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ÍNDICE

Introdução........................................................................1
Você pode empreender enquanto ainda
está na universidade....................................................... 2
Com a ONG Renovatio, jovem quer ajudar
brasileiros em situação de vulnerabilidade social........5
Para apoiar projetos estudantis de pesquisa,
ela criou o Cientista Beta............................................... 7
Esse jovem tem o sonho de desenvolver novas
(e melhores) lideranças públicas....................................9
Como um trio de estudantes criou um projeto
que desafia políticos a pensarem sobre educação.... 13
Esse gaúcho criou um negócio que já impacta
mais de 31 milhões de estudantes................................ 16
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INTRODUÇÃO
Acredite: você não é jovem demais para isso

As histórias compiladas neste Ebook vêm de cantos distintos, do campus de Harvard às


empresas juniores da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), passando pelo Ibmec, pelo Insper e pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRS).

O que as conecta é a vontade que seus protagonistas têm de fazer a diferença - e


eles não estão nem um pouco dispostos a esperar. Ao longo deste material você
vai conhecer jovens com urgência por colocar a mão na massa e fazer projetos
saírem do papel ainda na faculdade, mesmo que isso signifique um malabarismo de
responsabilidades acadêmicas e profissionais.

Ao conversar com cada um deles, aprendemos lições importantes. Noites e fins de


semana dedicados realmente podem resultar em grandes projetos, como o ProLíder,
um programa gratuito de formação de lideranças públicas em São Paulo que começou
a tomar forma quando Wellington Andrade ainda estudava Administração no Rio de
Janeiro, e o Me Salva!, uma plataforma de ensino que já impactou mais de 30 milhões de
brasileiros e é tocada por Miguel Andorffy, que estuda Engenharia.

E podem ser encaixados mesmo em jornadas muito intensas de estudo, caso de


Kawoana Vianna, estudante de Medicina e fundadora do Cientista Beta, que oferece
um programa gratuito de iniciação científica para estudantes, e de Ralf Toenjes, que
estudou Direito na USP e Economia no Insper e ainda achou tempo para tocar a
Renovatio, ONG que já distribuiu mais de 12 mil óculos de grau gratuitos pelo Brasil.

Afinal de contas, o conhecimento gerado na experiência universitária é grande demais


para ficar restrito aos muros da faculdade: é preciso levar esse impacto além. Em
Harvard, onde três brasileiros criaram o Mapa da Educação, projeto para repensar a
educação pública brasileira, eles contam o envolvimento em projetos e atividades
extracurriculares é mais do que esperado - é estimulado.

O objetivo principal deste Ebook é mostrar que ninguém é jovem demais para colocar
uma ideia em prática, desde que o faça com dedicação, motivação e de maneira
colaborativa – afinal, fica muito mais fácil construir algo grande ao lado de pessoas que
sonham grande também.

Boa leitura!

1
VOCÊ PODE EMPREENDER ENQUANTO
AINDA ESTÁ NA UNIVERSIDADE
Disciplinas teóricas, empresas juniores, pesquisa, laboratórios e incubadoras são possíveis
caminhos para entrar no mundo do empreendedorismo enquanto está na graduação

Quando um aluno é aprovado no vestibular “O Brasil como um todo entendeu que o


de uma universidade brasileira e tem acesso empreendedorismo é uma das principais alavancas
à grade curricular do seu curso, não é certo do seu desenvolvimento econômico e social.
que ele encontrará disciplinas ligadas ao As universidades, como centros de pesquisa e
empreendedorismo. Mas há outras formas de ter formação de talentos, seguem essa tendência,
contato com o tema durante o ensino superior. ainda que de maneira mais lenta, muitas vezes”, diz
João Melhado, que trabalha na área de pesquisa e
Segundo os especialistas, é preciso manter uma
políticas públicas da Endeavor.
interface entre as diversas possibilidades de
empreendedorismo na universidade, além da
“Do lado positivo, empresas juniores e disciplinas
difundir esse conhecimento para áreas como
saúde e ciências humanas. de empreendedorismo não são mais novidade.
Por outro lado, o ensino ainda está muito centrado
Segundo pesquisa realizada pela Endeavor em em cursos como Administração e Economia, nas
2014, em parceria com o Sebrae, dos quase cinco áreas de negócios, quando poderia ser totalmente
mil universitários entrevistados, 48,7% já fez alguma transversal, juntando na sala de aula alunos de todos
disciplina relacionada ao empreendedorismo. os cursos para resolver problemas da sociedade.
Além disso, a pesquisa acadêmica ainda é bastante
Os responsáveis pela pesquisa acreditam que as distante do mercado, e essa aproximação é
universidades têm aumentado seu interesse pelo essencial para as empresas inovarem mais.”
empreendedorismo nos últimos anos.

Presença universitária
Na USP, o Núcleo de Empreendedorismo da USP
(NEU) foi criado em 2012 pelos próprios alunos e é
quem organiza a oferta das 68 disciplinas ligadas
ao empreendedorismo.

“O Núcleo surgiu a partir do interesse de alunos


que queriam empreender. A aceitação da USP foi
saudável, ainda mais quando começamos a gerar
resultados expressivos com nossas ações, muito
embora não haja qualquer relação de dependência
ou interesses institucionais”, afirma o presidente do
NEU, Artur Vilas Boas.

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AINDA ESTÁ NA UNIVERSIDADE

Entre os resultados citados, destacam-se o As empresas juniores, os laboratórios e as


surgimento de startups famosas, como 99taxis, incubadoras de empresas também são caminhos
Nubank, Kekanto, iFood e Lean Survey. possíveis.

Já a UFMG possui um Núcleo de Inovação O presidente do NEU, que pesquisa o tema,


Tecnológica que é responsável pela Gestão da destaca a necessidade de diálogo entre os
Inovação na Universidade, a Coordenadoria de diversos espaços de empreendedorismo na
Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT). Dentro academia. “Podemos destacar três espaços
da CTIT, existe um setor responsável pelo fomento principais para o empreendedorismo nas
da cultura empreendedora entre os cursos. universidades: salas de aula, laboratórios e
incubadoras. As universidades devem oferecer
“Prezamos pela multidisciplinaridade nos nossos disciplinas que dialogam com laboratórios e
projetos, então procuramos divulgá-los igualmente projetos de pesquisa relacionados às incubadoras,
em todos os cursos. As empresas juniores, por por exemplo. É preciso fomentar a oferta de
exemplo, estão presentes em muitos cursos disciplinas, mas, mais que isso, fomentar as
da UFMG e trabalham o perfil empreendedor interfaces do ecossistema de empreendedorismo”,
através de uma formação diferenciada do aluno, explica Artur Vilas Boas.
com experiências complementares àquelas
oferecidas pelas disciplinas dos cursos”, revela Segundo ele, as pesquisas relacionadas ao
Gabriela Metzker, coordenadora do setor de empreendedorismo deveriam ser mais incentivadas.
empreendedorismo da CTIT.
“Os principais ecossistemas de
Segundo o professor André Leme Fleury, que empreendedorismo do mundo apresentam ligação
leciona disciplinas ligadas ao empreendedorismo direta com universidades de ponta. Capital
nos cursos de Engenharia de Produção e Design humano de alto nível é o que gera negócios de
na USP, a graduação é o momento ideal para alto nível. Ninguém melhor que a universidade para
trabalhar o tema com os jovens. desempenhar papel fundamental nesse sentido. O
ambiente acadêmico e de pesquisa é o ambiente
“O empreendedorismo viabiliza ao aluno onde se chega à fronteira do conhecimento,
experimentação, reflexão e compreensão do sendo assim mais provável se chegar à fronteira da
processo de desenvolvimento de inovações em inovação”, afirma o pesquisador.
produtos, serviços e negócios. Na universidade
o aluno tem a possibilidade de vivenciar estas Dificuldade de difusão
experiências de maneira lúdica e gradual, Se o empreendedorismo faz parte da rotina de
definindo de acordo com suas potencialidades alunos dos cursos de Administração, Economia,
o quanto deseja se aprofundar ou não no Computação e Engenharia, não se pode dizer o
desenvolvimento deste tipo de inovação. Após a mesmo das áreas de saúde e ciências humanas.
universidade essa experimentação se torna mais
difícil”, pondera o professor. Segundo a pesquisa da Endeavor, no curso de
Administração, 65% dos entrevistados já cursaram
Outras possibilidades Além das disciplinas alguma disciplina, enquanto na área de ciências da
teóricas, os alunos podem entrar em contato com o saúde, foram apenas 27,7%.
empreendedorismo de outras maneiras na graduação.

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AINDA ESTÁ NA UNIVERSIDADE

A pesquisa mostra ainda que um grande número


de estudantes não fizeram disciplina nessa área
pelo simples fato do curso não oferecer nenhuma:
32,4% dos universitários de Ciências Humanas
demonstram interesse pelo tema, mas não
encontram oferta.

“Considero este um dos principais desafios


atualmente. Apesar do empreendedorismo estar
se difundindo rapidamente entre cursos como
Engenharia, Computação e Administração, os cursos
de humanas ainda apresentam poucas iniciativas
relacionadas. Acredito que esta difusão deve
ocorrer nos próximos anos, conforme novas formas
de empreendedorismo sejam criadas e difundidas”,
ressalta o professor André Leme Fleury.

Quem já passou por esses cursos com menos


tradição empreendedora encontra dificuldades na
hora de montar seu próprio negócio.

É o caso do empresário Calebe Asafe, que


graduou-se em publicidade na UFMG e em design
gráfico na UEMG. Atualmente ele é diretor de
criação da Calebe Design e sócio-fundador do
Prosas, uma plataforma que incentiva iniciativas na
área social.

“Quando você vai empreender de fato, o buraco


é muito mais embaixo. Você não precisa só de
conhecimento de empreendedorismo, mas
principalmente de gestão. Acredito que mais
proximidade com o mercado é fundamental. Os
alunos precisam conhecer alguns modelos de
negócio dentro do campo que estão estudando.
Precisam ter a noção de como o mercado
funciona e quais dificuldades vão encontrar se
quiserem abrir seu próprio negócio. Também
precisam entender melhor o que é valor, como
gerá-lo e como cobrar por ele”, exemplifica o
empreendedor.

4
COM A ONG RENOVATIO, JOVEM QUER
AJUDAR BRASILEIROS EM SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL
A ONG toca projetos como o VerBem, que distribui óculos produzidos por pessoas em
situação de risco para quem precisa; “Se o que fazemos faz sentido e tem impacto, não tem
porque não fazer”, diz Ralf Toenjes

A missão parece enorme – atacar a vulnerabilidade Criada em parceria com os estudantes Fabio
social brasileira em geral –, mas pragmatismo é Rodas Blanco, Bruna Vaz e Eduardo Bastos Borim,
um dos traços mais marcantes de Ralf Toenjes. hoje tem três pessoas em tempo integral na
“Reinserir alguém na sociedade demora e a pessoa equipe (incluindo Ralf) e cerca de 15 voluntários.
precisa viver dignamente, ter uma renda”, diz. “Mas
não conseguiríamos empregar o Brasil inteiro.” A missão do Projeto VerBem, por enquanto o
único da Renvatio já fora do papel, é produzir
O jeito foi cofundar a ONG Renovatio em 2013, que óculos de grau de baixo custo, distribuí-los
ele define como uma plataforma de modelos de gratuitamente para quem precisa e ajudar quem
projetos sociais que tenham impacto social e que confecciona os pares no processo, como
sejam escaláveis a nível nacional. moradores de rua, jovens de comunidades
carentes e refugiados. As peças custam entre 25
A organização nasceu no Insper, em São Paulo e 30 reais e são fabricadas em partes pela ONG
– onde, na época, Ralf estudava Economia e alemã OneDollarGlasses, que tem a Renovatio
Administração – e estabeleceu sua credibilidade como representante brasileira.
com a primeira iniciativa, o Projeto VerBem.

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Voltar para o índice COM A ONG RENOVATIO, JOVEM QUER AJUDAR
BRASILEIROS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL

São seis funcionários, que produzem 140 pares


Como começou
de óculos por mês. Após passar por um processo
Ralf e Fabio conheceram o OneDollarGlasses no
seletivo que inclui testes, entrevistas e orientação
final de 2013, na edição mundial de premiação
vocacional, os selecionados criam em conjunto
promovida pela Enactus, organização social da
com os integrantes da ONG uma trilha de
qual Ralf já fazia parte. Ficaram impressionado
desenvolvimento individual.
com os números que a ONG apresentou – 150
milhões de pessoas pelo mundo têm sérios
“A pessoa trabalha no projeto, que gera renda
problemas de visão e não têm meios para pagar
para ela, causa impacto, estuda à noite e participa
um óculos – e com a criatividade da solução que
dos projetos educacionais aos sábados”, explica
propunham, que envolve arame sueco, plástico
o jovem. Visitas a museus e universidades fazem
francês e lente chinesa. Para agilizar o processo
parte do roteiro. “A ideia é tirá-la do ambiente em
de entrega, lentes com os mais variados graus de
que ela está, seja um albergue, uma comunidade
miopia acompanham as armações e podem ser
ou um abrigo para moradores de rua, e mostrar
encaixadas na hora. No caso de astigmatismo, são
que existem coisas diferentes.”
enviadas depois do diagnóstico.

A rotina é puxada. Olhando sua agenda, Ralf


Ainda sem o projeto definitivo para começar a
não vê nenhum fim de semana livre até junho. Há
Renovatio no Brasil mas interessados nessa causa,
pelo menos um mutirão por semana, quando um
a dupla foi pesquisar a situação visual brasileira.
ônibus especial – convertido em dois escritórios
Descobriram que comprometimento visual é uma
móveis e com oftalmologistas a postos – passa
das maiores razões para evasão escolar no país e
o dia estacionado em áreas carentes oferecendo
que 79% dos municípios não têm oftalmologista
exames e pares de óculos gratuitos.
disponível pelo SUS.

A ideia de conceder um item de necessidade tão


Assim, resolveram investir na ideia. Arrecadaram 45
simples acaba conquistando. Mesmo o motorista
mil reais em um crowdfunding e tiveram o Bank of
do veículo ofereceu uma diária mais barata a Ralf
America como primeiro patrocinador e começaram
ao se lembrar da própria infância, quando ganhou
a produzir em maio de 2014.
um óculos do chefe da mãe.

Hoje, contabilizam mais de 12 000 óculos


E o próprio ônibus, patrocinado por uma
distribuídos em doze estados brasileiros – tudo
empresa, custou bem menos que o preço de
confeccionado por pessoas em situação de
mercado, em parte graças às habilidades de
vulnerabilidade social, fechando assim o ciclo
barganha que Ralf vem desenvolvendo. “Aqui a
virtuoso que queriam.
gente brinca que é tudo preço ONG, preço de
custo ou preço pro bono”, ri.
Se depender de Ralf, no entanto, ainda há muito
chão: ele quer chegar os 40 milhões de pares.
Desafios
A ideia de empreender sempre esteve na cabeça
Mutirões
dele, que é bolsista da Fundação Estudar e
Atualmente há duas unidades de produção em
veio do Rio de Janeiro para estudar Direito na
São Paulo, uma no Instituto da Visão e outra na
Universidade de São Paulo.
comunidade Vila Nova Esperança.

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PARA APOIAR PROJETOS ESTUDANTIS DE
PESQUISA, ELA CRIOU O CIENTISTA BETA
A estudante de Medicina Kawoana Vianna quer engajar um número cada vez maior
de jovens com as ciências através de sua iniciativa, que conta com um programa de
iniciação científica gratuito

Quando o Cientista Beta foi fundado, Kawoana “Nosso objetivo é mostrar que, independente
Vianna já tinha uma experiência informal como da idade ou do contexto em que está inserido,
mentora. Desde o ensino médio, em Novo o jovem pode desenvolver algo pelo qual tenha
Hamburgo (RS), já era considerada referência entre interesse e que pode impactar o mundo de alguma
os colegas – admiração que só aumentou com sua forma”, resume.
premiação na maior feira de ciências do mundo, a
Intel ISEF, em 2011. Engajar jovens pela ciência também é visto como
uma maneira de contribuir para uma sociedade
“Cansei de ler relatórios, pôsteres e planos de melhor. “Quero que quem se engaje no Cientista
pesquisa”, lembra ela, que era chamada para se Beta saia um profissional e cidadão melhor do que
apresentar em escolas e eventos. “Fazia tudo isso quando entrou”, diz ela.
com muito gosto e gratidão, mas parecia que eu
deveria encontrar uma forma mais direta.” Um deles é Giovani Novelli, estudante de Economia
na Universidade Federal do ABC (UFABC) e líder
A iniciativa resultante, que completou dois anos de projetos da entidade.
em maio de 2017, tem como missão aproximar os
jovens da ciência e mostrar que eles são capazes “Descobri o Cientista Beta através do movimento
de desenvolver projetos científicos. CHOICE e da Fundação Estudar, onde conheci
a Kawoana”, lembra ele, que participou do
Laboratório, programa de liderança oferecido
pela Estudar. “O mais engraçado é a noção de
dono que a equipe criou: todos do time têm
o protagonismo de tornar o negócio seu e a
autonomia de criar dentro da sua área.”

7
Voltar para o índice PARA APOIAR PROJETOS ESTUDANTIS DE
PESQUISA, ELA CRIOU O CIENTISTA BETA

O objetivo da iniciativa é duplo: inspirar e


capacitar. Para cumprir a primeira parte, o site traz
conteúdo semanal sobre ciências e colunas com
histórias inspiradoras de jovens pesquisadores
brasileiros. O alcance é grande: um deles,
Adymailson Santos, chegou a ser reconhecido na
cidade graças ao texto publicado.

“É incrível como tantas horas de dedicação são


recompensadas com um único comentário de um
estudante que nos diz o quanto nosso trabalho faz
a diferença na vida dele”, diz Kawoana.

Mentoria
Em 2017, para a segunda edição do Decola
Beta, foram selecionados cerca de cem jovens
cientistas e 50 projetos, o dobro dos números do
ano passado.

“Vamos alocar o tema de pesquisa dos mentorados


com a macroárea de conhecimento dos mentores
e assim gerar um choque muito positivo de idéias
e iniciativas”, explica Giovani. “Vamos começar
pequeno, andar ‘rápido’ e sonhar sempre muito,
muito grande.”

A resposta até agora tem sido muito positiva. “O que


mais escutamos é: ‘Como eu posso contribuir?’”, diz
Kawoana. “Nosso desafio agora é entender como
encaixar toda essa gente boa no nosso trabalho
para que a gente consiga fazer algo grandioso.”

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ESSE JOVEM TEM O SONHO DE DESENVOLVER
NOVAS (E MELHORES) LIDERANÇAS PÚBLICAS
Com o ProLíder, Wellington Trindade, membro da rede de líderes da Fundação Estudar, quer
preparar jovens brasileiros para assumir os desafios da gestão pública

A agenda de Wellington Trindade é cheia. Diz que o senso de legado e vontade de retribuir,
Com pouco mais de 20 anos, ele se formou por exemplo, vêm dos tempos em que vendia
recentemente no Ibmec, no Rio de Janeiro, onde picolé no Batalhão da Polícia Militar, dos 12 aos 15
cursou Administração de Empresas, e mesmo com anos – a vontade de trabalhar e ganhar o próprio
uma vida compromissada, ainda encontrava tempo dinheiro já existia desde a infância. “Tinha um
para cuidar de seus projetos. combinado com o comandante-geral de mostrar
meu boletim todo final de semestre”, lembra ele,
O principal deles é o Programa ProLíder, curso sobre a condição para ser autorizado a fazer suas
gratuito que começou em maio de 2016 com o vendas por lá. “Até hoje mantemos contato.”
objetivo dar boas bases para futuras lideranças
públicas no Brasil. Hoje, o programa faz parte do Na época, Wellington cogitava entrar na força
Instituto Four, iniciativa também de Wellington e militar e quem sabe se tornar Secretário de
que pretende abarcar também outros projetos, e Segurança do Rio de Janeiro. Mudou de ideia
está em sua segunda edição. sobre o trajeto, mas não sobre a vontade de
impactar a sociedade.
Wellington faz parte da Líderes Estudar, uma
rede de jovens talentos apoiados pela Fundação Hoje cogita a carreira política, entre outras áreas,
Estudar, e explica que seus valores foram e fala abertamente sobre o sonho de um dia ser
moldados ao longo de suas vivências. presidente do Brasil. Antes, insiste em construir
uma carreira sólida, estudar fora e adquirir
independência financeira.

Ainda no ensino médio, ele teve outra vivência


intensiva na realidade da gestão pública quando
ganhou bolsa para estudar na Escola Parque, na
Gávea, área nobre do Rio de Janeiro.

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NOVAS (E MELHORES) LIDERANÇAS PÚBLICAS

O background jurídico complementa o diploma “Brincamos que já erramos muito e acertamos


duplo em Economia e Administração, que obteve muito também: foram horas de conversa,
no Insper em 2015. “O que me motiva sempre foi o ajustando modelos e dando feedback, e fomos
desafio”, diz ele aos 24 anos. aprendendo”, fala sobre o começo. Ele vê
empreender com sucesso, no entanto, mais como
Entender os meandros de fazer um negócio social uma questão de dedicação. “É preciso ter energia,
no país, explica, é um aprendizado contínuo. A inteligência, expertise e muito foco, mas não tem
falta de uma legislação específica para esse tipo mistério.”
de empreitada é um obstáculo na hora de trazer
para produtos, por exemplo, e às vezes na mesa Motivação
de reuniões. A Renovatio também aposta em estreitar as
relações governamentais para chegar em rincões
“Tudo é um desafio, na verdade: trazer tecnologia cada vez mais distantes. “Agora podemos
de fora, uma legislação ótica que é da década nos sentar com o governo, porque estamos
de 1930, conseguir certificações”, diz. “E sempre estabelecidos e conseguimos mostrar que o
tem a desconfiança em relação à uma ONG com modelo funciona mesmo”, diz. “Se o que fazemos
produtos, um negócio social com lucro revertido, faz sentido, tem impacto e é motivador, não tem
porque o Brasil ainda não tem essa cultura nem porque não fazer.”
essa legislação.”
Razões para dormir pouco e não ter férias não faltam.
O modelo de negócio atual é composto por Da jovem que sonha em ser médica e era a melhor
doações empresariais e individuais e pela venda aluna da escola mesmo com 8 graus de miopia – ela
tanto de óculos para o consumidor de alta renda e copiava a lousa de pertinho, no intervalo – à senhora
quanto de pacotes para empresas que compram o que perdeu o medo de sair de casa porque agora
serviço de doação e produção dos pares. enxerga os buracos na rua, a equipe traz novas
histórias inspiradoras de cada mutirão.
As companhias ganham incentivos fiscais no
processo e, quando os mutirões ocorrem dentro Ralf se empolga com uma delas em particular. Às
delas, ganham também em produtividade: o Vision margens de um rio no Pará, lembra, um senhor
Impact Institute estima que a produtividade de colocou os óculos e começou a chorar. “Ele dizia:
um trabalhador pode aumentar 20% quando um ’Eu não preciso mais subir, eu não preciso mais
problema de visão é tratado. subir’. Era um coletor de açaí e precisava escalar
os dez metros da árvore para ver se o fruto estava
Gestão bom”, conta. “E é só um óculos, sabe?”
Sem contar estágios em escritórios de advocacia,
a Renovatio é o primeiro emprego de Ralf, que
está aprendendo a ser funcionário e dono do
negócio ao mesmo tempo e na prática – e ainda
descobriu que precisa de óculos sem querer, ao
ser examinado em um mutirão.

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NOVAS (E MELHORES) LIDERANÇAS PÚBLICAS

Foi convidado por uma professora a passar as Em palestra que dividiu com o Nizan Guanaes, ouviu o
noites em uma escola pública da região para evitar empreendedor falar sobre quem tem as ferramentas
o (longo) trajeto diário até São Gonçalo, onde nas mãos e muitas vezes não faz acontecer.
morava. Para retribuir, Wellington se oferecia como
monitor voluntário e ajudava na limpeza do local. Diante dessa provocação, a ideia veio literalmente
da noite pro dia: na manhã seguinte, o projeto,
Estudando com bolsa em uma escola de primeira linha, que é gratuito, já estava formado na cabeça do
ficou indignado com os contrastes entre o ensino estudante. “É um programa de discussão do
público e particular. “Quando faltava algum professor cenário brasileiro através de aulas e discussões
– e sempre faltava! –, eu entrava para dar monitoria. sobre as grandes áreas públicas”, resume.
Houve dias que entrei de segunda à sexta”, lembra.
A intenção é desenvolver futuras lideranças para
A rotina já era puxada: Wellington estudava das 7h solucionar os desafios do país, ele explica. Embora
às 17h e acompanhava os alunos das 17h às 22h. o foco esteja nos desafios da esfera pública – que
Mas a generosidade é natural. “Dentro das minhas se colocam mais urgentes para o avanço do país
condições e habilidades, me sinto no dever de – os participantes não precisam, necessariamente,
retribuir”, explica ele, que também já tinha feito estar interessados em trabalhar no setor público.
parte do grêmio estudantil, foi representante de
turma e fez parte do diretório acadêmico no Ibmec. Ao longo de cerca de dezoito encontros, sempre
aos sábados e em São Paulo, um grupo de jovens
O curso de liderança ProLíder com idades entre 18 e 34 anos tem aulas temáticas
O Programa ProLíder foi criado junto com colegas, sobre educação, economia, ética, ciência política
todos estudantes universitários de diferentes e segurança, entre outros, aprendendo diretamente
cursos e faculdades, como Ibmec, FGV, PUC e com nomes que são referência nessas áras.
UFMG, e que atuam como voluntários.
Além de participar de leituras e debates, é
Desses, três tiveram papel fundamental na concepção preciso entregar um projeto final para uma banca
do ProLíder, fruto de conversas que vinham desde julgadora. Para quem é de fora de São Paulo, é
a época do colégio sobre o protagonismo da possível conseguir uma bolsa para auxiliar com as
juventude nas transformações do país: os colegas de despesas de transporte.
sala Everson Alcântara, Jonatas Lessa e Pedro Magessi.
Conexão
Ainda assim, Wellington faz questão que o texto Wellington entrou em contato com profissionais
mencione as outras pessoas que, hoje, fazem o da área, incluindo atuais e antigos funcionários
projeto acontecer: Letícia Fernandes, Pedro Seixas, de governos, CEOs e executivos, para angariar
Barbara Romeiro, Wanderson Trindade, Isaac formadores e mentores, além de convidados
Carvalho e Geovanna Vieira. para paineis.

“Sempre pensamos em ajudar de alguma forma”,


A recepção tem sido positiva. Entre quem já
diz Wellington. A faísca veio em novembro de
confirmou presença está Fernando Schüler,
2015, quando fez pela segunda vez o Liderança
professor e ex-Secretário de Estado da Justiça
Na Prática 32h, programa de desenvolvimento
e do Desenvolvimento Social do Estado do Rio
de lideranças do Na Prática e que estimula os
Grande do Sul;
participantes a tirarem projetos do papel.

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NOVAS (E MELHORES) LIDERANÇAS PÚBLICAS

Marcos Vono, especialista em recursos humanos; O processo seletivo leva em conta competências
Renato Mazzola, sócio do BTG e ex-gestor do como capacidade de mobilização e cooperação,
Banco Mundial; Marcelo Barbará, CEO do RB além de qualidades como integridade, lealdade
Capital, entre outros. e ética. “Procuramos pessoas que voltarão para
ajudar o projeto de alguma forma.”
“Quando você mete a cara, as pessoas dão atenção
e as portas vão se abrindo”, diz Wellington. A troca livre de ideias é outro pilar do ProLíder,
que tem participantes das mais diversas vertentes
Para entender mais sobre os entraves da educação políticas e ideológicas. “Ninguém nunca vai te
no país, por exemplo, os participantes da última execrar por ter uma opinião diferente, e essa
edição tiveram a oportunidade de conversar com abertura sobe muito o nível do debate. Eu aprendi
Claudia Costin, entre vários outros convidados a aceitar muito mais visões diferentes sobre um
sobre esse mesmo tópico, que foi o mais mesmo assunto”, explica Melissa.
discutido. Ex-ministra do governo FHC, ela também
já foi diretora de educação no Banco Mundial, “Hoje eu sou uma pessoa completamente diferente
secretária municipal de educação do Rio de do que era quando entrei e grande parte disso
Janeiro e lecionou em Harvard. é porque ninguém estava ali para convencer os
outros da sua verdade, estavam ali para debater
O acesso a nomes de peso é, de fato, um dos e melhorar o seu conhecimento”, complementa o
diferenciais do programa, e os encontros são advogado César Lucca, que também participou da
sempre acompanhados de uma atividade mão primeira edição do programa, em 2016.
na massa. A proposta é expor os participantes a
dilemas e desafios práticos de diversas áreas da “Me dava um prazer imenso estar no sábado lá e ver
esfera pública. gente de alto nível tendo essas discussões práticas,
querendo resolver algo”, completa Melissa.
“A abordagem era sempre muito prática, de como
fazer as coisas realmente acontecerem”, explica Em um contexto em que dias de folga são cada
Melissa Benito, que tinha acabado de voltar de um vez mais raros, ter jovens dispostos a abrir mão
Mestrado em Políticas Públicas na Holanda quando de parte do final de semana para se dedicar aos
participou da primeira edição. grandes desafios que o país enfrenta, pode ser, de
fato, o que o Brasil realmente precisa.
“Falta a prática para os nossos líderes públicos,
por isso focamos em sempre fazer um debate que
é aplicável, não ficar só na teoria”, completa o
estudante de medicina Bruno Morato, que também
faz parte da rede de Líderes Estudar e hoje
trabalha na consultoria McKinsey.

Apartidário
Wellington faz questão de destacar: o caráter do
ProLíder é apartidário. “A intenção é desenvolver
futuras lideranças públicas”, fala.

12
COMO UM TRIO DE ESTUDANTES CRIOU
UM PROJETO QUE DESAFIA POLÍTICOS A
PENSAREM SOBRE EDUCAÇÃO
O Movimento Mapa Educação quer colocar o jovem no centro de debate sobre políticas
educacionais no Brasil; “Começar jovem é uma grande vantagem”, diz Ligia Stocche

O movimento Mapa Educação surgiu em idos de A paixão conjunta pela educação fez com que
2013, quando Renan Ferreirinha, Tábata Amaral e focassem seus esforços no setor desde o começo,
Lígia Stocche, todos integrantes da Líderes Estudar, procurando uma maneira de melhorar a qualidade
a rede de jovens de alto impacto da Fundação de ensino no Brasil e engajar a sociedade e
Estudar, estudavam juntos na Harvard University. principalmente os jovens, que o Mapa vê como
subrepresentados, no debate.
Impressionados com o número de possibilidades
e portas que se abriam para eles numa instituição E se a ideia inicial era criar um canal no YouTube,
daquele porte, queriam retribuir de alguma maneira. o que acabou surgindo foi um movimento amplo,
que une especialistas, professores, políticos,
“Sempre fomos jovens inquietos e, nos EUA, empreendedores e estudantes – tudo isso
tínhamos uma sensação de responsabilidade tocado por jovens que precisavam ler até mil
com o Brasil. O privilégio de estudar lá ficava páginas por semana em uma das instituições mais
cada vez mais evidente”, lembra Ligia, engenheira exigentes do mundo.
formada pela Universidade Federal de São Carlos
(UFSCAR) e que fez um intercâmbio de um ano na “Você sempre tem que começar já, se não cada
universidade americana. ano traz uma desculpa nova”, resume Tábata.

13
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UM PROJETO QUE DESAFIA POLÍTICOS A
PENSAREM SOBRE EDUCAÇÃO

Com o tempo, a lista cresceu através de


O começo do Mapa Educação
indicações dos próprios entrevistados e passou
Um dos benefícios de fazer parte da Líderes
a incluir empresários, integrantes de fundações,
Estudar é o acesso ao programa de mentoria. E
sindicalistas, secretários de educação e o ex-
o mentor de Tábata, o advogado Daniel Vargas,
presidente Fernando Henrique Cardoso.
membro da mesma rede, foi fundamental para que
a ideia saísse do papel.
No fim, foram mais de 100 entrevistas, que
mapeavam diferentes visões sobre a educação
Então aluno de mestrado em Harvard, o advogado,
brasileira. Surgia assim o Mapa do Buraco.
que hoje é professor da Escola de Direito da FGV-
Rio e chegou a ser ministro interino da Secretaria
Impacto nas eleições
de Assuntos Estratégicos da Presidência, estava
A princípio, o relatório serviria apenas para nortear as
preparando um encontro para discutir uma agenda
ações dos três. “Enviamos o documento para algumas
para a educação brasileira.
pessoas, agradecendo suas contribuições, e a reação
foi muito bacana. Elas diziam que isso não existia no
Sabendo do interesse dos três, Daniel os convidou
Brasil e que deveríamos publicá-lo”, fala Ligia.
para preparar um material de apoio, incluindo
estudos de casos de soluções inovadoras e
O manifesto foi publicado em 2014, listando os
histórias de sucesso. Após cumprirem a tarefa,
principais problemas da educação brasileira e
saíram do encontro ainda mais motivados para
soluções criadas país afora.
colaborar maneira relevante.

Ainda naquele ano, tornou-se base para um


Ouvindo Tábata, que então estudava Astrofísica
desafio durante as eleições, quando os candidatos
e tinha decidido trocar o foco para Ciências
à presidência foram convidados a falar sobre
Políticas, Daniel também deu um conselho. “Ele
os problemas da educação e desafiavam seus
disse que mais importante que ter uma ideia
oponentes a fazer o mesmo.
genial é ter um time genial, que vai lhe ajudar a
implementar aquela ideia e faze-la muito melhor.”
“Também organizamos o único debate do segundo
turno sobre educação, entre Maria Helena
Animada, ela convidou os dois amigos. Sem ter
Guimarães, indicada de Aécio, e José Henrique
certeza de como transformar sua vontade em
Paim, à época Ministro da Educação do governo
ação – pensaram por um tempo num canal de
Dilma”, orgulha-se Ligia.
YouTube –, decidiram que primeiro era preciso
entender o território.
Com vontade de engajar mais jovens e fortalecer
uma rede, os três organizaram, em 2015, a
“Pensamos que, antes de fazer o que achávamos
primeira conferência Mapa Educação, que
que era necessário, era preciso entender o quadro
reuniu especialistas, representantes políticos e
para de fato enxergar onde ficaria nossa maior
fundadores de uma centena de projetos com
contribuição”, explica Ligia, que voltou ao Brasil
grande potencial de impacto em Brasilia.
pouco depois.
“Vimos que eles saíram muito motivados e com
Dividiram conversas, pesquisas e leituras entre si e novos parceiros para seus projetos”, diz ela. (A
compilaram uma lista com 10 nomes interessantes. segunda edição da conferência, que acontecerá
em agosto de 2017, está sendo preparada.)

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Voltar para o índice COMO UM TRIO DE ESTUDANTES CRIOU
UM PROJETO QUE DESAFIA POLÍTICOS A
PENSAREM SOBRE EDUCAÇÃO

No ano seguinte, Renan trancou sua graduação E se nos EUA aproveitam o tempo livre entre uma
por um semestre para se dedicar ao movimento em aula e outra para trabalhar na organização, hoje
tempo integral, colocando-o em pauta durante as em dia estão sempre de olhos abertos para novas
eleições municipais brasileiras e lançando o Mapa ideias e contatos que passem por suas mesas.
nas Eleições, em que provocaram candidatos a se
pronunciar sobre o tema em São Paulo, Salvador e “Houve épocas super difíceis, em que achávamos
Rio de Janeiro. que íamos surtar. Mas é tudo uma questão de gerir
seu tempo e ver quão motivado você está”, diz Ligia,
“Houve pessoas que nos disseram que realmente lembrando-se da exigente jornada de estudos.
definiram seus votos a partir das respostas que os
candidatos deram sobre assuntos como escola Tábata, que se formou com honras em Harvard,
sem partido e salário de professores”, diz Ligia. concorda. “Acredito que você nunca está sem
tempo: ou não sabe se organizar, ou aquilo não
Nessa época, lançaram o Manifesto Voz do é uma prioridade. Continuo sem muito tempo
Jovem, em que mais de 12 mil jovens brasileiros no Brasil, mas consigo participar de palestras,
falaram sobre as necessidades e críticas sobre a congressos e fazer pitch para financiadores.”
educação que recebem, possibilitando insights
atualizados e direto da fonte. Para Ligia, a época universitária, com seu
calendário flexível e incentivo às atividades
A equipe do Mapa também está preparando um extracurriculares, é um ótimo momento para testar
observatório para acompanhar promessas de e criar novos projetos.
campanha e políticas públicas relacionadas à
educação. A ideia é oferecer informações aos “Começar jovem é uma grande vantagem”, afirma.
embaixadores, que estão em todos os estados “Pense que é bom que você teve uma ideia tão
brasileiros, para que possam acompanhar e jovem, porque dá tempo de construir, errar e
fiscalizar seus municípios e estados de maneira aprender com o processo. Acredite, não tenha
mais eficiente. medo de arriscar e converse com os outros – não
fazemos as coisas sozinhos e as pessoas estão
“O jovem tem energia e queremos ajudar a formá- sempre atrás de ideias boas.”
lo e dar ferramentas para que ele gere impacto”,
resume Ligia. “Queremos estudar uma política
pública de seu ponto de vista: é raro ter a visão
dos estudantes.”

Acredite: sempre há tempo


Tábata e Ligia estão de volta ao Brasil, mas isso não
significa que o tempo esteja sobrando.

Enquanto uma trabalha com políticas educacionais


na Ambev e outra na Fundação Lemann, ambas
empregam a mesma disciplina dos tempos de
Harvard para incluir o Mapa na agenda corrida,
geralmente à noite e durante fins de semana.

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ESSE GAÚCHO CRIOU UM NEGÓCIO QUE JÁ
IMPACTA MAIS DE 31 MILHÕES DE ESTUDANTES
Fundador do Me Salva!, Miguel Andorffy aprendeu a empreender na prática e de repente;
hoje, sonha em alcançar 100% dos estudantes do país com seus produtos educacionais

“Sou 97% engenheiro”, brinca Miguel Andorffy. Em abril, a startup quebrou o próprio recorde com
Aluno de Engenharia de Produção na Universidade 400 mil aulas assistidas em um único dia. “São 4,6
Federal do Rio Grande do Sul, ele anda sem tempo aulas por segundo – só no YouTube, sem contar
para concluir o curso: ironicamente, a agenda está a plataforma, o aplicativo e o blog! É muita gente,
cheia de aulas que ele e sua equipe organizam e viu”, entusiasma-se.
ministram para milhões de brasileiros.
A história começa em idos de 2011, quando Miguel,
Eleito pela revista Forbes Brasil como dos mais empolgado com a recepção de seu conteúdo
destacados jovens brasileiros abaixo dos 30 anos, sobre cálculo entre colegas na faculdade,
Miguel é cofundador e CEO do Me Salva!, startup disponibilizou suas primeiras aulas no YouTube.
que oferece conteúdo de apoio online para
universitários e estudantes do ensino médio. No ano seguinte, quando o canal já acumulava
100 mil views em meia dúzia de vídeos de cálculo
para engenheiros, ele montou um site simples ao
Ao longo dos últimos quatro anos, 31 milhões de
lado do amigo e cofundador Guilherme Piccoli.
estudantes assistiram mais de 157 milhões de suas
“Minha motivação era só organizar uma lista de
aulas e resolveram mais de 8 milhões de exercícios
vídeos”, lembra.
em disciplinas que vão de cálculo à citologia,
redação e mecânica dos solos. Na mesma época, inscreveu-se no prêmio Jovens
Inspiradores, organizado pela Fundação Estudar e
pela revista Veja.

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IMPACTA MAIS DE 31 MILHÕES DE ESTUDANTES

O número de usuários ultrapassava um milhão Ficou claro que seria preciso escalar em todos os
quando ganhou a competição, em novembro aspectos, do número de professores à capacidade
de 2012. O tempo gasto em cada vídeo também do servidor, que ele pagava do próprio bolso.
chamava a atenção. “Nossa retenção era de 54%.
Para uma aula de cálculo de 10 minutos, isso era “A primeira coisa a me ajudar foi a era da
impressionante.” comunicação em que vivemos. Percebi que, se
tinha um bom projeto, conseguiria lançar na rede”,
A metodologia, que ele afinou com o tempo, afirma. “Dei-me conta logo de cara que não
tornou-se seu diferencial. Sem ter o rosto em precisava me sentir menor que o Salman Khan.”
frente às câmeras, ele ensinava de maneira
informal e amigável, com uma câmera filmando, O primeiro passo foi colocar ordem na casa.
verticalmente, suas mãos e as folhas de papel. Miguel começou buscando investidores para
implementar um modelo parecido com a plataforma
A ideia de criar uma proximidade maior entre Khan Academy, de Salman Khan, patrocinada por
professor e aluno veio dos tempos de escola, Bill Gates e totalmente gratuita para o usuário.
quando Miguel, que sonhava em ser nadador
profissional, estava constantemente entre os Não deu certo. “Nunca houve um milionário ou
piores da turma. empresa que doasse o valor, então empreender foi
o único jeito de sustentar o Me Salva!”.
O dom natural para exatas salvava suas notas nas
provas de recuperação, mas era na piscina que Para cortar custos e acelerar o processo, Miguel
ele se dedicava, às vezes chorando de dor e batia em todo tipo de porta: empresas de ensino,
recebendo o apoio dos colegas de time. escolas e fundos de investimento. Um crowdfunding
rendeu feito na época rendeu R$ 7 mil reais.
“Quando comecei a dar aulas para a gurizada na
faculdade, vi que havia justamente a oportunidade “Eu lia sobre como era empreender e procurava
de trazer um pouco dessa experiência boa de quem tinha conhecimento sobre as coisas
parceria para a sala”, lembra. “Percebi ali que dava no mundo real”, explica. “Se as pessoas
para reinventar a coisa toda.” acreditam no seu projeto, elas acabam ajudando
espontaneamente – e a cara de pau é a melhor
Os desafios de escalar o Me Salva! qualidade do empreendedor.”
Na esteira do reconhecimento nacional que veio
com o prêmio, Miguel decidiu ampliar o escopo Em 1º de janeiro de 2014, a equipe alugou uma
do negócio. “A ideia era ter uma plataforma que sala a meio quarteirão da universidade, instalou
funcionasse como um Google de aulas, com conteúdo um estúdio dentro do banheiro e estabeleceu
de absolutamente qualquer disciplina”, lembra. uma única meta: “não morrer”. A visão se manteve
intacta: entregar ensino de qualidade para o maior
Era um desafio e tanto para uma equipe que havia número possível de pessoas.
crescido, mas era ainda pequena.
“Aquele foi nosso melhor ano: não só não
“Tínhamos um tráfego orgânico enorme, cerca de 10 quebramos como fomos acelerados pela Fundação
milhões de views e mil cadastros por dia e quem fazia Lemann, conquistamos nosso primeiro investidor e
aquilo eram três pessoas, cada um na sua casa.” encontramos um modelo viável para o estudante.”

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IMPACTA MAIS DE 31 MILHÕES DE ESTUDANTES

A equipe cresceu para seis pessoas e o número de Educação é um bom negócio


professores, para dez. (Desde então, mais de 200 Miguel é mais um a defender, entusiasmado, as
já passaram pela plataforma.) possibilidades que a tecnologia oferece para
revolucionar a educação.
Ainda em 2014, Miguel fez um curso de 

empreendedorismo na Stanford University com uma Do acesso democratizado ao ensino de
bolsa da Fundação Estudar, organização em que qualidade às possibilidades de personalização,
integra a rede Líderes Estudar, que reúne jovens de que permite que cada um aprenda em seu
alto impacto. próprio ritmo, ele acredita que o Me Salva! está na
vanguarda de uma grande e plural transição.
Ao longo de dois meses na Califórnia, devorou
centenas de livros sobre startups e mergulhou na “Penso que, no futuro, vão existir ene modelos
cena do Vale do Silício, observando atentamente de aprendizados, que permitirão que as pessoas
como os colegas conduziam seus negócios. aprendam de maneiras diferentes e com
enfoques diferentes.”
Voltou “sem um real no bolso” e com uma nova
mentalidade: uma grande ideia poderia surgir de Para ele, seu grande insight como empreendedor
qualquer um e qualquer lugar e, com esforço, foi enxergar que educação é um bom negócio
poderia se tornar realidade. no Brasil e um mercado que tem muito potencial
para crescer.
Criou um plano de negócios, arranjou um
advogado e um contador – ambos aceitaram Embora ainda se surpreenda com as enormes
trabalhar de graça, vale destacar –, aumentou o métricas do Me Salva!, a confiança de Miguel num
número de aulas e disciplinas disponíveis e, em futuro de resultados ainda maiores é absoluta.
2015, o Me Salva! estreou um modelo de pacotes
de assinatura. “Tenho muito claro que meu sonho é impactar a
vida de 100% dos estudantes brasileiros através do
As mensalidades vão de R$ 9 para uma preparação ensino de qualidade”, afirma. “Mas não quero ser
para o ENEM a R$ 45 por todo o conteúdo de um senhor do universo: quis criar um método que
engenharia ou de ensino médio. (O conteúdo no também funcione sem mim.”
YouTube se manteve gratuito.)
Nada mal para um jovem universitário de 26 anos.
Funcionou: a empresa fechou 2016 com 40
pessoas na equipe e breakeven financeiro.

Com um modelo validado, a vontade agora é de


expandir para todas as áreas e todos os níveis
de ensino. “Queremos ser o melhor parceiro de
estudos da galera e transformar a educação do
Brasil. Essa é nossa visão”, resume o gaúcho.

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Textos
Ana Pinho
Rafael Carvalho

Edição
Rafael Carvalho

Design
Aaron Saiki
Danilo de Paulo
Renata Monteiro

Imagens
Creative Commons

fundação estudar, 2017

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