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Dialética da alteridade *
Alfredo Moraes **
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Texto da Conferência proferida na 21ª Semana de Filosofia da UNICAP
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Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da UNICAP, Mestre em
Filosofia pela UFPE e Doutor em Filosofia pela UFRGS
Ano 1 • nº 1 • jan-jun/2001 - 57
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
ções estáticas.
Bem diverso é o que pretende Hegel em seus escritos: neles,
está sempre presente o convite à construção do conceito, em sua
efetividade e movimento. Não constitui uma prática hegeliana,
apresentar conceitos prontos e acabados, mas convidar o leitor a
com ele participar do árduo trabalho de construção do conceito;
por isso mesmo, muitos se angustiam diante da impossibilidade
de dizer taxativamente, ou de maneira simplificada e reduzida, o
que é determinada coisa para Hegel, como por exemplo, o que é o
absoluto, o que é o espírito, o que é a metafísica; para Hegel, o
conceito somente pode ser apreendido no movimento próprio,
constitutivo de si mesmo, pois na realidade efetiva - e é bom lem-
brar que Hegel está sempre preso a ela, uma vez que, para ele,
pensar abstratamente é coisa do entendimento e não da razão -
nada há que não esteja em processo.
De modo que, para Hegel, o dito de Heráclito ‘tudo flui’,
não encerra apenas um filosofema, mas revela a natureza mesma
do real efetivo; e se o discurso filosófico pretende ser especulativo
dessa realidade, não pode, sob pena de falseá-la, ser uma exposi-
ção que induza o leitor à inércia de definições a priori, abstratas,
estáticas, que se assemelham mais a fotografias que não captam o
dinamismo do real em sua efetividade. Daí o esforço hegeliano de
pensar por verbos providos de significados substanciais, de favo-
recer sempre o pensamento pensante.
Já no Prefácio da sua Fenomenologia do Espírito, Hegel
declara que a verdade é o todo, mas o todo pensado como resulta-
do que somente pode ser compreendido, considerando o caminho
que levou até ele, mais o seu devir. Portanto, um resultado que
não se dissocia do processo que o produziu, nem interrompe o vir-
a-ser, fechando-se como um beco-sem-saída de onde não se pode
ir adiante. A verdade é, assim, segundo Hegel, a expressão do fluir
que se apreende na realidade efetiva, o ser-aí do conceito em sua
efetividade.
Mas, se uma vez superada a dificuldade de compreensão do
pensar hegeliano, a inquietação inicial é vencida, resta ainda uma
outra, não menos importante, advinda desse pensar, seja: conside-
rando que Hegel esteja certo, que se tem de pensar assim a reali-
dade efetiva, como estando em permanente desenvolvimento, que
a mudança no duplo sentido grego (de deslocamento e de qualida-
de) seja paradoxalmente o que há de perene. Como seguir, por
exemplo, buscando coisas estáveis, estados permanentes, a segu-
rança das relações cristalizadas? Pior, como seguir querendo a
estabilidade estática nos valores, no caráter das individualidades
personalizadas? Bem, parece que essas indagações me levam a
não só ter inquietações, mas a me perceber como sendo a própria
inquietude, pois me reconheço como parte dessa realidade efetiva.
Posta nessa perspectiva a questão do pensar hegeliano ga-
nha dimensões tantas, e tantas implicações na existência humana
que, por certo, escapa de toda tentativa de síntese. Ora, acrescen-
te-se agora a categoria da simultaneidade, tão preciosa e
onipresente no pensar hegeliano, e o que já se mostrava inquietan-
te, vem a ser também desconsertante, epistemologicamente, para
as mentes habituadas à sucessividade linear, e existencialmente
angustiante aos que se ancoram no consolo de que o dia seguinte
sempre apaga as marcas do dia anterior.
Tomemos uma passagem da Fenomenologia, na qual
transparece a compreensão hegeliana do dialético, para melhor
compreendermos o simultâneo imbricado no devir:
Ano 1 • nº 1 • jan-jun/2001 - 63
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
O QUERERES
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Referências
Notas
1
Hegel, G. W. F. Fenomenologia do Espírito, Parte I, p. 22.
2
Hegel, G. W. F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas, Vol. I, p.163.
3
Hegel, G. W. F. Fenomenologia do Espírito, Parte I, p. 117, 120.
4
Id., pp. 124, 125.
5
Veloso, Caetano. Todo Caetano 66/96, p. 160, 161.