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Alupô!!!Bará:
Pelotas, 2017
Éderson Motta Moreira
Monografia apresentada ao
Departamento de História da
Universidade Federal de Pelotas
como requisito parcial à obtenção do
título de Bacharel em História.
Pelotas, 2017.
2
Banca Examinadora:
3
Resumo
4
Sumário:
Introdução ................................................................................................6
Referências ................................................................................................37
5
INTRODUÇÃO
1
Já participando do grupo de estudos, entre uma leitura e outra me deparei com um artigo com
o título “Religiões de Matriz Africana e a Intolerância Religiosa” (2014),de Isabel Soares
Campos e Roseane Aparecida Rubert que tratou de vários casos de intolerância religiosa na
cidade de Pelotas e em outros municípios do sul do estado gaúcho. As autoras despertaram
minha atenção para o caso “Mãe Gisa e o caso do Bará do Mercado”, por retratar a intolerância
religiosa, proveniente do Assentamento do orixá Bará, na minha própria cidade, em detrimento
da forte presença negra e africana na sociedade local. Conforme as autoras: “Após este breve
resumo de casos de intolerância religiosa em relação às religiões afro-brasileiras que
acompanhei, apresento um episódio que ganhou grande visibilidade na cidade de Pelotas que
foi o caso do Bará do Mercado, no qual foi realizado um ritual de assentamento do Orixá Bará
por duas mães de santo, Mãe Gisa de Oxalá da Casa Espírita Assistencial Afro-brasileira
Cabloco Rompe Mato Reino de Xangô e Oxalá (CEAAB) de nação cabinda e Joice de Xangô
representante da Sociedade Beneficente São Jerônimo”. (CAMPOS, RUBERT,2014)
6
Além da análise dos debates suscitados pela imprensa local e seus
desdobramentos jurídicos e sociais, também busca-se realizar uma descrição
cuidadosa do rito do Assentamento do Bará. Neste caso, busca-se a produção
de uma narrativa próxima da experiência religiosa e que, por assim dizer, além
do valor em si, pode contribuir para desmistificar visões preconceituosas que,
vez por outra, são veiculadas por diferentes segmentos sociais.
2
O jornal Diário da Manhã fundado em 1979, desde a sua fundação é um periódico de
circulação diária, ou seja, todos os dias há uma nova publicação de notícias referente aos
acontecimentos políticos, econômicos e sociais ocorridos na cidade de Pelotas Rs. Este por
sua vez é direcionado a todos os públicos, pois, a sua leitura é de fácil interpretação e objetiva
agradando aos leitores que o admiram.
7
sua relevância social e acadêmica, a realização de uma monografia que aborde
o fato e suas repercussões no contexto local continua sendo pertinente. Neste
sentido, abordar-se-á a seguintes questões: Quais os sentidos e significados
que nortearam a cobertura dada pela imprensa ao evento? Como esta matéria
repercutiu na opinião pública? Em relação as acusações de “maus tratos de
animais”, quais foram os argumentos mobilizados pelos envolvidos.
3
A página do ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), destina-se a notificar a
sociedade em geral, sobre assuntos relacionados aos animais em geral. Estes assuntos
podem ser de caráter assistencial, ou seja, notificar se algum animal está em situação de
abandono precisando de um lar, medicamentos entre outros. Assim como ela tem esse
caráter assistencial a mesma também tem de informar quando ocorre maus tratos com os
mesmos.
4
Estes autores abordaram diferentes situações envolvendo intolerância religiosa na sociedade
gaúcha, sobrelevando o antagonismo entre evangélicos, notadamente neopentecostais e
adeptos de cultos afro-brasileiros.
5
Segundo (PINSKY,2005) a partir da década de 60 e 70 do século XX, as fontes impressas e
orais passam a ganhar destaque no meio historiográfico. Esta revolução documental passou
por três gerações, cada uma apresentando certas particularidades, não cabe fazer uma
discussão historiográfica neste momento, apenas salientamos a contribuição destas gerações
8
O segundo capitulo, intitulado “Assentamento do Bará”, apresenta certa
inspiração etnográfica, nele busco a feitura de uma narrativa “refinada” do rito
supracitado. A principal fonte para essa empreitada advém do conhecimento
que tenho sobre a tradição Cabinda combinada com as conversas e entrevistas
realizadas com irmãos de religião. Na definição do meu campo de interlocução
cabe destacar Yá Joice de Xangô, nação Gegê, e, os já referidos, Mãe Gisa de
Oxalá e Paulo de Xangô, ambos da nação Cabinda. Tais pessoas foram meus
aliados nesta pesquisa contribuindo para esclarecer vários aspectos desta
cerimônia.
para a renovação das fontes de pesquisa e para a prática da interdisciplinaridade. No caso das
entrevistas), estás foram concebidas como fonte para a pesquisa histórica a partir do advento e
uso do gravador em 1970. Segundo Verena Alberti: “A História Oral é uma metodologia de
pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em
meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na realização de
entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos
e conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são produzidas no contexto de
projetos de pesquisa, que determinaram quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como
perguntar, bem como que destino será dado ao material produzido”. (ALBERTI in PINSKI,
2005, pg.155).
9
1 .O
O Assentamento do Bará do mercado visto pela impre
imprensa
10
Aparentemente objetivas, factuais, as matérias comportam vários
equívocos em relação ao ritual em questão e, ao mesmo tempo, mobilizam um
subtexto bastante negativo em relação aos cultos de matriz africanos de modo
que deu ensejo, por assim dizer, há uma verdadeira onda de intolerância
religiosa na cidade de pelotas:
11
Assim, nesta perspectiva, não parece ético separar o trabalho do negro,
incorporado à cidade, de suas crenças e tradições cultuadas e transmitidas
entre gerações. Em sua defesa, quando questionada pelo ministério público em
relação à pertinência ou não da realização do Assentamento do Bará, Mãe
Gisa de Oxalá, chamou a atenção para esse significado histórico, remetendo a
centralidade histórico-factual, simbólica e religiosa do mercado na história e na
memória dos negros de Pelotas:
12
Outrossim, a expressão restabelecer o bará(proteção) também
demonstra desconhecimento das religiões de culto afro-brasileiro, pois, não
havia o Assentamento do orixá, não havendo, portanto, nada
parareestabelecer, e sim o Fundamento do Passeio.
Na sequência,em outra nota, é destacado que as Yás sacrificaram um
cabrito, três galos e um casal de pombos os quais serviram para a proteção do
prédio público. Além, da presença de representantes do poder público que
acompanharam o ritual de batismo, havia também os familiares consanguíneos
das Yalorixas e alguns dos seus filhos-de-santo que acompanharam a
cerimônia religiosa.
O vocábulo sacrificou remete a ideia de crueldade e barbárie perpetrada
contra os animais ofertados aos deuses africanos, em rituais, que de acordo
com vários comentários postados nas redes, constituiriam práticas de feitiçaria
e ou culto ao diabo. Esta leitura inicial, bastante negativa, foi ainda
potencializada pela matéria publicada na página do ANDA (Agência Nacional
dos Direitos dos Animais), sob o título “SACRIFÍCO CRUEL - Ritual usa
animais para ‘abençoar’ prédio público na cidade de Pelotas (RS)”.6 Além do
título a matéria traz uma fotografia onde se vê a família de santo da Mãe Gisa
de Oxalá com destaque para um homem negro portando uma enxada na mão.
No caso, o africanista Paulo de Xangô, esposo da YáGisa:
6
Esta página recebeu diversos acessos e comentários os quais exaltaram o preconceito religioso
implícito, pois, os mesmos utilizaram a causa em relação a defesa dos direitos dos animais para expor
suas ideias referentes aos sacrifícios ocorridos nas religiões de matriz africana, deixando claro que esta é
uma religião que não pertence a “Deus” e sim do “Diabo”. Destacaremos alguns dos comentários:
“A quem pode agradar animais mortos com tortura? se esse prédio público for efetivamente para o
bem, não precisa disso. Só precisa de pessoas de caráter e que não usam a corrupção como
instrumento. Certamente algum político pediu esses sacrifícios a troca de votos…GENTE NÃO
PERMITAM ISSO – ESSE RITUAL NÃO É PARA DEUS…MUITO MENOS PARA PROTEÇÃO DE PESSOAS DO
BEM…quem apoiou isso são verdadeiros CANALHAS, NOJENTOS fazem mal para os seres do bem. São
abortos da natureza…tanto quem pede como quem executa.” Maria Helena (30 de junho de 2012,
19:00).
“Santa ignorância, quem protege e abençoa é Deus, somente Deus. Porque não sacrificam um dos filhos
deles, quem sabe o sucesso seria maior…” Vera Lucia (30 de junho de 2012, 21:53).
Embora minoritários, também houve comentários questionando as premissas, bastante frágeis, dos
detratores dos cultos de matriz africana: “Quando matam animais para subsistência é coisa do capeta,
mas quando matam animais em massa e com requintes de tortura nos abatedouros ninguém comenta,
por que será? Ah sim, é fácil pagar para que matem animais por vocês né?” Marcelo (1 de julho de 2012,
00:13).
13
Figura 1: Página do Anda com destaque para o Título da matéria onde se lê a palavra “Sacrifício cruel”, bem como
para a foto dos“batuqueiros” portanto enxadas que, erroneamente, sugerem o enterramento de animais.
14
praticantes dos próprios cultos. Todavia, tal exame deverá ficar para um
próximo estudo.
15
para o coletivo), o Osé (ritos anuais de regeneração do tempo8
e da aliança com as divindades) e o Isinku (ritos funerários
extremamente importantes para a escatologia e soteriologia
que se expressa na ancestralização do indivíduo e
fortalecimento da comunidade).(Silveira,2016)
7
No culto afro são denominadas inhelas.
8
Axé oferecido ao orixá Xangô.
9
Axé feito de Miúdos oferecido aos orixás.
16
com respeito máximo e o mínimo de sofrimento possível para
os seres que usamos como refeição.Não é matar por
matar.(NGUNZETALA,2015,pg.23)
Ninguém veio falar comigo, até sair a nota, mas, no mesmo dia ao meio
dia veio aqui em casa um rapaz de religião me questionou e também
dizendo que iam me colocar na justiça e eu olhei para ele e disse: o
porque eu não fiz nada de errado, porque vão querer o meu sangue, eu
tenho tudo documentado registrado não tem o porquê ai ele disse: teve
uma reunião assim, assim, e vão pedi o teu sangue (...). (Mãe Gisa de
Oxalá (CEAAB) – Entrevista realizada no dia 09/07/16)
10
“No tocante as tradições de matriz africana se somam vários fatores: a sensibilidade ao fato da morte
do animal; o imaginário ou atrasado concebido por séculos sobre essas tradições; a ideia de uma
crueldade na prática. Todos esses fatores precisam ser desconstruídos, desmistificados, para que se
compreenda realmente a importância da imolação para essa tradição”. (SILVEIRA, 2016, pg.5)
17
Diferente do que ocorreu na cidade de Porto Alegre (RS), onde a união
dos batuqueiros da cidade de Porto Alegre demonstrou interesse em preservar
o Assentamento do orixá Bará, realizado pelo príncipe Custodio, na cidade de
Pelotas, os próprios sacerdotes de culto afro- brasileiro não apenas deixaram
de apoiara a iniciativa das Yás, demonstrando indiferença, mas manifestaram
contrariedade em relação a iniciativa das mães de santo. 11
O fato deflagrou um movimento de intolerância religiosa, pois, os
adeptos das religiões neopentecostais, defensores dos animais e pessoas
esclarecidas da comunidade, no passado dir-se-ia “homens bons”,
caracterizaram a obrigação do mercado, como “chinelagem da grossa”, após
divulgação do rito na página social do jornalista Hélio Freitagjr e posteriormente
pagina da ANDA.
O episódio passou a ter um caráter de intolerância quando o
Blog Amigos de Pelotas, por meio de reportagem assinada pelo
jornalista Rubens Filho, na época também candidato a
vereador pelo PCdoB, que caracterizou o ritual como uma
“chinelagem da grossa”..Segundo ele: “Os corpos dos animais
foram enterrados na área do MercadoMunicipal, que está
sendo restaurado.(...) Em postura de desaprovação do que
aconteceu, o jornalista prossegue:”Chinelagem (palavra boa
está para algumas coisas) é pouco para descrever o que se
passou, mas dá uma idéia da idade mental e cultural dos
realizadores da barbárie(trecho retirado do
blog).(CAMPOS,RUBERT,2014,pg.302)
11
Em Porto Alegre, os casos de intolerância religiosa e a discriminação ao livre direito de culto dos orixás
levou a desencadear a criação de uma Comissão em Defesa das Religiões Afro-Brasileira(2002)
organizada por homens e mulheres que cultuam as religiões de matriz afro-brasileira a se posicionarem
em defesa dos seus direitos previstos em lei, pois, a banca que resguardava o Assentamento do orixá
Bará havia sido removida por conta das obras de restauração, o qual o culto deste orixá já era realizado
desde o século XIX. Assim: “A INTOLERANCIA RELIGIOSA e a forma discriminatória com que desde
sempre conviveram os Afrodescendentes desencadeou em 2002 a criação do movimento denominado
Comissão em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras. Naquele momento um grupo de sacerdotes, homens
e mulheres, vivenciados das religiões de matriz africana mobilizaram-se para fazer prevalecer seus
direitos de liberdade de culto conforme prevê a Constituição Nacional [...]. Este caso resultou em uma
conquista pela então Congregação em Defesa das Religiões Afro – Brasileiras(CDRAB) a qual solicitou
que fosse colocado um cofre para os adeptos dos cultos afro-brasileiro jogarem as suas moedas quando
fossem realizar o Fundamento do Passeio. O centro do Mercado também foi revitalizado para que os
mesmos e a comunidade em geral reconheçam que ali é um lugar sagrado para os que seguem a
doutrina religiosa africana” (AUTOR, ANO, Página).
18
da imprensa, blogs e páginas sociais, atualizaram clivagens ancoradas em
aspectos étnicos, sociais e culturais cristalizando posições, “gente de bem”
versus a “canalha”, alimentando uma política reacionária que cresce no país.
A polêmica provocada pela divulgação das notas, juntamente com a
fotografia, levou a família de santo e consanguíneo da YáGisa de oxalá, bem
como a sua casa de religião, o CEAAB, a compareceremdiante do Ministério
Público para prestar esclarecimentos sobre o ritual e o sacrifico de animais nas
dependências do mercado público:
19
O conceito de afroteofobia, desenvolvido pelo teólogo africanista Jayro
Pereira de Jesus, define a forma de perseguição a religiões de matrizes afro-
brasileiras ancorada na repressão aos cultos afro-brasileiros destacando os
atos de sacralização ao ligar estas práticas a rituais satânicos e a figura do
negro vinculada a inferioridade e como representação do “diabo”. A diferença
convertida em inferioridade se faz presente enquanto construção histórica
através da imposição dos valores europeus, brancos e cristãos transformados
em padrão hegemônicos relegando outras expressões étnicas e religiosas a
marginalidade política e social. Conforme o autor:
A história da afroteofobia tem, talvez suas origens nas
autorizações para a conquista e a escravidão de africanos
emitidos pela Igreja Católica fundamentados em argumentos
teológicos. Mais tarde, também argumentos científicos seriam
usados. Esses argumentos construíram na Europa uma
mentalidade sobre os africanos como pagãos pecadores e de
uma raça inferior, logo, promotores de uma cultura satânica
e/ou primitiva. (SILVEIRA, 2016, pg.2)
20
2 . O ASSENTAMENTO DO ORIXÁ BARÁ
O Exu tem a sua mulher que é a Pomba-Gira que trabalha junto com ele,
por isso que geralmente quando o Exu se materializa nos seus cavalos14 ele
procura uma senhora para beber e fumar. O cavalo que recebe a manifestação
do Exu quase sempre terá a manifestação dela também. Tanto Exu quanto a
12
Nação de religião afro-brasileira a qual o seu culto difere das outras nações, pois, ela inicia quando as
outras terminam no cemitério.
13
É um espírito de alguém que já desencarnou.
14
Refere-se a incorporação.
21
Pomba-gira são procurados para trabalhos diversos abertura de caminhos e
assuntos relacionados ao amor.
15
Ato de entregar oferendas ou similares na Natureza
16
São vasilhas de barro geralmente de tamanho médio que é colocado água, após dependendo para
qual orixá será oferecido, levara mel ou azeite de Dendê.
22
movimento do Bará, advém o movimento da casa que é feito objetivando
potencializar a vida das pessoas conforme suas necessidades e desejos (por
exemplo, saúde, emprego, prosperidade). Dono dos caminhos, interessado no
mundo humano, o Bará é mobilizado através da troca: Assim:
Bará (Agelú) – Milho torrado claro com mel, pipoca, 7(sete) batatas
inglesas assadas, milho cozido (axoxô), 7(sete) tiras de coco (fruta).
(FERREIRA,1994, pg.132)
23
relação ao gênero existem diferenças importantes entre os Barás. Assim, por
exemplo, O BaráLodê, diferentemente dos demais, não aceita a presença de
mulheres no seu ritual, por isso, os homens são encarregados de realizar a sua
obrigação19.
Nas outras duas casas que freqüentei a obrigação para BaráLodê já era
realizada pelos dois Pais-de-santo, Pai Paulo e Pai Ailton, ambos
homossexuais, o tema do gênero e da homossexualidade, apesar de
importantes, não constituem objeto deste estudo, embora possam ser
trabalhados em um próximo estudo, o que interessa, neste momento, é
discorrer sobre o orixá Bará.
19
Os batuqueiros utilizam o termo obrigação para designar a ação de despachar as suas oferendas e
cuidar do seu ritual.
20
Refere-se as casas que cultuam os orixás.
21
São as festas as quais tocam os tambores para reverenciar os orixás.
24
O Bará é o orixá da vida, dos caminhos, da virilidade, da fartura e do
movimento. Assim, ele é o acerto e o desconcerto ao mesmo tempo, ou seja,
há coisas na vida que já estão prontas para acontecer e do nada simplesmente
deixam de acontecer, por isso que o culto ao orixá Bará se torna importante,
para que ele sempre possa estar com a sua chave abrindo os caminhos de
quem o solicita.
2.2 - O Passeio
“[...] diziam que os Orixás estavam proibidos, mas dentro do mercado é como se não houvesse
22
proibição alguma, talvez o mercado fosse o refúgio dos Orixas”. (Antonio Olinto)
22
Antonio Olinto citado por Arno Vogel, Marco Antonio da Silva Mello e José Flávio Pessoa de Saudosa
memória.
25
pela história de sua edificação que remete a história do cativeiro, mas,
principalmente, pelo axé do orixá Bará.
23
Palavra que designa que o batuqueiro já possui Obrigação de 4(quatro) patas e pode ser considerado
pronto dentro dos Fundamentos das Religiões de Matriz Africana.
26
Amanheceu, fizemos a higiene diária e partimos para o “Fundamento do
Passeio”. Chegando ao centro próximo as redondezas do Mercado descemos
do carro do meu tio de santo. Ao desembarcar as pessoas pararam para nos
olhar, pois, estávamos de branco da cabeça aos pés e um grupo todo
aparamentado chama a atenção das pessoas. Ao entrar no mercado, minha Yá
fez uma chamada24 a todos os Barás para pedir licença e seguimos em direção
ao cruzeiro central e lá foram jogadas as moedas para o orixá. Neste momento,
as pessoas que ali circulavam pararam para assistir o Fundamento. Foi um
momento único para mim, pois, nunca havia saído de branco, trunfa na cabeça
e guias no pescoço para o centro da cidade. Acredito que o Passeio serve
também como uma forma de apresentar os iniciados que foi o meu caso a
sociedade em geral e a religiosa, em particular, foi acima de tudo reafirmar a
minha identidade como batuqueiro.
24
Ato de convocar pelo nome o orixá.
27
apresentarei o preparo do axé do Bará que, por assim dizer, precede o ritual do
Assentamento.
25
Esta frase já foi utilizada na tese de doutorado do professor Dr. Edgar Rodrigues Barbosa Neto. A
mesma usada do autor Eduardo Viveiros de Castro em 1986.
28
importante deste preparo é que a massa de batatas deve estar quente para
obter o ligamento para formar o bolo.
26
Axé (comida), para o orixá.
29
confiança, pois, hoje são filhos amanhã podem ser “inimigos”. Assim, recordo a
fala do Pai Cleon de Oxalá:
27
Seu apronte na Nação se deu através de varias naçõesdentro do culto afro-brasileiro.
30
Pai Paulo de Oxalá de nação Cabinda,seu apronte foi realizado pelo Pai
João Carlos28 de Oxalá. Com ele aprendi os Fundamentos da nação cabinda.
Todo o dia aprendia um Fundamento diferente dentro do rito. Sobre o
Fundamento do Passeio e o Assentamento do Bará ele nunca chegou a
comentar sobre a existência do Assentamento e sim sobre o Passeio o qual é
realizado no cruzeiro central do Mercado Público.
28
Considerado uns dos primeiros a trazer a Nação de Cabinda, para a cidade de Pelotas(RS).
29
Refere-se a mesma Nação de culto afro-brasileiro.
31
2.4- O Assentamento.
A faca tem uma função especial dentro do culto das religiões de matriz
africana, pois, sem ela não há culto. O obé (faca) é do orixá Ogum senhor da
guerra e da forja, dono do corte e é através deste que se dá o assentamento
dos orixás e o preparo de novos sacerdotes. Assim, como o orixá Bará, o
senhor da chave e dos caminhos, ao qual pedimos a licença para iniciar
30
Termo utilizado pelo Pai Cleon de Oxalá para designar que os doze orixás da Nação Cabinda já foram
assentados conforme a tradição religiosa o qual utilizei também para me referir ao Orumalé.
32
qualquer rito, pedimos ao orixá Ogum o seu Agô (licença), para sacralizar
animais quando necessário.
33
(Caixa d´agua do cruzeiro central doMercado Central de Pelotas - Arquivo Pessoal – 08/09/16)
Sim! Agora eles têm um Bará para atirar moedas que não é caixa
d´agua, pois o Mercado nosso tem seis cruzeiros e ele tá assentado
num destes cruzeiros, quando a gente entra no Mercado para saudar
o Bará passa pelo cruzeiro do centro e sai nas quatro portas, numa
das quatro portas está assentado o Bará da cidade de Pelotas e,
agora, tem Bará lá! (Pai Paulo de Xangô – Entrevista realizada
09/07/16)
34
Figura 3: Cruzeiro
ruzeiro do Mercado, em frente a Andrades Neves(Arquivo Pessoal 14/07/16).
35
Conclusão
36
Referências Bibliográficas:
37
ORO, Ari Pedro – A tradição do Bará do Mercado/ Ari Pedro Oro, José Carlos
dos Anjos, Mateus Cunha; Fotografias de Fernanda Rechenberg. Porto
Alegre:PMPA/SMC/CMEC,2007.
PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: contexto, 2005.
SILVEIRA, Hendrix. Combatendo a afroteofobia: argumentos jurídicos e
teológicos para a defesa da sacralização de animais em ritos de matriz
africana.II Simpósio Internacional da ABHR, XV Simpósio Nacional da
ABHR,jul/2016.
https://www.youtube.com/watch?v=_ao-lrP8TOo. Documentário Batuque,
Umbanda e Quimbanda. Três formas religiosas distintas. Uma mesma
direção. - Caminhos da Religiosidade Afro-Riograndense. UFRGS. Porto
Alegre, 2013. Acesso: 21/10/2016
Web site: http://www.anda.jor.br/30/06/2012/ritual-usa-animais-para-abencoar-
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PERIÓDICO DIÁRIO DA MANHA. Pelotas, Linha direta, 28/06/2012.
38