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Prof.:
Índice-controle de Estudo
Unidade II Teoria do Conhecimento
Aula 8 O empirismo
Aula 11 A verdade
CONSELHO EDITORIAL
Guilherme Faiguenboim
Nicolau Marmo
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Assaf Faiguenboim
EDIÇÃO
Maria Ilda Trigo
ASSISTÊNCIA EDITORIAL
Creonice de Jesus S. Figueiredo
Kátia A. Rugel Vaz
Maria A. Augusta de Barros
Paula P. O. C. Kusznir
Silene Neres Teixeira Paes
ARTE E EDITORAÇÃO
Gráfica e Editora Anglo Ltda.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Gráfica e Editora Anglo Ltda.
Código: 82703128
2008
Unidade II
TEORIA DO CONHECIMENTO
Aula
7
Descartes e o racionalismo
Para pensar
Alguma vez você já sonhou que estava sonhando? Ou, então, você já teve, em sonho, a sensação de
estar despertando de um sonho? Nesse caso, deve-se questionar: será que podemos estabelecer critérios
para diferenciar o sono da vigília? O que nos garante que a nossa percepção e o nosso entendimento
sobre as coisas sejam reais?
3. Qual a principal característica do método ra- O próprio pensamento – prova da existência de um “eu”
cional? autônomo. A existência do “eu” seria comprovada cada vez
A decomposição de um problema ou objeto em partes que um pensamento é enunciado.
menores, para posterior análise.
LEITURA COMPLEMENTAR
O que significa o trecho: “a consciência é para si
mesma o primeiro objeto do conhecimento”?
A idéia moderna de razão O primeiro conhecimento que a consciência busca é sobre si
Em seu livro História da Filosofia, Hegel declara que mesma, ou seja: ela reconhece a sua existência. É o princípio
a Filosofia moderna é o nascimento da Filosofia propria-
que está por trás da expressão “Penso logo existo” e aponta
mente dita porque nela, pela primeira vez, os filósofos
afirmam: para a reflexão enquanto característica do pensamento
1) que a Filosofia é independente e não se submete filosófico (no sentido da capacidade de voltar o pensamento
a nenhuma autoridade que não seja a própria razão co-
para si mesmo).
mo faculdade plena de conhecimento. Isto é, os moder-
nos são os primeiros a demonstrar que o conhecimento
Faça uma experiência simples: pegue um objeto, segure-o a uma certa altura do chão e largue-o.
Logicamente, ele cairá.
Mais do que simples, essa experiência pode ser considerada banal, mas certamente foi importante
para que Newton desenvolvesse a teoria da gravitação, uma vez que ele se baseou nos fenômenos ob-
servados na natureza para criar modelos matemáticos de explicação. Em outras palavras, as teorias de
Newton simplesmente se fundamentam em eventos da natureza que costumam se repetir. Porém, o que
garante que eles vão continuar se repetindo? Existe algo que prove que as leis da natureza, conforme as
conhecemos, vão continuar sendo válidas no futuro?
Observe a imagem:
Robert Rauschenberg. White painting (três painéis), óleo sobre tela, 1951.
Nos anos 1950, o artista plástico norte-ameri- Mas, afinal, qual o significado de compor e ex-
cano Robert Rauschenberg revolucionou o mun- por uma tela em branco? E por que a concepção de
do das artes ao apresentar suas primeiras White Locke é tão importante? É o que vamos tentar en-
paintings (pinturas brancas). tender agora.
Muito antes de Rauschenberg propor essa re-
flexão sobre a importância do branco – do vazio – O empirismo
para a construção de significados, ele já era tema da Durante o século XVII, surgiu na Inglaterra um
Filosofia. Como veremos nesta aula, John Locke – intenso questionamento sobre o racionalismo de
importante pensador inglês do século XVII – con- Descartes. Esse questionamento deu origem a uma
cebeu nossa mente como um “painel em branco”. nova tradição, baseada no empirismo.
Dessa forma, estabeleceu um diálogo crítico com A oposição entre racionalismo e empirismo reto-
Descartes e refutou a teoria racionalista sobre as ma muitas das questões que surgem quando se con-
idéias inatas. trapõem as teorias do conhecimento de Platão e de
o rapaz e deixe-o ir. * óbolo: pequeno donativo feito aos pobres; esmola.
Não conheço nada mais cômodo. Chega-se a uma
Sobre o texto, leia as afirmações que seguem:
hospedaria, abre-se a mala, tira-se uma daquelas coisas,
e os olhos dos viajantes faíscam logo, porque todos eles I. O autor propõe que se quebrem as idéias co-
as conhecem desde muito, e crêem nelas, às vezes mais mo se quebram nozes. Duvidar de tudo aqui-
do que em si mesmos. É um modo breve e econômico de lo que nos é passado como certezas é uma
fazer amizade. maneira de se fazer isso.
Foi o que me aconteceu. Trazia comigo na mala e nas II. O autor enfatiza que o motivo para que se
algibeiras uma porção dessas idéias definitivas, e vivi acredite tão facilmente em idéias prontas é o
assim, até o dia em que, ou por irreverência do espírito, comodismo, já que duvidar – ou seja, ter
ou por não ter mais nada que fazer, peguei de um que- uma postura crítica – significa abrir mão das
bra-nozes e comecei a ver o que havia dentro delas. Em certezas, o que não é muito confortável, po-
algumas, quando não achei nada, achei um bicho feio e dendo até mesmo trazer prejuízos aos rela-
visguento. cionamentos sociais.
Não escapou a este processo a idéia de que todo o III. Os argumentos do autor não devem ser leva-
mundo tem mais espírito do que Voltaire, inventada por dos em consideração, pois, opondo-se ao pen-
um homem ilustre, o que foi bastante para lhe dar cir- samento da maioria, ele está simplesmente
culação. E, palavra, no caso desta, senti profundamente sendo “do contra”. No final, deve prevalecer
o que me aconteceu. a opinião do coletivo.
Com efeito, a idéia de que todo o mundo tem mais Está correto o que se afirma em:
espírito do que Voltaire é consoladora, compensadora e a) apenas III.
remuneradora. Em primeiro lugar, consola a cada um de ➜ b) apenas I e II.
nós de não ser Voltaire. Em segundo lugar, permite-nos c) apenas I e III.
ser mais que Voltaire, um Voltaire coletivo, superior ao d) apenas II e III.
Voltaire pessoal. Às vezes éramos vinte ou trinta amigos; e) I, II e III.
não era ainda todo o mundo, mas podíamos fazer um
oitavo de Voltaire, ou um décimo. Vamos ser um décimo A afirmação III está incorreta. O fato de o autor “estar sozi-
de Voltaire? Juntávamo-nos; cada um punha na panela nho” em suas convicções não diminui a força de sua argumen-
comum o espírito que deus lhe deu, e divertíamo-nos tação, já que ele pretende, justamente, desmascarar esse
muito. Saíamos dali para a cama, e o sono era um regalo.
mecanismo que nos faz acreditar todos nas mesmas coisas,
Perdi tudo isto. Peguei desta compensação tão cômo-
da e barata e deitei-a fora. Funesta curiosidade! O que sem questionar. As demais afirmações estão corretas.
Você deve se lembrar do exemplo que usamos na aula 4. Voltemos a ele: se uma bola entra na sala de
aula, você olha na direção da janela para tentar descobrir quem a jogou, ou seja, você usa seus sentidos
e seu raciocínio para chegar ao conhecimento da situação.
Será que é possível fazer o mesmo numa situação mais complexa? Temos condições, por exemplo, de
obter um conhecimento seguro sobre a origem do universo? Pensadores como Aristóteles resolviam
essa questão empregando a idéia de deus (causa primeira de todas as coisas). Mas a idéia ou a existên-
cia de deus podem realmente ser explicadas pelo pensamento?
Observe a imagem:
Se você tentar descrever a pintura do artista nor- beleza – repousa, portanto, sobre duas fontes: a ex-
te-americano Jackson Pollock (1912 – 1956), prova- periência obtida quando lançamos um primeiro
velmente terá dificuldades, pois, num primeiro mo- olhar sobre a imagem, aliada àquilo que podemos
mento, não identificamos nela nenhuma imagem formular em nosso pensamento a partir dessa
conhecida, só um conjunto de cores e traços. Porém, visão.
observando com atenção – e sabendo que o artista Essa relação entre experiência e pensamento é
pintava em pé, com a tela estendida no chão, sob o princípio da teoria de um importante pensador
seus pés –, a obra vai ganhando sentido: podemos alemão, cujas idéias vamos estudar agora.
identificar os movimentos feitos pelo artista, a forma
como ele passou o pincel por cima da tela, definindo Vida e obra de Kant
a distribuição das cores e dividindo o espaço. Existem, na história da Filosofia, algumas bio-
Nosso conhecimento sobre essa pintura – e, con- grafias surpreendentes. Alguns filósofos tinham há-
seqüentemente, nossa capacidade de apreciar sua bitos curiosos ou comportamentos considerados
Tarefa complementar
É bastante comum encontrarmos artistas que fize-
ram “variações sobre o mesmo tema”, ou seja, que
compuseram diferentes obras a partir da observação
do mesmo objeto de conhecimento – para usar a no-
menclatura kantiana. Paul Cézanne (1839 – 1906), pin-
tor pós-impressionista francês, é um exemplo disso: pa-
ra espanto de muitos, ele pintou 80 vezes o monte Sain-
te-Victoire de sua amada Provença (região da França).
Se a obsessão de Cézanne era a paisagem pro-
vençal, a de Frida Kahlo (1907 – 1954), artista mexi-
cana, eram os auto-retratos. Pintou vários ao longo
de sua vida. Observe três deles, executados em dife-
rentes momentos: Auto-retrato com colar de espinhos, 1940.
Quando você está conversando ou mesmo discutindo com alguém, é comum o emprego da expressão
“é lógico!” – quase sempre com o sentido de “é claro” ou “é evidente”.
Mas será que é possível determinar as condições para que uma coisa ou um argumento sejam “lógicos”?
Observe a imagem:
Num primeiro momento, você pode imaginar O questionamento sobre a possibilidade de de-
que o pintor russo Wassily Kandinsky (1866 – 1944) terminar as condições para que algo seja lógico é de
simplesmente espalhou as tintas pela tela sem obe- importância vital para a busca pelo conhecimento
decer a nenhuma lógica. O resultado é que não é verdadeiro. Por esse motivo, os estudos de Lógica
possível distinguir nenhuma forma conhecida no se transformaram em um importante ramo da Filo-
meio dessa massa de linhas e cores. Tem-se, por- sofia. Mas o que se pode entender por Lógica?
tanto, a impressão de improviso e ausência de regras.
Essa impressão, porém, não condiz com a reali- Lógica: estrutura formal do pensamento
dade: esta obra é apenas um dos muitos esboços Costuma-se definir Lógica como o estudo da es-
realizados antes da Composição número VII – se- trutura e dos princípios da argumentação, indepen-
gundo o próprio artista, uma de suas obras mais tra- dente de seu conteúdo. Suas origens remontam a
balhosas. Aristóteles, cuja obra inclui a Lógica enquanto estu-
Talvez não sejamos capazes de identificar ali do da forma e das regras que utilizamos para pen-
uma ordem, porque Kandinsky estava operando sar as coisas; em outras palavras, enquanto estru-
com uma “lógica” diferente da nossa, ou seja, ele tura formal do pensamento.
compôs sua obra a partir de um conjunto de prin- Como em outros momentos da elaboração do
cípios diferentes daqueles que estamos acostuma- pensamento aristotélico, a crítica a Platão foi um dos
dos a esperar em uma pintura. fundamentos a partir do qual Aristóteles desenvol-
Em seu livro Organon (palavra grega que signifi- Logo, Sócrates é mortal.
ca “instrumento”), Aristóteles desenvolveu a teoria Em outras palavras, a partir de duas premissas,
das proposições. Toda proposição é o enunciado de chega-se a uma conclusão. No exemplo visto, “ho-
um juízo – formulado pelo pensamento – que atribui mem”, “mortal” e “Sócrates” são os três termos,
um predicado a um sujeito. Uma proposição é for- sendo que “homem” é o termo médio, ou seja,
mada pela união de termos, que são as palavras usa- aquele que fornece a razão do que foi afirmado:
das para designar todas as coisas. O encadeamento Sócrates é mortal porque é homem. Tal conclusão é
dos juízos é chamado de raciocínio. rigorosa e nos dá uma certeza. Na Matemática, tra-
Quando alguém enuncia a proposição “Platão é dicionalmente usamos o procedimento da dedução,
forte”, os termos “Platão” e “forte” se apresentam que funciona de acordo com os mesmos princípios:
unidos por um juízo elaborado pelo pensamento. se x = y e y = z, então, infere-se que x = z.
Esse juízo pode ou não estar adequado à realidade, A dedução se diferencia da indução. Nesta, o
ou seja: se Platão for realmente forte, o juízo enun- conhecimento é obtido por meio da análise de casos
ciado através da proposição é um juízo verdadeiro. individuais que se repetem. A indução é a forma de
Os termos têm duas propriedades: a extensão (ou obtenção de conhecimento científico por excelên-
alcance) e a compreensão (ou entendimento). Assim, cia, uma vez que é a partir dos diversos fenômenos
a palavra “árvore” refere-se a um conjunto bastante que se repetem na natureza que se chega às leis do
grande de objetos, ou seja, ao se usar essa palavra, seu funcionamento. Finalmente, a analogia é uma
o alcance ou extensão do juízo formulado será o forma de indução que parte de uma comparação.
maior possível. A referência a determinada árvore, O silogismo não produz um novo conhecimen-
como um “limoeiro”, por exemplo, limita o alcance to, mas organiza conhecimentos anteriores. Além
do juízo, mas amplia seu entendimento: limoeiros disso, pode ser aplicado para a elaboração de pro-
têm folhas com um determinado formato, costumam posições falsas, sem que isso altere sua perfeição
atingir uma altura determinada e produzem flores e formal. Exemplo:
frutos específicos. Finalmente, com a referência a um
Todo homem é verde.
limoeiro que está em determinado quintal, pode-se
obter um entendimento mais preciso ainda, porém Sócrates é homem.
o alcance estará restrito a um único objeto. Logo, Sócrates é verde.
Até agora vimos como a Filosofia, ao longo do tempo, tem buscado atingir o conhecimento ver-
dadeiro, sendo a Lógica um dos principais instrumentos dessa busca. Mas o que seria exatamente essa
verdade perseguida pelos filósofos? Qual a importância do verdadeiro? Você consegue imaginar como
seria o mundo se não distinguíssemos o verdadeiro do falso?
Observe a imagem:
O que caracteriza uma obra de arte – uma pin- uma operação do olhar e pode ser entendida como
tura, por exemplo – não é o simples fato de ser uma “ver com precisão”. Em grego, a palavra para ver-
imagem ou conjunto de formas composto sobre dade é aletheia, uma junção de a- (prefixo de ne-
uma superfície. O que a caracteriza é o fato de pos- gação) com lethes (que significa “esquecimento”).
sibilitar a afirmação ou o desvendamento de uma Ou seja, os gregos faziam uma interessante ligação
verdade sobre um objeto. Assim, idéias ou senti- entre conhecimento verdadeiro e memória, uma
mentos que jamais tivemos até então podem ser vez que “verdade” é sinônimo de “algo que não é
despertados pela obra de arte. Ou ainda: ela dá esquecido”.
uma forma plástica (e, de certa maneira, concreta) A memória tinha um importante papel na Grécia
a pensamentos ou sentimentos já conhecidos. antiga. Os poetas, por exemplo, dependiam muito
Tente descobrir o que a pintura do alemão Max dela, para cantar as poesias que não eram escritas.
Ernst (1891 – 1976) revela sobre o beijo, esse ato ao De fato, originalmente a Ilíada e a Odisséia – duas
mesmo tempo tão banal e tão íntimo. poesias épicas atribuídas a Homero, que narram os
grandes feitos dos antepassados dos gregos e aju-
Verdade: origem da palavra daram a construir sua identidade – eram cantadas, e
O conceito de “verdade” foi utilizado pela pri- Homero é tradicionalmente representado como
meira vez em Filosofia com Platão. Em português, cego – portanto, incapaz de escrever.
a palavra vem do latim veritas, que tem a mesma A idéia de não querer perder a memória de feitos
raiz do verbo “ver”. Nesse sentido, a verdade seria espantosos também está presente em Heródoto.
Nietzsche e Foucault
exercícios
No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844 – 1900) fez uma feroz crítica a Sócrates e
1. Identifique a concepção de verdade que se apre-
Platão – portanto a toda a Filosofia ocidental baseada
senta na seguinte frase:
na busca do conhecimento verdadeiro. Retornando
a pensadores anteriores a Sócrates, incluindo os “O fogo arde na Grécia e na Pérsia, mas as idéias
sofistas, Nietzsche afirmou que o conhecimento que os homens têm de certo e de errado variam de
verdadeiro é histórico – ou seja, é produzido pelo lugar para lugar”.
homem, e não meramente desvendado – e que não (Aristóteles, Ética a Nicômaco.)
há sentido na busca de verdades transcendentes,
pois elas não existem. Contra o homem racional e Ao falar da existência de diversas idéias a respeito do
conceitual, Nietzsche propôs o homem intuitivo, o que é certo e do que é errado, a frase de Aristóteles de-
artista, cujo intelecto, não mais aprisionado pela
nota relativismo.
vontade de chegar à verdade, poderia se dedicar
livremente à arte, à metáfora, dando livre curso à
sua capacidade de enganar. Assim, a Filosofia deixa
de ser a busca de adequação e passa a ser criação. 2. O que justificaria a idéia de que a verdade é
Mais tarde, o filósofo francês Michel Foucault relativa?
(1926 – 1984) retomou a crítica nietzscheana à Fi-
As mudanças de valores através do tempo podem ser
losofia, afirmando que não existe uma evolução do
pensamento rumo a uma verdade cada vez mais consideradas indícios de que as verdades sofrem mu-
clara ou um conhecimento cada vez mais puro. Ao danças. Não são, portanto, uma coisa em si. Em outras
contrário, o que existem são condições históricas a
palavras, o que cabe em uma época, pode não caber em
partir das quais é possível produzir o conhecimen-
to; e, como essas condições mudam com o tempo, outra (as mudanças dos padrões de beleza podem ser
o conhecimento também muda. A verdade deixa lembradas como exemplo). Pode-se também falar das
de ser uma adequação entre o pensamento e a coisa diferenças culturais: o que é certo para determinada cul-
e passa a ser entendida como aquilo que obriga o
pensamento a pensar de certa maneira. Assim, exis- tura pode não ser para outra. E, nesse caso, não nos
tem sucessivos sistemas de pensamento dentro dos caberia julgar qual é a mais correta, mas apenas aceitar
quais se concebem verdades, que têm o poder de que, à sua maneira, todas estão certas.
constranger os indivíduos e seus comportamentos.
Relativismo e dogmatismo
Quando consideramos que o conhecimento ver-
dadeiro tem um caráter histórico, isto é, muda com o
Tarefa mínima
Leia o fragmento e responda às perguntas que
seguem:
1. No texto, como se define “ser negro”? Existe A proposição de que toda verdade é relativa,
outra forma de se definir isso? tão ouvida hoje em dia, é insustentável
A UnB define quem é negro com base no exame visual de Recentemente, como se sabe, as ideologias “pós-
-modernas” abraçaram o relativismo com a mesma in-
uma foto; portanto, a partir da característica física do
conseqüência com que atacavam a modernidade. Pa-
candidato. Porém, existe outra forma de caracterizar o rece-me claro que muitas das teses de pensadores ex-
“ser negro” (usada, por exemplo, pelo Censo): a partir de tremamente influentes, como Michel Foucault, Gilles
Deleuze, Jacques Derrida, Richard Rorty e seus discípu-
uma declaração do entrevistado. Nesse caso, ser negro
los, podem ser consideradas relativistas, mesmo se eles
seria menos uma questão física ou material, e mais uma próprios, como é natural, jamais tenham querido assim
questão de consciência. Haveria, portanto, duas concepções se rotular.
de verdade, fundamentadas em diferentes princípios: o
É mais comum um filósofo relativizar, de algum mo-
do, a verdade, do que confessar-se relativista. Nietzsche,
da evidência empírica (cor de pele) e o da razão (consciên- um dos mais citados hoje em dia, é claramente rela-
cia). O professor pode ainda comentar a dificuldade de tivista (embora seja mais freqüentemente classificado
se fazer um julgamento como esse (que depende, em de “perspectivista”).
O fato é que é comum ouvir-se hoje em dia que “toda
grande medida, da subjetividade), principalmente num
verdade é relativa”. Essa proposição, porém, é insusten-
contexto de competição, como é o do vestibular. tável. Por quê? Porque incorre no que os lógicos chamam
ÉTICA
Costumamos julgar de forma bastante negativa as pessoas que não dizem a verdade. Isso nos faz pen-
sar que, em nosso sistema de valores, dizer a verdade é considerado altamente positivo.
Mas será que podemos ter como princípio dizer sempre a verdade? Você consegue imaginar alguma
situação em que é preferível não dizê-la? Será que é possível estabelecer algum critério a respeito de
quando ela deve ser dita?
Observe a imagem:
Texto I
Sobre os textos, responda:
A amizade perfeita é a dos homens que são bons e 1. De acordo com a idéia de Aristóteles sobre ami-
afins na virtude, pois esses desejam igualmente bem zade, o que significa a expressão do texto I “pro-
um ao outro enquanto bons, e são bons em si mesmos. vado sal juntos”?
Ora, os que desejam bem aos seus amigos por eles
mesmos são os mais verdadeiramente amigos, porque A expressão é uma referência metafórica às dificul-
o fazem em razão da sua própria natureza e não aci- dades para o estabelecimento de uma verdadeira
dentalmente. Por isso sua amizade dura enquanto
amizade, que exige familiaridade e, sobretudo, tempo,
LEITURA COMPLEMENTAR