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Caroline Scheidt
Pós-graduação em Design de Estamparia (SENAI CETIQT).
Email: lolidesign@gmail.com
Resumo
Este artigo se propõe a discutir a impressão digital como nova influência nos processos
criativos de estampas têxteis, principalmente aquelas que partem de imagens fotográficas.
Para tanto, realizamos revisão bibliográfica a partir de diversas fontes de referência para
identificar de que maneira os processos de estamparia digital atuais possibilitam a exploração
de processos criativos diferentes para construção de linguagens visuais fotográficas com o
objetivo de conferir maior competitividade ao campo da moda e design. O mercado da moda
tem-se modificado rapidamente com o aumento considerável no número de coleções e linhas
de produtos e as indústrias vêem-se obrigadas a oferecer maior variedade e quantidade de
desenhos por coleção, além de trazer produtos inovadores. Portanto, diante da criação sem
fatores limitantes ao designer, o processo de estamparia digital, facilitado pela rapidez entre a
criação e produção atende essa demanda por produtos variados, gerando flexibilidade e
exclusividade às empresas do campo da moda.
Palavras- chave: Estamparia digital. Imagem fotográfica. Linguagem Visual.
Abstract
This article aims to discuss the digital printing as a new influence on the creative processes of
textile designs, especially those departing from images. Thus, we performed a literature
review from various reference sources to identify how the current digital printing processes
allow the exploration of creative processes for the construction of different photographic
visual languages in order to provide greater competitiveness to the field of fashion and
design. The fashion market has been changing rapidly with the increase in the number of
collections and product lines and industries are forced to offer greater variety and quantity of
designs in each collection, in addition to bringing innovative products. Therefore, before the
creation without limiting factors to the designer, the digital printing process, facilitated by the
speed between the creation and production meets the demand for various products,
generating flexibility and exclusivity to companies in the field of fashion.
Keywords: Digital printing. Photographic image. Visual language.
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1 Introdução
O tema principal deste artigo aborda a impressão digital como “nova” influência nos
processos criativos de estampas, isto é, como uma nova variável a ser considerada nos
projetos, possibilitando diferentes construções de linguagem visual na estamparia têxtil. Para
tanto, pretendemos questionar de que maneira os processos de estamparia digital atuais
possibilitam a exploração de processos criativos diferentes para construção de linguagens
visuais fotográficas.
Nossa hipótese fundamental baseia-se em como a estamparia digital está revolucionando a
indústria têxtil em todo o mundo e propiciando a experimentação de novas linguagens para o
mercado. A impressão digital permite uma liberdade de criação onde os desenhos são
ilimitados criativamente, com qualidade fotográfica e utilização de milhares de cores na
impressão.
Para atingirmos os objetivos propostos, abordaremos temas como os princípios da impressão
digital, sobretudo quais as vantagens e desvantagens do processo digital em relação à
impressão rotativa (uma das formas clássicas de impressão, juntamente com a estampa a
quadro, que não abordaremos aqui).
Como metodologia proposta, realizaremos revisão bibliográfica a partir de diversas fontes,
tais como: livros, revistas, jornais, catálogos, sites e trabalhos acadêmicos especializados na
área de estamparia. As informações serão utilizadas para identificar possibilidades de
desenvolvimento de novos produtos com o objetivo de conferir maior competitividade ao
campo da moda e design através da impressão digital como ferramenta de diferenciação.
Ao final, pretendemos verificar novas construções visuais com relação a linguagem
fotográfica na estamparia têxtil utilizando como exemplos resultados criativos de peças de
estilistas renomados que usam a tecnologia digital de impressão.
É notável que O mercado de estamparia têxtil passou por um boom nos últimos anos. Marcas
e estilistas encontraram na estampa uma maneira de se destacar dentro do competitivo
mercado de moda, dando identidade e exclusividade às suas criações.
Em paralelo, as técnicas de estamparia em tecido evoluíram muito. Depois de passar por
batiks, blocos, cilindros e rolos de madeira chegaram aos atuais quadros e cilindros rotativos,
transfers e, finalmente, ao moderno processo de jato de tinta, batizado de estamparia digital.
Na estamparia digital, os desenhos são desenvolvidos em softwares e os dados do arquivo vão
direto do computador para a impressora, dispensando a etapa de separação de cores,
impressão de fotolito e gravação de tela ou cilindro. O processo é muito mais rápido, mas
ainda carrega um custo alto, sendo usado principalmente para metragens curtas, tecidos com
alto valor comercial, amostras e protótipos.
A variedade de tintas e possibilidade de efeitos dentro da estamparia também é grande. O
leque de escolhas vai dos conhecidos efeitos de plastificado ou flocado, que dão à estampa um
toque aveludado, a novidades, como tintas que simulam couro ou resultam em estampas
aromatizadas, com cheiro de frutas ou chocolate, por exemplo.
Como conseqüência dos avanços e crescimento do setor, as empresas passaram a ter
necessidade de contratar designers para estamparia, profissionais que se encarregassem de
desenvolver desenhos para essas estampas. Ainda que a estamparia como técnica de se
imprimir sobre tecidos seja uma arte milenar, pode-se dizer que o design de estamparia -
considerando este como o desenvolvimento de desenhos para serem impressos sobre tecidos,
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objetos.
Logo a repetição regular de elementos, sejam com caráter simbólicos, ou posteriormente
como elemento estético começa a ser elaborado sob a forma de estamparia. O aprimoramento
dos materiais e a evolução da tecnologia redescobriram o valor das superfícies.
Se observarmos a história da humanidade, podemos ver que o aprimoramento dos materiais e
a evolução da tecnologia em diversos movimentos e estilos artísticos fizeram com que o valor
das superfícies estampadas e as variações que ela permite fossem sendo sempre
ressignificadas.
Na história primitiva o tecido como embalagem do corpo servia como proteção e conforto
corporal. Para Chataignier (2006, p. 19) o tecido utilizado em moda por meio de seus signos é
um dos mais fortes e antigos meios de comunicação e até meados do século XVII o tecido era
considerado um artigo de luxo e pertencia a herança familiar.
Pereira apud Santos (2009, p. 4) revela que a cultura é “um processo social de produção de
significados (ideias, valores, crenças) capazes de manter ou transformar aspectos da nossa
maneira de viver”. Logo os significados atribuídos aos produtos estão interligados com a
cultura em que um signo é interpretado.
Dessa maneira, enquanto portadores de significados são considerados produtos culturais que:
(...) também se transformam, acompanhando as modificações nos valores e
nas práticas sociais. De acordo com as transformações na sociedade, alguns
artefatos deixam de ser usados e desaparecem, outros vão sendo atualizados
conforme novas necessidades, novas maneiras de pensar, de agir e novas
tecnologias disponíveis. Assim sendo, tanto os próprios artefatos, quanto os
seus significados podem ser alterados com o passar do tempo. Logo, os
artefatos precisam ser considerados como fenômenos situados cultural e
historicamente. (PEREIRA apud SANTOS, 2009, p. 4)
Ou seja, referências de material e da tecnologia são configuradas no produto dentro do
contexto em que foi/é produzido. Porém, o produto passa a ser um elemento efetivo de
comunicação ao ser disponibilizado para consumo, no mercado, pois difunde valores e
características culturais situados no tempo e espaço de uma época.
As inovações tecnológicas alteram a sociedade como um todo, desde os modos de pensar até
os métodos de criação e produção. O design de estamparia é uma área suscetível às mudanças
tecnológicas, pois é através dessas tecnologias que ele depende para criar métodos de
desenvolvimento de novos produtos. Rüthschilling (2006) destaca que “o designer deverá ter
conhecimento sobre as técnicas e processos (...) para controlar os efeitos visuais desejados em
sua criação”.
Hoje em dia, com o advento da estamparia digital enquanto uma das principais inovações
tecnológicas no campo da Moda, abriu-se um grande leque de possibilidades para o
desenvolvimento de estampas, seja no que diz respeito aos processos criativos, a exploração
das possibilidades de linguagens visuais diversas, a quantidade de cores usadas na
composição gráfica, na criação e estrutura dos módulos e rapport etc., cabendo ao designer de
superfície que trabalha com estamparia têxtil um importante papel na definição de como essa
tecnologia irá ser absorvida, seja pelos produtores de tecidos estampados, seja pelo
consumidor final dos produtos feitos com estes tecidos.
Para Rüthschilling (2008) no design de superfície as soluções estéticas surgem de uma
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Os designers começam a buscar inspiração em fontes até então inexploradas, a medida que
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começa a emergir novas linguagens visuais para design de superfícies. Por exemplo, a
impressão digital possibilita ilimitado número de cores e de tamanho de rapport e com ela
têm-se liberdade de utilizar degradês, efeitos luminosos diversos e uso de imagens
fotográficas como os exemplificados na Il.1, que apresentam imagens que têm um tipo de
estampa que só é possível a perfeita reprodução por causa do advento da impressão digital:
Segundo a La Estampa (2012) eles possuem grande liberdade de criação, pois seus
equipamentos de impressão digitais reproduzem fielmente todas as cores necessárias para a
montagem de estampas exclusivas e em bases de tecidos diferenciadas, portanto não há
limites de cores e de rapport para os desenhos.
A qualidade do tecido aplicado como papel de parede com imagens de tijolos, pedras e tábuas
assim como a estampa de capitonê da poltrona (Il.2) são idênticas a uma fotografia, dessa
maneira a impressão digital é capaz de representar fielmente imagens da natureza e de nosso
cotidiano.
De acordo com Bowles (2009) a estamparia digital apresenta quatro vantagens principais
sobre a impressão convencional: maior velocidade de transferência do desenho para o tecido,
capacidade de imprimir detalhes complicados e milhões de cores, possibilidade de reproduzir
imagens em grande escala e menores danos ao meio ambiente.
Quanto ao seu funcionamento, o processo de estamparia digital é semelhante a uma
impressora de jato de tinta: a máquina imprime diretamente sobre o tecido qualquer desenho
no formato digital; o tecido, que necessita de um tratamento específico prévio a fim de
receber os corantes que serão posteriormente fixados, terá na sua aparência final resultado
semelhante ao da obtida com a impressão em quadricromia. Ou seja, nesse processo não
existe gravação de cilindros ou quadros, não tendo portanto a limitação de cores que ambas as
técnicas impõem. Além de todas as vantagens já citadas, por fim, a impressão digital permite
uma produção em pequena escala, coisa difícil de se obter com a impressão em cilindro, por
causa do custo de gravação dos mesmos, que acabam por impor uma tiragem mínima do
produto estampado, a fim de diluir esse custo de produção.
Segundo dados de Saadjian (2011) a estamparia digital é o processo que mais cresce no
mercado desde 2005, sendo que produção de tecidos estampados digitalmente cresceu 300%.
Já para a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil, 2012) a produção de estamparia
digital cresce cerca de 25% ao ano e, somente no Brasil, já existem mais de 60 instalações
com essa tecnologia. Saadjian (2011) diz também que a estamparia por quadros ainda domina
o mercado, com 80% dos estampados, porém esse número pode diminuir com o crescimento
atual da estamparia digital (de 2005 prá cá foram 70 milhões de metros quadrados estampados
por este processo). Apesar do crescimento, vale ressaltar que esse método ainda representa
menos de 1% de todos os têxteis estampados, mas também se aposta num crescimento de 10%
durante a próxima década.
É através de dados como esses que se percebe um crescimento de empresas ligadas ao setor
de serviços de estamparia digital e para o designer trata-se de uma grande acessibilidade à
nova tecnologia.
Para Cunha (2011) o desenvolvimento da estamparia digital, desde 1991 até 2007, resultou da
notável evolução de diversos componentes do sistema de impressão digital, como o sistema
de transporte do tecido, as tintas e as cabeças de impressão. Nos últimos anos as cabeças de
impressão, que eram até então um fator limitante do sistema ‘de impressão digital, por sua vez
são os elementos chave que determinam a velocidade de impressão, a confiabilidade, o
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contínuos. Os traços ou retículas podem ser estampados com alta resolução (360 pontos por
polegadas) e com bons índices de solidez.
Uma outra grande vantagem do processo é que pode-se fazer tanto as estampas corridas
quanto as localizadas, criando vários desenhos numa mesma peça, ao contrário da rotativa que
produz estampas corridas somente.
Facilidade de experimentação, pois o processo é semelhante a uma impressora então pode-se
testar até encontrar o resultado desejado. Outra de suas grandes vantagens de acordo com
Quartino (2009) é que produz amostras com grande rapidez e facilita o controle do processo
através de eventualmente fazer correções imediatas, sem perder tempo e dinheiro, pois não é
necessário abrir matriz cilíndrica novamente. Existe rapidez em mudar de desenho na
impressão, possibilidade de acerto rápido e econômico de cores e impressão de vários
desenhos e combinações colorísticas ao mesmo tempo. Com a capacidade de estampar
múltiplas criações no mesmo momento, pode-se imprimir poucos metros de uma mesma
estampa e em seguida uma outra.
A estes elementos gráficos que se repetem infinitamente chama-se padrões e
é o tipo de ilustração mais conveniente para realizar os full prints (tecidos
completamente estampados), já que geralmente são simétricos e fazem com
que o tecido não tenha, visualmente, nem princípio nem fim, nem direito
nem revés. Desta forma, as diferentes peças que compõem um artigo de
vestuário podem ser cortadas em várias direções, aproveitando ao máximo o
tecido, e no momento de cosê-las não se notarão as diferenças direcionais.
Para além da simetria, ao conceber os padrões tem-se em consideração
outras variáveis: uma das principais é o fato de que o padrão será estampado
sobre um tecido com o qual se confeccionará um artigo de vestuário ou
acessório de moda. Isso quer dizer que as curvas e volumes do corpo
fornecerão dinamismo às criações, adquirindo valores que no plano não
teriam. (MARTÍN, 2009, p. 7)
Não é necessário linha de produção em escala com quantidades mínimas e o custo é reduzido
para amostras ou pequenas metragens segundo Fontão (2007). Muitas empresas imprimem
amostras digitais para serem usadas em desfiles de moda, dessa forma são testadas afim de
reproduzir mais para a venda nas lojas.
A impressão jato de tinta digital é usada para imprimir amostras na
preparação para serigrafia rotativa, ou para a produção de pequenas séries,
como os usados em alta costura. Há também um mercado emergente para
personalizados, sob medida, tecidos digitalmente concebidos e impressos
para ambos, mobiliário e têxteis da moda - o designer recebe uma imagem e
as instruções de um cliente e, em consulta com o cliente, desenvolve um
motivo em um tecido digital para especificado contexto do produto.
CLARKE (2011, p. 64).
Também possibilita a diferenciação dentro do mercado, uma vez que a confecção passa a ter
produtos exclusivos e maior variedade de padrões estampados na mesma coleção, além da
dificuldade de cópia.
Em entrevista realizada por email com a Pano Digital (informação verbal1) o proprietário da
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No dia 1 de dezembro de 2011.
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empresa Márcio Cosenday revelou que a impressão digital é mais rápida na medida que
“podemos ter 10 metros estampados em menos de 30 minutos e o processo convencional
necessita de vários dias até que grave os cilindros, ajuste as cores e etc.”, diz ainda que
“entretato, o processo convencional, depois de iniciado, é muito mais rápido que o digital. Daí
a vantagem daquele sobre este, em grandes quantidades de uma mesma variante. Entretanto
no Fast Fashion esta característica está cada vez mais rara”.
No entanto, o processo completo exige um tratamento sobre o tecido antes e após a impressão
para então poder ser cortado e costurado. Assim se resume num pré-tratamento do tecido, a
impressão digital sobre o tecido e o pós-tratamento que inclui fixação da estampa com
aplicação de calor e só então o tecido é lavado.
As estamparias digitais requerem um número reduzido de operadores e espaço para instalação
dos equipamentos, além de não necessitar de estoque de produtos já estampados visto que a
entrega é imediata. Fontão (2007) também diz também que a impressão digital facilita a
encomenda on-line do serviço, visto que os arquivos não exigem preparação para abertura de
matrizes.
É um processo ambientalmente limpo e menos agressivo, pois proporciona uma maior
economia de tinta, água e energia no momento da produção. Fontão (2007) também diz que
há menos desperdício de tecido, pois praticamente não existe perdas na produção. E por outro
lado o processo rotativo gasta muita energia, água, tintas, tecido, além de ser necessário o
tratamento de efluentes.
3 A imagem fotográfica
Rodrigues (2007) diz que mesmo que a escrita foi mais importante durante longo período, a
imagem sempre foi um dos principais meios de comunicação na história da humanidade.
Atualmente, Rodrigues (2007) diz que a imagem “ganhou grande destaque com o advento da
Internet e a difusão da comunicação global, em virtude da hipermidiação, que consiste na
combinação da informação em suas múltiplas dimensões: texto, imagem e áudio”.
A história da humanidade foi e ainda é marcada pela presença da imagem
como um dos principais mecanismos de comunicação entre os homens, que
a utilizaram na forma dos mais variados suportes e técnicas, tais como
“madeira, pedras, argila, osso, couro, materiais orgânicos em geral, metais,
papéis, acetatos, suportes digitais, (...) desenho, pintura, escultura,
fotografia, cinema, televisão, web (...)” (RODRIGUES apud RAMOS,
2007, p. 68).
As imagens fazem parte das relações entre os homens desde a pré-história e são fundamentais
na comunicação humana, mesmo após a invenção da escrita. Uma imagem revela por si só
vários significados – temos como exemplo hoje em dia as placas de trânsito – de maneira
abstrata é um suporte para que realizemos trocas de informações.
(...) a imagem (do latim Imago) é uma representação visual, construída pelo
homem, dos mais diversos tipos de objetos, seres e conceitos. Pode estar no
campo do concreto, quando se manifesta por meio de suportes físicos
palpáveis e visíveis, ou no campo do abstrato, por meio das imagens
mentais dos indivíduos. (RODRIGUES apud COSTA, 2007, p. 68).
A arte é um meio de produção de imagem e participa da construção do processo de
significação da história da sociedade. A arte produz significados novos para a vida social
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confrontando a nossa visualidade cotidiana. O homem por sua vez cria transformando o que
vê ao seu redor. A arte resgata os pensamentos do autor sobre o mundo que o rodeia e nos dá
a possibilidade de comunicar a concepção que temos das coisas. Dessa maneira a moda
também traz esse olhar. Para Moura (2008, p. 37) a moda é “uma importante área de produção
e expressão da cultura contemporânea”. A expressão da moda como vemos hoje surge a partir
de inter-relações entre criação, cultura e tecnologia. A mesma autora diz que a arte, o design e
a moda refletem os fatores culturais de uma época e representam contextos de
questionamentos relativos aos valores e formas de pensar e agir de uma cultura num
determinado momento. Logo temos que os objetos produzidos pelo homem devem ser
entendidos como reflexo de seu tempo e sociedade.
A imagem, segundo SANTOS apud FELIX (2010, p. 26), “é elaborada de um objeto e está
ligada à mensagem que se percebe dele, tendo a funcionalidade de um signo”. A escrita
fornece informação assim como a fotografia, onde as mensagens são escritas por cores, tons e
efeitos, que representam sob forma de códigos traduzidos uma interpretação e visão particular
do autor. Para Vieira (2006) a fotografia é um texto não verbal que, na ausência de palavras,
encontramos a imagem em silêncio que comunica informações. A fotografia revela detalhes
com poder de resumir acontecimentos e produtos, encontra-se em todos os segmentos de
comunicação, é de extrema importância para a sociedade e a indústria moderna que, na era da
informatização, não sobreviveriam sem a reprodução visual. Vieira (2006) diz que “a
tecnologia nos envia aspectos conceituais da fotografia, levando-nos a repensar a sua própria
identidade cultural com base no caráter de transmissora de informações, conhecimentos e
memória”.
A interpretação do receptor da imagem fotográfica gera diversas leituras, segundo Barthes
(1984, p. 28), “(...) de qualquer modo, há tantas leituras de uma mesma face (...)”. O autor
defende que a fotografia, ao contrário das outras artes, é impermeável a signos, aos códigos da
cultura e da linguagem.
A fotografia permite ver o que não se tem tempo de ver, pois ela fixa. (…), é
memória. O milagre é que esta emoção sentida diante de uma fotografia
muda, testemunho de um fato fixado por um instantâneo, possa ser sentida
por outras pessoas, revelando um fundo comum de sensibilidade, muitas
vezes não expressa, mas reveladora de sentimentos profundos quase sempre
ignorados. (VIEIRA apud ANDRADE, 2006).
Um dos fatores que o design vem buscando contemplar atualmente em resposta a nova
demanda de apelo emocional aos produtos é a questão da construção dos significados, aponta
Rüthschilling (2008).
O design não está somente ligado à criação de padrões, mas também de possibilitar a
exploração de planos, geometrias e volumes criando novas configurações. Ele deve aumentar
o espaço das variadas interpretações e possibilitar agir diferente. Essas interpretações podem
se tornar o propósito do design onde a modelagem da peça complementa a visão. Aproveitar-
se do avanço da tecnologia possibilitando o surgimento de novos diálogos para estabelecerem
no lúdico a transformação do cotidiano são os exemplos dos estilistas analisados a seguir.
Uma das principais estilistas que desenvolve novas interpretações do cotidiano através da
estamparia digital é Mary Katrantzou. Estilista grega radicada em Londres, sua principal
característica é explorar a técnica do trompe l’oeil, estilo de representação gráfica de
perspectiva usada nas artes para criar a ilusão de ótica, com detalhes hiper realistas que
alteram a percepção de quem vê. Ela aproveita as sombras e detalhes de desenhos em
tamanho “gigante”, como de jóias na Coleção Primavera/Verão 2009 e frascos de perfumes
vintage, para Coleção Outono/Inverno 2009) de acordo com Weber (2010).
Katrantzou mistura imagens fotográficas com ilustrações, também trata imagens com
linguagens hiper-reais de ambientes de design de interiores e aspectos arquitetônicos para
Coleção Primavera/Verão 2011 para conseguir efeitos que não conseguiria com outro tipo de
impressão em tecido. Sobre essa coleção, o site PATTERNPEOPLE (2010) afirma que Mary
Katrantzou captou a essência de setenta fotografias de Helmut Newton e Guy Bourdin, e ela
ainda revela: "Com essa coleção, eu queria colocar o quarto na mulher, em vez de a mulher no
quarto”. Para o Inverno 2011/2012 a estilista foi influenciada pelas obras de pintores do
século XIX, porcelanas e trajes da dinastia chinesa projetando formas e cores para valorizar as
curvas do corpo feminino com a modelagem sempre se adequando a estampa e vice-versa.
Mary lançou uma Coleção Primavera/Verão 2012 com nove peças em parceria com a mega
rede de varejo inglesa Topshop com padrões de cores vibrantes, gráficos complicados que
lembram muito as pinturas florais da China. A estilista também fez parceria em 2012 com a
grife francesa de bolsas Longchamp seguindo o colorido e irreverência com estampas
inspiradas também no oriente para os clássicos modelos da marca, como o famoso modelo Le
Pilage em versão de couro.
A Coleção Primavera/Verão 2012 foi influenciada por formas e cores da natureza, das flores
da primavera aos corais do fundo do mar. Já para a Coleção Outono/Inverno 2012/13 as
impressões digitais foram feitas com base em objetos da vida cotidiana como talheres,
máquinas de escrever e relógios, tudo sempre expresso com uso de linguagem maximalista e
fotográfica.
Outro exemplo vem da empresa Basso & Brooke da dupla de estilistas formada pelo
brasileiro Bruno Basso e pelo inglês Christopher Brooke. Conhecidos como os “pioneiros” a
usarem a estamparia digital nas passarelas, os designers usam a técnica em todas as coleções,
sendo considerada o “DNA” da marca.
As estampas por eles desenvolvidas seguem as curvas do corpo e as formas da roupa, através
de um rico jogo de luz e sombra respeitando o biótipo de cada continente. Partem da idéia de
singularidade, já que nunca repetem o mesmo desenho em mais de uma peça. Gostam de
trabalhar com imagens que não são o que parecem: são peças que enganam o olhar, nunca se
sabe o que é estampa e o que é vestido, o que é figura e o que é o fundo, a primeira vista,
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graças ao uso não convencional e inventivo das estampas, com as infinitas possibilidades
proporcionadas pela tecnologia digital, cujo o efeito chega a ser quase que hiper-real.
Para ilustrar, os estilistas elaboraram a Coleção Primavera/Verão 2010/2011 com um tema
“neopop”, onde representaram em seus tecidos as imagens do artista americano Jeff Koons,
que ficou conhecido por construir obras de arte através de objetos “sem valor”. O resultado
dessa referência é que as impressões tiveram bastante similaridade com a exploração do efeito
psicodélico presente no mundo natural.
Dando sequência aos exemplos, Basso & Brooke apostaram em modelagens tradicionais e
cores sóbrias para o Outono/Inverno 2011 e novamente com estampas que parecem um “zoom
in” (aproximação visual) de diferentes tecidos. Nessa coleção as estampas eram
multicoloridas, explorando o efeito 3D, e foram inspiradas na Ásia.
Para a Coleção Primavera/Verão 2011, a dupla misturou imagens fotográficas de flores,
paisagens, desenhos abstratos parecendo papel alumínio colorido, sempre com cores fortes e
combinações vigorosas, com um toque tropical. Para completar, usaram modelagens e
recortes que lembravam origamis e se confundiam com as estampas, criando um efeito trompe
l’oeil. Para o Outono/Inverno, 2011/2012 os estilistas se inspiram na obra do pintor Gerhard
Richter e trazem imagens que brincam com o aspecto de esconder/mostrar típico das
camuflagens confundindo a roupa com o cenário.
Depois de uma viagem a Sibéria a dupla criou para a coleção Primavera/Verão, 2012/2013,
estampas que lembravam flores e linhas abstratas para compor imagens coloridas, com peças
bem cortadas dando a sensação de uma roupa bem estruturada, porém bastante fluída. Para o
Outono/Inverno 2012/2013 com uma coleção desenvolvida sobre um sentimento de liberdade
eles brincaram com recorte e cole de grafismos ampliados ao máximo, conseguindo um
grande impacto visual. Ao ler a biografia de Matisse, foram inspirados pela maneira como o
artista, ao fim de sua vida, passou a se permitir explorar novas possibilidades de criação com
o trabalho de colagens. Os estilistas mesclaram diversas padronagens de listras à fotografias
de pontos de luz aumentados, complementando com as misturas de peças de estampas
diferentes entre si. Trabalharam com estampas assimétricas e quase como colagens de várias
estampas e texturas maximizadas. Ver o atual.
Jefferson Kulig estilista brasileiro de reconhecimento internacional, criou uma linha de
roupas mais democrática, para dialogar um público mais amplo e menos elitista. Ele sentiu a
necessidade de transmitir a imagem do Brasil no exterior, utilizou a arara como símbolo da
biodiversidade brasileira. A linha de camisetas premium (Il.5), chamada de JEFFER.SON é
embalada pelo tropicalismo trazendo a estampa inspirada em padronagens de animais para o
verão 2011/2012. Estampadas com tecnologia digital, as camisetas têm qualidade e design
únicos, sendo que o processo de produção respeita o meio ambiente, pois elimina a
necessidade de desenvolvimento de fotolito, matriz serigráfica e a preparação das cores,
diminuindo consideravelmente o uso de matérias-primas e energia. Desenvolvidas em tela de
malha, que conta com um bolso de PVC transparente aplicado com rádio frequência onde
coloca-se o i-pod. As camisetas brincam com estampas de animais dos mais diferentes tipos:
onças, gaviões, águias, zebras, girafas, esquilos, gatos e até de talharim, e em várias
modelagens.
As peças estampadas em tons lavados da Coleção Primavera/Verão 2011 da
estilista australiana Karla Spetic seguem uma linha minimalista e romântica, com estampas
digitais de paisagens urbanas fotográficas de moinhos, estradas e desertos. Já para
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de estilistas que se prevalecem com o uso da impressão digital, uma liberdade de criação
muito maior gerando produtos diferenciados e que se destacam no mercado da moda
atualmente. Cada vez mais empresas ligadas à moda serão levadas a experimentar o processo
digital e usufruir as múltiplas possibilidades de criação a que se destina.
A estamparia conquistou espaço importante, alcançando um novo patamar no mundo da moda
e tornando-se protagonista no desenvolvimento das roupas de uma coleção. A partir de
ferramentas digitais, é possível imprimir qualquer imagem, assim como ampliá-la e
transformá-la de inúmeras formas. Segundo Cunha (2011) Marc Van Parys, em 2005,
afirmou: “Estamos na era digital. Qualquer coisa que puder ser digital será digital. Tudo que
puder ser impresso digitalmente será impresso digitalmente”. Diante da criação sem fatores
limitantes ao designer, o mundo novo e tecnológico é capaz de trazer produtos inovadores na
área de estamparia.
Assim, por meio da elucidação da técnica digital de estamparia, foi proposta uma reflexão
sobre o desenvolvimento projetual para a produção de estampados têxteis sob aspectos
relacionados à estruturação dos elementos formais na distribuição da composição visual, tal
como o uso da fotografia. Portanto, este artigo é justificado e se propôs a identificar algumas
das contribuições que a impressão digital pode trazer para a criação de estampas têxteis.
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