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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Direito Penal III


Aulas Práticas
Dra. Ana Pais

02 Outubro 2013

A tentativa e comparticipação são institutos instrumentais porque podem merecer atenuação


1
especial na determinação da penal e no concurso temos saber se o concurso é real ou
aparente, também para determinar a moldura penal concretamente aplicável

O que será o nosso programa? Em penal III, a matéria cinge-se à questão da determinação
da pena. Há critérios a sustentar a opção do legislador.

 Cronograma geral das consequências jurídicas do crime:


Estamos perante a prática de um crime com todas as etapas. Um comportamento, para ser
crime, tem de ser típico, depois ilícito, ainda que possa ter causas de exclusão. Seguidamente
tem de haver culpa que pode ser excluída com uma causa de exclusão e, finalmente, tem de
ser punível.

Penas

CRIME (culpa)

Punível
Consequência
Culpa - excepção
das causas de Jurídica
exclusão da culpa Medidas
Ilicitude - excepção de segurança
causas de exclusao da
(perigosidade)
ilicitude

Tipicidade

O que fazemos ao agente? Quais as consequências que o sistema prevê?

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Prisão (41º)
Principais

Penas Multa (47º)

De Da pena de
substituição prisão

Acessórias

Art.º 43º, Art.º 43º, 2


Da pena de nº1 nº 3
multa
Admoestação

Há consequências de dois tipos: penas e medidas de segurança. As penas têm como


pressuposto a culpa e as medidas de segurança têm como pressuposto a perigosidade. Quanto
às penas, há dois tipos:
 Principais – de prisão art.º 41º e de multa art.º 47º. (Ver o que aparece nos vários
tipos legais de crime e o que aparece é ou pena de prisão ou pena de multa ou ainda
ambas em alternativa).

 Penas de substituição - são aplicadas em vez da pena principal. Pena de substituição da


penal de multa só há uma, a admoestação, art.º 60º.
Quanto a pena de prisão, temos como substituição:
 A pena de multa – art.º 43º (nota: não confundir a pena de multa como pena
principal e a pena de multa de substituição, tem regime muito diferente);
 Proibição de exercício de profissão, função ou atividades públicas - art.º
43º,nº3;
 Regime de permanência na habitação – art.º 44º;
 Prisão por dias livres – art.º 45º;
 Regime de semi-detenção - art.º46º;
 Suspensão de execução da pena de prisão – art.º 50º e ss;
 Prestação de trabalho a favor da comunidade art.º 58º e ss.

 Penas acessórias, estas aplicam-se a título complementar e há penas acessórias quer


na parte geral do código – art.º 65º e ss, quer na parte especial do código – exemplo:
art.º 179º.

Diana Simões
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Penas de substituição da pena Não superior a 2 Anos Não superior a Período de 2 Não superior
(principal) de prisão um ano 2 anos a 5 anos a 5 anos

Pena de multa de X
substituição – art.º 43º, nº1

Proibição do exercício de X
profissão, função ou
atividade, pública ou privada
(crime cometido pelo arguido
3
no respectivo exercício) –
art.º 43º, nº3
Permanência na habitação - X Situações do
art.º 44º, nº1 art.º 44º,
nº2
Prisão por dias livres – art.º X
45º

Regime de Semidetenção – X
art.º 46º

Suspensão da execução da X
pena de prisão - art.º 50º e
ss
Prestação de trabalho a X
favor da comunidade – art.º
58º e ss

Privativas da
Art.º 91
Medidas liberdade

De Segurança
Não Privativas
Art.º 100º e
da liberdade
101º

Medidas de segurança: há medidas de segurança privativas da liberdade e não privativas da


liberdade. Privativa da liberdade só há uma, o internamento de inimputáveis - art.º 91º e ss.
Não privativas da liberdade temos as o art.º 100º e o art.º 101. Estas não são aplicáveis a
inimputáveis, apenas têm de ser a imputáveis especialmente perigosos.

 Fins das penas – doutrinas dos fins das penas

Entre nós optamos doutrinas relativas ou de prevenção que são as seguidas e há ainda há as

Diana Simões
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absolutas ou retributivas que são rejeitadas.

Enunciamos o Princípio da unilateralidade da culpa – não há pena sem culpa nem pode
haver pena superior ao limite culpa mas pode haver culpa sem pena, nos casos da dispensa
de pena. A culpa serve para limitar a pena e é com base nas ideias de prevenção que iremos
determinar a pena. Significa que é obrigatório saber toda essa matéria – último título do
capítulo dos fins das penas.

Em termos de finalidades, as medidas de segurança funcionam tal como as finalidades das


penas mas ao contrário. 4

 Indemnização por perdas e danos emergentes de um crime:


Art.º 129º Código Penal – enquadramos na responsabilidade civil, no direito das obrigações –
por vezes, o facto gerador do dano que é relevante sob o ponto de vista do direito civil,
também é relevante para nós, pois constitui um crime. O legislador penal diz-nos que pode
haver a coincidência mas, do ponto de vista substantivo, há-de ser a lei civil a tratar da
questão.

O legislador penal tem a consciência de que essa coincidência faz com que haja uma opção
processual do legislador, no sentido de discutir as duas coisas no mesmo processo. No art.º
71ºdo Código do processo penal diz-se que, nestas situações, vale o Princípio da adesão -
adesão do pedido de indemnização civil ao processo penal, ou seja, se houver lugar a
indemnização emergente da prática do crime, isso vem-se pedir ao processo penal e não ao
processo civil. Isto vale, em regra, porque há exceções no art.º 72º.

No entanto, apesar de se deduzir o pedido civil no processo penal, há uma outra ideia a
destacar – art.º 84º CPP – uma decisão em matéria criminal não tem um impacto direto na
decisão em matéria civil, isto é, o juiz pode absolver o crime e condenar na indenização. Os
crimes ou são dolosos ou negligentes do ponto de vista subjetivo, apenas sendo negligentes se
o código o disser – Exemplo: crime de dano contra o património – pai está a brincar com o
filho o pai manda a bola e acidentalmente parte o vitral – desencadeia-se o processo e não se
prova o dolo, conhecimento e vontade da realização típica, e isso significa que será absolvido
sob o ponto de vista criminal, porém não fica exonerado do ponto de vista civil e é condenado
a pagar uma indemnização e não condenado por um crime de dano.

Isto é uma logica inerente ao problema jurídico e o direito penal é mais exigente porque é de
última ratio e só intervém quando mais nenhum pode solucionar o problema, uma vez que é o
que aplica as sanções mais gravosas. Se é mais exigente, também é mais fácil que não se
preencham os pressupostos do ponto de vista criminal e se preencham os do ponto de vista
civil.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Há uma corrente na doutrina penalista que defende que esta indemnização também devia ter
relevo do ponto de vista criminal a um determinado nível e que se devia autonomizar uma
terceira via de punição criminal, que não seria a indemnização, mas que tinha as mesmas ideias
– chamar-se-ia reparação. Esta sanção convocaria naturalmente os interesses da vítima ao
processo penal, mas tem objeções, pois ela não existe enquanto sanção criminal, não está
prevista no código e não existe como tal, não há qualquer figura semelhante a que se possa
atribuir relevo para que se possa dizer haver uma afloração.

Há ainda outra objeção, agora não formal, mas que tem a ver com a conceção do processo
penal, pois temos lá uma relação bipartida – Estado – arguido (agente do crime) – uma relação 5
de supra, infra ordenação e joga-se tudo no processo penal entre aqueles dois intervenientes.
O estado exerce o ius puniendi sobre forma impositiva no direito penal

Esta figura exigiria uma outra conceção tripartida que não é a que temos, isto, é além do
Estado e arguido, tínhamos de considerar a vitima como parte fundamental e o direito penal
apenas tem a função de tutelar os bens jurídicos considerados comunitariamente relevantes,
por isso é que estão juridicamente tutelados. Podemos dar um pouco de eco à vítima, mas não
podemos dar relevância aos seus interesses e traze-los para o processo penal.

Esta figura invoca o art.º 82º A CPP – no processo sumaríssimo não se admite a participação
das partes civis porque não há tempo para isso, pelo que não há pedidos de indemnização. O
art.º 82-A vem permitir o arbitramento de indemnização, mesmo em casos de processo
sumaríssimo e os defensores disto vêm dizer que está aqui o fundamento neste artigo, porém
não assumimos essa posição.

 Registo criminal:
Falamos desta figura porque está consagrado na lei de identificação criminal e diz respeito a
uma base de dados onde aparece inscrito todas as decisões e factos com relevância criminal.
São dados pessoais e só podem ser consultados para efeitos que a lei indique e regule e a nós
interessa-nos os efeitos sob o ponto de vista de condenação penal - exemplo: e reincidência -
e poderá ter efeito sob o ponto de vista da determinação da pena – lei 57/98 de 18 de
agosto última versão - lei 115/2009 de 12 outubro

Art.º 5º - vai para o registo decisões e factos. As decisões são as que estão no art.º 5º,
nº1. É relevante a morte do arguido porque o processo penal é pessoalíssimo e não há
transmissão da responsabilidade penal – art.º 5º, nº2 quanto a factos

Art.º 15º – há duas situações importantes: situações de cancelamento – as decisões no


registo criminal não ficam lá para sempre, mas depende do cancelamento definitivo (art.º
15º) ou cancelamento provisório (art.º 16º). O cancelamento definitivo é automático e é
irrevogável com 3 prazos diferentes: 5, 7 ou 10 anos, consoante a duração da sanção. Em
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

regra, o prazo máximo é de 10 anos, de acordo com o art.º 15, nº1, com uma única exceção –
remissão para art.º 4 da lei 113/2009 de 17 setembro – crimes de caracter sexual e o
legislador prevê que o cancelamento se faça 23 anos depois com uma razão substantiva ainda
não encontrada na prática, uma vez que há crimes mais graves como o homicídio qualificado
que apenas tem o prazo de 10 anos. A razão usada é a jurídica e não uma razão de fundo, mna
opinião da Dra. Ana Pais.

Há também cancelamento provisório que vale só para os fins dos art.º 11 e 12º – art.º 16
da lei. Essa solicitação só pode acontecer dois anos depois da extinção da pena.
6
Art.º 17º – nem tudo vai para o registo criminal pois há possibilidade de o juiz, na sentença,
decidir pela não transcrição para o registo criminal em casos de aplicação de pena de prisão
até 1 ano ou uma pena não privativa da liberdade para fins laborais, por exemplo.

9 Outubro 2013

Características do sistema sancionatório português


 Recusa de pena de morte e de sanções de caracter perpétuo. Portugal foi o país
pioneiro do mundo a proibir a pena de morte. Esta recusa está prevista no artigo 24/2
da CRP e no 30/1 CRP.
A CRP diz que não são permitidas mas abre uma brecha porque existe a medida de
internamento – é possível uma prorrogação de medida que pode acabar por ser perpétua.
Art.º 30/2 CRP

 Encarar as sanções privativas de liberdade como ultima ratio da política criminal. Se


for possível cumprir o fim da pena sem sanção detentiva é este que o juiz deve optar.
Art.º 70º e 98º CRP

 Sanções criminais obedecem a finalidades preventivas. Prevenção geral positiva ou de


integração e prevenção especial positiva ou de ressocialização.
Quanto às penas a principal é a PD e a secundária a PE. Quanto às medidas de segurança é o
inverso.
Art.º 40/1 – Medidas de Segurança e Penas
Art.º 40/2 – Penas
Art.º 40/3 – Medidas de Segurança

 Tendencialmente monista
Ao mesmo agente, pela prática do mesmo facto não admite aplicar duas sanções privativas de
liberdade. Exemplo: pena relativamente indeterminada - é executada em parte como pena e
em parte como Medidas de Segurança.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

O sistema sancionatório português é tendencialmente monista porque não admite a aplicação


cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, uma pena e uma Medida de Segurança
privativas da liberdade. Contudo, não pode dizer-se que seja puramente monista e virtude de
existência de um estatuto, a pena relativamente indeterminada (art.º 83º e ss Código
Penal) que assume a natureza de sanção mista, em parte executada de acordo com as regras
das penas, e executada com as regras das Medidas de Segurança (delinquente especialmente
perigosos. Ex: agente é punido pelo crime de violação e furto. Um deles pode originar de uma
doença).
O art.º 99º CP prevê o sistema do vicariato na execução e em nada contraria a classificação 7
do sistema como monista porque se traduz na aplicação ao mesmo agente de uma pena e uma
Medida de Segurança privativas de liberdade mas por factos diferentes.

 Aplicação de sanções criminais a pessoas colectivas e equipadas


Caso prático
Suponha que o ministério público, através de uma profunda investigação decidiu acusar a
XPTO, Lda. e o seu socio gerente Luís pela prática de um crime de corrupção de substâncias
(…) previsto e punido no artigo 282/1 do CP. Alarmados pelas possíveis consequências de uma
eventual condenação, os arguidos procuram-no para saber que penas em concreto lhe poderão
ser aplicadas.

1. Quais são os tipos de penas em geral?


Quais são os tipos de penas: a) principais – são as que se encontram previstas no tipo legal de
crime; são fixadas pelo juiz na sentença independentemente de qualquer outras; b)
substituição – são aquelas que podem substituir qualquer das penas principais concretamente
determinadas. São aplicadas em vez das penas principais; c) acessórias – são aquelas cuja
aplicação pressupõe a fixação na sentença de uma pena principal ou de substituição. São
aplicadas conjuntamente com uma daquelas penas.

A responsabilidade criminal em regra só incide por pessoas singulares (“societas delinquere


non potest” – a sociedade como pessoa colectiva não pode praticar crimes). Neste ponto, foi
relevante a revisão do CP de 2007. Até à reforma de 2007, a responsabilidade criminal da
pessoa colectiva admitida a título excepcional pelo art.º 11/1, estava prevista em disposição
fora do Código Penal (exemplo: lei da criminalidade informática) no âmbito do chamado direito
penal secundário. A alteração ao art.º 11º trouxe como novidade a previsão no seu nº 2 de
um elenco de crimes previstos no Código Penal passiveis de serem praticados por pessoas
colectivas ou entidades equiparadas. A outra novidade da reforma consiste na permissão
expressa de penas específicas a aplicar às pessoas colectivas.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Luís – Pessoa Singular. Podem ser aplicadas como sanção a pena de prisão, de 1 a 8 anos. Se a
pena de prisão ficar pelos 5 anos, esta pode ser substituída. Também é possível ser aplicada
uma pena acessória.

XPTO – há duas penas principais para as pessoas colectivas e são a pena de multa (Art.º 90º-
B) e a pena de dissolução (art.º 90º-F). A pena de dissolução é a mais gravosa, só para
crimes muito graves.

Duas observações:
 A pena de dissolução não se encontra prevista em nenhum tipo legal de crime 8
constituindo por isso um desvio ao próprio conceito de pena principal.
 A pena de multa pode aparecer no tipo legal de crime de duas formas: uma, prevista
directamente e nesse caso as pessoas colectivas é aplicada a mesma moldura que às
pessoas singulares; outra prevista indirectamente no tipo legal de crime quando a
norma incriminadora se refere apenas à pena de prisão. Nesse caso haverá que
proceder a uma conversão do tipo de prisão em tempo de multa de acordo com o art.º
90º-B/2.

Para além das penas principais podem ser aplicadas penas de substituição (admoestação art.º
90º-C; caução de boa conduta art.º 90º-D; vigilância judiciaria art.º 90º-E) e penas
acessórias (art.º 90º-A/2 remissão para art.º 90º-G; 90º-J; 90º-H; 90º-I; 90º-L e
90º-M).

 Princípios constitucionais orientadores do nosso sistema

 Princípio da legalidade (quanto às sanções aplicadas): só podem ser aplicadas penas e


medidas de segurança previstas na lei. Que lei? Escrita, estrita, certa e prévia, art.º
29º/3/4 e 165ºCRP.
 Princípio da congruência ou analogia substancial entre a ordem axiológica
constitucional e a ordem legal dos bens jurídicos.
O direito penal protege os valores que não são susceptíveis de serem protegidos por mais
nenhuma norma. Todos os bens jurídicos protegidos pelo direito penal estão na CRP mas já não
se pode dizer que todos os bens jurídicos presentes na CRP estão protegidos no código penal.

Entre a ordem de valores constitucionais e a ordem dos bens jurídicos protegidos pelo direito
penal não há uma relação de sobreposição ou identificação precisamente porque o direito penal
assume um caracter subsidiário ou de ultima ratio intervindo apenas quando outros ramos de
direito que não sejam capazes de assegurar uma tutela efectiva dos bens jurídicos. Contudo,
se nem todos os bens jurídicos constitucionais são protegidos pelo direito penal, todos os bens

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jurídicos penais são bens jurídicos constitucionais. Mas entre estes dois universos subsiste
uma relação de congruência analógica substancial, mutua referencia. – art.º 18º CRP.

 Princípio da proibição do excesso


Relevância em dois níveis:
 Em termos gerais transmite uma ideia de propor de sanção penal no sentido não
devem ser excessivas face à gravidade do crime.
 Diz respeito a penas e medidas de segurança. Quanto às penas este princípio
traduz-se no princípio da culpa. Artigos 1º;13º e 25º CRP. Nas medidas de
segurança este princípio tem fundamento no artigo 18º/2 CRP. 9

 Princípio da solidariedade ou socialidade


Tem a ver com a ideia de que o estado deve assegurar um serie de exigências. No direito penal
há a exigência de o estado garantir ao condenado condições suficientes e adequadas para que
este se possa reintegrar na comunidade. Artigos 2º; 9º; 26º; e 30º/1

 Princípio da preferência pelas sanções criminais de caracter não detentivo – art.º


18/2 CRP

 Princípio da aplicação da lei mais favorável

 Intransmissibilidade da responsabilidade penal – art.º 30/3 CRP


Quem tem que pagar é o condenado.
Exemplo: Hoje já se pode pagar as multas através do multibanco. Por isso, nestes casos, não
podemos controlar quem paga ou não.

 Princípio da não automaticidade dos efeitos da pena


As penas não têm efeitos automáticos, art.º 30º/4 CRP e 65º do CP. No estado novo só
porque era condenado perdia automaticamente os seus direitos políticos, como o direito de
votar.

16 Outubro 2013

Sanções aplicáveis às pessoas singulares

Penas principais – são como sabemos a pena pode ser a prisão e a pena de multa.

Pena de prisão: é uma pena única, simples e de duração limitada ou definida. É única porque só
há uma pena de prisão, e não nos suscita muita dúvida mas nós temos esta ideia desde 1982 e
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no anterior havia a pena de prisão correcional (previa corrigir o condenado) e a pena prisão
maior (trazia associada os efeitos automáticos). Significa então que há apenas uma forma de
pena de prisão e não há diversificadas como houve. É uma pena simples porque é uma pena a
que não está associado qualquer efeito necessário ou automático, pois como sabemos, estes
existiam antes de 82 como sejam a perda de direitos civis e políticos. É uma pena de duração
limitada precisamente porque ninguém entre nós num intervalo de empo mas numa pena
concreta definida no tempo com uma duração limitada pelo que este sabe à partida o tempo de
pena que irá cumprir.

A propósito desta terceira característica teremos de falar dos limites e estes são gerais ou
normais previstos na lei art.º 41º. O nº1 prevê então estes limites normais da pena de prisão
10
que são o limite mínimo de 1 mês e o máximo de 20 anos, mas, como a própria norma indica,
essa é a situação regra, ou seja, há exceções e há limites especiais ou excecionais e quanto ao
limite máximo, diz-nos o nº2 da mesma norma que o limite pode ser de 25 nos casos previstos
na lei. Que casos estão previstos no seio do Código Penal? Há casos previstos na parte geral
são dois: por um lado, concurso de crimes – art.º 77º nº2 e o outro caso é o da Pena
Relativamente Indeterminada, cujo limite máximo pode ascender aos 25 nos termos do art.º
83º nº2 e art.º 84º,nº2. Na parte especial temos o exemplo do crime mais grave que é o
crime de homicídio qualificado.

O art.º 41º nº3 diz que em caso algum pode ser excedido o limite dos 25 anos e isso
significa que entre nós, em Portugal não é possível que ninguém cumpra mais de 25 anos
de prisão? Não, isto só acontece por cada condenação. Quanto aos limites mininos, não há
limites excecionais, apesar de duas situações que normalmente são apontadas como exceção,
ainda que não sejam verdadeiras: prisão por dias livres, prevista no art.º 45º - pena de
substituição em que condenado cumpre a pena de prisão ao fim de semana e essa privação de
liberdade dura períodos curtos de fim-de-semana mas não é uma exceção porque os limites
mínimos dizem respeito às penas principais e esta prisão por dias livres corresponde a uma
pena de substituição e o que está no art.º 45º não diz respeito a pena de prisão principal. A
outra situação é a da prisão subsidiária, esta está prevista no art.º 49º e do que se trata é
de um regime que vale para o não pagamento da pena de multa (primeiro há execução
patrimonial, mas se isso não funcionar, o sistema prevê a conversão da pena de multa em
prisão subsidiária) e ao reduzir os dias de multa a 2/3 para prisão subsidiária, podemos
reduzir isso a dias inferiores a um mês, mas isto volta a não ser desvio porque isto é uma
prisão subsidiária e não uma pena, é uma mera de sanção de constrangimento ao pagamento da
multa. Como tal, se não é referente à pena principal também não é desvio ao limite mínimo.

Em matéria de duração da pena de prisão, temos de dizer ainda que podemos fazer duração
entre três tipos de pena de prisão, importante do ponto de vista político-criminal porque
dependendo a sua duração há uns institutos aplicáveis

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 Penas de curta duração – até um ano e correspondem à categoria da pequena


criminalidade
 Penas de média duração – penas de prisão de 1 a 5 anos que correspondem à categoria
da criminalidade de média gravidade
 Penas de prisão de longa duração – penas de prisão acima dos 5 anos e correspondem
a categoria de criminalidade grave.

Isto interessa para alguns efeitos, nomeadamente as penas de substituição porque estas
são aplicáveis à pena de prisão de curta e media duração, as penas de longa duração não se
pode aplicar penas de substituição.
11
Pena de multa principal:

Cuidado, em qualquer caso prático em que há uma pena de multa a considerar, temos de
distinguir se é principal ou substituição porque o regime jurídico é diferente.

A pena de multa, contrariamente à de prisão, pode aparecer com duas vestes: como pena
principal mas também como pena de substituição.

Como pena principal, tem duas características: são as que estão previstas expressamente
no tipo legal de crime e são fixadas pelo juiz na sentença, independentemente de qualquer
outras. Quanto à previsão no tipo legal de crime, a pena de multa pode aparecer prevista
de forma autónoma ou de forma alternativa, e quando é autónoma significa que é a única
prevista no tipo legal de crime – exemplos: art.º 366º nº2; art.º 268º nº3 e 4 – mas
dentro da parte especial é muito raro. A situação mais comum é a situação da pena de
multa alternativa, ou seja, aparece como alternativa à pena de prisão exemplo: art.º 143º
e 203º.

Em relação às características, a pena de multa, desde logo, é uma sanção de natureza


pecuniária e esta evidência faz com que haja algumas confusões quanto à natureza da pena
e quanto a isto devemos dizer que é uma verdadeira pena criminal, não é um direito de
crédito, nem taxa e nem imposto. Isto significa dizer que ela assume um caráter
pessoalíssimo, ou seja, ela está vocacionada como qualquer pena criminal para aplicação à
pessoa do condenado e não pode ser cumprida por mais alguém que não o condenado. Temos
manifestações desta ideia, nomeadamente, se houver terceiros a cumprir pena de multa
em vez do condenado, implica a prática de um crime de favorecimento pessoal – art.º
367º nº2.

Outra manifestação é que não pode ser celebrado um contrato de doação ou outro negócio
afim com vista ao cumprimento da pena de multa e ainda não pode um contrato de seguro
ter por objecto o pagamento de uma pena de multa e esta é uma questão particularmente
importante em acidentes de viação (a seguradora é chamada para pagar a indemnização e
jamais entra a quantia que tenha de ser paga pela seguradora.). A quarta manifestação tem
a ver com o facto de a morte do condenado não significar o pagamento da multa com as
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

forças da herança, pois não há transmissão da responsabilidade criminal por morte e isto
decorre do disposto no art.º 127º do Código Penal, que nos diz que a morte dá lugar à
extinção da responsabilidade penal e o art.º 30º, nº3 da CRP.

Desde a lei 59/2007 que prevê a responsabilidade criminal das pessoas colectivas, está
também previsto um regime um pouco avesso a estas ideias que acabámos de ver e abre
uma brecha no que diz respeito ao regime das pessoas colectivas porque transporta
regimes já existentes para o direito penal – art.º 11º, nº9, 10 e 11º, que prevê dois
conceitos estranhos: responsabilidade subsidiária e solidária. O Código Penal diz isto no
art.º 11º e prevê que um terceiro responda subsidiariamente pelo cumprimento da sanção
e prevê que haja responsabilidade solidária em alguns casos e lugar a direito de regresso
12
sobre aquele que pagou pelo que não pagou. Não é entendível porque o objectivo criminal
não é o mesmo do civil, o nosso objectivo é pagar, como forma de realizar funções ou
finalidades da pena de carácter preventivo. Isso não realiza as finalidades da punição e é
uma logica claramente contrária à natureza pessoalíssima da pena criminal.

Na responsabilidade solidária um dos devedores responde pela totalidade da dívida,


podendo exercer o direito de regresso na proporção da responsabilidade e isso diz-se no
Código Penal, a respeito da pessoa colectiva e a pessoa que assume a liderança e não é
claramente o que está por trás das finalidades apenas. O tribunal constitucional já
proferiu três acórdãos julgando situações paralelas a este art.º 11º como
inconstitucionais.

Limites da pena de multa: temos de fazer uma referência adicional porque a pena de
multa é uma sanção de natureza pecuniária e aparece prevista por dias. Como funciona e
como é que se chega a um quantitativo? Tem a ver com o sistema de determinação da
pena de multa, sistema dos dias de multa e esta concretiza-se por duas operações
distintas: na primeira o juiz determina os dias de multa (exemplo 100 dias) e na segunda
operação o juiz determina o quantitativo diário (10 euros, ou seja, 1000 euros de pena de
multa).

Quanto ao número de dias, a norma referência é o art.º 47º e no nº1, os limites são no
mínimo 10 dias e no máximo, 360 dias havendo exepções. Na parte especial há exceções
quando há crimes cujo limite máximo são 600 dias, art.º 204º nº1; 205ºnº1 218º,
235º nº1 e art.º 295. Outra situação em que se excede o limite é no concurso de crimes
onde se prevê que a pena conjunta chega a 900 dias de multa, nos termos do art.º 77º,
nº2. Por fim, há uma outra situação que não é de leitura directa mas que pode redundar em
forma de extravasar o limite máximo, ou seja, o que acontece quando uma pessoa coletiva
era condenada por uma norma que apenas previa a pena de prisão e aí converte-se o tempo
de prisão em pena de multa – art.º 90º-B nº2 e assim podemos chegar até 3 000 dias de
multa e também é uma excepção ao limite máximo de 360 dias.

Diana Simões
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Quanto ao quantitativo diário, o art.º 47º nº2 diz que o limite mínimo é de 5 euros e o
máximo 500 euros. A este respeito devemos dizer que a lei 59/2007 trouxe uma
alteração, ou seja, fez com que o limite mínimo passasse de 1 para 5 euros e o máximo
passou de 498 para 500 euros. Quanto ao limite mínimo, passou a 5 vezes mais e o
problema que daqui advém tem a ver com as situações em que o condenado apresenta uma
situação económico-financeira dificílima de mínimo de sobrevivência, pois num primeiro
passo determina-se os dias sem olhar para a situação económica e num segundo passo,
olha-se para essa situação.

Para além disso, o juiz pode ser levado a ir para o indesejável desvio ao sistema e, na
primeira operação, determinar menos dias pois já se sabe que os dias encontrados, vezes o
13
valor de cada dia, vai dar um valor que a pessoa não pode pagar e não pode ser porque o
legislador previu as duas operações com base em critérios diferentes com um determinado
sentido e não faz sentido que olhe num primeiro plano o nº de dias considerando o valor
diário.

A solução legal que temos é a do art.º 49º nº3 (onde ele não paga porque não pode, pois
não tem se quer o mínimo para pagar a pena), onde o juiz converte o tempo de multa em
prisão subsidiária e esta é apenas uma forma que o legislador tem para aplicar a imposição
de cumprimento de deveres ou regras de conduta, suspendendo assim a prisão e executada
esta imposição, estingue-se a responsabilidade criminal.

 Situação prática:

Qual a moldura aplicável no caso do crime do art.º 180º CP? E no caso do art.º
203º?

Art.º 180º CP: pena de prisão até 6 meses ou pena de multa até 240 dias – a moldura
penal é de 1 a 6 meses pelo art.º 180º e art.º 41º CP, que nos dá o limite mínimo para a
pena de prisão ou, no caso da pena de multa, 10 a 240 dias, pelo art.º 180º e art.º 47º
para o mínimo.

Art.º 203º CP: pena de prisão até 3 anos ou pena de multa – a moldura penal é de 1 mês a
3 anos pelo art.º 203º e art.º 47ºCP e, como quanto à pena de multa não há um período
indicado, aplicam-se os limites da parte geral do art.º 47º, ou seja, 10 a 360 dias de
multa.

Nota: temos sempre de integrar o que está no tipo legal de crime e temos de ir buscar o
limite mínimo à parte geral. É sempre o primeiro passo no caso prático.

O conceito de Pena aplicável é totalmente diferente do de pena aplicada. A pena aplicável


é sempre uma moldura, a moldura legal ou pena em abstrato, um intervalo de tempo com um
limite máximo e um limite mínimo. Na Pena aplicada, esta é uma pena concreta que já foi
determinada depois de ter a moldura. No caso, temos a pena aplicável, a aplicada é ulterior

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

à outra e isto é uma questão de rigor. Não é igual dizer pena aplicada ou aplicável e para o
legislador também não é. Pode deixar de ser relevante a moldura e passar a ser relevante
a pena.

 Penas de substituição:

Estas penas de substituição substituem penas principais, ou seja, pena de prisão e pena de
multa, e quanto à pena de prisão temos 3 tipos:

 Penas de substituição em sentido próprio -têm tudo a ver com a matriz do


aparecimento destas. Surgiu no movimento politico-criminal de luta contra a pena de
14
prisão quanto aos seus efeitos nefastos a todos os níveis e também têm uma maior
dificuldade de ressocialização, bem como revela que a penitenciária é mais uma escola
do crime do que a reflexão. Financeiramente, também é muito oneroso para o Estado.

Neste sentido, surgiu a alternativa para os casos da pena de prisão. Estas têm caracter não
preventivo da liberdade.

 Características:

1) Substitui a pena principal de prisão concretamente determinada


2) Têm caracter não Institucional, ou seja, detentivo/não privativo da liberdade.

Que penas são estas?

1. Pena de multa de substituição – art.º 43º nº1, aplicável a penas de prisão até um
ano.
2. Pena de proibição do exercício da profissão, função ou actividade pública ou
privada – art.º 43º nº3, e é aplicável a penas de prisão até 3 anos, sendo esta
introduzida com a reforma de 2007.
3. Pena de suspensão de execução da pena de prisão – art.º 50º e ss – aplicável a
penas de prisão até 5 anos e esta pode assumir três formas diferentes.
 Executada como suspensão simples – art.º 50º
 Suspensão com imposição de deveres – art.º 51º - ou regras de conduta
– art.º 52º.
 Suspensão com regime da prova – art.º 53º e 54º - esta é obrigatória
em dois casos se o juiz decidir aplicar esta pena: quando o agente, à data
da prática do crime, não tivesse mais do que 21 anos ou quando a pena de
prisão principal for superior a 3 anos – art.º 53º, nº3.
4. Pena de prestação de trabalho em favor da comunidade – art.º 58º e 59º -
substitui penas de prisão até 2 anos (nota: ler as normas dos artigos)

Há requisitos de carácter material que estão nas normas – o art.º 58º, nº5 exige algo
que a generalidade não existe, a aceitação do condenado porque se trata de penas que

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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

implicam a prestação de trabalho e se a pessoa não está disponível, o juiz não pode impô-la
ao condenado. Porem, pode perder esta segunda oportunidade dada pelo sistema.

 Penas de substituição em sentido impróprio ou privativas da liberdade – dizem-


se em sentido impróprio porque também privam a pessoa da liberdade, ainda que de
forma menos gravosa.

 Características:
1) Substituem a pena principal de prisão concretamente aplicada
2) Têm caracter detentivo
15
Aqui só temos 3: art.º 44º, 45º e 46º

Nota comum: são aplicadas a penas de prisão principal que não exceda um ano.

Art.º 44º - regime de permanência na habitação – só a al a) do nº1 é que é pena de


substituição, o resto não é. Na al b) e no nº2 não são penas de substituição mas
formas de execução da pena de prisão. Marcar no código.

Art.º 45º - prisão por dias livres – prisão de fim-de-semana – nº2.

Art.º 46º - regime de semi-detenção – consiste numa privação da liberdade (vêr art.º
46º, nº2).

 Penas de substituição da Pena de Multa – é só uma admoestação – art.º 60º

Significa dar um raspanete, sermão ou solene advertência oral. Não é aplicável em todos os
casos, apenas quando a pena principal for não superior a 240 dias.

Se a advertência feita ao condenado pelo juízo na audiência de julgamento, temos de coadunar


com o direito ao recurso. O Ministério público, o arguido e o assistente (ofendido) são quem
pode recorrer.

Neste caso, ou estes três sujeitos (havendo assistente) prescindem do direito ao recurso e a
admoestação é constituída de imediato ou então, não prescindem e só é feita quando o caso
transitar em julgado, se do recurso não resultar a absolvição – art.º 497º Código do
Processo Penal.

Conclusão: a lei 59/2007 de 4 de setembro/reforma de 2007 trouxe duas novidades


importantes em matéria de penas de substituição. Em primeiro lugar, consagrou novas penas
de substituição, nomeadamente, art.º 43º nº3 e art.º 44º nº1 a). Em segundo lugar,
houve o alargamento do âmbito de aplicação das penas de substituição porque até 2007, estas
eram diferentes.

Diana Simões
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Nota: qualquer caso prático a resolver com pena concreta de 5 anos ou menos, temos de dizer
se pode ou não substituir e para que pena ou penas, mesmo que não diga porque o juiz tem o
poder-dever de fazê-lo.

23 Outubro 2013

 Caso prático:

Suponha que A foi condenado pela prática de um crime de burla, art.º 217ºCP, numa
16
pena de dois anos de prisão, suspensa na sua execução, devendo ainda pagar ao lesado a
indemnização correspondente.

1 – Identifique as sanções criminais referidas no caso

Temos uma pena principal de prisão de dois anos e uma pena de substituição da pena de prisão
que é a suspensão da execução da pena de prisão, prevista no art.º 50º e ss e é uma pena de
substituição em sentido próprio, isto é, pena não privativa de liberdade. Esta pode assumir
uma de três formas, e esta, à partida há pelo menos imposição de um dever, o pagamento da
indemnização que será um dos deveres do quadro do art.º 51º, nº1 a). Diz-se que não é uma
suspensão pura e simples, apenas sabemos que tem a imposição de um dever, só na sabemos se
necessita ou não de prova, devido à formulação do caso.

2 – Face à pena aplicada, avalie a possibilidade de aplicação de outra pena de


substituição.

Sim, será logo o pensamento porque temos só uma pena de dois anos – art.º 43º - poderíamos
ainda aplicar pelo nº3 a proibição do exercício de função, profissão ou actividade, ou então
penas de prestação de trabalho a favor da comunidade – art.º 58º e 59º.

3 – Qual a duração da pena de suspensão de execução da pena de prisão?

Art.º 50º, nº5 – a pena de suspensão da pena de prisão dura o mesmo tempo pois o
legislador assim o decidiu. Pena de dois anos, suspensa na execução por dois anos. Quanto a
esta questão, esta é uma forma de relacionamento de matéria. É um problema de
determinação da pena de substituição da pena de prisão.

A determinação da medida da pena de substituição é, em regra, efectuada de forma autónoma


face à determinação da pena principal. Há contudo alguns casos excecionais de que é exemplo
a suspensão da execução da pena de prisão em que o legislador optou por um critério de
correspondência automática, exemplo: art.º 50º nº5.

4 – Qual a consequência do não cumprimento do dever de indemnização?

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Não é qualquer infração de um dever que vai levar a isto, um incumprimento de forma pouco
grave não leva a uma consequências grave mas a infração reiterada e grave dá lugar a
revogação da pena de substituição e como consequência determina a execução da pena
principal – art.º 56º.

Se o não cumprimento do dever não for grosseiro ou repetido? Aqui, teremos pelo menos
uma falta de cumprimento das condições de suspensão e aí poderemos ter uma das formas do
art.º 55º, consoante o incumprimento específico.

Quando se tem questão de não cumprimento de um dever ou uma regra de conduta, não
devemos ser logo levados para o art.º 56º poderemos aplicar o art.º 55º mas tal avaliação 17
será tida em conta pelo juiz de execução de penas.

Penas acessórias:

A foi condenado pelo tribunal de primeira instância numa pena de multa pela pratica do
crime de condução sob efeito do álcool, art.º 292º do Código Penal (quanto a esta norma,
há uma necessidade de prevenção geral brutal para repor a sua validade. O impacto social que
tem um crime interessa-nos juridicamente desde logo para as exigências da prevenção geral e
assim as penas são endurecidas e graves) tendo ainda ficado sujeito à proibição de conduzir
veículos com motor pelo período de 6 meses.

1 – Como justifica a compatibilização do que foi referido como disposto no art.º 65º

Esta norma é paralela a uma norma da CRP art.º 30º nº4 – estamos a falar do Princípio
constitucional da não automaticidade dos efeitos das penas e este é um Princípio que existe no
nosso CP e CRP e o legislador quis com o CP de 82 acabar com os efeitos automáticos das
penas e no nosso código apenas ficaram efeitos não automáticos das penas, ficando no código
efeitos não automáticos. Em 1995, com a revisão do Código Penal deixamos de ter efeitos das
penas e passamos ater verdadeiras penas acessórias.

Hoje já não temos nem efeitos automáticos nem não automáticos, mas temos penas acessórias.
Porém, isso será só uma diferença teórica? Não porque há uma semelhança de haver algo
mais do que a pena principal mas esta é a única semelhança, fora disto, hoje à e mediação do
juiz que não existia antes e apos determinação da pena concreta automaticamente havia a
perda dos direitos. Hoje, a grande diferença entre efeitos das penas e penas acessórias é
explicitada com três características:

1. A pena tem como pressuposto a culpa;


2. A pena é limitada no tempo, desde logo porque o legislador define um limite mínimo e
máximo e o juiz define em concreto a sua duração;
3. A pena tem de ser referida ao facto.

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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Num efeito da pena essa está mais direcionada para a pena principal de que constitui efeito
do que ao facto e na pena de substituição tem de ter uma ligação evidente entre o tipo de
facto praticado e a pena acessória ao nível da aplicação. O efeito não é automático porque tem
de estar sempre presente a mediação do juiz. Não costuma ser autonomizado mas há mais uma
coisa que serve de distinção:

4. As finalidades preventivas cumprem exigências de prevenção e os efeitos da pena


tem em conta estas finalidades.

Isto significa que teríamos de usar estes argumentos no caso. Temos uma pena principal
prevista no código penal e uma pena acessória do art.º 69º com limite mínimo e limite 18
máximo.

Condições de aplicação de uma pena acessória:

1) Condenação a um apena principal – ninguém aplica nenhuma pena acessória sem


pena principal
2) Comprovação judicial da existência de um particular conteúdo de ilicitude que
justifica materialmente a aplicação da pena acessória – o juiz tem de olhar para
o caso concreto e achar que a pena principal é insuficiente e que necessita de
uma pena acessória, que reside numa exigência de prevenção do caso.

É com base nesta ultima ideia que se conclui que estas cumprem uma função complementar
face à pena principal (ou pena de substituição da pena principal), no que respeita à satisfação
das exigências de prevenção.

Há pebas acessórias na parte geral e na parte especial do Código, bem como fora deste. Na
parte geral temos, desde logo, o art.º 66º - proibição do exercício de função; art.º 67º -
suspensão do exercício de função e art.º 69º - proibição de condução de veículos com
motores. Pelo art.º 65º, nº2 temos que, a lei pode definir a pena acessória, ou seja, há aqui
uma previsão de números apertus ou seja, a lei pode prever outras para além das identificadas
no Código Penal. Na parte especial temos, no caso da violência domestica, o art.º 152º, nº4;
n crimes de caracter sexual; art.º 246º quanto a incapacidades e art.º 346º - crimes de
carácter eleitoral.

2 Qual a consequência do não cumprimento da referida proibição?

O não cumprimento da pena acessória constitui em si mesmo crime nos termos do art.º 353º
- crime de violação de imposições proibições ou interdições e diz expressamente que quem
violar estas disposições é punido com pena de prisão ou pena de multa.

 Determinação da pena aplicável às pessoas singulares

Quando se fala disto, pensamos ser tarefa do juiz e isso é verdade mas há mais um operador
que é fundamental nesta tarefa que é o legislador porque o juiz não determina uma pena sem
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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

critérios, ele fá-lo com base numa série de determinações legais, pois nós não temos penas
fixas mas antes molduras, ou seja, um amplo espaço de liberdade decisória para o juiz, dentro
das balizas que o legislador fixa. A determinação da pena é tarefa do juiz mas feita em
estrita cooperação com o legislador.

Quanto ao legislador, este fixa a moldura penal cabida a cada crime, na parte especial do CP
ou em legislação extravagante, nos tipos legais de crime. É também este que define quais são
as circunstâncias modificativas que podem atenuar ou agravar essa moldura penal e, para além
disso, estatui os critérios de determinação concreta e de escolha da pena, ou seja, dentro da
moldura atenuada ou agravada, o juiz escolhe a pena concreta dentro dos critérios impostos
pelo legislador.
19

Por paralelismo, o juiz seleciona a moldura legal que cabe aos factos provados no processo;
determina a pena concreta; escolhe o tipo de pena sempre que o legislador tenha previsto mais
do que uma e determina a pena que virá, em sede de execução, a ser efetivamente cumprida.
Tudo isto é feito na sentença e o juiz não o faz de forma arbitrária, há uma exigência de
fundamentação social da sentença, prevista no art.º 71º, nº3. Para além de fundamentar as
questões jurídicas tem também de fundamentar a sua determinação da pena em concreto em
cada passo da decisão, pois há recursos apenas contra apena, dando por assumidos todos os
factos provados, por exemplo e usam-se os argumentos da determinação da pena para
recorrer.

 Fases de determinação da medida da pena

I. Determinação da moldura penal – nesta fase o juiz investiga e determina a moldura


penal aplicável ao caso, chamada medida legal ou abstrata da pena. Esta primeira fase é
quando o juiz vai buscar a pena aplicável, ou seja, o intervalo de tempo, a moldura
abstrata.
II. Determinação da medida concreta da pena – aqui o juiz, dentro da moldura legal
encontrada no momento anterior, vai fixar a medida da pena, ou seja, vai encontrar a
chamada pena concreta.
III. Escolha da pena – aqui o juiz escolhe a pena que em concreto será cumprida pelo
agente.

As palavras têm uma questão de rigor: nas duas primeiras fazes há uma determinação, no
primeiro caso da pena aplicável e no segundo a pena aplicável. A partir de agora não se pode
usar a palavra escolher dentro da segunda operação. Na terceira operação escolhe-se a pena e
isto pode ser no fim, no início ou pode nunca acontecer. Esta fase de escolha é meramente
eventual porque pode ocorrer ou pode nunca ocorrer e ainda não tem que ocorrer
cronologicamente em último lugar, pode acontecer logo no primeiro momento, nos casos em que
o tipo legal de crime prevê, em alternativa, pena de prisão ou pena de multa; pode ocorrer em

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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

ultimo lugar nos casos em que a pena principal aplicada admita substituição e o juiz decida
aplicar uma pena de substituição.

Exemplos: art.º 143º - na primeira operação é necessário escolher entre prisão ou multa –
ou seja, temos de escolher a pena aplicável, ou seja, pena de prisão de um mês a três anos,
art.º 41º e depois teremos de determinar a pena aplicável, por exemplo de dois anos e depois
de isto há um poder-dever constitucional de dar prevalência às penas não preventivas da
liberdade, e aqui há uma quarta operação de escolha da pena de substituição e aqui, ou se
substitui ou não, mediante justificação, seja qual for a sua escolha.

Se optarmos pela pena de multa, teremos de determinar os dias e depois o quantitativo diário 20
consoante a situação económica e se esta fosse até 240 dias, admitiria a pena de substituição
de admoestação pelo art.º 60º.

A pena acessória pode coexistir com uma pena principal ou com uma pena substituída.

Art.º 131º - homicídio qualificado – não há escolha de pena principal, ou seja, a primeira
operação é a de determinação da pena aplicável, e a moldura penal é de 8 a 16 anos. A segunda
operação será sempre a determinação da pena aplicada, e o que quer que seja decidido já não
dará lugar a mais nada, porque só são admitidas penas de substituição a penas de prisão até 5
anos.

Fase de determinação da moldura penal – nesta fase o juiz tem que determinar o tipo legal
de crime que a conduta do agente preenche e nesse momento entra automaticamente em
aplicação a respetiva moldura legal, definida pela norma incriminadora (subsumir os factos, a
sua norma incriminadora a um certo tipo legal de crime) – no exame não temos de fazer isso
porque não demos a parte especial.

Não temos de decidir o tipo legal de crime a aplicar mas podemos fazer outra coisa pois é
também nesta faz que o juiz considera se se verificam ou não no caso, circunstâncias
modificativas e estas são pressupostos que não dizem respeito nem ao tipo de ilícito nem ao
tipo de culpa mas que contendem com a maior ou menor gravidade do facto e que por isso
alteram o preenchimento do tipo, atenunado ou agravando os seus limites e/ou máximo.

As circunstâncias modificativas podem ser atenuantes ou agravantes consoante baixam ou


elevam um dos limites da moldura.

Podem ser gerais ou comuns, ou especificas ou especiais consoante se apliquem qualquer que
seja o crime em causa (gerais ou comuns – exemplo: tentativa – art.º 33º, nº2;
comparticipação a propósito da cúmplice – art.º 27º, nº2 são atenuantes e uma situação
agravante é a reincidência – art.º 75º e é a única atenuante geral que existe.) ou somente
para certo tipo de crime (especificas ou especiais – exemplo: agravantes crimes sexuais art.º
177º).

Diana Simões
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Esta trefa nem sempre é tao simples como parece porque o juiz por vezes tem de verificar se
esta perante um tipo fundamental, um tipo privilegiado ou tipo qualificado arts.º 131º,
132º e 133º.

30 Outubro 2013

Determinação da medida concreta da Pena


21
Como é que o juiz, dentro de um a moldura legal, consegue fixar uma medida concreta da pena
e para tal teremos de saber que critérios irão determinar a medida concreta da pena.

O art.º 71º, nº1 responde a isto que diz são a culpa do agente e as exigências de prevenção.
Isto levanta uma serie de questões: que exigências de prevenção? Geral positiva “proteção
de bens jurídicos” (porque se pretende evitar o cometimento de crimes da comunidade porque
visa a estabilização contrafactica da validade da norma violada pelo crime.

O crime é uma infração de uma norma e por trás da norma está um imperativo axiológico de
proteção a um bem jurídico. Se tivéssemos um caminho seria: bem jurídico, norma, violação da
norma com o crime, punição) e especial positiva “reintegração do agente na sociedade” (a
expressão, por si só, a nos dá o sentido desta prevenção), pelo art.º 40º, nº1. E a culpa
serve para que? Em que medida é que a culpa tem valor nomeadamente na determinação
da pena? A culpa é pressuposto e limite da culpa – princípio da unilateralidade da culpa –
teorias retributivas, ainda que rejeitemos tudo o resto quanto a esta teoria - “não há pena
sem culpa, pode haver culpa sem pena (art.º 74º - alguém dispensado de pena é condenado
por sentença judicial mas é dispensado da pena), mas pode haver culpa sem pena”. A culpa é
assim pressuposto e é limite porque diz o art.º 40º.nº2, mas não é medida (a pena pode ser
inferior à culpa, só não pode ser superior, e se fosse medida teria sempre de coincidir com a
culpa) nem é fundamento (o direito criminal não é um direito contra a personalidade do
agente, mas contra o facto e na pratica isso significa que se assim não fosse, sempre que
houvesse culpa, havia pena).

Como se relacionam todos estes critérios?

A matou B e vai ser condenado pela prática de um crime de homicídio.

1) Determina a aplicar ao agente tendo por referência o tipo incriminador do art.º


131º.

Temos de determinar a pena a aplicar – não temos duas penas principais em alternativa e não
temos nesta operação de ir buscar outras normas porque, na determinação abstrata da pena, a
moldura legal é de 8 a 16 anos.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Para a determinação da pena concreta, usamos o art.º 71º/1 e o art.º 40º/1 e 2.

Doutrina/Teoria da moldura da prevenção (figueiredo Dias): este modelo caracteriza-se


por ter uma moldura legal de 8 a 16 aos e temos 3 critérios a considerar. A primeira coisa a
considerar é a prevenção geral positiva que serve para ocnstruir a moldura e isso significa que
dentro da moldura legal faz duas perguntas: considerado só a prevenção geral positiva, qual
seria a medida ideal? Imagine-se que conclui serem 14 anos, este é o chamado ponto ótimo
de tutela do bem jurídico e quanto ao limite mínimo é aquele abaixo do qual é admissível que a
pena se situe porque se não se cumprem as exigências, a que se chama limiar mínimo de
protecção dos bens jurídicos, 10 anos. Continuamos a ter um intervalo de tempo mas temos
agora uma moldura da prevenção dentro da moldura legal.
22

A nossa pena, ainda assim, não esta fixada mas está entre 10 e 14 anos. Agora, iremos
considerar a culpa do agente e de acordo com um juízo de censura irá estabelecer uma pena
que será de 12 anos. Chegados aqui temos um limiar entre o ponto mínimo e o limite da culpa
de 10 a 12 anos e aqui falta considerar um critério que em última analise serve para considerar
e determinar em concreto a medida de pena, 11 anos. Significa que temos 3 critérios e 3
proposições básicas defendidas por esta doutrina.

Anotação:

O art.º 71º/1 prevê os critérios de prevenção da medida concreta da pena: a culpa e as


exigências de prevenção. O relacionamento destes critérios em concreto pode ser feito de
diversas formas consoante os diversos modelos explicativos autonomizados ao longo da
história, nomeadamente a doutrina do valor de posição ou de emprego – Horn e Schoch; teoria
da pena da culpa exacta – Kaufmann; teoria do espaço de liberdade ou da moldura da culpa –
Roxin; teoria da moldura da prevenção – Dr. Figueiredo Dias. Esta ultima é a mais consentânea
com o regime previsto no nosso CP a partir de uma leitura conjugada dos artigos 40º e 71º.

Esta doutrina assenta em 3 proposições básicas:

1) Dentro da moldura legal, o juiz irá considerar as exigências de prevenção geral


positiva. Estas exigências não lhe permitem fixar uma medida exacta de pena mas tão
só uma moldura a que se chama moldura da prevenção composta por um limite máximo
dado pelo ponto ótimo de tutela do ordenamento jurídico e por um limite mínimo abaixo
do qual não é admissível que a pena se situe em concreto sob pena de se frustarem as
exigências comunitárias de prevenção (o limiar mínimo de proteção do ordenamento
jurídico).
2) Dentro desta moldura da prevenção, haverá que considerar o juízo de culpa que tem
como função, à luz do art.º 40º/2, servir de limite para a medida da pena.
3) Dentro da moldura da prevenção e considerado o limite dado pela culpa, o juiz irá, em
última analise, fixar em concreto a medida da pena em função das exigências de
prevenção especial positiva ou de socialização.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

E se ele não carecer de socialização? A pena ficará muito próximo do limiar mínimo de
proteção porque abaixo desse limiar nunca poderá fica e aí indica-se que a pena cumpre uma
prevenção especial negativa, uma advertência. Quanto maior for a carência de socialização
mais perto se ficará do limite máximo da medida da culpa.

Nas situações em que o agente revele pouca ou nenhuma carência de socialização, a medida da
pena situar-se-á mais próximo do limiar mínimo de tutela do Ordenamento Jurídico cumprindo,
nesse caso, a pena uma função de advertência – ler páginas do livro do ano passado o
capitulo inicia-se na pág. 43 a 105 matéria 78 a 85 e quanto as medidas de segurança é
importante reler 88 a 95.
23
O que está no nº2 do art.º 71º? Estão os fatores da medida da pena que servem para
valorar e densificar os critérios. São circunstâncias que o legislador autonomiza
exemplificativamente e servem para avaliar os critérios do nº1.

Em relação a estes há um princípio fundamental: proibição da dupla valoração – significa que


não pode o juiz valorar a mesma circunstância duas vezes aquando da determinação da medida
da pena. Este Princípio releva a dois níveis: 1º não devem ser convocados pelo juiz para a
determinação da medida da pena circunstâncias que o legislador já tomou em consideração
aquando do estabelecimento da moldura penal do facto

2) E se B fosse cônjuge de A teria esse facto algum relevo do ponto de vista da


determinação da medida concreta da pena?

Como vigora o P da proibição da dupla valoração, já há uma moldura penal abstrata mais
grave para valorar a situação. Esse simples facto de a vítima ser cônjuge do autor já foi
usado pelo legislador para agravar a moldura, aquando da fixação da moldura mais grave.

O princípio está considerado no segmento “não fizer parte do tipo de crime”.

Art.º 136º prevê o crime de infanticídio, e o legislador que há uma circunstância que
justifica a sua autonomização no segmento “influência perturbadora”. Como é que se
prova que este pode ser um bom exemplo para provar este princípio? Não se pode
desvalorizar o juízo da culpa por força da sua circunstância.

3) E se se tratasse de um crime de homicídio mas cometido sob a forma tentada?

A tentativa é uma circunstância modificativa atenuante prevista no art.º 23º, nº2 e o juiz
atende a esta circunstância modificativa no momento de determinação legal abstrata, ou seja,
na primeira operação.

Falta um segundo nível deste princípio e este principio vale ainda na medida em que não pode o
próprio juiz valorar a mesma circunstância duas vezes. No 1º nível tínhamos o legislador a
valorar e o juiz a valorar novamente e neste segundo nível temos o juiz a valorar duas vezes.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Exemplos: determinação da pena de multa; reincidência e concurso de crimes que são


situações em que pode correr-se o risco de violar o segundo nível deste princípio.

06 Novembro 2013

Dissemos na aula passada que eles são muito relevantes desde logo a propósito do Princípio da
proibição da dupla valoração nos seus dois níveis.

Faltam duas referências quanto ao factor da medida da pena:


24
1ª Categoria: fatores relativos à execução do facto – os que estão nas alíneas a), b), c) e
ainda e) parte final. Há também fatores relativos à personalidade do agente manifestada no
facto – exemplo alínea d) e f). Por fim há também factores relativos à conduta do agente
anterior ou posterior ao facto – alínea e).

Para além disso, há outra referência em relação aos fatores: Primeiro porque é que são
ambivalentes e segundo porque e que são duplamente ambivalentes?

Porque são ambivalentes? Tem dois sentidos, duas valências e cada um dos factores da
medida da pena vale para dois efeitos, ou seja, se servem para densificar os critérios que são
culpa e prevenção, são essas duas ambivalências, ou seja, relevam quer para a avaliação da
culpa, quer para a avaliação da prevenção.

A ambivalência é dupla porquê? Significa que por exemplo: consideramos o factor previsto
na alínea d) - situação económica do agente que pratica um crime de furto a alimento, em
que sentido é que este factor da medida da pena influencia a culpa? Ele é menos culpado
por isso e do ponto de vista da prevenção geral também diminui as exigências de prevenção
porque o impacto social é maior quando é muito culpado e do ponto de vista da ressocialização,
à partida, uma pessoa representará do ponto de vista da prevenção especial, maiores
necessidades. Este factor pode ter efeito agravante para a prevenção especial e atenuante
para a prevenção geral e culpa.

É ambivalente na medida em que o efeito pode ser agravante quando considerado ao nível da
culpa e o efeito atenuante quando considerado ao nível da prevenção e vice-versa.

Olhando para o elenco, qual é o único factor do art.º 71º, nº2 de medida da pena que
não é ambivalente? É só uma parte da alínea e) em que se refere “à conduta posterior ao
facto” porque a culpa é avaliada no momento da prática do facto, esta não é dirigida à
personalidade do agente manifestado na prática daquele concreto facto, sendo irrelevante
tudo o que ele fizer depois. Para fazer a censura o juiz tem de esquecer tudo o que se passou
depois do facto praticado até ao dia de hoje.

 Caso prático 1

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

A praticou um crime de furto simples (artigo 203.º do CP) em Janeiro de 2013 e está
hoje a ser julgado.

1 – Suponha que o juiz escolheu aplicar pena de multa. Como se procede à determinação
da medida concreta da pena?

Se o artigo é o 203º temos de fazer uma primeira operação, a da escolha da pena, uma vez
que há alternativa no tipo e o enunciado escolheu por nós.
Depois vamos à determinação da moldura legal – art.º 47º, o limite mínimo é 10 dias e no 25
máximo será de 360.

Na terceira operação teremos de determinar a moldura concreta da pena e aqui há que


considerar que nesta matéria vale o sistema dos dias de multa.
O sistema alternativo ao nosso é o da soma global que pode assumir duas modalidades
possíveis:
 1º Multa em quantia certa e;
 2º Multa em quantia variável.
Este sistema é caracterizado por a pena estar prevista num quantitativo pecuniário mas mais
do que saber que não seguimos este sistema, temos de saber porque não o escolhemos.

Se genericamente tivéssemos este sistema com multa em quantia certa, dir-se-ia que o agente
é punido com multa de 400 euros e nunca poderíamos admitir este sistema porque, desde logo,
está a violar o princípio da culpa, este juízo de culpa é singular perante um caso concreto e a
propósito de um concreto agente. O Princípio da culpa decorre do art.º 1º da CRP porque
aplicar a mesma pena a pessoas com culpa diferente é violar a dignidade humana. Há um outro
princípio constitucional que seria também gravemente violado, o Princípio da igualdade
previsto no art.º 13º da CRP. Na igualdade tratamos de modo igual o que é igual e diferente
o que é diferente na medida da diferença.

Como é que seria na modalidade da quantia variável? Preveria um valor mínimo e máximo de
quantia pecuniária, podendo ainda aqui adaptar à culpa e à igualdade mas a crítica aparece.
Imagine-se três situações: um agente muito culpado e muito rico; um agente muito pouco
culpado e muito pobre e um agente muito culpado mas pobre ou agente muito pouco culpado
mas muito rico. Uma solução aritmética não está a considerar o que elegemos como critério e a
crítica a este sistema prende-se como o facto de ela não permitir ao juiz atender ao
diferente peso que a culpa e a situação económico-financeira do agente podem assumir na
determinação da pena.
Por tudo isto, e desde logo em particular, temos de fazer isto em duas operações e não apenas
por uma e num sistema em dias de multa.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Uma das operações é a determinação do número de dias de multa , na segunda operação faz-se
a fixação do quantitativo diário e finalmente há uma operação de pós-determinação que é a de
determinação do modo de cumprimento da pena de multa.

1ª Operação – Determinação dos dias de multa. Remissão do art.º 47º, nº1 para art.º 71º,
nº1

A que critérios se recorre para determinar os dias de multa? (O art.º 47º tem nos seus
primeiros 3 números cada uma das operações). O art.º 47º diz que se determinam os dias
com base na culpa e exigências de prevenção. Recorremos ao art.º 40º, nº1 e 2 para 26
explicar o que fazem estes critérios. A culpa é limite de determinação da pena, a prevenção
geral estabelece a moldura da prevenção composta por um ponto ótimo de tutela de bens
jurídicos e um limiar mínimo de proteção do bem jurídico. E depois com base na prevenção
especial determinar a medida concreta da pena

Entre 10 e 360 dias determinaremos 100 dias, por exemplo. Em relação a esta operação da
determinação dos dias de multa temos de atender aos fatores mas não podemos usar já o
factor da alínea d. Se atendermos a este factor aqui, voltaremos a valorá-lo numa segunda
operação e, nesse caso, violaremos o princípio da dupla valoração exceto no caso-limite: dois
crimes de furto, duas mães furtam uma lata de leite – a primeira fá-lo por não ter rendimento
e a segunda fá-lo por comodidade – neste segundo exemplo não precisamos de considerar a
situação económico-financeira para o juízo de culpa mas no primeiro exemplo não podemos
fazer um juízo de culpa sem considerar a sua situação económico-financeira, ou seja, sempre
que for decisiva, teremos de lançar mão desse factor, neste momento.

No caso da pena de multa o juiz não pode, em principio, na primeira operação, atender ao
factor da medida da pena previsto no art.º 71º, nº2 d) porque a situação económico-
financeira do agente vai ser o critério para fixar na segunda operação o quantitativo diário e,
como tal, há que salvaguardar o Princípio da proibição da dupla valoração. Contudo, haverá
situações limite em que a situação económica do agente é determinante da sua culpa e nesses
casos é consensual que o juiz poderá atender ao referido factor na primeira operação.

2ª Operação – Fixação do quantitativo diário

Art.º 47º, nº2 – diz-nos o valor diário mínimo e máximo e menciona o dever de atender à
situação económica e financeira do condenado e dos encargos pessoais – o juiz tem de apurar
o rendimento e deduzir os encargos pelo que o juiz conta com muita informação do processo.
O juiz recorre por exemplo à declaração do IRS do ano anterior. Não podemos avaliar o
quantitativo diário com base no património de imóveis porque a pena de multa não é confisco
de bens.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Quanto a isto, coloca-se a questão de saber em que momento é o que o juiz avalia a
situação económica do agente? Ele só cumpre a pena depois de transitada em julgado a
sentença e não se pode dizer que o momento relevante é o da condenação porque pode haver
recurso. Com um recurso interposto de uma sentença condenatória, o tribunal, às vezes pode
agravar a pena, ou seja, depende de quem e em que interesse foi interposto o recurso. O juiz
do tribunal superior não pode agravar o número de dias mas o quantitativo diário pode ser
agravado devido a circunstâncias supervenientes porque o tribunal tem de ver efetivada a
finalidade da pena – principio da proibição da reformatio in pejus – art.º 409º Código do
Processo Penal. 27

A avaliação da situação económico-financeira do agente é realizada no último momento


processualmente possível. Isto relaciona-se com o Princípio da proibição da reformatio in
pejus – à letra, significa reforma para pior – segundo o qual, quando o recurso é interposto no
exclusivo interesse da defesa, não pode o tribunal superior agravar a pena do condenado. No
que respeita à pena de multa o tribunal superior só não pode agravar os dias de multa mas
poderá alterar o quantitativo diário, mesmo agravando-o, caso se tenha verificado uma
alteração da situação económico-financeira do condenado – art.º 409º, nº2 do CPP.

Aqui, determinando 10 euros, a pessoa terá de pagar 1000 euros.

3ª Operação – não é de determinação e tem a ver com o modo de cumprimento – a


possibilidade de, em alguns casos, poder não pagar de uma vez. As duas possibilidades estão no
nº3 do art.º 47º.

Há ainda a possibilidade como 4ª fase, de escolha da pena, de aplicação de pena de


substituição da admoestação que é aplicada a penas inferiores a 240 dias de multa.

2 – Considere agora que o agente não tem condições económicas que lhe permitam pagar
o mínimo legal porque vive no limiar mínimo de subsistência. Como deve proceder o juiz?

O juiz apenas pode alterar o mínimo legal e passá-lo para 5€ pois é o único momento em que se
atende à situação económica do agente.
Os riscos que o juiz corre seriam o de diminuir os dias de multa mas isso seria violar a lei, pelo
que a solução que temos é a de converter os dias de multa em prisão subsidiária que depois
será suspensa e ser-lhes-ão impostos regras de conduta e deveres, sendo que se não cumprir
estas regras de conduta, então aí ser-lhe-á imposta a prisão subsidiária.

Quando o agente se encontra em situação de carência de rendimentos, vivendo no limiar


mínimo de subsistência, o juiz não pode nem fixar o quantitativo diário abaixo de 5€, nem
determinar o número de dias tendo em conta a situação económico-financeira do agente. Isto
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

representaria sempre um indesejável desvio ao sistema. A solução passará então por


converter os dias de multa em prisão subsidiária (art.º 49º, nº1), suspendendo-a de
imediato com imposição de deveres e regras de conduta, cujo cumprimento dará lugar à
extinção da pena de multa (art.º 49º, nº3). Esta norma é aplicável quer às situações em que
a impossibilidade de pagamento se verifica por razões supervenientes, quer para as situações
como a do caso prático, em que no momento da condenação o condenado já se encontrava no
limiar mínimo de subsistência.

3 – E se B tivesse sido apenas cúmplice do crime e tivesse, à data da prática dos


factos, 19 anos de idade? 28
Esta questão coloca-nos perante uma circunstância que não é nova: há duas circunstâncias
modificativas atenuantes, a cumplicidade, art.º 27º, nº2 e no regime especial dos jovens
adultos, lei 401/82 de 23 de Setembro (art.º 1º sublinhar à data da prática do facto;
art.º 4º - prevê-se que essa circunstância se traduza numa situação de atenuação, primeiro
apenas quando é aplicado pena de prisão e onde no dec-lei se lei art.º 73º e 74º deve ler-se
art.º 72º e 73º)

Noção de circunstâncias modificativas e tipos a convocar no caso

Problema é ter de concorrência de circunstâncias modificativas ou concurso e aqui temos de


distinguir se as circunstâncias do caso são da mesma natureza ou de natureza diferente. No
nosso caso são da mesma natureza porque são ambas atenuantes e aqui há uma questão prévia
a resolver: é preciso determinar se as circunstâncias verificadas no caso têm um autónomo
fundamento material.

Pensando no exemplo: o que motiva a atenuação em cada um dos casos, porque é que o juiz
considerou ser cúmplice uma atenuação e aqui o facto é a culpa e a motivação para a atenuação
da idade e é completamente diferente.
Se houver autónomo fundamento material, deve o juiz fazer funcionar sucessivamente as
circunstâncias modificativas, chama-se a isto o sistema do funcionamento sucessivo: o juiz
parte da moldura legal e procede à atenuação com base na primeira circunstância verificada
nos termos do art.º 73º; depois, parte dessa moldura atenuada para fazer uma nova
atenuação, por força da segunda circunstância modificativa, novamente de acordo com as
regras do art.º 73º e assim sucessivamente. Se não houver autónomo fundamento material,
apenas de considera uma.

Quando a concorrência de circunstâncias modificativas for de diferente natureza, ou seja,


agravantes e atenuantes, a regra é a de que primeiro funcionam as circunstâncias
modificativas agravantes e só depois as atenuantes, exceto a situação da reincidência, onde
primeiro há atenuação e só depois agravação.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Para resolver é preciso colocar as duas hipóteses porque sendo pena de multa apenas há uma
circunstância, uma vez que o regime dos jovens adultos só funciona em casos de pena de
prisão.

Sistema de funcionamento sucessivo:

13 Novembro 2013

Falaremos dos critérios de escolha mais tarde, agora teremos de fazer uma escolha e 29
optamos pela pena de prisão que é de 1 mês a 3 anos. Partimos da moldura legal, consideramos
a primeira circunstância modificativa que é a cumplicidade e mandamos aplicar as regras do
art.º 73º a) e b).

O máximo é reduzido de um terço e isso não é o mesmo que reduzir a um terço e fica nos 2
anos. O mínimo é reduzido neste caso, a um mês e neste caso fica um mês igualmente. A
moldura está entre um mês a 2 anos.

Temos outra circunstância, o regime dos jovens adultos, previsto no dec-lei 481/82. Pega-se
na moldura e atenua-se de novo com base nas mesmas regras. O limite mínimo mantem-se e o
máximo reduz-se de 1/3 e o nosso limite máximo fica em 1 ano e 4 meses porque se convertem
os anos em meses, para facilitar.

Pena de multa – 10 a 360 dias porque o artigo não diz nada – art.º 43º. Aqui não haveria
concorrência porque o regime dos jovens adultos só é aplicável à pena de prisão. A
cumplicidade deve ser atenuada na mesma, ao abrigo da alínea c) do nº1 art.º 73º

O limite mínimo fica como está, em 10 dias e o limite máximo é redizído de um terço pelo que
fica 240 dias, Sempre que o problema for de redução e não tiver um número inteiro, o melhor
é converter em meses ou número de dias.
(continuar as restantes operações do caso prático)

Nota: até aqui falámos de circunstâncias modificativas e precisamos de salientar sobre


circunstâncias modificativas atenuantes. Há aqui uma cláusula geral de atenuação.

Em matéria de circunstâncias modificativas atenuantes gerais, há que reconhecer dois tipos:


1º as expressamente previstas na lei e aí os exemplos são a tentativa, cumplicidade, regime de
jovens adultos e omissão. Para além destas há outro tipo, a cláusula geral de atenuação
especial da pena prevista no art.º 72º. Como se faz a atenuação? Usam-se as regras do
art.º 73º. Esta cláusula geral só existe no caso de atenuação e não em matéria de agravação.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

4 – E se B tivesse cumprido já um ano de prisão pela prática, em Novembro de 2011, de


um crime de abuso de confiança (artigo 205.º do CP)?

Isto implica falar de reincidência, uma circunstância modificativa agravante geral porque se
pode aplicar a qualquer tipo legal de crime, prevista no art.º 75º e 76º (parte geral). É a
única que existe no nosso sistema.

A palavra reincidência tem um sentido em termos de senso comum que não corresponde ao
rigor jurídico do instituto. Em termos jurídico-penais só há reincidência verificados os
pressupostos do art.º 75º.
30
Desde logo, há um pressuposto material: alguém reincidente é alguém que já praticou crimes
no passado e isto significa que este agente tem mais culpa, ou seja, na condenação anterior
foi feita uma advertência e aqui será de censurar mais aquele que já foi advertido e voltou a
cometer um crime.

No caso da reincidência, o agente é mais punido porque é mais culpado, a sua maior culpa
consubstancia-se numa atitude pessoal de desconsideração pela solene advertência contida na
condenação anterior.

De onde podemos retirar esta ideia no art.º 75º? Na última parte da norma,
nomeadamente, na parte de “censurar”. Se há uma sentença anterior que serve de
advertência e não se cumpre essa solene advertência, o crime tem de ser o mesmo? Não,
tem de haver uma conexão material e tem de haver uma especial ligação porque a maior
censura apenas é feita porque já houve uma advertência num determinado sentido, mas tem de
haver uma relação para se puder dizer que se agrava a censura por já se ter censurado uma
vez. Esta relação, em termos de conteúdo, terá de ser idêntica, por exemplo, ou afecta o
mesmo bem jurídico, ou o modo de execução. Quanto mais dispares forem os crimes, menor
íntima ligação haverá entre os factos praticados.

Não se sabe à priori se há ou não uma ligação, isso depende de várias circunstâncias concretas
do caso e faz-se isso através de indícios, nomeadamente, processo de execução, bem jurídico,
etc.

Este pressuposto material faz com que nem sempre o facto de o agente praticar um crime
depois de já ter transitado em julgado uma condenação por crime anterior, faça com que o
agente seja considerado reincidente. Não é necessário que se trate da repetição do mesmo
crime, mas tem de haver entre os crimes uma conexão intima, têm que se tratar de factos de
natureza análoga. Para avaliar se existe ou não esta conexão deverá atender-se às
circunstâncias concretas que rodeiam a prática dos crimes, nomeadamente, ao bem jurídico
em causa, à motivação do agente; à forma ou espécie de execução.

E no nosso caso? O bem jurídico não é o mesmo, num caso é o património e no outro o abuso
de confiança, mas daquilo que sabemos do caso, podemos olhar para a própria conduta descrita
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

no tipo legal do crime. O abuso de confiança é caracterizado por uma ilegítima apropriação de
uma coisa que não é sua. No furto há subtração e no abuso de confiança não há subtração, o
proprietário passa o bem a uma pessoa por títulos translativos não ilegítimos.

Quanto aos pressupostos formais, temos de distinguir os crimes.

O crime 1 é o abuso de confiança, praticado novembro de 2011; em janeiro de 2013 foi


praticado um crime 2 de furto e hoje, em 2013, estamos a julgar o crime e também já
sabemos que já cumpriu um ano de prisão, isso significa que já foi condenado e essa
condenação já transitou em jugado porque, se assim não fosse, ainda não havia pena a ser
cumprida. 31

Em relação ao crime 1, vejamos os pressupostos formais – crime doloso – punido com prisão
efectiva superior a 6 meses e tem de ter havido decisão condenatória com transito em
julgado - sabemos que o crime é doloso porque só há crime negligente se o tipo legal de crime
o previr, regra do art.º 13º.

Se se fala em prisão efectiva, significa que não houve pena de substituição, isto é, tem de ser
uma pena principal de prisão não substituída.

Segunda precisão: na norma fala-se de 6 meses mas ele tem de os ter cumprido
efectivamente? No art.º 75º, nº1 fala-se de punição e não de cumprimento e segundo o nº4
nada do que lá está obsta à reincidência porque o importante é que tenha sido condenado a 6
meses. O agente não tem que ter cumprido em privação de liberdade mais de 6 meses, não é
exigido que cumpra mais de 6 meses em privação de liberdade, basta que tenha sido
condenado em pena principal efectiva de mais do que 6 meses. Só o trânsito em julgado torna
efectiva a reincidência, este marca a diferença entre reincidência e concurso.

Quanto ao segundo crime: tem de ser doloso e punido com pena efectiva superior a 6 meses.

Falta outro pressuposto formal, a prescrição da reincidência e está prevista no art.º 75º,
nº2, ou seja, não pode haver 5 anos entre a prática dos dois crimes e no nosso caso apenas há
1 ano e 2 meses.

Imagine-se que o crime 1 tinha sido praticado em novembro 2007 e o crime 2 em Janeiro de
2013, passaram 5 anos e 2 meses mas pelo art.º 75º, nº2 segunda parte, temos de
descontar o tempo de privação de liberdade que foi de um ano, pelo que, apenas teriam
passado 4 anos e 2 meses.

Conclusão: após tudo verificado temos de determinar a pena para o crime 2 como se ele fosse
reincidente.

Operações de determinação da pena na reincidência.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

 1ª Operação de reincidência: determinação da medida concreta da pena como


se o agente não fosse reincidente. Esta operação é duplamente instrumental, ela
serve, por um lado, para cumprir os requisitos /pressupostos do art.º 75º e, por outro
lado, é precisa por outro motivo ainda.

A moldura é de 1 mês a três anos e teremos de determinar a pena de acordo com a moldura da
prevenção, critérios do art.º 71º, nº1, ou seja, prevenção e culpa. Imagine-se que se dão 2
anos.

 2º Operação: construção da moldura da reincidência:


32
Art.º 76º, nº1. O máximo fica inalterado e o mínimo é agravado de 1/3 ou seja, ficamos com
um agravação em 40 dias,

 3ª Operação: Determinação da medida concreta da pena considerando a


reincidência.

Com a moldura agravada, teremos de novo de determinar a pena de acordo com a moldura da
prevenção mas agora haverá mais exigências de prevenção geral e especial e, como tal, maior
culpa, ou seja, previsivelmente a pena será superior à que foi dada sem ter em conta a
reincidência, e como tal, daremos 2 anos e 6 meses.

A 4ª operação não é de determinação da pena porque ela já esta determinada mas é uma
operação de limitação que se justifica por razões de proporcionalidade e implica considerar o
limite estabelecido pela pena mais grave aplicada nas condenações anteriores. Art.º 76º,
nº1 2ª parte. Esta operação consiste exatamente no cálculo da agravação, ou seja, calculando
a agravação, se não fosse reincidente, teria uma pena de dois anos e se fosse reincidente a
pena era de dois anos e 6 meses.

Teremos de averiguar o limite e a agravação não pode exceder o limite e a agravação não pode
exceder o limite da pena mais grave. Só temos uma condenação anterior de um ano e
respeitamos este limite porque a nossa agravação é de 6 meses.

E se não se respeitar o limite? Se o crime um crime 1 tiver uma pena de 10 anos e no crime
2 deu-se dois anos – o limite era de um ano e passou o limite, o juiz tem de corrigir a pena que
ela respeite o limite.

Respondemos a uma questão que ficou pendente, precisamos de uma operação também para
calcular a agravação pelo que o segundo motivo é o facto de ser necessária para o cálculo da
agravação na 4ª operação.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

20 Novembro 2013

A praticou um crime de abuso de confiança, art 205, nº4 a) e foi condenado a 3 anos
de prisão. Depois cometeu um crime de furto qualificado, art 204, nº2 que não chegou a
consumar-se.

Pressupondo que se encontram verificados os requisitos da reincidência, determine a pena


a aplicar ao agente.

Temos um crime d abuso de confiança, esta condenação foi transitada em julgado e no crime 33
do art 204ç, nº2 temos de considerar duas situações: a reincidência e a tentativa.

Teremos de começar pela atenuante pq estamos num caso de reincidência – art 73º .

A moldura é de 2 a 8 anos e temos de a atenuar nos termos da al a) e b) do art 71º - reduz-se


o mínimo ao mínimo legal, e quanto ao limite m+aximo, temos de reduzir de um terço. 8 anos
são 96 meses, e dividido por 3 dá 32 meses ou seja, o limite máximo será de 64 meses, ou
seja, 5 anos e 4 meses.

Agora consideramos a reincidência, partindo da moldura já atenuada, ou seja, de um mês a 5


anos e 4 meses.

Aqui teremos de determinar a pena concreta como se o agente não fosse reincidente, com
base no art 71º, nº1 com base na doutrina da prevenção, vamos à moldura atenuada agravando
a moldura. O limite máximo permanece inalterado e o limite máximo é agravado de 1/3 ou seja
10 dias pelo que perfaz um mês e 10 dias.

Pelo art 71º, nº1 optou-se por 3 anos de pena concreta

Daqui, teremos de ver duas operações, ou seja, calcular a agravação que no caso é de 3 anos
(limite imposto por lei), porque se não fosse reincidente aplicávamos uma pena de 2 anos

E depois o nosso limite era de 3 anos e só agravamos em 1 ano.

Não podemos substituir esta pena pq para aplicar a reincidência tem de haver pena de prisão
efectiva.

Atenuamos a moldura, consideramos a reincidência e agravamos a pena, conluindo que a pena é


de 3 anos em concreto.

Se considerássemos a reincidência antes de atenuar, ao atenuar podia acontecer deixar de se


verificar um pressuposto imprescindível da reincidência

Nota: em caso de concorrência entre uma circunstancia modificativa atenuante e a


reincidência, primeiro tem que se fazer funcionar a circunstancia atenuante porque só assim é

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

possível determinar a medida da pena do crime 2, independentemente da reincidência. Isto é


relevante, a dois níveis: por um lado, só deste modo podemos saber se está preenchido o
requisito de ao crime 2 ser aplicada em concreto uma pena de prisão efectiva superior a 6
meses, por outor lado, só fazendo actuar primeiro a circunstancia atenuante é que
conseguimos saber efetivamente de quanto è a agravação relevante para a reincidência.

 Caso prático 2

B praticou um crime de dano (artigo 212.º do CP) e um crime de ofensa à integridade


física simples (artigo 143.º do CP).
34
1 – Determine a pena a aplicar ao agente.

Seria um caso de reincidência por força da verificação do transito em julgado da verificação


do crime 1, mas Aqui não há julgamento por nenhum dos crimes, ou seja, não há transito em
julgado pela condenação de um crime anterior. Assim, estamos no âmbito do concurso.

Não podemos esquecer que o que interessa é o momento do trânsito e não o momento da
condenação.

O concurso tem dois pressupostos: 1º tem de existir um concurso efectivo de crimes, (rever
a matéria no sumário da 2ª aula teórica). O concurso efetivo tanto pode acontecer quando são
preenchidos dois tipos legais de crimes diferentes, como pode acontecer quando é preenchido
várias vezes o mesmo tipo, isto está no art.º 30º, nº1 CP.
O segundo pressuposto é a verificação de que foram praticados vários crimes antes de
transitar em julgado a condenação por qualquer deles e é aqui que reside a diferença entre
reincidência e concurso.

Verificados estes dois pressupostos há concurso e resolvemos pelo art.º 77º. Antes disso,
teremos de perceber quais os sistemas e há dois:

Um deles é o sistema da acumulação material – é o mesmo que não ter qualquer


especificidade na verificação do concurso, ou seja, determina-se a pena para cada um deles e
depois soma as penas de ambos. Caracteriza-se pela determinação da pena cabida a cada
crime, devendo o condenado cumprir essas penas sucessivamente se tiverem natureza igual ou
em simultâneo se a natureza das penas for diferente. Este sistema segue o princípio clássico
do Tot Poena quod delicta.

Criticas: é um sistema que, na prática manda ignorar o concurso, ou seja, conduz a uma
modificação da natureza das penas. As outras duas críticas estão ao nível da culpa porque
este sistema pode redundar numa violação do Princípio da culpa e quanto à prevenção, um

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Penal III Aulas Práticas 2013/2014

sistema como este não pode ter pretensões de cumprir os objectivos da prevenção especial,
umas das finalidades eleitas pelo nosso sistema jurídico.

Há o sistema da pena única ou pena do concurso, alternativo a este. Tem duas modalidades:
sistema da pena unitária, que se caracteriza pelo facto de o juiz considerar o conjunto dos
factos praticados como se de um único crime ficcionado se tratasse e relativamente ao qual
faria funcionar os critérios da culpa e prevenção para a determinação da pena.

Daqui advêm vários problemas, as críticas quanto a problemas substantivos, surgem


relativamente à moldura, definir o tipo de crime e, para além destes, teríamos problemas 35
processuais porque se torna impossível contestar quanto à condenação de um dos crimes, pois
será condenado pelo todo e não por partes. Para além disso, dirigimos outra crítica quanto à
noção do que é o direito penal, este é, um direito penal do facto e não do agente, não é uma
ordem moral que assenta no agente e na sua forma de atuar, o nível pessoal apenas interessa
para a pena ou para influenciar o facto e a sentença penal centra-se no facto que ele praticou.
Este sistema seria condizente com uma ideia de direito penal do agente e não com a nossa que
é a ideia do direito penal do facto.

A outra modalidade dentro deste sistema é o sistema da pena conjunta, aquele que nós
seguimos mas este admite três métodos diferentes de determinação da pena:

Método da absorção – o juiz determina a pena concreta cabida a cada crime e depois condena
o agente na mais grave – aqui há um problema grave de desconsideração dos outros crimes,
conduzindo a situações de impunidade.

Método da exasperação – apenas é seguido entre nós para a aplicação do instituto do crime
continuado, art.º 79º e art.º 30, nº2, mas não é seguido para o concurso. Aqui, o juiz
condena o agente dentro da moldura penal prevista para o crime mais grave, devendo a pena
concreta ser agravada em função da pluralidade de crimes. Este método já permite considerar
os crimes praticados mas torna-se problemático quanto maior for o numero de crimes
praticados e a agravação será tanto menor quanto maior for o número de crimes praticados,

Método do cumulo jurídico – art.º 77º. É caracterizado pelo facto de as operações terem de
ser desempenhadas pelo julgador no momento da determinação da pena única conjunta.

Na primeira operação o juiz deve determinar a pena concreta para cada um dos crimes,
segundo os critérios gerais, (culpa e prevenção) art.º 71º, nº1 mas aqui o juiz não pode
considerar a possibilidade de substituição. Depois disto, o juiz constrói a moldura do concurso
– art.º 77º, nº2 – e aqui quando tivermos perante penas parcelares da mesma natureza,
aplicamos este nº2 e o limite mínimo será a pena parcelar mais grave e o limite máximo é

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constituído pela soma das penas parcelares. Quanto ao limite máximo, se for prisão não pode
exceder os 25 anos e se for de multa não pode exceder os 900 dias.

Porém, se as penas parcelares tiverem natureza diferente, até 95 em Portugal, o que


acontecia eram ser aplicadas as duas não se considerando a especificidade do concurso mas
desde 95 considera-se que não se deve desvirtuar o sistema e converte-se os dias de multa
em tempo de prisão através da regra prevista no art.º 49º (redução dos dias de multa a dois
terços) e depois seguem-se as mesmas regras do art.º 77º, nº2.

Na terceira operação, determinação da pena concreta dentro da moldura do concurso. Aqui 36


faz-se com base nos critérios gerais, culpa e prevenção, art.º 71º, nº1 mas se aqui fizermos
o mesmo, estaríamos a violar o princípio da proibição da dupla valoração, ou seja, utilizam-se
também os critérios especiais, previstos no art.º 77º, nº1, 2ª parte – é a especialidade no
“em conjunto” que dá especialidade à norma. Ou seja, não vamos olhar para os factos e
personalidade do agente por cada crime individualmente mas vamos olhar para eles em
conjunto. Assim, não há violação.

Esse critério especial caracteriza-se por uma consideração dos factos e da personalidade do
agente mas “em conjunto”, o que significa que teremos de ter em conta a totalidade dos
crimes praticados no sentido de determinar se há alguma conexão entre eles e qual o tipo de
conexão. Ou seja, se se trata de uma carreira criminosa ou se uma situação de pluri-
ocasionalidade.
É a especialidade deste critério que impede que se verifique nesta operação uma violação do
princípio da proibição da dupla valoração.

A quarta operação é eventual, ou seja, é uma operação de escolha da pena que só acontece se
for possível a substituição da pena única conjunta.

Resolução:
Nos dois crimes a pena é igual, ou seja, de 2 a três anos. Usamos os critérios do art.º 71º,
nº1 - doutrina da moldura da prevenção e dá-se ao crime 1 uma pena 2 anos e para o crime 2
um ano e 6 meses.
Na segunda operação temos a construção da moldura do concurso – limite mínimo: a mais
grave, ou seja, 2 anos e o limite máximo: a sua soma – 3 anos e 6 meses,
Na terceira operação determina-se a pena única conjunta, com base em critérios de prevenção
e culpa – 2 anos e 6 meses
Pode haver substituição porque a pena é inferior a 5 anos e, neste caso, admitiria duas penas
de substituição.

2 – E se o juiz escolher aplicar pena de multa principal aos crimes em análise?

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Nos dois casos só se dizia “ou pena de multa”, pelo que a moldura seria 10 a 360 dias pelo
art.º 47º.
Sendo a pena de multa a única diferença é que na pena de multa temos de determinar dias e
com quantitativo diário, isto é, aqui fazemos tudo com base na culpa e prevenção e só no fim
pensamos na situação económica.
Determinamos 200 dias para o crime 1 e 100 dias para o crime 2. Construímos a moldura:
limite mínimo: 200 dias e limite máximo: a soma das duas, 300 dias. Critérios gerais mais
critério especial, determinamos a pena única conjunta – 250 dias e não há lugar à substituição.

Agora tínhamos que ir, nos termos do art.º 47º, nº2 numa moldura de 5 a 500 euros, 37
determinar o quantitativo diário em função da situação económica e se aqui determinarmos 10
euros, ele pagaria 2500€.

3 - E se escolher aplicar pena de multa principal apenas ao crime de dano?

E se o juiz, num dos crimes escolher pena de multa e no outro pena de prisão? Não
tendo alternativa, teremos de resolver o problema das penas parcelares de natureza
diferente.

Além de ter de converter o tempo de multa em tempo de prisão temos o problema da


interpretação do art.º 77º, nº3. Esta é das normas mais estranhas do Código Penal porque
estamos habituados a ler normas da parte geral do código e entender o seu conteúdo, sendo
ou não juristas. Mas neste caso, a norma é enigmática. A solução é a de que o legislador quer
que convertamos a pena e o próprio condenado pode optar se quer cumprir a pena única
conjunta em prisão ou se prefere pagar uma e cumprir só a outra. O juiz tem de fazer as duas
coisas.

27 Novembro 2013

Havendo penas parcelares de natureza diferente, teremos de converter a pena de multa em


tempo de prisão e para esta conversão convocamos o art.º 49º pois não temos outra norma
que preveja regras de conversão.

Crime 1 – art.º 212º - pena de multa, com moldura do art.º 47º, ou seja, 10 a 360 dias, e
pelo art.º 71º, nº1 dávamos uma pena de 240 dias

Crime 2 – art.º 143 – moldura é de 1 mês a 3 anos e a determinação é de 1 anos e 6 meses.

Com isto, temos de fazer uma conversão que se faz pela regra do art.º 49º, sendo o critério
a redução a 2/3 que são 160 dias.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Feita a conversão, temos duas penas que se podem considerar. Como tal avança-se para a
construção da moldura do concurso pelo art.º 77º, nº2 que é dada pela pena parcelar mais
grave no limite mínimo e o limite máximo é a soma de ambas, que dá, um ano 12 meses e 10
dias.

Precisamos de determinar a pena única conjunta e para além dos critérios gerais do art.º
71º, nº1 precisamos do critério especial do art.º 77º, nº1 parte final para não violar o
princípio da dupla valoração.

Supondo que determinamos 1 ano e 8 meses e esta pode ser substituída, podendo haver uma
operação de escolha de pena de substituição. 38

Ainda a dizer sobre esta questão: temos de considerar que sempre que houverem penas
parcelares de natureza diferente, temos de olhar para o art.º 77º, nº3, e esta significa que
ao condenado é dada a possibilidade de optar por ou cumprir a pena conjunta de 1 ano e 8
meses ou cumprir a pena de prisão e pagar a multa.

Nota: em caso de concurso de crimes com penas parcelares de natureza diferente, ou seja,
umas de prisão e outras de multa, haverá que considerar o disposto no art.º 77º, nº3. A
norma refere que as penas parcelares mantêm a sua diferente natureza na pena única
conjunta e isto significa tão só que o condenado poderá optar por pagar a quantia
correspondente à pena de multa e evitar que esta se repercuta na pena única conjunta.

4 – Suponha agora que constava do registo criminal do arguido a condenação em um ano


de prisão pela prática de um crime de ofensa à integridade física grave, art.º 144º.

Em termos cronológico-factuais, temos um crime praticado que é à ofensa da integridade


física grave e esta condenação foi de um ano, já havendo transito em julgado pois já consta do
registo. Para além do concurso de crimes que já tínhamos anteriormente.

Poderemos ter aqui uma circunstância modificativa agravante pela reincidência em elação a um
dos crimes que agora praticou e para tal teremos de verificar uma conexão material próxima
entre os crimes. Sabemos que quanto a estes crimes há o mesmo tipo de crime e o mesmo tipo
de comportamento apenas sendo um mais grave do que o outro.

O problema principal é olhar para o crime esquecendo o passado, começando pelo problema do
concurso e dentro deste problema consideramos a especificidade dessa circunstância.

1ª Operação do concurso:

Art.º 212º para o crime 2, e determinamos dois anos para o crime de dano.

Crime 3º art.º 143º - ofensa à integridade física e quanto a este é reincidente e aqui em vez
de determinar a pena e de acordo com os critérios do art.º 75º, damos 2 anos.

1) 1 Ano e 6 meses
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

2) 1 Mês e 10 dias é o mínimo e o máximo é de 3 anos.


3) Considerando ser reincidente, determinamos uma pena de 2 anos e 3 meses
4) Determinar de quanto é a agravação e que limite temos de respeitar? A agravação
é dada pela operação 1 e 3. A pena foi agravada em 9 meses e segundo o art.º 76º, o
limite não pode exceder a pena mais grave das sanções anteriores, ou seja, está dentro
porque só agravamos 9 meses e podíamos ir até 1 ano.

Temos assim as duas penas parcelares, uma de forma directa e a outra com base na
reincidência. Teremos de construir agora a moldura do concurso, na segunda operação. De
acordo com o art.º 77º, nº2, o limite mínimo é a pena parcelar mais grave de 2 anos e 3
meses e o limite máximo é a soma das duas, 4 anos e 3 meses.
39

Teremos de determinar a pena única conjunta com critério geral do art.º 71º, nº1 e especial
do art.º 77º nº1 parte final, determinando 3 anos e 6 meses.

Apenas há uma pena de substituição a aplicar nestes casos, a do art.º 50º suspensão da pena
de prisão.

 Caso prático 3

Em Janeiro de 2012, C praticou um crime de roubo (artigo 210.º, n.º 2, do CP), tendo
sido condenado, em Novembro desse ano, numa pena de oito anos de prisão, que começou
de imediato a cumprir.

Chega hoje ao conhecimento do tribunal que C havia praticado também, em Fevereiro de


2012, um crime de violação (artigo 164.º, n.º 1, do CP).

1 – Determine a pena a aplicar a C.


Supondo que tudo tinha sido conhecido, isto seria claramente uma situação de concurso mas
não foi porque não sabíamos da prática do crime 2, estamos a ter conhecimento dele
supervenientemente. Com isto, quer-se mostrar que o conhecimento superveniente do
concurso não é outro caso especial da determinação da pena. Ou o sistema judiciário descobre
o que devia descobrir ou então não há muito a fazer. A opção do código é corrigir o erro pois o
art.º 78º tem como solução mandar aplicar as regras do art.º 77º, ou seja, mandar aplicar o
método do cúmulo jurídico, uma pena única conjunta de um concurso que só é conhecido
supervenientemente.

A determinação de uma das penas parcelares já foi feita, só teremos de fazer a outra. Há
depois, um problema trazido pela reforma porque, até 2007, determinava-se a pena parcelar
para o crime 2 e depois determinávamos a pena única conjunta mas, depois de 2007, o nº2 do
art.º 77º diz que as penas têm de transitar em julgado para se determinar a pena única

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

conjunta. A razão de ser disto é que se fizéssemos tudo já podia recorrer do crime 2 e
podíamos por em causa a pena parcelar.

Nota: conhecimento superveniente do concurso – o art.º 78º está previsto para situações
em que o agente cometeu mais do que um crime mas no momento do julgamento o tribunal não
teve conhecimento de todos os crimes que o agente praticou. Esta norma está pensada para
colmatar as deficiências no sistema de administração da justiça penal. Tem que se verificar
assim dois pressupostos: 1º tem que haver uma condenação transitada em julgado; 2º os
crimes de que não se teve conhecimento no momento da condenação têm de ter sido
praticados antes da condenação em primeira instância e verificados estes pressupostos o 40
art.º 78º manda aplicar as regras do concurso de crimes previstas no art.º 77º. Assim,
haverá que determinar a pena parcelar para o crime agora conhecido e posteriormente
determinar a pena única conjunta.

Não pode, contudo, ser o mesmo tribunal a realizar estas duas tarefas por força da actual
redação do art.º 78º, nº2. O segundo tribunal só poderá determinar a pena parcelar para o
crime 2 e terá de ser um terceiro tribunal, depois do trânsito em julgado da condenação pelo
crime 2, a determinar a pena única conjunta.

Resolvendo: art.º 164º - pena de prisão de 3 a 10 anos


Determinação da medida da pena critérios gerais do art.º 71º, nº1 e com base na culpa e
prevenção, determinamos, como pena concreta, 6 anos. Teremos de esperar que transite em
julgado e depois disso, um terceiro tribunal irá apenas fazer a moldura do concurso e
determinar a pena única conjunta.
Quanto à moldura, o limite mínimo é de 8 anos e o máximo e soma, ou seja, 14 anos.

Depois da moldura, através do critério geral do art.º 71º, nº1 mais critério especial do
art.º 77º,nº1 parte final, determinamos uma pena de prisão de pena única conjunta de 12
anos.

Falta agora fazer o que dizia o art.º 78º na parte final, ou seja, teremos de fazer um
desconto em relação ao tempo que já cumpriu à ordem da pena nº1 pois essa está a ser
computada na pena única conjunta.
Remeter para o art.º 80º e ss onde diz desconto.

O que é o desconto? Este prevê paradigmaticamente duas situações: 1º desconto de uma


medida processual privativa da liberdade numa pena - esta situação é a que está descrita no
art.º 80º que faz referência à detenção; a obrigação da permanência na habitação e a prisão
preventiva.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Nota: ter cuidado se estas medidas aparecerem em caso pratico temos de as descontar
na pena.
Quando a pena é de prisão, o desconto faz-se por inteiro nos termos do art.º 80º, nº1.
Na segunda hipótese, se for pena de multa, nos termos no nº2, o desconto faz se a razão de
pelo menos um dia de privação de liberdade por pelo menos um dia de multa. Faz-se em pelo
menos porque o juiz não pode descontar menos, apenas mais.

A segunda situação de desconto é de desconto de uma pena noutra pena e vem no art.º 81º.
A primeira hipótese é de se tratarem de penas da mesma natureza e o desconto faz-se por
inteiro nos termos do nº1. Na segunda hipótese temos penas de espécie ou natureza 41
diferente e aqui o nº2 tem um critério de equidade, ou seja, o juiz faz o desconto que parecer
equitativo.

No nosso caso vamos descontar uma pena noutra pena, ou seja, a pena do crime um na pena
única conjunta, o desconto faz-se por inteiro pelo art.º 81º, nº1.

2 – Quando poderá o condenado sair em liberdade condicional?


Vamos considerar a pena de 12 anos de prisão, a pena única conjunta da questão 1.
Aqui, iremos mobilizar todos os fundamentos teóricos.

O primeiro momento será a metade da pena que, neste caso, é aos 6 anos. Teremos de
verificar, consentimento do condenado, mínimo de 6 meses de prisão, art.º 61º, nº2 e
depois o juiz tem de realizar um juízo de prognose favorável que neste momento pressupõe
que se verifique quer exigências de prevenção especial quer de prevenção geral.

Antes do 2º momento dos dois terços, haveria lugar a uma renovação anual da instância,
previsto no código de execução de penas, art.º 180º e aqui verificam-se os mesmos
requisitos do momento anterior, ou seja, primeiro momento.

Se não fosse concedida a meio da pena nem na renovação anual, poderia ser concedida aos 2/3
da pena, ou seja 8 anos de prisão e aqui tinha de se verificar o art.º 61º, n1º -
consentimento; 6 meses de prisão - art.º 61º, nº3 e ainda um juízo de prognose favorável,
mas aqui limita-se à verificação de exigências de prevenção especial do art.º 61º, nº2 a).
Poderá ainda haver renovação anual da instância com base nos mesmos requisitos que se
apreciaram aos 2/3.

Não sendo concedida aqui, poderia haver, neste caso uma apreciação aos 5/6 da pena, ou seja,
10 anos, pois é uma pena superior a 6 anos, nos termos do art.º 61º, nº4 e existe uma
liberdade condicional “obrigatória”, isto é, apenas é obrigatória para o juiz no sentido em que
ele já não pode fazer juízo de prognose, neste momento o único requisito que é exigido é o

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

consentimento do condenado e se este estiver verificado, o condenado sai em liberdade


condicional.
Não havendo saída, poderia haver ainda uma renovação anual da instância

Se ele saísse a meio da pena, nos termos do art.º 61º, nº5 apenas durava 5 anos. Aquele
outro ano extingue-se desde que não infrinja as regras nem cometa crimes durante o tempo
que estiver em liberdade condicional.

04 Dezembro 2013
42
3 – Suponha agora que C vem a ser condenado numa pena de prisão efectiva de dez
anos, mas que esteve dois anos em prisão preventiva. Ao fim de quanto tempo de
cumprimento da pena de prisão poderá ser concedida a liberdade condicional?

Temos um desconto de uma medida processual na nossa pena de 10 anos, por isso a norma
aplicável é o art.º 80º nº1 por inteiro porque estamos perante penas da mesma natureza.

Perante um caso como este, com uma pena de 10 anos e 2 anos de prisão preventiva para
descontar na pena, podemos fazer de duas maneiras e que não dão no mesmo:

1. Em 10 anos, desconta-se 2 anos e ficamos com 8 anos para cumprir. Ao fim de metade,
é concedida a liberdade condicional e assim ficaria em privação da liberdade durante 6
anos.
2. Como se faz então? Metade de 10 anos são 5 anos, nesta metade da pena, desconta-se
o tempo de prisão preventivas, que são 2, e terá de cumprir mais 3 anos. Ao todo, terá
estado privado de liberdade durante 5 anos, como é suposto.

Há duas maneiras de fazer o desconto, uma incorreta que conduz a um resultado errado e a
correcta que é fazer o desconto apenas depois de cumprida metade da pena- Se tivermos de
fazer desconto, seja este com medida processual ou não, não podemos fazer o desconto na
totalidade da pena porque, em termos práticos, na concessão de liberdade condicional, dar-
nos-á uma pena errada mais penosa.

Esta situação é em tudo semelhante à primeira questão do caso prático nº4.

Nota: na determinação do primeiro momento de concessão de liberdade condicional e havendo


lugar ao desconto, a solução correcta passara por considerar em primeiro lugar a metade da
pena (no nosso caso 5 anos) e só depois efetuar o desconto nesta metade da pena devendo o
condenado cumprir o tempo remanescente. Se assim não fizermos, (ou seja, se descontarmos
na totalidade da pena e só depois determinarmos a metade) acabaremos por tratar de forma
diferente e necessariamente mais gravosa o condenado a quem se aplique o instituto do

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

desconto que face àquele tenha sido condenado na mesma pena mas que não beneficie do
desconto.

 Caso prático 4

A praticou um crime de escravidão (artigo 159.º do CP) em Dezembro de 2011,


encontrando-se, desde essa data, preso preventivamente.

1 – Determine a pena a aplicar ao agente e indique o primeiro momento em que o


43
condenado
poderá beneficiar da concessão de liberdade condicional.
Idêntica ao que acabámos de ver

2 – E se, ao fim de um ano em liberdade condicional, o condenado infringir


grosseiramente as regras de conduta que lhe foram impostas?
Esta pessoa, ao todo, cumpre 5 anos e está um ano em liberdade condicional e aí infringe
grosseiramente as regras de conduta, aí há a revogação da liberdade condicional art.º 56º,
nº1 a).

Nota: o art.º 64º é uma norma remissiva e expressamente diz pouco, apenas remete para
várias normas do instituto da suspensão da execução da pena de prisão mas estamos no âmbito
da liberdade condicional. Essas normas só são aplicadas por força do art.º 64º. E agora? Nos
termos do art.º 64º, nº2, terá de continuar a cumprir a pena na prisão privado de liberdade,
e isso significa que já só tem de cumprir 4 anos de pena. Temos sempre de convocar que o
tempo de liberdade condicional conta como tempo de cumprimento da pena. Ver acórdão sobre
isto.

Ele tem ainda de os cumprir na íntegra? Ou seja, em relação a este remanescente pode
vir a cumprir parte dele em liberdade condicional? Pode, por força do nº3 do art.º 64º.
Isso significa na prática que se voltam a aplicar as regras gerais o art.º 61º.

 Caso prático 5

Em Fevereiro de 2011, A cometeu um crime de extorsão (artigo 223.º do CP) e em


Janeiro de 2012 foi julgado e condenado a três anos de prisão. O condenado interpôs
recurso desta decisão, mas a mesma acabou por transitar em julgado em Outubro
seguinte.

1 – Sabendo que, em Agosto de 2012, A cometeu outro crime, desta vez de homicídio
simples (artigo 131.º do CP), e que está hoje a ser julgado, determine a pena a aplicar
ao agente.
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Crime Julgamento do Crime Trânsito em


1 Crime 1 – 3 2 julgado do
anos crime 1

É importante conhecer a posição doutrinal da execução sucessiva de penas pela Dra. Maria
44
João Antunes, que difere do texto literal do art.º 77º, quanto ao facto de o crime ser
praticado entre a condenação e o trânsito do crime anterior.

Nota: sempre que o segundo crime seja praticado entre a condenação e o trânsito em julgado
dessa condenação por um crime anterior, há que considerar o seguinte:

1º Não se trata de reincidência porque o crime 2 foi praticado antes do trânsito em julgado da
condenação pelo crime 1; 2º poderá equacionar-se a hipótese de se tratar de uma situação de
conhecimento superveniente do concurso, o problema aqui está em saber qual o significado da
expressão “anteriormente àquela condenação” (art.º 78º, nº1). Será que o momento
relevante é aquele em que a condenação é proferida, ou o momento do trânsito em
julgado? Segundo a posição de Maria João Antunes, o momento relevante é aquele em que a
condenação é proferida, o que na prática significa que o nosso caso não será um caso de
conhecimento superveniente do concurso.

Há dois argumentos principais: primeiro – relacionado com a razão de ser do art.º 78º. Esta
norma existe para corrigir falhas na administração da justiça e neste caso, no momento em
que o agente foi julgado, em janeiro de 2012, não houve qualquer falha porque o crime 2, nesse
momento, ainda não tinha sido praticado. Como segundo argumento, se se entendesse que o
crime praticado entre a condenação e o trânsito em julgado devia ser considerado para
efeitos de determinação de uma pena única do concurso, criar-se-ia um período de possível
impunidade para o agente entre o momento da condenação e o momento do trânsito. Assim,
para esta autora, a solução, nestes casos, passará por uma execução sucessiva de penas.

Quem seguir a posição da Dra. Maria João Antunes, apenas tem de determinar a pena do
crime 2 e o agente primeiro cumpre o crime 1 e depois cumpre o crime 2.

2 – Quando pode sair em liberdade condicional?

Há aqui uma execução sucessiva de penas e o problema coloca-se por aplicação do art.º 63º

Temos uma pena 1 de 3 anos e pena 2 de 12 anos. Como se resolve esta questão? A meio da
pena, interrompe-se o seu cumprimento, não se faz avaliação nenhuma e irá iniciar o
cumprimento da pena 2. Quando poderá determinar a liberdade condicional em relação às
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

duas penas? Ao final da metade da 2ª pena, ou seja, o primeiro momento de avaliação da


concessão da liberdade condicional será ao fim de 7 anos e meio. O que é preciso verificar
neste momento? O consentimento, art.º 61º, nº1; mínimo de 6 meses de prisão efectiva e
juízo de prognose favorável quanto a exigências de prevenção geral e especial.

Depois deste momento, tudo se passa como se estas duas penas fossem uma só. Se os 2/3 são
só aos 10 anos, haverá lugar a renovação anual aos 8 anos e meio e aos 9 anos e meio, com a
avaliação dos mesmos requisitos do momento anterior. Aqui chegados, se não sair, teremos o
momento dos 2/3 da pena avalia-se o consentimento e os requisitos de prevenção geral e
especial. Ate aos 5/6, poderá ainda haver duas renovações anuais, aos 11 e 12 anos,
verificando os mesmos requisitos do momento anterior. Se não sair, ainda há os 5/6 das
45
penas, atingidos aos 12 anos e 6 meses, e aqui apenas tem de se verificar o consentimento.
Porquê o momento dos 5/6? Porque a lei diz que se pode, no art.º 63º, nº3. Depois destes
5/6 ainda poderia haver duas renovações anuais.

 Caso prático 6

A praticou um crime de homicídio negligente (artigo 137.º do CP).

1 – Qual a pena principal que o juiz deve aplicar?

A resposta a esta pergunta é depende, teremos de considerar a escolha e o problema da


escolha da pena pode colocar-se em dois momentos, quer no primeiro processualmente
possível, que no último momento, quando haja lugar a uma pena de substituição. O critério de
escolha são as finalidades de prevenção previstas no art.º 70º. Este artigo é já conhecido e
diz que se deve preferir a sanção não detentiva, sempre que cumpra de forma adequada e
suficiente as exigências de punição por referência ao art.º 40º nº1 que diz serem a
prevenção geral e a prevenção especial.

Ter cuidado porque quando se pergunta quais os critérios da escolha da pena não pudemos
dizer culpa porque este não é. A pena entre nos critérios de determinação da medida da pena,
art.º 71º, nº1.
Estas duas normas prevêm coisas diferentes. Não falamos em escolha quando se determina
pois o rigor dos conceitos é muito importante.

2 – Suponha que o juiz decidiu aplicar uma pena de prisão de dez meses. Poderia haver
lugar a outra operação de escolha da pena?

Poderia haver uma operação de esfolha da pena, seria a ultima operação e podia haver
substituição da pena de prisão por qualquer pena de substituição, pois todas elas admitem
substituição até 12 meses.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Nota: a fase da escolha da pena pode verificar-se logo no primeiro momento nos casos em que
o tipo legal de crime prevê em alternativa pena de prisão e pena de multa ou num último
momento, nos casos em que o juiz determina uma pena de prisão inferior a 5 anos ou uma pena
de multa inferior a 240 dias (nestes casos, o juiz tem o poder-dever de substituir a pena
principal pelo que se não o fizer tem que fundamentar essa sua decisão de não substituição –
dever de fundamentação negativa).

Em qualquer destes momentos, o critério de escolha da pena está previsto no art.º 70º, são
as finalidades da punição que, de acordo com o art.º 40º, nº1 se reportam à prevenção geral 46
positiva e à prevenção especial positiva.

Concluímos assim que o critério de escolha da pena é independente de considerações de culpa,


intervindo neste momento, exclusivamente, considerações atinentes às exigências de
prevenção.

10 Dezembro 2013

3 – Considerando que o juiz decidiu substituir a referida pena de prisão por pena de
multa, como seria determinada esta pena?
Art.º 43º pena de substituição - esta pena de multa de substituição determina-se de acordo
com o sistema de dias de multa. Temos de ir a moldura, determinar os dias e só depois o
quantitativo diário e isso significa que o juiz continua a determinar de forma autónoma a pena
de multa de substituição, o que não acontece com outras penas de substituição:

Moldura – 10 a 360 dias, não nos podemos confundir com o que está no tipo legal de crime, a
moldura é sempre o que está no art.º 47º. Determinávamos os dias pelo nº1 e depois pelo
nº2 determinávamos o quantitativo diário.

Há, desde logo, duas penas de substituição em relação aos quais o legislador prevê critérios
para a sua determinação: suspensão de execução da pena de prisão que dura o tempo da pena
de prisão – art.º 50º, nº5 e a outra situação é a do art.º 58º, nº3 prestação de trabalho a
favor da comunidade – aqui há um critério de correspondência automática.

Nota: determinação da medida das penas de substituição: até às alterações introduzidas


em 2007 no código penal, não existia qualquer critério de correspondência automática entre a
medida da pena principal de prisão e a medida da pena de substituição. Valia genericamente a
regra da determinação da medida concreta da pena de substituição de forma autónoma, de

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

acordo com os critérios do art.º 71º. No entanto, com a revisão do código penal, passou a
existir um regime diferenciado (incompreensível, de acordo com a posição de Maria João
Antunes) porque passou a estar prevista a correspondência legal entre o tempo de prisão e a
duração das penas de substituição de suspensão de execução da pena de prisão, art.º 50º,
nº5 e prestação de trabalho a favor da comunidade, art.º 58º, nº3.

4 – E se o condenado não pagar o montante correspondente à pena de multa aplicada?

A este propósito, vamos por várias hipóteses. Quando é condenado a pagar uma pena de
muta, como pode pagar? Desde logo, pagamento voluntário e aqui é possível pagar a quantia
47
integralmente ou requerer o pagamento da multa em prestações, art.º 47º, nº3 e ainda
requerer o diferimento do prazo, art.º 47º, nº3 ou ainda o requerimento de substituição por
trabalho, art.º 48º.

Quanto a este art.º 48º, temos de ter cuidado com a palavra “substituição”. Diz-se
claramente, “a requerimento do condenado” e se diz isso, isso nunca poderia ser uma pena ou
qualquer coisa pois para ser pena teria de ser imposta pelo juiz. O que está no art.º 48º é
uma forma possível de cumprir a pena de multa, ou seja, uma forma de execução.

Suponhamos que não cumpre voluntariamente: art.º 49º e aqui devemos ter cuidado em não ir
logo para a sua solução. Depois do cumprimento voluntário, temos de ir ao cumprimento
coercivo, ou seja um processo executivo e consequente tentativa coerciva de ir buscar o
pagamento que não foi pago, através de execução de bens/patrimonial – art.º 489º, 490º e
491º Código do Processo Penal.

Só depois disto é que teremos outra solução que passa pelo art.º 49º. A norma do art.º
49º será aplicável ao nosso caso? Não, porque estávamos a falar de pena de multa de
substituição e o que falava disso era o art.º 43º que prevê a hipótese no caso de não haver
pagamento, pelo que deveremos apenas recorrer ao nº3 do art.º 49º, por remissão do art.º
43º.

Nota: o não cumprimento da pena de multa de substituição dá lugar ao cumprimento da pena


principal nos termos do art.º 43º, nº3. Na verdade, entende-se que o condenado, ao não
cumprir voluntariamente a pena de substituição, perdeu a oportunidade que lhe foi conferida
de não cumprir a pena principal privativa da liberdade.

Para responder ao nossos caso, a consequência está no art.º 43º, nº3 e apenas não cumpre
se provar a situação do nº3 do art.º 49º, ou seja, se provar que o não pagamento não lhe é
imputável.

Situação de não cumprimento da pena de multa principal:

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Agora sim, para a pena de multa principal, o regime é o do art.º 49º que prevê a conversão da
multa não paga em prisão subsidiária. O art.º 49º manda converter pelo tempo
correspondente, reduzido a dois terços. Porque diz esta norma diz prisão subsidiária e não
diz pena de prisão subsidiária? O que se quer é que pague, não está prevista uma pena mas
uma sanção de constrangimento ao pagamento da pena de multa. Tanto é assim porque o artigo
diz que o condenado pode, a todo o tempo, evitar a prisão subsidiária, o que não acontece se a
pena de multa não for principal.

Pena de multa principal: Pena de multa de substituição 48

1. O incumprimento dá lugar a conversão 1. O incumprimento dá lugar ao cumprimento da pena de


em prisão subsidiária (art.º 49, nº1) prisão principal, fixada na sentença art.º 43º, nº2

2. O condenado pode evitar, a todo o 2. O condenado não pode evitar o cumprimento da pena
tempo a prisão subsidiária (art.º 49, de prisão principal porque o regime de favor previsto no
nº2) art.º 49º nº2 não é aplicável à pena de multa de
substituição (confrontar remissão do art.º 43º nº2
3. Efeito do pagamento parcial:
exclusivamente para o art.º 49º, nº3)
desconta-se no tempo de prisão
subsidiária porque o art.º 49º, nº2 diz 3. Efeito do pagamento parcial: não há desconto das
que o condenado pode a todo o tempo quantias eventualmente pagas pelo que cumprirá na
evitar total ou parcialmente totalidade a pena de prisão fixada na sentença

4 Liberdade condicional: a prisão 4 Liberdade condicional: haverá concessão de liberdade


subsidiária (art.º 49º) não sendo uma condicional em relação á pena de prisão principal fixada
verdadeira pena, não admite concessão de na sentença
liberdade condicional

Ver acórdão supremo 12/2013

As medidas de segurança não são só aplicáveis a inimputáveis, há medidas de segurança


aplicadas a imputáveis, nomeadamente art.º 100º e 101º, medidas de segurança não
privativas de liberdade, não esquecendo que em qualquer um dos casos tem de haver
perigosidade.

Para além da perigosidade, o que é preciso que aconteça? Tem de ser praticado um facto
ilícito típico e não se fala em crime porque, ao falar de medidas de segurança, podemos estar
a falar de inimputáveis e estes nunca praticam crimes, ou seja, não são capazes de culpa. Este
pressuposto é evidente mas apenas desde que há estado democrático.

O que é a perigosidade criminal? Pela expressão da lei é pelo art.º 91, nº2 “fundado receio
de que venha a cometer factos da mesma espécie”, através de um juízo de prognose, que deve
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

ser feito no último momento processualmente possível e que tenha em conta a suscetibilidade
concreta do agente para a prática de factos da mesma espécie, ou seja, deve ser um juízo
actual.

Há também uma exigência importante da proporcionalidade, isto é, está prevista no art.º


40º, nº3, e tem de ser proporcional à gravidade do facto e perigosidade do agente. Aqui o
objetivo é o mesmo que cumpre o Principio da culpa. Ou seja, limitar o poder sancionatório do
estado face ao cidadão.
O Princípio da proporcionalidade das medidas de segurança constitui um princípio limitador do
poder sancionatório do Estado. 49

Medida de segurança de internamento – art.º 91º e ss aplicada a inimputáveis, pelo art.º


19º em razão da idade (menores de 16 anos) e os inimputáveis por anomalia psíquica – art.º
20º (cabem aqui os inimputáveis de facto que são, nos termos do nº2, os agentes de
imputabilidade diminuída, chamada por inimputabilidade jurídica.)
Quanto a esta medida, quanto tempo dura uma medida de segurança de internamento?
Esta cessa quando cessar a perigosidade e se deixou de ser perigoso, deixa de estar
internado, plasmada no art.º 92º, nº1. Se não cessa a perigosidade, qual o limite
máximo? A extensão está definida pelo nº2 da mesma norma, ou seja, limite máximo da pena
correspondente do tipo de crime que tiver sido cometido e art.º 30º, nº1 CRP.

Este prazo, que nos termos do art.º 501, nº2 CPP tem de constar obrigatoriamente da
decisão condenatória e tem, no entanto uma excepção prevista no art.º 93º, pois em alguns
casos, é possível prorrogar a medida de segurança, remissão do art.º 93º para o art.º 30º,
nº2 CRP. Qual o limite mínimo? A duração mínima nos termos do art.º 91º, nº2, depende
de saber de que caso temos em mãos, em regra, não há mas há casos de crimes contra pessoas
em que a duração mínima é de 3 anos e esta norma é a que dá origem a discussão doutrinal
porque o que diz a norma na última parte é “defesa da ordem jurídica e paz social” – prevenção
geral positiva.

O Dr. Figueiredo Dias diz que as finalidades das Medidas de Segurança são as mesmas das
penas ma com ordem de preferência diferente e a Dra. Maria João Antunes diz que a
finalidade das Medidas de Segurança é apenas de prevenção especial. A Dra. Maria João
Antunes diz que, apesar da norma falar de prevenção geral positiva, apenas se aplica aos casos
de imputabilidade diminuída.

Nota: há um consenso generalizado em torno da ideia de que à medida de segurança cabe


evitar que o agente perigoso venha a praticar, no futuro, outros factos ilícitos típicos, isto
significa que a medida de segurança compre, primordialmente, uma função de prevenção
especial positiva.

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

Todavia, o estabelecimento de um limite mínimo de duração da medida de segurança em certos


casos e a referência do art.º 91º, nº2 à possibilidade de libertação “se tal se revelar
compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social” faz com que autores como
Figueiredo Dias defendam que as medidas de segurança também prosseguem de forma
autónoma finalidades de prevenção geral positiva. Maria João Antunes, pelo contrário,
entende que nas medidas de segurança, a função de prevenção geral não releva de modo
autónomo, interpretando o art.º 91º, nº2 de forma diferente. Defende a autora que esta
norma vale exclusivamente para os casos de imputabilidade diminuída (art.º 20º, nº2) –
trata-se de situações em que não estamos perante uma inimputabilidade natural mas uma
inimputabilidade jurídica, na medida em que a lei ficciona a inimputabilidade para efeitos de 50
aplicação de uma medida de segurança. Só nestes casos é que as exigências de prevenção
geral relevam de forma autónoma, permitindo a continuação do internamento, mesmo que
tenha cessado a perigosidade do agente.

Revisão da medida de segurança:


Nos termos do art.º 93º a revisão da situação pode, desde logo, ser efectuada a todo o
tempo se for invocado mas nos termos do nº2, será feita de dois em dois anos.
Há dois institutos a considerar que podem ser aplicados durante a execução de uma medida de
segurança de internamento:
 1º - liberdade para prova, prevista no art.º 94º - trata-se de incidente de execução
da Medida de Segurança de internamento e é um instituto paralelo ao da liberdade
condicional. Quando é aplicado? Nos termos do que diz a norma, entende-se que a
pessoa se mantem perigoso mas há razões para esperar que a finalidade da medida
pode satisfazer-se em meio aberto. Atenção: mesmo na liberdade para prova tem de
haver perigosidade porque se esta cessar, não há se quer este instituto.

 Há também o instituo da suspensão da execução da medida de segurança de


internamento – é uma medida de segurança de substituição da medida de segurança de
internamento prevista no art.º 98º. Neste caso há a consagração do princípio da
preferência pelas sanções não detentivas.

Em termos práticos em que se concretiza a diferença entre estes dois institutos? Sendo
uma Medida de Segurança de substituição, a suspensão de execução da medida de segurança é
aplicada no momento da condenação na sentença condenatória, pelo tribunal da condenação e
a liberdade para prova é concedida durante a execução do internamento, numa decisão judicial
posterior a decisão condenatória pelo tribunal de execução de pena s e medidas de segurança
como acontece na liberdade condicional (as diferenças são o quando, onde e por quem).

Estes institutos relevam também quando falamos de Pena Relativamente Indeterminada e é


importante porque temos de ir buscar estas regras.

Diana Simões
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Quanto à PRI, imagine-se a situação do caso prático 7:

O Tribunal decidiu condenar Joaquim, pela prática de um crime de furto qualificado, p. e


p. no artigo 204.º, n.º 2, do Código Penal, numa pena relativamente indeterminada de 4
a 12 anos.

Suponha que é defensor do condenado e tem que lhe explicar por que razão lhe foi
aplicada
aquela pena em concreto, o modo como a mesma foi determinada, bem como as regras de
execução da dita sanção. O que lhe diria? 51

Razão: pressupostos da PRI que existe como sanção mista para delinquentes por tendência e
tem pressupostos. O modo como foi determinada é o raciocínio inverso. Se a PRI era 12, a
pena concreta era de 6 anos, porque 6 mais 6 são 12 e depois teríamos de determinar o
mínimo.

O art.º 90º resolve problemas de execução da PRI e neste caso, não há liberdade condicional
a metade havendo pela primeira vez a 2/3.

Quanto tempo dura a liberdade condicional? Se esta for concedida no primeiro momento
possível quanto tempo dura? Art.º 90º, nº2, até ao limite máximo da PRI e não até ao
limite concreto da culpa, não excedendo os 5 anos, sendo assim um desvio à regra pagina 116

26 Novembro 2013 – aula autónoma

Liberdade Condicional

A natureza jurídica deste instituto não é uma questão puramente teórica. Do ponto de vista
jurídico a liberdade condicional é um incidente de execução de execução da pena de prisão,
isto é, alguém que esta em liberdade condicional, está a cumprir uma pena de prisão em regime
aberto e isso não significa que a pena de prisão tenha cessado.

Exemplo: pena de 10 anos de prisão e 5 anos depois era concedida a liberdade condicional mas
esta passado um ano foi revogada. O problema da posição anterior jurisprudencial era que ele
iria cumprir outros 5 anos na prisão e isso era errado porque o tempo de liberdade condicional
tem de ser considerado para este efeito, ou seja, tem de contar para efeitos de execução da
pena.

As duas normas que provam/justificam esta natureza jurídica da pena de prisão são o art.º
61º, nº1 que diz que a liberdade condicional depende sempre do consentimento do condenado
e se é assim, isto não é uma medida impositiva e outro argumento legal reconduz-se à previsão

Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

do nº5 do art.º 61º. Se a duração da liberdade condicional é igual ao tempo de condenação


que falta cumprir, isso justifica mais uma vez o seu caracter de incidente.

Quais os momentos possíveis de concessão de liberdade condicional?

O primeiro momento processualmente possível é a metade da pena e aí, para tal, tem de se
verificar o consentimento – art.º 61º, nº1; é preciso que já tenham sido cumpridos, no
mínimo 6 meses de prisão – art.º 61º, nº1 e, para além disso, é preciso que se verifiquem as
exigências da alínea a) e b) do art.º 61º, nº2. Estas exigências são o quê? A alínea a)
relaciona-se com exigências de prevenção especial positiva e a alínea b) relaciona-se com a
prevenção geral positiva. Estas duas exigências verificam-se através de um juízo de prognose 52
favorável e este juízo à concessão de liberdade condicional, neste momento de metade da
pena exige estas duas prevenções cumpridas.

Nota: não é líquido que penas inferiores a 12 meses não tenham direito a concessão de
liberdade condicional, esta pode ser sujeita a uma avaliação findos os 6 meses de
cumprimento.

Se não for concedida a metade, quando poderá ser concedida? Se tivermos uma pena e não
tiver sido concedida a liberdade condicional a metade, antes do momento seguinte de
concessão, há uma renovação anual da pena até atingidos os 2/3, prevista no art.º 180º do
código execução de penas e havendo esta renovação anual da instância e os requisitos para a
concessão de liberdade condicional são os mesmos verificados para a concessão a meio da
pena.

Nos termos do art.º 61º, nº2 o segundo momento processualmente adequado será aos 2/3
da pena tendo como requisitos o consentimento do condenado, cumprimento mínimo de 6
meses e apenas o juízo de prognose favorável relativamente às exigências de prevenção
especial positiva porque o art.º 61º, nº3 remete apenas para o art.º 62º, nº1 a) e não
para a alínea b) – trata-se de presunção legal quanto ao cumprimento de exigências de
prevenção geral positiva do art.º 61º, nº2 b). Se também aos 2/3 da pena não houver
concessão, há na mesma renovação anual da instância com os requisitos do momento que
anteriormente tinha ocorrido, ou seja, para os 2/3.

Agora teremos de fazer uma distinção: temos de olhar para o art.º 61º, nº4 – temos de ver
penas de prisão superior a 6 anos – aqui é obrigatoriamente concedida aos 5/6 da pena se
anteriormente não tiver ido concedida – aqui apenas se exige o consentimento do condenado e
é por isto que a doutrina refere a liberdade condicional obrigatória mas é obrigatório para o
juiz (já não tem de fazer o juízo de prognose positiva apenas verificar o consentimento do
condenado) e nunca para o condenado. Nas penas não superiores a 6 anos não há a concessão
aos 5/6.

Quanto à duração, a questão está resolvida pelo art.º 61º, nº5 e durará sempre o tempo que
faltar para cumprir a pena de prisão, havendo uma limitação dizendo que a duração não pode
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

ser superior 5 anos e cumpridas todas as regras de conduta sem prática de factos ilícitos e
danos, a pena extingue-se quanto ao seu remanescente.

Em caso pratico falar de: momentos, requisitos e duração

 Regime da liberdade condicional:

Art.º 64º faz muitas remissões para o estatuto da pena de substituição de suspensão da
pena de prisão – do seu regime há várias normas invocadas no art.º 64º porque o que
acontece é semelhante a quem está em situação de suspensão da pena de prisão; quanto a
regras de conduta, estas podem ser iguais; quanto a regime para prova em que a pessoa é
53
acompanhada por acompanhamento pessoal; situações em que não são cumpridas a situações de
suspensão, apenas há advertência do juiz e depois revogação da suspensão, ou seja, infração
grosseira ou repetida dos deveres de conduta ou prática de outro crime. Teremos de ver que
o art.º 54º só remete para o art.º 56º, nº1 e não para o nº2. Há ainda uma remissão
genérica para o art.º 57º quanto à sua extinção.

 Pena Relativamente Indeterminada

É um instituto que já ouvimos falar no ano passado porque a classificação do sistema


sancionatório português depende dele. O nosso sistema é tendencialmente monista porque não
permitia a punição ao mesmo agente pela prática do mesmo facto de uma pena e medida de
segurança privativas de liberdade, exceto na PRI, que lhe dá o significado do tendencialmente.
É tendencialmente monista pela existência deste instituto, ou seja, a sua natureza, desde logo
discutível, faz com o que o sistema não se considere puramente monista. Esta pena é
relativamente indeterminada, razão pela qual a condenação com PRI contem uma
condenação num intervalo de tempo e porquê? Isto tem a ver com a sua natureza jurídica
porque ela é uma sanção com natureza mista, ou seja, a sanção é única mas é mista no sentido
da sua execução onde em parte executa-se de acordo com as regras da pena de prisão e na
outra parte executa-se de acordo com as regras das medidas de segurança de internamento.

Se assim é quanto à execução, não podemos dizer aplicar duas sanções, ela é só uma com a
particularidade. Temos um único agente que praticou um único facto e que a sua pena será
executada em parte de acordo com umas regras e em parte de acordo com outras.

Qual a razão de ser de uma sanção com esta natureza? A razão tem a ver com a categoria
de agentes a quem se aplica esta sanção, pois os condenados aos quais se vai aplicar uma
sanção deste tipo são os delinquentes especialmente perigosos. Porque é preciso uma PRI?
Não podíamos aplicar a estes delinquentes especialmente perigosos apenas a medida de
internamento pois esta medida de segurança é aplicada a inimputáveis, pelo que a este
delinquente deveria ser aplicada uma pena só que esta é limitada pela culpa e não dá resposta
à especial perigosidade.

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Ou seja, não se satisfazem as necessidades apenas com a pena ou com a medida de segurança,
não servindo uma e outra em isolado, razão pela qual existe esta PRI que permite seguir as
regras de execução da pena e da medida de segurança em determinados momentos. A PRI vem
prevista nos art.º 83º e ss. A epígrafe do art.º 90º fundamenta a sua natureza mista
porque esta diz “liberdade condicional e liberdade para prova” e no conteúdo diz-se que em
parte aplica-se à PRI a liberdade condicional e noutra parte pode aplicar-se a liberdade para
prova, sendo estes incidentes relativos à pena e a Medida de Segurança, respectivamente.

O art.º 83º e o art.º 84º prevêm a PRI aplicada aos delinquentes por tendência e no art.º
86º prevê-se a PRI aplicada aos alcoólicos e equiparados.
54
Dentro da 1ª categoria temos: delinquentes por tendência grave no art.º 83º e no art.º 84º
temos os delinquentes por tendência menos grave. De uma norma para a outra mudam os
pressupostos em termos de tempo.

 Pressupostos – art.º 83º


o Formais – tem de ter sido praticado um crime doloso; a esse crime tem de
dever aplicar-se concretamente uma pena de prisão efectiva superior a 2 anos e
isto são dois requisitos quanto ao crime ao actual. Em relação ao passado dele,
tem de ter cometido anteriormente dois ou mais crimes também dolosos a cada
um dos quais tenha sido aplicada prisão efectiva por dois ou mais anos.

No caso do art.º 84º exige-se que no passado tenha cometido anteriormente 4 ou mais
crimes dolosos punidos com pena de prisão efectiva não se exigindo pena superior a 2 anos

Falta ainda o pressuposto da prescrição da tendência – está previsto no art.º 83º, nº3 e
84º nº3, quando entre a sua prática e a do crime seguinte tenham passado mais do que 5
anos, sendo uma previsão paralela à do art.º 75º, nº2

o Materiais: tem a ver com a ideia de haver uma especial tendência para a
prática de crimes e “consiste na avaliação conjunta dos factos praticados e da
personalidade do agente, que revele uma acentuada inclinação para o crime que
no momento da condenação ainda persista” – plasmado no art.º 83º, nº1 parte
final e art.º 8º, nº1 parte final, porque remete para o artigo anterior.

Do ponto de vista jurídico criminal está aqui a categoria da perigosidade criminal, é uma
forma de falar em perigosidade por outras palavras. Apesar de se falar de perigosidade não é
uma situação de simples aplicação de Medida de Segurança dada a imputabilidade do agente. A
perigosidade tem de persistir no momento da condenação, ou seja, tem de se ter considerado
perigoso anteriormente e atualmente ainda o ser porque se essa perigosidade já cessou, essa
perigosidade pode já não se verificar e deixa de haver a aplicação deste instituto. Esta
avaliação faz-se não esquecer, no último momento processualmente possível.

Diana Simões
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Aqui chegados, temos a definição do sistema do monista e que é uma sanção mista com
fundamento em perigosidade aplicada a delinquentes tendencionalmente perigosos mediante
pressupostos. Como se determina esta PRI?

Desde logo, saber determinar vai condicionar as respostas que se tenham de dar
seguidamente.

A, praticou um crime de homicídio, art.º 131º e anteriormente já tinha praticado outros


dois crimes dolosos punidos com pena de 3 anos de prisão efetiva cada um.

1- Como se determina a pena a aplicar ao agente?


55
Estamos a tratar este caso a propósito da PRI mas se em exame tivéssemos este enunciado,
tinha de nos colocar perante a aplicação de dois institutos, nomeadamente o da reincidência e
PRI. Perante esta evidência, se olhar para o caso prático e ficarmos na dúvida, devemos
resolver pelo instituto da PRI porque o legislador assim o diz no art.º 76º, nº2. Aqui não
saberíamos se o pressuposto da ligação entre os crimes praticados para se verificar a
reincidência pelo que teríamos de dizer que se se verificassem os pressupostos de ambos os
institutos, deve prevalecer a PRI.

Para determinar a nossa PRI tomaremos como referencia o art.º 83º porque, de acordo com
os pressupostos do art.º 84º, este não se preenchia.

Diz o nº2 que a PRI tem o mínimo correspondente a 2/3 da pena que concretamente caberia
ao crime cometido (pena concreta e não abstrata) e no máximo correspondente a esta pena,
acrescida de 6 anos.

Teremos, antes de mais, que determinar a pena como se não fosse um delinquente
especialmente perigoso, ou seja, ir ao art.º 131º e determinar a pena concreta segundo as
regras para o crime de homicídio. Indo ao tipo legal de crime, a moldura será de 8 a 16 anos de
pena de prisão, não tendo aqui lugar uma primeira operação de escolha da pena porque para o
homicídio só há uma opção. Na segunda operação, dentro da moldura legal, temos de
determinar a medida concreta da pena mediante critérios que são a culpa e prevenção e vão
funcionar de acordo com aquilo que é a moldura da prevenção – art.º 71º, nº1

Combinando estes critérios, imagine-se que se determinava a pena concreta de 9 anos. Aqui,
aplicar o art.º 83º, nº2 significa continuar e teremos de considerar esta pena concreta para
dois efeitos: primeiro estabelecer o limite mínimo da PRI, ou seja, 6 anos e para estabelecer o
limite máximo que é a pena concreta acrescida de 6 anos, ou seja, 15 anos. Por estranho que
pareça, a PRI é de 6 a 15 anos e isso significa que um condenado em PRI de 6 a 15 anos só
sabe que no mínimo está la 6 anos e no máximo estará la 15, sendo que no momento da
condenação não sabe quanto tempo la vai estar.

Antes dos 6 anos não haverá qualquer liberdade condicional e quando atinge ao 15 anos a pena
cessa. Até quando é que a PRI é executada como pena de prisão? E quando começa a ser
Diana Simões
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executada como Medida de Segurança? Até aos 9 anos, tudo se passara seguindo as regras
da pena de prisão e daí para a frente tudo se passara de acordo com as regras da medida de
segurança de internamento.

No momento desde o início do cumprimento até aos 9 a PRI é executada de acordo com as
regras da pena de prisão, mas que regras são estas? Regras a aplicar até se mostrar cumprida
a pena que concretamente caberia ao crime: a primeira ideia é a de que durante este período
pode ser concedida liberdade condicional nos termos do art.º 90º, nº1. A segunda ideia é da
questão, a partir de que momento pode, pela primeira vez, ser considerada essa possibilidade
e aí é quanto for atingido o limite mínimo da PRI, ou seja, quando for atingido o limite mínimo
da pena concreta, isto é, aos 2/3 da pena concreta e neste momento, para que seja concedida,
56
têm de se verificar 3 requisitos:

 1º - O consentimento do condenado;
 2º - O cumprimento de, pelo menos, 6 meses de prisão efectiva, art.º 61º, nº1 para o
qual o art.º 90º, nº1 faz remissão directa;
 3º - Têm que estar reunidas as condições exigidas pelo art.º 61º, nº2 a).

Imaginemos que esta liberdade condicional é concedida aos 6 anos, quanto tempo dura?
Se for concedida, nos termos do art.º 90º, nº2 será até atingir o limite da pena concreta
mas nunca superior a 5 anos (no nosso caso, faltava cumprir 3 anos até aos 9). E se não for
concedida neste momento a liberdade condicional? Haverá lugar a uma avaliação anual, por
força da norma do art.º 180º do código de execução de penas.

Imaginando agora que nunca é concedida, passados os 9 anos, muda a consideração e já não
sairá ao abrigo este instituto.

Regras aplicáveis depois de cumprida a pena que concretamente cabia ao crime: durante
este período de tempo, entre 9 e 15 anos, há duas hipóteses concretas que podem ocorrer:

A primeira é a possibilidade de concessão de liberdade para prova, por força do disposto no


art.º 90º, nº3, quando remete para os art.º 94º e art.º95º. A liberdade para prova é uma
figura paralela a liberdade condicional mas que se reporta à medida de segurança por
internamento.

E se não for concedida liberdade para prova, o que pode acontecer? Se não é concedida
esta liberdade, é porque ainda há perigosidade, mas se aos 9 anos cessão a perigosidade e por
isso cessa a PRI – remissão do art.º 90, nº3 para o art.º 92º, nº1. Se nada isto acontecer,
este agente estará detido sempre e só até atingir o limite máximo da PRI. Como é que se
prova que atingidos os 15 anos, ele é necessariamente libertado? O argumento não é
directo, nas Medidas de Segurança há uma situação específica em que é possível prorrogar
sucessivamente a Medida de Segurança enquanto vigorar a perigosidade, sendo esta uma
excepção – art.º 92º, nº3. Tal não acontece porque no art.º 90º não há remissão para o
art.º 92º, nº3 mas apenas e só para o nº1, sendo um argumento à contrário senso.
Diana Simões
Penal III Aulas Práticas 2013/2014

O agente está sempre a cumprir num estabelecimento prisional o que significa é que as regras
convocadas depois dos 9 anos no nosso caso, são diferentes. Não há alterações do ponto de
vista físico, apenas convocamos as regras jurídicas do ponto de vista físico.

Imagine-se um caso em que o agente pratica dois crimes diferentes e é um delinquente


especialmente perigoso, o que fazer? Hoje, temos a prática de mais do que um facto sem
que tenha transitado em julgado a pena de qualquer um deles. Aqui teremos de seguir o
sistema do cúmulo jurídico, de acordo com regras do art.º 77º, ou seja, determina-se a pena
única conjunta do concurso e depois a partir dela forma a PRI. A tarefa de determinação da
pena concreta acaba por ser mais trabalhosa porque teremos de determinar a pena do
concurso.
57

Diana Simões

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