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O papel da variável sexo/gênero na variação linguística em Piracicaba – SP

Relatório Parcial da bolsa CNPq/PIBIC (Quota 2018-2019)


Aluna: Rafaela Morelli
Orientadora: Livia Oushiro
Unidade: IEL/UNICAMP

1. Resumo

Conhecida principalmente pela realização de róticos, a variedade linguística no


município de Piracicaba-SP ainda é relativamente pouco estudada. Além disso, partindo
do conhecimento de que numerosos estudos de orientação sócio-variacionista apontam
para o favorecimento, por parte das mulheres, do uso de variantes prestigiadas
socialmente (ver, por exemplo, FISCHER, 1958; LABOV, 1990; PAIVA, 2004), busca-
se investigar se há correlação entre o sexo/gênero do falante no uso variável de róticos
nessa comunidade de fala, e analisar quais outras variáveis sociais influenciam a
variação linguística.
Sendo assim, esta pesquisa tem examinado especialmente a pronúncia de /r/ em
posição de coda silábica (p.ex., porta), /r/ em posição de ataque silábico intervocálico
(p. ex. banheiro) e o rotacismo (p.ex., pranta e paper), em uma amostra de 12
gravações com falantes piracicabanos.

2. Objetivos

As hipóteses iniciais que fomentam essa pesquisa são: (i) que a variante com
maior grau de retroflexão em ataque e em coda silábica, bem como o rotacismo, são
mais estigmatizados; e que, sendo assim, (ii) as informantes mulheres tenderão a utilizar
uma variante menos retroflexa, apagamento ou, até mesmo, o tepe, em posição de
ataque intervocálico e em coda silábica.
Portanto, tem-se como objetivo investigar e discutir os dados coletados por meio
de entrevistas sociolinguísticas com pessoas da comunidade a fim de avaliar a validade
das hipóteses iniciais e, assim, contribuir com o conhecimento sobre a variação
linguística em Piracicaba-SP. Também é objetivo desta pesquisa fomentar a discussão
sobre a variável sexo/gênero dentro do campo da sociolinguística variacionista.
3. Resumo das atividades

Conforme o cronograma presente no projeto original, nos primeiros seis meses


foram realizadas as seguintes etapas:
● Submissão do projeto e do questionário ao Comitê de Ética;
● Coleta e transcrição dos dados;
● Levantamento e leitura da bibliografia;

Não houve grandes dificuldades que comprometessem o cumprimento das etapas


acima citadas.

4. Descrição das atividades

4.1. Submissão do projeto e do questionário ao Comitê de Ética

O projeto e o questionário foram submetidos ao Comitê de Ética em


agosto/2018, que foram aprovados sem complicações tanto com relação à
documentação quanto ao conteúdo do projeto de pesquisa, do roteiro de entrevista ou do
questionário. Em setembro/2018 foi recebido o aceite do Comitê de Ética.

4.2. Coleta e transcrição dos dados

Durante o período que compreende os meses de setembro/2018 a janeiro/2019


foram realizadas as entrevistas sociolinguísticas com um total de 12 participantes. O
recrutamento dos participantes se deu através do método “amigo do amigo” (MILROY,
1987 apud MENDES & OUSHIRO, 2012). Tal método foi considerado adequado para
a redução do efeito conhecido como paradoxo do observador descrito por Labov
(1966), em que as condições de coleta de gravação podem provocar alterações na fala
do informante, fato que compromete o objetivo da pesquisa sociolinguística: analisar a
fala espontânea e cotidiana do participante, quando o grau de monitoração é baixo.
Sendo assim, a mediação de um conhecido comum entre o participante e o aluno-
documentador possibilita uma maior receptividade por parte do falante e,
consequentemente, maior naturalidade da fala (MENDES & OUSHIRO, 2012).
Além disso, as entrevistas seguiram um roteiro de perguntas pré-estabelecidas
com algum grau de adaptabilidade durante a conversa. A estratificação da amostra foi
feita de acordo com as características sociodemográficas indicadas no Quadro 1.

Quadro 1: Corpus coletado e perfis dos participantes


Sexo feminino Sexo masculino Formatted: Centered

Classe alta Classe baixa Classe alta Classe baixa Formatted: Centered

18 a 34 anos IasminB ElenaC GabrielA MurielM


35 a 59 anos MariaS CarlaG GuilhermeS MarcosO
60+ anos ElaineB MartaM GilmarB JoséM

Para a definição dos bairros mais ou menos afluentes foi utilizada uma pesquisa
realizada pela Prefeitura Municipal de Piracicaba com assessoria técnica do Instituto de
Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais que buscava produzir um Mapa da
Inclusão/Exclusão Social e que contribuiria para o planejamento de políticas públicas
(IPPLAP, 2003). Esse relatório analisa separadamente cada bairro de Piracicaba em
indicadores como renda dos responsáveis pelos domicílios, taxa de mortalidade infantil,
faixa etária média da população do bairro, entre outros. Embora possa estar um pouco
desatualizado, visto que a pesquisa foi realizada em 2003 (última vez em que uma
pesquisa desse tipo fora realizado em Piracicaba, conforme informado por uma
funcionária da Prefeitura Municipal), acredita-se que os dados ainda são relevantes e
oferecem uma boa base para a estratificação dos bairros em que os indivíduos
entrevistados habitam.
Com relação aos critérios utilizados para a definição da faixa etária, foram
definidos os mesmos do Projeto SP2010 (MENDES & OUSHIRO, 2012) para que,
desta maneira, exista uma base para possíveis comparações futuras.
A maior dificuldade encontrada durante o trabalho de campo foram alguns
falantes que falavam muito pouco e pareciam tensos durante a gravação e, por conta
disso, foi necessária uma adaptação improvisada do roteiro de entrevistas em que foram
inseridas mais perguntas do que anteriormente previsto, principalmente sobre a vida do
participante. Por exemplo, alguns falantes pareciam mais dispostos a falar sobre seu
trabalho atual do que sobre sua infância e, sendo assim, mais perguntas foram feitas
sobre o trabalho. Além disso, durante algumas entrevistas foi necessário que a
pesquisadora dividisse mais detalhes sobre sua própria vida, respondendo às perguntas
também para que a entrevista se aproximasse mais de uma conversa. Ambas as
estratégias tiveram resultados positivos.
Outra dificuldade foi encontrar um participante do perfil homem, de classe baixa
da primeira faixa etária, principalmente por conta da rede social da pesquisadora. A
solução encontrada foi ir um pouco além do “amigo do amigo” que se transformou em
algo como “amigo do amigo do amigo”.
As transcrições foram todas feitas pela pesquisadora no programa ELAN 5.2
(HELLWIG; GEERTS, 2013), de acordo com as normas de transcrição estipuladas em
Mendes & Oushiro (2012).

4.3. Revisão Bibliográfica


Visto que o foco desta pesquisa em sociolinguística será o papel da variável
sexo/gênero na variação linguística, torna-se pertinente aprofundar os conhecimentos
sobre a discussão em torno desta variável social específica. Nesse sentido, o debate
principal que sonda a variável sexo/gênero é justamente a diferenciação entre sexo e
gênero, que por muito tempo não foi feita na sociolinguística. Em princípio, tratava-se o
gênero como categoria limitada ao sexo biológico, porém, autoras como Vieira (2010) e
Severo (2007) argumentam em favor de uma abordagem mais crítica que não considera
essas duas categorias como equivalentes, visto que “o último [gênero] é uma elaboração
social do primeiro [sexo] e que a dicotomia masculino-feminino é um dos principais
componentes de nossa identidade.” (VIEIRA, 2010, p. 3).
Sendo assim, ambas as autoras sinalizam o problema com a visão mais
tradicional da variável que não leva em conta diferenças no processo de socialização
dos indivíduos, bem como em mudanças mais amplas nos papéis sociais de homens e
mulheres na sociedade. Por isso, qualquer tentativa de análise e explicação de possíveis
padrões encontrados nos dados desta pesquisa deverá, necessariamente, passar pelos
papéis desempenhados pelas mulheres entrevistadas (p. ex. se trabalham fora ou não).
Além disso, Severo (2015) e Plaza (2018) discutem a relação entre língua e
identidade complicando o próprio conceito de identidade, visto que existem processos
diferentes que perpassam a constituição do sujeito além da própria autoidentificação,
como a identificação pelo outro e os discursos veiculados pela sociedade como um todo.
Plaza (2018) também se aprofunda na discussão sobre o caipira que, de acordo
com ela, “[...] é um termo usado para demarcar fronteiras, que não são apenas
territoriais, mas sociais [...]”. Tal discussão é importante para esta pesquisa visto que a
fala da região Piracicaba é comumente estereotipada como caipira e, sendo assim, os
traços linguísticos associados à fala caipira, como aqueles elencados por Amaral (1920),
e ainda presentes na fala de uma parcela dos indivíduos podem oferecer uma indicação
das “fronteiras sociais” que são demarcadas ainda hoje na comunidade.
Finalmente, em Head (1987) tem-se uma análise detalhada das propriedades
fonéticas do “R caipira” e, desta forma, o artigo proporcionou à pesquisadora
conhecimentos importantes sobre a variante em foco, visto que uma parte importante do
projeto será a avaliação dos “graus de retroflexão”, baseado em Bieler da Silva (2015).

5. Próximos Passos
A fim de dar continuidade à pesquisa, serão extraídos das transcrições os dados
relevantes em que as variáveis linguísticas a serem estudadas se apresentam, por meio
de scripts da plataforma R (OUSHIRO, 2018). Em seguida, estas serão analisadas
qualitativamente, em diálogo com a literatura pertinente. Uma das três variáveis será
escolhida para o desenvolvimento de análises quantitativas, a serem desenvolvidas na
plataforma R (R Core Team, 2018).

6. Referências
FISCHER, J. L. Social influences on the choice of a linguistic variant. Word, Taylor & Francis,
v. 14, n. 1, 1958, p. 47–56.
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HEAD, B. F. Propriedades fonéticas e generalidades de processos fonológicos: o caso do “R
caipira”. Cadernos de Estudos Linguísticos, n. 13. Campinas, 1987. p. 5-39.
Formatted: Indent: Left: 0", Hanging: 0.49"
HELLWIG, B. & GEERTS, J. ELAN - Linguistc Annotator. versão 5.2, 2018. Disponível em
http://www.mpi.nl/corpus/manuals/manual-elan.pdf. Último acesso em 24/jan./2019.
LABOV, W. The intersection of sex and social class in the course of linguistic change.
Language variation and change, Cambridge University Press, v. 2, n. 2, 1990, p. 205–
254.
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MENDES, R. B.; OUSHIRO, L. O paulistano no mapa sociolinguístico brasileiro. Alfa: Revista
de Linguística (São José do Rio Preto), Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, v. 56, n. 3, 2012, p. 973–1001.

OUSHIRO, L. dmsocio. v0.2.0. 2018. Disponível em: <oushiro.shinyapps.io/dmsocio>. Acesso


em 22 de abr. 2018

PAIVA, M. C. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.).


Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2004. p.
33-42.
PLAZA, Luna Sartoratto. (2018) O Dialeto Caipira no Município de Itatiba. Qualificação de
Mestrado. Local: Instituto de Estudos da Linguagem. 147f
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R CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria, 2018. Disponível em: <https://www.R-
project.org/>. Acesso em 22 de abr. 2018.

SEVERO, Cristine Görski et al. Por uma perspectiva social dialógica da linguagem:
Repensando a noção de indivíduo. 2007.

VIEIRA, Marília Silva. O gênero e os fenômenos de variação na fala. In: Diásporas,


Diversidades Deslocamentos. Seminário Internacional Fazendo Gênero – UFSC.
Agosto-2010.

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