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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
TEORIA CONSTITUCIONAL
AULA 1: POLÍTICAS DE COTAS

A Lei do Estado do Rio de Janeiro que determina que 50% das vagas da UERJ
serão destinados a negros e pardos é constitucional?

Em 2001, o deputado estadual José Amorim (PPB) enviou à Assembléia Legislativa do


Rio de Janeiro o projeto de lei n° 2490, com o seguinte artigo:

Art 1o – Fica estabelecida a cota mínima de 40% (quarenta por cento) para as populações
negra e parda no preenchimento das vagas relativas aos cursos de graduação em todas as
instituições públicas de educação superior – universidades – do Estado do Rio de Janeiro.

Na justificativa do projeto, o deputado afirmava:

Nos Estados Unidos da América do Norte, país no qual o racismo é evidente, o presidente
John Fitzgerald Kennedy decretou, ainda na década de 60, que 12% (doze por cento) das
vagas nas universidades ficassem reservadas para a população negra. Percentual que
correspondia à exata proporção da população negra na sociedade americana.
No Estado do Rio de Janeiro, estima-se que 40% (quarenta por cento) da população seja
constituída por negros e pardos. Grande parte desse contingente é vítima de discriminação e,
sobretudo por questões econômicas, não consegue acesso ao ensino de qualidade, fator
crucial para possibilitar a ascensão econômica e profissional desses cidadãos.
Entre os dias 31 de agosto e 7 de setembro, os países membros das Nações Unidas vão se
reunir na África do Sul para apresentar o Esboço da Declaração contra o Racismo e
reconhecer que a escravidão representou um desrespeito à cultura dos povos de origem negra,
contribuindo para deixá-los em condições de extrema pobreza e miséria.
O Brasil, como segundo país com maior número de indivíduos descendentes da raça
negra, precisa acatar a sugestão de implantar programas educacionais, que respeitem
diferenças, e contribuam para a promoção da igualdade social. Hoje, apenas uma pequena
parcela de negros tem algum poder de decisão na sociedade.

O inciso VIII do artigo 37 da Constituição Federal já prevê a reserva de cargos em


empresas públicas para pessoas portadoras de deficiência física como forma de facilitar o
acesso ao mercado de trabalho e reduzir a discriminação. A reserva de vagas para negros
em universidades públicas é mais uma forma de promover a integração social das parcelas
ainda discriminadas da sociedade.

O projeto foi aprovado, dando origem à lei 3.708/2001.

Com relação à desigualdade, a sociedade brasileira enfrenta um problema semelhante ao


de diversos outros países democráticos, ainda que em grau e características distintas. Por
um lado, constata-se que a sociedade brasileira é profundamente desigual.
Desigualdade econômica, regional e racial, sobretudo em relação aos negros. Nos EUA,
os negros representam atualmente cerca de 13% da população. No Brasil, segundo dados do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 1996, respondem por 45% da
população, ou seja, 76,5 milhões de negros e pardos. A proporção de negros entre as
pessoas com 12 anos ou mais de estudo (equivalente aos que concluíram o ensino médio e
possuem curso superior) é de apenas 2,8%, quase quatro vezes menos do que os brancos na
mesma faixa (10,9%). A taxa de analfabetismo é quase três vezes maior entre negros e
mulatos do que entre a população branca.

Por outro lado, constata-se também que o ideal de igualdade entre os cidadãos é um ideal
indispensável à democracia, inclusive inserido na própria constituição. Em sua 14ª Emenda,
a constituição norte-americana diz textualmente:

Section 1. All persons born or naturalized in the United States, and subject to the
jurisdiction thereof, are citizens of the United States and of the state wherein they reside. No
state shall make or enforce any law which shall abridge the privileges or immunities of
citizens of the United States; nor shall any state deprive any person of life, liberty, or
property, without due process of law; nor deny to any person within its jurisdiction the equal
protection of the laws.

Qual o papel do direito diante deste problema? Como podem a constituição, os


tribunais, as leis, os profissionais contribuírem para fazer com que o ideal seja real? O
dever ser, de fato, seja?

Um conjunto de ações visando a diminuir e mesmo extinguir as desigualdades foi então


pensado, formatado e praticado, entre elas as ações afirmativas. Ou seja, normas, leis e
sentenças que afirmam juridicamente a igualdade. Um dos tipos de ações afirmativas são as
leis de quotas, que não dizem respeito apenas aos negros, embora tenham se transformado
num dos instrumentos mais poderosos do movimento negro norte-americano. São leis que
asseguram, reservam um determinado numero de posições (uma quota), que serão
preenchidas exclusivamente por determinados grupos que, do contrário, não teriam acesso à
posição em disputa.

Na ultima década, o Brasil começou a criar algumas leis que estabelecem cotas, como,
por exemplo, a Lei Federal 9.504 de 30 de setembro de 1996, que reserva, em seu artigo
10°, 30% de vagas nos partidos políticos para mulheres como candidatas às eleições.
Luisa Peixoto fez o vestibular para desenho industrial da UERJ em 2003. Foi a 10a
colocada no concurso, mas não se classificou porque a universidade reservava grande parte
de suas vagas para alunos de escolas públicas, negros e pardos. Das 36 vagas oferecidas
pelo curso, apenas quatro não foram preenchidas por cotistas. Luisa entrou com uma ação
na justiça do Rio de Janeiro, e o Tribunal de Justiça considerou inconstitucional a prática da
Uerj, que estava amparada pela lei estadual 3524/00, como inconstitucional. (O Globo)

Foi argüida também a inconstitucionalidade desta lei, agora junto ao Supremo Tribunal
Federal pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (ADIN 2858-8). Na
petição inicial, alega-se que esta lei fere a constituição, pois, ao combater a discriminação
racial, a lei provocaria a descriminação de outros grupos tão ou mais vulneráveis do que os
negros – os índios brasileiros, por exemplo, que não seriam beneficiados na quota.

Alegava-se, por exemplo, que a lei seria extremamente difícil de ser aplicada, diante da
tradição cultural de miscigenação brasileira. É muito difícil estabelecer em definitivo quem
é negro e quem não é. Diante da reação da sociedade e da ameaça de decisão contrária do
Supremo, a lei foi modificada. O critério racial não é mais o único para a reserva de vagas.
A nova lei diz:

Art. 5º – Atendidos os princípios e regras instituídos nos incisos I a IV do artigo 2º


e seu parágrafo único, nos primeiros 5 (cinco) anos de vigência desta Lei deverão as
universidades públicas estaduais estabelecer vagas reservadas aos estudantes carentes
no percentual mínimo total de 45% (quarenta e cinco por cento), distribuído da
seguinte forma:
I – 20% (vinte por cento) para estudantes oriundos da rede pública de ensino;
II – 20% (vinte por cento) para negros; e
III – 5% (cinco por cento) para pessoas com deficiência, nos termos da legislação
em vigor e integrantes de minorias étnicas.

Pergunta-se: diante da Constituição Federal, o Brasil pode adotar leis que es-
tabelecem o sistema de cotas com o objetivo de promover o ideal da igualdade? E
outros tipos de ação afirmativa? Essas leis podem utilizar qualquer critério? O
critério racial? O critério da desigualdade econômica? O critério do gênero, como por
exemplo, o artigo 7°, XX da própria Constituição? O critério da nacionalidade? O
critério da deficiência física, como por exemplo, no art. 37, VIII? O critério da idade,
como na preferência de tramitação de processos de idosos na justiça?

Indicação de material de apoio:

Pena, Sérgio D. Pena. “Retrato Molecular do Brasil”, in Falcão, Joaquim e Araújo, Rosa
Maria Barbosa de. O Imperador das Idéias: Gilberto Freyre em questão. Rio de
Janeiro: Topbooks, 2001 (tópicos “Raízes Filogenéticas do Brasil” e “Não existem
raças”)
Merola, Ediane. “Notas baixas e critérios de cotas para negros provocam polêmica na
Uerj”. Reportagem publicada no jornal O Globo em 11/03/04.
Gois, Antônio e Petry, Sabrina. “Na era das cotas, negro é o 1º lugar em medicina”.
Reportagem publicada na Folha Online em 08/02/04
O GLOBO. “Estudante ganha ação contra Uerj”. Reportagem publicada no jornal O
Globo de 17/03/04.
Trechos da petição inicial da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) sobre a lei
estadual do Rio de Janeiro n° 4151/03 (lei de cotas), proposta pela CONFENEN
(Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino)
UNGER, Roberto Mangabeira. “Justiça racial já”, artigo publicado no jornal Folha de
São Paulo em 13/01/04.
Kamel, Ali. “Cotas: Um erro já testado”. Artigo publicado em O Globo de 29/06/04.
__________. “UNB: Pardos só se forem negros”. Artigo publicado em O Globo de
20/03/04.
Petição da ONG Conectas, na qualidade de Amicus Curiae (editada).
Unger, Roberto Mangabeira. O Direito e o Futuro da Democracia. (trecho sobre ações
afirmativas nos EUA).
Schwartzman, Simon. Entrevista ao jornal O Globo de 21/03/04.
Falcão, Joaquim. “Sistema de Cotas à Brasileira”. Publicado no Jornal do Brasil.
Barroso, Luís Roberto. “Cotas e o papel da universidade”. Publicado em O Globo de
28/06/03.
Gomes, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade:
O direito como instrumento de transformação social. Rio de Janeiro: Editora
Renovar, 2001.
Vieira, Oscar Vilhena. Supremo Tribunal Federal – Jurisprudência Política. São Paulo:
Malheiros, 2001 (trecho sobre a decisão da Suprema Corte no caso Bakke).
Dworkin, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002
(capítulo IX - “A discriminação compensatória”).

Questões de Concursos:

36º Concurso – Magistratura Estadual/ 2002 – RJ


É compatível com a Constituição da República a gratuidade estabelecida no art. 13, V,
da Constituição do Estado do Rio de Janeiro em favor dos que percebem até um salário
mínimo, dos desempregados e dos reconhecidamente pobres para o sepultamento e os
procedimentos a ele necessários, inclusive o fornecimento de esquife pelo concessionário
do serviço funerário?

Ministério Público Estadual/ 2002 – PR


Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que objetiva reservar 20% das vagas
em estabelecimentos públicos de ensino superior para estudantes negros. Suponha que esta
lei seja aprovada e sancionada e que uma entidade legitimada ingresse com uma ADIN
perante o STF, alegando que a lei ofende ao princípio da igualdade. Analise o mérito da
questão, dizendo da possibilidade de sucesso da ação, apresentando fundamentação
jurídica.

Provão/ 2002
“A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se
parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as
folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido,
os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim,
desde os astros, no céu, até os micróbios do sangue, desde as nebulosas no espaço, até os
aljôfares do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar
desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social
proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais
são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites
humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada
um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.”
(Barbosa, Rui. Oração aos Moços. 18. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, pp. 53-55)
A partir desse texto, analise a validade da adoção da discriminação positiva no Brasil,
oferecendo exemplos; a relação entre o princípio da igualdade e o da proporcionalidade, a
possibilidade de o juiz decidir unicamente com base no princípio da eqüidade.

Provão/ 2003
“(Estácio:) Eu creio que um homem forte, moço e inteligente não tem o direito de cair na
penúria.
(Salvador:) Sua observação, disse o dono da casa sorrindo, traz o sabor do chocolate que
o senhor bebeu naturalmente esta manhã, antes de sair para a caça. Presumo que é rico. Na
abastança é impossível compreender as lutas da miséria, e a máxima de que todo homem
pode, com esforço, chegar ao mesmo brilhante resultado, há de sempre parecer uma grande
verdade à pessoa que estiver trinchando um peru... Pois não é assim; há exceções. Nas
coisas deste mundo não é tão livre o homem, como supõe, e uma coisa, a que uns chamam
mau fado, outros concursos de circunstâncias, e que nós batizamos com o genuíno nome
brasileiro de caiporismo, impede a alguns ver o fruto de seus mais hercúleos esforços.
César e sua fortuna! toda a sabedoria humana está contida nestas quatro palavras.” (Assis,
Machado de. Helena. Rio de Janeiro: W.M. Jackson Inc. Editores, 1962. cap. XXI: p. 221).
Identifique a convergência ou divergência do pensamento do personagem Salvador ao
ideário que inspira o Estado liberal, no tocante à garantia de igualdade perante a lei e de
liberdade de agir, como condicionantes do sucesso individual.

AULA EXTRAÍDA DO ROTEIRO DE CURSO DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS /


DIREITO RIO

DISCIPLINA: TEORIA DO DIREITO CONSTITUCIONAL

AUTORES: JOAQUIM FALCÃO, ÁLVARO PALMA DE JORGE E DIEGO WERNECK


ARQUELLES. COLABORADORES: THAMY POGREBINSCHI, BRUNO MAGRANI,
MARCELO LENNERTZ, PEDRO CANTISANO E VIVIAN BARROS MARTINS

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