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Universidade Federal do Espírito Santo

Centro de Ciências Humanas e Naturais


Departamento de História

HISTÓRIA DO ESTADO MODERNO


2019/1

Discente: Lucas Rodrigues Barreto Profa. Dra. Patrícia Maria da Silva Merlo

Legítimo rei
Sinopse
Na Escócia do século XIV, Robert1 “the Bruce”
reivindica o trono e lidera uma violenta revolta pela
independência contra o domínio inglês.2

Ficha Técnica
Título: Outlaw King (Original)
Ano produção: 2018
Dirigido por: David Mackenzie
Elenco: Chris Pine, Stephen Dillane, Rebecca Robin,
Billy Howle, Aaron Taylor-Johnson, Gemma
McElhinney.
Estreia: 5 de novembro de 2018
Duração: 121 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: Ação; Biografia; Drama.
País de Origem: Estados Unidos da América Disponível na Netflix.

David Mackenzie, diretor do filme, é um cineasta escocês. Famoso por


produzir filmes de longa-metragem, todos com repercussão internacional como
The Last Great Wilderness (2002), Young Adam (2003), Asylum (2005), Perfect
Sense (2011), Hell or High Water (2016) e sua recente produção, Outlaw King
(2018).

Baseado em fatos, com um recorte temporal de 1304, o filme explicita o


contexto histórico da História da Escócia, quando pelo acaso, o rei escocês morre e
não deixa herdeiros, então os lordes escoceses iniciam o processo de escolha do

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O nome Robert foi traduzido na versão dublada do filme, em português, para Roberto.
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https://www.netflix.com/br/title/80190859

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novo sucessor. Com o pretexto de auxiliar a causa escocesa, o rei da Inglaterra,
Eduardo I, se “prontifica” a ajudar, entretanto, ele tomou o poder e ocupou a região
do reino da Escócia. Esse ato culminou na insatisfação dos escoceses e deu início
a uma sangrenta guerra, liderados por Sir. William Wallace, que foi derrotado pelos
ingleses. Com o fim da resistência, muitos nobres da Escócia se entregaram a
Eduardo I, e nesse contexto, Roberto “the Bruce” continuou a lutar contra os ingleses,
mesmo que em um primeiro momento também se redimiu ao rei inglês.

A análise do ponto de vista histórico está resguardada pela leitura do livro, O


processo civilizador3, de Norbert Elias. Sociólogo alemão, Elias nasceu em Brelau
em 1887 e morreu em Amsterdam em 1990. Estudou medicina, Filosofia e psicologia
nas universidades de Breslau e Heidelberg. Foi professor de sociologia em Leicester,
Gana e outras universidades europeias. Desenvolveu uma abordagem que ele
denominou de “sociologia figuracional”, que tem por objetivo examinar a gênese das
configurações sociais, resultado das consequências inesperadas das interações
sociais.

As dinâmicas socias e suas particularidades, são um ponto fulcral do


entendimento histórico sobre o recorte temporal do filme, século XIV. O casamento
tem uma expressão social de destaque nas relações socias dos nobres, servindo
como um dispositivo de fortalecimento dos laços políticos e econômicos entre nobres
e consolidação de novas terras, sinônimo de poder nesse período.

Entre (09’19’’ – 13’33’’), cena que exemplifica a importância das relações


matrimoniais, onde uma jovem nobre é destinada a se casar com um nobre escocês,
a fim de selar as relações de fidelidade com o rei da Inglaterra, Eduardo I. Em um
banquete de nobres guerreiros e lordes escoceses, o rei da Inglaterra determina o
casamento da filha de um marechal inglês com o nobre escocês Roberto “the Bruce”,
simbolizando a união entre os territórios. No caminho para o castelo do nobre
escocês, o pai da jovem chama atenção de sua filha com o seguinte dizer: “- A família
dele tem terras vastas ao norte e ao sul da fronteira, até que teve sorte.” O trecho
destacado reforça a preocupação da expansão e segurança das famílias nobres, que
viam no casamento uma chance de fortalecimento do poder, relacionado a terra, e

3
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993. 2 v.

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ao mesmo tempo permitir a manutenção familiar para um herdeiro. Ao chegar no
Castelo, Isabel é recebida pelo lorde escocês, Roberto. Em sua companhia estavam
o príncipe inglês, representando a figura real, um bispo, representando o sagrado e
os pais da jovem. Logo é providenciado a cerimônia do casamento, selando assim a
união entre as duas famílias. O casamento é sinônimo também de fidelidade ao
marido ao mesmo tempo que esse é o senhor da sua esposa. Essa colocação é
representada na cena (84’34’’ – 87’05’’) em que a jovem Isabel é orientada a se
divorciar do seu marido, que tinha se rebelado contra o rei Eduardo I. Na verdade
ela não é orientada, mas ganha uma chance de renunciar ao casamento porque ela
é afilhada do rei. Aqui destacamos os diversos laços entre os nobres e a figura real.
Entretanto ela não renuncia a seu casamento.

Esses episódios são explicados por Elias, destacando que as terras dos
nobres eram obtidas com frequência por meios de conquistas, herança, doação ou
casamento. Nesse sentido, há uma justificativa para a fala do pai da jovem,
preocupado com as posses do futuro marido de sua filha, assim, o casamento dos
grandes senhores feudais tem uma característica “comercial”, como chamaríamos
hoje que tem por objetivo a expansão e sucesso na competição por novas terras.
(Elias, 1993).

Sobre o processo civilizador, Norbert Elias salienta que mais tarde, através de
casamentos, compra ou conquista, uma dessas Casas acumulava cada vez mais
terras e obtinha preponderância sobre os vizinhos. (Elias, 1993).

A Igreja é nosso segundo ponto de análise, interpretada como legitimador do


lugar social. A cena (10’57’’ – 13’15’’) há um bispo que acompanha uma jovem que
foi destinada a se casar, esse responsável por legitimar o casamento além de
abençoá-lo, o que remete a necessidade do representante da Igreja em acompanhar
todas as solenidades ou mesmo presidi-las entre os nobres. Vale destacar o âmbito
do “privado”, visto que o bispo determina a consumação do casamento, levando os
recém-casados a seus aposentos, deixando registrado aquele momento simbólico.

Em todas as passagens da vida, nascer, crescer, reproduzir e morrer, a Igreja


está presente. A cena (21'24"- 21'58"), retrata o velório do senhor nobre escocês, pai
do Roberto “the Bruce”. Há todo um ritual religioso da passagem da vida para a

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morte. Percebe-se a presença dos religiosos, como uma articulação entre terra e o
mundo transcendental.

A Igreja deve ser vista não só como uma instituição social, mas uma
expressão de poder e que utilizava de artifícios entre as relações para mantê-lo. A
cena (30’34’’ – 31’50’’) descreve a relação entre a Igreja e os nobres senhores.
Roberto “The Bruce”, nobre escocês, cometeu um assassinato e quer o
reconhecimento e o perdão por parte da Igreja pelo seu ato. Em troca, os
representantes da Igreja pedem apoio, e só assim o legitimariam como novo rei da
Escócia, coroando-o. A cena de coroação (37’40’’ – 39’04’’) é acompanhada por
parte de alguns camponeses, nobres e representantes da Igreja. Um bispo declama
palavras de cunho religioso divino para assegurar a força de Deus ao novo rei da
Escócia. No processo civilizador, Norbert Elias destaca a presença da Igreja e seu
objetivo nas entrelinhas das relações com os reis na formação do Estado Moderno:
“A Igreja, por conseguinte, desejava um suserano, um rei, que fosse
forte o suficiente para protegê-la contra a violência secular. As rixas, as
grandes ou pequenas guerras que explodiam incessantemente por toda a
região via de regra eram muito mal recebidas pelos religiosos e monges que,
embora mais competentes no plano militar e mesmo mais belicosos do que
mais tarde se tornariam, de qualquer modo não viviam da guerra ou para a
guerra. E, repetidamente, em todo o país, sacerdotes e abades maltratados,
lesados, esbulhados de seus direitos, apelavam ao rei como juiz. A ligação
forte, e apenas ocasionalmente perturbada, entre os primeiros reis [...] e a
Igreja não foi fortuita, nem sua causa residiu exclusivamente na profunda fé
pessoal desses primeiros soberanos. Expressava também uma óbvia
conjunção de interesses. A dignidade da monarquia nessa época, o que quer
mais que ela pudesse ser, sempre constituiu uma arma dos sacerdotes em
seus conflitos com a classe dos guerreiros. A consagração, unção e coroação
do rei eram influenciadas cada vez mais pelo poder da investidura e do
cerimonial montados pela Igreja.” (Elias,1993, p.156)

O poder da Igreja tinha seus limites, principalmente no que tange as relações


de guerra. O pequeno trecho (50’43’’ – 51’), há uma batalha entre os escoceses e os
Ingleses, e nesse episódio a figura do bispo não é respeitada, porque os soldados
atacam e matam o religioso, interpreta-se como uma vingança pela traição, trazendo
alusão que a figura real estava acima do ofício exercido pelo religioso.

É a Igreja que autêntica as relações sociais entre rei, nobres e camponeses,


em consonância com Elias, isso se dá ao mesmo tempo que o poder das terras de
um nobre está ligado com a ajuda material e espiritual outorgada pela Igreja. No
processo civilizador, o autor destaca as relações do apoio da Igreja a determinadas
situações no contexto medieval, por exemplo. Ganhar ou não o apoio da Igreja

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dependia de sua posição social e no quantitativo de posses e influências que um
determinado senhor feudal possuía. Em suma, a relação Igreja – reis e nobreza é
marcada de interesses de ambas as partes.

Assinalada por uma sociedade de guerras, do medievo à modernidade, claro,


considero aqui o recorte do filme e do livro em análise, os nobres guerreiros
utilizavam seus recursos para custear as investiduras bélicas, mas com o passar do
tempo era necessário um montante ainda maior. Como conseguir recursos para
custear conquistas de novos territórios ou fortalecer os já existentes? Como vencer
as diversas forças centrífugas que permearam todo período da pré-formação do
Estado Moderno? Tributo! Mas de que tipo? Como eram esses tributos? Por que
pagar tributos? A obra de Norbert Elias salienta o processo da sociogênese do
monopólio de tributação na qual
“[...] a propriedade territorial de uma família de guerreiros, o controle
que ela exercia sobre certas terras e seu direito a dízimos ou a serviços de
vários tipos prestados por indivíduos que viviam nessas terras, foram
transformados, com o aumento da divisão de funções e no curso de
numerosas lutas, no controle centralizado do poder militar e dos tributos e
impostos regulares sobre uma área muito mais ampla.” (ELIAS, 1993, p.172)

Desse modo, o terceiro ponto da análise é a construção dos tributos, que no


filme está bem retratado. A cena (13’44’’ – 14’) é ilustrada pela figura do senhor
Roberto “the Bruce”, que em um banquete ganha um documento de validação do
recebimento dos tributos de terras da Irlanda. Nesse caso, o tributo é uma forma de
presentear aliados, que nesse episódio era entre a Inglaterra e a Escócia, e tem
como pretexto a consolidação do reconhecimento do rei, Eduardo I. O tributo também
era um instrumento de punição, como exemplificado na cena (16’50’’ – 18’11’’) ,
muitos camponeses estão reunidos próximos ao castelo do senhor feudal, com
diversos objetos e animais em mãos a fim de pagarem seus tributos, e um camponês
questiona a seu senhor o motivo que ainda estão pagando mais tributos, visto que a
guerra contra Eduardo I, havia cessado, mas o senhor feudal responde: “Infelizmente
ainda estamos pagando compensação a Eduardo pela rebelião [Lordes escoceses
contra o rei da Inglaterra]”. Nesse mesmo recorte cenográfico, há uma tributação que
merece atenção, o tributo humano. Esse servia para formação e fortalecimento de
um exército real, onde a legião do rei impõe o recrutamento forçado dos camponeses
do senhor feudal. Para complementar, Elias acrescenta:

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“Os homens do rei estavam se intrometendo em tudo e apropriavam-
se de direitos e tributos que antes eram prerrogativa exclusiva do senhor
feudal. E neste particular, como com tanta freqüência acontecia, foram os
tributos em dinheiro que constituíram a última gota.” (ELIAS, 1993, p.175).

Os tributos que antes visavam custear guerras, que era algo extraordinário,
com o tempo, por exemplo, levando em consideração a duração das longas guerras,
esses tributos são ordinários, resultando durante o Estado Moderno, os impostos.
Os tributos também são dispositivos do processo civilizador.
Refletir não só o acaso do imaginário dessas pessoas, mas compreender as
empreitadas de inovação tecnológica bélica é importante para abarcamento da
complexidade da formação do Estado Moderno, retratado por Norbert Elias. O quarto
e último ponto de análise é a relação da tecnologia e recursos como forma de alterar
o curso da guerra. A cena do uso da catapulta (8’ – 9’03’’), mostra com eficiência as
máquinas feitas para destruição e um adicional para se sobressair o inimigo. Ou seja,
a competição entre os senhores feudais era um dos motivos para o aperfeiçoamento
das técnicas militares. Entre (48’20’’ – 51’20’’) houve o evento de “batalha surpresa”,
com utilização do arco e flecha flamejante adentrando, um bosque, no ponto de vista
dos guerreiros escoceses, uma defesa natural. Aqui há uma dualidade, visto que de
um lado se tem um bosque servindo de técnica de defesa, do outro, flechas
flamejantes.
O treinamento das técnicas utilizadas em batalhas também é uma investidura
bélica retratada no filme (80’20’’ – 82’), em que os nobres praticam o ofício de arco
e flecha. Por fim, a astúcia das pessoas que compunham esses episódios de
confronto, como visto entre (98’ – 110’), Roberto “the Bruce” utiliza o relevo e os
conhecimentos do território escocês a seu favor, construindo enormes valas e
dispondo nelas grandes estacas pontiagudas, inviabilizando o confronto da cavalaria
inglesa, impossibilitando aos inimigos vencer a batalha.
Relacionando com o processo civilizatório, a tecnologia de guerra, culminou
no fortalecimento da figura central do rei e na necessidade de aliança entre nobres
para sobressaírem outros nobres. Elias destaca que
“[...] a tecnologia da guerra atuou em detrimento da nobreza: a
infantaria, os desprezados soldados a pé, tornou-se mais importante em
batalha do que a cavalaria. Não apenas se quebrava, dessa forma, a
superioridade militar do estado medieval do guerreiro, mas também seu
monopólio de armas. Uma situação em que todos os nobres eram guerreiros
ou, reciprocamente, em que todos os guerreiros eram nobres, começou a
transformar-se em outra na qual o nobre era, na melhor das hipóteses, um
oficial de tropas plebéias que tinham que ser remuneradas. O monopólio das

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armas e do poder militar passou de todo o estado nobre para as mãos de um
único membro, o príncipe ou rei que, apoiado na renda tributária de toda a
região, podia manter o maior exército. Por isso mesmo, a maior parte da
nobreza mudou, de guerreiros ou cavaleiros relativamente livres, para
guerreiros ou oficiais assalariados a serviço do suserano.” (ELIAS, 1993,
p.21).

Dado o exposto, a tecnologia e recursos como forma de alterar o curso da


guerra não só alteraram guerras, mas sim a estrutura social do período.
O Filme, Legítimo Rei, é uma representação do cotidiano do devir da
Formação do Estado Moderno, integrando uma narrativa atrativa e biográfica aos
processos sociais e históricos da Europa. A leitura da obra do sociólogo, Norbert
Elias, é essencial para o entendimento das entrelinhas históricas presente nessa
produção cinematográfica.

Referências
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993. 2 v.
LEGÍTIMO Rei. Direção: David Mackenzie. EUA: Sigma Films, 2018. NETFLIX.

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