´s National Inte-
rest, de Julho de 2000, alertava para a necessidade de o governo americano na sua luta anti-terrorista
não debilitar a sua legitimidade política e infringir direitos e liberdades dos cidadãos americanos. Com
os atentados esta ideia foi pulverizada e o Congresso aprovou legislação muito restritiva (USA Patriot
Act), que conferiu novos e diferentes poderes ao governo federal, visando sobretudo incrementar a
vigilância, controlo e eventual procedimento criminal sobre indivíduos e empresas suspeitos de apoia-
rem organizações terroristas, restringindo seriamente a tradicional liberdade de expressão, de circu-
lação e mesmo a privacidade.
-143-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-144-
A Estratégia da Subversão
71
Steve Ropp (2005) refere que a incerteza associada à globalização conduz, nas democracias repre-
sentativas, ao desrespeito pelas instituições formais, que pode, em situações extremas, levar ao de-
sencadear de acções políticas directas, ilegais, que minam as bases políticas e alteraram o ambiente
estratégico.
-145-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
4. As tipologias subversivas
Lumpen
72
Bard O´Neil (1990) sugere sete tipos de movimentos: anarquistas, igualitários, tradicionalistas, plu-
ralistas, secessionistas, reformistas e preservationistas. Mais recentemente Steven Metz (2004) carac-
teriza-as como nacionais ou como de libertação (2004).
-146-
A Estratégia da Subversão
Etnolinguística
-147-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
Popular
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A Estratégia da Subversão
Global
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Qual de Nós Terá Razão?
5. Premissas da subversão
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A Estratégia da Subversão
Síntese conclusiva
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Qual de Nós Terá Razão?
-152-
Quinta Parte
A Estratégia da Contra-Subversão73
Na parte precedente analisámos a Estratégia da subversão e as carac-
terísticas do fenómeno na actualidade. Pensamos que se impõe ago-
ra uma análise da Estratégia de resposta a dar à subversão, ou seja,
da Estratégia da contra-subversão. Assim, sabendo que a subversão
obedece a uma Estratégia total, adoptámos um modelo de análise ho-
lístico e identificámos as 5 Estratégias gerais (político-diplomática,
socioeconómica, psicológica, informações e militar) que dão corpo à
estratégia total contra-subversiva.
Efectuada a identificação das integrantes da Estratégia contra-
subversiva, foi nossa opção efectuar uma análise de cada uma das
Estratégias gerais que o poder formal vai utilizar para concretizar a
sua resposta.
À estratégia das guerras de cariz subversivo deve ser oposta uma es-
tratégia contra-subversiva, que tem como objectivo final a protec-
73
A versão inicial deste tema foi abordada em outros trabalhos anteriores, de que destacamos a versão
integral na Revista Estratégia XVI de 2007, com o título “Descrição do fenómeno subversivo na actua-
lidade. A estratégia da contra-subversão. Contributos nacionais”, p. 27-98.
-155-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-156-
A Estratégia da Contra-Subversão
74
O modelo de McCormick é uma ferramenta para a análise de situações de subversão e de contra-
subversão, tendo por base o desenvolvimento de uma visão simétrica das acções exigidas quer pela
subversão quer pela contra-subversão para alcançar o sucesso. McCormick define a manobra subver-
siva/contra-subversiva assente em cinco estratégias de actuação: a conquista das populações; negar ao
adversário o controlo das populações; acção directa sobre o adversário; afectar as ligações do adversário
à comunidade internacional e estabelecer relações com a comunidade internacional.
-157-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
a outro nível (Canonico, 2004; p. 12). Não queremos com isto dizer
que não haja, por exemplo, uma intervenção directa sobre as forças
subversivas e que as outras manobras não se vão desenvolvendo em
simultâneo, uma vez que elas se complementam.
A estratégia contra-subversiva também tem um ritmo próprio,
que abrange um período de prevenção e outro de intervenção, sen-
do o primeiro contínuo e acompanhando o segundo (Alves, 1999; p.
284). Tal como qualquer doença, a melhor forma é preveni-la para
evitar o desenvolvimento do ciclo evolutivo clássico. Caso não se evi-
te o eclodir da mesma, tudo deve ser feito para reduzir o período de
inércia, de hesitação e de adaptação dos planos existentes, que ca-
racteriza a estratégia contra-subversiva na passagem de um período
a outro (Trinquier, 1968; p. 133). O tempo para a resposta é de facto
importante.
Este ritmo passa pela preparação dos diversos sectores de activi-
dade do Estado no período de prevenção. No período de intervenção
há uma fase de limpeza, onde se estabelece o dispositivo das forças
de segurança e militares, procurando criar um clima de segurança;
uma fase de consolidação, onde se restabelece a organização gover-
namental e o controlo pelas autoridades civis, mantendo ainda uma
forte presença militar e, por fim, uma fase de reconstrução, onde se
regressa à normalidade, com a transferência de responsabilidades
para as autoridades civis e administração locais (Arriaga, 1961/62,
Couto, 1989, e CECA, 1990).
Uma das ironias e problema com a estratégia contra-subversiva
reside no frequente não reconhecimento, ou negação, por parte do
regime que a deve desencadear, da existência de subversão no seu
território, dando tempo a que o fenómeno se desenvolva, iniciando
o conflito com iniciativa e vantagem estratégica (Metz, 2004; p. 23),
levando ainda a um atraso na resposta. A resposta deve demonstrar
-158-
A Estratégia da Contra-Subversão
-159-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
75
“The use of law enforcement mechanisms against international threats may also imply that non-legal ins-
truments, such as military force or a covert action by an intelligence agency, are less important and can be
deemphasized. Questioning this assumption, observers argue that some important international outcomes are
utterly unobtainable through judicial processes”. (Congressional Research Service, 2001, p. 6).
-160-
A Estratégia da Contra-Subversão
2. A Estratégia político-diplomática
-161-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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A Estratégia da Contra-Subversão
76
Para Zartman e Rasmussem (2001; p. 11), a transformação do conflito é entendida como “replacing
conflict with positive relationships – cooperation, empathy and interdependence between parties”.
-163-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
77
Foi o que fez a Inglaterra na Malásia (1948-1960) e no antigo ultramar português, também foi esta a
estratégia adoptada, acumulando o Governador-Geral, nos primeiros anos de guerra, simultaneamen-
te as funções de Comandante-Chefe. Podemos ainda consultar o interessante livro de Adriano Moreira
(1961) Concentração de Poderes e ainda Marechal Lyautey (1933) Lettres de Tonkin et de Madagascar
(1894-1899). Na Itália, a concentração de poderes no Carabinieri General (1968-1982) e na unificação
do intelligence, até o PCI colaborou (Manwaring, 2004). Mais recentemente, a propósito das operações
de estabilização das forças norte-americanas no Iraque, podemos detalhar em Hoffman, Bruce (2004)
– Insurgency and counterinsurgency in Iraq. Santa Mónica: Rand Corporation.
-164-
A Estratégia da Contra-Subversão
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3. A Estratégia socioeconómica
-166-
A Estratégia da Contra-Subversão
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A Estratégia da Contra-Subversão
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4. A Estratégia psicológica
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A Estratégia da Contra-Subversão
-171-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
78
No caso de as Forças serem da OTAN não é doutrinariamente possível exercer acção psicológica sobre
elas, deve-se sim efectuar informação interna. Temos no entanto a certeza que a fronteira entre ambas
pode ser muito ténue.
-172-
A Estratégia da Contra-Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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A Estratégia da Contra-Subversão
5. A Estratégia de Informações
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A Estratégia da Contra-Subversão
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6. A Estratégia militar
-178-
-178-
A Estratégia da Contra-Subversão
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
79
Sobre esta temática podemos detalhar em (Garcia et. al, 2002).
-180-
A Estratégia da Contra-Subversão
80
Foi o caso da Administração Portuguesa nos conflitos do antigo Ultramar Português, que recorreu
nos três teatros de operações, quando julgado pertinente, ao reordenamento rural e à prática de al-
deamento, e na Guiné, a partir de Setembro de 1968, foi determinada a organização das Tabancas em
autodefesa.
-181-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-182-
A Estratégia da Contra-Subversão
-183-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
Síntese conclusiva
-184-
A Estratégia da Contra-Subversão
-185-
Sexta Parte
O Terrorismo Transnacional –
Contributos para o seu Entendimento81
O terrorismo transnacional constitui uma das principais ameaças
transnacionais, e nesta parte do nosso livro procuramos responder
à curiosidade suscitada pelo fenómeno, nomeadamente às questões:
como está estruturado? Quais os seus objectivos? Como se efectua
o recrutamento? Como é financiado? Assim organizámos esta sex-
ta parte em cinco capítulos. No primeiro procuramos caracterizar o
fenómeno, para depois no segundo abordarmos os seus objectivos,
a sua natureza e tentarmos perceber um pouco a sua estrutura. O
terceiro capítulo aborda a complexa teia dos apoios, sobretudo fi-
nanceiros, centrando-se o quarto no processo de recrutamento, e
por último, faremos uma breve abordagem à análise estatística do
fenómeno.
81
Este texto foi inicialmente apresentado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra num co-
lóquio sobre terrorismo, realizado no dia 9 de Março de 2007. Posteriormente foi publicado na Revista
Militar de Abril de 2007, p. 445-468.
-189-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
1. Conceito
-190-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-191-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
sobre civis, exercida quer pelo actor Estado, quer por actores não-
estaduais, e se pretender ainda consagrar o direito de resistência à
ocupação estrangeira. As dificuldades a ultrapassar são inúmeras e
para as Nações Unidas torna-se um imperativo político encontrar tal
definição (Nações Unidas, 2004; p. 48).
Após esta breve análise conceptual do terrorismo, entendemos
ser necessário neste livro optar por uma definição, sendo que a da
OTAN, expressa no MC 472, nos parece ser um bom instrumento
conceptual para a investigação aqui apresentada. Assim, entende-
mos por terrorismo “uses of violence or the threat of violence to cre-
ate fear, and to coerce or intimidate governments or societies into
acceptance of goals that are political, religious and ideological or
combinations thereof”82. Esta definição insere o terrorismo transna-
cional, que hoje é identificado, sobretudo pelas opiniões públicas e
seus formadores, com Bin Laden e a al-Qaeda (a base), no conceito
mais lato de subversão já por nós definido neste estudo.
Uma vez que o terrorismo transnacional, como veremos, tem
intenções, objectivos, recrutamento e organização globais, conside-
ramos o fenómeno como uma acção subversiva global (Mackinlay,
2002, Garcia, 2007 b) ou Pansurgency (National War College, 2002).
82
Tradução livre do autor: “ a utilização ilegal da força ou da violência planeada contra pessoas ou pa-
trimónio, na tentativa de coagir ou intimidar governos ou sociedades para atingir objectivos políticos
religiosos ou ideológicos ” utilização ilegal da força ou ameaça do uso da força para gerar medo, e para
coagir ou intimidar governos ou sociedades a aceitarem objectivos que são políticos, religiosos, ideoló-
gicos ou uma combinação dos mesmos.
-192-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
2.1. Natureza
-193-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
2.2. Objectivos
83
Podemos detalhar mais em diversas declarações de Bin Laden disponíveis em www.state.gov./s/ct/rls/
pgtrpt/2003/31711.htm, e mais recentemente em http://www.dni.gov/releases.html. O Governo norte-
americano considera as intenções do Terrorismo transnacional de uma forma ainda mais ambiciosa,
referindo no seu Conceito Estratégico de Segurança, de Março de 2006, que as intenções do Terroris-
mo são: “The transnational terrorists confronting us today exploit the proud religion of Islam to serve
a violent political vision: the establishment, by terrorism and subversion, of a totalitarian empire that
denies all political and religious freedom”.
-194-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
“Islamic governments have never been, and will never be, es-
tablished through peaceful solutions and cooperative coun-
cils. They are established as they have been, by pen and gun,
by word and bullet, by tongue and teeth”84.
84
Este manual está disponível on line em http://www.usdoj.gov/ag/manualpart1_1.pdf. No início do
texto, a Polícia Britânica esclarece a sua proveniência: “The attached manual was located by the Man-
chester (England) Metropolitan Police during a search of an al Qaeda member’s home. The manual was
found in a computer file described as “the military series” related to the “Declaration of Jihad.” The
manual was translated into English and was introduced earlier this year at the embassy bombing trial
in New York”.
-195-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
85
Sobre este tema devemos consultar a obra coordenada pelo Brigadeiro-General Russel Howard e pelo
Professor James Forest, Weapons of Mass Destruction and Terrorism, editado em 2006. A obra analisa
detalhadamente os conceitos, a ameaça e as suas variantes, a resposta a dar e ainda as lições aprendidas
e as ameaças futuras.
86
Neste interessante comunicado Abu al-Masri apela à Guerra Santa, principalmente durante o mês do
Ramadão, e acrescenta um dado interessantíssimo sobre baixas do lado dos insurrectos, afirmando que
“The blood has been spilled in Iraq of more than 4,000 foreigners who came to fight”. Foi a primeira
vez que foram contabilizadas as baixas/mortes do lado da subversão. O comunicado pode ser con-
sultado em linha no endereço http://www.netscape.com/viewstory/2006/09/28/iraq-terror-leader-
-196-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
2.3. Estrutura87
recruits-scientists/?url=http%3A%2F%2Fabcnews.go.com%2FInternational%2FwireStory%3Fid%3D
2502724%26CMP%3DOTC-RSSFeeds0312&frame=true.
87
Entendemos por estrutura o conjunto das funções e relações que determinam formalmente as mis-
sões que cada unidade da organização deve realizar e os modos de colaboração entre essas unidades.
Sobre este assunto, podemos detalhar mais em (Strategor, 2000).
88
Sobre este assunto, podemos detalhar em (Guedes, 2006) e (Barabási, 2003).
-197-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-198-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-199-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-200-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
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Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-204-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-205-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
4. Recrutamento
90
No texto do Coronel Thomas Dempsey referido em bibliografia podemos encontrar exemplos deta-
lhados relacionados com esta temática. Dempsey foi Adido Militar em Monróvia e Freetown e actual-
mente é o Director de Estudos Africanos do US Army War College.
-206-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-207-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
a. Recrutamento directo
Nesta forma de recrutamento, o contacto com o elemento a recrutar
é feito directamente e incide sobretudo em jovens previamente son-
dados e persuadidos, facilmente manipuláveis, que expressam a sua
-208-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-209-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-210-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
b. Recrutamento indirecto
-211-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-212-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
91
Podemos detalhar que este documento refere ainda a necessidade de se conquistar o importante
apoio da população, disponível em http://www.dni.gov/releases.html.
-213-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
5. A análise estatística
-214-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
-215-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
Ou por mês:
-217-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-218-
O Terrorismo Transnacional – Contributos para o seu Entendimento
Síntese conclusiva
-219-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-220-
Sétima Parte
As Ameaças Transnacionais
e a Segurança92
Nesta parte iremos analisar as principais ameaças transnacionais à
Segurança dos Estados. Na parte precedente, o estudo recaiu sobre
uma das ameaças, o terrorismo transnacional, nesta parte identifi-
camos as outras ameaças com que os Estados se deparam e analisa-
mos aquelas que consideramos mais significativas, começando pelo
problema da proliferação das Armas de Destruição Massiva, depois o
crime organizado transnacional, a SIDA, a degradação do ambiente
e o fracasso dos Estados. Identificado e analisado o problema, apre-
sentamos a nossa proposta de modalidades gerais de acção estraté-
gica para as enfrentar, incluindo aqui o contributo português. Esta
parte não ficaria completa sem antes efectuarmos uma contextua-
lização da problemática e uma abordagem, ainda que sintética, da
evolução do conceito de Segurança.
92
Este tema, agora revisto e substancialmente ampliado foi apresentado pela primeira vez no Minis-
tério da Defesa Nacional numa conferência a 7 de Setembro de 2005, subordinada ao tema “As novas
ameaças transnacionais e as missões das Forças Armadas”. Posteriormente foi publicado na Revista
Negócios Estrangeiros N.º 9, de Março de 2006, sob o título “As ameaças transnacionais e a segurança
dos Estados. Subsídios para o seu estudo”, p. 341-374. Contribuíram depois estudos posteriores, no-
meadamente o trabalho apresentada em Nicósia em Dezembro de 2006, e posteriormente publicado na
Revista Negócios Estrangeiros n.º 11, de Junho de 2007. O depoimento publicado em 2007, com o título
“O Papel das Forças Armadas Portuguesas na consolidação de Timor Lorosae”, num livro editado pela
Afrontamento, “Timor, da Nação ao Estado”, p. 73-88, também tem aqui um registo importante.
-223-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
93
Para Ferraz Sachetti a Nova Ordem já existe, “estará ainda em construção, mas estamos a vivê-la”
(Sachetti, 2004; p. 59).
-224-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-225-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
94
Barry Buzan considera que as ameaças podem ser de cinco tipos: militares, políticas, societais, eco-
nómicas e ecológicas (Buzan, 1991; p. 116-142).
95
A este propósito podemos consultar as obras de Buchan; Mackintosh (1973); Buzan (1991), Thomas,
(1992).
-226-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
96
O conceito de “segurança societal” inicialmente avançado por Barry Buzan, é, posteriormente, de-
senvolvido por um grupo de investigação do Centre for Peace and Conflict Research, no sentido de
diferenciar segurança do Estado (soberania) e segurança da sociedade (identidade).
-227-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
97
Esta nova abordagem assenta nos seguintes pressupostos: centralidade da pessoa humana; universa-
lidade, transnacionalidade e diversidade dos riscos; interdependência das componentes da segurança.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 1994. Para uma dicussão detalhada sobre o
conceito de segurança humana ver Vigilante, A.; Van Langenhove, Luc; Fanta, E.; Ferro, M.; Scarama-
gli, T.; “Delivering Human Security Through Multilevel Governance,” UNDP, UNU-CRIS, Brussels,
2009
-228-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
98
Barry Buzan entende que o conceito alargado de segurança deve contemplar as mesmas áreas do que
as ameaças já definidas por nós na nota n.º 95 deste Livro (Buzan, 1991). Em Portugal, destacamos duas
obras de referência para um melhor esclarecimento dos conceitos Viana (2002); e Saraiva (2001).
-229-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-230-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-231-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
99
O Congresso norte-americano (2001) define-as como: “qualquer actividade transnacional (incluindo
o terrorismo internacional, o tráfico de droga, a proliferação de Armas de Destruição Massiva e os seus
vectores de projecção, e o crime organizado) que ameace a segurança nacional (…); qualquer indivíduo
ou grupo que intervenha em actividades referidas no parágrafo anterior”.
-232-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
100
Tradução livre do autor: Ameaças económicas e sociais, onde se incluem a pobreza, as doenças infec-
ciosas e a degradação ambiental; Conflitos entre Estados; Conflitos internos, incluindo a guerra civil,
o genocídio e outras atrocidades em larga escala; As armas NBQ; O terrorismo; O crime organizado
transnacional.
-233-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
1) O Terrorismo;
2) A Proliferação das Armas de Destruição Massiva;
3) Os Conflitos Regionais;
4) Fragilidade e Radicalização dos Estados;
5) A Criminalidade Organizada.
-234-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-235-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
101
EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França, China, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.
-236-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-237-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-238-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-239-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
102
Para as Nações Unidas o crime organizado é constituído por “group activities of 3 or more persons,
with hierarchical links or personal relationships, which permit their leaders to earn profits or control
territories or markets, internal or foreign, by means of violence, intimidation or corruption, both in
furtherance of criminal activity and in order to infiltrate the legitimate economy”. In United Nations
Convention on Transnational Organised Crime (entrou em vigor a 29 de Setembro 2003).
103
A União Europeia entende-o como: “A Criminal Organization means a structures association, esta-
blished over a period of time, of 2 or more persons, acting in a concerted manner with a view to com-
mitting offences which are punishable by deprivation of liberty or a detention order (…) whether such
offences are an end in themselves or a means of obtaining material benefits and, where appropriate, of
improperly influencing the operation of public authorities”. In Joint Action 98/733/JHA of 21 Decem-
ber 1998, adoptada pelo Conselho com base no artigo K.3 do Tratado da União Europeia; disponível em
http://europa.eu.int/scadplus/leg/en/lvb/l33077.htm.
-240-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
104
David Whittaker, que defende que “the ordinary criminal’s violent act is not designed or intended to
have consequences or create psychological repercussions beyond the act itself. Unlike the criminal, the
terrorist is not pursuing purely egocentric goals – he is not driven by the wish to line his own pocket
or satisfy some personal need or grievance” (Whittaker, 2001; p. 9).
-241-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-242-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-243-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
nos Países Baixos, na Bélgica e nos países Bálticos (EU, 2003; p. 20).
A diversificação de actividades desenvolvidas também tem sido
uma realidade que passa não só pela escolha de outras actividades
ilegais, mas também pelo desenvolvimento de negócios lícitos com o
objectivo de branquear capitais (os sectores da banca, hoteleiro e dos
transportes são exemplos disso) (Europol, 2003; p. 13). Consequen-
temente, o crime organizado deixou de ser um simples problema da
economia de mercado para passar a ser uma ameaça que diz respeito
à existência dos próprios países. Ao alcançar um nível de poder que
anteriormente era reservado exclusivamente a Estados, este fenó-
meno adquiriu a capacidade de destabilizar económica, social e, ain-
da, politicamente os países onde opera. Esta questão implica, nome-
adamente, que a ameaça passa a ser dirigida igualmente à segurança
dos próprios cidadãos.
Ao nível da dimensão social, a questão mais relevante é a da mo-
bilidade acrescida dos cidadãos, que veio também permitir ao crime
organizado estabelecer contactos a nível internacional ou gerir com
maior facilidade actividades longe do seu país de origem. A exis-
tência de comunidades imigrantes da mesma etnia ou nacionalidade
de um determinado grupo criminoso pode igualmente influenciar a
actuação deste, na medida em que a comunidade pode servir como
base de apoio ou até mesmo de recrutamento.
Em termos jurídicos, o crime organizado tira partido das dife-
renças, ainda acentuadas, entre as legislações nacionais dos países.
São muitas vezes as diferenças entre as definições de determinado
tipo de crime que permitem entrar mais facilmente em certos mer-
cados do que noutros. A falta de harmonia a nível judicial é também
preocupante no sentido em que a cooperação entre as autoridades
nacionais não está suficientemente desenvolvida para fazer face, de
forma correcta, ao crime organizado.
-244-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-245-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-246-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
2.3 A SIDA106
105
O tráfico de estupefacientes aparece relacionado com 35 conflitos regionais. As guerrilhas da Amé-
rica Latina, do Afeganistão, Líbano, Curdistão, etc., servem-se dele para financiamento das suas acti-
vidades.
106
Uma versão sobre este tema, agora revisto, foi inicialmente apresentado no antigo Instituto de Altos
Estudos Militares, em Fevereiro de 2005, ao Curso de Estado-Maior. O interesse da matéria como uma
ameaça não tradicional à segurança, levou-me a aprofundar o tema e mais tarde a publicar um texto em
co-autoria com Francisca Saraiva na Revista Política Internacional n.º 30, de Fevereiro de 2006, sob o
título “A Geopolítica da SIDA”, p. 131-151.
-247-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
O vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV) foi identificado pela comunidade científica há aproxi-
107
madamente 20 anos.
-248-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-249-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
zonas geográficas similares, onde a maior parte dos casos ocorre en-
tre elementos homossexuais masculinos e devido a práticas de toxi-
codependência com recurso a drogas intravenosas.
Há também casos muito particulares, de países como a China e a
Roménia, em que a principal causa de transmissão do HIV se prende
com a manipulação do sangue ou de hemoderivados contaminados,
devido à falta de condições higiénicas, instalações e recursos para
estudar os tipos de doadores, falta de aplicação de técnicas de este-
rilização de agulhas e seringas, bem como pelo uso inapropriado de
transfusões.
Infelizmente, os dados estatísticos relativos à transmissão da
SIDA na Ásia estão apenas parcialmente documentados. Todavia,
sabemos que a disseminação, desde o final da década de oitenta do
século passado, tem sido bastante rápida. Na Tailândia a epidemia é
recente: terá começado oficialmente em 1988. Até então era classifi-
cada no nível III, ou seja, pouco prevalente, à semelhança do que se
passa em diversos países europeus. No nível III a maioria dos casos
devem-se ao contacto com um padrão I (alta prevalência) ou II (mé-
dia prevalência). De acordo com Isselbacher, entre 1985 e 1987 ape-
nas 1% da população toxicodependente da Tailândia estava infectada
e nas prostitutas esse valor era inferior. Porém, em 1989 o padrão
foi alterado bruscamente, passando a mesma população estudada a
contar com valores na ordem dos 40% de infectados (Isselbacher et.
al., 1994; 1812).
Neste caldo de cultura do submundo urbano, a proliferação da
promiscuidade foi galopante. As trabalhadoras profissionais do
sexo têm grandes responsabilidades na matéria, nomeadamente na
transmissão do vírus aos jovens a cumprir serviço militar. Com toda
a certeza sabe-se que infectaram 10% dos recrutas. Por sua vez estes,
devido à sua mobilidade, ajudaram a espalhar ainda mais a doença.
-250-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-251-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-252-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-253-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
108
Neste dia, o Conselho de Segurança debateu a SIDA em África, tendo sido a primeira vez que este
órgão discutiu um assunto relacionado com a saúde como ameaça à paz e segurança. O encontro demo-
rou mais de 7 horas e teve cerca de 40 intervenções. Não foi adoptada qualquer resolução.
-254-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-255-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-256-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-257-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
109
No Malawi prevê-se que 1/4 do efectivo tenha perecido dentro de 3 anos (Singer, 2002; p. 148).
110
O uso de violência sexual sobre mulheres chocou-nos a todos durante o conflito na antiga Jugoslá-
via e depois no Ruanda. Foram inúmeros os relatórios sobre violações, gravidez forçada e escravatura
sexual.
-258-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-259-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
111
A este propósito devemos recordar a título de exemplo o recrutamento feito pela RENAMO em Mo-
çambique durante a guerra civil, ou pela RUF na Serra Leoa.
-260-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-261-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
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As Ameaças Transnacionais e a Segurança
-263-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
-264-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
Podemos detalhar mais sobre este interessante discurso de François Fillon proferido a 18 de Junho de
112
-265-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
113
Este assunto pode ser consultado com mais detalhe, entre outros, em Sherman (2003) e na Estratégia
Europeia em Matéria de Segurança.
114
Ver Mónica Ferro, “Quando os estados falham. Estados falhados e segurança internacional” in Revis-
ta Segurança & Defesa Segurança e Defesa, n. º 2, Fevereiro 2007.
-266-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
115
Para uma dicussão sobre a possibilidade da criação de um conceito, sobre os produtores desse con-
ceito ver Mónica Ferro, “O que falha quando falham os estados?”, Adriano Moreira e Pinto Ramalho
(coords.), Estratégia, Volume XVII, Lisboa, 2008.
116
O critério de classificação varia entre autores e instituições. Podemos complementar esta informa-
ção, em www.worldbank.org/ieg/licus/docs/licus_fs.pdf. A Revista Foreign Policy (http://www.foreig-
npolicy.com/story/cms.php?story_id=3420&page=8) apresenta inclusivamente o ranking actual e a
cartografia global dos estados falhados, definindo ainda uma metodologia do Fund for Peace, para a
identificação e classificação dos Estados. O critério utilizado pode ser consultado em linha em (http://
www.fundforpeace.org/programs/fsi/fsindicators.php). São 12 os indicadores do falhanço de um Esta-
do, mas genericamente podem ser agrupados em apenas três: 1) Natureza social (pressão demográfica,
movimentos de refugiados e deslocados); 2) Natureza económica (desigualdades, declínio económico);
3) Natureza política (ineficácia do sistema judicial, violação da dignidade da pessoa humana).
117
William Zartman (1995 a; p. 14) define colapso estatal como: “o colapso da boa governação, lei e
ordem. O Estado, enquanto instituição que decide, executa e aplica, já não consegue tomar e imple-
mentar decisões”.
118
Este autor diferencia Estados falhados de Estados colapsados. Um Estado falha em resultado “da
violência interna, o governo perde a credibilidade (....) tornando-se ilegítimo para a sua população».
Um Estado colapsado, corresponde «a uma versão extrema de um Estado falhado» em que a segurança
é garantida pela lei do mais forte e onde «existe um vácuo de autoridade», no qual «os senhores da
guerra ou actores não-estatais adquirem o controlo de regiões ” (Rotberg, 2004; p. 5-9).
119
Fukuyama (2006; p. 105) classifica o termo “fraco”, referindo-se à força do Estado e não ao seu alcan-
ce, significando “(…) uma falta de capacidade institucional para implementar e impor políticas, muitas
vezes induzida por uma falta subjacente de legitimidade do sistema político como um todo”.
120
Para a USAID (2005; p. 1) são Estados vulneráveis: “those states unable or unwilling to adequately
assure the provision of security and basic services to significant portions of their populations and whe-
re the legitimacy of the government is in question. This includes states that are failing or recovering
from crisis (…)”. Emprega ainda a terminologia de “Estado em Crise”, para se referir aos Estados onde
“(…) the central government does not exert effective control over its own territory or is unable or
unwilling to assure the provision of vital services to significant parts of its territory, where legitimacy of
the government is weak or nonexistent, and where violent conflict is a reality or a great risk (…)”.
-267-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
· Estados falhados;
· Estados colapsados.
121
O Fund for Peace e a Revista Foreign Policy (2007) entendem Estado Falhado como: “A state that is
failing has several attributes. One of the most common is the loss of physical control of its territory or
a monopoly on the legitimate use of force. Other attributes of state failure include the erosion of legiti-
mate authority to make collective decisions, an inability to provide reasonable public services, and the
inability to interact with other states as a full member of the international community”.
122
Neste documento os Estados frágeis são “aqueles que correm o risco de degenerar e desagregar,
fazendo alastrar a insegurança não só por entre os seus próprios cidadãos como também por entre os
cidadãos da região a que pertencem” (VECP, 2006; p. 20).
-268-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
123
A OCDE, a UE e as Nações Unidas recusam o recurso a estas tipologias optando por uma categori-
zação genérica de estados fragéis ou em situação de fragilidade; admitindo que todos os Estados têm
elementos de fragilidade o que varia é o grau, a extensão dessa mesma fragilidade.
-269-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
124
Este foi o caso concreto da OTAN que, a 21 de Novembro de 2002, na Cimeira de Praga, ratificou
o novo conceito militar para a defesa contra o terrorismo, o MC 472, e a nova estrutura de forças foi
definida em 01 de Julho do mesmo ano, através do Military Decision 317/1.
-270-
As Ameaças Transnacionais e a Segurança
125
O General Rui Monarca da Silveira, no seu artigo Segurança e Defesa – a visão do Exército brasilei-
ro, mostra a relutância que existe em atribuir missões ao Exército para cumprir missões de segurança
interna. Disponível em www.exercito.gov.
126
Ver a este propósito o relatório da United States General Accounting Office, Report to Congressional
Requesters, Homeland Security, June 2004, e a importante obra publicada pela Rand Corporation,
Army Forces for Homeland Security. Santa Mónica: 2004.
127
Quer a Constituição da República quer a Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas limitam o
emprego das FA ao plano externo, porém, pelo Parecer nº. 147/2001 da Procuradoria Geral da Repú-
blica, de 9 de Novembro de 2001, homologado pelo MDN, em 6 de Dezembro de 2001, estabelece-se
que as Forças Armadas podem ser empregues em missões de segurança interna, em caso de agressão
ou ameaça externas. Assim, desde que o Poder político defina como sendo externa a origem da ameaça,
a actuação das Forças Armadas no âmbito da segurança interna para o combate a novas ameaças, tem
cobertura legal. Este parecer não é esclarecedor quanto ao campo de actuação das FA.
128
No caso específico de Portugal, as mentalidades vigentes ainda condicionam muito a forma de enca-
rar os assuntos de defesa e segurança; o conceito de Defesa Nacional está muito ligado apenas à activi-
dade militar, mas sabendo que não basta a Defesa para se obter a Segurança, o conceito a adoptar deve
assim ser o de Segurança Nacional, resultante de um conjunto de políticas do Estado, devidamente
articuladas, na vertente militar, mas também em outras políticas sectoriais como a económica, cultural,
educativa, que englobe acções coordenadas de segurança externa e interna, cuja fronteira está actual-
mente desvanecida (Viana, 2003; p. 10-18).
-271-
Da Guerra e da Estratégia: A Nova Polemologia
129
A capacidade de um actor das relações internacionais obter o que deseja através da atracção e não
pela coação, aplica-se por norma através de relações com aliados, auxílio económico e intercâmbio
cultural com outros actores, projectando uma percepção de comportamento coerente com a retórica
em apoio da democracia e dos direitos humanos, e mais genericamente, mantendo uma opinião pú-
blica favorável e uma credibilidade fora das suas fronteiras. Sobre este assunto podemos detalhar em
Nye (2004).
130
Consiste na análise dos factores de decisão: o objectivo político a alcançar, as características do am-
biente operacional, os potenciais estratégicos dos adversários e o tempo (Couto, 1998; p. 328).
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As Ameaças Transnacionais e a Segurança
esta não reside só nas intenções dos terroristas, mas sim no que eles
podem concretizar com sucesso.
Todavia são diversos os factores condicionadores a equacionar
nas modalidades de acção a propor. Regina Mongiardim (2004; p.
426-427) indica-nos alguns exemplos:
· O emprego de métodos militares convencionais contra um só
indivíduo identificado são falíveis, veja-se a guerra contra os Talibã/
al-Qaeda no Afeganistão;
· A eficácia da restrição das fronteiras perante um inimigo invi-
sível e anónimo também é duvidosa, podendo mesmo dar-se o caso
de serem residentes legais ou clandestinos das grandes e modernas
metrópoles do mundo ocidental, como aconteceu no 11 de Setembro
em Nova Iorque ou no 11 de Março em Madrid;
· Não se pode viver mediante dispositivos de segurança refor-
çados, que afectam as liberdades fundamentais, situação que pode
chegar a ser contrária ao Estado de direito democrático, ao mesmo
tempo que não é verdadeiramente equacionado o problema crucial
do Estado de direito em certas regiões controversas, nomeadamente
em África e na Ásia;
· Do mesmo modo, a tentativa de definir uma nova fronteira pla-
netária com referência ao “eixo do mal” prefigura a partição do mun-
do entre duas civilizações antagónicas que se irão digladiar. Seme-
lhante estratégia, para além de abalar a coesão da já de si heterogénea
coligação internacional contra o terrorismo, corre o risco de abrir no-
vas linhas de fractura, assim, maior imprevisibilidade e disseminação
dos factores de descontentamento, do ódio e da vingança.
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As Ameaças Transnacionais e a Segurança
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proliferação para prevenir que os Estados párias e terroristas possam adquirir materiais, tecnologias e
conhecimentos necessários para a fabricação de ADM; Gestão eficaz das consequências para responder
aos efeitos do uso de ADM, quer por terroristas, quer por Estados hostis.
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As Ameaças Transnacionais e a Segurança
Para Phil Williams (2000; p. 185), não é possível fazer frente ao cri-
me organizado apenas com acções policiais ou com a publicação de
novas leis. A chave do problema está na sociedade em si, na sua es-
trutura e, acima de tudo, na formação cívica dos cidadãos. É a este
nível que são necessárias verdadeiras intervenções de fundo. Assim,
a estratégia tem de ser total, com políticas nacionais e internacionais
multissectoriais, de ajuda ao desenvolvimento, de consolidação dos
órgãos de soberania e de promoção do ideal democrático133.
A acção estratégica para lidar com o crime organizado transna-
cional também envolve a actuação das FA, sendo estas chamadas a
desempenhar um papel supletivo. Adoptamos também parte do cri-
tério anterior, sendo necessário desenvolver (Gomes, 2004; p. 112):
· Medidas preventivas, de implementação permanente e com a
finalidade de dissuadir aquele tipo de actividades, procurando evitar
132
A UE adoptou em 2003 uma Estratégia ADM que dá ênfase à prevenção, recorrendo sempre à ONU e
a acordos multilaterais. Em 2008 no Relatório sobre a execução da EES, já por nós referido, considera
que o esforço deve ser realizado em domínios específicos como a abordagem multilateral do ciclo do
combustível nuclear, o combate ao financiamento da proliferação, às medidas em matéria de biossegu-
rança e bio-protecção, à contenção de proliferação de vectores de lançamento, nomeadamente mísseis
balísticos.
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3.4. A SIDA
133
O relatório que citámos na referência anterior acrescenta sobre a criminalidade organizada o se-
guinte: “Deverão ser aprofundadas as parcerias já existentes com países vizinhos, para além das que
nos ligam aos nossos principais parceiros, bem como as constituídas no âmbito da ONU, para tratar
as questões da circulação de pessoas, do policiamento e da cooperação judiciária. É essencial a im-
plementação dos instrumentos da ONU em matéria de criminalidade. Deveremos reforçar a parceria
que mantemos com os Estados Unidos para o combate ao terrorismo, nomeadamente nos domínios da
partilha e protecção de dados. Além disso, deveríamos reforçar as capacidades dos nossos parceiros no
Sul da Ásia, em África e a Sul das nossas fronteiras. A UE deveria apoiar os esforços envidados a nível
multilateral, principalmente no âmbito da ONU. É preciso aperfeiçoar a forma como conciliamos as
dimensões interna e externa. Importa igualmente melhorar a coordenação e aumentar a transparência
e a flexibilidade em diferentes agências, tanto a nível nacional como europeu ”.
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segurança.
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A expressão statebuilding popularizou-se mesmo entre os autores de língua portuguesa, embora a
expressão construção de estados possa ser usada como tradução correcta.
135
“To stand ready to assist in peace-building in its differing contexts: rebuilding the institutions and
infrastructures of nations torn by civil war and strife; and building bonds of peaceful mutual benefit
among nations formerly at war” (Boutros-Ghali, 1992).
136
Galtung (1975; p. 282-304) identificou três aproximações para a Paz: peacekeeping, que se prendia
com o parar ou reduzir os manifestos de violência do conflito, através de uma intervenção de forças
militares; peacemaking que se dirigia para a reconciliação política e a atitudes estratégicas através, por
exemplo, da mediação, negociação ou arbitragem e, finalmente a peacebuilding, que correspondia à
implementação prática da alteração social pacífica através da reconstrução socioeconómica e desen-
volvimento.
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Cynthia Watson define Nation Building como “ending military conflict and rebuilding economic and
political infrastructures, along with basic services, to include the armed forces, police, government,
banks, transportation networks, communications, health and medical care, schools and the other basic
infrastructures” (2004; p. 9).
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138
Este sub-capítulo beneficiou muito das discussões com Mónica Ferro, a universitária nacional que
mais tem escrito e investigado sobre o tema.
139
Sobre este assunto ver: Gareth Evans, The Responsibility to Protect, Ending Mass Atrocitys Crimes
Once and For All, Washington, Brookings Institution Press, 2008; Alex J. Bellamy, Responsibility to
Protect, The Global Effort to End Mass Atrocities, Cambridge, Polity Press, 2009; Mónica Ferro, “Se-
gurança Humana – quando é que nos protegem?” in Boletim do Centro Regional das Nações Unidas,
Fevereiro 2009, disponível in http://unric.org/html/portuguese/newsletter/newsletter_portugal43.
pdf
140
Ver Parágrafos 138 e 139 do Documento Final da Cimeira de 2005.
141
Para uma discussão sobre se a R2P é um princípio, um conceito ou uma norma podemos detalhar
em Bellamy (2009).
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142
Ver Ferro (2009).
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143
Miall (1999; p. 188-194) detalha os desafios que são enfrentados pelos peacebuilders após conflitos
de longa duração, distinguindo duas vertentes importantes e inúmeras tarefas associadas: a prevenção
do relapso na guerra e a criação de uma paz auto-sustentada. William Zaartmann (1995 b; p. 95-105)
apresenta-nos as linhas orientadoras para a preservação da Paz em África: adopção de mecanismos
padronizados para lidar com o conflito, construção da capacitação africana, desarmamento e desmobi-
lização; reconstrução das estruturas; construção de coligações; lidar com facções adversas; democrati-
zação; definição de fronteiras e apoio à gestão de conflitos.
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144
O envolvimento contínuo das Nações Unidas em consolidaçao da paz pode ser remetido para a sua
operação na Namíbia em 1978, e que levou ao estabelecimento de Normas de Execução Permanentes
(SOP/ Standard Operating Procedure), que se adaptam depois caso a caso, mas com padrão de actuação
semelhante. O modelo das Nações Unidas para a reconstrução de Estados assenta assim fundamental-
mente em cinco áreas: militar e de segurança, política e constitucional, económica e social, psicológica
e social e ainda internacional. Este assunto pode ser aprofundado em Ferro (2006) e em Hugh Miall
(1999; p. 186-188).
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Estratégia Militar
145
“For development to succeed - in almost any context - we know we need to take the long view and
stay engaged for the long haul. There are no quick fixes to strengthen governance or build a country’s
ability to improve the lives of its citizens” (USAID, 2005; p. v).
146
A construção de capacidades para a UE assenta em: “To develop and strengthen structures, ins-
titutions and procedures that help to ensure: transparent and accountable governance in all public
institutions; improve capacity to analyze, plan, formulate and implement policies” (Banco Mundial,
2005; p. 6).
147
Draft do Relatório do PNUD sobre State-Building a que o autor teve acesso.
148
A USAID (2005; p. 5) apresenta quatro prioridades para o fortalecimento do Estado: “Enhance sta-
bility, Improve security, Encourage reform related to the conditions that are driving fragility and that
will increase the likelihood of long-term stability. Develop the capacity of institutions that are funda-
mental to lasting recovery and transformational development”.
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Estratégia Político-diplomática
Sobre esta temática podemos ver a publicação Disarmament, Demobilisation and Reintegration. A
149
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Estratégia Socioeconómica
Estratégia Psicológica
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Estratégia de Informações
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No sentido que Miall (1999: p. 209-211) lhe deu: harmonização de histórias diferentes, aquiescência
face à situação e restauração das relações amistosas.
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As Ameaças Transnacionais e a Segurança
Robert Cooper vai mais longe e propõe uma nova forma de imperialismo:
“The most logical way to deal with chaos, and the one most
employed in the past is colonization. But colonization is
unacceptable to postmodern states (and, as it happens, to
some modern states, too). It is precisely because of the dead
of imperialism that we are seeing the emergence of pre-mo-
dern world. (…) Today, there are no colonial powers willing
to take on the job, though the opportunities, perhaps even
the need for colonisation is as great as it ever was in the ni-
neteenth century. (…) What is needed then is a new kind of
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Para uma dicussão detalhada sobre o conecito de segurança humana ver Vigilante, Van Langenho-
ve, Fanta, Ferro, Scaramagli, “Delivering Human Security Through Multilevel Governance,” UNDP,
UNU-CRIS, Brussels, 2009.
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“Tanzanite 2002”, onde um Oficial e três Sargentos integraram o Destacamento de Instrução Opera-
cional inglês que ministrou instrução aos cerca de 650 militares dos países africanos que participaram
no exercício, e o exercício “Nicusy 2004” com forças de Moçambique. Todos estes contingentes tiveram
assessoria de Oficiais e Sargentos do Exército da CTM. O Exército ainda disponibilizou diverso material
para apoio ao exercício, incluindo rações de combate, ou equipamento completo para os 37 homens do
contingente de S. Tomé.
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Síntese conclusiva
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Bibliografia e Fontes
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Bibliografia e Fontes
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Bibliografia e Fontes
Séries Monográficas:
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Actas de Congressos:
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Bibliografia e Fontes
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Bibliografia e Fontes
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Sítios na Internet:
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Bibliografia e Fontes
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Bibliografia e Fontes
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