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1. CONCEITO
Infecção – colonização por agentes infecciosos, com invasão tecidual – de qualquer parte do trato
urinário – da uretra ao parênquima renal.
Uma das principais causas de consulta em clínica médica
2. EPIDEMIOLOGIA
▪ Acomete crianças, mulheres jovens e idosos
o Crianças possuem maior risco de lesões graves → 1 a 2% em RN, predominando em ♂
o Entre 5 e 18 anos: 1,2% → O percentual aumenta com sexualidade ativa e gestação
o Incidência maior em ♀ adultas
▪ Variam de bacteriúria assintomática até quadros graves
3. CLASSIFICAÇÃO
❖ Localização
▪ ITU baixa ou cistite → Trato urinário abaixo dos ureteres
Obs. Cistite costuma ser utilizada para definir um diagnóstico sindrômico que cursa com sintomas típicos de
disúria e polaciúria.
Obs. Pielonefrite cursa com febre alta + calafrios + queda do estado geral + dor lombar + leucocitose com
desvio à esquerda → Grave e possivelmente fatal
❖ Clínica
▪ Infecção aguda sintomática ▪ Infecção aguda recorrente
▪ Infecção aguda assintomática
❖ Evolução ❖ Prognóstico
▪ Aguda ▪ Complicada
▪ Crônica ▪ Não complicada
❖ Conceitos importantes
▪ Infecção de repetição → 3 ou mais episódios por ano ou 2 episódios em 6 meses
▪ Infecção recorrente → 3-5 vezes ao ano
▪ Reinfecção → Recorrência com uma bactéria diferente
4. VIAS DE INFECÇÃO
A base da patogênese é a interação entre a bactéria infectante e as características do epitélio
urinário. O agente infecioso pode atingir o trato urinário por:
➢ Via ascendente → Mais comum
➢ Via hematogênica → O parênquima renal pode ser invadido durante episódio de bacteremia, e
os principais agentes são Stapylococcus aureus, Candida sp., oriundos de foco infeccioso à
distância
➢ Via linfática → Existem conexões linfáticas entre ureteres e rins, de forma que o fluxo de linfa
se dirige à pelve renal, na vigência de aumento da pressão intravesical (Ex. HPB)
➢ Inoculação direta por fístula vesicoenteral → Bacteriúria por germes anaeróbios
o Esses germes também podem ser encontrados nos pacientes que tiveram o trato urinário
reconstruído com segmentos intestinais (Ex. neobexiga pós-cistectomia)
5. FATORES PREDISPONENTES
▪ Obstrução urinária → Estenose de uretra, tumor de próstata
▪ Instrumentação → Sonda vesical
MEDCURSO: Presença de corpos estranhos → Muitas bactérias são capazes de formar biofilmes através da
secreção de uma camada de polissacarídeos que reveste corpos estranhos (Ex. cateter vesical de demora,
cálculos), e isso se tornam um problema quando passam a viver “dentro” dos biofilmes, pois escapam das
defesas do hospedeiro e do alcance dos antibióticos
Obs. Na ♀, uretra curta, fatores hormonais. No ♂, condições patológicas, como obstrução (cálculo), HPB
6. ETIOLOGIA
❖ Bactérias gram negativas
▪ Escherichia coli → Sorotipos 01, 04, 06, 08 e 075 (Depende da virulência da cepa)
▪ Klebsiella pneumoniae ▪ Acinetobacter
▪ Enterobacter aerogenes ▪ Serratia marcescens
▪ Proteus mirabilis ▪ Enterococcus sp.
▪ Pseudomonas aeruginosa
Medcurso: Independente de ser ITU esporádica não complicada (sem história de cálculo, alteração anatomofuncional
ou manipulação neurológica) ou complicada (com algum dos fatores citados), a principal etiologia é E. coli, tanto para
cistite quanto para principalmente pielonefrite.
Obs. 1 Nefrolitíase aumenta chance de ITU por Proteus ou Klebsiella (elas predispõem formação de cálculo).
Obs. 2 Pode ser causada por fungos (Candida sp. em diabéticos e usuários de ATB de amplo espectro) e vírus.
7. PATOGÊNESE
➢ Via ascendente
▪ Pela continuidade do trato urinário da uretra até a pelve renal, enterobactérias G-
(causadoras da maioria das ITUs) provenientes do intestino podem encontrar espaço para
colonização em condições que predispõem a perda da microbiota normal composta por
comensais como Diphteroides, Streptococcus, Staphylococcus, Lactobacillus
→ O trato urinário alto é estéril
▪ Para causar pielonefrite, as bactérias precisam ser capazes de aderir ao epitélio urinário
(fímbrias) e subir até os rins por conta própria ou atingi-los na ocorrência de refluxo
vesicureteral
Colonização do períneo > Introito vaginal ou prepúcio > Uretra distal > Ascensão para bexiga
❖ Manifestações clínicas
➢ Sintomas inespecíficos → Insônia, perda de peso, vômitos, diarreia, irritabilidade, febre, perda
de apetite
❖ Exames laboratoriais
▪ Sumário de urina
o Urina turva, cor amarela intensa, cheiro fétido
o pH básico
o Densidade normal ou elevada
o Presença de sangue → Hematúria micro ou macroscópica, especialmente em cistite
o Nitrito positivo → G- entéricos, exceto Pseudomonas, possuem enzima que transforma
nitrato em nitrito
o Leucócitos, piócitos → ≥ 10 piócitos/campo | Tem baixa acurácia, mas também é possível
avaliar sua existência pela presença da enzima esterase leucocitária na urina
o Cristais
o Hemácias
o Bactérias
o Cilindros piocitários são quase patognômonicos, quando quadro clínico típico de
pielonefrite aguda
❖ Exames de imagem
▪ Urografia excretora → Detalha aspectos morfológicos da pelve e do ureter, mas não é mais
tão utilizado
▪ Uretrocistografia → Quantifica o grau de refluxo
▪ USG das vias urinárias → Avalia rim e bexiga e pode identificar hidronefrose, litíase, abscesso
renal
▪ TC do trato urinário
▪ Cintigrafia → Mapeamento renal com radioisótopo para o diagnóstico de cicatrizes renais
▪ Uretrocistoscopia → Infecção recorrente
9. COMPLICAÇÕES
❖ ITU baixa
▪ Refratariedade dos sintomas
▪ Recorrência dos sintomas
▪ Cistite enfisematosa → Complicação rara, típica dos diabéticos, levando à formação de gás
na parede da bexiga por G- entéricos, como E. coli
10. TRATAMENTO
A terapêutica bem-sucedida depende do diagnóstico clínico-bacteriológico, da escolha do agente
antimicrobiano adequado, usado por período adequado, além do acompanhamento do paciente.
➢ Cistite intersticial (bexiga dolorosa) → Síndrome multifatorial (em que componentes neural, imune e
endócrino apresentam um papel na ativação de células MAST – células que desencadeiam resposta
inflamatória) que se manifesta por dor pélvica crônica e aumento da frequência urinária que ocorrem na
ausência de qualquer etiologia conhecida. As opções terapêuticas são:
▪ Hidrodistensão
▪ Restrições alimentares (cafeína, álcool, alimentos ácidos)
▪ Medicamentos → Antidepressivos tricíclicos, anti-histamínicos, pentosanpolisulfato de sódio –
análogo da heparina, analgésicos)
▪ Tratamento com drogas por instilação no interior da bexiga → DMSO, ácido hialurônico, BCG,
oxibutinina, capsaicina, resinaferatoxina)
▪ Tratamento cirúrgico
➢ Cistite recorrente
▪ Aumentar ingestão de líquidos
▪ Urinar em intervalos de 2 a 3 horas
▪ Urinar sempre antes de deitar ou após o coito
▪ Evitar uso de diafragma ou preservativos associados à espermicida, pois alteram o pH vaginal
▪ Evitar banhos de espumas ou aditivos químicos no banho, que modificam microbiota vaginal
▪ Aplicação vaginal de estrógeno em mulheres pós-menopausadas
As cistites infecciosas apresentam bom prognóstico, enquanto a repetição requer conduta especial
principalmente em ♀, pois, na maioria das vezes, não se encontra causa evidente.
Rapaz, 17 anos, lombalgia unilateral, hematúria, sensibilidade da região lombar até a uretra, a
primeira vez que aconteceu. Exame de urina: leucócitos, bactérias, hemácias, oxalatos
▪ TC solicitada: Rim parcialmente obstruído com litíase + infecção urinária
▪ Levofloxacino 500mg 12/12h por 7-14 dias e tratar com sintomáticos
▪ Controle de infecção: urocultura, análise da função renal (ureia, creatinina), presença de
cálculo (investigar as causas → citrato)
Mulher jovem, ITU com frequência urinária aumentada, tratou anteriormente com antibióticos,
mesma bactéria → ITU recorrente
▪ Tratar ITU atual e fazer profilaxia e prevenção
▪ Norfloxacino 400mg 12/12h por 14 dias, pede antes a urocultura e durante o controle
▪ Após os 14 dias, escolher antibiótico para usar durante 6 meses à noite
(macrodantina/nitrofurantoína)
▪ Controle mensal → Se houver reinfecção, devemos nos orientar pela nova urocultura e fazer
a profilaxia (Lactobacilos, cápsula de cranberry) e a prevenção (urinar com frequência,
tomar bastante água, não usar roupas apertadas, trocar com frequência o absorvente, evitar
alimentos que tenham muito sal, artificiais; não tomar refrigerantes; hidratar-se antes das
relações sexuais e fazer boa higiene; evitar ter ao mesmo tempo relação anal e vaginal, sem
assepsia