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AGROINDÚSTRIA COOPERATIVA:

UM ENSAIO SOBRE CRESCIMENTO E


ESTRUTURA DE CAPITAL

Sigismundo Bialoskorski Neto


Professor Assistente do Departamento de Economia
da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da FEA/USP, Campus Ribeirão Preto
Pesquisador do PENSA
E-mail: sbialosk@usp.br

Pedro Valentim Marques


Professor Associado do Departamento de Economia e
Sociologia Rural da ESALQ/USP
v.5, n.1, p. 60-68, abr. 1998 E-mail: pvmarque@carpa.ciagri.usp.br

Resumo

Este trabalho discute a natureza da empresa agropecuária cooperativa sob o ponto de vista das
relações contratuais, isto é, a partir da abordagem da Nova Economia Institucional em particular da
Economia dos Custos de Transação. Procura-se analisar o crescimento da empresa e a sua capacida-
de de adaptação, como condicionantes da sua sobrevivência no mercado, e os problemas advindos do
crescimento. Verifica-se que a empresa cooperativa, dado o custo de oportunidade do capital
integralizado pelos seus associados e os custos de governança financeira, apresenta maior viabilida-
de enquanto possui tamanho reduzido. O necessário processo de crescimento induz à empresa
cooperativa uma estrutura maior de custos de transação e de agency, quando comparadas com outras
formas de organização empresarial. Também é possível indicar a necessidade da mudança na
estrutura de capital das cooperativas, por meio de abertura de capital, para que possam sustentar o
crescimento e o processo de adaptação, possibilitando a sobrevivência no mercado.

Palavras-chave: economia dos custos de transação, agency, cooperativas, agribusiness.

1. Introdução ção, quando comparadas com outras formas


empresariais. Na cooperativa não há uma

A s cooperativas são empresas que apresen-


tam uma estrutura particular de organiza-
intenção inicial de obtenção de lucros dos
negócios, não se recolhe imposto de renda e ao
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final do exercício fala-se em sobras operacio- Uma importante cooperativa do Paraná está
nais, que são distribuídas “pro-rata” e proporcio- reestruturando seu capital de forma a propiciar
nais às operações de cada um dos associados um controle diferente das suas agroindústrias,
naquele exercício. inclusive com a participação de capital de não
Nesta empresa o associado é simultaneamen- associados. No Canadá e nos EUA também há
te “cliente” e “proprietário”, o que induz a exemplos de atitudes semelhantes.
alguns problemas específicos de separação entre Se as cooperativas são empresas importantes
a propriedade e o controle, e a alguns problemas no âmbito do agribusiness, inclusive apresen-
de custos associados à necessidade de monito- tando uma “performance” de negócios apropria-
ramento das relações contratuais. Estas carac- da, pode-se perguntar: por que estão ocorrendo
terísticas, entre outras, fazem desta empresa um estas modificações nas estruturas da empresa
tipo particular de organização que merece uma cooperativada? Que fatores estão influindo a
abordagem específica, principalmente quando se ponto de fazer com que estas cooperativas
trata dos agronegócios. busquem novos caminhos?
A empresa cooperativa é um tipo importante O presente trabalho tem por finalidade discu-
de organização no setor primário da economia. tir esta situação, bem como identificar de modo
A Organização das Cooperativas Brasileiras inicial quais são os fatores que possivelmente
(OCB, 1995) indica que existem 1.344 coopera- estão determinando este procedimento em firma
tivas agropecuárias respondendo por grande cooperativada. Neste sentido, são elaboradas
parte da produção de leite, 38% da soja, e perto algumas contribuições para o tratamento do tema
de 1/3 do café produzidos no país, entre outros, e para possível explicação desta tendência de
congregando aproximadamente 1 milhão de comportamento estratégico de algumas coope-
associados na área rural. rativas tanto no Brasil, como no exterior.
As 30 maiores cooperativas agropecuárias do
país apresentam uma receita operacional líquida 2. A Firma e a Economia dos Custos de
total de R$ 5,9 bilhões (FGV – Agroanalysis, Transação
1996). As cooperativas também participam com
perto de 8,47% das receitas com exportações
agrícolas totais e aproximadamente 1,68% do
total das exportações do Brasil, considerando a
A firma é definida, sob o ponto de vista
neoclássico, como uma unidade técnica em
que se produzem mercadorias de acordo com
média de 1991 a 1994. Portanto, são empresas uma função de produção, na qual os diversos
importantes em nossa economia e no universo do fatores são alocados entre diferentes usos e pro-
chamado agribusiness. porções determinados sempre pelo mecanismo
As cooperativas favorecem as relações co- de preços (HENDERSON & QUANDT, 1988).
merciais entre os seus associados e o mercado, COASE (1993) afirma que esta realidade
principalmente devido à concentração nestas simplificada não se aplica ao mundo real e que a
estruturas, bem como, articulam e coordenam firma pode se organizar e produzir sem estar
todo um sistema agroindustrial, sob o ponto de diretamente influenciada apenas pela sinalização
vista contratual, de informações e estratégias do mecanismo de preços. Há outros fatores a
(BIALOSKORSKI NETO, 1994). serem considerados, podendo-se indagar: como e
Algumas modificações são sentidas neste por que o mecanismo de preços, da teoria
setor. Assim, uma cooperativa no SAG da neoclássica, é substituído por outras relações a
laranja vendeu sua unidade agroindustrial de nível interno da firma? E que relações são estas?
processamento; uma importante central coope- COASE (1993) considerava que havia um
rativa do SAG do leite também se desmobilizou custo para o uso do mecanismo de preços,
com a venda de sua unidade de processamento. salientando que o custo mais óbvio da organiza-
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ção era o de perceber e descobrir a relevância do WILLIAMSON (1989) formulou um modelo


próprio mecanismo de preços. em que a especificidade de um ativo seria um
Portanto os custos de negociação e de conclu- dos determinantes dos custos de transação e
são de uma determinada transação e/ou troca estes da forma de governança da organização. A
deveriam ser considerados. Assim, quando estes especificidade de um ativo é considerada como
custos contratuais fossem positivos, ocorreria um grau de especialização de determinado ativo
uma possível cooperação via contratual entre que não permite que este seja, em diferentes
diversos agentes econômicos substituindo o mer- graus, utilizado para outro fim se não aquele ao
cado, ou ainda, estas ocorreriam nos limites qual é destinado. É necessário distinguir entre
internos de uma firma como na integração ver- especificidade de ativos que induz a transações
tical. Determinadas em função destes custos de específicas de um ativo especializado qualquer
transação, estas relações contratuais indicariam que é apenas utilizado para determinado fim.
uma alternativa de organização, que seria mais Deste modo, com uma especificidade maior
eficiente que as transações que ocorrem no mer- de ativos a organização tende a ter também
cado sinalizadas somente pelo sistema de preços. maior custo de transação, que faz com que esta
A firma então é entendida como um arranjo firma traga ao seu interior certas atividades, ou
de diferentes contratos entre diversos agentes de uma forma híbrida, procure um relacionamen-
econômicos no qual os custos de transação to contratualmente mais estável, que possibilite
afetariam não só estes arranjos, mas também a sempre minimizar os seus custos de transação.
alocação de recursos e a forma com que os bens A especificidade dos ativos pode ser de
e serviços são produzidos. diversas espécies como: de lugar ou geográfica,
Há portanto custos de transação que devem quando a localização é importante; de caráter
ser considerados e que são diferentes da simples humano, quando o capital humano passa a ser
incerteza nas negociações ou mesmo dos custos específico para a organização; de tempo, quando
de informação. WILLIAMSON (1989) define a dimensão temporal induz a uma situação
estes custos de transação como os custos ex-ante específica, ou ainda física, quando relacionada a
de elaboração de um instrumento contratual e os características físicas dos diversos estágios de
custos ex-post desta negociação. Estes custos produção; dedicada, quando envolve investimen-
não estariam sendo considerados nas funções de tos específicos para atender a alguns atores
custo tradicionais da teoria neoclássica e a firma econômicos também específicos.
teria outras razões para se organizar de determi- A formulação destas idéias é importante para
nado modo além daquelas decorrentes das o entendimento deste ensaio. De modo simplifi-
economias de escala e escopo ou ainda dos cado, WILLIAMSON (1989) desenvolve o
ganhos monopolísticos. Isto é, as organizações modelo mostrado na Figura 1, em que se pode
estariam preocupadas em economizar em seus observar o comportamento dos custos de
custos de transação, preocupadas em alcançar a transação em função da especificidade de ativos
maior eficiência possível. e o resultante modo alternativo com que a firma
É claro então que haveria uma coordenação organiza as suas transações: a governança. No
de atividades econômicas de modo alternativo ao modelo, M(k) representa as transações via
mercado, no âmbito das fronteiras de uma deter- mercado, X(k) via mista e H(k) via hierárquica
minada organização. As transações via mercado ou de modo interno à empresa. Estes modos de
somente ocorreriam quando os custos de relações contratuais também permitem que seja
transação tendessem a zero. Na presença destes visualizada uma fronteira de eficiência da firma
custos, a forma de organizar as transações seria em função da especificidade de seus ativos.
diferente: por meio de uma outra forma de Este modelo assume que quando não existe a
governança. especificidade de ativos, isto é K=0, os custos
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$ M(k)
X(k)

H(k)

k” k’ especificidade do ativo

Figura 1 – Governança, ou forma de organização da produção, em função das


especificidades de ativos (WILLIAMSON, 1989).

M(0) < X(0) < H(0), ou seja, os custos de incerteza, a freqüência e a especificidade de
transação no mercado são menores do que em ativos.
outras possibilidades apresentadas. FARINA (1996, p.139) conclui em seu
Também é dado como pressuposto que os trabalho: “Quanto maior a pressão competitiva
custos da forma organizacional via mercado (Ambiente competitivo) e quanto menor a
crescem mais que as outras formas quando tolerância tecnológica (Ambiente tecnológico)
cresce a especificidade de ativos. Isto é expresso tanto maior a importância das estruturas de
matematicamente como d(m)/d(k) > d(x)/d(k) > governança na determinação do desempenho
d(h)/d(k) e visualizado nas formas convexas das das firmas e dos sistemas. Nesse contexto, o
curvas. desempenho é sinônimo de competitividade, isto
ZYLBERSZTAJN (1995) expõe que poderá é, da capacidade de sobreviver ou crescer no
haver um deslocamento destas três curvas mercado.”
dependendo das modificações nas condições do Assim, a questão da adaptação às mudanças
ambiente de negócios, deslocando o nível de K do ambiente de negócios é de fundamental
para a direita ou para a esquerda fazendo com importância para a sobrevivência da firma e o
que estas formas de organização sejam eficientes sucesso está associado diretamente à forma de
em diferentes limites possíveis. governança e coordenação do sistema. Portanto,
A competitividade de determinado SAG associado à minimização dos custos de transa-
também poderá ser analisada de acordo com este ção.
instrumental e com o ambiente institucional no Nesta análise, há uma questão de adaptação
qual este opera. Deste modo, a estrutura de dinâmica ao ambiente de negócios.
governança, ou a forma organizacional, WILLIAMSON (1989) mostra que mesmo que
dependerá dos atributos das transações como a haja um número grande de transações iniciais, a
nível competitivo de mercado, estas poderão
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tender a uma redução, após as inversões duráveis ções como o fluxo de informações, a capacidade
em ativos específicos, objetivando a especializa- de coordenação do processo, a alocação eficiente
ção e as vantagens à frente de rivais competido- de recursos, de poder, de direitos de propriedade,
res no mercado. Esta situação, então, é chamada e a existência de capital para inversões.
de “transformação fundamental”, isto é, a Deste modo, havendo cooperação e eficiência
tendência a uma condição de dependência da organização, premissas do ensaio, o impedi-
contratual bilateral, ou de um número muito mento ao crescimento e a necessária adaptação
menor de relações contratuais. das empresas cooperativas seria exclusivo da
MILGROM & ROBERTS (1992) apontam disponibilidade de capital para as inversões e,
que o processo de especialização tem um ponto logicamente, do seu custo. Dado que é possível
crucial que é a requisição de uma estrutura mais se ter um processo de capitalização por meio de
refinada de coordenação, ou de governança, e empréstimos, ou do mercado financeiro (por
que o problema-chave para se alcançar uma meio de ações) e que estes processos diferem
efetiva coordenação e adaptação é o fluxo de entre si, dependentes de como se dá os direitos
informações necessárias para determinar a de propriedade na empresa, a especificidade de
melhor alocação de recursos e estratégias e, ativos, os custos de transação e a especialização
portanto, a forma “arquitetural” eficiente para a da firma, a discussão necessária é de como este
firma. Como já explicitado, esta última é, processo deve ser encaminhado nas empresas
sucintamente, um arranjo contratual definido em cooperativadas.
função dos custos de transação positivos.
Portanto, a questão da adaptação e da coor- 3. A Estrutura de Capital e as Organizações
denação do processo é premissa básica para a
eficiência da empresa em uma situação de
transformações dinâmicas da realidade de
mercado e vai depender diretamente de seu
B RICKLEY et alii (1997) consideram a
“arquitetura” de uma corporação como
função da distribuição dos direitos de decisão a
arranjo “arquitetural”. nível interno da firma, dos métodos de pagamen-
Quanto às cooperativas, estas são empresas tos de resultados e de como se faz o controle do
que apresentam toda uma particularidade de desempenho da empresa. Dependendo de
relações contratuais e econômicas específicas, de situações específicas a cada uma das firmas,
acordo com a Nova Economia Institucional e a haverá uma combinação diferente na forma
Economia Neoclássica, se configurando em uma como a decisão será tomada, como os resultados
“arquitetura” empresarial diferente serão distribuídos e como será monitorado o
(BIALOSKORSKI, 1995). desempenho da empresa. A tecnologia, os
Estas formas de organização enfrentam um mercados e o ambiente institucional de regula-
problema em seu processo de crescimento e ção (legislação e cultura) são determinantes da
especialização, que é a capacidade de adaptação estratégia das organizações, bem como da
e resposta às novas relações de mercados. Isto estrutura de seu capital.
ocorre, fundamentalmente, porque estas empre- DEMSETZ & LEHN (1985) colocam como
sas são formadas como uma coalizão do fator de determinantes da estrutura de capital de uma em-
produção trabalho, necessitando entre outros presa a possibilidade da maximização do valor e
fatores de aporte de capital e investimentos para do tamanho da firma, o potencial de lucro e o
inversões em ativos específicos, de modo a controle da organização, e por fim, a regulação.
possibilitar sua especialização. Segundo os autores as mudanças nesta estrutura
Para existir um processo contínuo e eficiente de capital e de controle das empresas se dariam
de adaptação e especialização na empresa em função também de custos de transação.
cooperativista são necessárias algumas condi-
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WILLIAMSON (1989) argumenta que as Assim, este processo de capitalização depen-


finanças das corporações podem ser examinadas deria da especificidade de ativos e os custos de
como projetos de investimentos e distinguidas transação decorrentes desta, sob o ponto de vista
pela especificidade dos ativos. Assim a estrutura da possível performance futura da empresa
de governança poderia ser entendida também quanto aos seus resultados de acordo com o
sob o ponto de vista dos instrumentos financei- ponto de vista do investidor. Dependeria,
ros e de capitalização das empresas. também, dos custos associados à divisão entre a
Deste modo, o débito decorrente de emprés- propriedade e o controle da organização na ótica
timos no sistema financeiro, sujeitos às taxas de do agenciamento.
juros, seria uma estrutura apropriada, isto é, As cooperativas agropecuárias, devido à sua
apresentaria menores custos de transação, arquitetura empresarial, determinada institucio-
quando o nível de especificidade de ativos fosse nalmente pela doutrina e legislação cooperativis-
baixo. Quando esta especificidade cresce, ta, têm certa particularidade quanto aos aspectos
aumentam também os riscos das operações apresentados. Inicialmente, a cooperativa pode
financeiras e a estrutura de capital por meio de ser entendida como uma empresa onde uma série
emissão de ações seria mais apropriada por de atores econômicos resolvem unir os seus
dividir estes riscos. interesses mais imediatos determinados pelas
Estas formas estariam condicionadas aos estruturas de mercado concentradas e pela
custos de transação representados pelos custos indivisibilidade de alguns fatores de produção na
ex-ante do estabelecimentos de contratos, ou agropecuária. Assim, a primeira leitura pode ser
pelo próprio processo de abertura de capital no efetuada sob o ponto de vista que o pequeno
mercado, onde se agregariam os custos contra- capital das quotas – parte subscritas inicialmente
tuais relativos a toda estrutura como da Comis- apresenta um custo de oportunidade muito
são de Valores Mobiliários (CVM), BOVESPA, pequeno, em relação ao mesmo investimento se
underwritings para o processo de abertura. realizado por um único investidor.
Além desta abordagem da economia dos Do ponto de vista neoclássico, considerando
custos de transação, JENSEN & MECKLING (R) o retorno econômico, (t) a quantidade do
(1976) alertam para os problemas de agency e fator de produção trabalho e (c) a quantidade do
controle nestas operações, pois a abertura do fator de produção capital, tem-se uma função do
capital de uma empresa está diretamente ligado à retorno da firma expressa como:
pulverização do controle empresarial em mãos
de um número grande de acionistas. Neste R = f(t,c)
momento, têm-se custos de agency ou seja, o
monitoramento de ações entre os “principais” Assim, pela premissa de ganhos tecnológicos
(acionistas) que delegam aos “agentes” (gerentes dada por d(R)/d(c) > d(R)/d(t), a forma de
e/ou gestores da empresa) a delegação de organização cooperativa só é escolhida quando
autoridade para agir em seu nome no dia-a-dia (t) > (c).
do comando da organização. Inicialmente, como o fator de produção
Nestas condições, JENSEN & MECKLING capital é escasso e o fator de produção trabalho é
(1976) afirmam que ambos são maximizadores abundante, além de uma intenção inicial de
de utilidade e, portanto, existem boas razões para prestação de serviços para os associados e não a
se acreditar que o agente nem sempre agirá no maximização do lucro na empresa cooperativa
melhor interesse do principal e que é geralmente (esta maximização se daria na propriedade
impossível para o principal garantir-se, a custo particular de cada um dos associados), a escolha
zero, que o agente tomará decisões ótimas sob o de organização seria de uma cooperativa e não
ponto de vista do principal. uma sociedade anônima.
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Custo de Empresa Cooperativa


Governança
Financeira
Empresa de “capital”

k* especificidade do ativo

Figura 2 – Custos de governança financeira de empresas cooperativas e


não cooperativas em função da especificidade de ativos.

Neste modelo de negócios a empresa coope- mente com fundos próprios, ou empresas que
rativa apresentaria reduzidos custos financeiros, dada a sua complexidade e especificidade de
devido ao baixo custo de oportunidade do capital ativos, emitem títulos ou promovem diretamente
inicial subdividido e aos reduzidos custos de a abertura de capital com negócios em Bolsa.
transação devido à reduzida especificidade de Estas afirmações podem ser visualizadas em
ativos. um gráfico, cujos custos de governança
Dado o início de crescimento e adaptação financeira da firma estão em função da especifi-
necessária à melhoria de performance desta cidade de ativos, mostrados na Figura 2, de
empresa e dos seus associados (visando a com- acordo com HENDRIKSE (1993). Esta figura
petitividade), a situação começa a se modificar. mostra que conforme a firma se especializa e
Primeiro, ocorre geralmente a especialização de cresce, e considerada a sua “arquitetura”, ela tem
atividades, quando há um crescimento mais do níveis diferentes de custos de governança
que proporcional da especificidade de ativos, financeira. Dado um determinado nível de
dada a especificidade geográfica, levando ao especificidade de ativos, haveria uma destas
incremento dos custos de transação, expressos “arquiteturas” que seria a mais eficiente sob este
pelas relações contratuais no mercado financeiro, aspecto particular.
que se refletem também na elevação de juros e
estrutura de débito da empresa. 4. Considerações Finais
Esta situação seria diferente se a empresa
considerada pudesse abrir o seu capital em
determinado momento, se capitalizasse de outras
formas, ou ainda se crescesse com recursos
P ode-se considerar, numa primeira aproxima-
ção, que possivelmente a razão para que
estejam acontecendo algumas desmobilizações
próprios preservando a sua estrutura de capital. nos negócios por parte das cooperativas
Isto ocorre com as empresas cooperativas que agropecuárias, e uma clara tentativa de abertura
promoveram os seus investimentos prioritaria- de seu capital, poderia ser explicado pela Nova
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Economia Institucional e sua vertente, a cooperativista, como também é uma ótima forma
Economia dos Custos de Transação. Empresas para estimular o cooperado a participar nos
cooperativadas, com alta especificidade de negócios de sua empresa. Entretanto, deve ser
ativos, apresentam altos custos de transação e adaptado às características da empresa coopera-
altos custos de agency entre os seus proprietários tivista de modo a não representar uma “armadi-
e gestores, devido à necessária estrutura de lha” para o sistema.
participação e aos altos custos de governança A abertura de capital com ações preferenci-
financeira de sua capitalização. Por conseguinte, ais, sem direito a voto e decisão, encontra um
isto faz com que a adaptação aos mercados seja obstáculo quase intransponível nas cooperativas
um processo muito custoso. com uma gestão “tradicional”. Se a empresa
Nesta possível alternativa de abertura de cooperativista não objetiva o lucro, sob o ponto
capital existe uma grande preocupação em de vista doutrinário, apresentando apenas
manter a identidade da empresa cooperativa, “sobras de operação”, como remunerar preferen-
sendo que esta realidade está gerando polêmica e cialmente ou fazer com que o investidor
discussão no meio cooperativista internacional. participe lucrativamente desta empresa? Como
Para compreender esta situação, inicialmente ficaria esta aplicação quando comparada a outras
deve-se ater ao fato de que para o sistema aplicações, inclusive em empresas que objetivam
cooperativista o aporte de capital e investimen- exatamente o lucro e a eficiência econômica?
tos é de fundamental importância para permitir a Deste modo, inicialmente as cooperativas teriam
constante especialização e competitividade que objetivar o resultado econômico na sua
destas empresas no mercado. Para que para que gestão como condicionante da abertura de
isto ocorra, há diversos caminhos possíveis. capital, de modo competitivo no mercado.
O primeiro caminho é o da capitalização via Por outro lado, se as ações permitirem o
associados que, apesar de ser o mais fácil e direito de voto proporcional ao capital investido,
tradicional para o sistema cooperativista, esbarra isto representa uma nova divisão e alocação nos
na dificuldade financeira do setor agropecuário, direitos de decisão na empresa cooperativista. O
em particular, do próprio agricultor cooperado princípio democrático de a cada homem um
que procura a cooperativa exatamente pelo fato único voto cairia por terra e também parte
desta possibilitar a sua capitalização individual, fundamental da doutrina cooperativista. Pode-se
e não com o intuito de capitalizá-la. O segundo, então perguntar: em que uma cooperativa
que foi o caminho mais utilizado ultimamente, é comandada por decisões proporcionais ao capital
aquele em que a cooperativa busca financiamen- investido seria diferente de uma sociedade
to via sistema bancário, tomando dinheiro anônima (S/A)? Isto poderia ocorrer mesmo na
emprestado a um alto custo derivado do nível de situação em que estas ações fossem comerciali-
juros o que torna este processo muito arriscado zadas somente entre os seus associados, pois a
frente a possibilidade de altas flutuação de mudança de critério nos processos decisórios
preços das commodities agrícolas. permaneceria, podendo se constituir numa
O terceiro caminho que está sendo de certa “armadilha” para o sistema cooperativista.
maneira percorrido é o da abertura da empresa Portanto é necessário que este caminho
cooperativista ao capital de risco, no mercado de inevitável seja profundamente estudado, à luz
capitais, possibilitando a atração de recursos a das novas teorias, e discutido de modo a
um custo sensivelmente mais baixo, sendo que o representar uma alternativa viável, que una as
investidor também participa dos riscos e vantagens da abertura de capital por meio de
resultados do negócio cooperado. Este caminho, instrumentos financeiros específicos ou ações
hoje em debate, apresenta grandes vantagens, e com um fortalecimento doutrinário do movimen-
não só é irreversível para o movimento to.
68 Bialoskorski Neto, Marques – Agroindústria Cooperativa

Referências Bibliográficas
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CO-OPERATIVE AGROINDUSTRY:
AN ESSAY ON GROWTH AND CAPITAL STRUCTURE
Abstract

This essay discusses the nature of the co-operative agricultural enterprise, from the point of view of
contractual relationships, based on the approach of the New Institutional Economics and particularly
the Transactions Costs Economics. The intention of this study was to analyze enterprise growth and
adaptation capacity, in terms of survival in the marketplace, and the problems due to this growth. It
was verified that the co-operative enterprise, given the cost of timing the total capital, and the costs of
financial management, shows greater viability while the co-operative is a small enterprise. The
necessary growth process imposes greater organizational support for transactions costs and the
agency on the co-operative enterprise, when compared with other forms of enterprise organization. It
is also possible to indicate the need to change the capital structure co-operatives of the throughout the
process of making capital available so the enterprise can sustain the growth and adaptation process,
allowing survival in the marketplace.

Key words: transactions costs economics, agency, co-operatives, agribusiness.

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