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DEMOCRACIA E PODER LEGISLATIVO

ESSA TÃO FALADA DEMOCRACIA...1


CRISTIANE BRUM BERNARDES
MARIA ALICE GOMES DE OLIVEIRA
RAQUEL BRAGA RODRIGUES

INTRODUÇÃO
Muitas formas de governo já foram tentadas, e muitas outras serão
nesse mundo de pecado e desgraça. Ninguém acredita que a democracia
é perfeita ou sem defeitos. De fato, já foi dito que a democracia é o pior
regime de governo, exceto todas aquelas outras formas que já foram
tentadas ao longo dos tempos.2
Sir Winston Leonard Spencer Churchill (1874-1965). Discurso proferido na House of
Commons (Casa dos Comuns) em 11 de novembro de 1947.

Fonte: Winston S. Churchill: His Complete Speeches, 1897–1963, ed. Robert Rhodes
James, vol. 7, p. 7566 (1974).

Mais informações em: https://richardlangworth.com/worst-form-of-government

A frase de Churchill, proferida poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, resume
um pensamento que se tornou hegemônico no Ocidente nas últimas quatro décadas: a
democracia é o melhor regime político à disposição das sociedades contemporâneas.

Mas o que é a democracia?

O que significa essa forma de organização social e política em um país com as enormes
contradições e diferenças que tem o Brasil?

E qual é o papel do Legislativo no jogo democrático?

Essas perguntas são essenciais para que possamos refletir sobre o significado de
democracia e, a partir dessa reflexão, tenhamos condições de definir o que é a Educação
para a Democracia e como ela pode ser desenvolvida nas nossas escolas.

Sabemos que a Educação para a Democracia ocorre em variados espaços sociais e não se
restringe, portanto, ao ambiente escolar. Contudo, não há como negar a importância da
escola nesse processo.

A discussão desse tema na Câmara dos Deputados tem como objetivo nos fazer refletir,

1
Parte integrante da disciplina EDUCAÇÃO PARA A DEMOCRACIA E O PARLAMENTO, do Programa Missão Pedagógica,
promovido pelo Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados. Brasília,
março/2017.
2
Tradução para o original: “Many forms of Government have been tried, and will be tried in this world of sin and woe. No
one pretends that democracy is perfect or all-wise. Indeed, it has been said that democracy is the worst form of Govern-
ment except all those other forms that have been tried from time to time.”

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na qualidade de educadores, sobre como esse desenvolvimento ocorre na sociedade e,


principalmente, sobre o que a escola e as demais instituições políticas têm a ver com tudo isso.

Este é o nosso desafio. Vamos juntos, juntas?

Essa tão falada democracia


“Eram quase quatro horas da tarde quando o sinal para o intervalo
tocou. Meninos e meninas saíram correndo para o pátio, como sempre
acontecia. Alvoroço, risadas, suor e, por vezes, esbarrões e empurrões. Já
nós fomos para a sala dos professores, como também era de costume,
mas hoje tínhamos aquela reunião com a direção. Estava tensa, pois fui
eu quem teve a ideia. No meio de uma discussão acalorada entre alguns
colegas, gritei: ‘pessoal, isso não pode ser decidido assim, tem que estar
todo mundo e a direção’. Então, agora, estavam todos (ou quase todos) lá
e algo me dizia que teria de ser a primeira a falar. Mal comecei, um colega
me interrompeu: ‘vamos parar com esse blá, blá, blá, e vamos logo votar.
O que a maioria decidir, está decidido’. ‘É verdade, não estamos num país
democrático?’, disse a diretora. E, assim, lá fomos nós votar. A apuração
dos votos terminou assim que o sinal tocou novamente. Era hora de voltar
para sala de aula. No caminho, cruzei com o João e ele me olhou daquele
jeito que nem sei explicar. Explicar? Meu coração estava acelerado, como
eu explicaria para aquele menino o que tinha sido decidido por nós na
reunião?”

A democracia é uma palavra muito presente em nossas vidas. De uma maneira ou de


outra, aparece ora como valor, ora como ideal, como fundamento ou como justificativa
para nossas práticas políticas.

Em geral, é difícil alguém se posicionar abertamente contra a democracia. Mas quantos


de nós realmente compreendemos seu significado ou estamos dispostos a agir de acordo
com esse valor dito tão importante?

Vamos, então, nos deter um pouco sobre o relato apresentado. A professora nos traz
uma situação em que o grupo de educadores e a direção tentam resolver um conflito de
maneira coletiva. Você já vivenciou situações semelhantes em sua escola?

Podemos pensar em algumas questões a partir do relato:

• Qual foi a solução adotada pelo seu grupo?


• Em que medida a solução encontrada no relato foi democrática?
• O que garante a democracia são os procedimentos adotados pelo grupo para chegar à
decisão ou o resultado da decisão em si?
• É possível que um processo democrático leve a um resultado não democrático?

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• De acordo com o relato, todos os


que estavam sendo afetados pelo //SAIBAMAIS

problema puderam contribuir para a Um importante teórico da democracia,


busca da solução? Robert Dahl, escreveu uma frase bastante
curiosa: “A democracia, de vez em
A votação foi considerada a melhor quando, é discutida há 2.500 anos”. Essa
afirmação demonstra o quanto o processo
maneira de se chegar a uma decisão de construção do que entendemos hoje
rápida e eficiente para todos. A decisão por democracia não foi linear, gradual e
contínuo. Desde a experiência grega até os
da maioria por meio da votação é dias de hoje, seguindo o pensamento desse
suficiente para garantir que o processo autor, podemos dizer que a democracia teve
significados distintos em diferentes épocas e
de tomada de decisão seja democrático? lugares.
Foi possível aos membros do grupo Uma das inspirações para o que entendemos
formar uma opinião consciente e hoje por democracia encontra sua origem
nos gregos antigos, particularmente nos
baseada em valores democráticos?
gregos atenienses. Em Atenas, os cidadãos
se reuniam em assembleias para deliberar
Podemos observar ainda o quanto a sobre os assuntos públicos. A assembleia
questão enfrentada pelo grupo envolveu escolhia alguns funcionários, mas, para
a maioria das funções, o sorteio entre
sentimentos e emoções. A professora os cidadãos era a técnica principal. O
fala em “discussão acalorada”, “tensão”, pressuposto era que todos os cidadãos eram
iguais e capazes de exercer funções públicas.
“olhares”. O debate e a busca do consenso eram as
estratégias mais valorizadas. No entanto, o
Por outro lado, “como sempre” os status de cidadão era algo muito restrito,
alunos iam para o pátio, “como sempre” e nessa categoria social não estavam
incluídas mulheres, estrangeiros e crianças,
os professores iam para a sala dos por exemplo.
professores, enfim, o cotidiano seguia Assim, a origem da palavra democracia
seu curso rotineiro. E, nessa rotina, vem do grego “demos” - povo e “krato” -
governar. Daí: “governo do povo”, no qual
como encontrar tempo, disposição, os pressupostos básicos são que todos
motivação e clareza para exercemos os cidadãos são iguais e participam das
decisões sobre o que é público.
nossa cidadania por meio do processo
democrático? Como desenvolver um A questão que permanece até hoje, contudo, é
quem pode ser considerado “cidadão” em cada
debate produtivo com os demais sociedade.
envolvidos e criar um consenso entre
A perspectiva de Dahl, contudo, não é a única,
os diferentes pontos de vista sobre um Para o teórico realista Joseph Schumpeter, a
mesmo problema? Como criar soluções democracia consiste num “método político,
ou seja, um certo tipo de arranjo institucional
possíveis de serem aplicadas a cada para se alcançarem decisões políticas –
situação específica? legislativas e administrativas-, e portanto
não pode ser um fim em si mesma, não
importando as decisões que produza sob
condições históricas dadas” (1984, p.304).
Segundo Schumpeter, a livre competição
entre as forças políticas ou partidos pelo
voto livre dos cidadãos é o que caracteriza
os regimes democráticos contemporâneos.

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O QUE É A DEMOCRACIA?
A Constituição Federal de 1988, além de definir a democracia como forma de governo,
também explicita que ela será exercida nas formas representativa e direta. Porém, qual é
a diferença entre os dois tipos?

A democracia direta é aquela na qual todos os cidadãos decidem sobre a condução dos
assuntos públicos. Quando pensamos em países formados por milhares de cidadãos, as
possibilidades de efetivação de um modelo democrático prioritariamente direto tornam-
se pouco prováveis. No entanto, nossa Constituição garante a presença de ferramentas
para decisões diretas, tais como plebiscito, referendo e projetos de lei de iniciativa popular
(embora nenhum deles possa ser implementado de forma fácil).

Já a democracia representativa é o modelo mais conhecido entre nós. É aquela na qual


os representantes são eleitos diretamente ou indiretamente pela população e se tornam
responsáveis pela condução do Estado e pela implementação de políticas públicas.

Vários autores discorrem sobre o que garante a legitimidade democrática do processo


de representação política. Dahl (2009) argumenta que, num plano ideal, um processo
democrático, em pequena escala (uma associação de bairro, por exemplo) ou em grande
escala (um país), deveria propiciar condições para as seguintes oportunidades:

• Participação efetiva - todos os membros devem ter oportunidades iguais e


efetivas para fazer os outros conhecerem suas opiniões;
• Igualdade de voto - todos os membros devem ter oportunidades iguais e efetivas
de voto, e os votos devem ser contados como iguais;
• Entendimento esclarecido - os membros devem ter oportunidades iguais e
efetivas de aprender sobre as alternativas possíveis e suas consequências;
• Controle sobre o programa de planejamento - os membros devem ter controle
sobre o que será feito e possibilidade de corrigir seu curso;
• Inclusão de todos os adultos - todos os membros devem poder participar da decisão.
Quando tentamos aplicar esses critérios a situações concretas, percebemos que, no caso
de grandes populações, eles continuam a ser vistos como metas ideais, mesmo que não
possam ser plenamente atingidas. Ainda pensando em democracias de grande escala,
Dahl (2009) aponta algumas instituições políticas que seriam necessárias para que um país
pudesse ser considerado democrático. Seriam elas:

• Funcionários (no sentido de agentes políticos) eleitos - o controle do governo é


exercido constitucionalmente por agentes eleitos pelos próprios cidadãos;
• Eleições livres, justas e frequentes - eleições que ocorram sem coerção e de
maneira periódica;

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• Liberdade de expressão - os cidadãos têm o direito de manifestar suas opiniões


livremente, incluindo críticas ao governo;
• Fontes de informação diversificadas - os cidadãos têm acesso a fontes diversas e
independentes de informação;
• Autonomia para associações - os cidadãos têm o direito de se associarem em
organizações, partidos políticos e grupos de interesse;
• Cidadania inclusiva - todos os adultos que residem permanentemente no país e
sujeitos às suas leis têm o direito de participar das outras cinco instituições descritas.
Outra maneira interessante de abordar a questão das condições necessárias para a
democracia representativa é desenvolvida por Anastasia e Inácio (2009). Para esses
autores, a democracia representativa necessita de algumas condições para ocorrer de
maneira satisfatória, e tais condições, em parte, dizem respeito à maneira como se dá a
interação entre representantes e representados. Seriam as seguintes condições:

• Formulação e respeito a regras de escolha que devem ser preestabelecidas, fixas


e conhecidas, e a atuação dos representantes. Nesse jogo, não é válido mudar as
regras no meio da partida ou serem elas conhecidas só por uma parte dos jogadores;
• É preciso que existam canais e mecanismos de funcionamento institucionalizados
e permanentes para que a sociedade expresse suas demandas e necessidades;
• A sociedade precisa ter acesso a recursos e informações que lhe permitam
compreender, acompanhar e fiscalizar os atos dos agentes públicos;
• Tanto os representantes quanto os representados necessitam ter oportunidades
e recursos para o adequado exercício de seus papéis na democracia.

CRÍTICAS AO MODELO REPRESENTATIVO


Apesar de todos esses critérios indicados pelos teóricos, a forma como o modelo
representativo de democracia funciona em vários lugares do mundo tem recebido muitas
críticas. As principais são as seguintes:

• Há uma grande distância entre a população e seus representantes eleitos;


• Significativa parcela da sociedade não se sente realmente representada, pois não
confia em seus representantes;
• O Estado tem enfrentado dificuldades para implementar políticas públicas que
garantam o bem estar da população;
• A participação política de grande parte da população é reduzida ao ato de votar.
• Pesquisas realizadas em muitos países observaram baixo conhecimento político
e apatia social com parcelas significativas da população desconhecendo ou com

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dificuldades para entender o funcionamento do governo. Por outro lado, nos


últimos anos, temos visto várias manifestações políticas em diversos países.

Frente a essas dificuldades da democracia representativa, uma questão que surge é a


necessidade de articulação entre o sistema representativo e uma participação intensa da
sociedade, assim como a criação de mecanismos de tomada de decisão em que os valores
democráticos estejam mais presentes.

No Brasil, já temos algumas experiências nesse sentido, tanto na esfera do poder


Executivo quanto na do Legislativo. Na esfera do Executivo, temos, como exemplo, as
experiências de orçamento participativo e dos conselhos consultivos e/ou deliberativos
com a participação da sociedade, além das conferências temáticas, que mobilizam a
população nos âmbitos municipais, estaduais e nacional.

Na esfera do Legislativo, observamos várias tentativas de aproximar o parlamento da


sociedade por meio da realização de audiências públicas e seminários para debater
matérias a serem votadas, constituição de Comissões de Legislação Participativa, além
de consultas e utilização de ferramentas digitais para contato e debate de temas em
discussão no Parlamento.

Do ponto de vista da sociedade, também observamos organizações sem fins


lucrativos, associações e movimentos sociais que atuam no sentido de acompanhar o
desenvolvimento das políticas públicas e a ação dos representantes para garantia de
direitos e também para conquista de maior transparência nas ações públicas.

Dessa forma, surgem os conceitos de democracia participativa – aquela na qual


os cidadãos participam de etapas do processo decisório - e, ainda, de democracia
deliberativa – aquela na qual as decisões seriam tomadas pelos cidadãos reunidos em
fóruns deliberativos. Mesmo que não existam em suas formas definidas pelos teóricos,
tais estratégias conformam o desenho de várias instituições já em funcionamento nos
regimes democráticos, tais como os fóruns, conselhos e orçamento participativo conforme
conhecemos no Brasil.

A ideia por trás desses conceitos e críticas é de que a qualidade do regime democrático
não será assegurada apenas pela participação eleitoral dos cidadãos, conforme
previa Schumpeter. Para que a democracia funcione plenamente nas sociedades
contemporâneas, é preciso que haja um processo contínuo de contato ou comunicação
entre os representantes eleitos e os representados (eleitores).

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DEMOCRACIA E PODER LEGISLATIVO

Em outras palavras, os
representantes precisam //SAIBAMAIS
rearticular a interação com
Vários pensadores começam a tratar de formas
os representados em vários deliberativas e participativas o conceito de
democracia. Habermas (1997), por exemplo,
momentos durante o mandato
propõe um modelo de democracia deliberativa
para que as decisões sejam no qual o processo de decisão do governo seja
realmente compartilhadas com sustentado pela deliberação dos indivíduos
em fóruns amplos de debates e de negociação.
os eleitores. E isso pode ser feito Essa deliberação não resultaria apenas da
a partir da consideração dos expressão e posterior agregação das vontades
fixas e individuais de cada cidadão, mas de um
movimentos de opinião pública processo de comunicação e debate em espaços
e da liberdade de expressão públicos que auxiliaria até a construção das
próprias vontades dos indivíduos. Segundo esse
para todos os cidadãos. Essa é a modelo, a deliberação representa um avanço no
definição de democracia Circular sentido de fundamentar os ideais democráticos.

de Nadia Urbinati (2013).

CONCEITO DE DEMOCRACIA PARA O PNUD


Para ampliarmos nossa compreensão sobre o conceito de democracia, é útil analisar a
definição do relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
intitulado “Democracia na América Latina: rumo a uma cidadania de cidadãs e cidadãos”.
A tese desse relatório é que o “sujeito da democracia não é apenas aquele que vota, é o
cidadão”.

Desta forma, a definição de democracia apresentada no relatório é a seguinte:

“Governo do povo significa, então, um estado de cidadãos plenos. Uma forma, sem dúvida,
de eleger as autoridades, mas, além disso, uma forma de organização que garante os
direitos de todos: os direitos civis (garantias contra a opressão), os direitos políticos (tomar
parte nas decisões públicas ou coletivas) e os direitos sociais (acesso ao bem-estar). É a
democracia da cidadania.”

A democracia está, assim, baseada em:

“A democracia encontra seu fundamento filosófico e normativo em


uma concepção do ser humano como sujeito portador de direitos.
Uma concepção de
Nela se distingue a ideia do ser humano como ser autônomo, razoável,
ser humano
e responsável. Essa concepção subjaz a toda e qualquer noção de
cidadania, inclusiva à de cidadania política”.

“A democracia é uma forma de organização da sociedade que garante o


exercício e promove a expansão da cidadania, estabelece regras para as
Uma forma de organização
relações políticas e para a organização e o exercício do poder que são
da sociedade
coerentes com a já mencionada concepção do ser humano(...) Implica a
existência e o bom funcionamento do Estado”

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“Implica uma cidadania integral, isto é, o pleno reconhecimento da


Na cidadania integral
cidadania política, da cidadania civil e da cidadania social.”

“As eleições livres, competitivas e institucionalizadas e as regras e


procedimentos para a formação e o exercício do governo (...) são
Um sistema eleitoral
componentes essenciais da democracia e constituem sua esfera básica.
(sem que se esgote nele)
No entanto, no que se refere aos seus alicerces e a suas possibilidades
de realização, a democracia não se esgota nessa esfera.”

Nessa perspectiva, os conceitos de democracia e de cidadania são completamente


interligados. A democracia é vista como a forma pela qual a cidadania será plenamente
desenvolvida. E o cidadão não é só aquele que vota, mas também aquele que participa,
luta pelos seus direitos, cumpre seus deveres e está inserido na vida da comunidade e nas
decisões que afetam a todos.

Embora a democracia como um regime eleitoral, conforme defende Schumpeter, seja


muito importante, ela é mais que isso. Nesse sentido, apatia, falta de envolvimento,
pobreza e miséria não combinam com democracia, pois dificultam ou impedem a
participação política.

E, quando pensamos a democracia cidadã, é preciso ressaltar a dimensão dos valores que
sustentam o ideal democrático que, desde a Revolução Francesa, foram sintetizados em
igualdade, liberdade e fraternidade.

Em uma perspectiva mais atual, fala-se no conceito de equidade em substituição ao


de igualdade, pois, se todos forem concebidos como iguais, estaremos contradizendo
o princípio da liberdade,
que permite a possibilidade
de sermos diferentes e de
pensarmos de maneira diferente.

Assim, “ao mesmo tempo em


que a igualdade de direitos e
deveres deve ser objetivada nas
instituições democráticas, não se
deve perder de vista o direito e o
respeito à diversidade” (ARAÚJO,
2000).

Em relação aos valores democráticos, é importante mencionar ainda a crescente


preocupação com a preservação integral dos direitos humanos. Por fim, também
podemos destacar o respeito à vontade da maioria, mas sem perder de vista os direitos
das minorias. Esse conjunto de valores é também fundamental para o entendimento da
democracia.

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Podemos concluir que a democracia é um ideal e um instrumento, são valores e práticas, é


um modo de organização do Estado e também da sociedade.

No entanto, também percebemos que há um longo caminho a percorrer para que a


concepção de democracia cidadã seja materializada e para que nossa vida política venha a
ser um instrumento para isso.

DEMOCRACIA IDEAL X REAL: TENSÕES ENTRE LOCAL X GLOBAL,


REPRESENTAÇÃO X PARTICIPAÇÃO

Como vimos, entre o ideal apontado por estudiosos e instituições e a realidade social das
sociedades contemporâneas há uma grande distância.

Há alguns anos, presenciamos revoltas e intensas manifestações sociais contra regimes


políticos, autoritários ou não. Primavera Árabe (2011), Occupy Wall Street (2011),
Jornadas de Junho no Brasil (2013), Revoltas na Ucrânia (2014), ocupações de escolas
e universidades brasileiras (2015 e 2016) são apenas alguns dos exemplos da onda de
protestos que atingiu a todos os continentes nos últimos cinco anos.

Porém, algumas dúvidas permanecem a crise econômica de 2008, os cidadãos


entre os pesquisadores e nós, cidadãos, que parecem ter se dado conta de que apenas
presenciamos tais movimentos: contra o eleger seus representantes não é suficiente
que protestam os manifestantes? O que eles para assegurar o respeito aos direitos
querem? Quem eles são? E, mais importante, básicos defendidos pelas constituições
como realizar as mudanças propostas por democráticas.
eles?
Cada vez mais, as decisões que afetam
As demandas são muitas e variadas: as vidas das populações são tomadas
redução no preço das passagens em fóruns internacionais e econômicos,
do transporte público, melhorias na sem que os governos nacionais possam
infraestrutura urbana, mudanças no interferir nas formas como empresas
sistema político, fim da corrupção, se organizam para produzir bens e
investimentos em saúde e educação, fim serviços essenciais a todos. A diversidade
da escravidão, distribuição igualitária de social e econômica entre os países e,
lucros do capital financeiro, modificações inclusive, dentro deles, é desconsiderada
nos sistemas eleitorais, entre outras. nas decisões das políticas monetárias
Em geral, os manifestantes são jovens, que afetam as populações de todos os
desencantados com as elites políticas e os países. Minorias – e seus direitos - são
governantes. desrespeitadas e não veem suas demandas
incluídas nos debates sobre os novos
Os protestos realizados mundo afora
rumos políticos e econômicos dessas
mostram os limites da democracia
nações.
representativa. Em vários países, após

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Os limites dos regimes políticos são chamados de DÉFICITS DEMOCRÁTICOS por vários
autores, e estes podem ser de três tipos:

1. Participativo: ausência da sociedade civil nos debates relativos à integração e


globalização;
2. Representativo: marginalização dos parlamentos nacionais nas tomadas de decisão;
3. Distributivo: limite no impacto supranacional das decisões tomadas pelos
governos nacionais.
O conceito de Participação Política surge, portanto, como uma sugestão de vários teóricos
e políticos para enfrentar e diminuir as deficiências do sistema representativo. Segundo
Almeida (2012), a participação tem um valor essencial para aperfeiçoar os sistemas
políticos, pois incorpora as vozes das minorias sociais ao processo.

Já Rabat (2010) acredita que existem contraposições e complementaridades entre os


conceitos de Representação e Participação, conforme determina a própria Constituição
Federal Brasileira de 1988.

As duas noções se aproximam, em primeiro lugar, porque ambas


encontram-se inseridas em um contexto histórico em que dificilmente
o poder político se pode legitimar sem recurso à ideia de autogoverno
do povo ou da sociedade; o que, em uma situação em que predomina
a separação entre sociedade e estado, significa, entre outras coisas,
que o poder do estado emana da sociedade ou do povo. Por outro
lado, o próprio fato da separação implica na possibilidade prática de
que o poder estatal se exerça com autonomia frente à população ou
à sociedade, daí a importância de se focalizar, também, a noção de
controle social, ou seja, de permanente atenção da sociedade para que
aquela separação não redunde em descolamento entre as decisões
estatais e o interesse social (Rabat, 2010, p.3).

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Dessa forma, plebiscitos e


//SAIBAMAIS
referendos, enquetes, petições
Participação Política e Protestos Globais
eletrônicas e variadas ferramentas
e estratégias são desenvolvidas Almeida (2012) comenta a importância da
participação política para incremento do sistema
em vários países para auxiliar a político nas sociedades contemporâneas:
população a ter voz nas decisões
Sua importância é associada, seja à valorização da
políticas. liberdade individual e à revitalização do governo
representativo, seja aos valores intrínsecos, como
forma de autogoverno, e ao valor instrumental do
engajamento no aperfeiçoamento da accountability
e da sua justiça. Nas últimas décadas, esta última
dimensão da participação como meio de aperfeiçoar
a prestação de contas e a efetividade de agências e
programas governamentais vem ganhando destaque
a partir da defesa da democracia participativa e
da ampliação dos espaços e atores no processo
decisório (Almeida, 2012, p.8).

MAIS INFORMAÇÕES
Primavera Árabe - https://www.youtube.com/
watch?v=KOm-2JhmbnI
Documentário Mídia Ninja: http://www.youtube.
com/watch?v=5yjvo9RJ50U
Ocupação nas Escolas: https://www.youtube.com/
watch?v=UxpwFW62i7M

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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, D. R. Representação política e Conferências: os desafios da inclusão da pluralidade. Texto para
discussão. Brasília: IPEA, 2012. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/
td_1750.pdf

ANASTASIA, F. e INACIO, M. citados por MARQUES JÚNIOR, A. M. Educação Legislativa: As Escolas do


Legislativo e a Função Educativa do Parlamento. E-Legis, Brasília, nº 3, p. 73-86, 2º semestre, 2009.

ARAUJO, Ulisses F. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Revista Educação e Pesquisa
(FEUSP), 2000, vol.26, n.2, pp.91-107.

DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.

HABERMAS, Jurgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, vol. I
e II, 1997.

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A democracia na América Latina: rumo a uma
cidadania de cidadãs e cidadãos. Santana do Parnaíba, SP: LM &X, 2004.

RABAT, M.N. Representação, participação política e controle social: instituições, atores e história. Estudo.
Brasília: Câmara dos Deputados, 2010. 26 p. Disponível em: http://bd.camara.gov.br

SANTOS, Boaventura Souza. A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. Porto: Afrontamento,
2006. Também publicado no Brasil, São Paulo: Editora Cortez, 2006 (2ª edição).

SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia, Rio: Zahar, 1984

URBINATI, Nadia. Crises e metamorfoses da Democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais. V.28, nº 82.
P.5-16, 2013.

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