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Introdução
A afirmação progressiva dos direitos humanos é efetivamente marcada por uma série
de passos: a constitucionalização dos direitos, a extensão dos direitos e a universalização
desses direitos, conforme se observa na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim,
o processo de especificação dos direitos define de forma explícita em relação a demandas
específicas de proteção dos direitos da mulher, da criança, do idoso, do doente, do deficiente e
de outras minorias.
Segundo Lafer (1988), o valor da pessoa humana como fonte de alimentação da vida
em sociedade depara com a sua expressão jurídica nos direitos humanos que foram, a partir do
iluminismo do século XVIII, o fundamento último da ordem jurídica formulado pela tradição
do jusnaturalismo moderno e positivados em declarações constitucionais dos Estados-nações.
Ainda segundo Lafer (1988), os direitos humanos observado pelo “Direito Positivo” –
este significando um conjunto de princípios e normas que conduz à vida social de
determinada cultura em uma época determinada –, foi se transformando do século XVIII até
os dias atuais.
Nesse contexto, o autor (1988) relata que a primeira geração dos direitos humanos
processou-se, historicamente, dos direitos civis e políticos de garantias individuais, a fim de
tutelar a diferenciação entre o Estado e o não-Estado, fundamentada no contratualismo de
inspiração individualista, para os direitos da segunda geração que são os direitos
sócio-econômicos e culturais gerados para o estabelecimento da confiança nos indivíduos, isto
é, a emancipação do poder econômico dos indivíduos do domínio e da autoridade do poder
político.
É neste contexto que importa realçar outra dimensão importante da tradição que
ensejou o tema dos direitos humanos, a saber, o individualismo na sua acepção mais
ampla, ou seja, todas as tendências que vêem no indivíduo, na sua subjetividade, o
dado fundamental da realidade. O individualismo é parte integrante da lógica da
modernidade, que concebe a liberdade como a faculdade de autodeterminação de
todo ser humano.
Tal processo de asserção histórica de ambas as gerações de direitos humanos, que são
nada menos que direitos individuais, foi inspirado no legado universal do liberalismo e do
socialismo. Dito de outro modo, foi no embalo das Revoluções Americana e Francesa2,
consagrando o direito popular de titularidade coletiva ou o princípio da nacionalidade, que
substituiu o princípio das dinastias dos antigos regimes para o reconhecimento da
legitimidade da soberania (LAFER, 1988; BOBBIO, 2004).
Nesse sentido, Young (1989) comenta que o ideal de cidadania universal impulsionou
o ímpeto emancipatório da vida política moderna. No momento em que a burguesia desafiou
os privilégios aristocráticos, alegando a igualdade dos direitos políticos para os cidadãos tais
como, as mulheres, os trabalhadores, os negros, dentre outros, pressionaram pela inclusão na
posição de cidadania.
2
Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional, considerando o desprezo dos
direitos do homem e do cidadão são as causas únicas da infelicidade pública e da corrupção dos governos,
resolvem expor a declaração dos direitos naturais e positivos do homem, a fim de que esta declaração, presente a
todos os membros do corpo social, lhes lembre seus direitos e deveres, a fim de que as reclamações dos cidadãos
se destinem à manutenção da constituição e à felicidade de todos.
De acordo com Lafer (1988), no que se refere às minorias, ou grupos numericamente
inferiores ao resto da população de um Estado, se encontram numa posição não-dominante
num país hospedeiro que possuem características étnicas, religiosas ou linguísticas, distintas
do resto das minorias, e que estas desejam preservar a sua cultura, as suas tradições, a sua
religião e a sua língua.
Segundo a Young (1989), nos séculos XIX e XX, muitos entre os excluídos e
desfavorecidos achavam que ganhar o status de cidadania plena, isto é, direitos políticos e
civis iguais, levaria à sua liberdade e a igualdade. Entretanto, no final do século XX, quando
os direitos de cidadania foram politicamente estendidos aos demais grupos nas sociedades
capitalistas liberais, alguns grupos ainda não eram considerados como cidadãos plenos, mas
sim de segunda classe.
Ainda segundo Young (1989), a ideia de cidadania como expressão de uma vontade
geral tendeu a impor uma homogeneidade de cidadãos, para se contrapor a isso, a autora
propõe um conceito de cidadania diferenciada como a melhor forma de perceber a inclusão e
participação de todos em plena cidadania.
Da desigualdade ao reconhecimento
Amartya Sen (2001, p. 201) realiza uma análise sobre a questão da desigualdade, em
que tal situação, segundo o autor, se elucida por meio de dois instrumentos: a primeira seria a
“diversidades dos seres humanos”, com cada um com suas características individuais e
particulares, e a segunda relaciona-se com a “pluralidade de ‘espaços’ relevantes”3, onde a
igualdade seria avaliada por meio das capacidades dos indivíduos.
Kymlicka (1995) argumenta, ainda, que para a agenda da cidadania seja eficaz e
inclusiva tanto dos grupos nacionais minoritários quanto dos imigrantes, precisa-se de uma
concepção mais multinacional de cidadania e de uma concepção mais multicultural do
multinacionalismo.
Anthony Appiah (1998) concorda com Charles Taylor de que grande parte da vida
social e política moderna se volta para questões de reconhecimento. Na tradição liberal, vê-se
o reconhecimento, em grande parte, como uma questão de reconhecer os indivíduos e o que
chama-se de suas identidades. Appiah (1998) também concorda com Taylor quando este
comenta sobre a noção da ética da autenticidade, nesse sentido, as pessoas têm o direito de
serem reconhecidas, publicamente, como elas realmente são, isto é, para alguém que se
declara autenticamente alguma coisa, lhe é exigindo que esconda esse fato ou que passe por
algo a qual esta pessoa não é.
No mundo atual, as reivindicações por justiça social parecem cada vez mais divididas
em dois tipos, a primeira, são as reivindicações redistributivas, que buscam uma distribuição
mais justa de recursos e de riqueza. Um segundo tipo de reivindicação de justiça social que é
a política do reconhecimento. As reivindicações redistributivas igualitárias forneceram o
argumento paradigmático para a maior parte da teorização sobre justiça social nos últimos 150
anos (FRASER, 2001).
Segundo Fraser (2001), o objetivo é fazer do mundo ser amigo da diferença, onde a
assimilação a normas culturais dominantes não torna mais a igualdade respeito. A autora dá
exemplos que incluem reivindicações para o reconhecimento das perspectivas de distintas
minorias étnicas, raciais e sexuais, bem como da diferença de gênero. Ainda segundo Fraser
(2001), recentemente, esse tipo de reivindicação atraiu o interesse de filósofos políticos,
alguns dos quais estão buscando desenvolver um novo paradigma de justiça que coloque o
reconhecimento no centro.
O discurso da justiça social, antes centrado na distribuição, está agora cada vez mais
dividido entre reivindicações por redistribuição, por um lado, e reivindicações por
reconhecimento, por outro (FRASER, 2001).
Considerações finais
Referências Bibliográficas
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São
Paulo: Ed. 34, 2003.
YOUNG, Iris Marion. Polity and Group Difference: A Critique of the Ideal of Universal
Citizenship Ethics, vol. 99, n. 2, p. 250-274, 1889. Disponível em:
<https://homepage.univie.ac.at/herbert.preiss/files/Young_Polity_and_Group_Difference_A_
Critique_of_the_Ideal_of_Universal_Citizenship.pdf>. Acessado em: 5 ago 2018.