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A arte de personalizar

o desenho do sorriso
A supervalorização da imagem é uma das características mais significativas do
mundo contemporâneo. As pessoas reconhecem sua importância e seu poder

Bráulio Paolucci
buscando obter através dela o bem-estar pessoal, o sucesso profissional e a
aceitação social. E cada vez mais se submetem a procedimentos em todas as

e colaboradores
áreas da Medicina e da Estética para melhorar sua aparência. Nesse sentido,
tem-se percebido a grande procura dos pacientes por tratamentos odontológicos
que reestabeleçam a beleza do sorriso. Tais procedimentos têm grande poder na
percepção da imagem pessoal, influenciando diretamente o senso de identidade,
autoestima e qualidade de vida.

O Visagismo, a arte de customizar a imagem pessoal, desenvolvido pelo artista plástico Philip
Hallawell, tem como objetivo a busca por soluções que expressem visualmente características positivas
de uma personalidade. Para isso, faz uso consciente dos elementos de linguagem visual artística como
linhas, formas e cores. Essas técnicas estão acessíveis por meio de uma consultoria que tem como

A arte de personalizar
o desenho do sorriso
finalidade oferecer ao profissional uma melhor compreensão do paciente, com suas particularidades,
desejos e necessidades pessoais, para só então propor uma solução corretiva.

Visagismo
Dessa forma, pretendemos, através dessa obra, levar ao profissional da área uma nova
abordagem da Odontologia, buscando soluções personalizadas a seus pacientes através de um desenho
de sorriso que traduza visualmente suas principais qualidades.

Visagismo
Certamente, alinhado com uma das mais fortes tendências mundiais, a da personalização de
produtos e serviços, esse Livro acenderá o debate acerca dos impactos psicocomportamentais das
intervenções odontológicas e buscará colaborar na construção de uma Odontologia mais humanizada.

Bráulio Paolucci

Bráulio Paolucci

Volume 1
e colaboradores
Volume 1
Bráulio Paolucci e colaboradores

Visagismo
A arte de personalizar o desenho do sorriso

2011
Título: Visagismo – a arte de personalizar o desenho do sorriso

Autor: Bráulio Paolucci e colaboradores

Prefácio: Robert G. Coachman

Editor de Conteúdo: Haroldo Joaquim Vieira


Editor Científico: Marcelo Calamita
Coordenação de Conteúdo: Vivian Priscila Arais Soares
Padronização e Revisão de Texto: Ana Lúcia Zanini Luz
Projeto gráfico, Diagramação: Angélica Pinheiro
Tratamento de Imagem: Angélica Pinheiro e Cristina Sigaud
Capa: Miriam Ribalta
Ilustrações: Eder Max Ilustração e Design e Philip Hallawell
Produção: José dos Reis Fernandes

Impressão e acabamento: Ipsis Gráfica e Editora Ltda.

ISBN: 978-85-64761-02-5

Todos os direitos reservados à VM Cultural Ltda., editora proprietária. Nenhuma parte da presente publicação pode
ser reproduzida, armazenada ou transmitida por quaisquer que sejam os meios – mecânico, fotocópia, eletrônico –
sem a prévia permissão da Editora.

As imagens contidas nesta obra são naturais, sem retoque. E o texto está de acordo com o Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa.

Visagismo – a arte de personalizar o desenho do sorriso - 1a Edição - Volume 1 - São Paulo:


Vm Cultural Editora Ltda., 2011

Visagismo – a arte de personalizar o desenho do sorriso


Vm Cultural Editora Ltda.

VM Cultural Editora Ltda.


Rua dos Otonis, 152 – Vila Mariana
04025-000 – São Paulo – SP
AUTOR: Bráulio Paolucci
Graduado em Odontologia pela Escola Federal de Odontologia de

Alfenas/MG; Especialista em Implantodontia pela Universidade de

Lavras/MG; Master in Implantology and Oral Reabilitation - European

School of Oral Rehabilitation Implantology and Biomaterials. Atualmente

atende em clínicas particulares em Minas Gerais e São Paulo. Presta

consultoria de desenho do sorriso personalizado para renomados

cirurgiões-dentistas do Brasil e do exterior. Palestrante internacional

(brauliopaolucci@yahoo.com.br - www.brauliopaolucci.com.br).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 5


COLABORADORES:
Christian Coachman
Formado em Prótese Dentária e Odontologia - Universidade de São Paulo;
Membro da Academia Brasileira de Odontologia Estética; Participou do
Programa de Especializacão em Cerâmica - Centro de Treinamento
Ceramoart; Foi consultor da Ceramica Creation-Willi Geller; Co-
ordenador Cientifico do website de ensino odontológico www.
identalclub.com; Publica e ministra cursos internacionais nas áre-
as de Odontologia Estética, Reabilitação Oral, Cerâmica Dental e
Implantodontia. Recentemente vem trabalhando com cirurgiões-
-dentistas renomados na América e Europa, como os doutores Eric
Van Dooren (Antuérpia - Bélgica), Galip Gurel (Istambul - Turquia),
Tal Morr (Miami - EUA), Nitzan Bichacho (Tel Aviv - Israel), Mauro
Fradeani (Pesaro - Itália), Giano e Andrea Ricci (Florença - Itália),
Nikolay Bakhurinskyi (Moscou - Rússia) e no Brasil com os doutores Sid-
ney Kina, Claudio Pinho, Paulo Kano, Mario Groisman e Marcelo Calamita
Galip Gurel (ccoachman@hotmail.com).
Graduado pela Faculdade de Odon-
tologia da Universidade de Istambul;
Especialista em Prótese Dentária
pela Universidade de Kentucky;
Mestre (MSc) pela Yeditepe Uni- Christiane Sauer
versity, Istambul; Fundador e presi- Graduada em Psicologia - Instituto Unificado Paulista da Uni-
dente honorário da Edad - Turkish versidade Paulista, com habilitação em licenciatura Plena
Academy of Aesthetic Dentistry e bacharelado. Especializações - grupo de Estudos em Psi-
(Academia Turca de Odontologia Es- quiatria, Psicologia e Psicoterapia da Infância – Gepppi; For-
tética); Presidente da Eaed - Euro- mação em Psicanálise de Adolescentes e Adultos - Instituto
pean Academy of Esthetic Dentistry; Sedes Sapientiae; Psicodiagnóstico de Rorschach - Socie-
Membro da American Society for dade de Rorschach de São Paulo; Avaliação Psicológica de
Dental Aesthetics - Asda; Diploma Crianças e Adolescentes - Child Study Center - Universidade
de honra da American Board of Aes- de Yale (christiane.sauer@gmail.com).
thetic Dentistry - Abad; Editor-chefe
da Quintessence Magazine, Tur-
quia. Membro do conselho editorial
da AACD journal, PPAD - Practical
Procedure & Aesthetic Dentistry e
Ejed - European Journal of Esthetic
Dentistry. Autor do livro The Scien-
ce and Art of Porcelain Laminate Ve- Andrea Ricci
neers (garipgurel@garipgurel.com). Graduado em Odontopediatria e Prótese Dentária – Universidade
de Perugia; Pós-graduação em Prótese Avançada – University of
Southem California, Los Angeles; Membro ativo da Academia Eu-
ropeia de Odontologia Estética – Eaed e membro associado da
Academia Americana de Dentística Restauradora (AARD). Coautor
de vários artigos publicados em revistas internacionais (andrea@
studioriccifirenze.it).

6• Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Livio Galias Yoshinaga
Brasileiro, especializado em projetos especiais para o uso das tecnologias de imagem em consultó-
rios odontológicos e instituições de ensino. Foi editor de tecnologia da publicação PPAD - Practical
Procedures and Aesthetic Dentistry , EUA e da Revista Estética do Brasil. Autor de inúmeros projetos
e consultor de tecnologia de profissionais e professores brasileiros e internacionais como Robert
Gray Coachman (Brasil), Sidney Kina (Brasil), Claudio Pinho (Brasil), Rogério Zambonato (Brasil), Fran-
cisco Massola (Brasil), Eric Van Dooren (Bélgica), Mauro Fradeani (Itália), Nitzan Bichacho (Israel),
Galip Gurel (Turquia), Marcelo Calamita (Brasil), Christian Coachman (Brasil), Team Atlanta (EUA).
Palestrante internacional ministra cursos nas áreas de tecnologia em imagem digital em fotogra-
fia e vídeo; Mentor do projeto piloto dos EUA www.dentalxp.com e do portal de ensino odontológico
mundial www.identalclub.com. Atualmente, desenvolve a interface colaborativa de aulas ao vivo pela
internet LiveWeb interligando professores e alunos ao vivo em um ambiente extramuros. Organi-
za grupos especiais para cursos presenciais no Brasil e na Europa. Empresário e diretor do portal
identalclub.com. Tem sua matriz em São Paulo e filiais na Bélgica e na Itália (liviovkd@hotmail.com).

Marcelo Calamita
Especialista, mestre e doutor em
Prótese Dentária - Universidade de
São Paulo; Presidente da Academia
Brasileira de Odontologia Estética
(mcalamita@uol.com.br).

Philip Hallawell
Philip Hallawell nasceu em São Paulo em 1951
e teve sua formação na Inglaterra, e Haverford
College, EUA. Artista plástico de renome interna-
cional, com mais de 50 exposições. Apresentou
e criou a Oficina de Desenho no programa Re-
vistinha e a série À Mão Livre - A Linguagem do
Desenho - TV Cultura. Autor dos livros da série
À Mão Livre, Visagismo: Harmonia e Estética e
Visagismo Integrado: Identidade, Estilo e Beleza
(philson@terra.com.br).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 7


Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus por me
honrar com a força, determinação e inspiração necessá-
rias para a realização deste projeto.
Muito obrigado a meus pais, Ana e Lúcio, pelo apoio incondi-
cional e dedicação à educação de seus filhos. Seu amor foi fonte
de inspiração e superação na criação deste livro.
Gostaria de manifestar profunda gratidão a meus fami-
liares e amigos, em especial à minha esposa Danielle Car-
lier por todo apoio e paciência que demonstraram ao longo
da caminhada que culmina com a produção dessa obra.
Obrigado também a Philip e Sônia Hallawell por sua ines-
timável colaboração, que inclui várias horas de conversas
que se estenderam noites adentro, esclarecendo dúvidas
e orientando ativamente no processo de elaboração deste
Livro. Seu apoio vai além desta criação, se estendendo ao
carinho como me acolheram em São Paulo. A Philip Halla-
well, gostaria ainda de agradecer por ter-me apresentado
de maneira totalmente aberta suas ideias, as quais muda-
ram completamente minha percepção da Odontologia e os
rumos de minha vida. Muito obrigado.

agradecim Meus sinceros agradecimentos a todos os profissio-


nais com quem trabalhei para a realização dos casos clí-
nicos aqui apresentados, entre eles: Galip Gurel e equipe
(Istambul, Turquia), Alexandre dos Santos e equipe do
Studio Dental (Curitiba/PR); Marcos Celestrino e equipe
do Laboratório Aliança (São Paulo/SP); Roberto Yoshida
(Londrina/PR); Fernando Pastor, Jorge Alberguine e André
Luís dos Santos (São Paulo/SP); Juvenal de Souza Neto
(Joinville/SC); Andrea e Catarina Ricci (Florença, Itália);
e Thiago Reis (São Paulo/SP).
Minha gratidão a Robert Coachman e a toda equipe da
Well Clinic pela hospitalidade e contribuição na construção
de um novo modelo de atendimento.

8• Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


A Christian Coachman por ter contribuído efetivamente
para que a realização clínica que ilustra este Livro, incluindo
fotografia e planejamento digital, chegassem próximos do
patamar de excelência.
Agradeço também aos membros de minha equipe, Fer-
nanda de Oliveira, Leila Tafuri, Angelo Meneghin e Marina
Cotan; o convívio com vocês é fonte de incentivo constante,
e seu apoio foi fundamental na elaboração dos trabalhos
clínicos.
Meus agradecimentos aos colegas que colaboraram Não poderia deixar de agradecer aos senhores Herbert
para o amadurecimento e melhoria do conceito de visagis- Mendes (Ivoclar Vivadent) e Knud Soerensen (KG Soeren-
mo aplicado à Odontologia, entre eles: Tânia e Ary Lacerda, sen), pela colaboração com materiais de uso clínico neces-
Frederico Gomes, Osmar Vieira de Castro e Luciana Inoue. sários à realização dos casos clínicos aqui apresentados.
A Ricardo de Andrade por ter sido um dos maiores icenti- Agradeço do fundo do coração ao meu grande parcei-
vadores dessa publicação, assim como a Haroldo Vieira, Paulo ro clínico e “braço direito” Adriano Schayder, protético que
Rosseti, Ana Lúcia Zanini Luz pela revisão de texto, Angélica esteve presente desde os primeiros passos da materializa-
Pinheiro pelo projeto gráfico e toda a equipe da VM Cultural, ção do conceito, apoiando e incentivando constantemente,
pelo esforço para tornar esse sonho uma realidade. pessoa sem a qual essa obra não se realizaria. A maioria
dos casos de minha autoria foram realizados por ele.

entos
A Marcelo Calamita, meu editor, que esteve engajado a
tornar a linguagem desse livro adequada aos moldes cien-
tíficos e compreensível aos leitores.
Aos competentes Josias Santana, Lívio Yoshinaga, Mar-
cela Barros e Edson Inácio, responsáveis pela qualidade
das imagens apresentadas.
À amiga Christiane Sauer, que participou ativamente da
elaboração da aplicabilidade do Visagismo na Odontologia,
orientando acerca dos aspectos psicológicos envolvidos
e apontando erros e acertos, trabalho esse fundamental
para realização deste Livro.
À doutora Iraci Galias, membro fundadora da Socieda-
de Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), pela valorosa
colaboração e orientação.
Aos queridos amigos e “companheiros de estrada”,
Lígia Lima, Heloísa Lima, Graça Guimarães, José Fontes
Neto e Roberto Caproni. Seu entusiasmo e incentivo foram
fundamentais para a conclusão desse trabalho.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 9


Visagismo Algumas vezes, finalizei restaurações estéticas e, apesar do paciente ficar satisfeito
por termos atingidos os objetivos estéticos e funcionais predeterminados, ficava com
uma sensação incômoda de ter criado um sorriso que parecia não pertencer àquela
pessoa. Mas não conseguia entender exatamente o porquê.
O Visagismo Odontológico, de maneira brilhante como estudado e desenvolvido pelo
doutor Bráulio Paolucci, interrelaciona conceitos clássicos e modernos de psicologia,
antropologia e diversas formas de arte integrando-os ao desenho do sorriso do pacien-
te. Desta maneira, acrescenta uma nova dimensão ao processo de planejamento por
meio de ferramentas práticas e efetivas para serem utilizadas pelos cirurgiões-dentis-
tas e técnicos em prótese dental.
Acompanhei a devoção com que foram desenvolvidos os seus preceitos apresentados
neste livro. Observador atento, perspicaz, Bráulio colheu e integrou referências de fontes
de diferentes áreas do conhecimento humano à odontologia estética. De leitura fluente e
inquietante, percorremos os capítulos do livro com a certeza de que, com a utilização sábia
dos conceitos apresentados, podemos influenciar de maneira positiva a qualidade de vida
dos nossos pacientes, aprimorando a sua imagem pessoal e elevando a sua autoestima.
Embora não existam fórmulas prontas, a chave está em abrir as nossas portas da
percepção, observando e escutando o paciente com a devida atenção e valorizando os
seus desejos e expectativas. Uma conversa aberta sobre o significado das diferentes
linhas, ângulos e formas, fazendo o paciente sentir-se coautor do planejamento de sua
obra, é crucial para executar com previsibilidade um trabalho harmonioso que demons-
tre ao mundo aquilo que o paciente realmente gostaria de expressar. Um sorriso que
realmente pertença a ele!
Uma ótima leitura a você!

Marcelo Calamita
Editor Científico

10 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Prefácio
Antes de profissionais clínicos, que com maestria dominam da sabedoria de alguém que na busca do pleno se desprende
técnicas, somos seres humanos com a nobre função de cuidar gradativamente da forma exterior que é efêmera e se apóia
e atender às necessidades e aspirações de seres humanos em serenamente na essência interior que nunca se perde.
busca de uma vida mais plena. Toda a humanidade vive hoje uma enorme hora da verdade.
Na dinâmica do desenvolvimento, a Odontologia como ciên- Esta verdade é uma verdade de síntese, de resgate de nossos
cia e arte, ocasionalmente, e de forma muito especial, é pre- valores essenciais, universais e eternos que dão sentido e signi-
senteada por conceitos inovadores que rompem paradigmas e ficado a tudo que existe e a tudo que se faz. Que oportunidade
estendem nossas fronteiras de atuação. extraordinária temos aqui. Um novo portal se abre para uma
Graças à sensibilidade e percepção de um excepcional pes- profissão que como poucas tem a oportunidade de contato ex-
quisador e artista como Philip Hallawell aliadas à visão e extre- tenso , profundo e, muitas vezes, de verdadeira intimidade com
ma dedicação de Bráulio Paolucci, as imensas possibilidades os pacientes e seus familiares.
e repercussões do conceito de visagismo foram trazidas de A face de um indivíduo é um verdadeiro outdoor de sua
forma pioneira e muito oportuna à Odontologia. essência. Quer estejamos conscientes ou não, o resultado de
A razão desta relevância reside na real possibilidade de nossas intenções pode afetar sensivelmente o bem-estar de
transcendermos a esfera estanque das disciplinas, mesmo nossos pacientes. O papel da autoimagem é determinante e
quando praticadas em equipe e adentramos ao riquíssimo e a relação dual entre o psicossomático e o somatopsíquico é
ilimitado universo da transdisciplinaridade humana, com suas expressa de forma mais do que sensível na região orofacial.
nuances, tendências, sutilezas, poesia e história, que de forma Sem dúvida, o significado que esta nobre área representa
nenhuma perdem em relevância para os aspectos mais con- para a expressão, o equilíbrio e a harmonia de todo o organis-
cretos das realidades física e biológica. Definitivamente a inte- mo transcende em muito aquilo que a própria Medicina e Odon-
gralidade humana não pode ser satisfeita por conceitos e técni- tologia estiveram até hoje preparadas para reconhecer. Sim, é
cas que a reduzem a partes desconexas por mais sofisticadas preciso ir além.
e às vezes mirabolantes que sejam estas abordagens. O visagismo em Odontologia tem este poder de síntese e
Entendemos que nossa herança do moderno saber científi- nos faz este convite, de penetrarmos mais sensível e profun-
co se apoiou sempre numa visão reducionista e compartimen- damente na alma humana, aumentando nossa percepção e
talizada da realidade e que, se de um lado propiciou grandes escuta, nos tornando aprendizes e parceiros, traduzindo isto
avanços e conquistas, de outro lado nos desconectou das di- numa expressão harmoniosa não só da estética da exteriorida-
mensões mais sutis e intangíveis desta mesma realidade. de, mas também e, principalmente, da estética da interioridade.
O eminente e reconhecido professor Narciso Baratieri em Para todos nós da Well Clinic foi sempre uma honra e um
meio a uma longa e produtiva carreira clínica e científica relatou prazer participar desta comunhão criativa e acompanhar o sur-
que tudo o que hoje faz é pautado pela simplicidade. Entendo gimento e consolidação deste novo portal.
essa mensagem de muita elegância como uma demonstração
Robert G. Coachman
Master of Science em Oclusão e
Odontologia Restauradora – Universidade de Michigan;
Diretor clínico da Well Clinic Odontologia.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 11


Introdução
Sumário
Visagismo, beleza e estética........................................................................................................................................................................................... 15
Bráulio Paolucci
Capítulo 1
Conceito de visagismo e seu método........................................................................................................................................................................ 21
Philip Hallawell
Capítulo 2
Alfabetização visual............................................................................................................................................................................................................. 28
Bráulio Paolucci
Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem.................................................................................................................................. 39
Christiane Sauer
Capítulo 4
Morfos...................................................................................................................................................................................................................................... 46
Bráulio Paolucci
Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso............................................................................................................................ 61
Bráulio Paolucci
Capítulo 6
A Consultoria....................................................................................................................................................................................................................... 135
Bráulio Paolucci, Philip Hallawell
Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica.................................................................................................145
Christian Coachman, Andrea Ricci, Marcelo Calamita, Livio Galias Yoshinaga
Capítulo 8
Aplicação clínica do visagismo...................................................................................................................................................................................161
Bráulio Paolucci, Galip Gurel

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 13


Introdução
Visagismo, beleza e estética

Visagismo,
beleza e estética
Bráulio Paolucci
Desde seus primeiros passos sobre a superfície da terra
o ser humano sente o belo. Isso certamente o orientou em
suas escolhas, desenvolvimento do pensamento, linguagem
e artes influenciando profundamente o caminho tomado pela
humanidade. Mas o que pode ser considerado belo? Ou além:
o que é beleza? A essas perguntas todos nós sabemos res-
ponder, mas não exatamente com palavras. Caracterizar o
belo como sentimento fica mais plausível para a maioria dos
seres humanos. O belo seria algo do qual temos certeza ab-
soluta, algo que nos arrebata, que deixa-nos boquiabertos,
gera admiração, desejo e atração; no entanto, essas são sen-
sações que descrevemos ao nos depararmos com algo de
genuína beleza. Já a tradução disso em palavras ou em um
conceito não é tão simples.
A beleza é produto da percepção humana através de seus
vários sentidos (visual, olfativo, tátil, auditivo e gustativo). Pode
ser percebida de maneira emocional ou racional. Ao nos de-
Fotos: istockphotos.com

pararmos com algo belo por qualquer de nossos sentidos,


somos arrebatados imediatamente; assim é a percepção do
belo: é inconsciente, inexplicável e fulminante. O talento para
perceber o belo é uma característica inata e exclusiva do ser

Padrão de beleza cultural do sorriso.


Foto: sxc.hu

Toscana, Itália.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 15


Introdução
Visagismo, beleza e estética

Davi, Michelângelo
(à esquerda) e o humano. Este livro se aterá à “beleza humana”, especialmen-
homem vitruviano,
te aquela relacionada à face e ao sorriso.
Leonardo da Vinci (à direita).
Por milênios, artistas, filósofos, biólogos, antropólogos,
neurocientistas e outros profissionais procuraram descre-
ver o que seria o padrão de beleza, segundo suas convic-
ções. Porém, cada linha de raciocínio tem sua visão ou con-
ceito acerca desse problema. Atualmente pode-se dividir a
conceituação da beleza em duas principais vertentes: o con-

16 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Introdução
Visagismo, beleza e estética

ceito clássico de beleza e o conceito cultural do belo1. Esta Vinci foi um dos grandes estudiosos do conceito e o aplicou
obra se fundamenta ao conceito clássico do belo, por ser em muitas de suas obras como numa de suas principais, o
este de caráter universal e ainda por considerar que às rea- homem vitruviano. Michelângelo também o utilizou para criar
bilitações orais estéticas não cabem modismos e diferenças uma de suas obras primas, Davi, que até hoje é tido como uma
culturais como orientação, pois nesses casos, o que é belo das principais manifestações da beleza masculina.
hoje pode não ser considerado amanhã e não é de bom- Nos tempos modernos a biologia tem contribuído para a
senso ficar trocando trabalhos odontológicos de tempos compreensão dos motivos naturais para a beleza. A razão
em tempos para estar de acordo com padrões fugazes. da existência de um padrão de beleza universal estaria na
O conceito clássico de beleza tem sua origem na Grécia an- própria evolução da espécie. O que é belo atrai o sexo opos-
tiga, a partir de debates filosóficos e considerações matemáti- to e propicia a perpetuação da espécie.
cas. Para Platão, beleza é medida, simetria e virtude em todo Charles Darwin3 (abaixo), o “pai” da teoria da evolução,
mundo. Segundo ele, essa mistura raramente é encontrada era fascinado por rostos. Estudou centenas de faces hu-
no ser humano, de tal forma que esse deve “buscá-la e louvá-la” manas de todas as partes do mundo. Ele acreditava que Platão
pois “a feiúra e a discórdia são aliados das palavras e da natu- as expressões, da mesma forma que muitos outros com-
reza doentes” (Platão, A República, Livro III)2. Santo Agostinho portamentos atuais, refletem padrões primitivos fixados
considerava beleza como um atributo divino, como a bondade em nossos cérebros e rostos. A teoria da beleza que se
e a verdade. Já James Joyce acreditava que o belo se mani- pode extrair dessas raízes profundas é bem pouco românti-
festava de acordo com três requisitos: integridade, harmonia ca: as encantadoras linhas harmônicas da face e do corpo
e resplendor, ou seja, para ser belo um objeto precisa ser ínte- humano são mais uma resposta encontrada pela evolução
gro ou completo em si, ser proporcionado dentro das regras para problemas específicos da perpetuação da espécie.
de harmonia e estética e irradiar uma essência verdadeira e Basta examinar a representação artística da beleza femi-
boa ou qualidade. Portanto, de maneira geral, para os filósofos, nina, das Deusas da fertilidade pré-históricas às estrelas
o belo está relacionado a uma verdade ou uma essência indivi- de Hollywood, para se observar atributos como seios fartos
dual ou, ainda, autenticidade e está pautado nas regras de har- e quadris largos. Isso demonstra como certas caracterís-
monia e estética. Segundo o conceito grego de beleza, o belo ticas físicas são apreciadas ao longo de várias épocas e
se mostra também através de harmonia e proporção entre culturas. Geralmente são características que favorecem a
as partes, como simetria entre lado direito e esquerdo, além geração e o desenvolvimento da prole.
de partes que se relacionam através da razão áurea. Há uma As espécies atuais são descendentes daquelas, que ao
fórmula matemática para decifrar rostos perfeitos esclarecida longo da evolução, se mostraram mais aptas a sobreviver e
por Pitágoras desde a Grécia antiga. Para ele, a proporção da reproduzir. O pré-requisito para espécies heterossexuadas
largura da boca para a largura do nariz deveria ser 1/1,680.
Fotos: istockphotos/Ilustrações: Eder Max

A mesma deveria se aplicar entre a proporção da largura da


face para a largura da boca. Na verdade para esse autor, as
diversas partes da face se relacionam entre si através do nú-
mero áureo, o que torna o conjunto altamente equilibrado e
agradável ao olhar. Grandes artistas do renascimento usaram
esse conceito de beleza grega para cria obras que desperta-
vam grande interesse ao cérebro observador. Leonardo da

1
Eco H. História da beleza. Record; 2004.
2
Composta entre 380 e 370 a.C A República (Politéia) é considerada
a obra mais importante do filósofo. Nela ele descreve o que seria
uma sociedade ideal.
3
Darwin C. A Origem das espécies (1859). Martin Claret; 2004. Charles Darwin

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 17


Introdução
Visagismo, beleza e estética

se reproduzirem é que haja atração entre os sexos opostos


e, para isso, sinais visuais que indiquem boa saúde física e
genética são bons estimulantes sexuais, pois demonstram
boa chance de sucesso da prole e consequente propagação de regras de harmonia visual, chama-se estética. Portanto, um
genética. Por esse motivo indivíduos que apresentam pele objeto será estético quando estiver, em sua constituição visual,
sedosa são mais atraentes que aqueles que apresentam de acordo com esse conjunto de regras e leis matemáticas, e
pele oleosa e cheia de espinhas e acnes. Peles sedosas são despertará no cérebro do observador grande interesse. No
sinais visuais de boa imunidade, o que impede a instalação e entanto, a beleza vai além disso, como disse Hegel: “a beleza,
propagação de parasitas. como substância da imaginação e da percepção, não pode ser
Na face, determinadas características são inconsciente- uma ciência exata”. Estética, portanto, é um dos elementos da
mente apreciadas pelo sexo oposto. Enquanto nas mulheres beleza, pois estar matematicamente bem proporcionado gera
traços delicados como rosto oval, mandíbulas e narizes pouco bem-estar e desejo ao cérebro observador. Porém, isso não
evidentes e lábios carnudos atraem por atestarem jovialidade basta para ser considerado belo, pois outros elementos, como
e fertilidade, nos homens rostos bem definidos com projeção autenticidade, conteúdo e integridade devem fazer parte des-
do mento, zigomáticos proeminentes, sobrancelhas grossas e sa composição para irradiar beleza.
dentes fortes atestam bons níveis de testosterona, hormônio O termo estética, especialmente na Odontologia, se trans-
ligado a masculinidade, agressividade e vigor físico. formou em lugar comum, onde a maioria dos profissionais de-
Atualmente o debate profundo sobre beleza tem perdido senvolve suas carreiras, estudos e estratégias de marketing.
espaço para o enfoque em um dos seus aspectos fundamen- Haja vista o grande número de cursos de estética e de produ-
tais, a estética. A palavra estética tem sua origem no grego tos e serviços com essa denominação. A estética é colocada
(aisthesis = princípios da observação). Sabemos que a apre- como o mais importante ou mais interessante numa profissão
ciação e admiração humana pelo belo é uma característica em que aspectos funcionais e psicológicos têm sido menos va-
inata proveniente de uma parte da nossa mente chamada cé- lorizados. Muitas iatrogenias têm sido cometidas em nome da
rebro ancestral. Essa parte da mente é como uma “platafor- estética e o preço disso ainda não foi precisamente calculado.
ma básica” que todos os homo sapiens compartilham e nela Na prática das odontologias clínica e protética beleza
estão gravadas muitas informações importantes relaciona- tem uma importância muito maior que simplesmente o con-
das à sobrevivência e reprodução da espécie, num processo tentamento de vaidades pessoais dos pacientes, profissio-
que se estende por milhares de anos, fortemente influenciado nais ou uma cosmética superficial.
pela seleção natural. Somos programados pela natureza para Parece que o mundo moderno despertou para o fato de
identificar e desejar coisas belas de maneira inconsciente e que a imagem pessoal está diretamente relacionada com
independente da nossa vontade ou capacidade cognitiva. a identidade pessoal ou como se é percebido pelos outros.
Mais observado será um objeto, e nisso se inclui o sorri- É através da imagem que se expressa quem você é para
so, quanto mais interessante ou atraente for ao sistema visual o mundo. Valores, crenças e princípios pessoais, origem
composto por olhos, nervos e cérebro. E como demonstrado sociocultural, condição de saúde física e mental, profissão,
por diversos estudos, nosso cérebro, principal órgão de per- nível educacional, origem genética e personalidade, são todos
cepção visual, é capaz de fazer uma leitura rápida de um objeto elementos da identidade pessoal revelados na imagem. Por
e calcular inconscientemente suas dimensões, as proporções isso tanta importância se tem dado a ela, e como é importante
entre suas partes e a harmonia entre seus elementos cons- que a imagem seja percebida e desejada pelos outros, ela pre-
tituintes. Esse órgão tem em sua plataforma ancestral certa cisa ser estética.
programação para identificar quando a matemática do conjun- No entanto, além da estética os demais elementos expres-
to é interessante ou não e dessa forma desejar ou refutar o ob- sados na imagem devem ser levados em consideração na cria-
jeto de maneira inconsciente. A essa matemática ou conjunto ção ou adequação da imagem pessoal, inclusive na do sorriso.
Essa é a proposta desse trabalho: convocar os profissionais da
Odontologia a pesquisarem a expressão do sorriso e proporem
a seus pacientes, trabalhos que, além de estéticos, sejam inti-

18 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Introdução
Visagismo, beleza e estética

mamente relacionados com aquilo que possa torná-los belos: de casos, o planejamento digital do sorriso proposto por
sua originalidade, autenticidade e individualidade. E, ainda, des- Christian Coachman.
pertar no leitor o prazer de trabalhar com criatividade, intuição Os casos clínicos apresentados aqui foram realizados pelo
e conhecimento na escolha de formas dentais e desenho do sor- autor, como clínico, e em colaboração com outros cirurgiões-
riso e dar um passo além na sua prática diária, trabalhar com o dentistas como consultor, onde o autor entrevistou os pacien-
conceito de “beleza do sorriso”, por considerar que esse concei- tes e definiu para a equipe operatória o desenho de sorriso a
to vai além da estética e engloba elementos que fundamentam ser executado.
a existência humana. O segundo volume será dedicado às reabilitações mais
A palavra visagisme surgiu na França originária do termo complexas, quando a equipe se verá diante da grande respon-
visage que significa rosto, mas apesar disso ainda não havia sabilidade da composição psicodentofacial. Neste volume se-
um conceito bem definido sobre essa arte até que o artista rão explorados, a consultoria visagista como referência para
plástico Philip Hallawell, em 2003, lançou seu livro Visagismo, a correta escolha e montagem de dentes e demais elementos
Harmonia e Estética, em que estabelecia o que seria a cria- da configuração do desenho do sorriso em casos onde se tem
ção ou adequação da imagem pessoal segundo característi- menos referências orais e mais liberdade de criação como em
cas pessoais autênticas. Abria-se aí uma nova possibilidade edentados totais, além da abordagem dos fundamentos fun-
de intervenção visual totalmente alinhada com as tendências cionais e apresentação da aplicação clínica dos fundamentos
contemporâneas do comportamento humano, que nesse sé- da composição psicodentofacial como estrutura, perspectiva,
culo, mais que nunca, busca autoconhecimento e expressão proporção, concepção de forma e volume, cor e textura, peso e
individual. A personalização é a palavra de ordem em um mer- leveza, como requisito para se alcançar resultados excelentes
cado cada vez mais globalizado. e personalizados.
O visagismo espera fazer a ponte entre o que o consumi- Hoje frente ao grande desenvolvimento da Odontologia,
dor quer ou espera do tratamento e a tradução dessa vontade cabe mais pensar “no que fazer” em um caso clínico e nem
num desenho de sorriso que a expresse visualmente através tanto no “como fazer”, haja vista o grau de excelência técnica
das formas e linhas adequadas. Para isso é fundamental domi- alcançado pelos profissionais, instrumentais e materiais dentá-
nar o método de consultoria desenvolvido pelo artista plástico rios. Só se saberá o que fazer quando o ser humano por trás
Philip Hallawell, que permite ao profissional conhecer melhor daquela boca a ser tratada for capaz de dizer quem ele é e o
seus pacientes no âmbito psicológico, com suas particularida- que espera do tratamento, e a filosofia de trabalho apresenta-
des, necessidades e desejos, e poder orientá-los quanto às pos- da neste Livro presta-se a facilitar a obtenção dessa resposta,
sibilidades de expressão visual em seus casos e então definir bem como orientar a equipe operatória na tradução dela em
juntamente com eles o que será criado em termos de desenho desenho do sorriso. A Odontologia, assim como outras pro-
de sorriso. Dessa maneira os pacientes passam a coautores fissões, está engajada em oferecer às pessoas, tratamentos
do trabalho, o que certamente diminuirá as insatisfações finais cada vez mais humanizados e personalizados.
tanto de profissionais quanto de pacientes.
Esta obra será dividida em dois volumes, sendo o pri-
meiro dedicado à apresentação do conceito de Visagismo,
à análise dos elementos básicos de expressão visual com
suas conotações psicológicas, ao estudo da relação entre
imagem e identidade pessoal, do método Philip Hallawell
de consultoria como o fator primeiro na elaboração de um
planejamento estético por esclarecer aos profissionais e pa-
cientes o caminho expressivo a ser seguido, bem como o
estudo dos elementos ou unidades orais, suas variações, ex-
Foto: istockphotos

pressões psicovisuais, e sua aplicação nos delicados casos


de estética dental. Neste primeiro volume será apresentada
também uma abordagem distinta no planejamento estético
Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

1.1 Conceito
O conceito de que o sorriso de uma pessoa expressa sua
personalidade é algo com que se trabalha na Odontologia há
muito tempo. Muitas pesquisas e teorias a esse respeito fo-
ram desenvolvidas ao longo da história da Odontologia. No
entanto, por falta de um método objetivo e científico para a
aplicação dessas teorias, os odontólogos, que trabalham com
a estética do sorriso, dependem da intuição para obter resul-
tados satisfatórios.
Até a publicação dos livros Visagismo: harmonia e estética1
e Visagismo: Identidade, estilo e beleza2, o Visagismo era consi-
derado somente uma técnica para harmonizar o corte de cabe-

conceito de
Visagismo e
seu método Philip Hallawell lo e a maquiagem com o formato do rosto e o tom e a “imagem
interior” que a pessoa tem de si mesma. Essa imagem interior é
muito mais um conjunto de sensações, emoções e fragmentos
de imagens indefinidas e vagas, do que uma imagem concreta e
completa. Quando se pensa na imagem pessoal nesses termos
percebe-se que é mais importante se importar com o que a
imagem expressa do que com questões estéticas, embora es-
sas também sejam importantes. Há poucas coisas mais precio-
sas para uma pessoa do que seu senso de identidade e, como
diz a psicóloga Maria Rita Kehl, o rosto é a sede da identidade3.
Partindo desse princípio, o conceito de Visagismo es-
1
Hallawell P. Visagismo: harmonia e estética: Senac; 2003. tabelecido nos livros mencionados acima é a arte de criar
2
Hallawell P. Visagismo: identidade, estilo e beleza.
uma imagem pessoal customizada, que expressa a perso-
São Paulo: Senac; 2010.
3
Kehl MR. O espelho partido. Folha de São Paulo. 2005 Dez 11. nalidade e o estilo de vida, com harmonia e estética. Essa

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 21


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

arte é constituída de duas fases: na primeira, o profissional,


por meio de uma consultoria, ajuda o cliente a decidir o que
deseja expressar através de sua imagem e, na segunda, uti-
liza sua técnica, sensibilidade e domínio dos elementos que
compõem a linguagem visual para transformar a intenção
numa imagem com harmonia e estética.
No Visagismo trabalha-se com a conceituação de arte
proposta por James Joyce4 em Retrato do Artista quando
Jovem. Neste Livro o escritor faz uma distinção entre o que
seria arte pura e arte impura. Para ele, arte pura revela
algo que é verdadeiro, com harmonia e estética, enquanto a
arte impura se preocupa apenas com a aparência estética,
em ser agradável e em ter qualidade artesanal. Esse tipo de
arte se baseia em regras e formas e, por isso, é acadêmica
e opaca, não revelando nada. O Visagismo é um conceito
baseado na arte pura, que busca oferecer os meios para
criá-la com constância e consciência.

1.2 O método Philip Hallawell


Foi necessário criar um método, baseado nesse conceito,
para exercer essa arte. O resultado foi um método interdiscipli-
nar, em que os princípios da linguagem visual são associados a
trabalhos, teorias e pesquisas das áreas da psicologia, da cog-
nição, da neurociência e da antropologia.
No livro O Homem e seus Símbolos5, Carl Jung mostra que
há certos símbolos que sempre foram utilizados com o mesmo
significado em todas as culturas e em todos os tempos. Esses
símbolos também formam a linguagem dos sonhos. Chamou-
os de símbolos arquetípicos (ver Capítulo Alfabetização Visual).
Os símbolos mais simples são os formatos geométricos que,
inclusive, podem ser utilizados como símbolos ao estruturar a
composição de um quadro. Na Renascença, os grandes mes-

Foto: istockphotos
tres incorporavam formatos geométricos às suas composi-
ções, mas baseando-se em conhecimentos esotéricos. Não é
de estranhar que os significados da simbologia esotérica sejam
A Ressurreição, Rafael Sanzio.
os mesmos da simbologia arquetípica.

James J. Retrato do artista quando jovem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1998. 5Jung CG. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1996.
4

22 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

No estudo da composição, no entanto, aprende-se que


toda composição é estruturada por formas geométricas.
Pode ser uma única, como o círculo, usado por Michelangelo
no afresco O Julgamento Final, da Capela Sistina em Roma, ou
uma combinação de formas, como Rafael Sanzio compôs A
Ressurreição, quadro pertencente à coleção do Masp em São
Paulo. Isso significa que toda imagem contém um símbolo ar- lacionados às diferentes emoções, que atuam dentro da área
quetípico na sua estrutura, seja intencionalmente ou não. Isso límbica. Não há um único sistema, um suposto sistema límbico,
se aplica a todas as imagens criadas pelo homem: pinturas, responsável pela formação das emoções, como se pensava
fotografias, arquitetura e imagem pessoal. Aplica-se, também, antes. Quando estimulados esses sistemas geram elementos
às imagens naturais, como o rosto. Os formatos do rosto, das químicos e hormônios que produzem reações físicas e, em se-
feições e dos dentes são todos símbolos arquetípicos, com guida, as emoções são formadas, ao mesmo tempo em que
significados predeterminados. memórias relacionadas à emoção são recuperadas.
Carl Jung só falou sobre os formatos geométricos, mas Fazendo a associação entre os símbolos arquetípicos de
as linhas que compõem esses formatos também devem ser Jung e o trabalho de LeDoux ficou claro que os arquétipos são
consideradas símbolos arquetípicos. As linhas encontradas nas importantes gatilhos desses sistemas. Isso significa que são
imagens interagem com as formas geométricas e transmitem compreendidos emocionalmente e não racionalmente. O sím-
significados diversos e até complexos. Saber ler o significado bolo arquetípico, portanto, age sobre o emocional da pessoa. É
das linhas e das formas permite entender o que o rosto e suas um processo que não envolve o racional. Embora um símbolo
partes dizem da pessoa e de seu temperamento, e o que a ima- arquetípico tenha um significado universal e comum a todos
gem, como um todo, e nas suas partes, expressa. e, portanto, sempre ative determinada emoção, a reação a
Como o cérebro processa os símbolos arquetípicos e como essa emoção será sempre individual, porque é associada às
entende seus significados ainda não é bem compreendido. Carl memórias que a pessoa guardou, quando experimentou emo-
Jung teorizou que os símbolos faziam parte do subconsciente e ções semelhantes. O mesmo símbolo arquetípico, contido na
do inconsciente coletivo. Mas isso não explica como o cérebro mesma imagem, que diversas pessoas observam, pode, por-
os reconhece. tanto, provocar diferentes reações: desde uma leve sensação
O trabalho de Joseph LeDoux6, neurobiólogo e especialista até violentas emoções.
em cognição, na Universidade de Nova YorK, EUA, começa a Que a imagem provoca reações emocionais, antes que seja
elucidar esse enigma. Há mais de dez anos ele pesquisa como compreendida racionalmente, é algo que muitos estudiosos da
as emoções são criadas. Descobriu, primeiro, que a formação imagem e da linguagem visual observaram, desde que a per-
de emoções não envolve o córtex. O tálamo reconhece os ele- cepção visual e a cognição começaram a ser estudadas no
mentos ou “gatilhos”, que estimulam os diversos sistemas, re- início do século 20.
O artista plástico Wassily Kandinsky7 notou que toda ima-
gem produz uma reação emocional antes de ser compreendi-
da racionalmente e fez importantes observações sobre a na-
tureza da imagem. No seu livro Ponto, Linha, Plano ele explica
como é a dinâmica de cada tipo de linha (ver Capítulo Alfabeti-
6
LeDoux J. O cérebro emocional. Rio de Janeiro: Objetiva; 1998.
7
Kandinsky Wassily (1866-1944), artista, teórico e autor russo. zação Visual). Kandinsky, porém, não tinha pesquisas científicas
Kandinsky W. Ponto, linha, plano (ed. 70; 2006) e “Do espiritual na em que pudesse apoiar suas teorias, mas tinha um profundo
arte” (Martins Fontes; 2000).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 23


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

conhecimento da linguagem visual e seu uso. Nessa época, as e por que é tão importante que haja o encontro entre as ima-
primeiras teorias de psicologia foram criadas, como a Gestalt, gens exterior e interior. De fato, pode-se afirmar que esse é um
mas ainda não havia técnicas para estudar o funcionamento do encontro de emoções. Se houver sintonia de emoções será al-
cérebro, como a ressonância magnética. tamente salutar emocional e psicologicamente. Por outro lado,
A associação dos princípios da linguagem visual com a conflitos podem provocar consequências muito graves.
teoria de Jung, dos símbolos arquetípicos, e com as pes- Segue que se pode ler o temperamento de uma pessoa
quisas de LeDoux sobre o cérebro emocional permitem ao analisar o formato do rosto e as características de cada
compreender melhor como imagens são percebidas e pro- área da face, porque esses elementos são símbolos arque-
cessadas. Entender que o cérebro reage primeiro, instanta- típicos que se relacionam e revelam seu temperamento.
neamente, aos símbolos arquetípicos contidos na imagem Por exemplo: o retângulo exprime força, determinação e
– linhas e formas em particular – e que estes estimulam os certa imobilidade; portanto, uma pessoa com o formato
sistemas que produzem as emoções, antes que se possa de rosto retangular expressa essas características. Se ela
pensar racionalmente a respeito disso, é fundamental para não fosse assim, cada vez que se olhasse no espelho as
quem trabalha com ela. Implica que toda imagem contém, emoções geradas pelo formato do seu rosto entrariam em
na sua estrutura, uma mensagem subliminar, contida nos conflito com seu senso de si mesma. Evidentemente isso
símbolos arquetípicos que a estruturam. pode acontecer se a pessoa sofrer algum tipo de repres-
Para o profissional da Odontologia, isso tem uma impor- são, mas seria considerado um transtorno ou desvio de
tância maior, porque implica que a imagem pessoal, que ele personalidade. Para completar o método, ainda foi neces-
cria, afeta emocionalmente o próprio cliente e as pessoas com sário adotar um sistema de classificação dos temperamen-
quem ele se relaciona, influenciando sua autoestima, seu esta- tos e um procedimento para estimular a reflexão do cliente,
do emocional e psicológico e seu comportamento. Acima de que o ajudasse a definir o que gostaria de expressar atra-
tudo, explica por que a imagem pessoal estabelece a identidade vés de sua imagem, a consultoria (ver Capítulo Consultoria).

Composição com 1.3 Visagismo e a evolução


vermelho, amarelo e azul,
Piet Mondrian (1930).
da criação da imagem pessoal
A maneira como se trata a imagem pessoal no Ocidente
é muito diferente de como é tratada por tribos de indígenas,
índios americanos e africanos, e isso é reflexo dos sistemas
básicos em que cada cultura é estruturada.
Tribos são estruturadas em sistemas cooperativos. São
pequenos núcleos de pessoas, que vivem de acordo com
determinada filosofia ou religião. Na maioria dessas cultu-
ras, acredita-se que cada pessoa e sua vida são regidas por
guias. Os guias dos índios americanos são animais, enquanto
os dos africanos são o que chamamos de orixás, por exem-
plo. A individualidade é valorizada, porque cada membro da

Foto: istockphotos
tribo tem uma função e uma posição nessa hierarquia e é
importante que sejam facilmente identificados: seu guia, sua
função e sua posição. Por isso, os estilos de cabelos, ma-

24 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

quiagens, pinturas no corpo e vestimentas são altamente


individualizados8. Podemos dizer que o conceito de Visagis-
mo é parte fundamental de suas culturas. Portanto, embora
o termo seja novo, a ideia de personalizar ou customizar a
imagem pessoal é algo muito antigo. O final do século 18 marcou o início da revolução indus-
No ocidente, somente pessoas com um alto senso de trial e o fim da era agrícola, que provocou enormes mudanças
estilo, inteligência visual e um forte senso de identidade fo- nas sociedades no mundo todo. Foi caracterizada pela gradual
ram capazes de criar um estilo próprio. Essas pessoas são mecanização na produção de manufaturados, incentivada por
raras. Sabem o que querem e orientam os profissionais que sucessivas inovações tecnológicas. Com o desenvolvimento in-
executam o trabalho. Geralmente são pessoas de destaque dustrial em diversas áreas, houve um êxodo do campo e a cria-
na sociedade, com muita influência ou poder. Todo estilo e ção de metrópoles. Com início na Inglaterra, aos poucos, todos
todas as tendências de moda têm suas origens nos estilos os países europeus foram transferindo sua dependência na
pessoais que essas pessoas criaram. agricultura para a produção industrial. O mesmo aconteceu
Um estilo expressa princípios filosóficos, morais e cultu- nos EUA e, eventualmente, no mundo todo. No Brasil, esse
rais e um modo de vida e, quando pessoal, a personalidade processo só foi intensificado a partir de 1930. Esse processo
de uma pessoa. Nas culturas ocidentais e orientais, basea- teve um profundo impacto social que ainda vivenciamos. Com
das em sistemas feudais, uma elite da sociedade dominava a criação de grandes cidades e a educação de pessoas para
todos os outros membros. A sociedade era formada por um que tivessem condições de trabalhar nas fábricas, uma classe
grande grupo de pessoas, que dominava a massa, a maioria proletária foi criada e a classe média cresceu consideravel-
com funções genéricas e todos no mais baixo nível hierárqui- mente. Na Europa e nos EUA já havia uma pequena classe
co, e uma pequena elite, com enorme poder e que dominava média formada por profissionais liberais, negociantes e ban-
a massa. Portanto, a individualização não era valorizada. Por queiros, principalmente. Houve, também, maior distribuição
isso, só a elite, a classe nobre e a burguesia emergente, de renda. Em consequência disso, muitas pessoas ganharam
tinham direito a se expressarem através de um estilo. Ma- condições de se vestir e se produzirem com estilo. A classe
nifestações de estilo pelo povo eram encontradas somente média queria se diferenciar do proletariado e procurava as-
em alguns artefatos, construções e nas vestimentas utiliza- censão social, com aspirações a se assemelhar ao nobre. Por
das em festivais, que expressavam o caráter de uma nação isso, adotou seu estilo, embora com menos luxo. A indústria
ou de um clã. Os nobres adotavam um estilo padronizado da moda foi criada e em vez de personalidades como Marie
que expressava os princípios da nobreza, e que indicava o Antoinette, ditarem a moda, de uma estação, estilistas surgi-
grau de poder do indivíduo pela suntuosidade e riqueza dos ram criando modelos de roupas que pessoas das classes alta
materiais empregados nas vestimentas. As únicas qualida- e média copiavam na Europa e outras partes do mundo. Paris
des individuais que podiam ser mostradas eram a sensibi- se tornou o centro desse movimento.
lidade, o refinamento e o senso artístico, nos cabelos, nas Por outro lado, a revolução industrial promoveu uma
maquiagens e nas vestimentas. Esse estilo padronizado era crescente consciência social, que resultou no fortalecimen-
igual para todos os nobres na Europa e nas suas colônias, to do socialismo e do advento do sindicalismo, a defesa
por isso é difícil distinguir um nobre francês de um espanhol. das liberdades individuais e o fim dos privilégios. Depois da
I Guerra Mundial, a maioria dos intelectuais, poetas, artistas e
até alguns membros da elite se declaravam socialistas e mate-
Lody R. Cabelos de axé. Identidade e resistência.
8
rialistas. Procuravam manifestar essa maneira de pensar na
Rio de Janeiro: Senac; 2004.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 25


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

sua aparência. Exigiam estilos diferentes dos da classe dominan-


te, com a qual não se identificavam. A ideia da personalização
da imagem pessoal também apareceu nessa época, como uma
forma de valorizar a individualização e combater a crescente
massificação, que as indústrias incentivavam, a fim de aumen-
tarem suas vendas.
Ao longo do século 20, milhões de pessoas ganharam o
direito de fazer escolhas, por causa do aumento do nível eco-
nômico, melhor educação, acesso à informação e novas expe- Já há alguns anos, todas as agências que pesquisam ten-
riências. A invenção do automóvel, a possibilidade de viajar de dências apontam a customização e a despadronização como
navio e, depois, de avião e conhecer outros lugares e povos, o sendo as principais tendências em todas as áreas. Na área de
conhecimento e cultura obtidos por meio de livros, jornais, revis- beleza, no entanto, é a massificação que se vê praticada. É essa
tas, o rádio, a televisão e, agora, pela internet fez com que um a realidade da maioria dos salões, clínicas e butiques. Rara-
universo, que até há pouco tempo era restrito a uma minoria, mente o cliente sabe o que deseja expressar. As imagens
fosse disponível a qualquer um. Isso fez com que o conflito entre criadas são geralmente padronizadas.
a massificação e a customização fosse se intensificando e ge- Os melhores profissionais das diversas áreas da criação
rou dois problemas: a grande maioria das empresas não sabe da imagem pessoal conseguem algum sucesso em atender
oferecer escolhas e como customizar seus produtos ou servi- as necessidades dos seus clientes, mas dependem somente
ços, e as pessoas não são ensinadas a como fazer escolhas. da sua intuição, sensibilidade artística e sua capacidade de
As escolas não empregam sistemas muito diferentes daque- percepção do outro. Nunca dispuseram de um método, ba-
les utilizados desde o século 19. Tudo isso pode fazer com que seado em conhecimentos científicos, para avaliar seu cliente
nos sintamos incapazes de lidar com as imposições do mundo ou paciente; e a maioria não teve acesso, nos seus cursos
contemporâneo, além de insignificantes diante da grandeza do de formação, ao ensino formal da linguagem visual, essencial
mundo que conhecemos. Não é fácil lidar com a consciência de para poder transformar um conceito abstrato numa ima-
que se é “um” entre bilhões de habitantes deste mundo. Todo gem concreta. Por sua vez, a grande maioria das pessoas
mundo quer se sentir especial, mas ao mesmo tempo quer ser não tem meios para indicar o que querem ao profissional.
aceito e respeitado. Por isso as redes sociais ganham tanta É importante notar que a análise do comportamento e
força: ao mesmo tempo em que cada um pode expor o que da linguagem corporal pode levar a muitos equívocos. A ima-
pensa e faz, compartilha isso com centenas de pessoas. A ne- gem da pessoa a afeta emocionalmente e, consequentemen-
cessidade de se sentir único também criou a moda de se ta- te, seu comportamento, sua postura e seus gestos. Uma
tuar, pois a tatuagem é como uma marca pessoal. Porém, a imagem que não está em sintonia com seu temperamento
“marca pessoal” deveria ser expressa em todos os aspectos fará com que se comporte de uma maneira inadequada. Se
da imagem pessoal. o profissional estiver dependendo somente de sua intenção,
ele estará sendo levado pelas emoções que sente ao ver
a pessoa e o que as linhas, formas e cores estão transmi-
tindo. Isso significa que estará reagindo ao que a imagem
expressa e não ao que a pessoa é. Em outras palavras, ele
vê como a pessoa está e não como ela é. Evidentemente,
isso poderá resultar em conclusões totalmente errôneas.

26 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 1
Conceito de Visagismo e seu método

1.4 Visagismo - Philip Hallawell na Odontologia


A boca e os olhos são as duas áreas que mais transmitem
informações sobre uma pessoa. Na Odontologia Estética é sempre aconselhável questionar
A boca é o ponto focal do olhar e, imediatamente, pela cap- se os ganhos estéticos acarretam perdas no senso de identida-
tação dos formatos e das linhas dos lábios e dos dentes, esta- de ou qualidades de personalidade. Em cirurgias ortognáticas é
belecem as condições das interações humanas, antes que haja importante levar em conta que a área relacionada com a força
comunicação verbal. da vontade (mento) será profundamente afetada e que, ao con-
A boca tem diversas funções. Há a da alimentação e a da trário do que se pensa geralmente, nem sempre esse ganho
fala. Os lábios têm conotações sensuais9 e os dentes são asso- estético traz consequências positivas. Há um ganho estético
ciados às presas, elementos de ataque e defesa. A configura- porque o queixo retraído é associado à fraqueza, à dificuldade
ção da boca e dos dentes, especialmente da bateria anterossu- de se impor. É, portanto, considerado feio. Já o queixo alinhado,
perior, indica a capacidade de exercer essas funções e afeta a que expressa força, é visto como sendo bonito. O outro lado
autoconfiança. Para alguém se sentir confiante, a dentição pre- da força é a agressividade e, quando há um repentino ganho
cisa ser alinhada, íntegra, sem falhas e sem grandes desgastes. de força, muitas pessoas não estão preparadas para lidar com
Dentes pequenos e sem proeminência prejudicam a capacida- isso e podem se tornar agressivas.
de de se impor, e os dentes amarelados e manchados são vis- O Visagismo - Philip Hallawell permite que se avalie todas
tos como indícios de falta de saúde e de vigor. Nos trabalhos de essas questões e que se estabeleça uma direção clara para
Visagismo - Philip Hallawell, realizados ao longo dos últimos oito os procedimentos, promovendo ganhos estéticos, ao mesmo
anos, constatou-se que uma pessoa não sustenta uma imagem tempo em que se cria um sorriso que expressa o melhor da
que a destaca, se tiver problemas sérios nos dentes, porque personalidade. Isso se aplica tanto aos casos em que a confi-
não se sente segura para lidar com a exposição a que está su- guração original é modificada ou aos casos em que o envelhe-
jeita e por que o que os dentes expressam entram em conflito cimento ou traumatismos exigam uma recuperação parcial ou
com aquilo que o resto da imagem transmite. É muito impor- total da dentição.
tante, no entanto, estar atento às mudanças na expressão que O visagismo é uma arte. É a arte de criar uma imagem pes-
os procedimentos provocam. É mais importante preservar as soal customizada e bela, que faz com que o paciente se sinta
Foto: sxc.hu

características do temperamento do paciente do que promover valorizado, aceito e com poder de atração.
ganhos estéticos.
O ortodontista, por exemplo, precisa analisar se, ao alinhar a
dentição, haverá uma mudança no formato da arcada e se isso
será prejudicial ao paciente.

9
Morris D. O macaco nu.
Rio de Janeiro: Record; 2004.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 27


Capítulo 2
Alfabetização visual

Alfabetização

Visual Bráulio Paolucci


frequências de percepção auditiva que, muitas vezes, esca-
pam à percepção humana5-6.
Durante os milhões de anos de evolução dos primatas
muitas características de comunicação foram surgindo e
sendo aperfeiçoadas, de modo que as espécies de prima-
tas existentes nos tempos atuais, apesar de apresentarem
diferentes formas de comunicação, ainda compartilham es-
truturas cerebrais mais antigas de processamento de infor-
mações comunicativas7-11.
A família dos primatas surgiu na terra a aproximadamen-
te 70 milhões de anos. Seus descendentes atuais incluem
2.1. Linguagem desde pequenos até os grandes primatas como orangotan-
Numa definição simplória, linguagem significa troca de gos, chimpanzés, gorilas, bonobos e, os últimos hominídeos,
informações, englobando gestos, expressões faciais, cor- os seres humanos12.
porais, assobios, posturas, linguagem química, matemáti- Entre as formas de linguagem de primatas não huma-
ca, verbal, escrita etc1. Na perspectiva dos estudiosos da nos pode-se citar como principais as linguagens sonora,
linguagem sua delimitação à linguagem verbal e escrita é gestual ou corporal e as expressões faciais. A comunicação
um atributo egoísta do pensamento humano. É incorreto através de gestos e expressões faciais são compreendidas
afirmar, inclusive, que linguagem seria a troca de informa- como linguagem visual primitiva13-16.
ções entre indivíduos da mesma espécie, pois a ciência já
demonstrou a possibilidade de indivíduos de espécies dife-
rentes se comunicarem2-4 .
Desde o surgimento da vida na terra, os seres mais
primitivos necessitavam trocar informações para garantir
sua sobrevivência e reprodução, e o faziam através da cha-

Imagem - Marcela Barros


Ana Carolina Lima (atriz)
mada comunicação química1-3. Animais como insetos, pei-
xes, anfíbios, aves e mamíferos desenvolveram diferentes
meios de comunicação, que vão desde a comunicação por
feromônios, gestos e até linguagem sonora em variadas

28 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 2
Alfabetização visual

O homo sapiens é o primata mais capaci-


tado à comunicação por apresentar tanto
as características comunicativas primitivas
de seus parentes (linguagem visual primiti-
va) quanto características exclusivas e mais
complexas de comunicação, como a fala e a seriam as formas de comunicação visual mais primitivas
escrita. Essas duas últimas formas de linguagem que carregamos em nossos cérebros em comunhão com
estão relacionadas ao neocórtex humano, parte externa esses animais22.
de nossos cérebros responsável pela elaboração de pen- Estudos in vitro com gorilas demonstraram que esses,
samentos e raciocínio17. além de compreenderem gestos e expressões faciais, pos-
A história da evolução da linguagem em seres humanos suem capacidade para o aprendizado da linguagem de si-
é paralela à história da evolução do cérebro humano. Por nais norte-americanos ou Ameslan (linguagem dos surdos-
milhões de anos o cérebro primitivo foi compartilhado pelos mudos americanos)1.
grandes primatas e era responsável pela compreensão do Estudos realizados com uma fêmea de bonobo em labo-
ambiente à sua volta e sua comunicação com intuito de so- ratório apontam para uma grande capacidade de aprendi-
brevivência e reprodução. Ao longo de milhões de anos o cé- zado da linguagem de sinais. Ela desenvolveu a capacidade
rebro primata se desenvolveu de baixo para cima, ou seja, de compreensão e comunicação através de um lexigrama
os centros superiores se desenvolvendo como elaborações de 256 símbolos geométricos23. Esses estudos sugerem
das partes inferiores (tronco cerebral) culminando com o que a compreensão visual a partir de imagens primordiais
surgimento do neocórtex17-18. ou símbolos arquetípicos não está relacionada ao neocór-
O desenvolvimento do cérebro de embriões humanos tex humano e estaria, provavelmente, relacionada aos cen-
segue esse caminho19. tros cerebrais mais antigos comuns àqueles primatas e ao
A existência de um cérebro emocional (cérebro primitivo homo sapiens24.
compartilhado pelos grandes primatas), programado para fa- Como demonstrado em vários experimentos, a capaci-
zer leitura ambiental e disparar reações emocionais, com o dade para a compreensão de sinais e símbolos não é uma
objetivo de sobrevivência, é muito mais antiga que o cérebro exclusividade humana e certamente está relacionada a
racional que apresentamos hoje19-20. Seu processo de leitura estruturas cerebrais primitivas presentes em nossos cé-
visual e de interpretação é instintivo e inconsciente, e não de-
Fotos: Istockphotos

pende do aprendizado e raciocínio21. Essa leitura se daria, en-


tre outras maneiras, pela interpretação de arquétipos visuais
ou imagens primordiais (ver Jung e os Arquétipos).
Estudos com grandes primatas têm apontado cami-
nhos para a compreensão da escalada evolutiva da lingua-
gem visual dos seres humanos, de modo a indicar quais
Capítulo 2
Alfabetização visual

rebros; no entanto o pensamento simbólico, ou seja, a or-


ganização de processos cognitivos com signos e símbolos
e a comunicação através da fala e escrita são capacidades
exclusivas do homo sapiens17.
O objetivo do visagismo é o estudo da linguagem visu-
al, mais especificamente dos símbolos arquetípicos mais
básicos (linhas, formas e cores), o seu processo de inter- ação imediata, ou seja, cada tipo de emoção predispõe o in-
pretação pelo cérebro humano e a possibilidade de seu uso divíduo a uma ação pré-programada, que ao longo da evolu-
consciente para gerar imagens com significado. Na Odon- ção da espécie se mostrou como a ação mais bem-sucedida
tologia seu uso seria na criação estrutural de desenhos de para a sobrevivência e reprodução; portanto, para a perpe-
sorriso com expressão própria, de percepção inconsciente tuação da espécie30-31. Não há consenso entre os cientistas
e involuntária que deveria estar de acordo com a identidade, sobre as emoções básicas, mas de maneira geral pode-se
vontade de expressão e necessidades pessoais do paciente dizer que raiva, medo, aversão, expectativa, alegria, tristeza,
(ver Capítulo Consultoria). surpresa e aceitação sejam algumas das principais31.
Ao se deparar com uma imagem, o olho humano capta
2.2 O caminho cerebral da percepção visual sinais sensoriais na retina e os envia a uma área ances-
Perceber é organizar dados sensoriais levados ao cére- tral do cérebro chamada tálamo32. No tálamo esses sinais
bro através dos receptores nervosos ou sentidos (visuais, são traduzidos para a linguagem cerebral. O tálamo, então,
olfativos, táteis, sonoros e gustativos)25. Seres humanos são envia mensagens para duas estruturas cerebrais, para o
principalmente visuais no processo de percepção do am- córtex cerebral, onde se processa um raciocínio acerca do
biente, assim como lobos são olfativos e baleias auditivas, e que é visto e para uma estrutura primitiva localizada acima
o processo de percepção visual está intimamente ligado a do tronco cerebral e logo abaixo do anel límbico, a amígda-
uma interpretação emocional automática26. la31-35. Essa seria responsável por disparar uma sensação
O processo de percepção e interpretação visual pelo cé- ou emoção sobre aquilo que se vê30-31.
rebro humano figura entre objeto de estudo de ínumeros Estudos mais recentes de como o cérebro processa ima-
neurocientistas já ha algum tempo, e sua pesquisa se faz gens, realizados pela equipe de neurocientistas, do Centro de
necessária para a compreensão dos processos emocionais Ciência Neural da Universidade de Nova York, liderados por
básicos que governam a vida dos seres humanos27-29. pesquisador36-40, indicam que há um caminho mais curto en-
A palavra emoção é originada do latim e sua tradução tre o tálamo e a amígdala, do que aquele caminho percorrido
seria movere ou mover acrescida do prefixo e que significa pelo impulso do tálamo ao córtex cerebral (parte pensante),
afartar-se30. De maneira geral uma emoção implica numa indicando que o processamento de emoções acerca do que
se vê ocorre mais rápido do que o raciocínio sobre o que se
vê31. Com isso a natureza nos programou para agirmos rapi-
damente segundo a sensação que sentimos diante de uma
imagem. Isso nos permitiria sobreviver em situações críticas,
como a deparação com um perigo eminente28,41-44. Em outras
situações nos impele a agir para reproduzir e garantir que nos-
sos genes sejam passados a gerações futuras antes que um

30 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 2
Alfabetização visual

concorrente direto o faça. Portanto, imagens trazem consigo tipo de imagem desperta sensações ou emoções próprias.
significados emocionais próprios que podem variar de espécie Desta maneira entende-se que estes símbolos agiriam
para espécie. como mensagens subliminares que agem sobre nós sem
Estes estudos sugerem que imagens são processadas que estejamos conscientes delas. Isso se aplica à estrutura
na amígdala como imagens primordiais ou arquétipos visu- de todas as imagens, sejam fotografias, gravuras, pinturas,
ais e estes conduziriam a uma reação emocional condicio- imagens pessoais, sorrisos ou espaços tridimensionais45-46.
nada de acordo com seu significado próprio, ou seja, cada Esse fato também indica um caminho para a compreen-

Tálamo Visual
Fotos: sxc.hu, Ilustração retirada do livro Visagismo: harmonia e estética Autor: Philip Hallaawell. Senac; 2003.

Área Límbica

Córtex
Visual

Criação de emoções
e sensações físicas

O tálamo reconhece símbolos arquétipos, que disparam os diversos sistemas que produzem emoções,
antes que o córtex possa processar a imagem racionalmente.

são da maneira como a imagem pessoal exerce influências


emocionais, psicológicas e comportamentais nas pessoas.
Imagens pessoais mal cuidadas podem agir negativamente
sobre a autopercepção e autoestima das pessoas, podendo
levar a/ou facilitar um estado depressivo, exatamente por
despertarem sensações e/ou emoções negativas46.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 31


Capítulo 2
Alfabetização visual

É através desse processo de percepção visual condicio-


nado por arquétipos visuais (os mais básicos seriam os ge-
ométricos compostos por linhas, formas e cores) que sen-
timos algo a respeito de uma pessoa pelo simples fato de
observá-la. Não há necessidade de conversar com ela para
que sintamos simpatia, aversão ou uma gama de outros Já o componente coletivo seria a camada mais profunda
sentimentos e emoções . A leitura automática de aspectos
45
da psiquê compartilhada por todos os seres humanos, onde
faciais, inclusive do sorriso, e sua associação a uma série estariam os arquétipos ou imagens primordiais, condicionado-
de sensações pré-programadas em nossa mente (algumas res de traços comportamentais pré-programados (ou instin-
universais e outras de significado pessoal), é que explica a tos) relacionados a situações de sobrevivência e reprodução.
tênue relação entre esses aspectos faciais e a construção Sobre o inconsciente Jung disse: “as camadas mais pro-
do senso de identidade visual pessoal . 46
fundas da psiquê perdem sua singularidade individual à medi-
da que mergulham na escuridão. Nos níveis mais baixos, isto
2.3 Linguagem arquetípica é, quando se aproximam dos sistemas funcionais autônomos,
O suíço Carl Jung foi um dos grandes nomes da pisquiatria tornam-se cada vez mais coletivas até que se universalizam48”.
do século 20. E mais que um psiquiatra, Jung foi um grande
pensador. A originalidade e criatividade de suas ideias se rela- 2.3.2 Arquétipos
cionam à maneira de pensar e ao comportamento de todos Jung desenvolveu profunda pesquisa sobre diversas cul-
os seres humanos. O “pai” da psicologia analítica encontrou turas e civilizações e percebeu que a interpretação de deter-
o elo entre a razão ocidental e o misticismo e simbolismo minados símbolos era comum a várias dessas culturas que
das culturas orientais primitivas. Sua teoria psicológica fora existiram em tempos e locais distintos e não tiveram nenhu-
profundamente influenciada por pensadores como Nietzs- ma relação entre si. Chamou a esses símbolos de símbolos
che, Schopenhauer, Kant e Goethe, entre outros. Entre suas arquetípicos ou arquétipos48.
principais ideias algumas são especialmente relevantes ao Com a publicação de O Homem e seus Símbolos, em
Visagismo, entre elas seu conceito de inconsciente coletivo, 1968, Jung estabelecia os parâmetros da linguagem arque-
o simbolismo dos arquétipos, assim como suas definições so- típica. Afirmou que esses símbolos faziam parte do conteú-
bre persona, sombra, anima e animus. do inconsciente do ser humano e que surgiam na consciên-
Carl Jung cia independente da vontade do indivíduo, causando reações
2.3.1 Inconsciente coletivo sentimentais e emocionais. Segundo ele, a compreensão do
Para Jung, o inconsciente seria composto por duas ca- conteúdo dos arquétipos seria fundamental para a interpre-
madas, uma pessoal e outra coletiva, sendo o inconscien- tação da linguagem dos sonhos49.
te pessoal composto por conteúdos individuais exclusivos, Há dois tipos de arquétipos: os que se encontram grava-
adquiridos pela vivência de cada um em sua interação com dos no inconsciente coletivo (camadas mais profundas da psi-
o ambiente cultural, educacional e suas experiências de quê) e despertam emoções e sensações em todos os seres
vida cotidiana47-48. humanos da mesma maneira. Estão relacionados aos proces-
sos ligados a sobrevivência e reprodução e são conhecidos

Ilustração: Eder Max


como arquétipos coletivos. Há também os arquétipos pesso-
ais, que estariam gravados no inconsciente pessoal (camadas
mais superficiais da psiquê) e seriam fortemente influenciados

32 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 2
Alfabetização visual

por experiências pessoais e influências culturais e ambientais.


Influenciado pela obra de Jung, Hallawell procurou demons-
trar como imagens despertavam emoções específicas e porque
artistas usaram, ao longo dos tempos, de maneira consciente
ou intuitiva, elementos visuais de significado coletivo (símbolos
geométricos) na estrutura de suas obras de forma a despertar
emoções e sensações em seus observadores45.
O objetivo do Visagismo será o estudo de arquétipos visuais
coletivos ou mais especificamente o seu uso no universo das
artes visuais45-46. Os arquétipos visuais coletivos fundamentais
seriam as linhas e cores primárias ou pigmentos puros. Essas
linhas se organizam de maneira a constituirem formas bási-
cas que têm sua expressão a partir da somatória dos valores
emocionais individuais de suas linhas constituintes. Da mesma aceitação social e o convívio em sociedade, de acordo com
forma as cores se unem para a formação de cores secundá- os papéis que ela exige. Um determinado indivíduo pode
rias e terciárias e lhe conferem significado. apresentar várias personas de acordo com o ambiente em
Segundo Piet Mondrian as formas puras seriam “a ex- que vive e suas exigências. Pode representar o papel de
pressão da realidade pura, livre de qualquer condicionamen- dentista em seu consultório, de pai, irmão, filho, amigo, ma-
to a ideias e sentimentos subjetivos”. O significado de uma rido e outras possibilidades ligadas a situações de convívio
forma estaria implícito nas linhas de sua composição48. social. A persona tende a facilitar o convívio por transmitir
certa segurança ao indivíduo, impedindo que o mesmo se
2.3.3 Persona e sombra exponha demasiadamente. Pode se tornar negativa quando
A palavra persona tem sua origem na Grécia antiga. O o indivíduo se prende a ela e permanece distanciado de sua
termo era usado para designar as máscaras usadas pelos natureza, ocorrendo aí muitos problemas de ordem psico-
atores do antigo teatro grego. Na teoria jungana representa lógica. Sua compreensão e uso interessam ao visagismo,
Foto: Istockphotos

a maneira como nos apresentamos ao convívio social. Signi- pois na transformação da imagem, a equipe pode reforçar
fica a forma como queremos ser percebidos pelas pessoas a persona ou contrabalanceá-la, trazendo para a imagem
com quem nos comunicamos. Seu objetivo é de facilitar a pessoal aspectos da identidade46.
No caso de intervenções de imagens mutáveis, como
cortes de cabelo, maquiagem, roupas e acessórios, pode-se
reforçá-la de acordo com as necessidades momentâneas
individuais pelo uso dos elementos visuais adequados, mas
em intervenções permanentes, como no caso da Odonto-
logia, deve-se analisar a vontade de expressão do paciente
com cuidado para não evidenciar aspectos que não tenham
a ver com sua identidade, pois com o tempo, aquela nova
imagem criada passará a influenciar o indivíduo em seu
comportamento, inclusive em seu senso de identidade de
maneira não controlada. Por esse motivo é tão importante

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 33


Capítulo 2
Alfabetização visual

a investigação prévia das razões e necessidades apresenta-


das pelos pacientes e orientá-los quanto às consequências
da execução de sua vontade de expressão.
Entende-se por sombra o centro do incosciente pessoal,
onde estariam presentes experiências pessoais, lembran- 2.4 Linguagem visual artística
ças de infância, e desejos rejeitados pelo indivíduo por não Há tempos a humanidade busca compreender os ele-
estarem de acordo com as regras sociais. Quanto mais for- mentos (linhas, ângulos, formas e cores) e fundamentos da
te for a persona, mais elementos estarão depositados nos composição estética. Ambos constituem as ferramentas
“porões da psiquê humana” em forma de sombra. básicas da linguagem visual artística, ou seja, o conjunto de
Esse material psíquico denominado sombra não aceita signos e símbolos usados para se comunicar com harmo-
silenciação por vontades conscientes, de forma que de tem- nia e senso estético. A linguagem visual artística é a lingua-
pos em tempos tende a emergir na consciência, podendo se gem do desenho45.
tornar motivo de crises. O seu reconhecimento por parte do O estudo da linguagem visual artística surgiu no século
indivíduo e a manifestação de seu conteúdo é uma ação po- 6º a.C. na Grécia antiga de maneira científica. Seus elemen-
sitiva para a saúde mental, sendo considerada como grande tos e fundamentos começaram a ser revelados com o uso
fonte de inspiração para a criatividade, energias instintiva, vital da matemática e da ciência. Os gregos queriam criar ima-
e espontânea49. Profissionais que trabalham na transforma- gens que reproduzissem a realidade visual, e não apenas
ção consciente da imagem poderiam discutir previamente a representassem através de imagens simbólicas usadas
com seus pacientes através da intervenção de um terapeuta em ritos pelos egípcios. Descobriram que o que era per-
a possibilidade de trazer para a imagem pessoal algum mate- cebido como belo era perfeito matemática e geometrica-
rial pessoal reprimido, mas essa seria uma outra modalidade mente e, então, começaram a decifrar regras e fórmulas
de tratamento ainda por ser desenvolvida conjuntamente relacionadas à estrutura, proporção, volume, movimento e
com profissionais capacitados na área de psicologia. perspectiva (fundamentos) com o intuito de criar imagens
com harmonia e estética.
2.3.4 Anima e animus
Esse estudo teve novo impulso na Renascença, quando
Para Jung, a psiquê humana é composta por elementos conhecimentos acerca da óptica descobertos pelos árabes
femininos e masculinos e proporções variadas e desiguais. chegaram à Europa ocidental após a queda de Constantinopla.
Ambos os sexos possuem em si aspectos do sexo oposto48. Em Florença, na Itália, grandes mestres como Leonardo da
Existe um tipo sexual ativo e inconsciente oposto àquele ma- Vinci, Michelangelo e Rafael desenvolveram a arte do realismo
nifestado morfologicamente. Designa-se anima o aspecto visual usando os ideais e valores estéticos do Humanismo Gre-
feminino da psiquê masculina e animus o aspecto masculino go, com seu culto à beleza, associados aos recém-chegados
da psiquê feminina. conhecimentos sobre física óptica, estudos sobre anatomia,
uso da luz, cor e perspectiva. Pela primeira vez na história da
Humanidade, o homem era capaz de criar imagens com muito
realismo, volume e profundidade de maneira consciente. Com
o domínio dos elementos e fundamentos da linguagem visual,
que até hoje norteiam o universo das artes visuais, não só era
possível criar imagens muito realistas, como também transmi-
tir através delas pensamentos, sensações e emoções46,50.

34 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 2
Alfabetização visual

2.5.1 Linhas retas


A linha reta mais simples é a linha horizontal, resultante
da movimentação do ponto sobre o plano51. Representa a
superfície sobre a qual o homem vive e se move. Sua tem-
peratura é fria e seu significado arquetípico básico é de con-
sonância com a gravidade. Por isso sua principal expressão
é de estabilidade. Pode representar obstáculo ou encerra-
Foto: Istockphotos

mento. Outras expressões associadas: conformismo, resis-


tência, apatia, monotonia e calma.

2.5 Elementos da linguagem visual artística


(linhas, ângulos, formas e cores e sua
interpretação visual)
O elemento fundamental da arte visual é o ponto. Invisível,
silencioso, estático, introvertido, representa o marco zero na
construção de uma imagem sobre um plano. O elemento pri-
mário da pintura. A ação de alguma força sobre o ponto em A linha reta vertical é o oposto da horizontal, por represen-
qualquer direção produz a linha. Logo, a linha é o resultado da tar o movimento do ponto contrariamente à gravidade, repre-
quebra da imobilidade do ponto. É essencialmente dinâmica. É, senta rompimento, desafio, força, poder. Sua temperatura, por-
portanto, um elemento secundário da pintura. Pode ser dividi- tanto, é quente. Está relacionada à intensidade, vigor, atividade,
da em duas categorias: retas e curvas50. virilidade, controle, estruturação, divisão, objetividade, praticida-
de e liderança. A linha inclinada representa o meio termo em
relação às linhas retas vertical e horizontal e sua temperatura
transita entre o frio e o quente. Sua relação com a gravidade
sugere instabilidade, sendo por esse motivo a máxima expres-
O sistema nervoso evoluiu por milhões de anos desde o sur- são da tendência ao movimento e dinamismo. É relacionada à
gimento das primeiras células nervosas nos celenterados até impulsividade, ímpeto, criatividade e extroversão. Não obstante,
chegar à complexidade do cérebro humano sempre com a lei o ser humano sente-se inseguro ao estar debaixo de estrutu-
da gravidade como uma constante; consequentemente, o signi- ras inclinadas, como uma árvore, pois se tem a sensação de
ficado mais básico (arquetípico) de cada linha se dará de acor- que o objeto “está caindo”. Um exemplo disso é a forte sensa-
do com sua relação com a lei da gravidade, como se segue: ção de instabilidade passada pela Torre de Pisa.
As linhas curvas representam o movimento do ponto sob
a ação de duas forças simultâneas. Sugerem uma tendência
a formar um círculo em moto contínuo. Representam a transi-
ção gradual/suave entre dois planos (um plano horizontal e um
O encontro entre um plano vertical e plano vertical) que de forma habitual se chocariam formando
um plano horizontal forma um ângulo
reto, sendo uma transição abrupta. um ângulo reto. Apresentam vários tipos: curvas amplas (sen-
Para uma transição gradual e suave, suais e femininas), curvas fechadas (expressam emoções con-
cria-se uma linha curva. turbadas e introversão), curvas interrompidas (lúdicas, festivas
e infantis), onduladas.
Capítulo 2
Alfabetização visual

Duas linhas retas podem formar um ângulo agudo que


expressarão características de linhas inclinadas, e sua ex-
pressão aumentará de acordo com o aumento do ângulo.
Expressam dinamismo, agressividade, capacidade perfuro-
cortante, ação e extroversão. Sua temperatura é quente.

Torres gêmeas do World Trade Center: símbolo de força e Um ângulo obtuso perdendo cada vez mais sua força
poderio norte-americano.
Eixo inclinado gera agressiva penetrante assume uma expressão de passivida-
no observador sensação 2.5.2 Relação entre duas linhas retas de e fraqueza. É frio, calmo e submisso.
de instabilidade. A relação entre duas linhas retas varia de harmonia
absoluta representada por linhas retas paralelas até o
conflito máximo representado pelo choque perpendicular.
Três tipos principais de ângulos se dão a partir do encontro
entre duas linhas retas: ângulos reto, agudo e obtuso. O
conhecimento de sua expressão visual arquetípica é impor-
tante à equipe restauradora. 2.5.3 Linhas e a construção
O ângulo reto é composto por uma linha horizontal e de formas simples
uma vertical se chocando em algum ponto sobre um plano. De acordo com Rufenacht52, as características geométri-
Sua expressão se deverá à força de cada componente, por cas de uma forma determinam seu significado e suas conota-
exemplo, expressarão equilíbrio quando o componente hori- ções psicológicas.
zontal for do mesmo comprimento do componente vertical. Para Kandinsky cada forma tem seu próprio signifi-
Se o componente vertical for dominante sobre o horizon- cado, nenhuma forma não diz nada. E disse certa vez “A
tal expressará principalmente força. Se ao invés o domínio forma, mesmo quando abstrata e geométrica tem uma
ficar por parte do componente horizontal sua expressão ressonância interior; é um ser espiritual cujas qualidades
principal será de estabilidade. coincidem exatamente com aquela forma”.
É importante considerar que as linhas básicas podem se
organizar numa infinidade de formas e que sempre darão a es-
Linhas curvas do corpo sas formas o seu significado expressivo único e primordial53-54.

Fotos: Istockphotos
feminino e sua expressão As formas mais básicas formadas pelas linhas apre-
de sensualidade,
sentadas são: o círculo, o quadrado, o triângulo equilátero
envolvimento e
e a lemniscata45.
feminilidade.

36 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 2
Alfabetização visual

2.5.4 Cores
Esta obra apresentará um conceito resumi-
do acerca do significado emocional das cores
primárias, por se tratar de um assunto de pou-
ca aplicação direta na Odontologia. No entan-
Quadrado Círculo Triângulo Lemniscata
to sua explanação se faz necessária para que
Kandinsky W. Ponto e linha sobre o plano. São Paulo: Martins Fontes; 1997.
o leitor compreenda ou mais especificamente

O círculo O triângulo “sinta”55 como as cores assim como as formas

É formado a partir da ação de duas forças sobre É sempre formado por ângulos e linhas in- constituem sinais ou símbolos básicos de co-

o ponto, de forma que seu movimento o levará a unir- clinadas. Geralmente pela constituição básica municação visual.

se novamente ao ponto de partida. Representa a ex- de linhas inclinadas e ângulos agudos expressa
pressão da linha curva e ângulo obtuso: maturidade, visualmente, dinamismo, jovialidade, impulso, ati-
Expressões básicas das cores56:
estabilidade, passividade, calma e monotonia (repe- vidade e extroversão. Pode ser um triângulo de
tição contínua). O olho humano se desinteressa e base horizontal com duas linhas inclinadas que
se cansa com a repetição. Assim como o ponto, o se dirigem para cima expressando certa estabi-
círculo é introvertido, frio e, segundo Jung, simboliza lidade dada pela linha horizontal que o sustenta,
na mente humana a psiquê, o sol e a eternidade. simbolizando o culto a alguma divindade. Pode Azul: calma, tranquilidade, paz e frio.
ser um triângulo invertido com forte expressão
de instabilidade simbolizando o perigo.

Vermelho: intensidade, força, perigo,


atração sexual e quente.
O quadrado
É formado por linhas retas verticais e hori-
zontais que se equilibram nessa estrutura. Sua Lemniscata
temperatura compreende o quente e o frio em Constituída por linhas curvas amplas expres- Amarelo: dinamismo, vibração,
relação de igualdade. sa suavidade, sensualidade, romantismo, envolvi- energia, alegria e quente/frio.
Expressa equilíbrio, força, resistência, obje- mento, lirismo e abstração. O oval é uma forma
tividade, imobilidade e conservadorismo. Repre- próxima e tem sua expressão parecida à lemnis-
senta o elemento masculino da psiquê (animus). cata. Simboliza o elemento feminino da psiquê Relação entre cor, linhas e formas:
Segundo Jung simboliza a matéria terrestre e a (anima) e também o infinito. Azul: relaciona-se às linhas horizontal e curva e ao
realidade. Para Kandisnsky simboliza a morte . 51
ângulo obtuso, assim como ao círculo e quadrado
(componente horizontal).
Vermelho: relaciona-se à linha vertical, ângulo reto,
retângulo e quadrado (componente vertical).
Amarelo: relaciona-se às linhas inclinadas, ângulo
Lemniscata Oval agudo e ao triângulo.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 37


Capítulo 2
Alfabetização visual

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19. McLean P. The Triune Brain in Evolution: aspects of emotion, memmory and mental London: Abacus; 1994.
Role in Paleocerebral Function. New York: dysfunction, J Aggleton JP (ed). New York: 56. Kandinsky W. Do espiritual na arte. São
Plenum; 1990. Wiley-Liss; 1992b. p.143-65. Paulo: Martins Fontes; 1996.

38 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

identidade,
personalidade
e sua relação com a imagem
3.1 Formação da identidade e da autoimagem Christiane Sauer
No princípio da vida, o bebê não consegue discriminar-se
dos outros e, nessa fase, a mãe desempenha um papel fun-
damental na vida do filho, que a percebe como uma exten-
são de si. Sempre que sente algum desconforto, a criança
chora e a mãe aparece para ampará-la e satisfazer suas
necessidades. Embora o pai seja muito importante para ofe-
recer acolhimento e segurança à família, sua significância A maneira como a mãe acolhe e ampara o bebê no colo,
vai se desenvolver de maneira gradual no decorrer dos pri- seu olhar, o tom de voz, o ritmo dos batimentos cardíacos,
meiros estágios de vida do filho. seu cheiro, sua capacidade de compreensão, continência
No início do segundo mês de vida, a face humana torna- e responsividade frente às demandas físicas e emocionais,
se o objeto de percepção visual preferido a todos os outros ou seja, a forma como ela cuida e se relaciona com o filho,
objetos do ambiente e o bebê se dirige a ela ou a algo que proporciona uma determinada estabilidade que permite a
se pareça com ela virando a cabeça em sua direção sempre formação de contornos táteis, gustativos, auditivos, visuais
que esta surge em seu campo de visão. A partir do terceiro e olfativos. Apesar de cada ser humano reagir de forma
mês, a criança esboça uma reação de sorriso ao ver a face particular, a relação com a mãe permite que a criança co-
humana ou algo que se assemelhe a ela, mas basta que a mece a integrar várias impressões anteriormente dissocia-
pessoa se vire de perfil para que ela deixe de reconhecê-la, das, formulando um registro unificado do próprio corpo.
o que denota que nesta fase a capacidade de reconhecer a A mãe tende a reagir com uma atitude semelhante à de
face humana ainda não está completamente estabelecida. um espelho, repetindo o gestual, as expressões faciais e os
Com o progresso da maturação física, do desenvolvimento sons que o bebê emite. O espelhamento é uma das manei-
psicológico e das contínuas trocas afetivas com a mãe, a ras de a mãe criar um vínculo com o filho, pois, mostrando-
face materna assumirá um significado cada vez mais impor- se igual a ele, estabelece uma sintonia e a possibilidade de
tante para o filho. a criança perceber-se igual ao que vê refletido na mãe, es-
timulando sua identificação com esta imagem. Podemos
dizer que é através do espelho dos olhos da mãe e de como
ela o interpreta, segundo as fantasias e desejos que nutre
em relação ao filho, que este vai se identificando e forman-
do sua própria imagem.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 39


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

A primeira forma de relação que a criança mantém com continuar a empreitada na qual se aventurou. Mas esse es-
a própria imagem no espelho é de estranhamento. Ela mos- tágio de desenvolvimento logo evolui para uma espécie de
tra curiosidade e fascinação, embora ainda não se reconhe- confusão entre a imagem do outro e seu próprio eu, em que
ça nesta imagem. No processo de desmame, o bebê inicia a criança confunde-se com o outro e assim, não consegue
a elaboração da separação do corpo materno, passa a per- discriminar quem é o agente da ação. É só num terceiro
ceber a mãe como um todo e a estabelecer uma fixação de momento, por volta do sexto mês de vida, que a imagem no
sua imagem em relação aos semelhantes. espelho será reconhecida como uma representação de si
Gradativamente, a figura do pai vai ganhando impor- mesmo. Agora, o bebê não mais se confunde com o outro e
tância na vida do filho e, ao explorar novos territórios, há percebe que possui uma existência própria.
sempre um ponto em que ele volta seu olhar para os pais. Sempre que ele realiza um novo feito, volta-se para os pais
Certificando-se da presença deles, sente-se seguro para esperando sua aprovação. Inicialmente, a reação dos pais

Foto: sxc.hu

40 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

tende a ser muito entusiasmada, mas com o tempo, esta rea-


ção vai diminuindo e a criança busca novas formas de rece-
ber sua aprovação, o que impulsiona o seu desenvolvimento.
O amor dos pais suscita a identificação com as figuras
em torno das quais a identidade primária do filho se forma.
Esta é a operação pela qual o sujeito humano se constitui
como um indivíduo e proporciona a confiança e a segurança
em que a autoestima se baseia. É o movimento de reconhe-
cimento pelo qual a criança assume através da imagem de
si que recebe do outro, que ela pode realizar-se como um
indivíduo. Isso modifica profundamente sua relação com a O mundo interno é constituído através da incorporação
formação da imagem em geral e coordena as relações do de várias identificações adotadas nos diversos níveis do de-
“eu” com os seus semelhantes. Daí o fato do “eu” ser sem- senvolvimento. Essas identificações vão sendo sintetizadas
pre uma espécie de outro interiorizado integrado à imagem e integradas como um amálgama, formando a imagem que
que vejo no espelho, somado ao que penso e sinto de mim. a pessoa tem de si, sendo que este modo de experienciar
A passagem do amor incondicional que tudo aprova e o mundo interno é conduzido através do desenvolvimento e
narcisisa a criança, para o condicional, em que os pais es- no decorrer de toda a vida.
peram uma imagem do filho que ele desconhece, gera ten- Na adolescência, os hormônios deflagram alterações
sões e inseguranças, trazendo consequências para a sua cerebrais que levam a alterações físicas, comportamentais,
autoimagem e o reconhecimento das próprias limitações. psíquicas, sexuais e sociais tão acentuadas que promovem
Entre os seis e os dez anos de idade, a criança entra uma crise de identidade. Em apenas três anos, o adolescen-
num período de latência, em que o interesse antes centra- te adquire de 20% a 25% da estatura e 50% da massa cor-
do nas figuras parentais desvia-se para o aprendizado e poral definitiva, ou seja, se vê em média 30 kg mais pesado
para as amizades. Gradativamente, desenvolve-se um con- e de 30 cm a 50 cm mais alto do que era.
tato cada vez maior com o mundo externo e suas relações A imagem corporal deixa de corresponder ao antigo re-
ampliam-se tanto qualitativa quanto quantitativamente. flexo no espelho e, diante deste estranhamento, o adoles-
A vivência interna é profundamente dependente da cente precisará realizar um profundo processo de adapta-
experiência com o mundo exterior, e este processo contí- ção para ajustar-se a esta nova realidade corporal, que traz
nuo de projeção do mundo interno no exterior e introjeção consigo reverberações identitárias, tanto no plano subjetivo
desses aspectos modificados pela relação do sujeito com quanto no social.
o meio, contribui para a maneira pela qual o desenvolvimen- Ao final da adolescência, a imagem pessoal é caracte-
to da percepção dos mundos interno e externo vai sendo rizada pela avaliação global que fazemos de nós próprios e
construído. A experiência que o sujeito tem de si é fruto da baseia-se na integração de uma série de fatores, tais como:
interação que ele estabelece com o meio e gera o senso de a aparência física, a capacidade intelectual, o que possuí-
unidade dentro de uma existência contínua, que é denomi- mos em termos de recursos internos e materiais, os víncu-
nado de identidade. los afetivos, os valores culturais, a sexualidade e o reconhe-
cimento dos outros.
A adolescência de ambos os sexos realiza um tortuoso
processo de separação entre pais e filhos dando origem

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 41


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

a uma pessoa sexuada, desejante e dependente de que


alguém a queira. Neste sentido, a autoimagem desempe-
nha um papel muito importante para que o sujeito sinta-se
capaz de despertar o desejo e o amor alheios. Apesar do
esforço para estabelecer uma certa estabilidade, espera-se
que nesta etapa, o jovem perceba que a autoimagem possui
um valor simbólico e, portanto, mutável e flexível.
Estreitamente ligado à formação dos símbolos, encontra-
se o campo da estética e a representação do conceito do bia um reflexo de temor ou um rasgo de agressividade nos
belo. O belo, neste sentido circunscrito, é a manifestação olhos do outro, isso levava a tentar prever a necessidade
de todas as qualidades da personalidade incluindo a beleza de uma reação de ataque, fuga ou aproximação com vistas
a uma colaboração. Era uma questão de sobrevivência. E a
física, ou seja, é um conceito bastante amplo que supera
confiança ou o receio podia ser favorecido pela compara-
o que é simplesmente bonito. Assim, é importante que o
ção com similaridades ou pela lembrança de episódios an-
jovem amplie sua visão e inclua todas as suas qualidades teriores. No decorrer dos séculos, a experiência acumulada
na percepção da imagem pessoal. Isso não desmerece a foi sendo transmitida através das gerações.
beleza física, mas a coloca como um dos fatores que con- Antes de conhecer uma pessoa, o outro só tem a sua
tribui para a formação da imagem pessoal, assim como imagem como referência. É o impacto dessa imagem e,
todas as esferas da inteligência, a afetividade, o caráter, a principalmente, de seu rosto, que fará com que ele registre
uma impressão positiva ou negativa a seu respeito. A per-
empatia, a criatividade, a sensibilidade, a integridade, a so-
cepção é instantânea e, vários fatores, muitos deles subje-
ciabilidade, a capacidade de amar, a ética etc. Enfim, todo
tivos e inconscientes, combinam-se para fazer com que a
o conjunto de qualidades que fazem de cada ser humano pessoa processe a primeira impressão a respeito do outro.
um universo particular. São naqueles instantes iniciais em que se estabelece o pri-
meiro contato, que um sujeito abrirá ou fechará as portas
3.2 O impacto da primeira impressão para conhecer o outro mais profundamente. Este é um pro-
O desejo de prognosticar o interior segundo o aspecto cesso emocional e não racional. Acreditamos naquilo que
externo do outro é tão antigo quanto a própria humanidade, vemos e, apesar dos órgãos dos sentidos enganarem-se,
pois entre os homens primitivos, quando um sujeito perce- a percepção é cognitivamente impenetrável, ou seja, ela é
imune à correção intelectual. Um exemplo disso são as gra-
vuras do holandês Escher MC que criam efeitos paradoxais
e as ilusões de óptica. Há desenhos que nos dão a impres-
são de movimento e, apesar de racionalmente sabermos
que estão imóveis, podemos afirmar, categoricamente, que
eles se movimentam. Mesmo se o desenho for desmembra-
do e suas partes reunidas de forma a esclarecer o fenôme-
no, curiosamente a ilusão não se dissipa.

3.3 O rosto e a identidade


O corpo e o psiquismo são duas faces da mesma rea-
lidade, visto que o ser humano, como um ser total, intera-
ge sincronicamente. Por esta razão, devemos estudar as
relações entre a forma do rosto e seus elementos com a

42 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

psiquê de forma integrada, pois o todo supera a soma das


partes. Ao conhecermos as relações entre a mente e o cor-
po, desenvolvemos o autoconhecimento e a compreensão
dos outros, melhorando as relações interpessoais.
A face é a matriz da identidade e, como a maioria dos
receptores sensoriais, localiza-se próximo ao rosto; ele se
torna o portal de entrada e saída entre a interioridade e o
meio. Como os nervos que controlam os movimentos faciais
e fazem regressar as sensações a partir dos movimentos
faciais ao cérebro vão diretamente do cérebro ao rosto sem
passar pela medula espinhal. Essas ligações nervosas são
mais curtas e, portanto, mais rápidas na transmissão da
mensagem nervosa devido à proximidade entre a face e o
cérebro. Por conseguinte, fatos psíquicos são quase simul- 3.4 Personalidade
tâneos aos físicos, tornando a fisionomia uma fonte muito A palavra personalidade deriva do vocábulo persona e
rica de informações a respeito do sujeito e de sua interação refere-se às máscaras usadas pelos atores de teatro na
com o meio externo. Grécia antiga. Este termo comporta o sentido da variedade
Paul Elkman (1980) estudou o reconhecimento das emo- de papéis desempenhados ao longo da vida, em diferentes
ções nas expressões faciais e constatou que movimentando situações, além da interface entre a própria pessoa e o am-
os músculos do rosto com a expressão de felicidade, após biente que a cerca. A persona tem a peculiaridade de reco-
algum tempo, os sujeitos sentiam felicidade e movimentando brir o rosto, protegendo-o, escondendo-o e até misturando-
os músculos do rosto com a expressão de aborrecimento, se a ele, ao mesmo tempo em que revela e apresenta seu
depois de algum tempo, os sujeitos sentiam-se aborrecidos. portador. Assim, a personalidade mostra uma combinação
Quando solicitamos que uma pessoa responda com sin- intersubjetiva complexa e única, tal qual uma impressão di-
ceridade ou falsidade, microexpressões revelam se ela está gital psíquica.
falando a verdade ou mentindo, por mais que tente esconder Desde os tempos antigos, questões relativas à persona-
ou disfarçar o que realmente está pensando e sentindo. lidade ocupam a mente do homem. Buscamos desenvolver
Muitas vezes, o corpo contradiz as palavras, pois aquele sistemas capazes de descrever, mensurar e qualificar a
revela as emoções enquanto estas revelam os pensamen- personalidade. Muitos tentaram classificá-la, sem encon-
tos. Como nem sempre temos consciência ou queremos trar terminologias que abarcassem todos os seus matizes
que os outros saibam de nossas reais emoções, é conve- e nuances. Ao longo dos séculos, teorias surgiram e deba-
niente confiarmos mais no que o corpo revela do que as pa- tes sobre o tema passaram a ser travados nos campos da
lavras dizem. Psicologia, Filosofia, Sociologia e Medicina.
A forma é um processo e, como tal, não pode ser vista Esses questionamentos são uma tentativa de explicar
como uma unidade estática. Ela é o resultado da informa- por que, apesar da essência do ser humano ser a mesma,
ção que a anima e do que é duradouro. A forma do rosto cada um se discrimina e elabora de forma tão particular os
expressa o que é estrutural em termos de personalidade, e aspectos de sua história, tornando-se um ser humano único e
as áreas maleáveis da face expressam a dinâmica da perso- diferente de todos os demais, com qualidades específicas que
nalidade da pessoa. formam seu caráter e sua identidade pessoal. Tais caracte-
rísticas são uma combinação de fatores genéticos, biológicos,
psíquicos, cognitivos, familiares, culturais, sociais e ambien-
tais. A formação da personalidade constitui-se e diferencia-se
pela resultante da interação de todos esses fatores com a
maneira particular que cada indivíduo combina essas carac-

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 43


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

terísticas nos vínculos afetivos e na interação com o ambiente


dentro do contexto de sua história de vida.
Apesar dos aspectos estruturais da personalidade con-
solidarem-se aos 21 anos, os aspectos dinâmicos permane-
cem em processo de desenvolvimento constante pelo resto
da vida, em função da relação do sujeito com o meio. A maio-
ria dos aspectos da personalidade são inconscientes, razão
pela qual muitas vezes precisamos do auxílio de testes psico-
lógicos para avaliá-la. As técnicas projetivas são considera-
das atualmente pelos expoentes na área de Psicodiagnósti- rosto registra a memória da vida e de como a vivemos, pois
co como as mais eficazes em revelar os aspectos ocultos e é no rosto em que se manifestam todos os aspectos da per-
latentes da personalidade. sonalidade. O formato do rosto e seus elementos, as linhas
de expressão, o grau de ativação das estruturas, o equilí-
3.5 Personalidade e identidade visual brio e a harmonia das mesmas, as proporções e o grau de
“Quando tomo uma decisão de pequena importância, integração e interação delas denotam fisicamente a manei-
sempre considero uma vantagem ponderar sobre todos os ra de ser de cada um. Por exemplo: uma pessoa saudável,
prós e os contras. Porém, em assuntos vitais, como a es- feliz consigo mesma e satisfeita em seus relacionamentos,
colha de uma companheira ou de uma profissão, a decisão tende a projetar sua felicidade na realidade, demonstrando
deve vir do inconsciente, de algum lugar dentro de nós mes- uma atitude ativa e confiante, o que no rosto manifesta-se
mos. Nas importantes decisões da vida pessoal, penso que através de olhos brilhantes e vivazes e do sorriso aberto e
devemos ser governados pelas mais profundas necessida- com os cantos inclinados para cima, chegando a provocar
des interiores de nossa natureza” (Sigmund Freud). a formação de algumas rugas ao redor dos olhos. Com o
O ser humano, além de ver e ser visto, pode se ver, tempo, as pessoas tenderão a vê-la e tratá-la como alguém
olhando a si mesmo no espelho. Seu rosto revela e oculta de bem com a vida e, essa pessoa, a cada vez que se olhar
aspectos de sua personalidade, tanto para si quanto para os no espelho e vir aquela figura realizada ou se relacionar
outros. A personalidade é criada desde os primórdios do de- com alguém que a encare desta forma, reintrojetará uma
senvolvimento e vai sendo transformada ao longo dos anos. figura ainda mais positiva e se sentirá melhor do que antes,
Cada modificação na imagem afeta a pessoa psicologi- criando um círculo virtuoso.
camente, porque altera o modo que ela se vê e é vista e o Os aspectos negativos da personalidade nada mais são
que revela e oculta de si, influindo em seu comportamento e do que o mau uso ou o desequilíbrio de aspectos positivos.
na sua relação com o mundo externo. Ao mesmo tempo, o Um bom exemplo disso é a agressividade. Se bem utilizada,
ela pode ser extremamente construtiva, no sentido de levar
o indivíduo a lutar por seus objetivos, levando-o a competir
saudavelmente de forma a superar suas dificuldades, além
de ser um importante fator na sexualidade, na colocação
de limites e, por conseguinte, na preservação da vida física
e mental. No entanto, se a agressividade estiver muito exa-

44 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 3
Identidade, personalidade e sua relação com a imagem

cerbada poderá gerar violência e explosividade. Se estiver


muito reduzida ou reprimida pode tornar a pessoa passiva,
incapaz de se defender, além de poder desencadear trans-
tornos de humor e de sexualidade.
Também é preciso observar os mecanismos de compen-
sação com os quais o sujeito conta para se equilibrar. Por
exemplo: um sujeito muito impulsivo pode valer-se de vários
aspectos de maior ou menor grau de desenvolvimento para
compensar esta característica, tais como: o autoconheci-
mento e controle consciente das expressões de afeto de
forma madura, juízo crítico elevado, reduzida disponibilidade
para agir e submissão às normas e padrões sociais. Caso
não disponha desses recursos, muitos destes mecanismos
compensatórios podem ser desenvolvidos ao longo da vida, Muitas vezes, quando uma mudança da imagem revela
pois fazem parte dos aspectos dinâmicos da personalidade uma característica que estava oculta, o sujeito pode não sa-
do indivíduo. ber lidar com tal aspecto de sua personalidade, razão pela
Algumas pessoas se escondem atrás de imagens nega- qual se protegia dele, ocultando-o de si e dos outros. Caso
tivas ou se apegam a imagens de um passado em que se não disponha de nenhum mecanismo compensatório para
sentiam mais seguras ou felizes, mas que não corresponde lidar com sua dificuldade esta alteração pode causar danos
a sua realidade atual. Há ainda, pessoas que escondem as- à sua vida. Portanto, é preciso ter cautela na mudança da
pectos importantes da personalidade ou revelam uma iden- imagem, pois apesar de afetar o comportamento e a auto-
tidade falsa, outras buscam compensar sentimentos de infe- estima, ela não tem o poder de alterar a estrutura da per-
rioridade através da imagem, em uma tentativa de agradar sonalidade de ninguém. O mais indicado é orientar o sujeito
o outro ou adequar-se ao meio externo. Mesmo sendo muito na construção de uma identidade visual que revele sua real
“adequadas” ou seguindo as tendências da moda, estas pes- estrutura de personalidade, possibilitando que ele vivencie
soas não souberam criar uma identidade própria e, por isso, plenamente suas qualidades e amenize suas dificuldades,
não se veem como indivíduos autônomos e autênticos, o que através de alterações nos mecanismos compensatórios ne-
se expressa através de uma imagem incongruente com sua cessários, expressando, desta forma, os melhores aspectos
verdadeira personalidade. de sua verdadeira identidade.
“O Visagismo ensina o profissional a ler a imagem da pes-
soa, o que cada linha, formato, proporção e cor expressa, e
como afeta as pessoas emocional e psicologicamente. Ensi-
na como o profissional pode ajudar seus pacientes a estabe-
lecer uma imagem pessoal que os identifiquem positivamen-
te para o mundo e para si mesmos, com um comportamento
em sintonia com o melhor de si” (Phillip Hallawell).

3.6 Referências
1. Spitz RA. O primeiro ano de vida. Martins Fontes; 1983.
2. Hinshelwood RD. Dicionário do Pensamento Kleiniano. Artes Médicas; 1992.
3. Freud S. Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). In: Obras Completas. Amorrortu 7;1993.
4. Gabarre J. Morfopsicologia: o rosto e a personalidade. A Esfera dos Livros; 2009.
5. Dunker CIL. O olhar adolescente: corpos em transição. Ediouro; [s.d.].
6. Chauí M. Convite à Filosofia. Editora Ática; 2004.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 45


Capítulo 4
Morfos

morfos Bráulio Paolucci


4.1 A função define a forma
(funções mastigatória e comunicativa) O estudo das formas de maneira geral mudou com o ad-
O termo morfologia tem sua origem na língua grega, vento da teoria de Louis Sullivan (1856-1924), consagrado
sendo que o prefixo morfos significa forma e logos signi- arquiteto americano, considerado “pai” da Arquitetura ame-
fica estudo; portanto, a tradução precisa do termo seria ricana moderna, que trabalhou na moderna escola de arte
estudo das formas. Esse termo abrange várias áreas do Bauhaus2 e desenvolveu uma teoria sobre o estudo das for-
conhecimento humano, entre elas, a linguística. No estudo mas que mudaria o mundo do design e arquitetura. Segundo
da estrutura, formação e classificação das palavras, a ma- ele a função de um objeto define sua forma. Esse conceito
temática e a biologia, essa no estudo da forma de um ser hoje nos parece óbvio e simples demais, mas provocou gran-
vivo ou parte dele. de mudança no universo do desenho de objetos e arquitetu-
Na Odontologia, morfologia é o estudo das formas que ra. Pensava-se mais na estética dos projetos e deixava-se a
compõe o sistema estomatognático, ou seja, o formato de funcionalidade para segundo plano até que Sullivan mudou a
lábios, língua, músculos, estruturas ósseas de suporte, gen- maneira de se pensar a arquitetura, o desing e a comunica-
giva e dentes .
1
ção visual com seu conceito de funcionalidade3-4.

Foto: sxc.hu; Ilustração: Eder Max


Louis Sullivan

46 • V
Visagismo
isagismo -- a
a arte
arte de
de personalizar
personalizar o
o desenho
desenho do
do sorriso
sorriso
Capítulo 4
Morfos

Na natureza a função está na base do desenho anatô-


mico de cada ser vivo. A evolução tem premiado, ao longo
de milhões de anos, características físicas que tragam
consigo alguma vantagem de sobrevivência e reprodução
para determinada espécie. A evolução se prestou a sele-
cionar aquelas formas mais apropriadas a determinadas
funções num universo de formas possíveis. Esse processo
nunca se encerra, sendo que variações ambientais exigem
novas formas para um melhor desempenho e, assim, o
processo está sempre em curso enquanto houver mu-
danças. A forma orgânica será sempre variável de acordo
com a necessidade5.
A evolução seleciona desenhos de formas mais adapta-
dos à realidade, ou seja, mais funcionais. E essas formas são
passadas para futuras gerações ao mesmo tempo em que
vão sendo aperfeiçoadas. Para a natureza a forma física ideal
desempenha determinada função com maestria, mínimo des-
Foto: sxc.hu

gaste físico e gasto energético. Exemplos disso não faltam ao


mundo natural, como o desenvolvimento de asas para voar,
caudas e barbatanas para nadar e uma inesgotável variedade Analogias de formas entre avião e pássaro,
torpedo e peixe barracuda. Formas perfeitamente
Fotos: istockphotos

de formas perfeitamente desenvolvidas para a execução de


adaptadas à sua função.
tarefas que garantissem a sobrevivência e consequente re-
produção dos indivíduos de cada espécie.

VVisagismo
isagismo - -aaarte
artede
depersonalizar
personalizaroodesenho
desenhodo
dosorriso
sorriso•• 47
Capítulo 4
Morfos

Incisivos: função de corte e incisão como uma pá. Caninos: função de perfuração e dilaceração, Molares: função de masseração
como lança. de alimentos como o pilão.

No ambiente da Odontologia, observam-se grupos dentá-


rios que se desenvolveram em formas específicas de acordo
com sua função. Por exemplo: incisivos com formato de pá se
prestam a cortar, assim como caninos em forma de lança são

Fotos: istockphotos
apropriados a dilacerar, enquanto molares e pré-molares com
mesas oclusais são excelentes na masseração de alimentos6.
Há de se considerar que assim como os dentes, outros elemen-
tos como ossos, gengiva, crânio e face se desenvolvem conjun-
tamente buscando a excelência da função. nótipo periodontal delgado, com fina tábua óssea de suporte
A base óssea, os dentes, assim como o fenótipo periodon- dental e dentes mais delicados7-8.
tal e a estrutura muscular possuem estrita relação entre si Animais mais desenvolvidos como os mamíferos geralmen-
de tal forma que numa face retangular (musculatura forte), te apresentam arcos dentários em heterodontia ou anisodon-
com mandíbula larga e projetada para anterior, é comum se tia, ou seja, grupos dentários diferentes entre si como incisivos,
encontrar bom suporte alveolar e fenótipo periodontal espes- caninos, pré-molares e molares. Já na maioria das demais es-
so com larga faixa de gengiva queratinizada, dentes robustos pécies, como peixes e répteis, a isodontia é mais comum, com
e com raízes longas para serem capazes de suportar e guiar arcos dentários constituídos de dentes com o mesmo formato,
essa mandíbula em suas excursões de lateralidade, protusão na maioria das vezes, pontas de lança em tamanhos variados
e mastigação, enquanto que em faces longelíneas e delgadas em todo o arco1. Em arcadas dentárias de mamíferos de gru-
Foto: sxc.hu

com mandíbula pouco marcante, geralmente encontra-se fe- pos alimentares específicos, como carnívoros, encontram-se
dentes com formas parecidas entre si, formas cônicas ou em
lança. Como caninos são comuns nesses animais e mesmo
a tendo grupos dentais diferentes como incisivos, caninos e mola-
res, ambos apresentam uma forma muito parecida adequada
à função mastigatória que lhes cabem.

(a) Crânio de primata com dentes


Os dentes humanos apresentam-se com variados for-
em heterodontia e (b) Crânio de matos de acordo com variadas funções em detrimento de
réptil com dentes em isodontia. uma alimentação onívora, ou seja, uma alimentação variada
b com grupos de alimentos diversos, como sementes, carnes,

48 • V
Visagismo
isagismo -- a
a arte
arte de
de personalizar
personalizar o
o desenho
desenho do
do sorriso
sorriso
Capítulo 4
Morfos

frutos, verduras etc. No entanto observa-se uma grande va-


riedade de formas dentro de um mesmo grupo dentário em
nossa espécie, como incisivos, e essas variações múltiplas
de forma não são explicáveis pela função mastigatória, que
no caso de incisivos seria o corte, pois todas as formas en-
contradas de incisivos se prestam a cortar. O que estaria
por trás dessas variações de forma? Provavelmente outra
função, a comunicativa (Figuras 1a e 1b).
Não apenas os incisivos apresentam variações de forma
não explicáveis pela função mastigatória, mas também os
demais dentes, gengiva, lábios, estrutura óssea, muscular e
tegumentar, só para ficar no ambiente odontológico.

a b

Figuras 1
Formatos distintos de incisivos: (a) Formato oval e (b) Formato retangular.

Assim como dentes e gengiva, ossos, cartilagens, múscu-


los e pele se relacionam para modelar a face, que pelo for-
mato geral e de suas feições, está intimamente relacionada
ao senso de autoimagem de cada indivíduo, sendo considera-
da como a sede da identidade visual do ser humano. Traços
de personalidade podem estar expressos na configuração
visual da face e do sorriso.
O Visagismo se propõe a estudar o significado expressivo
das formas e sua relação com aspectos da personalidade.
Para o visagista uma forma qualquer nunca se encerra em si.
Através da investigação das linhas ou arquétipos básicos de

VVisagismo
isagismo - -aaarte
artede
depersonalizar
personalizaroodesenho
desenhodo
dosorriso
sorriso•• 49
Capítulo 4
Morfos

sua configuração é possível conhecer o que essa forma está


comunicando visualmente de maneira subliminar, ou seja, a re-
lação entre sua morfologia e sua função comunicativa.

4.2 Sorriso e comunicação visual


O sorriso é, desde os primórdios da humanidade, uma 4.3 Sorriso e expressão emocional
fortíssima maneira de se comunicar, expressar sentimen- Entende-se por sorriso, a entidade visual representati-
tos, seduzir, aproximar, convencer, e faz isso sem precisar va do ato de sorrir. Dentes, gengiva, lábios e músculos em
de palavras. Isso é o que se chama de comunicação não- ação conjunta comunicando um estado emocional. Apenas
D. Pedro I verbal, ou seja, a capacidade de se expressar através de seres humanos, de todos os animais existentes, têm essa
Imagem retirada do gestos e/ou imagens sem o uso do artifício da linguagem capacidade. Quando se diz “sorriso”, a maioria das pessoas
site do museu imperial,
verbal . Na situação específica do sorriso esse tipo de co-
9
o associam àqueles sorrisos da mídia, estampados na maio-
Petrópolis/Rj.
municação se dá de duas maneiras principais: a expressão ria das capas de revistas de moda e beleza, com pessoas
de sentimentos e emoções através da ação muscular (diver- expressando um estado de espírito de alegria e felicidade. No
sos tipos de sorrisos) e a expressão visual dos elementos entanto o sorriso, juntamente com os demais elementos de
constituintes do sorriso através de suas formas ou mais de- expressão facial, é capaz de comunicar quase todos os es-
talhadamente através do significado arquetípico das linhas tados emocionais e sentimentais10-11 como simpatia, amor,
e cores de sua constituição. raiva, vergonha, sarcasmo, tristeza, felicidade e desconfiança
(Figuras 2). A interpretação visual da expressão do sorriso é
feita pelo cérebro do observador de maneira emocional, ou
seja, é instantânea e involuntária, representando nas mais
diversas expressões do sorriso nada mais do que símbolos
visuais arquetípicos.

Ana Carolina Lima (atriz)


Imagem - Marcela Barros
Figuras 2
Boca e expressão visual.

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desenho do
do sorriso
sorriso
Capítulo 4
Morfos

A representação do sorriso com dentes saudáveis à mos-


tra é um fato recente e exclusivo da sociedade moderna. Ao
longo da história da humanidade, o ser humano era repre-
sentado em pinturas e esculturas sempre com o sorriso con-
tido, sendo que nas raras imagens em que se representava
o sorriso, era como atributo negativo, significando doença,
morte ou loucura. Qualquer exposição de dentes era conside-
rada vulgar. A boca sempre representou para o ser humano
uma fonte de prazer e sensualidade12-13.
Um exemplo marcante seria o famoso sorriso de Mona nea, que geralmente ocorre automaticamente frente à deter-
Lisa, em que ela fora representada por Da Vinci com um sor- minada situação. É incontrolável e arrebatador, geralmente
Sorriso enigmático
riso discreto e enigmático14. concomitante à contração de mais músculos de expressão de Mona Lisa.
Há dois tipos principais de sorriso: o autêntico ou emo- facial, como os orbiculares dos olhos. Já o sorriso social é
cional e o sorriso social ou voluntário15. O sorriso autêntico produzido pelo córtex cerebral (parte pensante), é consciente,
corresponde a uma reação emocional involuntária instantâ- produzido de acordo com a situação social, não expressando
emoções ou sentimentos verdadeiros, mas tem papel impor-
tante na harmonização de relações interpessoais (Figuras 3a
e 3b). É um forte elemento no processo de socialização e, cer-
tamente, facilitou aos seres humanos a vida em comunidades
formadas por grande número de indivíduos. Tende a reforçar
a imagem de cordialidade, gerar simpatia num primeiro en-
contro e facilitar acordos socioeconômicos16.
Ana Carolina Lima (atriz)
Imagem - Marcela Barros

a b

Figuras 3
(a) Sorriso social e (b) Sorriso autêntico com envolvimento de musculatura facial complementar como os orbiculares dos olhos.

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Capítulo 4
Morfos

Para os profissionais da Odontologia, o sorriso pode ser


classificado, segundo a maneira como é observado, como
estático ou dinâmico. Sorriso dinâmico é aquele observado
rapidamente, ao vivo, nas mais variadas situações do dia a
dia, enquanto sorriso estático é aquele observado em foto-
grafias e pinturas, de tal forma que sua imagem é imóvel.
Na interpretação do sorriso dinâmico, outros elementos
visuais da face entram em cena, afirmando ou refutando
a mensagem passada pelo sorriso. O profissional de Odon- sorriso o quanto de estruturas dentais e gengivais são nor-
tologia vai valer-se exaustivamente da análise do sorriso, malmente expostos em situações reais. No entanto, profis-
tanto estático (fotos) quanto dinâmico (filmes), com o obje- sionais que trabalham diariamente com imagens em seus
tivo de identificar possíveis causas de insatisfação estética, consultórios sabem o quanto é difícil capturar em suas len-
como também possibilidades restauradoras na elaboração tes esse tipo de sorriso. Assim, é mais fácil seguir um pro-
do plano de tratamento. tocolo fotográfico que utilize o sorriso voluntário como base
No trabalho clínico é importante ao profissional desen- para uma análise dentária estética ou utilizar a filmagem
volver estratégias para conseguir de seus pacientes sorri- como substituto da fotografia, onde se consegue, através
sos autênticos, pelo fato de poder se observar nesse tipo de do estímulo adequado do paciente, capturar situações de
sorriso autêntico com mais facilidade. E, então, a partir do
congelamento de imagens, conseguir fotografias do sorriso
emocional, além de poder observar o sorriso dinâmico em
ação17-19 (Figuras 4a a 4d). Na avaliação dinâmica do sorri-
so pode-se observar as relações dinâmicas entre dentes e
lábios, além de analisar suas relações na fala.

a b c d

Figuras 4
Protocolo fotográfico facial frontal para planejamento proposto por Coachman.

52 • V
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desenho do
do sorriso
sorriso
Capítulo 4
Morfos

4.4 Estruturas do sorriso e expressão visual


O terço inferior facial compreende desde a base do na-
riz até a base do mento, abrangendo toda parte inferior da
face (Figura 5). Nele encontram-se estruturas como maxila,
mandíbula, boca – incluindo lábios e estruturas intraorais –,
além de toda a musculatura e tecidos componentes do sis-
tema estomatognático. Do ponto de vista morfopsicológico,
é nesse terço que se manifestam, através de variadas for-
mas, aspectos pessoais como comunicação, sexualidade,
afetividade, vontade e agressividade.
A boca é a estrutura dominante nesse terço, sendo uma
das áreas faciais mais observadas pelo olho humano em suas
excursões pelo rosto humano20-22. Compreende-se a boca
desde lábios, limite externo, até a orofaringe, limite interno.
É a estrutura relacionada à comunicação e expressão, além
de estar correlacionada a sexualidade e afetividade. A sua
comunicação se dá de duas maneiras, sendo uma a comu-
nicação verbal e outra a comunicação não verbal. A primeira
forma de comunicação se dá através da expressão de sons
pela articulação de lábios, língua e demais músculos periorais
Figura 5
contra dentes e processos alveolares dos ossos componen-
Divisão da face em terços - terço inferior.
tes do terço inferior. Já a segunda maneira de comunicação
se dá de forma estática através de um conjunto de signos emocional do sorriso, como sorriso triste, alegre, tímido, so-
e símbolos componentes da própria estrutura oral, tal como cial, malicioso, envergonhado, de desprezo etc. Essas estru-
forma dos lábios, formas dentais e sua disposição nos arcos, turas tanto estáticas quanto dinâmicas são compostas de
especialmente dos seis elementos anterossuperiores, forma linhas, ângulos, formas e cores que são interpretadas de ma-
dos arcos dentários etc. Também a comunicação não verbal neira emocional.
se dá de forma dinâmica através das diversas maneiras de O objetivo de estudo do Visagismo é a comunicação não
contração labial desenvolvendo muitas formas de expressão verbal estática, pois conhecendo-se as diversas maneiras
de expressão não verbal, as formas e símbolos por trás de
cada tipo de expressão, o ciurgião-dentista será capaz de
construir desenhos de reabilitação com significado próprio
que deverá estar de acordo com a vontade de expressão e
identidade do paciente avaliado na consultoria (ver Capítulo
Consultoria), isso trará certamente mais satisfação e reali-
zação pessoal a ambos.
O sorriso, como estrutura visual, também é constituí-
do por várias linhas, ângulos, formas e cores, que têm ex-
pressão própria de acordo com a simbologia arquetípica,

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Capítulo 4
Morfos

sendo de responsabilidade da equipe restauradora a com- 4.4.1 Lábios


preensão e o domínio desses elementos para intervir com Os lábios têm função comunicativa importante no sor-
segurança e previsibilidade em suas reabilitações (Figura riso, e exercem essa função tanto por seu formato quanto
6). Na análise do sorriso estático, vários elementos da sua pela sua espessura e amplitude de abertura no sorriso. Re-
composição poderão ser minuciosamente avaliados pelo presentam a moldura do sorriso. Seu desenho, volume e to-
profissional e o significado comunicativo de cada elemento nicidade exercem grande influência nas exposições dental e
ser avaliado, tais como: forma dos lábios, amplitude da boca gengival, com suas consequentes expressões visuais. A re-
ao sorrir, linha dos zênites gengivais, linhas das ameias in- lação entre lábios superior e inferior representa importante
cisais, formas dentais, posicionamento dental 3D, relação elemento na investigação de sua comunicação não-verbal.
de dominância no arco ou peso visual, plano incisal, formato Expressam emoções pelas mais diversas maneiras de con-
das incisais etc. tração muscular, sem que para isso sejam necessárias
palavras, mas também a sua própria estrutura estática co-
munica, de maneira que lábios finos com cantos da boca ca-
ídos (Figura 7a) expressam autocontrole, submissão e tris-
teza, enquanto lábios grossos (Figura 7b) com amplitude de
sorriso regular (até segundo pré)23 expressam autoridade,
força temperamental, sensualidade latente, materialismo.
Lábios em forma de cupido (Figura 8) expressam doçura,
grande afetividade e cuidado na expressão verbal.
A estrutura labial pode apresentar variada tonicidade
numa população, diversificando-se entre as raças, os sexos
Figura 6
e a idade; a quantidade de exposição gengival está direta-
Diversas linhas configurantes intraorais do desenho do sorriso.
mente relacionada a essa estrutura. A exposição gengival

b
a

Figuras 7
(a) Lábios finos com cantos da boca levemente caídos expressando tristeza, reserva e/ou envelhecimento
e (b) Lábios volumosos, expressando sensualidade, vigor físico e jovialidade.

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Capítulo 4
Morfos

pode ser classificada como alta ou linhas do sorriso alta,


média ou baixa, (linha do sorriso baixa), Figuras 9a a 9c.
Lábios regulares, sendo que o lábio superior representa
metade ou 1/3 do lábio inferior, geralmente exibem gran-
de amplitude de sorriso (além de segundo prés)23. E grande
exposição gengival (Figuras 10a e 10b), geralmente estão
relacionados e extroversão, simpatia e muita comunicação
verbal. Já lábios espessos, de desenho horizontal, de modo
geral estão associados a baixa exposição gengival, e a ca-
Figura 8
racterísticas comunicativas de cordialidade, tranquilidade e
Lábios em forma de cupido expressando feminilidade e delicadeza.
timidez (Figura 11).

Figuras 9
(a) Linha do sorriso alta;
(b) Linha do sorriso
a b c média; e (c) Linha
do sorriso baixa.

Figuras 10
Sorriso amplo,
com grande exposição,
demonstrando grande
expressão comunicativa,
transparência emocional
a b
e abertura social.

Figura 11
Sorriso largo
e horizontalizado.

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Capítulo 4
Morfos

A forma e tonicidade dos lábios também es-


tão associadas à quantidade de exposição den-
tal em situação de repouso muscular com suas 4.4.2 Dentes anterossuperiores
consequentes conotações comunicativas. Por Os elementos dentais anterossuperiores se-
exemplo: quanto mais se expõe incisivos centrais rão o foco dos estudos do visagismo dental, por
superiores, menor tende a ser a tonicidade mus- se tratar, segundo a literatura odontológica, da
cular labial, expressando características visuais região oral que concentra mais informações co-
relacionadas a jovialidade, dinamismo e entu- municativas não-verbais. Esses elementos vão de
siasmo, enquanto a ausência de exposição visual canino superior esquerdo a canino superior direi-
desses elementos dentais relaciona-se a alta to- to, passando pelos incisivos laterais e centrais
nicidade muscular, a idade avançada, conserva- (Figura 12).
dorismo e comportamento reservado20,24-25. Os incisivos centrais são os elementos den-
tais mais importantes em relação à comunicação
não-verbal pela posição de destaque que ocupam

Figura 12
Dentes componentes do
segmento anterossuperior
(de canino esquerdo a
canino direito).

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do sorriso
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Capítulo 4
Morfos

na boca, expressando informações gerais acerca


de nossa personalidade20, 26-27. Seu formato perce-
bido10-13 é determinado pela área que reflete a luz
diretamente para a frente, ou seja, a área compre-
endida entre suas cristas de reflexão de luz mesial,
distal, sua cervical e sua incisal28, formando a “si-
lhueta de Pincus29” (Figura 13).
Os centrais geralmente apresentam formato
básico da coroa trapezoidal1, mas apresentam múl-
tiplas variações de forma, que de acordo com as
linhas predominantes ou símbolo arquetípico final
Figura 13
da forma podem expressar mensagens específi-
Área de reflexão de luz influenciando na percepção da forma do dente.
cas9 (ver Capítulo Composição). De maneira geral,
o seu terço vestibular distal é o principal elemento
de caracterização de forma, mas a sua cervical e importância na caracterização da forma1. Alguns
a sua incisal também têm papel importante nesse estudos associavam a morfologia de centrais com
aspecto; e seu terço vestibular mesial tem menor a forma da face invertida30-33.
Incisivos retangulares e quadrados geral-
mente possuem seus zênites gengivais mais
deslocados para distal que triangulares e ovais.
A forma do contorno cervical exerce grande in-
fluência sobre a percepção da forma de centrais
(Figuras 14a a 14c).

a b c

Figuras 14
A influência do formato dental no posicionamento do zênite gengival: (a) Central retangular e o zênite posicionado para distal
e (b) Central oval e triangular apresentando zênites mais centralizados.

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Capítulo 4
Morfos

Incisivos laterais são dentes que comunicam Caninos são dentes relacionados a ação, agres- muitos pacientes. Portanto, sua expressão visu-
em relação a elementos intelectuais e/ou emo- sividade e dinamismo35. Sua função é indicada pela al de perigo acabou sendo superdimensionada e
cionais da personalidade20. Estão ligados ao ele- forma cônica da coroa, que termina em linhas an- muitos clientes acabam se sentindo incomoda-
mento feminino da psiquê (anima)34. Geralmente gulares inclinadas que formam sua ponta de lança dos com seu aspecto e procuram profissionais
apresentam menos variações de forma que cen- (Figura 16). É um instrumento perfeito para a pe- para fazer sua redução visual. Isso para expres-
trais, sendo que essas variações são principal- netração e, segundo Darwin, penetra mais profun- sarem mais suavidade com sua imagem e me-
mente caracterizadas por sua incisal, contorno damente na carne do que laterais e centrais. Mas nos agressividade, por terem intuitivamente uma
mesial, distal e ângulo incisodistal. No entanto o mesmo autor relata que sua forma perdeu um noção do profundo impacto que uma imagem
sua relação de dominância com os vizinhos (cen- pouco de sua função, pois hoje já não se presta a agressiva gera nos relacionamentos pessoais
tral e canino) e sua posição no arco são impor- dilacerar seus inimigos. em suas várias facetas.
tantes maneiras de expressão visual e devem ser No entanto esse elemento ainda não sofreu Estudos de paleontologia apontam clara-
explorados pela equipe restauradora na persona- com a redução evolucionista e seu volume acaba mente a função agressiva desses dentes, pois
lização de trabalhos (Figuras 15a a 15c). significando um exagero nos tempos atuais para animais que apresentavam alimentação predo-

a b c

Figuras 15
Diferentes tipos de incisais em incisivos laterais e sua influência sobre a percepção da forma nesses dentes.
Foto: istockphotos

O canino e sua expressão visual Figura 16


de agressividade. O canino e sua configuração em formato de lança, adequado a perfurar e dilacerar.

58 • V
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Capítulo 4
Morfos

minantemente herbívora muitas vezes apresen-


tavam caninos volumosos e bem visíveis como 4.4.3 Arco superior
os anomodontes, grandes herbívoros que re- “A morfologia e função da nossa arcada den-
ceberam esse nome em virtude dos enormes tária é bem próxima à morfologia do nosso crâ-
caninos. Esse fato ilustra que mesmo não se nio. As variadas funções comunicativas de nossa
prestando ao corte e dilaceração de alimentos o cabeça e face estão todas encontradas na for-
canino serviria de proteção numa época em que ma de nossa arcada dentária” Jan Hatjó.
grandes répteis carnívoros representavam uma O formato do arco superior geralmente se
ameaça constante para os herbívoros36. relaciona ao formato de nossa face e se apre-
São dentes relacionados ao elemento mas- senta resumidamente em quatro tipos princi-
culino da psiquê (animus), Jung. Assim como os pais, como retangular, oval, triangular e circular
laterais suas variações de forma são menos im- larga. Formas decorrentes da mistura desses
portantes que seu posicionamento no arco e sua tipos básicos são muito frequentes37-39.
relação de dominância com os demais elementos A forma retangular ou quadrada expressa
constituintes da bateria anterossuperior. A ana- força, principalmente por condicionar a um posi-
tomia de seu contorno vestibular, visto de frente, cionamento dental dos elementos anterossupe-
seu contorno mesial e sua incisal representam um riores mais retilíneo (ver Capítulo Composição).
caminho interessante na personalização de reabi- A forma triangular expressa dinamismo, e com a
litações (ver Capítulo Composição). projeção de centrais para anterior sugere impul-
sividade e extroversão. A forma oval alinha bem
os elementos dentais e por esse motivo expres-
sa harmonia, controle, ponderação. Já o formato
circular largo expressa estabilidade, calma, mo-
notonia (Figuras 17a a 17d).

a b c d

Figuras 17
Diferentes tipos de arcos superiores: (a) Retangular; (b) Circular; (c) Oval; e (d) Triangular ou angulado.

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sorriso•• 59
Capítulo 4
Morfos

4.5 Referências

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60 • V
Visagismo
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a arte
arte de
de personalizar
personalizar o
o desenho
desenho do
do sorriso
sorriso
Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Linguagem
visual artística
aplicada ao desenho do sorriso
Bráulio Paolucci
5.1 Composição psicodentalofacial

“Em minha opinião, a arte nada mais é do que o desen- Para Wassily Kandisnky, pintor russo, educado em ale-
volvimento de ideias determinadas, do mesmo modo que mão, precursor da arte abstrata e um dos maiores estu-
na natureza os seres são o desenvolvimento definitivo de diosos sobre os elementos da arte pictória, é necessário
determinados genes.” ao artista compreender a diferença entre os conceitos de
Wassily Kandinsky construção e composição artística. Para ele, a construção
seria a organização racional dos elementos visuais (cores e
O conceito básico da arte é o desenvolvimento de ideias formas). “Construir é estabelecer no espaço, um conjunto
acerca de um tema (ver Capítulo 1 Conceito de Visagismo coerente, compreensível e reprodutível ou repetível”1. Já
Ilustração: Eder Max

e seu Método) e, mais precisamente na arte visual, o de- a composição artística seria a junção de elementos distin-
senvolvimento de uma imagem que expresse a intenção tos (unidades), ora coerentes, ora antagônicos de maneira
de seu autor. Nesse contexto, a compreensão dos varia- harmônica, respeitando os fundamentos de criação visual
dos elementos de construção de imagem é fundamental ao (fundamentos de estética) para traduzir visualmente um
autor para conseguir criar uma imagem que traduza sua conceito ou a intenção do autor1-2.
intenção. Da mesma maneira, a compreensão do conceito No âmbito odontológico, uma organização de elementos vi-
de composição visual o ajudará no processo de criação. suais dedicada a transmitir sensações, emoções e expressar
visualmente características de uma personalidade, requer do
profissional uma investigação mais profunda para determina-
ção “daquilo a ser feito”, e é nesse sentido que o Visagismo
procura colaborar com seu método de consultoria3.
Os profissionais de Odontologia, de certa maneira, traba-
lham com o conceito de arte quando se veem diante de uma
boca, ou melhor, de um indivíduo com suas particularidades,
desejos e necessidades pessoais, e precisa investigar qual
seria a intenção que norteará a construção do trabalho pro-
Wassily Kandisnky tético. Uma vez definida a intenção junto ao cliente, o pro-

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 61


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

fissional se verá diante do desafio da composição, ou seja,


organizar no espaço elementos visuais que traduzam sexo,
idade, personalidade e intenção de expressão do pacien-
te, isso sem abrir mão do respeito às regras de estéticas
dental e dentofacial. Em resumo: seria a criação de uma
composição psicodentofacial4-5. A harmonia ou equilíbrio
entre esses diversos elementos é que dá ao conjunto a be-
leza necessária e que promove o trabalho odontológico ao
patamar de arte6-7.
Na composição psicodentofacial, o profissional se vale-
rá, principalmente, de linhas e formas em sua construção Nessa composição, abordada no Volume I, em relação
para dar expressão ao trabalho. Essa expressão se deverá aos casos sobre dentições naturais (Odontologia restaura-
principalmente à força do conjunto e em menor grau à ex- dora estética), a utilização das unidades visuais escolhidas
pressão de suas unidades constituintes. Isso implica, por pelo aspecto da intenção de expressão do cliente, deverá
exemplo, que o significado geral da composição se deverá, sempre ser utilizada de acordo com a possibilidade que as
especialmente, à custa da resultante final da somatória próprias condições orais pré-operatórias permitirem, dife-
dos valores individuais8. Como mencionado no Capítulo 4 rente das composições mais complexas, como por exemplo
Morfos, a comunicação visual do trabalho reabilitador se em edentados totais, em que o profissional se verá frente
pautará sobretudo nos elementos anterossuperiores e, a uma “tela em branco”, e terá mais liberdade para usar
portanto, atenção especial deverá ser dada pela equipe elementos que o cliente desejar.
restauradora (cirurgiões-dentistas e protéticos) a esse Principais elementos estruturais do sorriso (ou unidades
segmento, não devendo, entretanto, menosprezar os de- orais)7,10-14 em ordem de importância para dar expressão
mais dentes9. à composição: plano incisal, eixos dentais, posicionamento
dental, formas dentais, exposição dental, proporções den-
tais, linhas complementares (Figura 1).

Sorriso e suas linhas/formas configurativas


Plano incisal
Eixos dentais
Linha dos zênites
gengivais
Linhas das ameias
Figura 1 gengivais
Plano incisal, eixos Linha das ameias
dentais, formas dentais, dentais
posicionamento dental, Formas dentais
proporções dentais, linhas Proporção dental
complementares.

62 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.1 Plano incisal


Representa para o segmento anterossuperior, a limi- As principais referências para sua configuração são a
tação do posicionamento das bordas incisais dos incisivos inclinação sagital do plano oclusal e o formato do arco su-
centrais, laterais e caninos. Pode ser configurado segundo a perior, que quanto mais largo, mais se relaciona a um plano
intenção do profissional como ascendente, ou seja, com as incisal retilíneo, enquanto maxilas mais estreitas tendem a
bordas dos incisivos centrais bem projetadas para inferior, apresentar incisivos mais projetados para inferior17 (Figuras
de projeção regular (projeção média), reto ou ainda cônca- 3a a 3c) . Em termos de estética, uma relação de harmonia
vo invertido, sendo esse último visto como antiestético pela ou paralelismo, com a borda superior do lábio inferior quan-
maioria dos profissionais e pacientes; portanto, pouco ou do em sorriso, é considerada mais agradável à maioria das
nunca utilizado em reabilitações8,15-16 (Figuras 2a a 2c). pessoas7,15-18 (Figuras 4a a 4c).

a b c

Figuras 2
Plano incisal: (a) Ascendente; (b) Reto; e (c) Invertido.

a b c
Imagem retirada do livro: Anteriores - A Beleza Natural dos Dentes Anteriores, Teoria,
Prática e Regras Aplicadas na Estética. Autor: Jan Hatjó. Editora Santos; 2008.

Figuras 3
Arcos em variadas
larguras e a projeção
inferior de centrais
correspondentes.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 63


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Um segmento anterossuperior que apresente um plano


incisal reto geralmente será associado a características
masculinas e idade avançada, enquanto planos curvos e
projetados, são associados a características femininas e
joviais21-23 (Figuras 5a e 5b). No entanto, a utilização des-
se elemento é fundamental para dar uma expressão forte,
suave, dinâmica ou estável à reabilitação, independente do
sexo e idade, sendo a intenção de expressão do paciente
um bom indicativo para a correta escolha. Uma vez esco-
lhido o tipo de plano a ser usado, segundo a intenção de
expressão do cliente, ele deverá ser confrontado com os pa-
râmetros preestabelecidos pelas condições orais tais como
forma do arco, linha do lábio inferior e inclinação sagital do

a b c

Figuras 4
Relação lábio inferior – plano i ncisal: (a) Antagônicos; plano oclusal e, só então, a partir da fusão entre a intenção
(b) Paralelos; e (c) Desarmonia de paralelismo. do paciente e o plano ideal, segundo parâmetros estéticos
próprios da arcada em questão, surgirá o plano incisal a ser
usado na reabilitação. O plano incisal deveria ser o primeiro
elemento ou unidade oral a ser determinado na criação da
a1 a2 estrutura da composição psicodentofacial.

5.1.2 Eixos dentais


O eixo dental representa a posição dos dentes na ar-
cada em relação à linha mediana central12 e, em termos
b1 b2
clínicos, o que realmente interessa aos restauradores é a
Figuras 5a e 5b posição visual da coroa dental em uma vista frontal. Em la-
(a) Plano incisal ascendente expressando características mais suaves e femininas e (b) Plano terais e caninos o eixo também exerce influência em sua
incisal reto, mais relacionado a características de força, estabilidade e masculinidade. percepção numa vista lateral24.

64 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Os incisivos centrais são os dentes mais sensíveis em


relação ao posicionamento do eixo pela posição de desta-
que visual que ocupa na arcada, mas sua percepção visual é
tipicamente frontal.
Normalmente os eixos dos dentes anterossuperiores con-
vergem para incisal14,24-28, mas a alteração dos eixos pode re-
Figura 6 sultar em efeitos visuais distintos e o conhecimento dessas va-
Eixos dentais numa arcada natural média geralmente são ligeiramente riações deve ser de domínio do profissional para intervir com
distalizados e convergentes para incisal. segurança e precisão (Figura 6).
Normalmente o eixo dos centrais é ligeiramente posicio-
nado para distal (numa avaliação do sentido mesiodistal),
sendo que a sua alteração trazendo-o para vertical dará ao
desenho do sorriso uma percepção de maior domínio desse
dente24 e uma expressão visual de maior força e estabilida-
de. Quanto mais os eixos dos centrais forem inclinados para
mesial, mais dominância visual será dada a esses dentes
(Figura 7).
Numa vista frontal o eixo coronal dos laterais segue as
mesmas condições dos eixos dos centrais, sendo que quanto
mais se inclina para distal, mais dinamismo será expresso e
quanto mais verticalizado, mais força (Figuras 8a e 8b).
Figura 7
Centrais com seus eixos ligeiramente rotacionados para mesial,
o que lhes confere maior domínio visual.

a b

Figuras 8
(a) Laterais ligeiramente inclinadas para distal ou (b) Posicionadas com eixo retilíneo.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 65


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Os caninos são dentes de profundo impacto comunica-


tivo no desenho do segmento anterossuperior. Numa vista
frontal seu eixo coronal pode variar de inclinado para medial
(torque negativo), vertical e inclinado pra vestibular (torque
positivo). São dentes relacionados à agressão e ação29 e
podem expressar dinamismo e impulsividade, se inclinados
para medial, força e persistência quando retilíneos e calma,
apatia e até comicidade24 quando levemente inclinados para
vestibular (Figuras 9a a 9c).

Figuras 9
Diferentes inclinações de eixos dentários em caninos numa visão frontal: (a) Retos; (b) Inclinados para medial; e (c) Inclinados para a lateral.

66 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Caso 1
Resumo
Paciente LNPY, 30 anos, apresentou-se à clínica in-
satisfeito com a estética de seu sorriso. Em análise facial bordas incisais de seus incisivos centrais apresentavam-se
constatou-se divergência de paralelismo entre eixos dentá- irregulares. Observou-se ainda deficiência de projeção den-
rios, linha média facial e linha média dental. Sua linha média tal de pré-molares em seu corredor bucal. Frente a esse
dental, além de não ser coincidente com a linha média facial, quadro diversos fatores agora diagnosticados poderiam ser
apresentava-se inclinada em relação a essa. Em uma análi- trabalhados para uma configuração mais estética. O dese-
se oral, constatou-se como principais deficiências estéticas nho de sorriso agora realizado corrigia tais deficiências e
o não paralelismo entre os eixos dentários dos dentes an- ainda poderia trabalhar as formas dentais, em termos de
terossuperiores, assim como uma linha de união de ameias detalhamento, a fim de personalização. O paciente passou
dentais irregular. Seus incisivos centrais, laterais e caninos pelo processo de consultoria visagista, em que se mostrou
apresentavam projeção incisal assimétrica entre lados es- bastante alegre, extrovertido, dinâmico em seu ritmo de vida
querdo e direito, sendo o lado esquerdo mais projetado que e criativo na maneira como executa suas funções, buscando
o direito, o que lhe conferia uma sensação de desequilíbrio sempre inovar profissionalmente. O mesmo relatou que tais
entre esse segmento e sua linha bipupilar. Além desses características seriam adequadas para a expressão de seu
fatores, havia desarmonia de cor entre incisivos direitos e sorriso. De posse dessas informações o consultor visagista
esquerdos. Seu incisivo lateral direito apresentava coroa clí- elaborou um desenho de sorriso caracterizado pelo domínio
nica curta e exposição radicular com coloração alterada. As de linhas inclinadas e formas triangulares, que serviu de re-
ferência para o técnico em prótese dentária confeccionar o
enceramento diagnóstico e o trabalho cerâmico.

a b c d e

Figuras 1
Protocolo fotográfico facial frontal.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 67


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 2
Eixos de referências
faciais, vertical e horizontal.

Figura 3
Formas dentais
pré-operatórias.

Figura 4
Discrepância entre
eixos dentais e faciais.
Assim como
entre linhas média
dental e facial.

68 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 5
Correção de eixos
e desenho de sorriso
novo com formas
baseadas na
vontade de expressão
do paciente.

a b c d

Figuras 6
Protocolo fotográfico extraoral frontal.

Figura 7
Sorriso - pré-operatório.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 69


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 8
Imagem intraoral dos
elementos anterossuperiores
com fundo negro.

Figura 9
Moldagens para
confecção de
modelos de estudo.

a b c

Figuras 10
Enceramento diagnóstico.

70 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 11
b
Confecção de mock-up.

a b c

Figuras 12
Imagens extraorais com mock-up demonstrando a correção do paralelismo entre eixos dentários com linha média facial.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 71


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

b1 b2 b3

c1 c2

d1 d2 d3

72 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 13a a 13h


(a e b) Guia de silicone
para preparo dentário
e (c até h) Preparos dentários

h expostos com a inserção


do primeiro fio retrator.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 73


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

74 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

e1 e2

Figuras 14a a 14e


Inserção do segundo fio retrator para moldagem com a técnica do duplo fio.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 75


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

76 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 15a a 15g


g
Moldagem em passo único.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 77


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 16
Escolha de cor.

Figuras 17
Guia de silicone para
a b
confecção de provisórios.

a
Figuras 18a e 18b
Provisório imediato.

b2

b1 b3

78 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 19
Laminados e coroa.

Figura 20
Checagem de adaptação.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 79


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a1 a2 a3

a4 a5 a6

b1 b2 b3 b4

b5 b6 b7

c1 c2 c3 c4 c5

Figuras 21a e 21c


Sequência operatória da cimentação do elemento 21.

80 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 21d a 21f


Cimentação do elemento 11.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 81


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 21g a 21J h


Cimentação dos
elementos 22 e 23.

82 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 21k a 21l


Checagem de excesso em área interproximal da coroa do elemento 12 com carbono.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 83


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

n3

n2

n1

Figuras 21m a 21p


(m e n) Ajustes
interproximais na
coroa do elemento
12 para proceder
a cimentação e
(o e p) Cimentação.

84 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 22
Remoção de fio retrator
usado para cimentação.

Figura 23
Trabalho finalizado em
dentes anteriores.

Figura 24
Sorriso com trabalho
anterior cimentado.

Figuras 25
Cimentação de
laminados em pré-molares,
em que não houve
a b c d e
necessidade de preparos.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 85


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 26
Pré-molares cimentados.

Figura 27
Vista palatina do trabalho cimentado. Restauração da anatomia palatina de centrais com resina composta.

86 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 28a a 28c


Trabalho finalizado –
imagens intraorais. (a)
Vista frontal; (b) Vista
lateral direita do
trabalho finalizado; e (c)
Vista lateral esquerda
do trabalho finalizado.
b

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 87


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 28d a 28f


Trabalho finalizado - imagens intraorais. e
Observar caracterização de cor e textura
que dão naturalidade ao trabalho.

Figura 29a
Trabalho finalizado - imagem extraoral.

88 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 30
Imagens faciais finais.

Material Clínico massa de impulso ex. opal e Efect 1,2 e 3 (Ivoclar Vivadent).
O substrato das lâminas – A2 no lateral, dente 12, coroa, o dente Ceramista – Marcos Celestrino – Laboratório Aliança, São Paulo/SP
era um pouco mais escurecido. Foi utilizado nas lâminas a pastilha Consultoria de Visagismo – Bráulio Paolucci
e.max L.T A1 (Ivoclar Vivadent) e na coroa e.max M.O A1
Desenho Digital do Sorriso – Bráulio Paolucci
(Ivoclar Vivadent). Nessas coroas foi utilizada a técnica de
Fotografias Clínicas – Roberto Yoshida
estratificação por camadas. Para esse tipo de coroas a espessura
das pastilhas podem ser mais finas 0,3 mm. A cerâmica de cobertura Fotografias Laboratoriais – Marcos Celestino
utilizada foi e.max Ceram A1 (Ivoclar Vivadent) dentina + incisal e Protesista – Roberto Yoshida – Londrina/PR

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 89


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.3 Posicionamento dental no arco


O posicionamento dos dentes no segmento anterossupe-
rior, constitui-se de forte elemento na elaboração da expres-
são visual da composição. Entende-se por ele a relação da face
vestibular, borda incisal, cervical e face palatina dos dentes
desse conjunto com os planos verticais anterior e posterior.
A posição de cada elemento do segmento anterossupe-
rior é fundamental na definição da percepção visual frontal
do arco com suas conotações comunicativas. O alinhamen-
to perfeito dos elementos anterossuperiores, em torno de
um arco curvo padrão, pode gerar efeito estético insatisfa-
tório por desconsiderar variações individuais e comuncati-
vas8,30-35. Numa vista oclusal o posicionamento dos centrais
pode variar de reto (Figuras 10a a 10c ) “extrovertido” e ”in-
trovertido” e esse tipo de posicionamento é dado pela forma

a b c

Figuras 10 e largura do arco. Arcos retangulares geralmente apresen-


Posicionamento de centrais em uma vista oclusal: tam centrais retos, arcos triangulares normalmente apre-
(a) Introvertidos; (b) Retos; e (c) Extrovertidos. sentam centrais “extrovertidos” (com a crista mesial proje-
tada para anterior e crista distal projetada para posterior)
ou ligeiramente apinhados e arcos atrésicos, centrais “intro-
vertidos” (com a crista mesial projetada para posterior, a
crista distal projetada para anterior) ou girados para dentro
da cavidade bucal. A expressão desses posicionamentos de
centrais segue a nomenclatura escolhida para classificá-la,
sendo que os retos expressam força e estabilidade, assim
como a sua linha de construção, a linha reta.

90 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

No posicionamento 3D das coroas dos incisi-


vos laterais, tem-se a opção de posicionar sua face
vestibular de maneira bem frontal, ou seja, refletin-
do a luz por toda e extensão da vestibular direta- tra opção é sua coroa ficar levemente girovertida
mente para frente, e isso confere ao desenho do expressando extroversão. A condição oral preexis-
sorriso uma expressão de força emocional, a ou- tente condicionadora desse posicionamento coro-
nal é a forma do arco; quanto mais retangular ou
aberto, mais pedirá lateral posicionado com sua

Figuras 11
Formatos de centrais:
(a) Retangular; (b) Oval;
a b c d (c) Quadrado;
e (d) Triangular.

vestibular voltada para anterior, e quanto mais


estreito o arco, como nos formatos triangulares 5.1.4 Forma da coroa dental
e ovais, mais pedirá laterais girovertidos com sua A forma das coroas dentais dos elementos
mesial mais para anterior que sua distal. anterossuperiores é definida pelo seu contorno,
Em relação ao posicionamento vestibulopala- ou seja, a porção da coroa que reflete a luz dire-
tino, dentes vestibularizados abrem o arco e lhe tamente à frente. A forma dos elementos difere
conferem maior estabilidade sendo essa a ex- de acordo com o grupo dental. Por exemplo: in-
pressão desse efeito. Dentes posicionados em li- cisivos centrais têm variações de forma típicas,
nha reta expressam força e dentes palatinizados diferente dos incisivos laterais e dos caninos39.
dinamismo e introversão. A posição vestibulopa- Em incisivos centrais, a forma média é tra-
latina dos elementos anterossuperiores exerce pezoidal ou formato de pá24. No entanto, apre-
forte influência no suporte labial, o que acaba por sentam variações de forma na população, sendo
influenciar o contorno e volume labial com suas que os formatos estruturais básicos são: trian-
comunicações visuais associadas12-36. gular, retangular, oval e quadrado40 (Figuras 11a
a 11d). Formas decorrentes da fusão entre es-
ses formatos básicos são muito comuns e, um
exemplo disso, é a própria forma trapezoidal que
representa a fusão entre retângulo e triângu-
lo39,41-43 (Figura 12).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 91


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

tigados aspectos de sua personalidade, tipo sexual, idade21-23,


necessidades e anseios pessoais e define-se juntamente com
ele a intenção de expressão visual, que conduzirá à escolha da
forma mais apropriada. Isto visa detalhar melhor as expectati-
vas do paciente e, dessa maneira, diminuir insatisfações.
Uma vez definida a intenção do cliente, o profissional se
valerá dos conhecimentos acerca de linguagem arquetípica
para a escolha da forma. Por exemplo: se o cliente deseja
Figura 12
evidenciar no desenho do sorriso aspectos de sua persona-
Formato trapezoidal ou em “pá”: representa a fusão entre as formas triangular e retangular.
lidade como força, persistência, objetividade, praticidade e
A literatura odontológica é rica de teorias para a escolha liderança, o formato mais adequado será o retângulo, que
de formato de centrais de acordo com a forma da face34,44-47 por ser composto de linhas retas com domínio das verticais,
e, também, de estudos que demonstram a ausência de rela- é o formato que expressa tais características.
ção entre ambos48-52, o que também se pode comprovar com Se o paciente optar por evidenciar em seu desenho de
a experiência clinica21-23,53-57. Essa mesma experiência sugere sorriso aspectos como dinamismo, criatividade, alegria e
que a harmonia entre centrais e face se deva principalmente extroversão, o profissional optará pelo formato triangular,
à proporção entre esses elementos e não propriamente à har- pois suas linhas inclinadas expressam tais características.
monia de forma. Da mesma maneira, se a opção for por expressar delicade-
De acordo com Rufenacht12,58, os centrais são os elemen- za, elegância, discrição e suavidade, a forma ideal é o oval. O
tos orais que mais se relacionam com a personalidade de ma- quadrado está relacionado principalmente com estabilidade,
neira geral, e a escolha de seu formato para uma reabilitação calma, tranquilidade e conservadorismo.
deve ser feita de maneira muito criteriosa19,59-61. Há de se pensar que, no entanto, essa vontade de ex-
Na óptica do Visagismo, a escolha das unidades dentais na pressão dos pacientes seja um pouco mais elaborada, exi-
elaboração de uma composição psicodentofacial, deve ser pau- gindo do profissional mesclar elementos baseados no con-
tada numa entrevista prévia com o paciente, onde serão inves- ceito de estrutura e detalhe.

a b c

Figuras 13
Contorno cervical e sua relação com o formato geral do dente: (a) Incisivos retangulares apresentam contorno gengival mais
retilíneo; (b) Incisivos ovais possuem contorno arredondado; e (c) Incisivos triangulares apresentam contorno mais fechado.

92 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Entende-se por estrutura a forma básica do


dente ou a forma da sua área de reflexão de luz
(silhueta de Pincus)37-38,62-63 e detalhe, os elemen-
tos que cercam essa área reforçando sua men-
sagem ou contrabalanceando-a.
Aspectos anatômicos relacionados à estru- As incisais dos elementos anterossuperiores
tura básica dental: largura mesiodistal incisal, lar- representam um detalhe anatômico muito co-
gura mesiodistal cervical e cristas de reflexão de municativo, pois em muitas situações de sorri-
luz mesial e distal. Componentes de detalhamento: so, sua borda fica evidenciada pelo contraste do
contorno incisal, contorno distal, contorno cervi- fundo negro da cavidade oral ou, segundo Lom-
cal, ângulo distoincisal (Figuras 13a a 13c). bardi, espaço negativo8. Sua relação com o plano
horizonal define a sua expressão. Exemplos de
incisais: ascendente, côncava invertida, curva e
reta24 (Figuras 14a a 14c).

Figuras 14
Incisais e sua relação com o formato geral do dente:
(a) Incisais retilíneas se relacionam mais a centrais
retangulares e quadrados; (b) Incisais curvas se
relacionam mais com dentes ovais; e (c) Incisais
anguladas com dentes triangulares; porém, incisais curvas
podem ser encontradas em dentes com aspecto geral
a b c retangular e uma gama infinita de outras combinações.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 93


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Exemplo de elaboração da forma dental segundo o con-


Com o conceito de estrutura e detalhamento é possível se
ceito de estrutura e detalhe: paciente deseja expressar força
criar um grande número de formas dentais através da aplica-
em primeiro lugar com suavidade: centrais dominantes, com
ção de linhas e ângulos apropriados a expressar visualmente
estrutura retangular e detalhamento curvo em sua incisal, ân-
a intenção do cliente.
gulo distoincisal e contorno do terço distal (Figura 15).
De maneira geral em casos de estética ou cosmética de
O paciente deseja expressar dinamismo, extroversão
elementos anterossuperiores naturais, a equipe deve observar
com estabilidade: centrais com dominância moderada es-
as formas dentais originais e procurar dar expressão ao de-
trutura triangular e incisal reta.
senho da reabilitação preservando as características originais
(estrutura dental) e se pautar no uso de detalhes para satisfa-
zer a vontade de expressão do paciente. Dessa forma, procede
se uma odontologia minimamente invasiva inclusive em relação
a aspectos psicovisuais54,64-65. Incisivos laterais terão sua ex-
pressão menos dependente da estrutura e mais dependente
de sua incisal, ângulo incisodistal, relação de dominância com
seus vizinhos e posicionamento no arco (Figuras 16a a 16c).
Figura 15
Estrutura triangular e detalhamento curvo acentuado.

a b c

Figuras 16
Laterais com incisais diversas influenciando a percepção de seu formato final.

Caninos por sua vez dependerão de aspectos como a


forma de seu contorno vestibular em uma visão frontal e in-
clinação de seu longo eixo, assim como sua relação de domí-
nio com laterais e centrais. Uma visão frontal o canino pode
apresentar-se reto, curvo ou inclinado e estar associado à
força (ação persistente), delicadeza (ação minuciosa e deta- “Nenhum dente apresenta um efeito emotivo tão forte quan-
lhista) e impulsividade (ação impetuosa e empreendedora), to o canino e, desta maneira, deve-se trabalhar com muito afin-
respectivamente (Figuras 17a a 17b). co na elaboração de seu comprimento, contorno e forma.”
Jan Hatjó 24.

94 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 17
Contorno vestibular de caninos naturais numa vista frontal: (a) Retos; (b) Curvos; e (c) Inclinados.

5.1.5 Exposição dental


Entende-se por exposição dental o tanto aparente de estru-
tura dental quando com a boca em repouso. Nessa situação sendo observada frontal e lateralmente deve ocorrer. Em pes-
músculos de oclusão e de abertura mandibular estão em situa- soas mais jovens, geralmente uma média de exposição dental
ção de relaxamento e um equilíbrio entre ambos se apresenta. se apresenta diferente entre homens e mulheres. Em pacientes
Lábios também apresentam relaxamento muscular nessa si- jovens (até 30 anos) do sexo feminino a média de exposição
tuação. Uma certa quantidade de exposição dental com a face dental superior é de 3,5 mm, diminuindo gradativamente com o
avanço da idade chegando a 0,95 mm aos 50 anos e 0,2 mm
aos 70 anos58 (Figuras 18a e 18b).

Figuras 18
Diferentes exposições dentais com lábios em
repouso: (a) Paciente com 30 anos e exposição de
3,94 mm e (b) Paciente com 50 anos com
exposição dental superior
de aproximadamente 1,0 mm.
Percebe-se também um aumento
a b
da exposição de dentes inferiores
com o avanço da idade.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 95


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Caso 2
Resumo
A paciente LTL apresentou-se à clínica evidenciando posto foi de tracionar ortodonticamente os incisivos até o
desgaste excessivo na região palatina de seus elementos limite vestíbulo/inferior possível, assim como odontoplastia
anterossuperiores . Observou-se um maior desenvolvimento conservadora na região da mandibula anterior.
mandibular para anterior em relação à maxila. A linha de Após a fase ortodôntica, avaliou-se a necessidade da com-
união dos zênites gengivais apresentava-se côncava inver- plementação da exposição dental com laminados supercon-
tida, um indicativo visual de deficiência de extrusão natural servadores (lentes de contato), o que se mostrou pertinente.
dos dentes anterossuperiores, em especial incisivos cen- Dessa forma foram confeccionados laminados de canino a ca-
trais, provavelmente causada pela posição mais anterior de nino com o objetivo de projetá-los ainda mais para inferior, para
sua mandíbula em relação à maxila . se obter correta exposição dental com lábios em repouso. No
A paciente queixou-se desta pouca exposição dental quan- momento da intervenção reconstrutiva, foi realizada consulto-
do com lábios em repouso, o que lhe dava “ar envelhecido”. ria, onde paciente manifestou desejo de expressar visualmente
Na análise facial não foi observada discrepância entre linhas características autênticas suas como delicadeza no trato pes-
médias facial e dental . Na análise intraoral os elementos den- soal, doçura e perfeccionismo nas ações. Portanto, as formas
tais se apresentavam em excelente condição de saúde, com dentais de seus centrais, originalmente triangulares, foram
ausência de quaisquer condições possíveis de causa de insa- mantidas para proceder intervenção minimamente invasiva
tisfação estética, tais como restaurações deficientes, cáries, em termos psicovisuais, mas suas incisais e ângulos inciso-
diferenças de cor, desalinhamento de eixos dentários, propor- distais foram discretamente arredondados como medida de
ção inadequada entre os elementos superiores etc . personalização dessa vontade. Os caninos foram confecciona-
O desenho digital do sorriso indicou o posicionamento dos com sua vestibular curva numa vista frontal seguindo a
ideal das bordas incisais dos incisivos centrais, pelo plano mesma vontade de expressão. Incisivos laterais tiveram sua
incisal guiado ou sugerido pelo plano oclusal posterior pa- dimensão cervicoincisal aumentada, mas suas formas foram
ralelo à borda superior do lábio inferior. O tratamento pro- mantidas no novo desenho do sorriso.

a b c d

Figuras 1
Imagens faciais – pré-operatório.

96 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 2
Imagens extraorais - pré-operatório.

a b

Figuras 3
(a) Observar linha de união de zênites invertida e (b) Imagem intraoral em desoclusão.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 97


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 4
Sorriso - imagem frontal.

Figura 5
Configuração
pré-operatória.

Figura 6
Plano incisal corrigido.

98 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 7
Alongamento dos dentes
anterossuperiores.

Figura 8
Desenho do
sorriso final.

Figuras 9
Ortodontia. Observar uso de ortoimplantes para tracionamento de incisivos superiores para inferior.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 99


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figuras 10
Ortodontia - abertura
de espaço entre laterais
e caninos pelo
tracionamento para a b c
anterior dos incisivos.

Figuras 11
Ortodontia - vistas oclusal
e superoinferior. a b

a b c d

Figuras 12
Imagens extraorais ao fim do tratamento ortodôntico.

a b c

Figuras 13
Imagens faciais ao fim do
tratamento ortodôntico.

100 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c d

Figuras 14
Imagens extraorais com mock-up.

a b b
Figuras 15
Mock-up removido em apenas um dos lados para verificar o quanto de ganho vertical se teria.

a b

Figuras 16
Imagens faciais com mock-up.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 101


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 17
Imagem dos preparos ultraconservadores para lentes de contato.

a b

Figuras 18
Modelos de trabalho e guias de silicone.

a b

Figuras 19
Lentes de contato
posicionadas sobre
modelos de gesso.

102 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 20
Imagem intraoral - fundo negro. Trabalho finalizado. Observar centrais em forma triangular bastante arredondadas tendendo ao oval
e linha dos zênites com nova configuração (ascendente) após tratamento ortodôntico. Caninos configurados com lateral curva.

Figura 21
Sorriso final - vista lateral.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 103


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 22
Face com trabalho finalizado. Exposição dental adequada.

Figura 23
Sorriso - pós-ortodontia.

104 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 24
Sorriso com mock-up.

Figura 25
Sorriso final.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 105


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a1 a2

Figuras 26
Imagens faciais finais.

Informações Laboratoriais Ceramista – Thiago Reis (Well Lab - São Paulo/SP)


Cor do substrato = ND 1; Cor da pastilha = HT BL4; Espessura da pastilha Consultoria de Visagismo – Bráulio Paolucci
= 0,3 mm até 0,5 mm; Pastilha = dissilicato de lítio, Alta translucidez
Desenho Digital do Sorriso – Bráulio Paolucci
tipo de desenho da infraestrutura = cut back incisal; estratificacão = mix
OE3 70%, OE2 20% e OE1 10% intercalando, apresentando caracterís- Fotografias Clínicas e Laboratoriais – Thiago Reis

ticas incisais suaves. Protesista – Robert Coachman

106 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.6 Relação proporcional


entre elementos dentais
Entende-se por proporção à relação dimensional de um
objeto em relação a outro66. A relação proporcional entre os
elementos anterossuperiores pode levar a diferentes formas
de percepção visual desse conjunto67. Relações dimensionais
diferentes são atribuídas a diferenças sexuais e raciais68-69. de seus vizinhos12, geralmente apresentando incisivos centrais
Duas situações de simetria bilateral geralmente se apresen- com forte dominância visual. Essa é a situação mais atraente
tam: a simetria corrente onde a relação de proporção é de para cirurgiões-dentistas, enquanto a primeira é a mais agra-
dominância quase que exclusiva de largura de centrais sobre dável para pacientes segundo Brismam71 (Figuras 19a e 19b).
laterais e esses sobre caninos e expressa monotonia, apatia, É importante salientar que a avaliação foi feita sobre o as-
estabilidade e calma e a simetria radial, onde elementos aná- pecto de simetria bilateral proporcional e não morfológica; pois
logos são similares, mas apresentam dimensões diferentes tanto em simetria corrente quanto em radial, discretas assime-
trias morfológicas são interessantes para dar naturalidade ao
desenho do sorriso (variedade na unidade)70-72, pois sorrisos
totalmente simétricos soam falsos como dentaduras.

a b

Figuras 19
Alguns autores sugerem que a dominância de centrais
Simetria bilateral: (a) Radial e (b) Corrente.
num segmento anterossuperior é fundamental para se conse-
guir resultado estético satisfatório8,21. Quanto mais dominantes
sobre laterais e caninos se apresentarem os incisivos centrais,
mais o desenho geral do sorriso expressará imposição, autori-
tarismo e força temperamental, e quanto mais dominantes em
um segmento anterossuperior forem os caninos mais agressi-
vidade e masculinidade expressará o desenho de sorriso geral.
Na simetria radial os elementos podem apresentar di-
versas relações de gradação de centrais para caninos, sen-
do considerada mais estética, ou seja, atraente ao olhar,
aquela em que prevalece uma sequência gradativa de cen-
tral para canino em proporção áurea73-75.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 107


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Caso 3
Resumo
Paciente GZ, 32 anos, se apresentou à equipe clínica
com queixa em relação à estética de seu sorriso, como prin-
cipais pontos a exposição gengival demasiada em sorriso e
a diferença de cor entre os elementos anterossuperiores Sua vontade de expressão aliada às queixas estéticas le-
(próteses) e demais dentes naturais. Na consultoria visagis- varam a equipe à confecção de um desenho de sorriso dinâ-
ta se mostrou bastante extrovertida e alegre, dinâmica em mico, com plano incisal ascendente, formas dentais triangu-
seu ritmo de vida, bastante sensível e transparente na mani- lares, caninos inclinados para medial. Como caracterização
festação de suas emoções e que gostaria de evidenciar es- de sua sensibilidade emocional as formas dentais triangu-
sas características em seu desenho do sorriso. Assim como lares foram discretamente arredondadas em sua distal. A
gostaria de um sorriso mais marcante e impositivo. O seu forte dominância de centrais, aliada a uma configuração
quadro clínico apresentava-se como um desenho de sorriso com incisais retas e posicionamento retilíneo em relação
plano, caracterizado pela ausência de domínio de centrais, a um plano vertical anterior imaginário dariam ao desenho
plano incisal horizontal, formas dentais quadradas. A rela- do sorriso final a impositividade desejada. Foram realizadas
ção proporcional de centrais se encontrava em aproximada- cirurgias plásticas gengivais para aumento de coroa clíni-
mente 50%, quando considera-se 80% como a proporção ca do elemento 14 ao 24 com laser de alta potência, Seu
mais estética segundo alguns autores15-16. freio labial também foi removido usando-se o mesmo laser.
Foram realizados laminados cerâmicos nos pré-molares e
coroas cerâmicas puras de canino a canino.

a b c d

Figuras 1
Imagens faciais - pré-operatório.

108 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 2
Imagens extraorais – pré-operatório.

Figura 3
Imagem oclusal –
pré-operatório.

Figura 4
Imagem facial com eixos
faciais de referência.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 109


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 5
Sobreposição de imagem intraoral
sobre a facial para usar os
eixos de referência faciais como
orientação para o desenho do sorriso.

Figura 6
Eliminação da imagem facial e
permanência da imagem intraoral
com eixos de referências faciais.

Figura 7
Ampliação.

110 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 8
Análise das formas dentais,
linha dos zênites e plano
incisal - pré-operatório.

Figura 9
Análise da proporção
entre elementos dentais e
estabelecimento de plano
incisal de acordo com o
plano oclusal posterior.

Figura 10
Proporção altura/largura
em torno de 50%
configurando centrais
com forma quadrada.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 111


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 11
Correção dessa relação para 80%.

Figura 12
Desenho de sorriso final.
Observar formas dentais triangulares
arredondadas de acordo com a
vontade de expressão da paciente.

a b c

Figuras 13
Demarcações intraorais para plástica gengival - imagens extraorais.

112 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 14
Demarcações e sondagem - imagem intraoral

a b c

Figuras 15
Remoções de coroas metalocerâmicas.

a b

Figuras 16
Plástica gengival com laser de alta potência e sondagem para verificação de distância biológica.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 113


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 17
Comparação de antes e depois da plástica gengival.

a b

Figuras 18
Confecção de provisórios imediatos e remoção de freio labial.

Figura 19
Tomada de cor do substrato.

114 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 20
Laminados e coroas posicionadas sobre o modelo de trabalho - vistas frontal e lateral.

Figura 21
Cerâmicas - vista frontal.

a b c

Figuras 22
Cimentação.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 115


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 23
Cerâmicas - pós-cimentação. Observar dominância de centrais, formas triangulares arredondadas, posicionamento reto e caninos curvos.

a b c

Figuras 24
Vistas frontal e lateral de trabalho finalizado.

a b

Figuras 25
Vistas lateral direita e frontal do sorriso - pós-operatório.

116 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 26
Imagens faciais finais. Sorriso marcante e personalizado.

Ceramista - Adriano Schayder Fotografias Laboratoriais - Adriano Schayder


Consultoria de Visagismo - Galip Gurel e equipe Periodontia - Galip Gurel e equipe
Desenho Digital do Sorriso - Bráulio Paolucci Protesista - Galip Gurel
Fotografias Clínicas e Faciais - Galip Gurel

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 117


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.7 Linhas complementares


Entende-se por linhas complementares o conjunto de linhas
imaginárias de união de estruturas24 que podem ser usadas
na elaboração da composição psicodentofacial como unidades
para reforço ou balanceio de intenção . São elas: linha de união
dos zênites gengivais, linha de união das ameias dentais e linha
de união das papilas gengivais. Seu uso é fundamental para dar
expressão ao conjunto anterossuperior, sendo muito aplicável
em próteses totais fixas ou removíveis e menos aplicáveis em
situações de dentição natural.
A linha de união dos zênites gengivais une o ponto mais alto
da curvatura da margem gengival das coroas dentárias dos expressando impulsividade e extroversão. Essa linha pode ser
elementos anterossuperiores62. Seu formato pode ir do cônca- trabalhada pela equipe através de cirurgia plástica gengival, e
vo invertido, relacionado a aspectos como tristeza, melancolia na escolha adequada dever-se-á levar em consideração a for-
e reserva, passando pela forma horizontal, expressando esta- ma do arco, o biótipo periodontal e a vontade de expressão do
bilidade, ziguezague que expressa dinamismo, representando o paciente76-80 (Figuras 20a e 20b).
desenho médio para esse tipo de linha24 e convexa ascendente A linha de união das papilas gengivais81 normalmente
se mostra um grande problema à equipe restauradora
pela dificuldade de seu manuseio. Normalmente depende
da forma do arco dental e do tipo de anatomia das coroas
dentais, sendo que coroas triangulares a configuram como
ascendente (média), Figura 21, coroas retangulares e qua-
dradas a configuram como reta ou até côncava invertida.
Essa linha marca a projeção do ponto de contato. Sua ex-
pressão é a mesma da LUZG.
Já a linha de união das ameias dentais é fortemente in-
fluenciada pelo formato de dentes escolhidos, sendo reta
para dentes retangulares, ascendente para triangulares
(média), Figura 22, e côncava invertida para ovais. Sua ex-
pressão é a mesma das demais linhas complementares
sendo mais percebida quanto à união entre a ameia medial
e ameias distais dos centrais em função do espaço negati-
vo, como proposto por Lombardi8.

118 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 20
(a) Linha de união de zênites em ziguezague conferindo dinamismo e movimento ao sorriso e (b) Linha de união de zênites invertida.

Figura 21
Linha de união de ameias gengivais.

Figura 22
Linha de união de ameias incisais.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 119


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.8 Tipos de desenhos de sorriso e


sua expressão visual
O arranjo formado pelos dentes anterossuperiores (for-
mato, posição no arco, proporção) juntamente com outros
elementos como lábios, linhas complementares e forma do
arco dental, compõe a mensagem não-verbal expressa pela
região oral6,8,21-23, 32,34,44,49,83-85.
No processo de composição de uma reabilitação esté-
tica, o primeiro passo é saber qual será a mensagem não-
-verbal expressa pelo conjunto; a partir daí, avaliar as con- elementos visuais que expressem essa mensagem não-
dições orais e verificar as reais possibilidades do uso dos verbal previamente discutida com o paciente e, então, usar
linhas, ângulos e formas apropriados na confecção do dese-
nho do sorriso86-87. O estudo e o conhecimento do significado
emocional desses elementos é o pré-requisito para começar
a desenhar.
As principais variações de desenhos de sorriso puros, ou
seja, compostos por um grupo específico de elementos com
o mesmo significado emocional são:
Obs.: deve-se considerar variações de acordo com sexo,
idade e raça.

Arranjos Dentais

a d
Forte Plano

b c
Dinâmico Suave
Figuras 23
Diferentes tipos de desenho do sorriso.

120 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.8.1 Desenho forte


Composto por dentes anterossuperiores posicionados com
seus longos eixos perpendiculares ao plano horizontal, com
predominância visual de incisivos centrais retangulares e ca-
ninos com limite vestibular reto88. Apresentam simetria radial,
linha de união das ameias reta entre centrais e laterais, linha
de união dos zênites gengivais reta de canino a canino e plano
incisal reto entre centrais e caninos com laterais aquém des-
se plano, com o arco superior predominantemente retangular.
Numa vista oclusal, os incisivos se posicionam em linha reta em
relação a um plano vertical imaginário. É o desenho que expres-
sa visualmente as caracaterísticas do temperamento colérico.
Visualmente se harmoniza com rosto retangular, hexagonal de
base reta e quadrado (Figuras 24 e 25).

Figuras 24
Desenho do sorriso forte
a b em dentições naturais. (a)
Mulher e (b) Homem.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 121


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.8.1.2 Desenho dinâmico


Composto por dentes anterossuperiores posicionados
com seus longos eixos ligeiramente inclinados para distal
com simetria radial discreta, linha de união dos zênites
angulada ou em ziguezague, linha de união das ameias as-
cendente a partir da linha média e plano incisal também
ascendente a partir da linha média. Os incisivos centrais
mente triangular ou poligonal.
geralmente são triangulares ou trapezoidais com incisais
Dominância discreta de centrais; simetria radial discre-
ascendentes a partir da linha média e os caninos possuem
ta. Numa vista oclusal, os incisivos se apresentam com suas
seus limites vestibulares representados por uma linha reta
mesiais projetadas para a região anterior e distais levemen-
inclinada para medial, com o arco superior predominante-
te voltadas para a região posterior. Visualmente traduz
características próprias do temperamento sanguíneo e se
harmoniza com os formatos de rosto hexagonal de lateral
reta, triangular invertido e o losangular (Figuras 24 a 26).

a b

Figura 25
Desenho do sorriso dinâmico em dentições naturais. (a) Mulher e (b) Homem.

122 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.8.3 Desenho suave


Composto por dentes posicionados com seus lon-
gos eixos retilíneos ou discretamente inclinados para
distal com simetria radial discreta, linha de união dos
zênites ascendente a partir da linha média em forma
de parábola, linha de união das ameias descendente a te, são ovalada88, laterais geralmente apresentam sua
partir da linha média e do plano incisal ascendente em incisal e ângulo distoincisal curvos e os caninos apre-
forma de parábola. As formas dos centrais, geralmen- sentam seus limites vestibulares curvos e inclinados
para medial, com o arco superior predominantemente
oval. Numa vista oclusal os elementos anteriores se
apresentam bem alinhados em uma curva ou parábo-
la. Representa visualmente o temperamento melancó-
lico e se harmoniza com rosto oval (Figuras 24 a 27).

a b

Figuras 26
Desenho do sorriso suave em dentições naturais. (a) Homem e (b) Mulher.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 123


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.1.8.4 Desenho plano


Composto por dentes anterossuperiores com
seus longos eixos perpendiculares ao plano horizontal,
com exceção do canino que às vezes se apresenta li-
geiramente rotacionado para lateral, dominância de
centrais em largura e não em altura, apresentando si-
metria horizontal ou corrente88, geralmente com dias-
tema entre dentes em um arco largo ou circular, linha da por diastemas. Os incisivos centrais tendem a qua-
de união dos zênites gengivais tendendo a horizontal, drados e os caninos possuem seus limites vestibulares
linha de união das ameias incisais reta ou interrompi- curvos, com a forma do arco sendo circular largo. É o
desenho que melhor expressa visualmente característi-
cas do temperamento fleumático. E em termos se har-
moniza com os formatos de rosto quadrado e redondo
(Figuras 24 a 27).

a b

Figuras 27
Desenho do sorriso plano em dentições naturais. (a) Mulher e (b) Homem.

124 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Em pacientes do sexo masculino aos trinta anos de idade


a média de exposição é de 2,0 mm. Há estudos que cor-
relacionam as diferenças de exposição dental a diferenças
raciais. Dentes inferiores também apresentam uma exposi-
ção variante ao longo do avanço de idade. Isso ocorre por-
que com o passar dos anos a musculatura se expande e
contrai diariamente. Muitas vezes, algumas substâncias são
produzidas pelos tecidos para suportar esses movimentos,
tais como elastina e colágeno. Com o avanço da idade, a
produção dessas substâncias cai e as expansões muscu-
lares não são tão bem compensadas pelos tecidos moles.
Por isso o tecido que se expande não tem a mesma capa-
cidade de retornar ao nível inicial provocando um aumento
tecidual gradual, com aumento visível do filtro labial e, em
alguns casos, chegando a eversão do lábio superior. A ação
da gravidade colabora com o processo de tracionamento
para baixo desses tecidos pobres de elastina e colágeno. vitalidade e vigor físico, elementos fundamentais para a
Concomitante a esse processo há o encurtamento do com- reprodução e liderança de grupo; por isso os aspectos
primento das coroas dentais pelo desgaste funcional, o que visuais que denotam esse processo são compreendidos
colabora para menor exposição dos dentes anterossuperio- como não atraentes e não desejáveis. Muitos tratamentos
res com lábios em repouso. Por esse motivo a pouca expo- podem ser realizados para reverter quadros visuais rela-
sição dental superior e o aumento da exposição de dentes cionados ao envelhecimento e proporcionar bem-estar aos
inferiores são percebidos como um sinal de envelhecimen- pacientes. Uma dessas formas de intervenção é o aumen-
to e há um forte desejo de pacientes para solucionar essa to da exposição dental superior pela restauração da parte
impressão. O avanço da idade está relacionado à perda da dental perdida no processo de desgaste sofrido ao longo da
vida; no entanto, em muitas situações pacientes jovens que
tiveram problemas de extrusão natural ou muita tonicidade
da musculatura labial podem apresentar tal quadro anties-
tético, o que justifica um aumento dental até a correta expo-
sição, o que pode ser feito pelo tracionamento ortodôntico
ou pela restauração do comprimento dental correto com
laminados cerâmicos ou resinas compostas. A associação
de procedimentos pode ser necessária em alguns casos.
Para o correto planejamento o profissional deve avaliar a
relação de proporção altura/largura para decidir que tipo
de intervenção procederá. A proporção altura/largura, em
incisivos centrais, considerada ideal, é de 80%24.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 125


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Caso 4
Resumo
Paciente JPA apresentou-se para reabilitação oral com
ausência do elemento 21. O elemento 11 apresentava-se gi-
rovertido, o que deixava o espaço para o elemento 21 grande
demais para um só dente e estreito para dois. Além da perda
do elemento 21, o paciente apresentava perda de estruturas
óssea e gengival nessa região. Os demais elementos esta-
vam insatisfatórios do ponto de vista estético como laterais
curtos e estreitos e caninos e pré-molares com coloração
alterada. O desafio maior, no entanto, era resolver a distribui-
ção proporcional dos elementos anterossuperiores, de modo
a obter harmonia dentofacial.
A equipe restauradora realizou enceramento diagnóstico
para distribuir o espaço entre centrais e avaliar o quanto de
restauração dentogengival seria necessária para resolver a ços faciais. Portanto, tais características podem ser en-
perda de suporte. Após essa análise o caso estava pronto contradas em pessoas com temperamentos dominantes
para a reabilitação. Nesse momento a consultoria visagista coléricos e fleumáticos, ambos caracterizados por linhas
foi realizada para a determinação das formas dentais, haja retas horizontais (fleumático) e verticais (colérico). Em ter-
vista que a posição das bordas incisais estava estabelecida mos de desenho do sorriso tais características seriam
pelo plano incisal, determinado pelo plano oclusal dos dentes expressas por um desenho plano (ver Capítulo Composi-
posteriores. Na consultoria, o paciente demonstrou compor- ção), dentes quadrados com incisais retas, e dominância
tamento tranquilo e reservado, comunicação calma e serena, de centrais em largura, caninos fortes e curtos.
grande estabilidade emocional e mencionou que considera O diastema é muito comum em desenhos de sorriso
como pontos fortes de sua personalidade a palavra, a honra planos e por esse motivo foi adicionado à reabilitação final.
pessoal, ação objetiva e persistente e o respeito pelos outros. Um novo enceramento foi realizado e provado diretamen-
Suas características faciais apresentavam-se dominadas por te na boca, para que imagens extraorais fossem tiradas
traços retilíneos, com formato do rosto retangular tendendo objetivando verificar a harmonia entre esse desenho de
ao quadrado. Gostaria que seu desenho do sorriso tivesse al- sorriso com a face. Sua reabilitação representou um desa-
guma relação com essas qualidades de personalidade e tra- fio para os técnicos por trabalharem tanto com laminados
cerâmicos puros em praticamente todos os dentes exceto
no elemento 21, em que foi realizada prótese metalocerâ-
mica com cerâmica gengival. Considerando-se a idade do
paciente, os elementos foram confeccionados com uma
cor mais saturada A4, e a exposição dental com a boca
em repouso ficou reduzida para que o trabalho, além de
respeitar os princípios de harmonia e estética, também
respeitasse a personalidade e a idade do paciente.

126 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c d

Figuras 1
Imagens faciais. Vista frontal - pré-operatório.

Figura 2
Eixos faciais
de referências
horizontal e vertical.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 127


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 3
Imagem intraoral dos
dentes anterosuperiores com
fundo negro -- pré-operatório.

a b

Figuras 4
Análise do espaço.

a b

Figuras 5
Análise da proporção dental.

128 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 6
Espaço largo para
um dente e estreito para
dois dentes.

Figuras 7
Enceramento diagnóstico.

a b c

Figuras 8
Enceramento pronto.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 129


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

Figura 9
Sorriso com mock-up.

Figura 10
Mock-up vista intraoral com fundo negro - vista frontal. Mock-up com formas dentais arredondadas.

128 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 11
Tomada de cor.

Figuras 12
Novo enceramento realizado de acordo b
com a entrevista visagista.

b c d

Figuras 13
Enceramento posicionado diretamente em boca.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 129


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b

Figuras 14
Análise da harmonia dentofacial obtida com novo desenho de sorriso (prova do enceramento direto na boca).

Figuras 15
Confecção das
cerâmicas seguindo
o último enceramento
a b c
como guia.

Figura 16
Caso finalizado -
aspecto intraoral.
Desenho do
sorriso plano.

130 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

a b c

Figuras 17
Face com trabalho finalizado. Observar a perfeita harmonia dentofacial com novo desenho do sorriso (desenho de sorriso plano).

Figura 18
Exposição dental correta para
sexo e idade do paciente
(aproximadante 1,0 mm).

Material Clínico
Foi utilizado pastilha LT. Recorte de borda incisal de 1 mm
sobre substrato na cor A4. Foi aplicado e.max.

Ceramistas - Juvenal de Souza Neto - Prótese Dentogengival,


Joinville/SC; Jorge Alberguine - Laminados e Lentes, São Paulo/SP;
André Luís Tome dos Santos - enceramento,São Paulo/SP
Consultoria de Visagismo - Bráulio Paolucci
Fotografias Clínicas e Laboratoriais - Fernando Pastor
Implantodontista - Carlos Diniz
Protesista - Fernando Pereira Pastor

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 131


Capítulo 5
Linguagem visual artística aplicada ao desenho do sorriso

5.2 Referências
1. Kandinsky W. Ponto e linha sobre o plano. São Paulo:
Martins Fontes; 1997.
2. Kandinsky W. Do espiritual na arte. São Paulo: Martins
Fontes; 1996.
3. Hallawell P. Visagismo integrado: identidade, estilo e be-
leza. São Paulo: Senac; 2009.
4. Loomis A. Drawing the Head and Hands. Nova York: Vi-
king; 1956.
5. Perard V. Anatomy and Geometry. Nova York: Bonanza
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Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 133


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134 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 6
A Consultoria

A Consultoria
Bráulio Paolucci, Philip Hallawell
6.1 Conceito
O trabalho da equipe visagista começa com uma entrevis-
ta com o paciente chamada por Philip Hallawell de consulto- A consultoria se inicia com a análise de traços físicos5-6,
ria. É nessa consultoria que o profissional poderá aprofundar modo de andar, sentar, tom de voz e postura seguidos de uma
seu conhecimento acerca do ser humano por trás daquela análise comportamental, onde se avalia como a pessoa se
boca a ser tratada. A consultoria objetiva definir “aquilo” a ser porta diante de variadas situações cotidianas. Por fim, avalia-
realizado pela equipe em termos de desenho de sorriso e sua se estilo de vida, necessidades pessoais e profissionais, dese-
expressão1-3. Um sorriso deve expressar visualmente carac- jos e preferências pessoais. Ao fim do processo o profissional
terísticas da identidade pessoal do paciente, tais como seu deverá ter um entendimento do tipo temperamental de seu
temperamento, comportamento e seu estilo de vida, devendo paciente, quais seriam as dificuldades vividas por ele e suas
revelar características autênticas individuais e não criar uma necessidades pessoais, para então orientar esse paciente na
máscara ou persona, que representaria a maneira como a definição de sua vontade de expressão, que será o guia para
pessoa gostaria de ser ou ser percebida pelos outros4. a utilização das variadas linhas e formas nas unidades orais
De um trabalho odontológico geralmente se espera lon- componentes do desenho de sorriso final. A consultoria ajuda
gevidade. De modo que não se pode ficar mudando os dentes o paciente a refletir sobre si e identificar o que gostaria de ex-
de acordo com as circunstâncias ou momentos de vida e, por pressar visualmente (de suas qualidades) através de seu sor-
este motivo, a reabilitação deve ser fiel às características ou riso. A pergunta final ao paciente seria: o que você gostaria de
qualidades interiores de uma personalidade. O paciente deve expressar de si pelo seu sorriso? A vontade de expressão do
ser esclarecido que a evidenciação, através de linhas e for- paciente deverá estar de acordo com sua identidade pessoal,
mas, de características não autênticas poderá alterar seu ou seja, a maneira como essa pessoa se percebe interiormen-
comportamento com o tempo de maneira não controlada, te, de maneira que o sorriso expresse visualmente algo verda-
podendo trazer mais prejuízos que benefícios. deiro ou autêntico, respeitando os princípios de harmonia e
estética e, portanto, revele a beleza pessoal.
Profissionais da Odontologia Estética que direcionam seus
trabalhos em configuração visual, orientando seus técnicos
sobre o tipo de formatos a serem utilizados nos casos, geral-
mente o fazem seguindo sua intuição, o que nem sempre coin-

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 135


Capítulo 6
A Consultoria

cide com aquilo que o paciente imaginava como ideal7-9; por


isso em alguns casos o resultado final fica bom aos olhos do
profissional e desagrada ao cliente e, na maioria das vezes, a
causa da insatisfação se torna difícil de ser identificada. A con-
sultoria objetiva minimizar essas ocorrências especificando
melhor os desejos e as expectativas dos pacientes e tornando mento dissociado disso, consiga manifestá-las em seu com-
consciente o processo de construção visual do desenho do portamento após um tratamento psicológico que investigue e
sorriso por parte dos profissionais, que como demonstrado trate as causas para o distanciamento de sua natureza.
no Capítulo Desenho Digital do Sorriso, pode ser simulado no O temperamento, segundo algumas correntes de pensa-
computador e discutido com o paciente previamente à exe- mento, se relacionaria aos componentes genéticos de uma
cução final. personalidade.
No Visagismo procurar-se-á investigar, a partir das estru-
6.2 Temperamentos turas formadoras da face, quais as possíveis tendências tem-
Considera-se que a personalidade de um indivíduo seja peramentais do paciente, sua manifestação ou não em seu
constituída principalmente de dois componentes: um de ori- comportamento e qual o impacto prático disso em sua vida.
gem genética , relacionado à árvore genealógica do indivíduo
10
A equipe visagista avaliará junto ao cliente a possibilidade
e o outro formado ao longo dos anos através da educação, de expressar características pessoais autênticas em sua ima-
influências culturais e experiências de vida. Os aspectos for- gem pessoal pelo uso das linhas e formas adequadas, median-
mados a partir da educação e experiências pessoais tendem te a autorreflexão desse sobre os impactos dessa mudança
a controlar a manifestação das tendências genéticas. em sua vida. Uma imagem pessoal transformada poderá alte-
De maneira geral, as tendências genéticas podem se ma- rar a maneira como uma pessoa é percebida e tratada pelas
nifestar em uma personalidade mediante condições favorá- pessoas de seu convívio e isso resultar em mudanças com-
veis ou não se manifestar mediante repressões ou ambientes portamentais. Por esse motivo alterações de imagem pessoal
desfavoráveis durante o período de formação e consolidação realizadas na face devem ser bem avaliadas por parte da equi-
desta . O resultado disso é que muitas vezes o indivíduo ape-
10
pe de profissionais. A forma prática para essa avaliação seria
sar de possuir uma genética favorável a um predomínio de a consultoria de imagem4.
características comportamentais ligadas à força, pode apre- Existem muitas teorias sobre os temperamentos huma-
sentar uma personalidade adulta submissa e apática por ter nos. Algumas datam de tempos antigos, como a teoria grega
tido experiências repressoras e/ou traumáticas ao longo do (de Hipócrates), a chinesa e a hindu4. Há também algumas
seu desenvolvimento. atuais como a classificação tipológica de Jung. É importante
Como demonstrado no Capítulo Identidade, Personalidade esclarecer que qualquer classificação de tipos psicológicos é
e sua Relação com a Imagem, algumas correntes da psicolo- imprecisa pois cada ser é único e os sistemas de classificação
gia consideram que após a conclusão da formação de uma tendem a criar generalizações. No entanto, uma organização
personalidade não será mais possível promover alterações se faz necessária para orientar o profissional que atuará na
em sua estrutura, mas pode-se conseguir que alguém como construção da imagem pessoal, pois como já mencionado,
do exemplo acima, que possua tendências genéticas a um essa imagem afeta profundamente o indivíduo nas esferas
comportamento forte e impositivo e apresente comporta- emocional, psicológica e comportamental e um certo conhe-
cimento de aspectos psicológicos do paciente se faz neces-
sário. A equipe visagista não precisará de um conhecimento

136 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 6
A Consultoria

aprofundado sobre a personalidade de seus pacientes, mas


precisará saber quais as principais características positivas
e negativas de sua personalidade e os sistemas de classifica-
ção de temperamentos constituirão um guia confiável para a pressão. Sua comunicação é direta e sem meias voltas, sen-
facilitar a obtenção dessas respostas como proposto por um do considerado franco e transparente. Em geral impõe suas
pesquisador em seu método de consultoria . 4
vontades aos outros, tendo grande capacidade de liderança.
Neste trabalho será utilizada a classificação tempera- Gosta de mandar e não gosta de ser retrucado. Entre seus
mental de Hipócrates, a mais antiga do Ocidente, que por atributos negativos pode-se relacionar a intolerância, autorita-
classificar os temperamentos em quatro tipos principais, rismo e tendência dominadora. Na raiva tende a ser impiedo-
facilita a sua associação com os quatro tipos básicos de so e explosivo podendo apresentar comportamento violento.
linhas e de formas. Tende a ser teimoso e a não se importar com a opinião alheia.
Pode ser vaidoso e orgulhoso. Seu porte é forte com ossos e
6.3 Hipócrates e os quatro temperamentos músculos bem definidos, seu andar é firme assim como seus
Para aquele que é considerado o “pai” da Medicina, o ser gestos. A postura da cabeça é ereta ou inclinada para trás. Hipócrates
humano seria uma mistura única entre quatro tipos tem- O tipo sanguíneo geralmente é muito criativo, curioso e
peramentais distintos. Um tipo temperamental represen- efervescente de ideias, pensa rápido. Emocionalmente pode
taria uma conjunção de características comportamentais ser instável e transparente, mas não tem tendência a guardar
e existenciais afins . Seriam os tipos colérico, sanguíneo,
11
mágoas. Seu comportamento tende a ser extovertido, alegre
melancólico e fleumático. O temperamento geral de cada e brincalhão. Seu ritmo de vida é muito dinâmico e energético,
indivíduo seria constituído por uma somatória entre suas podendo se envolver com várias atividades ao mesmo tempo.
tendências comportamentais em aspectos distintos de sua Tende a ser impetuoso e a correr riscos. De modo geral apre-
personalidade, sendo que de modo geral um ou dois des- cia esportes ou atividades de risco. Pode ser grande empreen-
ses tipos geralmente se apresentam como dominantes em dedor. Na comunicação tende a ser muito falante, expressivo,
uma personalidade como um todo. sendo o centro das atenções. Lida bem com os outros pelo
O tipo colérico apresenta grande força intelectual, com seu jeito descontraído e expansivo. Não apresenta tendência
grande capacidade de se concentrar, em geral tem sua opi- de impor sua vontade aos outros, negociando-a. Como ca-
nião própria bem definida sobre as coisas e para ser conven- racterísticas negativas pode ser inconstante, desorganizado
cido a mudar de opinião precisa de argumentos bem funda- e pouco perseverante. Pode agir sem foco. Sua extroversão
mentados. Sua maneira de pensar na maioria das vezes é pode torná-lo inconveniente. Sua estrutura física geralmente
associada à praticidade e objetividade. Emocionalmente tende é atlética e/ou magra. Anda de maneira rápida e energética.
a ser muito intenso, embora manifeste com discrição seus Tem tendência a gesticular bastante.
sentimentos. É fiel e leal às pessoas com quem convive e que O tipo melancólico tende a ser introspectivo, lógico, analíti-
admira, abominando a traição. Suas ações são objetivas e di- co e organizado. Emocionalmente tende a ser muito sensível
retas. É persistente naquilo que se propõe a fazer, a determi- e reservado na manifestação das emoções. Sua ação geral-
nação é marcante em suas ações. Geralmente lida bem com mente é persistente, detalhista, perfeccionista e organizada.
É tímido e discreto na comunicação. Geralmente dá rodeios
para tratar de assuntos que considera delicado. Tende a ma-
nipular para conseguir impor sua vontade. Como característi-
cas negativas o tipo melancólico pode se apresentar ansioso,

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 137


Capítulo 6
A Consultoria

sistemático e exageradamente perfeccionista. Sua timidez


na manifestação emocional pode torná-lo frio e antipático
aos olhos de outras pessoas. Em geral pode apresentar-se
conservador e controlador em excesso. Sua estrutura física
tende a apresentar-se magra e longilínea. Seu andar é lento,
cuidadoso e elegante. Sua postura geralmente é ereta. Seus
gestos delicados e precisos.
O tipo fleumático apresenta-se como muito estável em
seus pensamentos, sendo conservador e apreciando a se-
gurança. É o mais místico e religioso dos tipos. A diplomacia

Ilustração: Philip Hallawell


a b c d

Representação dos temperamentos.


(a) Sanguíneo; (b) Colérico; (c) Fleumático; e (d) Melancólico.

seria uma característica marcante desse tipo. Emocional-


mente se caracterizaria como calmo, tranquilo e dificilmente
se desequilibraria. Sua ação e ritmo de vida são marcados
pela lentidão e apatia. Sua comunicação tende a ser cautelo-
sa e equilibrada, procurando agradar as pessoas com quem
convive. Não apresenta tendência a impor-se, aceitando tran-
quilamente situações e condições impostas pelo meio. Como
fraquezas geralmente apresenta a apatia, o conformismo e o
comodismo. Pode ser vago e submisso. Seu físico apresenta
tendência a ser gordo. Seu porte é relaxado e seu andar ar-
rastado. Expressa-se com poucos gestos.

138 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 6
A Consultoria

TEMPERAMENTOS / LINHAS / formas


Colérico: linha reta vertical - força, poder - RETÂNGULO

Sanguíneo: linha inclinada - dinamismo, extroversão, comunicação - Triângulo

Melancólico: linha curva - suavidade, abstração, delicadeza - Oval

Fleumático: linha horizontal - tranquilidade, paz, passividade - Quadrado ou círculo

6.4 Relação entre temperamentos, formas quatro formas básicas


geométricas e cor
Os temperamentos representam uma conjuntura de carac-
terísticas comportamentais afins, de modo que pode-se asso-
ciá-los às expressões de linhas, formas e cores (os arquétipos
geométricos fundamentais). Geralmente as características do
temperamento colérico estão associadas a força, imposição,
Quadrado Círculo Triângulo Lemniscata
estabilidade, intensidade e determinação, características que
Kandinsky W. Ponto e linha sobre o plano. São Paulo: Martins Fontes; 1997.
se identificam com a expressão das linhas retas verticais e ho-
rizontais, especialmente a vertical. As formas básicas forma-
das por linhas retas verticais e horizontais são o quadrado e
o retângulo e, por este motivo, essas são as formas que mais
se aproximam da expressão do temperamento colérico. A cor
vermelha é a cor que expressa visualmente intensidade e força Sensibilidade, suavidade, delicadeza, elegância e capaci-
e, assim, caracteriza o temperamento colérico. dade de abstração são características do temperamento
O temperamento sanguíneo geralmente está associado a melancólico que encontram sua expressão nas linhas cur-
características como extroversão, dinamismo, comunicabilida- vas, lemniscatas e o formato oval. A cor azul se caracteriza
de, ação e está relacionado à expressão da linha diagonal. O por expressar frieza, racionalidade, equilíbrio e se identifica
triângulo e os hexágonos seriam as formas típicas relaciona- com esse temperamento.
das a esse temperamento. O amarelo é a cor primária que Já o temperamento fleumático representa um conjunto
expressa vibração, energia, movimento e leveza e se identifica de características ligadas à estabilidade, tranquilidade, calma,
com esse temperamento. equiíbrio, conservadorismo e a diplomacia entre outras que
se identificam com a expressão da linha reta horizontal e por
formas que pelo equilíbrio entre altura e largura sugerem es-
tabilidade e monotonia como o quadrado e o círculo. Sua cor
é o roxo ou violeta.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 139


Capítulo 6
A Consultoria

6.5 Face e sua relação com aspectos Na análise facial os profissionais devem iniciar pela identifi-
de uma personalidade cação do formato do rosto do paciente, que geralmente está
O V isagismo se fundamenta no conceito de que a face ex- associado ao temperamento dominante. O visagismo trabalha
pressa visualmente a identidade de uma pessoa4,12-13. É atra- com nove formatos básicos de rosto que se relacionam aos
vés da face que o indivíduo se reconhece como pessoa e é re- temperamentos de acordo com os tipos de linhas de sua con-
conhecido pelos outros. Como observa Hallawell: “o rosto é a figuração como será demonstrado adiante. Os profissionais
materialização do ser de uma pessoa, e é no espelho que uma também devem levar em consideração a divisão da face em
pessoa constrói seu senso de identidade visual a partir de uma terços e a investigação da proporção entre esses. Alguns ter-
certa idade na infância” (ver Capítulo Identidade, Personalidade ços devem ser subdivididos em partes que se relacionam com
e sua Relação com a Imagem). aspectos específicos da personalidade, como se segue:
A correlação entre aspectos faciais e tendências de tem-
peramento figura como objeto de estudos desde civilizações 6.5.1 Análise do formato do rosto
antigas. Estudos mais recentes como a morfopsicologia14-15 São nove os formatos básicos de rosto: oval, redondo,
procuram evidenciar à luz da ciência a correlação entre aspec- quadrado, retangular, triangular, triangular invertido, lo-
tos físicos ou morfológicos e particularidades psicológicas16. sangular, hexagonal com lateral vertical e hexagonal com
base horizontal17.
O formato de qualquer coisa é percebido quando se
compara o espaço ocupado pelo objeto, chamado de es-
paço positivo, com o espaço vazio ao seu redor, chamado
Terço
Superior Intelecto de espaço negativo. Para conseguir perceber o formato do
rosto é preciso seguir, visualmente, os contornos do rosto,
observando os espaços ao seu redor e ignorando o rosto
Emoção
Terço em si e suas feições. A observação começa pelo ponto exte-
Médio rior do arco zigomático, com o olhar percorrendo a linha ex-
Ação e
Ritmo de vida terior do rosto, até o ângulo da mandíbula18. Essa linha será
curva, verticalmente reta, inclinada em direção ao queixo ou
Expressão,
Terço Intuição e inclinada para fora do rosto. Em seguida o formato do quei-
Sexualidade
Inferior xo é observado, seguindo o ângulo da mandíbula até a ponta
Vontade
do queixo, o mento. Finalmente, observa-se as linhas que
contornam a testa e os formatos que estas determinam.
O ângulo da mandíbula não aparece nos rostos ovais
A análise facial é o primeiro passo da consultoria proposta e redondos, caracterizados por uma linha curva do arco
por Hallawell, onde a equipe procurará investigar o formato de zigomático até o queixo, e nos triangulares invertidos e lo-
rosto e das feições, sua representação temperamental e sua sangulares, caracterizados por uma linha inclinada, do arco
manifestação no comportamento do indivíduo. É pela análise zigomático até o mento.
facial que o profissional obterá uma ideia sobre a tendência in- No rosto oval, a largura é igual ao tamanho do queixo
dividual para o predomínio de determinado temperamento, que até as sobrancelhas. No rosto redondo, a largura é maior e

Foto:istockphoto
deverá levar em consideração também as observações dadas é igual à distância entre o queixo e o meio da testa. O rosto
pelo próprio paciente. oval indica que a pessoa tem atributos melancólicos domi-

140 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 6
A Consultoria

estreito e longo, isso indica que o temperamento dominante seja


o melancólico. O rosto quadrado, apesar da força das linhas retas,
é imóvel e regular, o que sugere que a pessoa seja predominante-
mente fleumática.
Quando o ângulo da mandíbula se situa na altura da boca, a
linha lateral do rosto será vertical e o queixo será formado por um
triângulo, o que caracteriza o rosto hexagonal de lateral reta. É um
rosto dinâmico e está associado ao temperamento sanguíneo.
Assim como os formatos retangulares e quadrados, o ângulo
da mandíbula do formato hexagonal de base reta também se situa
abaixo da boca e a base raramente é absolutamente reta. Pode
Ilustrações: Philip Hallawell

ser confundido com o retangular, o quadrado ou o redondo, mas


diferente desses, a lateral do rosto é angular, formada por linhas
inclinadas, fazendo com que o arco zigomático seja protuberante,
Formato de rosto oval e formato de rosto redondo. igual ao do rosto losangular. Esse formato expressa característi-
cas coléricas e, com intensidade menor, sanguíneas.
No rosto triangular a base é mais larga do que o topo, portanto
nantes ou muito fortes, porque expressa suavidade. O re-
a linha lateral se inclina do ângulo da mandíbula, que se situa abaixo
dondo é associado a pessoas essencialmente fleumáticas,
da linha da boca, para dentro do rosto, até a testa. Pessoas que têm
porque expressa imobilidade e acomodação. Os mentos
esse tipo de rosto geralmente são fortemente coléricas.
desses formatos são arredondados.
As testas geralmente acompanham a parte inferior do rosto.
A diferença entre o rosto losangular e o triângulo inver-
Portanto, as linhas que contornam as testas de rostos redondos e
tido é que o losangular se inclina no arco zigomático, em
ovais são arredondadas. Observada de frente a testa terá formato
direção à testa, formando um ângulo no arco zigomático,
de meia lua. Nos rostos retangulares e quadrados essas linhas
enquanto a linha lateral do rosto triangular invertido conti-
nua subindo, formando uma testa larga. As linhas inclinadas
do rosto losangular expressam muito dinamismo, por isso
indica que a pessoa seja essencialmente sanguínea. O tri-
ângulo invertido é um formato instável, mas flexível. Expres-
sa características melancólicas e sanguíneas. Os mentos
desses formatos são triangulares. A linha lateral vertical ou
quase vertical indica que o formato do rosto é quadrado,
retangular ou hexagonal com lateral reta.
Nos rostos retangulares e quadrados o ângulo da man-
díbula se situa abaixo da linha da boca. A base raramente
é absolutamente reta. Pode ser levemente arredondada ou
triangular. Por isso pode ser confundido com os formatos
redondo, oval e hexagonal de lateral reta. O rosto retangu- a b
lar, por conter linhas retas, indica que o temperamento do-
minante seja o colérico. No entanto, se o rosto for muito Formato de rosto retangular: (a) retangular estreito (b) retangular largo.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 141


Capítulo 6
A Consultoria

aquelas pessoas que se identificassem com pensamento efer-


vescente, criatividade, impulsividade, instabilidade emocional,
ação muito dinâmica e às vezes desfocada, comunicação vi-
brante, e negociassem a imposição de sua vontade tenderiam
a apresentar o temperamento sanguíneo como dominante.
Toda a sua agilidade, extroversão e dinamismo seriam expres-
sos por traços faciais compostos por linhas inclinadas. Seu
formato de rosto seria triangular invertido ou hexagonal com
preferência ao hexagonal de lateral reta. Suas características
faciais seriam inclinadas, tais como testa inclinada para trás
quando vista de lado, olhos amendoados, nariz pronunciado,
boca grande e mento com formato triangular. O seu desenho
de sorriso seria o dinâmico.
Características como introspecção, discrição, elegân-
cia, apreciação de conteúdos culturais e artísticos, sensi-
bilidade emocional forte, ação sistemática, organizada e
Formato de rosto hexagonal de lateral vertical ou reta e formato de rosto losangular.
perfeccionista, expressão tímida e tendência a manipular
para impor sua vontade provavelmente apresentariam o
são retas, formando testas retangulares. As testas dos rostos
temperamento melancólico como dominante.
hexagonais, triangulares e losangulares geralmente são trape-
Seu formato de rosto mais provável seria o oval e seus tra-
zoides. O formato da testa do rosto triangular invertido é um
ços faciais seriam marcados pela delicadeza e linhas curvas.
trapézio invertido.
Sua testa provavelmente se apresentaria curva, tanto numa vis-

6.6 Temperamentos e sua manifestação ta frontal quanto de perfil onde se apresentaria também longa,

morfológica. Os “tipos puros”


O indivíduo que apresentasse características pessoais mar-
cantes relacionadas à força, liderança, objetividade ou praticidade,
intensidade e estabilidade emocional, ação persistente, expres-
são direta, sem meias voltas e vontade própria forte e impositiva,
provavelmente apresentaria como dominante o temperamento
colérico. Sua intensidade, força e estabilidade emocional o relacio-
nam automaticamente com as linhas retas, especialmente a reta
vertical e as formas que expressam tais características seriam
o retângulo e o quadrado. Em termos faciais esse indivíduo apre-
sentaria formato de rosto retangular ou quadrado com feições
caracterizadas por linhas retas como se segue: testa reta numa
visão lateral, mandíbula marcante com mento reto e projetado
visto lateralmente, olhos e sobrancelhas retilíneos, lábios expes-
sos, nariz largo, zigomáticos bem desenvolvidos e marcados e no
ambiente intraoral apresentaria o desenho de sorriso forte19. Já Formato de hexagonal de base reta e triangular ou “pêra”.

142 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 6
A Consultoria

bem largo, boca ampla com lábios apresentando pouca tonici-


dade, mento largo e ligeiramente retraído numa vista lateral.
Seu desenho de sorriso típico seria o plano.

6.7 Definição da intenção ou vontade


de expressão
O último passo da consultoria e também o mais impor-
tante é a definição da intenção do paciente ou sua vontade
de expressão4. Após a análise facial e a constatação de suas
correspondências psicocomportamentais, a equipe profis-
sional terá uma melhor ideia sobre as características mais
importantes da personalidade do paciente em suas esferas,
intelectual, emocional, de ação, comunicação e imposição da
vontade e, portanto, terá um quadro psicológico mais detalha-
do a respeito do paciente apesar de não profundo. Nesse mo-
mento é fundamental evitar pensar em soluções visuais antes
que o próprio paciente indique o caminho. O profissional terá
Ilustrações: Philip Hallawell

o compromisso de orientar o paciente a refletir sobre as ca-


racterísticas apresentadas (positivas e negativas) e a manei-
ra como elas o afetam em sua vida, de modo que esse deva
concluir a respeito de quais características gostaria de evi-
Formato de rosto triangular invertido. denciar em seu desenho de sorriso e quais gostaria de evitar.
Quando o paciente diz com precisão aquilo que percebe em si
seus olhos poderiam ser arredondados ou levemente caídos, como mais forte e determinante e que gostaria de expressar,
seu nariz curto e de ponta fina ou longo e adunco, sua boca é o momento em que se considera terminada a consultoria
seria pequena, com lábios finos ou em forma de cupido, seu e passa a ser de responsabilidade do profissional transferir
mento seria curvo e delicado, podendo se apresentar retraído essa vontade de expressão para o desenho do sorriso.
em uma vista lateral. O desenho de sorriso que expressaria tais Portanto, o objetivo final da consultoria seria o de identificar
características seria o suave. uma ou mais características positivas marcantes (autênticas)
O temperamento fleumático geralmente apresenta como que o paciente gostaria de expressar visualmente. Sabendo
características comportamentais aquelas relacionadas a esta- disso o profissional usará dos elementos básicos de linguagem
bilidade intelectual e emocional, ação lenta e cuidadosa, expres- visual aplicados sobre as condições orais preexistentes (unida-
são verbal suave, com muita cautela e ponderação nas palavras des) respeitando os fundamentos de harmonia e estética. Des-
e tendência a aceitar a vontade alheia com mais facilidade que sa maneira revelar-se-á a beleza do sorriso.
os demais temperamentos. Seu formato de rosto mais prová- Os casos clínicos a seguir exemplificarão a aplicação da
vel seria o quadrado ou circular e suas feições seriam espaça- vontade de expressão dos pacientes no desenho do sorri-
das com grande abertura no sentido horizontal, tais como testa so de reabilitações estéticas pouco invasivas, respeitando
larga e curta, olhos espaçados, redondos e/ou cerrados com as possibilidades e inviabilidades impostas pelas condições
pálpebras pesadas, o que lhe conferiria ar de cansado, nariz orais preexistentes.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 143


Capítulo 6
A Consultoria

6.8 Referências
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beleza. São Paulo: Senac; 2009.
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of treatment of objectives. Am J Orthod 1991;55:651.
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pacients concepts. J Am Dent Assoc 1980;100:345.
8. Andersen BP, Boersma H, Van der Linden FPG, Mo-
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10. Dawkins R. (1982). The extended phenotype: The gene New York: Dover; 1968.
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Paulo: Quintessence; 2003.
15. Rufenacht CR. Fundamentos de estética. São Paulo:
Santos; 1998.
16. Cattel RB. The scientific Analysis of the Personality.
Chicago, III: Aldine Publ; 1965.
17. Hallawell, P. Visagismo: harmonia e estética. São Pau-
lo: Senac; 2003.
18. Perard V. Anatomy and Geometry. New York: Bonanza
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19. Spear F. Facially generated treatment planning: a res-
torative viewpoint. American Academy of Esthetic Den-
tistry [16th Anual Meeting; 1991 Aug 8; Santa Barba-
ra, Calif].

144 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Desenho digital do sorriso:


do plano de tratamento à
realidade clínica
Christian Coachman, Andrea Ricci, Marcelo Calamita, Livio Galias Yoshinaga

7.1 Introdução 7.2 Razões efetivas para o uso


Com a demanda crescente por tratamentos altamente do desenho digital do sorriso
personalizados na Odontologia Estética contemporânea, tor-
na-se fundamental incorporar ferramentas que possam am- 7.2.1 Diagnóstico
pliar nossa visão diagnóstica, melhorar a comunicação entre O desenho digital do sorriso permite a descoberta gra-
os membros da equipe e criar sistemas previsíveis durante o dual de muitos fatores clínicos envolvidos num caso restau-
processo de desenho do sorriso e tratamento. rador simples ou complexo que podem passar desperce-
Para se obter resultados consistentes, o planejamento das bidos durante o exame clínico, na avaliação fotográfica ou
restaurações deve ser definido assim que os dados de diag- nos modelos de estudo. O desenho das linhas e formas de
nóstico forem obtidos, orientando as fases subsequentes da referência sobre imagens de alta qualidade na tela do com-
reabilitação1. Cada trabalho artístico requer uma visualização putador, seguindo-se um roteiro predeterminado, ampliará
inicial: na arquitetura, escultura ou pintura é necessário fazer a visão diagnóstica e ajudará à equipe a ponderar as limita-
uso de projetos, esboços ou protótipos. São representações ções e os fatores de risco, como assimetrias, desarmonias
bi ou tridimensionais do resultado final e, depois de terem sido e violações aos princípios estéticos. Uma vez identificado o
desenvolvidas, irão guiar os processos de construção, dese- problema e visualizada a solução, simplifica-se a seleção da
nho e modelagem. Da mesma forma, na Odontologia, todas as técnica apropriada.
necessidades, expectativas, e questões funcionais e biológicas O protocolo para o desenho digital do sorriso admite
dos pacientes devem ser cientificamente incorporadas no de- a comunicação efetiva entre os membros da equipe inter-
senho estético do tratamento, que deve servir como referên- disciplinar, incluindo o técnico de laboratório. Os membros
cia para todo o resto do procedimento2-10. da equipe podem identificar e ressaltar as discrepâncias
O objetivo deste Capítulo é apresentar um conceito singu- na morfologia dos tecidos moles e duros, discutindo sobre
lar do desenho digital do sorriso em duas dimensões (DDS), imagens ampliadas as melhores soluções possíveis para o
que fornecerá parâmetros importantes para guiar um ence- caso. Cada membro da equipe pode adicionar informações
ramento diagnóstico tridimensional efetivo. diretamente nos slides, escrever ou fazer o registro vocal
O DDS é baseado no uso de ferramentas digitais de alta simplificando ainda mais o processo. Com o armazenamen-
qualidade – estáticas e dinâmicas – que são consideradas to destes planejamentos “nas nuvens”, outros membros da
essenciais para análise, documentação e comunicação na equipe podem acessar estas informações sempre que pu-
Odontologia Estética contemporânea11 e que também po- derem, mudando ou adicionando novos elementos durante
dem ser usadas como base para realização de uma série as fases de diagnóstico e tratamento.
de procedimentos diagnósticos, incorporando dados cru- Como o uso do desenho digital do sorriso pode tornar
ciais no processo do plano de tratamento. o diagnóstico mais efetivo e o plano de tratamento mais

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 145


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

completo, o tempo necessário para sua implantação será tão logo possível, guiando toda a sequência de tratamento
resgatado, deixando a sequência de tratamento mais lógica para um resultado estético predeterminado. Um plano de
e direta, poupando tempo, materiais e reduzindo o custo du- tratamento eficiente permite que toda a equipe identifique, o
rante o tratamento. mais cedo possível, as mudanças para obtenção do resultado
esperado em todas as especialidades envolvidas1.
7.2.2 Comunicação
A literatura tem ressaltado a importância do desenho 7.3 Avaliação – feed-back - aprendizado
do sorriso, embora seja vaga em relação ao responsável O desenho digital do sorriso permite uma reavaliação pre-
pela sua realização. Podemos ver a importância da reunião cisa dos resultados obtidos em cada fase do tratamento. Com
dos dados diagnósticos pelos checklists4,7,12-13; entretanto, os desenhos e linhas de referências criadas é possível realizar
muitas informações podem ser perdidas se o significado comparações simples entre as imagens do antes e depois,
real não for transferido de forma adequada ao desenho da verificar se estão de acordo com o planejamento, ou se é ne-
reabilitação. cessária qualquer outra medida para melhorar os resultados.
Tradicionalmente o desenho do sorriso é materializado Esta verificação dupla constante de todas as informações é
primeiro pelo técnico de laboratório, quando realiza o encera- uma imagem para tratamentos de alta qualidade e ferramen-
mento restaurador, criando formas e arranjo, conforme as in- ta de aprendizado para toda a equipe multidisciplinar.
formações restritas, seguindo algumas diretrizes escritas ou
passadas pelo cirurgião-dentista ao telefone como: “aumente 7.3.1 Educação
2 mm”, “feche o diastema” etc. Desta forma, muita responsa- Muitas vezes o paciente não fica satisfeito com sua estéti-
bilidade é colocada sob os ombros do técnico(a), porque, mui- ca, mas não sabe, exatamente, quais são os fatores que con-
tas vezes, não possui as informações necessárias para rea- tribuem para sua aparência. Quando temos a oportunidade
lizar a tarefa. Desta forma, perde-se a oportunidade de criar de mostrar todos os elementos que não estão de acordo com
um sorriso que satisfaça totalmente o paciente. os princípios estéticos numa apresentação didática, podemos
Quando o coordenador ou outro membro da equipe res- educar o paciente sobre a severidade do caso, estratégias
tauradora que está em contato direto e tem empatia com o de tratamento, prognóstico e recomendações. A educa-
paciente e assume a responsabilidade pelo desenho do sorriso, ção sobre as soluções será mais fácil e direta ao paciente,
os resultados podem ser melhores, já que o profissional pode aumentando-se a credibilidade e verdade sobre a equipe
incorporar certas preferências pessoais ou características odontológica e, consequentemente, uma melhor aceitação
morfopsicológicas10,14. Assumindo esta responsabilidade, o ci- do tratamento proposto.
rurgião-dentista pode comunicar diretrizes importantes para o
enceramento, como as recomendações sobre o comprimento, 7.3.2 Apresentação do caso
forma, arranjo e nível do plano oclusal, baseado nas imagens. Usado para realizar a apresentação do plano de tratamen-
As desculpas para que o cirurgião-dentista não participe to, o desenho digital do sorriso tornará o processo mais efetivo
diretamente do desenho do sorriso são muitas, como o tempo e direto, porque permitirá ao paciente ver e compreender to-
ou o treinamento necessário. dos os múltiplos fatores combinados que criam as característi-
Para um DDS bidimensional, o técnico será capaz de reali- cas orofaciais. A apresentação do caso será efetiva e dinâmica
zar um enceramento tridimensional mais eficaz, concentrando- para ele, aumentando a aceitação do plano proposto.
se no desenvolvimento das características anatômicas dentro
dos parâmetros especialmente fornecidos, como o plano de re- 7.3.3 Visagismo
ferência, linhas média facial e dentária, posição da borda incisal, O desenho digital do sorriso se apresenta como ferra-
dinâmica labial, arranjo dentário básico e plano incisal. menta fundamental para o profissional que utiliza o visagis-
A transferência da informação do enceramento para a mo em seus planejamentos. Permite a esse profissional
fase de prova (test drive), pode ser feita pelo uso de uma si- confeccionar um desenho de acordo com a vontade de ex-
mulação (mock-up) ou restauração provisória. O desenho das pressão do paciente e apresentá-lo previamente à confec-
restaurações estéticas definitivas deveria ser feito e testado ção do enceramento diagnóstico. Essa estratégia objetiva

146 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

a discussão do caso entre ele e o paciente e o alinhamento linha média facial, linha horizontal de referência (geralmente
entre aquilo que o paciente espera ou deseja do tratamento linha interpupilar), duplicando-se essa linha e trazendo para
e o que o profissional visualiza para a resolução do caso. O a região oral.
profissional poderá ainda valer-se da apresentação de mais No terceiro slide, deve-se sobrepor uma imagem intraoral
de um desenho de sorriso, em caso de dúvida, com as varia-
maxilar com fundo negro sobre a facial; deve-se ajustar o tama-
ções de formas possíveis para o caso e explicar para o pa-
nho da imagem intraoral até se adaptar precisamente sobre
ciente o que cada desenho significa em termos psicovisuais.
a facial.
A decisão do desenho a ser seguido deve ser baseada na
O quarto slide deve mostrar a imagem intraoral com as
vontade do paciente e viabilidade de execução. Geralmente
aquele desenho preferido pelo paciente terá mais relação linhas de referências faciais e começar a confeccionar tra-
com seu senso de identidade visual, uma vez que a leitura ços para diagnosticar deficiências estéticas.
visual é inconsciente. Primeiro avalia-se a relação entre linhas média facial e
dental. Em seguida a relação entre o plano incisal com o
7.4 Desenho digital do sorriso – sequência plano horizontal facial de referência.
A técnica proposta é realizada pelos autores usando o A seguir desenha-se o contorno dos dentes superiores
programa Keynote (Apple), mas outros programas simila- onde se avalia a forma dental original e assimetrias de for-
res como o MicroSoft PowerPoint podem ser usados com ma entre os lados direito e esquerdo. Em seguida traça-se o
pequenos ajustes na técnica a ser descrita. O Keynote per-
longo eixo de cada elemento, o que permite visualizar como
mite a manipulação simples das imagens digitais e a adição
as variadas posições coronais podem ser a causa de insa-
de desenhos, linhas, formas e medidas sobre imagens clíni-
tisfação por parte do paciente. O próximo passo é desenhar
cas ou laboratoriais.
O desenho digital do sorriso segue uma sequência lógi- as linhas complementares como linha dos zênites gengivais,
ca, da região externa para a região interna da análise no linha de união das ameias gengivais e incisais.
paciente: facial, dentofacial, dentogengival e dentária (intra Por último deve-se traçar linhas interproximais verticais
e interdentária). A sequência mostrada abaixo é um passo para analisar a proporção “md” entre os diversos elemen-
a passo completo que pode ser modificado, diminuído ou tos superiores. Nesse momento o profissional terá um pa-
adaptado para diversas situações, dependendo das neces- norama diagnóstico, em que todos os principais elementos
sidades individuais. visuais constituintes da estrutura do sorriso podem ser
Deve-se abrir o programa Keynote num formato de slide 3 analisados e começar a visualizar possibilidades reabilitado-
para 1 e começar a inserir as imagens. As primeiras imagens
ras para o caso.
serão de face, sendo da esquerda para a direita: face com
A partir desse momento as intervenções a serem reali-
boca fechada (análise do formato do rosto), boca em repouso
zadas em termos de confecção do desenho do sorriso deve-
(análise dos terços faciais e exposição dental em repouso),
rão levar em conta a vontade de expressão e sua viabilidade
sorriso leve (relação entre plano incisal e borda superior do
lábio inferior) e sorriso largo com a boca aberta (para mostrar de execução de acordo com as possibilidades orais do pacien-
o contraste das bordas incisais com o fundo negro da boca). te, conforme mostrado no Capítulo Composição. O exemplo
Para o segundo slide, deve-se selecionar a imagem facial clínico a seguir ilustrará a sequência operatória do desenho
com sorriso largo e boca aberta. Nessa imagem delinea-se digital do sorriso à reabilitação cerâmica.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 147


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 1
Situação intraoral inicial.

Figuras 2 a
b c
Imagens faciais
pré-operatórias.

Figura 3
Linhas de referências
faciais, verticais
e horizontais.

148 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 4
Relação entre eixos
faciais verticais e
horizontais e região oral.

Figura 5
Contorno labial
e plano incisal.
Pré-operatório.

Figura 6
Relação de
discrepância
entre linhas médias
dental e facial.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 149


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 7
Sobreposição de imagem intraoral com afastador sobre sorriso com eixos
de referência.

Figura 8
Ajuste da sobreposição.

Figura 9
Eliminação da imagem inferior
e manutenção da intraoral com
eixos de referência faciais
para começar a desenhar.

150 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figuras 10a a 10e


Desenhos do sorriso
para orientar o
tratamento ortodôntico.
c

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 151


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 11
Tratamento ortodôntico finalizado.

a b

Figuras 12
Comparação entre antes e depois do tratamento ortodôntico.

152 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figuras 13
Novos desenhos de sorriso para orientar o enceramento diagnóstico.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 153


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 14
Enceramento diagnóstico.

Figura 15
Mock-up.

154 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

a b c d e

Figuras 16
Imagens extraorais com o mock-up.

a b c d

Figuras 17
Imagens faciais com o mock-up.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 155


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

a b

Figuras 18
Comparação antes e depois com mock-up.

c d

156 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

Figura 19
Preparo dental.
c
Minimamente invasivo.

Figuras 20
a b
prova dos laminados.

Figura 21
Laminados.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 157


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

158 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

c1 c2 c3

d1 d2

Figuras 22a a 22d


Resultado final. (d1 e d2). Comparação antes/depois.

Ceramista - Christian Coachman Ortodontista - Catharina Ricci


Desenho Digital do Sorriso - Christian Coachman Protesista - Andrea Ricci
Fotografias Clínicas e Laboratoriais - Christian
Coachman e Andrea Ricci

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 159


Capítulo 7
Desenho digital do sorriso: do plano de tratamento à realidade clínica

7.5 Referências
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160 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

aplicaçÃo clínica do

Visagismo
Na prática clínica o Visagismo se presta a personalizar rea- Bráulio Paolucci,
bilitações de configuração visual do desenho de sorriso final. Galip Gurel
Seu objetivo é conseguir um equilíbrio visual entre esse dese-
nho do sorriso final com a face e com aspectos psicocompor-
tamentais do paciente. Para isso é imprescindível a consultoria,
onde a equipe restauradora verificará, com o paciente, quais
suas principais características psicocomportamentais, suas
queixas estéticas, suas necessidades pessoais e desejos, e
através do uso de linhas e formas adequadas, procurará ela-
borar um desenho de sorriso que expresse visualmente a von- Este livro apresentará uma abordagem minimamente in-
tade de expressão do paciente. vasiva em casos de estética dental superior, em que a aplica-
Portanto, o Visagismo entra numa fase adiantada da rea- ção do Visagismo é restrita à configuração final de formas de
bilitação estética, após a equipe ter identificado os problemas elementos dentais, buscando respeitar ao máximo a estrutura
estéticos do caso, tanto do ponto de vista intraoral quanto ex- configurativa original, com suas conotações psicovisuais autên-
traoral, em que se avaliada a proporção entre os elementos ticas, almejando, dessa forma, alcançar resultados que, além
orais com a face, é proposto suas correções de acordo com os de preservar as estruturas orais pela mínima intervenção,
princípios de harmonia e estética consolidados na Odontologia. também respeitam seus significados psicológicos.
Em casos de estética dental, onde já se tem elementos ou A análise de cada caso seguirá uma abordagem inves-
unidades orais tais como dentes, rebordo ósseo e arcabou- tigativa de problemas estéticos particulares, partindo da
ço gengival como referência, a aplicação do Visagismo fica análise facial para intraoral, como demonstrado no Capítulo
condicionada por essas estruturas, que em suma devem ser Desenho Digital do Sorriso. A seguir um check-list que orien-
respeitadas o máximo possível, para se conseguir resultados tará essa investigação:
naturais e imperceptíveis. A vontade de expressão do paciente Análise facial
deve ser aplicada, nesses casos, como um detalhamento do • Configuração de eixos de referências horizontal e vertical
desenho do sorriso final, como proposto no Capítulo Compo- e sua relação com estruturas orais.
sição (ver Estrutura e Detalhe). Em reabilitações mais com- • Análise da exposição dental com lábios em repouso.
plexas, onde houve a perda de múltiplos elementos dentais, • Análise da exposição gengival em sorriso amplo.
rebordo ósseo e gengival, o seu uso é mais amplo, servindo Análise intraoral
a vontade de expressão do paciente como referência para a • Plano incisal.
reconstrução dessas estruturas perdidas tanto em termos de • Formas dentais.
estrutura quanto detalhe. • Eixos dentais.
• Proporção entre elementos dentais.
• Linhas complementares.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 161


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Alterações em unidades orais


Unidades
Orais Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Plano incisal X X X X

Eixos dentais X X

Formas dentais X X X X
Posicionamento
dental X X

Exposição dental X X

Proporção dental X X X X

Linhas
X X
complementares

Alterações em formas dentais


Formas dentais Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Central/Incisal X X X X

Central/cervical X X

Central/ângulo
incisodistal X X X X

Central/terço distal X X X
Lateral X X X X

Canino X X X

162 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Caso 1
Resumo
LOTG 31 anos chegou à clínica reabilitadora queixandose
do aspecto de seu sorriso. Na primeira consulta foram reali-
zadas imagens intra e extraorais e modelos de estudos. Na daquela esperada para a idade da paciente (exposição de
segunda consulta foi realizada consultoria visagista onde pro- 3,5 mm para idade de 30 anos em sexo feminino) exposição
curou-se avaliar a paciente acerca de suas características psi- pré-operatória da paciente: 2 mm. O desenho de seu segmen-
cológicas e comportamentais. Nesse momento a equipe avalia to anterossuperior com ausência de dominância de centrais
a paciente a partir das partes que compõe sua face, do ponto e plano incisal reto lhe conferia uma situação de simetria cor-
de vista morfopsicológico. Avaliou-se como ela processa seus rente ou horizontal. Após tomar conhecimento do significado
pensamentos a partir da forma de sua testa, avaliou-se como visual dessa situação (calma/apatia/monotonia), a paciente
processa suas emoções a partir do formato de seus olhos, seu disse que era esse exatamente o que a incomodava, mesmo
ritmo de vida a partir da forma de seu nariz e áreas parana- sem ela saber apontar de antemão o problema. Disse ainda
sais, como se comunica verbalmente pela forma de sua boca que gostaria de um sorriso estético, que ao mesmo tempo
e como impõe sua vontade a partir do formato e projeção de tivesse relação com sua identidade; queria um sorriso mais
seu mento. Nessa consulta ela interage indicando acertos e marcante, atraente e sensual.
correções. No fim dessa consultoria, a equipe tem um panora- Na consultoria a paciente demonstrou-se muito comuni-
ma psicocomportamental da paciente e investiga qual ou quais cativa, porém ressaltou que só se mostra comunicativa de-
de suas características gostaria de evidenciar no desenho de pois de ter certo conhecimento ou intimidade com quem se
sua reabilitação. relaciona. Apresentou-se positiva e delicada na colocação de
Na análise extraoral descartou-se desvio de linha média, suas ideias e vontades. A paciente gostaria de evidenciar em
mas observou-se pouca exposição dental com lábios em re- seu sorriso seus aspectos de comunicabilidade, sensibilidade
pouso. Na análise intraoral, descartou-se apinhamentos, desa- emocional e feminilidade, além de realçar sua força pessoal.
linhamento entre eixos dentais, restaurações deficientes, alte- Portanto, optou-se por manter o formato de seus centrais
rações de cor, plano incisal invertido e problemas periodontais, (trapezoidais) com detalhamento arredondado, para expres-
causas comuns de insatisfação estética por parte dos pacien- são de sensualidade, sensibilidade e delicadeza. Laterais com
tes. A paciente relatou não se sentir satisfeita com seu sorri- incisais curvas para caracterizar sua sensibilidade emocional.
so, porém, sem saber explicar exatamente o porquê, mesmo Caninos foram configurados com sua face vestibular discreta-
após a conclusão de tratamento ortodôntico. mente curva (suavidade). O plano incisal ascendente confere
Pela análise computadorizada do sorriso verificou-se pou- jovialidade e extroversão ao desenho do sorriso. A dominância
ca dominância de centrais, tanto em largura quanto em altura conferida a incisivos centrais torna o sorriso mais atraente ao
e consequente deficiência de plano incisal, que se mostrava olhar, assim como confere à imagem, a expressão de jovialida-
aquém do desejado e não paralelo à borda superior do lábio de pela maior exposição de centrais com lábios em repouso.
inferior. Por esse mesmo motivo a exposição de centrais Essa dominância está relacionada a características comporta-
superiores em situação de lábios em repouso ficava aquém mentais de imposição e força.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 163


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 1
Imagens faciais -
a b c
pré-operatório.

a b c d e

Figuras 2
Imagens extraorais - pré-operatório. Observar pouca exposição dental com lábios em repouso.

a b c

Figuras 3
Imagens intraorais.

164 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 4
Imagens intraorais com fundo negro.

a b

Figuras 5
Análise do formato de rosto (hexagonal de lateral reta) e eixos faciais de referências horizontal e vertical.
Observar que não há divergência de eixos dentários em relação a eixos faciais.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 165


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 6
Análise da relação entre linhas médias
facial e dental, assim como a relação
entre o plano horizontal maxilar e a linha
bipupilar (projetada na região oral).

Figura 7
Formas dentais pré-operatórios.

Figura 8
Relação entre formas
dentais/plano horizontal de
referência/linhas dos lábios.

Figura 9
Plano incisal
pré-operatório.
Praticamente retilíneo.

166 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 10
Proporção entre os
elementos dentais.

Figura 11
Observar relação de dominân-
cia em largura entre centrais e
laterais. Está deficiente.

Figura 12
Alargamento de centrais
e estreitamento de laterais
para se obter uma relação
gradativa mais próxima do
número áureo.

Figura 13
Correção de plano incisal
de acordo com plano oclusal
posterior e paralelo à linha
superior do lábio inferior.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 167


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 14
Correção do comprimento dos
dentes de acordo com o novo
plano incisal estabelecido.

a b c

Figuras 15
(a) Sorriso pré-operatório; (b) Mock-up com desenho dinâmico; e (c) Mock-up com desenho forte.

a b c

Figuras 16
Terceiro mock-up misturando formas triangulares com detalhamento arredondado. Observar correta dominância de centrais, plano incisal e exposição dental.

168 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 17
Sorriso com novo
mock-up.

a b c

Figuras 18
Face com novo mock-up.

a b

Figuras 19
Imagens intraorais com novo mock-up.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 169


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 20
Imagens de novo mock-up com fundo negro.

a b

Figuras 21
Remoção de metade do mock-up para verificar o ganho em volume dental.

Figuras 22
Verificação do volume a
ser conquistado: 1 mm
de expessura e 1 mm
de comprimento. O que
restringe o preparo dental
à remoção das resinas
a b
interproximais.

170 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 23
Imagem antiga da paciente, antes da confecção das resinas interproximais para servir de orientação no preparo.

a b c

Figuras 24
Preparos realizados. Houve somente a remoção das resinas interproximais. Não houve preparos incisal e vestibular.

a b

Figuras 25
Técnica do duplo fio para moldagem.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 171


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 26a a 26c


Sequência
laboratorial: (a)
Moldagem;
(b) Modelos precisos
“Técnica Will Rojas”;
e (c) Enceramento
b1 b2
pronto.

c1 c2 c3

172 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 26d a 26h


Sequência laboratorial:
(d) Atenção total
no momento da
e f g desinclusão;
(e) Modelo de troquel
e muralha de silicone
obtida através do
enceramento de
diagnóstico para
análise do espaço
a ser trabalhado; (f)
Enceramento pronto
para injeção;
(g) Elementos injetados -
pastilhas HT A1;
e (h) e.max ceram.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 173


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

i1 i2 i3 i4

i5 i6 i7

Figuras 26i a 26m


Sequência laboratorial:
(i) Sequência de
modelo, pastilha
e aplicação; (j)
Verificação do espaço
para aplicação da
cerâmica; (k) Aplicação
de cerâmica para
formar as incisais
J k
(Incisal 1, OE1 e
mamelos light, salmon
e yellow-orange);
(l) Após a primeira
queima e constatação
de espaço para a
segunda queima; e
(m) Aplicação das
massas de efeito (Ti3,
OE3,OE2 e OE1).
l m
Sempre respeitando a
muralha definida pelo
enceramemto.

174 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 26n
Sequência laboratorial: (n) Controle.

Figura 27
Resultado final - imagem intraoral com fundo negro.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 175


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a
Figura 28a a 28
Resultado final.
Vistas laterais direita
e esquerda.Observar
centrais com
estrutura triangular
e detalhamento
curvo moderado.
Laterais com incisais
discretamente
arredondados.
Caninos
configurados com
b
vestibular curva.

c1 c2 c3

c4 c5 c6

176 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 177


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 28g a 28h


(g) Correta exposição dental e textura
superficial e (h) Exposição dental de 3,5 mm
para paciente de sexo feminino com 31 anos
g
de idade. Resultado final.

178 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 28i e 28j


Resultado final.

J1 J2

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 179


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

k1 k2

Figuras 28k
Resultado final.

Ceramista - Adriano Schayder


Material Clínico Consultoria de Visagismo e Protesista - Bráulio Paolucci
Mock-up realizado com Structure-Vocco (resina bisacrílica) e guia em zetalabor. Desenho Digital do Sorriso - Bráulio Paolucci
O preparo dos dentes foi realizado com broca 2200 e 2134 f (KG Sorensen) e Fotografias Clínicas - Bráulio Paolucci
discos de acabamento e polimento (Shofu). A moldagem foi realizada com Elite Fotografias Faciais Finais - Edson Inácio (Casa da Foto, Barbacena/MG)
(Zhermack). Fios retratores 00 e 0 (Ultrapack). Cimentação com o kit Variolink II Fotografias Laboratoriais - Adriano Schayder
(Ivoclar Vivadent). Maquiagem - Heloísa Lima (Stúdio Liz, Barbacena/MG)

180 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Caso 2
Resumo
Paciente DC apresentava queixa estética relacionada ao
excesso de volume do caninos, irregularidade da linha dos
zênites e giroversão do 21. Na análise computadorizada do
sorriso, a equipe identificou outras possíveis causas de in-
satisfação e as esclareceu à paciente. Entre tais possíveis
causas, estaria, a falta de preenchimento dental dos cor-
redores bucais, o que colaborava para a percepção de ex-
cesso de volume nos caninos. O elemento 22 apresentava-
se recuado em relação a um plano vertical anterior, o que
reforçava a impressão de vestibuloversão do 21 e excesso foram corrigidos no computador. Após a correção 2D das
de volume do 23. Em uma vista superoinferior (olhando so- desarmonias estéticas entre os dentes, chegou o momento
bre a cabeça com a pessoa deitada de costas para o obser- de se definir a forma dental da reabilitação, em que as in-
vador), pôde-se verificar a relação entre as bordas incisais formações colhidas na consultoria ganham sua vez. Nesse
dos seis elementos anterossuperiores com a linha seco-mo- caso, procurou-se expressar dinamismo de ritmo de vida,
lhado do lábio inferior, onde se constatava vestibularização alegria, entusiasmo, positividade, extroversão, através do
do 21, recuo palatino do 22 e projeção vestibular do 23. formato trapezoidal dos centrais e inclinação medial dos
A linha dos zênites muito angulada (em ziguezague) inco- caninos, assim como plano incisal ascendente; porém, ca-
modava a paciente; portanto, uma regularização dessa linha racterísticas como sensibilidade emocional, delicadeza,
através de plástica periodontal foi sugerida. perfeccionismo e persistência nas ações, obtiveram sua
O caso foi avaliado ortodonticamente, porém foi descarta- expressão a partir de detalhes curvos como ângulos inci-
da a intervenção pelo fato de a paciente apresentar grande sodistais dos centrais. A paciente manifestou o desejo de
estabilidade oclusal e perfeita intercuspidação. O alinhamento expressar mais credibilidade e gostaria de ser mais res-
dos dentes dar-se-ia pelo desgaste interproximal (slice), o que peitada pelas pessoas, que a consideravam muito jovem, o
prejudicaria ainda mais a formas dentais já deficientes. que lhe atrapalhava profissionalmente. Tal característica foi
Através da análise computadorizada do desenho do sor- trabalhada no desenho do sorriso pelo maior domínio visual
riso observou-se relação de proporção visual inadequada dos incisivos centrais (impositividade) assim como incisais
entre os dentes anterossuperiores, com caninos se apre- retas que expressam estabilidade.
sentando mais largos que laterais em uma visão frontal e O preparo dos dentes foi realizado de maneira minima-
desarmonia de inclinação dos eixos dentais, tais elementos mente invasiva, segundo técnica proposta por pesquisador,
em que se realiza preparos sobre mock-up. Nesse caso em
que havia a necessidade de redução do volume dos caninos,
esse procedimento deve ser realizado com guias de silicone
para correta confecção do mock-up.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 181


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a1 a2 a3 a4

Figuras 1
Imagens faciais - pré-operatório.

a b c d

Figuras 2
Imagens extraorais - pré-operatório.

a b c

Figuras 3
Imagens intraorais - pré-operatório - frente.

182 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 4
Imagens intraorais -
a b c d pré-operatório -
45 graus.

Figuras 5
Imagens oclusal e
superoinferior
demonstrando
a b
desalinhamento dental.

a b

Figuras 6a e 6b
(a) Formato de rosto
oval e (b) Eixos faciais
verticiais e horizontais
de referência.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 183


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 7
Colagem de imagem
intraoral para
planejamento digital.

Figura 8
Verificação de
relação linha média
facial/dental.

Figura 9
Análise do plano
incisal.

184 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 10
Formas dentais originais.

Figura 11
Eixos dentais - pré-operatório.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 185


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 12
a
Análise de linhas
complementares:
zênites, ameias
gengivais
e dentais.

Figuras 13
Proporção dental a

pré-operatório.

186 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 14
Configuração do
sorriso pré-operatório,
segundo linhas
constituintes.

Figura 15
Correção digital da
proporção dental.

Figura 16
Correção dos eixos
dentais rotacionando
as coroas.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 187


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 17
Definição do
plano incisal.

Figura 18
Correção virtual da
linha dos zênites.

Figura 19
Correção digital
da linha das
ameias dentais.

188 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 20
Correção da forma dos centrais de acordo com a vontade de expressão da paciente.

Figuras 21
a
Sobreposição do
planejamento digital
sobre imagem intraoral.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 189


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 22
Mock-ups digitais diferentes: o da esquerda configurado com linhas inclinadas e formas triangulares e o segundo composto por linhas curvas.
Esse teste pode ser realizado para mostrar ao paciente e discutir com ele o que cada tipo de desenho expressa, de modo a fazê-lo refletir sobre o
que ou quais características são relacionadas a ele e qual desenho lhe agrada mais. Uma vez discutido o procedimento, um terceiro desenho de
sorriso pode ser apresentado, representando a soma média dos dois primeiros (desenhos de expressão primária) que seriam viáveis para o caso.

a b c

Figuras 23
Plástica gengival. Observar o corte angulado realizado no elemento 11 para que seu contorno cervical
reforçasse sua percepção de forma triangular.

190 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 24
Comparação antes/depois imediato.

a b

Figuras 25
Pós-operatório imediato. Observar: em pré-molares houve necessidade de osteotomia
de para reestabelecer distância biológica adequada.

Figura 26
Pós-operatório - uma semana. Vista frontal.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 191


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 27
Mock-up - imagem
extraoral.

Figuras 28
Mock-up - imagem
facial. a

b1 b2 b3 b4 b5

192 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 29
Preparo sobre mock-up
e demarcações.

Figura 30
Remoção do mock-up
após demarcações.

Figuras 31
Espaço interproximal
para facetas em dentes
posteriores após
preparo - vista oclusal.
Observar inflamação
gengival nas
áreas onde houve
rebatimento de retalho.
O preparo dental foi
realizado uma semana
a b
após a cirurgia.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 193


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 32
Vista oclusal do
preparo de dentes
anteriores.

a b c
Figuras 33
Vista frontal dos preparos.

Figuras 34
Fios retratores
posicionados para a b c

moldagem - técnica do
duplo fio.

194 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 35
Moldagem.

Figura 36
Provisório imediato com
desenho para orientação
do laboratório.

Figura 37
Comparação antes/
depois dos laminados -
a b imagens intraorais.

Figura 38
Trabalho finalizado.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 195


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 39
Imagens intraorais do trabalho finalizado.

a b c

Figuras 40
Imagens faciais do trabalho finalizado.

196 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 41
a b Comparação antes/
depois - facial.

Figuras 42c e 42d


Imagens do sorriso -
c
trabalho finalizado.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 197


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

198 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 42e a 42h


Imagens do sorriso -
trabalho finalizado.

Material Clínico Ceramista - Alexandre Santos (Studio Dental - Curitiba/PR)


Mock-up realizado com Structure-Vocco. O preparo dental foi realizado com broca Consultoria de Visagismo e Protesista - Bráulio Paolucci
4141 (KG Sorensen) para lentes de contato, seguido de acabamento com broca Desenho Digital do Sorriso - Bráulio Paolucci
4138 f (KG Sorensen) e discos de polimento (Shofu). Utilizou-se fios retratores 0 e Fotografias Clínicas - Bráulio Paolucci
00 (Ultrapack). A moldagem foi realizada com Virtual (Ivoclar Vivadent) e a Fotografias Faciais Finais - Edson Inácio (Casa da Foto, Barbacena/MG)
cimentação com cimento resinoso transparente Variolink II (Ivoclar Vivadent). Maquiagem - Heloísa Lima (Stúdio Liz, Barbacena/MG)

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 199


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Descrição da aplicação das facetas laminadas sobre refratário

Figura 1
Modelo torquelado com
precisão no sistema de
torquelização Giroform (Amann).
O material refratário utilizado
para a reprodução dos torqueis
foi o GCera Vest (GC).

a b

Figuras 2
Gengiva artificial
feita de silicona de
condensação para
orientar o perfil de
emergência das
c
lâminas de cerâmica.

200 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 3
Delimitação da área a ser coberta pela
lâmina de cerâmica e muralha com
referências no planejamento e preparo
para a realização das compensações (de
tamanho do remanescente) e aplicação de
cerâmica com previsibilidade.

Figura 4
Os dentes não apresentavam
escurecimento, indicando preparos
conservadores (a adesão cerâmica x
esmalte é muito mais efetiva do que
cerâmica x dentina). Como a espessura
para a realização do caso em cerâmica
é pequena, os efeitos internos da
aplicação de cerâmica foram realizados
já na primeira queima (wash), pois o
remanescente é considerado como
dentina para a realização da aplicação
de cerâmica nestes casos. O refratário é
totalmente branco e opaco, dificultando
a verificação da cor final da lâmina, o
que implica que a cor do remanescente
dentário influenciará quase que em
100% na cor final da restauração.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 201


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 5
Base pronta para a primeira queima de
cerâmica utilizando Deep Dentina para
as compensações, transparente Blue nas
proximais, dentina pura na cervical, massa de
Mamelos (Ligth), Effect 02 e 03 e uma camada
de Effect 01 para finalizar.

Figura 6
Primeira queima de cerâmica IPS d.Sign
(Ivoclar Vivadent). Nesse caso, como a
cerâmica é coccionada sobre o material
refratário, sua temperatura de queima
deve ser mais elevada do que
a queima sobre estruturas metálicas.

202 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 7
Detalhes internos da aplicação sob
luz transmitida indicando a alta
opalescência do material cerâmico.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 203


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 8
Início da segunda queima de cerâmica
respeitando o formato do planejamento
realizado para a paciente em questão. A
camada de esmalte aplicada neste caso
foi TS1 d.sign (Ivoclar Vivadent), totalmente
uniforme, mas com um acréscimo de 20%
de dentina A2, que é a cor selecionada
para o caso (para manter o matiz), e 20%
de massa opalescente, mantendo, assim,
um pouco da característica do esmalte
dental, com relação a este efeito natural.

Figura 9
Segunda queima terminada com luz
transmitida, evidenciando, ainda, a
opalescência da cerâmica utilizada.

204 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 10
Deixando a superfície da cerâmica uniforme
para a finalização de forma e textura.

Figura 11
Parâmetros iniciais de área de espelho pós-
queima (a intenção com a aplicação da
cerâmica é que os ajustes finais sejam os
mínimos possíveis, evitando, dessa forma, o
uso excessivo de brocas e com consequência
da retirada do esmalte que, em alguns casos,
não chega a espessura de 3 mm, sendo assim
difícil de controlar o desgate).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 205


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 12
Perfil de emergência da lâmina,
caracterizando um desgaste
muito conservador.

Figura 13
Áreas de espelho definidas conforme o
planejamento inicial e as características
do paciente e definindo a textura
superficial com uma iluminação lateral
com uma lâmpada de contraste
(Contraste - Caltini do Brasil).

206 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 14
Neste caso foi utilizado
somente pasta de Glase, sem
caracterizações evidentes,
mostrando a aplicação das
massas cerâmicas.

Figura 15
Textura após Glaze.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 207


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 16
Textura superficial.

208 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 17
Laminados cerâmicos logo após a retirada
do material refratário utilizado como base
para a aplicação. A espessura gera em
torno de 3 mm, 4 mm e 5 mm.

a b

Figuras 18
Fundo escuro influenciando totalmente a cor da lâmina.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 209


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 19
Qualquer alteração no remanescente
influenciará no resultado final da
cor do caso; por isso, este tipo de
restauração (lente de contato) tem de
ter indicações específicas.

Figura 20
Vista das lâminas ajustadas no
modelo sólido (para ajustes de
contatos proximais).

210 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 21
Harmonia dos centrais em
posição.

Figura 22
Formato conforme o
planejamento inicial.

Imagens Laboratoriais e Texto - Alexandre Santos

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 211


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Caso 3
Resumo
Paciente MACD apresentou-se à equipe restauradora
demonstrando insatisfação em relação ao seu sorriso. A
mesma paciente não sabia pormenorizar sua queixa, dizen- comportamento discreto e reservado. Foi proposta então
do que nunca se sentiu à vontade para sorrir, o que pode uma mudança do plano incisal de reto para ascendente,
ser observado em suas fotografias antigas. Nunca apre- giroversão de laterais, projetando sua mesial para anterior
sentava exposição de seus dentes no sorriso e, por esse e sua distal discretamente para posterior, assim como a
motivo, no passado procurou tratamento ortodôntico em redução visual dos caninos e inclinação de seus eixos para
busca de uma solução. O problema persistiu após o trata- medial, com o objetivo de suavizar sua imagem do sorriso.
mento e sua procura por profissionais da estética a deixou Tais mudanças serviriam para fazer com que o desenho do
mais frustada, uma vez que os profissionais se negavam a sorriso expressasse características pessoais autênticas e,
intervir em dentes completamente saudáveis e alinhados, portanto, houvesse um alinhamento entre autoimagem e
atribuindo sua queixa a problemas psicológicos. imagem externa. Pela primeira vez ela sentiu que suas quei-
Em um primeiro momento uma consultoria de Visagis- xas faziam algum sentido e demonstrou grande interesse
mo foi realizada, procurando conhecer melhor as carac- em realizar a intervenção.
terísticas psicocomportamentais da paciente, assim como O trabalho foi realizado de maneira minimamente in-
confecção de modelos de estudo e protocolo fotográfico. vasiva em centrais e caninos e em laterais onde haviam
Num segundo momento foi explicado à paciente o que facetas de resina. Houve uma intervenção um pouco mais
seu sorriso expressava visualmente: características de profunda, para que se removesse todo o material resino-
força, estabilidade, agressividade, determinação etc, ex- so e o substituisse por cerâmicas. A paciente manifestou,
pressas pelos incisivos retangulares posicionados com sua ainda, que gostaria que seu novo sorriso soasse o mais
vestibular totalmente voltada para anterior, plano incisal natural possível, o que indicaria à equipe que as formas
reto e caninos volumosos, o que não condizia com as ca- dentais deveriam ser preservadas, alternado-se apenas a
racterísticas pessoais autênticas demonstradas na con- retilinidade do plano incisal, a dominância e inclinação verti-
sultoria, como meiguice, delicadeza, dinamismo na ação e cal dos caninos, além da retilinidade no posicionamento de
laterais para que se conseguisse que o desenho do sorriso
ganhasse a expressão desejada pela paciente.
O preparo dos dentes foi realizado de maneira mini-
mamente invasiva segundo técnica proposta, em que se
realiza preparos sobre mock-up, mas nesse caso há a ne-
cessidade de desgaste de elementos dentais que terão seu
volume diminuído, como no caso os caninos, para confec-
ção correta do mock-up que servirá de referência para a
execução do trabalho cerâmico.

212 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 1
Protocolo fotográfico facial.

Figuras 2
Imagens da face a b
- 45 graus.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 213


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 3
Formato de rosto
hexagonal de base reta.

a b c d

Figuras 4
Protocolo fotográfico extraoral - frontal.

Figura 5
Imagem intraoral frontal com fundo negro.

214 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 6
Análise de eixos dentais.
Observar que caninos
e primeiros pré-molares
apresentam eixos rotacionados
para lateral numa vista frontal.

Figura 7
Desenho digital do sorriso com
eixos corrigidos para diminuir peso
visual de caninos e pré-molares
rotacionando seus eixos para
medial. Correção do domínio de
centrais e plano incisal de acordo
com plano oclusal posterior e
linha superior do lábio inferior.
Reproporcionamento dos elementos
anterossuperiores para diminuir peso
visual de caninos e obter gradação
próxima do número áureo.

Figura 8
Desenho do sorriso final. Observar
regiões de desgaste mais intenso em
caninos para obter melhor proporção
no segmento anterossuperior e
acréscimo de volume em incisais
de incisivos de acordo com
novo plano incisal estabelecido.
Acréscimo de volume também
na vestibular dos pré-molares.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 215


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b
Figuras 9
Mock-up.

Figuras 10
Antes/depois
a b
mock-up.

a b

Figuras 11
Antes/depois - mock-up - face.

216 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 12
Mock-up - face.

a b c

Figuras 13
Preparo sobre mock-up.

a b c

Figuras 14
Demarcação.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 217


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 15
Preparos minimamente invasivos.

a b

Figuras 16
Check do espaço para cerâmica - lente de contato.

Figura 17
Moldagem com Virtual
- Ivoclar Vivadent.

218 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 18
Lentes de contato.

a b c

d e f

Figuras 19
Sequência laboratorial: (a) Pastilha Opal 1; (b) Verificação de um pequeno espaço para aplicação de efeitos incisais; (c) Wash de OE 2; (d)
Aplicação de cerâmica para formar as incisais (IBL, OE1 e mamelos light, salmon e yellow-orange); (e) Aplicação das massas de efeito (OE3,OE2 e
OE1). Sempre respeitando a muralha definida pelo enceramemto; e (f) Caso finalizado.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 219


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 20
Lentes.

Figura 21
Antes. Logo
a b
após cimentação.

a b

Figuras 22
Antes/depois - face. Após a cimentação.

220 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 23
Antes/depois - sorriso.

a b c

Figuras 24
Imagem intraoral pós-cimentação de uma semana.

a b c

Figuras 25
Lábios em repouso após uma semana.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 221


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 26
Sorriso após
a b
uma semana.

Figuras 27
Sorriso - vista superior.

222 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 28
Relação lábios/dentes
a b
- imagem lateral.

a b

Figuras 29
Face. Trabalho concluído.

Material clínico Ceramista - Adriano Schayder


Mock-up realizado com Structure-Vocco. O preparo dental Consultoria de Visagismo e Protesista - Bráulio Paolucci com
foi realizado com broca 4141 (KG Sorensen) para lentes de participação do Dr. Marcelo Calamita.
contato, seguido de acabamento com broca 4138 f (Kg Sorensen) Desenho Digital do Sorriso - Bráulio Paolucci
e discos de polimento (Shofu). Utilizou-se fios retratores 0 e 00 Fotografias Clínicas - Bráulio Paolucci
(Ultrapack). A moldagem foi realizada com Virtual (Ivoclar Vivadent). Fotografias Faciais Finais - Edson Inácio (Casa da Foto, Barbacena/MG)
A cimentação foi realizada com cimento resinoso transparente Fotografias Laboratoriais - Adriano Schayder
Variolink II (Ivoclar Vivadent). Maquiagem - Heloísa Lima (Stúdio Liz, Barbacena/MG)

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 223


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Caso 4
Resumo
Paciente BRC chegou à clínica reabilitadora apresentado
deficiência papilar na região correspondente ao elemento
21 implantado, após várias cirurgias periodontais recons-
trutivas fracassadas. A perda da crista óssea interproximal
deixa um quadro clínico de difícil resolução com manipulação
de tecidos moles. Os elementos 11 e 22 apresentavam as-
pectos antiestéticos em restaurações de resina composta
antigas com coloração alterada. Apresentava-se discreto em
sua comunicação, chegando a demonstrar comportamento
reservado ou timidez. Sua queixa principal era a vergonha de
sorrir pelo defeito antiestético, o que comprometia seus re-
lacionamentos sociais e pessoais. Foi realizado enceramento
diagnóstico e confeccionado provisório imediato para verifi-
cação da dimensão da falta de papilas. Realizou-se análise
de linhas médias dental e facial percebendo não haver dis- 22 e 11. A restauração dos centrais foi condicionada pela
crepâncias entre as mesmas. A exposição dental com lábios situação oral pré-operatória, tal como o espaço disponível e a
em repouso apresentou-se satisfatória com os provisórios. deficiência papilar, indicando dentes retangulares para uma
Foi proposto tratamento com coroa cerâmica no elemento melhor solução desse problema. Na consultoria o paciente
21 com gengiva artificial e facetas cerâmicas nos elementos demonstrou interesse em manifestar no desenho de seu
sorriso qualidades autênticas como tranquilidade no compor-
tamento e tendência inata para dons musicais (característi-
cas artísticas). O desenho das bordas incisais foi configurado
como curvo para expressar tais características pessoais. O
desenho digital do sorriso indicou qual seria o posicionamen-
to ideal das pontas das papilas perdidas, pela observação do
alinhamento das papilas originais adjacentes (linha de união
das papilas gengivais).

224 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 1
Situação pré-operatória demonstrando grande perda de papilas mesial e distal no elemento 21.
Observar: presença de múltiplas cicatrizes após várias tentativas cirúrgicas para solução do problema.

a b c

Figuras 2
Imagens extraorais - pré-operatório.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 225


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 3
Eixos de referências faciais horizontais e verticais.

Figuras 4
Imagens extraorais: (a)
Lábios em repouso e
exposição dental e (b)
Sorriso autêntico com
grande exposições
a b
dental e gengival.

226 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b

Figuras 5
Situação intraoral com provisório imediato.

Figura 6
Avaliação da linha média dental em relação à linha média facial. Não coincidentes, mas paralelas.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 227


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 7
Avaliação do plano incisal e posicionamento ideal dos zênites.

a b

Figuras 8
Avaliação da perda gengival na região do elemento 21. (a) Posição ideal dos zênites gengivais e (b) Simulação de contorno cervical e ameias gengivais.

228 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 9
Avaliação das formas dentais resultantes condicionadas pelo contorno cervical e papilas gengivais imaginárias.

Figura 10
Correção do comprimento dental de acordo com o plano incisal sugerido pelos dentes posteriores.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 229


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 11
Preparos dentais para facetas cerâmicas.

Figura 12
Simulação de formas dentais previamente planejadas sobre preparos e implante.

230 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 13
Relação entre formas dentais planejadas em computador com preparos.

a b c

Figuras 14
Definição das bordas incisais como medida de personalização: (a) Retas, (b) Curvas e (c) Inclinadas.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 231


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 15
Avaliação da perda de estrutura de suporte vestibular (perda horizontal).

a b c

Figuras 16
Imagens dos preparos para faceta e sua relação com o arco antagonista.

232 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a1 a2 a3

b1 b2

b3 b4

Figuras 17
(a) Vista intraoral dos preparos sobre fundo negro e (b) Enceramento diagnóstico dentogengival
e muralhas de silicone que irão guiar todas as fases do trabalho.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 233


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c d

e f g

Figuras 18
Modelos de trabalho com as muralhas de silicone. Note as perdas severas de gengiva em relação
a posição correta do dente 21 nas Figuras a, d e f.

a b

Figuras 19
Confecção do abutment desconsiderando a incorreta posição da gengiva e dando a anatomia
correta ao preparo sempre guiado pelas muralhas.

234 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c d

Figuras 20
Abutment em modelo de resina.

a b c d e f

Figuras 21
Abutment em zircônia (Zirkonzahn).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 235


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 22
Abutment posicionado no modelo. Notar o quanto o seu término está afastado da base da gengiva.

a b c

Figuras 23
Estrutura sobre o abutment imitando o preparo do elemento 11. Artifício usado para ajudar no controle do valor,
dado a complexidade do caso 11 faceta e 21 implante (supraestrutura MO 1 e aplicado massas para reproduzir a translucidez do preparo).

236 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 24
Enceramento realizado sobre o abutment para a prensagem.

a b c

Figuras 25
Infraestrutura das facetas cerâmicas. Verificação da adaptação (e-max press LT A2).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 237


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 26
Enceramento da base para gengiva.

a b c d e

Figura 27
Abutment com base esculpida pronto para injetar.

238 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c d e

Figuras 28
Base da gengiva injetada (Zirpress G3).

a b

Figuras 29
(a) Abutment com base cerâmica e (b) Coping cerâmico sobre abutment e base cerâmica. Verificação da adaptação.

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 239


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 30
Aplicação da cerâmica para se obter os efeitos incisais desejados (i1, OE1 e mamelos light, salmon e yellow-orange).

Figura 31
Primeira prova.

a b c d

Figuras 32
Sequência clínica: (a) Instalação do abutment; (b) Cimentação do coping sobre a o abutment; (c) Primeira prova das facetas;
e (d) Adaptação das facetas finalizadas previamente à cimentação.

240 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

a b c

Figuras 33
Observe que falta cor, volume e papilas na gengiva. Devido à complexidade deste caso, por ser um único central, ter uma
linha de sorriso alta e uma cor bem complexa, usaremos a resina de gengiva Anaxgum by Christian Coachman.

Figuras 34
(a) Condicionamento
ácido; (b) Silano;
(c) Adesivo; e a b c d
(d) Resina Flow.

Figuras 35a e 35b


Sequência de aplicação
da resina gengival
a b
Anaxgum (Anaxdent).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 241


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

c1 c2 c3

Figuras 35c a 35f


Sequência de aplicação da resina gengival Anaxgum (Anaxdent).

242 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 243


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

244 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figuras 35g a 35j


Sequência de aplicação da resina gengival Anaxgum (Anaxdent).

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 245


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 35k
Sequência de aplicação da resina gengival Anaxgum
(Anaxdent). Remoção da prótese dentogengival para

k
acabamento (área de contato interno com a gengiva deve ser
convexa para proporcionar higienização adequada).

a1 a2 a3

Figuras 36a a 36c


Resultado final.

246 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

b1 b2

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 247


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Figura 36d
Resultado final, após dois anos. Houve pequenas fraturas na incisal de centrais, o que exigiu uma reanatomização com discos diamantados.

Figuras 37a e 37b


As incisais dos centrais reanatomizadas ficaram menos curvas.

248 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Material Clínico Consultoria de Visagismo - Bráulio Paolucci


Os preparos de central e lateral foram realizados com Desenho Digital do Sorriso - Bráulio Paolucci
brocas 2135 e 4138 (KG Sorensen) e discos de acabamento Fotografias Clínicas - Bráulio Paolucci
e polimento (Shofu). O provisório imediato foi confeccionado Fotografias Laboratoriais - Adriano Schayder
com Structure-Vocco. O implante utilizado foi Neodent 4.1 hexagono Implantodontista - Angelo Meneghin
externo. Resina para gengiva artificial Anaxgum (Anaxdent). Protesista - Bráulio Paolucci
Cimentação kit Variolink II (Ivoclar Vivadent). Técnico em Prótese Dentária - Adriano Schayder

Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso • 249


Capítulo 8
Aplicação clínica do Visagismo

Referências
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anteriores. São Paulo: Quintessence; 1996. Salama H, Cabral G. Prosthetic Gingival reconstruction
2. Arnett GW, Bergman RT. Facial keys of orthodontic in the fixed partial restoration. Part 3. Int J Periodontics
diagnosis and treatment planning. Part I. Am J Orthod Restorative Dent 2010;30:19-29.
Dentofac Orthop 1993;103: 299-312. 8. Rosa DM, Souza Neto J. Odontologia estética e a
3. Fradeani M. Esthetic reabilitation in fixed prosthodontics: prótese fixa dentogengival - Considerações cirúrgicas
esthetic analysis: a systematic approach to prosthetic e protéticas - Casos clínicos e laboratoriais: uma
treatment. Chicago: Quintessence; 2004. alternativa entre as soluções estéticas. J Assoc Paul Cir
4. Tarnow DP, Magner AW, Fletcher P. The efect of the Dent 1999;53:291-6.
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5. Coachman C, Salama M, Garber D, Calamita MA, Salama Science and art of porcelain laminate venners. London:
H, Cabral G. Prosthetic gingival reconstruction in a fixed Quintessence; 2003. p.231-4.
partion restoration. Part 1. Introduction to artificial 11. Kina S, Bruguera A. Invisível-restaurações estéticas
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Salama H, Cabral G. Prosthetic gingival reconstruction Ed Santos; 2001. p. 619-12.
in the fixed partial restoration. Part 2. Diagnosis and
treatment plannig. Int J Periodontics Restorative Dent
2009;29:S73-S81.

250 • Visagismo - a arte de personalizar o desenho do sorriso

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