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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: DIREITOS, DESIGUALDADE E RECONHECIMENTO

DO DIREITO À IGUALDADE AO DIREITO À DIFERENÇA

Wellington Ferreira Gomes1

Introdução

A afirmação progressiva dos direitos humanos é efetivamente marcada por uma série
de passos: a constitucionalização dos direitos, a extensão dos direitos e a universalização
desses direitos, conforme se observa na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim,
o processo de especificação dos direitos define de forma explícita em relação a demandas
específicas de proteção dos direitos da mulher, da criança, do idoso, do doente, do deficiente e
de outras minorias.

Enquanto que a noção de cidadania destina-se a um status legal e a uma identidade.


Assim, há duas dimensões de cidadania: uma que trata dos direitos e obrigações específicos
que um Estado investe em seus membros; e outra dimensão que remete a um sentimento de
pertencimento. Contudo, a cidadania em si não garante a existência de direitos plenos, em
face de que membros de grupos que se sentem alienados de seu Estado, em função de
desvantagem, seja social, econômica ou outra desvantagem, bem como discriminados de
qualquer situação, de raça, de gênero, de cor, além de outras, não podem ser pensados como
cidadãos plenos, embora desfrutem de uma série de direitos formais.

1 Mestrando em Ciências Sociais.


Este trabalho tem por objetivo verificar as diferentes abordagens teóricas sobre a
questão dos direitos fundamentais do homem, na perspectiva da teoria crítica, por meio da
análise de três vertentes de pensamento: o direito, a desigualdade e o reconhecimento; de
autores que contribuíram para o estudo da formação e consolidação dos direitos humanos.
Para isso, este autor se valeu da bibliografia referida do curso de Direitos, Desigualdades e
Teoria do Reconhecimento, da professora Ângela Randolpho Paiva, da PUC-Rio, bem como
de algumas poucas obras que complementam a temática.

Direitos humanos e cidadania

Segundo Lafer (1988), o valor da pessoa humana como fonte de alimentação da vida
em sociedade depara com a sua expressão jurídica nos direitos humanos que foram, a partir do
iluminismo do século XVIII, o fundamento último da ordem jurídica formulado pela tradição
do jusnaturalismo moderno e positivados em declarações constitucionais dos Estados-nações.

Ainda segundo Lafer (1988), os direitos humanos observado pelo “Direito Positivo” –
este significando um conjunto de princípios e normas que conduz à vida social de
determinada cultura em uma época determinada –, foi se transformando do século XVIII até
os dias atuais.

Nesse contexto, o autor (1988) relata que a primeira geração dos direitos humanos
processou-se, historicamente, dos direitos civis e políticos de garantias individuais, a fim de
tutelar a diferenciação entre o Estado e o não-Estado, fundamentada no contratualismo de
inspiração individualista, para os direitos da segunda geração que são os direitos
sócio-econômicos e culturais gerados para o estabelecimento da confiança nos indivíduos, isto
é, a emancipação do poder econômico dos indivíduos do domínio e da autoridade do poder
político.

Sobre o individualismo, Lafer (1988, p. 120) realiza o seguinte comentário:

É neste contexto que importa realçar outra dimensão importante da tradição que
ensejou o tema dos direitos humanos, a saber, o individualismo na sua acepção mais
ampla, ou seja, todas as tendências que vêem no indivíduo, na sua subjetividade, o
dado fundamental da realidade. O individualismo é parte integrante da lógica da
modernidade, que concebe a liberdade como a faculdade de autodeterminação de
todo ser humano.
Tal processo de asserção histórica de ambas as gerações de direitos humanos, que são
nada menos que direitos individuais, foi inspirado no legado universal do liberalismo e do
socialismo. Dito de outro modo, foi no embalo das Revoluções Americana e Francesa2,
consagrando o direito popular de titularidade coletiva ou o princípio da nacionalidade, que
substituiu o princípio das dinastias dos antigos regimes para o reconhecimento da
legitimidade da soberania (LAFER, 1988; BOBBIO, 2004).

No entanto, na passagem de uma titularidade individual para uma coletiva, a qual


caracteriza os direitos de terceira e quarta geração, podem surgir dilemas na relação entre o
indivíduo e a coletividade que intensificam a contradição. Estes dilemas provêm da
multiplicidade de grupos que podem colocar-se uns sobre os outros, podendo trazer uma
difusa e potencial imprecisão de titularidade coletiva, em face disso, deve-se pensar nas
mulheres, nos trabalhadores, nas minorias étnicas, religiosas e sexuais (LAFER, 1988).

Nesse sentido, Young (1989) comenta que o ideal de cidadania universal impulsionou
o ímpeto emancipatório da vida política moderna. No momento em que a burguesia desafiou
os privilégios aristocráticos, alegando a igualdade dos direitos políticos para os cidadãos tais
como, as mulheres, os trabalhadores, os negros, dentre outros, pressionaram pela inclusão na
posição de cidadania.

O pensamento político moderno pressupõe que a universalização da cidadania, no


sentido de cidadania para todos, implica que a posição de cidadão situa-se além da
particularidade e da diferença. Quaisquer que sejam as diferenças sociais ou de grupo entre os
cidadãos, quaisquer que sejam suas desigualdades de riqueza, status e poder nas atividades
cotidianas da sociedade civil, a universalidade da cidadania confere a todos a mesma igualdade
que os seus pares do público político (YOUNG, 1989).

No entanto, os direitos humanos enquanto conquista histórica e política estavam


vinculados à solução de problemas de convivência coletiva dentro de uma comunidade
política, isto é, no âmbito dos Estados. Contudo, “a plena expulsão da trindade
Estado-Povo-Território, que juridicamente exprime-se pela apatridia, tem entre as suas causas,
[...], a existência de minorias e o surgimento de refugiados” (LAFER, 1988, p. 156).

2
Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional, considerando o desprezo dos
direitos do homem e do cidadão são as causas únicas da infelicidade pública e da corrupção dos governos,
resolvem expor a declaração dos direitos naturais e positivos do homem, a fim de que esta declaração, presente a
todos os membros do corpo social, lhes lembre seus direitos e deveres, a fim de que as reclamações dos cidadãos
se destinem à manutenção da constituição e à felicidade de todos.
De acordo com Lafer (1988), no que se refere às minorias, ou grupos numericamente
inferiores ao resto da população de um Estado, se encontram numa posição não-dominante
num país hospedeiro que possuem características étnicas, religiosas ou linguísticas, distintas
do resto das minorias, e que estas desejam preservar a sua cultura, as suas tradições, a sua
religião e a sua língua.

Segundo a Young (1989), nos séculos XIX e XX, muitos entre os excluídos e
desfavorecidos achavam que ganhar o status de cidadania plena, isto é, direitos políticos e
civis iguais, levaria à sua liberdade e a igualdade. Entretanto, no final do século XX, quando
os direitos de cidadania foram politicamente estendidos aos demais grupos nas sociedades
capitalistas liberais, alguns grupos ainda não eram considerados como cidadãos plenos, mas
sim de segunda classe.

Ainda segundo Young (1989), a ideia de cidadania como expressão de uma vontade
geral tendeu a impor uma homogeneidade de cidadãos, para se contrapor a isso, a autora
propõe um conceito de cidadania diferenciada como a melhor forma de perceber a inclusão e
participação de todos em plena cidadania.

Nesse contexto, Young (1989) defende, em primeiro lugar, que a inclusão e a


participação de todos na discussão e tomada de decisões públicas requer mecanismos para a
representação do grupo e, em segundo lugar, em face da existência das diferenças de
capacidades, cultura, valores e estilos comportamentais entre os grupos, às vezes se faz
necessária a articulação de direitos especiais que atendam às diferenças de grupo, a fim de
restringir a opressão e a desvantagem de grupos dominantes.

Verifica-se, assim, que em muitas democracias ocidentais da atualidade, há apelos


para fortalecer um tipo de cidadania comum como forma de construir a coesão social em
sociedades cada vez mais diversificadas. Desta forma, a cidadania deve ser promovida
fortalecendo a educação, oferecendo aulas de cidadania aos imigrantes, impondo testes de
cidadania para a naturalização e realizando cerimônias de cidadania (KYMLICKA, 1995).

Da desigualdade ao reconhecimento

Amartya Sen (2001, p. 201) realiza uma análise sobre a questão da desigualdade, em
que tal situação, segundo o autor, se elucida por meio de dois instrumentos: a primeira seria a
“diversidades dos seres humanos”, com cada um com suas características individuais e
particulares, e a segunda relaciona-se com a “pluralidade de ‘espaços’ relevantes”3, onde a
igualdade seria avaliada por meio das capacidades dos indivíduos.

Ainda segundo Sen (2001), as capacidades relaciona-se às possibilidades de escolha,


ou dito de outro modo, são as liberdades para realização de algo ou que o autor denomina de
funcionamentos. Estes estão refere-se com o acesso aos meios ou aos recursos. Contudo, para
a utilização destes meios ou recursos e, da transformação desses recursos em bem estar, as
capacidades e os talentos individuais são altamente considerados.

Kymlicka (1995, p. 11) argumenta que, no contexto dos Estados multinacionais e


Estados poliétnicos (“multination States and polyethnic States”), tais como, o Canadá e a
Austrália, isto é, que não existem apenas uma única nação, mas diversas culturas menores que
formam minorias nacionais, deve-se promover uma concepção multinacional de cidadania,
para que sejam justas e eficazes, e adaptar modelos de cidadania multinacional para incluir
mais os imigrantes.

Kymlicka (1995) argumenta, ainda, que para a agenda da cidadania seja eficaz e
inclusiva tanto dos grupos nacionais minoritários quanto dos imigrantes, precisa-se de uma
concepção mais multinacional de cidadania e de uma concepção mais multicultural do
multinacionalismo.

Nesse contexto, adentra-se o conceito de políticas de reconhecimento,


particularmente o multiculturalismo, que segundo Taylor(1998), há algumas vertentes na
política contemporânea que se volta para a necessidade e até uma demanda para o
reconhecimento. A necessidade, segundo o autor, é uma das forças motrizes por trás dos
movimentos nacionalistas na política da atualidade e a demanda vem à tona de várias formas
em nome de grupos minoritários – como, por exemplos, as feministas, os negros e os índios –,
e no que hoje é chamado de política do multiculturalismo.

De acordo com Taylor (1998), a demanda por reconhecimento é em face da urgência


pelas supostas ligações entre o reconhecimento e a identidade, onde o termo identidade
designa algo como o entendimento de uma pessoa de como se vê e de suas características
definidoras como um ser humano.

A tese de Charles Taylor é que a nossa identidade é parcialmente moldada pela


presença ou ausência de reconhecimento, muitas vezes pelo não reconhecimento dos outros, e
3
Estes “espaços” podem ser rendas, riquezas, utilidades, liberdades, bens primários e capacidades.
assim uma pessoa ou grupo de pessoas pode sofrer danos reais, distorção real, se as pessoas
ou a sociedade ao seu redor refletirem para eles uma limitada, humilhante ou desprezível de si
mesmos. O não-reconhecimento ou o falso reconhecimento pode infligir danos, bem como
pode ser uma forma de opressão, aprisionando alguém em um modo falso, distorcido e
reduzido (TAYLOR, 1998).

Sobre o reconhecimento, Taylor (1998, p. 56) faz o seguinte comentário:

A importância do reconhecimento é, agora, universalmente admitida, de uma forma


ou de outra: no plano íntimo, estamos todos conscientes de como a identidade pode
ser formada ou deformada no decurso da nossa relação com os outros-importantes;
no plano social, temos uma política permanente de reconhecimento igualitário.
Ambos os pianos sofreram a influencia do ideal de autenticidade, à medida que este
foi amadurecendo, e o reconhecimento joga um papel essencial na cultura que surgiu
à volta desse ideal.

Anthony Appiah (1998) concorda com Charles Taylor de que grande parte da vida
social e política moderna se volta para questões de reconhecimento. Na tradição liberal, vê-se
o reconhecimento, em grande parte, como uma questão de reconhecer os indivíduos e o que
chama-se de suas identidades. Appiah (1998) também concorda com Taylor quando este
comenta sobre a noção da ética da autenticidade, nesse sentido, as pessoas têm o direito de
serem reconhecidas, publicamente, como elas realmente são, isto é, para alguém que se
declara autenticamente alguma coisa, lhe é exigindo que esconda esse fato ou que passe por
algo a qual esta pessoa não é.

As identidades cujo reconhecimento Taylor discute são, em grande parte, o que


pode-se chamar de identidades sociais coletivas, tais como religião, gênero, etnia, raça e
sexualidade, onde tais identidades coletivas importam para seus apoiadores e para os outros
de maneiras muito diferentes. A religião, por exemplo, ao contrário de todas as outras, implica
em credo ou compromisso com as práticas religiosas. Outras identidades como gênero e
sexualidade, ao contrário do resto, são ambos baseados no corpo sexual e experimentados
diferentemente em diferentes lugares e épocas (APPIAH, 1998).

No mundo atual, as reivindicações por justiça social parecem cada vez mais divididas
em dois tipos, a primeira, são as reivindicações redistributivas, que buscam uma distribuição
mais justa de recursos e de riqueza. Um segundo tipo de reivindicação de justiça social que é
a política do reconhecimento. As reivindicações redistributivas igualitárias forneceram o
argumento paradigmático para a maior parte da teorização sobre justiça social nos últimos 150
anos (FRASER, 2001).

Segundo Fraser (2001), o objetivo é fazer do mundo ser amigo da diferença, onde a
assimilação a normas culturais dominantes não torna mais a igualdade respeito. A autora dá
exemplos que incluem reivindicações para o reconhecimento das perspectivas de distintas
minorias étnicas, raciais e sexuais, bem como da diferença de gênero. Ainda segundo Fraser
(2001), recentemente, esse tipo de reivindicação atraiu o interesse de filósofos políticos,
alguns dos quais estão buscando desenvolver um novo paradigma de justiça que coloque o
reconhecimento no centro.

O discurso da justiça social, antes centrado na distribuição, está agora cada vez mais
dividido entre reivindicações por redistribuição, por um lado, e reivindicações por
reconhecimento, por outro (FRASER, 2001).

O fim do comunismo trouxe o aumento da ideologia do livre mercado e a ascensão da


política de identidade, tanto em suas formas fundamentalistas quanto progressistas, que de
acordo com Fraser (2001), todos esses desenvolvimentos conspiraram para descentrar, se não
para extinguir, as reivindicações por redistribuição igualitária.

Considerações finais

No pensamento político do século XVIII, a doutrina dos direitos do homem evoluiu


consideravelmente, apesar das limitações impostas. Muito embora o final desejado de uma
sociedade de liberdade e igualdade entre os homens não tenha sido alcançada na plenitude,
superou-se diversas fases as quais não se pode voltar atrás.

Em relação às etapas da vida humana, foram-se gradativamente diferenciando os


direitos da infância, da juventude, do homem adulto e da velhice, bem como entre os sexos.
Além disso, fez-se importar a exigência de reconhecer direitos especiais aos doentes, aos
deficientes, aos doentes mentais, conforme se verifica nos documentos aprovados pelos
organismos internacionais, tais como a Declaração dos Direitos da Criança, Declaração sobre
a Eliminação da Discriminação à Mulher, e a Declaração dos Direitos do Deficiente Mental.

Manifestou-se, também, nos últimos anos do século XX e no presente século XXI,


uma tendência que consiste na passagem gradual e cada vez mais intensa, para uma afirmação
dos sujeitos de direitos. Nesse sentido, com relação ao sujeito homem, encontrou-se uma
primeira especificação de cidadão, na concepção de que podia ser atribuído a igualdade entre
os homens, posteriormente, na contemporaneidade, busca-se o reconhecimento das diferenças
das distintas minorias sociais.

Referências Bibliográficas

APPIAH, Anthony. Identidade, Autenticidade, Sobrevivência: Sociedades Multiculturais e


Reprodução Social. In.: TAYLOR, Charles. (Org.). Multiculturalismo. Lisboa: Instituto Piaget,
1998. p. 165-179.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

FRASER, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na era


pós-socialista”. In: SOUZA, Jessé (Org.). Democracia hoje: novos desafios para a teoria
democrática contemporânea. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São
Paulo: Ed. 34, 2003.

KYMLICKA, W. Multicultural Citizenship: A Liberal Theory of Minority Rights. Oxford:


Clarendon Press, 1995.

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de


Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

SEN, Amartya. Desigualdade Reexaminada. Rio de Janeiro: Record, 2001, Cap 9, p.


201-227.

TAYLOR, Charles. A Política de Reconhecimento. In.: TAYLOR, Charles.


(Org.). Multiculturalismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. p. 45-94.

YOUNG, Iris Marion. Polity and Group Difference: A Critique of the Ideal of Universal
Citizenship Ethics, vol. 99, n. 2, p. 250-274, 1889. Disponível em:
<https://homepage.univie.ac.at/herbert.preiss/files/Young_Polity_and_Group_Difference_A_
Critique_of_the_Ideal_of_Universal_Citizenship.pdf>. Acessado em: 5 ago 2018.

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