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RESUMO
Este trabalho teve o objetivo de avaliar e ampliar o conhecimento e a percepção de
crianças com deficiência visual em relação aos animais e suas interações com o meio
ambiente, utilizando-se de experiências de aprendizado lúdicas, que fizeram o uso dos
sentidos táteis, auditivos e olfativos. Foram realizadas entrevistas e atividades, onde os
deficientes visuais tocaram animais vivos e empalhados, sentiram seus cheiros e sons,
que possibilitaram novas experiências de conhecimentos e sensações. A experiência
sensitiva é a melhor maneira para a captação de conhecimento do deficiente visual,
portanto é por meio do desenvolvimento e estimulação constante dos sentidos, que
assimilações de objetos e de espaços irão ocorrer. Essa proposta de educação ambiental
observou que atividades sensitivas são muito importantes para a construção de imagens
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mentais, as aproximando da realidade, já que muitas vezes, são construídas por meio de
descrições verbais, nem sempre muito claras para os deficientes visuais.
Palavras-chave: educação ambiental; inclusão social; deficiência visual; criança; lúdico;
sentidos.
ABSTRACT
This work had the objective to evaluate and enlarge the knowledge and perception of
visual impaired children regarding animals and interactions with the environment by
using ludic learning experiences, which encompassed tactile, hearing and olfactory
senses. Interviews and activities were carried out in which the visually impaired
children could touch living and stuffed animals, smell and hear them, enabling new
experiences of knowledge and senses. The sensitive experience is the best way of
knowledge capture by visually impaired people, so it is through development and
constant sense stimulation that assimilation of objects and spaces will take place. This
environmental education proposal has shown that sensory activities are very important
to mental image construction, approaching them to reality, since they are built through
verbal description, not often too evident for the visually impaired.
Keywords: environmental education; social inclusion; visually impaired; child; ludic;
senses.
INTRODUÇÃO
A proposta dessa pesquisa é unir duas temáticas críticas e atuais, a educação
ambiental e a inclusão social de pessoas com deficiência visual. A primeira aborda a
relação homem-meio ambiente, e possui como objetivo discutir, conscientizar e
promover ações que melhorem a situação ambiental atual. (CARVALHO, 2008). A
crise ambiental é uma realidade de conhecimento geral, e como grandes responsáveis
pelas conseqüências geradas ao meio ambiente, cabe a todos uma contribuição para uma
cabível mudança. Mudanças de atitudes simples possibilitam uma grande contribuição,
é ai que a educação ambiental entra com o seu papel conscientizador. Como dito antes,
cabe a toda sociedade desempenhar o seu papel pelo meio ambiente, portanto isso
também é válido as crianças portadoras de necessidades especiais.
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cedo e de maneira constante, possibilita uma aceitação positiva para ambos, diminuindo
preconceitos e tornando o processo de integração algo comum e natural. A convivência
que permite troca de experiências permitirá uma melhor compreensão da realidade
vivida pelo deficiente visual, ajudando na construção de novos valores. O acolhimento
escolar da criança com deficiência apresentará resultados positivos para todos, mas para
isso toda a escola deve estar preparada para recebê-la. O processo de integração irá
beneficiar o aluno com necessidades especiais no desenvolvimento de várias habilidades
como: motoras, intelectual, emocional, social, no enriquecimento de conhecimento, e
dessa forma a preparando para uma vida adulta repleta de responsabilidades (GIL,
2000).
Como já dito antes, a escola deve estar preparada para receber o aluno com
necessidades educacionais especiais, embora números mostrem o aumento da integração
dessas pessoas em escolas regulares, isso não significa que de fato haja uma integração.
È difícil a adaptação da escola as necessidades, principalmente quando não existe verba
suficiente para isso. Escolas que mal possuem livros didáticos para todos seus alunos,
não irão ter possibilidade alguma para qualquer adequação. Outro fato importante, é que
o aluno portador de deficiência, sempre será a minoria, portanto tais adaptações acabam
ficando como ultima estância. O despreparo do professor é outro grande problema,
principalmente em escolas publicas, além de não possuir condições para o ensino
especializado, ele enfrenta outro problema, o de salas superlotadas. Muitas vezes,
escolas públicas apresentam classes com até quarenta alunos, o que normalmente já
dificulta o controle da classe pelo professor, isso torna impossível com que ele dê a
atenção necessária que o aluno com deficiência necessita. Portanto, por mais que
qualquer escola seja obrigada a receber esse aluno, cabe aos pais primeiramente avaliar
se a escola possui ou não condições para esse tipo de atendimento. A educação especial
em escolas públicas não é impossível, só requer maiores cuidados. A inclusão, não cabe
apenas à escola, mas também a família, vizinhos, colegas, enfim a toda sociedade,
dentro e fora da escola. O deficiente não deve ser tratado como um ser estranho,
diferente, pois ele é uma pessoa que possui limitações e capacidades como qualquer
outra, cabendo a ele também o seu papel na sociedade.
1.3 Histórico do Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros
201
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado com 9 crianças de idades entre 7 a 13 anos, com
deficiências visuais participantes da Associação Sorocabana de Atividades para
Deficientes Visuais (ASAC). Para a obtenção das informações, foram realizadas duas
entrevistas, uma inicial, e uma final que avaliou o desenvolvimento da pesquisa. Além
das entrevistas as crianças também foram avaliadas por meio de observação. Segundo
Ludke e André (2001), a entrevista e a observação são os principais meios de coleta de
dados da pesquisa qualitativa. A entrevista permite rápida coleta das informações
desejadas, e possibilitando maior aprofundamento, exploração, esclarecimentos e
adaptações de informações. Enquanto que a observação é o melhor método para
explorar problemas e deve envolver descrições dos sujeitos, dos diálogos entre sujeito e
pesquisador, do local, dos eventos especiais, das atividades realizadas e do próprio
observador.
A pesquisa foi dividida e desenvolvida em três etapas. A primeira ocorreu na
ASAC, por meio de uma entrevista com cada uma das crianças, que onde se usou
gravação de voz e anotações das respostas. Foi uma entrevista semi-estruturada com 12
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
As entrevistas iniciais apresentaram doze questões que investigaram o
entendimento que as crianças possuíam sobre alguns animais, principalmente sobre
aspectos físicos, mostrando o quanto a deficiência visual limita entendimentos de fácil
assimilação aos não portadores da deficiência. As quatro primeiras perguntas
questionavam qual o animal preferido e porque, o lugar que eles vivem, o que eles
necessitam para sobreviver e a alimentação. O animal mais citado como preferido, foi o
leão, pelo motivo de representar força, braveza e beleza. Outros animais foram
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lembrados, como o pica-pau, elefante, macaco, coleirinha, sendo que muitos desses
animais foram relacionados a personagens de desenhos animados. Poucos deles sabiam
dizer de onde esses animais eram, ou diziam lugares errados, como a criança H de 12
anos, que imaginou que o leão fosse da Amazônia. Como demonstra o trecho da
entrevista logo abaixo:
“E: Qual animal que vive na floresta que você mais gosta? Por quê?
H: Eu gosto do leão, porque ele é legal. Ele é mais forte que todos animais.
E: Em qual lugar do mundo ele vive?
H: Na Amazônia.”
Outras três crianças souberam dizer de onde eram o elefante, o leão e o pica-pau.
Em relação ao necessário para sobrevivência e alimentação, foi possível perceber que
ligavam muito a questão de sobrevivência com a alimentação. Para a maioria deles, a
visão de mundo às vezes fica muito limitada a televisão e aos fatos do dia-dia, pois são
situações de aprendizagem mais fáceis de serem alcançadas. As questões cinco, seis e
sete, foram perguntas para captar a interpretação física dos animais, como ele é ele se
locomove, se é bravo ou manso e como é o filhote dele. Nesse momento foi possível
perceber que de fato as descrições dadas, constituíam características que descreviam a
forma física do animal escolhido, porém essa imagem que elas possuíam, quando
sabiam descrever, era algo construído por meio de descrições passadas a elas e muitas
vezes essa construção de imagem era distorcida. Um exemplo seria a resposta da criança
GB de 7 anos descrita logo abaixo.
“E: Você sabe como ele é e como ele anda?
GB: Ele anda com duas pernas, é alto, gordo e tem um orelhão.
E: Ele é bravo ou manso?
GB: Ele é bonzinho.
E: Como é o filhote dele?
GB: Ele é bem pequenininho.”
Outro exemplo também seria da criança J de 11 anos que descreveu o leão como
grande, gordo e bravo, porque era assim que todos contavam para ela na escola.
“E: Você sabe como ele é e como ele anda?
J: Ele é grande e gordo.
E: Ele é bravo ou manso?
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As últimas cinco questões tiveram o intuito de observar o que eles sabiam sobre
extinção e degradação do meio ambiente. Apenas duas crianças demonstraram saber
alguma espécie ameaçada de extinção, por meio da TV, mas praticamente todas
souberam falar sobre fatores que estão ameaçando o meio ambiente, dizendo que evitam
jogar lixo no chão para ajudar a natureza. Como Exemplo a entrevista da criança L de
10 anos.
“E: Qual outro animal você sabe que está ameaçado de extinção?
L: Lobo-Guará, Arara Azul! Foi o que eu escutei na TV.
E: Você acha que pode fazer algo para ajudar esse animal?
L: Acho que as pessoas poderiam parar de cortar as árvores.
E: Você acha que estão estragando o meio ambiente?
L: Acho, porque as pessoas cortam as árvores, sujam os rios. Você viu no Golfo do
México? Acabou com uma parte do oceano!
E: Você faz alguma coisa para ajudar o meio ambiente?
L: Eu tento não jogar lixo na rua, mas às vezes escapa da minha mão.”
Na atividade realizada com os animais empalhados as crianças puderam tocar as
partes do corpo do bicho, que era evidenciada e explicada. Foi possível perceber a
euforia e curiosidade deles diante da experiência, sendo que o animal que despertou
maior interesse foi o jacaré. As crianças ficaram impressionadas com o tamanho do
animal, garras e dentes. A maioria dos animais pelo qual as crianças demonstraram
maior curiosidade são os de grande porte e selvagens, como o leão e o jacaré, ou seja,
aqueles com o qual a possibilidade de contato é muito mais difícil.
No passeio ao Zoo, elas puderam ouvir os sons dos animais e as que possuem
baixa visão, até mesmo conseguiram visualizar alguns animais, mesmo que desfocados,
ou apenas vultos, elas conseguiram distinguir formatos e cores. Puderam entrar também
em contato com outros animais empalhados como o tamanduá bandeira, com o qual as
crianças se espantaram com o tamanho do rabo, e ainda com animais vivos, como
gambá, cobra e aranha, os quais eles puderam tocar ou ver muito de perto. As crianças
estavam muito ansiosas para a visita ao Zoológico, pois muitas delas não conheciam o
Parque. Quando perguntada a criança G de 12 anos, se ela conhecia e gostava de ir ao
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Zoo, ele disse que já havia ido, mas que o passeio não apresentava muitas experiências
sensitivas, pois além do cheiro forte, era difícil escutar os sons dos animais, já que é
algo que depende da vontade própria do animal. Ao chegar ao Zoo algumas crianças,
principalmente as que nunca haviam estado lá, estranharam o cheiro forte do ambiente e
ficaram um pouco assustadas com o barulho. Começamos a visita pela área dos
primatas e aves pantaneiras, haviam diversos sons misturados e os quais elas nunca
haviam escutado, assim como a peculiar vocalização do Bugio, um ”ronco” bastante
alto e grave, que naturalmente assusta qualquer pessoa despreparada para escutá-lo. A
visita ao Zoológico com certeza proporcionou uma grande e diferente experiência para
as crianças e com certeza para o pesquisador. Foi impossível não passar a observar o
despreparo existente em diversos locais (públicos e não públicos) da cidade, para
receber o portador de deficiência. No Zoológico foi possível perceber o interesse que as
crianças tinham em aprender mais sobre animal ali presente. Algumas crianças com
baixa visão conseguiram, apenas quando muito próximas das placas informativas, lê-las,
mas nem sempre as mesmas estavam disponibilizadas de maneira acessível, havendo
então, necessidade de que alguém as lesse para elas. Por esse motivo é importante que
esses ambientes proporcionem acessibilidade para pessoas com deficiências, como
placas escritas em braile, rampas e diversas outras possibilidades.
Por fim, foi realizada a ultima entrevista, baseada na entrevista inicial, porém
adaptada de acordo com o decorrer das respostas dadas pelas crianças, que tiveram o
intuito de investigar o que o trabalho influenciou no aprendizado deles. Eram questões
que perguntavam o que elas haviam gostado mais das atividades, o que haviam
aprendido, e acharam interessante, descrições de animais, se passaram a praticar outras
atividades de ajuda ao meio ambiente, entre outras. Ao avaliar as respostas dadas por
elas, foi possível concluir que a sensação tátil é a que mais traz oportunidades de
aprendizagem aos deficientes visuais, em relação a formas e espaços físicos. Uma
descrição que demonstra claramente isso foi a da criança G de 13 anos apresentada logo
abaixo:
“ Gostei muito de ver os animais, no zoológico eu vi o avestruz, o elefante ,o jacaré...
Lá eu consegui escutar alguns sons, mas na hora que eu peguei nos animais foi mais
fácil de entender. Achei interessante, peguei no avestruz, sempre ouvi falar que tinha
perto de casa, mas eu não sabia como ele era. Sei que ele é grande, tem uma pata
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enorme, uma cabeçona e penas. Gostei do jacaré também, achei legal, nunca tinha
visto um. Ele é grandão sem dúvida, tem uma boca enorme com dentes afiados, a pele é
dura, grossa e um rabo bem grande.”
As descrições podem auxiliar, porém, não torna tão concreta e próxima da
realidade a imagem daquilo que se descreve. A falta ou diminuição considerável da
visão compromete a compreensão e percepção do mundo externo, deixando um tanto
limitada a captação de informações que chegam, fazendo com que elas criem
imaginações abstratas. Por isso é importante procurar estabelecer relações táteis,
auditivas e olfativas para tentar construir experiências de aprendizagens mais próximas
da realidade.
Lidar com deficientes visuais, não é uma tarefa fácil, principalmente quando se
tratam de crianças, as quais se encontram no processo de formação pessoal. Elas
apresentam muitas dúvidas, aparentemente bobas, como, por exemplo, saber o que é um
morcego, um mamífero, por que alguns animais comem vegetais e outros carne. Esses
são apenas alguns exemplos de questionamentos levantados durante as atividades,
algumas tão bobas, que pegaram o pesquisador desprevenido. Contudo, se pararmos
para pensar, percebemos que para quem não enxerga, palavras e descrições muitas vezes
não fazem o menor sentido. As descrições realizadas devem ser feitas com mínimos
detalhes e de forma muito simples. Embora o pesquisador tivesse maior conhecimento
da informação a ser passada, por muitas vezes as pessoas já habituadas às crianças
conseguiam transmiti-las de maneira mais rápida e clara, usando uma linguagem mais
adequada para o nível de percepção da criança. É preciso tempo de convivência para
aprender a lidar com eles, pois cada um possui dificuldades e personalidades diferentes.
A deficiência visual não impede a construção de conhecimentos e fatos, mas as
limitam, mesmo com a ajuda de diversos fatores, principalmente quando se trata de uma
cegueira congênita ou total. É importante que o deficiente visual esteja sempre
acrescentando novas vivências, como o manuseio de novos objetos e saídas a locais
diferentes aos habituais, que proporcionem experiências válidas para novos
aprendizados. A integração de deficientes visuais em projetos de educação ambiental
pode determinar uma grande fonte de aprendizagem, socialização e capacitação desses
indivíduos.
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REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO SOROCABANA DE ATIVIDADES PARA DEFICIENTES
VISUAIS. Sorocaba. 2010. Disponível em: < www.asac.org.br >. Acesso em: 24
maio 2010.
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Meio Ambiente e Saúde. Brasília, DF, 1997. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf >. Acesso em: 25 mar.
2010.
3. CARVALHO, Isabel Cristina M. de. Educação Ambiental no Brasil. A Educação
Ambiental no Brasil. Rio de Janeiro, Boletim 01. Ministério da Educação. Secretaria
de Educação a Distância. 2008. Disponível em: <
www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/.../164816Educambiental-br.pdf >. Acesso em: 25
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4. GIL, Marta (Org). Caderno da TV Escola: Deficiência Visual. Brasília. Ministério
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<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000344.pdf >. Acesso em:
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11. SÁ, Elizabet D. C. de; CAMPOS, Izilda Maria; SILVA, Myriam Beatriz. C.
Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual. Brasília. DF: SEESP/
SEED/ MEC, 2007. Disponivel em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf>. Acesso em: 26 mar.
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