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“Várias”, como as chamávamos, eram escritas quase sempre por San Tiago –
sempre quando o assunto era predominantemente político, ou envolvia
questões de política internacional, e ocasionalmente por Roberto Campos,
quando o assunto era o orçamento da República, ou por Octávio, quando se
tratava de café, então a nossa maior pauta de exportação.
Ao me decidir a recuperar as “Várias”, deparei-me desde logo com essa
questão, que deveria decidir: a quem atribuir cada um dos editoriais, já que
os seus autores não eram identificados em cada texto. Decidi, não sem uma
certa hesitação, deixar de lado essa questão, ou seja, considerar que as
“Várias” eram do jornal, e, portanto, estavam sob a responsabilidade de meu
tio.
Quando iniciei esse trabalho não tinha ideia da complexidade e do tamanho
da tarefa. A complexidade – logo verifiquei que a reprodução do texto do
jornal, a partir da hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, era não só muito
trabalhosa, como dependia, em grande parte, de um esforço de
interpretação, devido à má qualidade da impressão que saía da obsoleta
oficina gráfica do “Jornal do Commercio”, ao mínimo tamanho dos tipos
usados, à precária digitalização do jornal pela Biblioteca Nacional, e
finalmente ao próprio trabalho de escaneamento do texto das “Várias”, sua
leitura por um software de reconhecimento de texto, quando possível, ou sua
digitação, quando o texto não se prestava ao reconhecimento automático.
Mesmo quando o OCR apresentava um resultado satisfatório era preciso
revisar cuidadosamente o texto, atualizar a ortografia e as regras de
gramática. Depois de parcialmente concluída a tarefa foi necessário
pesquisar na Biblioteca Nacional a versão microfilmada do jornal, um pouco
mais nítida que a digitalizada, para deslindar alguns textos e especialmente
as datas, os valores e as quantias em moeda referidas, que não se podiam
deduzir, como os trechos truncados do texto, do sentido das sentenças ou do
contexto.
O tamanho da tarefa – só então me dei conta de que o tempo em que o jornal
pertenceu a meu tio cobriu 738 dias, e, embora o “Jornal do Commercio” não
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ações são inicialmente subscritas pela União, mas podem ser vendidas, ainda
que em parte reduzida, a entes públicos e a particulares.
Onde é de lamentar a deformação do projeto primitivo, é no tocante ao
sistema de administração colegial, que deixou praticamente de existir, uma
vez que o Conselho deixa de escolher o Superintendente da Rede e de ter a
faculdade de demiti-lo, para passar a ficar sob sua autoridade.
Digno de nota é o fato de a Rede assegurado o reajustamento das tarifas
sempre que crescem as despesas do seu custeio, ficando a União obrigada a
votar recursos explícitos para subvencionar os serviços, quando o
reajustamento lhe parecer inoportuno. Essas e outras medidas iniciam entre
nós o combate indispensável ao sistema de subvenção oculta dos serviços
públicos contido na prática antieconômica de não rever tarifas e de
encampar os prejuízos verdadeiramente calamitosos das autarquias.
Vai a Rede Ferroviária entrar em experiência. É o momento de lhe assegurar
o Governo um Superintendente de elite, escolhido entre os grandes
ferroviários de que dispomos, e de lhe proporcionar autoridade e liberdade
para o êxito da implantação.
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condestável. Sua autoridade de fato era menor que sua autoridade de direito,
e o seu problema, ou melhor, o seu dilema, era que a permanência do general
Lott no governo parecia desprestigiá-lo, e a saída do general parecia
desampará-lo.
A pertinaz campanha da UDN coroada pelo episódio da espada de ouro —
interessantíssimo exemplo do que pode suceder à inexperiência política —
conduziu à libertação do sr. Juscelino Kubitschek, sem perda da colaboração
ainda valiosa do general.
Outros episódios políticos do ano findo, fomentados pela oposição,
apresentaram saldos negativos no encerramento. Tanto mais que as forças
do partido se dividiram na sua dupla tendência tradicional — a dos que
querem lutar e acusar a qualquer preço, mesmo sem uma finalidade
partidariamente construtiva, e a dos que querem colaborar com o governo
quase sempre visando a acomodações regionais.
É provável que essa linha desastrada tivesse origem, em grande parte, nas
perigosas toxinas deixadas pelo 11 de novembro na circulação política do
país. O desapontamento do general Juarez Távora, a revolta ao sr. Carlos
Lacerda, contra o seu próprio partido, o cansaço do sr. Affonso Arinos de
certos aspectos da vida partidária, a aversão do sr. Milton Campos pela
personalidade do Presidente da República, por certo contribuíram para que
a orientação da UDN se processasse com assomo e falta de sentido tático,
gerando impaciência e desapontamento mesmo naqueles círculos que
renegam a filiação partidária ao udenismo, mas não conseguem alimentar-se
senão das ideias e emoções que ela engendra.
Indo assim, o ano político de 58 só podia encerrar-se, para o Partido, com
perdas. O ano corrente despertou, porém, ao que parece, uma reação
salutar.
O primeiro ponto a observar é a condução à liderança da Câmara do sr. Carlos
Lacerda. Muitos poderão pensar que o líder da mais feroz campanha de
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Em primeiro lugar não lhes pode passar despercebido que o Poder Legislativo
atravessa entre nós, como em outros países, uma grave crise de prestigio e
de autoridade. Sobre ele pesa a acusação de ineficiência, não faltando quem
pense haver uma inadequação irremediável entre a complexidade técnica da
matéria legislativa de hoje e as condições do trabalho parlamentar.
Mais grave, porém, do que a acusação de ineficiência é a permanente
prevenção da opinião pública contra o risco da deturpação da função
legislativa pela tendência a exercê-la, em alguns casos, no interesse particular
do legislador.
Quando esse interesse é o político, que leva à desorganização de um plano
de governo pelo desejo de favorecer zonas eleitorais de certo parlamentar, a
revolta da opinião pública ainda é diminuta, e o abuso se debita à conta da
ineficiência.
Quando, porém, o que avulta, como motivo ostensivo do ato, é o interesse
privado, econômico, dos parlamentares, a reação popular é mais profunda, e
o abalo já repercute junto aos alicerces da instituição. Tem sido assim nos
aumentos de subsidio, votados pelo Congresso em seu próprio benefício,
mesmo quando esses aumentos estão justificados pela alta do custo de vida
e pelo renivelamento das remunerações. E assim foi quando a Câmara dos
Deputados, numa atitude duas vezes infeliz, houve por bem subtrair os
congressistas ao regime de sacrifício, que impunha a todo o país, para a
importação de automóveis.
O segundo aspecto a considerar reside justamente em tratar-se, no caso, de
automóveis. Com razão, embora com exagero, o automóvel tornou-se, em
nosso país, o símbolo do consumo suntuário e da importação indesejável.
Nele se traduz o consumo ostentatório do rico, e pelo seu afluxo imoderado
aos portos de um país, cujas divisas são insuficientes para as necessidades
mínimas de sua economia, é licito aferir a extensão dos efeitos da inflação
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ponto de vista jurídico, ela parece conter tudo quanto é necessário para tirar
a um Congresso, não só o prestígio, mas a própria legitimidade.
Comecemos pela análise jurídica. O mandato de cada deputado ou senador
não lhe foi conferido, através do voto, por prazo incerto ou indeterminado. É
da essência do mandato político a limitação no tempo, de sorte que, expirado
o período para o qual o representante foi escolhido, perde este a
representação de maneira fatal e imperativa. Pode, porém, o próprio
representante atribuir-se, por uma lei votada por ele mesmo, um período
suplementar de representação?
É claro que não. Primeiro, porque este mandato complementar não derivaria
do representado, mas seria obra do próprio representante, o qual se estaria
investindo de autoridade política, isto é, estaria cometendo o que na técnica
democrática não pode ser qualificado senão de usurpação do poder.
Segundo, porque a lei é por definição norma de conduta ou de julgamento
para o futuro, não podendo ter a força de atribuir efeito diverso a um voto
depositado na urna anos antes.
Se a prorrogação dos mandatos tem essa qualificação jurídica, é óbvio que o
Congresso que a votasse ficaria exposto a ver contestada sua legitimidade A
dúvida sobre a legitimidade de um poder é a mais séria crise que se pode
produzir no Estado, pois a autoridade perde daí por diante os seus anteparos
naturais.
Do ponto de vista político a prorrogação dos mandatos apareceria como um
simples ato de interesse próprio dos congressistas, desejosos de se forrarem
aos ônus de um novo pleito em 1958. Não sendo possível apontar a razão de
ordem pública desse metaplasmo eleitoral, não saberíamos porque deixar de
fazer nova prorrogação ao fim do segundo período, e a vida institucional do
país ficaria na simples dependência da possibilidade ou do sucesso das
barganhas, perdendo a seriedade e a autoridade.
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O sr. José Maria Alkmin vai comparecer segunda-feira à Câmara, para fazer,
perante os deputados. uma exposição da política econômica e financeira do
Governo. Não comparece convocado. Pareceu-lhe útil, com certeza, ao fim
de um ano de gestão, explicar aos representantes do povo o que foi feito, e
o que se pretende fazer no setor básico da administrado pública, que lhe está
confiado.
Nenhuma visita de ministro seria, nesta altura, mais oportuna. A nação tem
ouvido do sr. Presidente da República e do seu ministro da Fazenda mais de
uma exposição otimista sobre o modo por que evolui a situação econômica.
A alta incessante dos preços, entretanto, deixa nos espíritos impressão
diversa, e nos últimos tempos a indústria e o comércio começam a considerar
com inquietude o que lhes parece um sinal, ainda incerto, mas persistente,
de queda do consumo no mercado interno.
Por outro lado, as emissões de papel moeda continuam, solicitadas pelo
volume crescente dos gastos públicos, e os impostos parecem haver atingido
ao limite, a partir do qual se tornam prejudiciais à economia de um país em
fase de desenvolvimento.
A explicação desse estado de coisas e a indicação das medidas planejadas
para enfrentá-lo, é o que a nação espera ouvir segunda-feira do sr. José Maria
Alkmin. Seu gesto assume um sentido, e merece antecipados encômios, se o
que ele pretende fazer na Câmara é uma autocrítica resoluta e sincera. Se,
pelo contrário, o que o move é a procura de um sucesso fácil, à custa de meias
verdades e de recursos de habilidade parlamentar, o episódio será
contraproducente, e poderá antecipar o encerramento do crédito de
confiança, que o público concede a todo ministro da Fazenda para enfrentar
as dificuldades da pasta.
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Querendo abafar seu próprio incêndio nas chamas, muitas vezes salvadoras,
de um incêndio maior, não tarda que uma das facções em luta procure
envolver nas paixões e doestos os militares. A provocação aos quartéis já faz
parte dos métodos mais consagrados da política personalista.
As forças governistas querem incitar os militares, tanto quanto a própria
oposição quer provocá-los. E a segurança das instituições fica, uma vez mais,
na dependência do grau efetivo de imunidade, que as forças armadas hajam
conquistado contra essas insídias de origem civil.
Quem expia as culpas dos agitadores políticos, são os industriais,
comerciantes, técnicos, agricultores, profissionais, funcionários, militares e
trabalhadores, que formam o povo organizado. As atividades econômicas,
mais do que qualquer outra, são sensíveis à atmosfera de inquietude. que
prenuncia as crises e gera o risco das soluções de continuidade.
O dia de ontem, na praça do Rio, foi de inquietação, mal definida, porém,
generalizada. Não só a taxa do câmbio livre acusou reações bruscas, sem
procura maciça que as explicasse, mas os negócios em geral se fizeram
assinalar pelo retraimento.
Os profissionais da agitação personalista saíram a campo para perturbar, uma
vez mais, a paz de que o país necessita para o trabalho. É indispensável que
a crise seja vencida com energia e brevidade, se queremos evitar que ela
caminhe em direção aos alicerces das instituições.
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código, sem a qual já há muito seria ridículo supor que ele não estivesse
decifrado.
Quando o telegrama 295 chegou ao Itamarati, foi, como todo telegrama
secreto, decifrado e imediatamente parafraseado, isto é, transformado
num texto com o mesmo sentido, mas com outras palavras, e uma vez
confrontados os dois textos por funcionário altamente responsável, o
original deve ter ido para o cofre, a que tem acesso poucas pessoas. e a
paráfrase deve ter ido ao destino próprio, cercada embora das cautelas de
sua classificação.
Qual desses textos o deputado Carlos Lacerda obteve e revelou O original ou
a paráfrase? Se foi esta, resta-lhe a responsabilidade, que adiante
analisaremos, de haver revelado telegrama secreto, mas não a de haver
posto em perigo a defesa nacional. Se foi, porém, o original, cabem-lhe as
duas responsabilidades, mas com ele terá de comparecer perante a Justiça
Militar o responsável pela entrega do documento, o qual, em se tratando de
texto a que muito poucos têm acesso, ou será facilmente descoberto ou será
inexoravelmente aquele, ou aqueles, sob cuja responsabilidade funcional se
acha o segredo revelado.
Essa primeira investigação é, pois, indispensável, para que a Câmara possa
medir a extensão da responsabilidade do deputado.
Num caso, como no outro, entretanto, ela existe, embora com importância
diferente. Não nos devemos perder na discussão sibilina sobre o direito que
tem o representante do povo de revelar fatos e textos secretos, no
desempenho do seu mandato. Só a consciência do representante pode
decidir se o interesse nacional exige que ele revele o fato secreto ou que o
comunique a seus pares. O que ele não pode, porém, fazer, de modo algum,
sem transgredir as normas do direito e da moral parlamentar, é revelar esse
fato em sessão pública. Para isso criou o Regimento da Câmara, no art. 82, a
sessão secreta, cercando o debate e as deliberações do maior sigilo, inclusive
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pode parecer, indulgência para com os acusados, mas desconfiança para com
os acusadores. A ideia de que todos se valem é a resultante final, o fruto
extremo da hecatombe de reputações.
E esse povo, nutrido pela verrina e fatigado do vitupério, mal acredita quando
vê morrer, em pobreza extrema, um homem como o sr. Artur de Souza Costa,
que saiu da direção de um banco particular para ir ser, durante onze anos,
Ministro da Fazenda de um governo ditatorial, precisamente daquele
governo sobre cujos membros foram lançadas as mais indiscriminadas
acusações.
A eleição de homens como o sr. Ademar de Barros não prova que o povo de
São Paulo deixou de condenar as malversações de que o acusam. Prova, isso
sim, que aquele povo deixou de confiar nas acusações e nos acusadores, e
essa perda de crédito da classe dirigente deixa na vida política um vazio, em
que facilmente prosperam as seduções dos demagogos.
A luta contra o personalismo deve ser. assim, a verdadeira campanha cívica
do momento que atravessamos. Será preferível corrermos o risco de acusar
de menos, do que perseverarmos no erro de acusar demais.
O povo brasileiro quer dos seus homens públicos alguma coisa mais do que
campanhas de imprensa e discursos parlamentares de destruição mútua.
Enquanto tantos políticos — para o gosto mórbido de alguns leitores e
radiouvintes — se repastam na reputação do próximo, o povo brasileiro tem
trabalhado, tem crescido, tem adquirido novos instrumentos de cultura, e
com estes a consciência dos grandes e inadiáveis problemas de que
dependem a prosperidade, a independência e a dignidade do país.
É para estes problemas que apelos como o da Associação Comercial estão
hoje conclamando os homens públicos de todas as facções.
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Assim como deve ser repelida essa conceituação, que revela apenas o
propósito de exaltar e confundir os ânimos, sobretudo o dos militares, assim
não pode ser aceita a afirmação udenista de que a aplicação de medida
disciplinar ao deputado pela própria Câmara importa em violação do
mandato e ameaça subverter as instituições.
As instituições não se subvertem quando funcionam. Em todo parlamento a
inviolabilidade do mandato tem seu alcance limitado pela própria ação
disciplinar da Assembleia sobre seus membros. No estado atual da
consciência jurídica não se conhece poder absoluto, ou ilimitado. O do
deputado, ou senador, de exprimir seu pensamento no exercício do
mandato, não encontra outro limite senão o do decoro parlamentar, cuja
transgressão a Constituição sanciona com a perda do mandato imposta pela
câmara a que pertence.
Se o deputado Carlos Lacerda incorreu ou não nos pressupostos da perda do
mandato é o que a Câmara vai apurar, e afinal decidir, por dois terços dos
seus membros. Não é possível antecipar aquela apuração ou esse julgamento
porque a verdade é que os fatos são incompletamente conhecidos, e sem
uma instrução adequada seria temerário qualquer pronunciamento.
Os que prejulgam o líder udenista acoimando-o de traidor induzem a opinião
pública a um erro de julgamento e a uma exaltação de ânimo impatriótica.
Os que dizem que a Câmara, apurando os fatos de que o deputado é acusado,
vai violar o mandato e desrespeitar as instituições, negam a estas o direito de
desempenhar uma de suas funções básicas, a disciplinar, sem a qual
desapareceria uma das seguranças do próprio regime.
É em conceitos equilibrados e simples que a opinião pública, num momento
de crise, como o que vivemos, pode encontrar remédio contra a violência a
que tantos, infelizmente, a querem conduzir.
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incrementar o consumo, pois daí resulta, como é óbvio, a defesa dos preços,
e não a baixa, que se pretende promover. Pelo mesmo motivo, não pode
haver financiamento à indústria e ao comércio para conservarem suas
mercadorias nas prateleiras e armazéns. Nem pode haver crédito para a
simples compra de empresas, que servem à economia nacional em quaisquer
mãos, ou para os investimentos chamados improdutivos.
Precisa absorver, ao preço dos maiores sacrifícios, o déficit do Tesouro, que
torna obrigatório o recurso ao Banco do Brasil, e assim destrói a limitação da
expansão do crédito, forçando o país à emissão. Para isso, o Presidente da
República precisa ter um entendimento claro e, devemos dizer, dramático,
com seus Ministros, para execução do programa de economias do orçamento
vigente e a formulação de um orçamento sincero e exequível em 1958. A
nação muito espera, neste ponto, do patriotismo dos ministros militares, pois
as despesas com o Exército, a Marinha e a Aeronáutica representam, na
proposta orçamentária, mais de 30% do total.
Precisa adotar um sistema de câmbio para a importação e a exportação, que
permita o livre jogo das leis naturais, em face da depreciação monetária em
que nos achamos. O enfraquecimento do cruzeiro torna, como é evidente, as
importações muito onerosas, mas em compensação torna as exportações
lucrativas, e se não se interpuserem normas artificiais daí resultará um
incentivo à produção de bens exportáveis, com a formação de maiores
disponibilidades em divisas. A situação que estamos vivendo, com os ágios
elevados de câmbio para a importação e com os saques de exportação
vendidos à taxa oficial com bonificações insuficientes, realiza o paradoxo de
agravar as desvantagens e obstar as vantagens da depreciação da nossa
moeda.
No quadro de medidas gerais como essas pode o Governo encontrar a
solução do seu dilema, sem abdicar do seu objetivo, tantas vezes anunciado,
que é a promoção de grandes empreendimentos. Nada mais fácil, porém, do
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sem um preparo moral mais intenso das massas e dos seus líderes, não pode
conduzir senão à prática de uma democracia incipiente e inoperante.
Que alcance podem ter, entretanto, os movimentos cívicos, da natureza do
que acaba de ser lançado sobre um discreto “background” udenista, na
sessão solene da A.B.I.?
A educação cívica é sempre desejável, mas os programas idealistas, sem
objetivos e opções definidas, são formas pouco fecundas de ação política e
cultural. Como todos os produtos da consciência bem-pensante, eles se
situam na esfera dos conceitos utópicos e tranquilos, das verdades óbvias,
dos ideais incontestáveis, que não suscitam dúvidas, nem admitem oposição.
Ora, a vida política é uma opção permanente, uma escolha entre caminhos,
que se abrem inconciliáveis diante de nós. Toda definição política afirma uma
coisa e recusa outra, e o que lhe dá contorno e eficácia é precisamente esta
recusa.
Um partido, ou um movimento, que inscreva entre os seus princípios, a
supremacia do bem público sobre o interesse particular, não afirma, na
verdade, coisa alguma, porque não existe outro partido ou movimento capaz
de afirmar a supremacia do interesse particular sobre o bem público.
Princípios desse gênero nada mais são do que truísmos, que, precisamente
por não suscitarem oposição, não conseguem promover nem consolidar uma
união.
Desse mal padecem, em geral, as proclamações cívicas destituídas de
conteúdo político. Tudo que nelas se pretende é de aceitação tão
generalizada, que o contraste entre elas e as posições contrárias não se faz
no terreno dos conceitos, mas na recíproca acusação de infidelidade. |
Quando o manifesto da Frente, assevera, definindo o seu pensamento social,
que “precisamos dar às relações de trabalho o seu verdadeiro relevo,
procurando integrar paulatinamente todos os que trabalham, empregados e
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A 3ª fase fez-se sentir com a chamada “guerra fria”. Em lugar de uma pressão
militar definida e a curto prazo, o Departamento de Estado viu-se a braços
com uma inquietação difusa e prolongada, cujo campo eletivo de irradiação
não podia deixar de ser os países menos industrializados, onde as massas
sofrem sob condições baixas de vida, e as poupanças são aniquiladas
implacavelmente pela inflação.
Surgiu, então, o auxílio governamental para desenvolvimento econômico,
mas restrito às áreas geopolíticas mais expostas à competição soviética, e
limitado a dotações orçamentárias, que não favoreciam planos de execução
longa, e ficavam expostas anualmente ao criticismo parlamentar.
Sobrevém agora a declaração Dulles ao Senado, e é o caso de nos
perguntarmos se a política de cooperação internacional dos EE.UU. estará
realmente penetrando na 4ª fase, pela qual os países latino-americanos já se
cansavam de esperar. Segundo se depreende das importantes palavras do
Secretário de Estado, o auxílio governamental para o desenvolvimento
econômico ficará definitivamente separado dos programas de auxílio militar
e consistirá em financiamentos a longo prazo e sob condições suaves (soft
loans) para a execução de projetos que não se enquadrariam bem nas
exigências do capital privado, nem nos requisitos dos bancos especializados.
Dois outros pontos fundamentais: os recursos assumiriam a forma legal de
um Fundo, cuja utilização não tem de ser feita nos limites do ano fiscal, e
montariam a cerca de 750 milhões de dólares anuais.
É a primeira vez que o Executivo norte-americano formula perante o Senado
um plano de auxílio econômico, que os técnicos aconselhavam, mas que não
vinha sendo endossado pela Administração.
Se esse plano for adiante e lograr converter-se numa nova política dos
EE.UU., não podemos deixar de ver nele um grande passo no caminho do
realismo. Vence-se com ele a eterna ilusão de que o capital privado pode
resolver problemas de estrutura em países onde faltam condições gerais
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O Sr. João Goulart ocupa, na vida política do país, uma posição controvertida.
De um lado, tornou-se o alvo principal do antigetulismo, que lhe tem votado
uma campanha de extermínio, mais intensa do que qualquer outra até agora
endereçada contra um homem público. De outro lado, manteve-se, sobre
ele, ainda que com menor intensidade, o halo de popularidade do Sr. Getúlio
Vargas.
No curso do atual Governo, a evolução da atuação política do Presidente do
PTB não vem sendo favorável. Está ele colhido num dilema, oriundo da
acumulação de dois papéis dificilmente conciliáveis: o de Vice-Presidente da
República e o de líder popular. Como líder, deve estar, tanto quanto possível,
à frente das reivindicações populares, que são muitas vezes fonte de
inquietação e dificuldades para o Governo. Como Vice-Presidente, deve ser
um colaborador do Governo, uma personalidade isenta, alheia às
competições que podem dividir a opinião pública, empenhado apenas no
dever de preservar-se para a eventualidade constitucional da subida ao
poder.
Se o Sr. João Goulart quer ser um líder popular, na ofensiva, deixa de ser um
Vice-Presidente discreto. Se prefere ser Vice-Presidente, pode acabar
deixando de ser líder, como sucedeu, aliás, a uma personalidade em tudo
diversa – o Sr. Café Filho.
A essas dificuldades e contradições é que se deve, talvez, o frequente
recolhimento do Sr. João Goulart à sua estancia nas Missões. Mas com essas
ausências quem não se pode beneficiar é o PTB, que se acha privado de
continuidade de chefia, a ponto de tornar-se, em 1956, um rosário de
problemas, com perda de unidade e substancia. Grupos estaduais se
emanciparam, fazendo, na base de interesses locais, alianças duvidosas com
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Nesta altura do episódio – episódio que a nação contempla com muito maior
indiferença do que pode parecer aos seus protagonistas – vem surgindo, nos
últimos dias, com insistência, a notícia ou o desejo de uma pacificação.
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É difícil dizer até que ponto, em matéria dessa natureza, o desejo se faz
passar como notícia. Mas ainda assim, tem todo cabimento mostrar que a
nação agradeceria aos seus homens públicos um gesto de coragem no
sentido do desarmamento dos espíritos e do restabelecimento da
convivência entre os partidos.
Apenas, esse movimento de paz não pode ser uma operação de fins táticos,
concebida para reverter em benefício das forças do governo ou das forças da
oposição. Se o que os oposicionistas ou os governistas querem é fazer no
terreno estreito da política interna, a sua campanha de paz segundo o
modelo da que a União Soviética fez, há alguns anos, no campo da política
mundial, esse pacifismo passa a ser tão estéril como o atual antagonismo.
Não quer isso dizer que a oposição deva passar a dar apoio ao Governo do sr.
Juscelino Kubitschek. A oposição serve ao país como oposição, desde que ela
e o Governo aceitem normas de coexistência, de convívio sem extermínio, de
crítica sem demolição.
Tem o país visto a UDN, algumas vezes, por fidelidade aos seus intuitos
oposicionistas, adotar atitudes hostis a projetos governamentais, mesmo
quando estes se encontram na linha mais consentânea com o interesse
nacional. Foi, por exemplo, o caso do veto à lei que criou a Rede Ferroviária
Nacional. Atitudes deste gênero fogem à norma básica de convivência, que o
país deseja ver seguida pelos partidos.
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sua execução.
Fala-se hoje novamente, com insistência, numa remodelação ministerial.
Tem o Sr. Presidente da República um motivo plausível para fazê-la?
É duvidoso, porque o atual Ministério, não estando consignado à execução
da um programa comum de governo, nem se pode dizer que o cumpriu, nem
que o descumpriu. E é provável que os novos ministros, não sendo reunidos
pelo Sr. Presidente em termos de um objetivo ostensivo, valham o mesmo
que os antigos, tanto mais que o critério de escolha, em maio de 1957, não
parece que possa ser diverso do de janeiro de 1956.
Mudar ministros apenas porque alguns deles se usaram como pessoas, e
revelaram ao país as qualidades que já possuíam há um ano, e que não eram
desconhecidas do Sr. Presidente, não parece uma solução construtiva.
Mais vale ficar com os atuais, que têm sobre os futuros a grande vantagem
de já estarem escolhidos.
O que, porém, é inadiável, é que o Sr. Presidente da República exija do seu
Ministério que o acompanhe na enunciação e na execução da um programa
de governo, em torno do qual a nação mobilizará suas energias e os homens
públicos sua capacidade de luta e de execução.
Não é de reforma ministerial, é de programação do governo que precisamos,
e ainda é tempo para que o Sr. Juscelino Kubitschek salve, através dela, a sua
administração da rotina e do empirismo.
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O caso dos marítimos é dos mais típicos. O que eles pedem é a equiparação
geral dos salários da classe aos que hoje são pagos ao pessoal das duas
autarquias federais: Loide e Costeira.
Essa pretensão merece ser analisada nas suas causas e nos seus efeitos.
Os efeitos serão devastadores. As companhias particulares de navegação,
tendo de pagar aos seus empregados os salários de funcionários, que
percebem os empregados federais, ficariam fora de qualquer possibilidade
de uma operação industrial lucrativa, ou mesmo equilibrada, e teriam de
fazer frente a um “déficit” que está sendo estimado em oitocentos milhões
de cruzeiros anuais.
Para remediar esse inconveniente, os setores mais economistas da
Administração Federal propõem a majoração das tarifas: os setores mais
trabalhistas propõem a subvenção federal.
Qualquer dessas soluções é desastrosa. O aumento da tarifa virá tornar
proibitivos os preços do transporte marítimo nacional, que já são mais
elevados que os estrangeiros e os excluem da competição marítima interna-
cional. Nenhum país oferece à sua marinha mercante condições tão
mortíferas de funcionamento, e com isso mais encarece a vida do país,
isolando-se os mercados regionais e depauperando-se o Norte, que é a região
mais dependente do tráfico marítimo.
A subvenção federal, por sua vez, não trará menores inconvenientes. Ilude o
público, fazendo-lhe crer que os fretes e as passagens não aumentaram, mas
na verdade lança sobre os cofres públicos o prejuízo da navegação, pagando-
o com impostos, e à falta destes, com emissões. O efeito destruidor é menos
visível, porém mais profundo. Numa hora em que se procura um meio de
deter a dilatação irresistível do “déficit” público, o que se propõe, para
atender aos marítimos, é que se lance mais de um bilhão de cruzeiros nesse
trágico sorvedouro.
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dos ânimos, então basta deixar que o cansaço, acumulado nas últimas
semanas, opere seus efeitos e procure suas compensações. Mas se o que se
quer é tentar, neste segundo ano de mandato do atual presidente, um
renascimento de energias, uma reformulação de objetivos, então é
indispensável tratar com grandeza, e também com cautela, o que, nesse
sentido, se faz e se diz.
O Sr. Bias Fortes apresentou a reforma constitucional como “centro de
interesse” principal da pacificação, apontando alguns temas em que
transparece a sua justificada inquietude com a debilidade do regime
federativo. É certo que a reforma da Constituição deveria ser considerada
pelo Sr. Juscelino Kubitschek um dos mais sagrados compromissos de seu
governo, que se iniciou numa atmosfera de insegurança, em grande parte
imputável a defeitos de ordem institucional. O ano de 57 é o último ou o
penúltimo em que o Sr. Juscelino Kubitschek poderia fazer começar o exame
de uma reforma, com possibilidade de conduzi-la num clima de isenção. Virão
depois os problemas da sucessão presidencial, que emprestam segundo
sentido a qualquer boa intenção.
Será, porém, a reforma constitucional um tema para o atual Governo?
Sem nenhum menosprezo pelas qualidades de alguns homens públicos que
o compõe, entre os quais avulta, sob este aspecto, pela ponderação e
experiência, o Sr. Nereu Ramos, parece legítimo dizer que falta ao Governo a
sensibilidade do problema constitucional e a capacidade de equacioná-lo. O
próprio Governador de Minas não consegue enfrentar o assunto senão no
terreno das mais vagas generalidades.
Muito mais concreto como centro criativo para um movimento de
pacificação seria um conjunto de programas, cujas linhas gerais estão
formuladas na consciência pública, tendo como objetivo a defesa da
estabilidade monetária e a eliminação dos principais pontos de
estrangulamento do desenvolvimento econômico.
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Não é possível deixar passar sem reparo um dos aspectos menos visíveis, mas
nem por isso menos significativos, do desfecho do caso político criado pelo
pedido de licença para processar o deputado Carlos Lacerda. Esse aspecto é
o comportamento das classes militares durante a crise e depois do seu
desfecho.
Não faltaram, da parte de alguns políticos, esforços ingentes para envolver
os militares nos acontecimentos. Do lado majoritário afirmava-se, ou
deixava-se entrever, que chefes militares reclamavam a concessão da licença,
a ponto de representar um risco para a Câmara qualquer veleidade de
recusá-la. Do lado minoritário, afirmava-se, visando a efeitos diversos, a
mesma coisa: procurava-se excitar o amor próprio da assembleia, fazendo-
lhe crer que o pedido de licença era uma imposição dos quartéis, cuja
aceitação representaria o fim da autoridade civil e prenunciaria um regime
de exceção.
Em editorial o “Jornal do Commercio” mostrou que essas alegações estavam
sendo feitas sem provas e que a conduta dos chefes militares não indicava,
até então, senão respeito e alheamento. A serenidade com que a decisão da
Câmara foi recebida pela administração militar e pelas guarnições veio dar
razão integral ao que dizíamos, e mostrar o grau de educação cívica com que
as Forças Armadas já acompanham o desenrolar das lutas políticas,
intervindo nelas muito menos do que alguns homens públicos desejariam,
embora sem haverem podido ainda aquele grau de neutralidade , que
apresentam nos países onde já estão votadas apenas aos problemas da
defesa comum e da manutenção do seu próprio nível de eficiência
profissional.
Seria utópico afirmar que as classes armadas já encontraram, entre nós, a
posição definitiva que lhes cabe no quadro das instituições. O processo de
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nos seus aspectos políticos, mas também nos seus aspectos econômicos.
Um ponto passível, entretanto, de censura é a atitude de incompreensão,
que a administração militar muitas vezes mostra em matéria de compressão
de despesas e de defesa do equilíbrio orçamentário. Numa hora em que o
saneamento da economia brasileira está exigindo sacrifício de todos, e em
que a capacidade tributária parece esgotada, as Forças Armadas não se
podem mostrar irredutíveis no tocante à economia orçamentária, mas
devem admitir que suas despesas participem do sacrifício comum.
A fiscalização que as Forças Armadas exercem sobre tantos setores da
economia e da administração, com vantagens irrecusáveis para o país,
lucraria em estender-se a este ponto, que não é só ponto de honra, mas de
salvação pública: o reequilíbrio do orçamento e o cerceamento da despesa
pública.
Outro aspecto positivo a assinalar é a identificação do povo com a tropa. As
classes militares não são, entre nós, um seguimento aristocrático da
sociedade. São, pelo contrário, de formação popular, e isso lhes tem valido
uma identificação apreciável com as correntes de opinião do meio civil, e com
os pronunciamentos eleitorais.
Os episódios recentes, que vivemos, mostram, de forma inequívoca, que o
país progride mais do que se pensa no sentido da educação política do meio
militar, e que esse progresso é uma das forças vivas com que podemos contar
em face dos problemas que iniciam o caminho de nossa democracia.
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Desta forma, uma nova elevação dos vencimentos dos servidores públicos
contribuirá sob múltiplos aspectos para aumentar a pressão inflacionária e
elevar ainda mais o custo de vida. A cobertura do aumento de vencimentos
através de uma agravação dos impostos significará ônus adicional ao custo
de produção e, consequentemente, alta dos preços das mercadorias e
serviços. Se, para essa cobertura, forem utilizados expedientes inflacionários
— emissão de papel-moeda ou adiantamentos feitos ao Tesouro pelo Banco
do Brasil — o aumento dos meios de pagamento determinará a alta
generalizada dos preços.
Finalmente, a necessidade diante da qual se encontrarão os demais
empregadores de aumentar a remuneração de seus empregados, afim de
acompanhar os salários pagos pelo Governo, será causa de inflação dos
custos de produção e da alta dos preços. Continuaremos assim, “ad
infinitum”, a percorrer o ciclo vicioso do aumento de salários determinando
aumento dos preços e este ocasionando novos aumentos de salários.
Outro efeito desastroso de um aumento de vencimentos dos servidores civis
e militares reside na repercussão que acarreta sobre as finanças dos Estados
e Municípios. São estes últimos obrigados, como os demais empregadores, a
acompanhar os aumentos salariais obtidos pelos servidores da União, sob
pena de se verem privados de pessoal qualificado para execução dos
encargos que lhes competem. Não tendo, como a União, a faculdade de criar
meios de pagamento através da emissão de papel-moeda, resta aos Estados
e Municípios, em tais emergências, o aumento de seus tributos ou o recurso
aos empréstimos do Banco do Brasil por ordem do Tesouro e à conta deste,
método de emissão disfarçada do qual tanto se tem usado e abusado entre
nós.
Já é tempo de solucionar de uma forma objetiva e honesta o problema dos
servidores públicos. Não é possível encarar a remuneração ao serviço público
como simples problema assistencial ou pretexto para demagogia eleitoral.
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O que torna, porém, a recusa injustificável, é não ser inspirada pelo interesse
geral, mas por interesses peculiares de subgrupos, que preferem inutilizar
uma fórmula de apaziguamento, apesar de seus efeitos serem benéficos a
todos, apenas porque ela não favorece sua guerra particular. Os interesses
do todo são, assim, sacrificados ao da parte. O episódio assume feição
mesquinha, e a corrente política onde ela se processa dá prova de falta não
só de unidade, mas também de vitalidade.
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Teria sido possível, e até poderia ser considerado por muitos preferível,
substituir o apaziguamento pelo revigoramento da aliança partidária, que
constitui a maioria. Não se conseguiu, porém, uma coisa nem outra, e até se
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Numa grande área unificada sob a mesma soberania econômica, são mais
fáceis os deslocamentos de fatores de produção, é mais ampla, e, portanto,
mais seletiva, a concorrência, e não é difícil alcançar, pelo aproveitamento de
condições naturais variadas, um grau elevado de especialização e divisão do
trabalho, de onde procede constante melhoria da produtividade, com a
subsequente elevação do nível de vida.
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Um passo a mais, e dos que devem ser tidos como transcendentes, foi a
recente criação do Mercado Comum Europeu. É esta a primeira tentativa, em
grande escala, de integração de economias nacionais num espaço maior, sem
sacrifício das soberanias naquilo que é essencial à manutenção da soberania
dos povos. Os espíritos acanhados e retrógrados olham planos destes com
desconfiança, mas quem vê com realismo a situação presente do mundo,
sabe que os povos se tornam mais livres quando se unem em fórmulas e
entidades que se limitam reciprocamente, do que quando se isolam
satisfeitos de suas fraquezas.
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Vendo desse modo o mercado europeu, não tem o Brasil senão motivos de
acolhê-lo com a simpatia devida a todo empreendimento integrado no
sentido construtivo de nossa civilização. É certo, porém, que o mercado
comum pode repercutir desfavoravelmente na economia latino-americana,
se os povos deste hemisfério não souberem pressentir tais repercussões, e
elaborar em face delas uma política internacional adequada, que nos situe
favoravelmente no processo histórico que nos envolve.
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Diante dessa ameaça, que linha de ação convém aos latinos, notadamente ao
Brasil?
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A pesquisa que, anos atrás, o SENAI desenvolveu para estudo das causas da
evasão de alunos verificada em suas escolas de aprendizagem, veio
demonstrar que a descontinuidade nas aulas ou mesmo o seu definitivo
abandono são provenientes de fatores sociais e econômicos. Aliás, tudo faz
crer que idêntica conclusão se estende a quase todos os estabelecimentos
de ensino profissional de grau médio, dando ao fenômeno gravidade
excepcional.
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Um estudo do mercado de mão de obra, como, aliás, já tentou, não faz muito
tempo, o extinto Conselho de Imigração e Colonização, revelaria a orientação
que os nossos estabelecimentos de ensino técnico deveriam seguir, quanto
à distribuição das profissões e o local onde tais escolas passariam a funcionar.
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Num país onde a administração pública está entrando com espantosa rapidez
numa onímoda obsolescência, a educação não podia escapar à crise. Porque
serão os setores em que o reajustamento seja tão imperioso, como as
pesquisas do SENAI vêm demonstrar.
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não querendo, salvo em alguns casos isolados, lutar pelo poder nas
repúblicas americanas, o Partido Comunista consagrou a sua equipe de
homens públicos, de ativistas e de simpatizantes, à tarefa de deteriorar
constantemente a cooperação dos países latinos com os EE.UU. No “front”
americano essa passou a ser a missão do Partido, que dela se vem
desincumbindo com êxito apreciável, se levarmos em conta as campanhas
contra a aprovação do Acordo Militar, contra o envio de tropas à ONU na
guerra da Coréia, contra a utilização de Fernando de Noronha, e outras que
logo nos acodem.
A campanha contra os EE.UU. (ou contra nações capitalistas europeias) faz-
se em outros meios através do anti-imperialismo, mas num país que não
conheceu as formas mais concretas e visíveis do imperialismo, que não teve
“capitulações”, nem tribunais consulares, nem portos controlados, nem
canais sob concessões com defesa militar, outra ideologia seria necessária.
Essa ideologia veio a ser o nacionalismo.
Não o nacionalismo sob sua forma defensiva e patriótica, compatível com a
democracia e com a livre empresa, mas o nacionalismo agressivo, colorido de
um antiamericanismo específico, e já agora equipado de um valioso
complemento, até hoje estranho ao arsenal dessa doutrina: a implantação do
monopólio estatal.
Foi essa aliança do nacionalismo com o monopolismo que deu àquela
doutrina, nas mãos dos comunistas brasileiros, uma singular eficácia,
permitindo que se processasse no governo do Sr. Juscelino Kubitschek a
perigosa infiltração a que estamos assistindo.
Pois o que o eminente homem público, que é o Sr. Assis Chateaubriand, não
quis ver, foi que o “Jornal do Commercio”, longe de querer inventar um novo
nacionalismo, o que pretendeu foi denunciar essa deturpação do verdadeiro
nacionalismo, que é democrático, pondo o nu as suas neoformações
totalitárias. O nacionalismo foi e é uma doutrina política de grande vitalidade,
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Também devemos aceitar quo a escolha entre sistemas não pode ser feita
hoje à luz de princípios doutrinários e de raciocínios dedutivos. Um sistema
de Governo é o resultado do uma experiência e a expressão permanente de
determinadas necessidades. Sua construção deve ser experimental e
indutiva, pouco importando muitas vezes que nele se insinuem certas
peculiaridades, difíceis de justificar racionalmente, mas compreensíveis à luz
de razões pragmáticas.
Considerações desse gênero levam-nos hoje, sem paixão doutrinária, mas
por motivos de ordem prática, a acreditar que a estrutura do Estado
brasileiro e as características atuais da nossa sociedade, tornam muito mais
aconselhável perseverarmos no presidencialismo e reformarmos as
instituições no sentido de sua maior pureza e melhor aplicação, do que
tentarmos a implantação de um sistema que mesmo nos países onde deitou
raízes já parece condenável por certas deficiências de funcionamento.
Um debate sobre esse assunto, como sobre outros de caráter fundamental
para revisão das nossas instituições políticas é inadiável e a ele não se devem
furtar nem os homens públicos, nem os intelectuais, nem os órgãos de
imprensa, cujo papel há de ser sobretudo o de veículo das ideias, cujo debate
amplo se faz indispensável antes de qualquer tomada definitiva de rumo pelo
país.
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Em segundo lugar, é inegável que o método adotado até aqui para fomentar
o trigo nacional está longe de ser satisfatório. O que se tem feito é apenas o
estímulo através do preço alto, assegurando ao lavrador ganho de Cr$ 480
por saca, dos quais Cr$ 250 são pagos pelos Moinhos e Cr$ 230 cobertos por
subvenção oficial. Desse modo, enquanto a cotação internacional do produto
gira em torno de US$ 73 por tonelada, o custo off Rio do produto rio-
grandense é de CR$ 9.300 (fob CR$ 7.200).
Essa proteção ao preço estimula por certo a cultura, mas acarreta
consequências nocivas. Muitas lavouras se encorajam sob as condições
artificiais criadas, em detrimento de outras como a de arroz, e mesmo em
detrimento da pecuária. Sobe o aluguel de terras para trigo, evidenciando o
efeito inflacionário dos preços, e até se estimula o contrabando da produção
uruguaia, que passa sub-repticiamente a fronteira para buscar melhores
preços.
A melhor técnica de proteção da triticultura nacional seria, como sempre, a
melhoria da produtividade, sobretudo pela oferta de melhor armazenagem
e melhor transporte, dois fatores externos que hoje comprometem o bom
aproveitamento das safras, baixando-lhes, desse modo, o resultado.
Daí a conveniência de um programa de grande envergadura, que crie para o
Rio Grande do Sul não um simples preço alto, pago à custa do Tesouro, e cada
vez mais deseducativo, mas uma estrutura de serviços capaz de dar eficiência
crescente às lavouras, impelindo-as a um crescimento pautado pela própria
dilatação da demanda de trigo no país.
Nessa boa política estavam enquadradas as duas transações que o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico concluiu com o trigo americano,
aceitando, como foi dito, um compasso de espera na rápida expansão das
nossas lavouras, e carreando uma parte substancial dos recursos obtidos
para a solução daqueles dois problemas de base: transporte e
armazenamento.
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O Sr. Juscelino Kubitschek tem sobradas razões para estar apreensivo com o
desenvolvimento inesperado da sua administração, no plano econômico, e
também com as repercussões dela na sua vida pública, notadamente na sua
posição de Presidente.
Todo homem público digno desse nome se impõe, e vale, por um sentido
geral da sua personalidade e dos seus atos, que ele próprio aceita e cultiva,
o que legitima suas ambições. As ambições do homem cuja existência não
tem tal sentido são odiosas, e não tardam a tomar um caráter impertinente,
tornando-o repulsivo aos seus concidadãos.
Por outro lado, a perda do sentido de uma vida pública pela prática de atos
ou tomada do atitudes que o contradizem, torna confuso, ou equívoco, o
perfil do político, e conduz, cedo ou tarde, ao colapso de sua
carreira.
Que seria feito do Sr. José Américo de Almeida se vivesse a esmaltar sua vida
pública com o “slogan” desesperado “rouba, mas faz”? Que sucederia ao Sr.
João Goulart se começasse a mesclar sua conduta de líder sindical com uma
coleta sistemática de honrarias e a apresentar-se como um favorito da alta
sociedade?
É recente o exemplo de uma carreira política rematada em anticlímax: a do
honrado Sr. Café Filho, quo tendo sido eleito vice-presidente da República
por ser um líder popular e uma expressão de certa mentalidade insubmissa,
não duvidou em se fazer, como presidente, o chefe de um governo
aristocrático, integrado por expoentes.
A perda da confiança pública é a sanção inevitável da infidelidade de um
político ao seu perfil. Este deve ser nítido, inteligível, ajustando-se a certas
opções ou alternativas que o meio social comporta, de modo que o estadista
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periclitante.
Está o Sr. Juscelino Kubitschek talvez no momento crucial do seu destino. E
esse momento é para o nosso país de tal transcendência que nenhum outro,
em nossa história recente, se lhe compara.
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O que a prática de nossa vida política revela é que o meio militar, por sua
concentração maior e pela atenção, às vezes exaltada, que põe na marcha
dos negócios públicos, é sensível a todo declínio de eficiência do Governo e
percebe com sobressalto os menores desfalecimentos da autoridade. Daí a
facilidade com que uma atmosfera se carrega e com que uma faísca
imprevisível a desfaz em precipitações copiosas.
Está o Governo no dever de dedicar o melhor dos seus esforços à
recuperação de uma atmosfera operosa e tranquila, como a que chegou a
formar-se em torno dele passada a borrasca da transmissão de poder.
O caminho é a melhoria do nível de eficiência do governo, para que este entre
em contato sistemático e não casual com os problemas, e engaje o país na
batalha das soluções. Render-se a interessados não é governar. Agir em casos
isolados, segundo critérios díspares, não forma uma corrente de ação capaz
de manter o povo em união com os seus dirigentes.
O Sr. Presidente da República não veio ao Catete para perder-se na azáfama
de um gabinete pouco organizado, mas para conduzir a termo uma tarefa, de
que fez o sentido de sua vida.
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câmbio livre.
Vem, justamente, se surpreendendo a opinião pública com a inclusão no
número desses tristes beneficiários da exceção prejudicial ao bem comum,
de parlamentares que a ela foram contrários na fase de sua discussão.
Não convence o argumento de que o abuso deixou de existir depois da
vigência da lei, por força do brocardo segundo o qual a ninguém agrava quem
usa de faculdade outorgada em Direito. Não se justificava, por certo, dir-se-
ia, pleitear a exceção; mas, estabelecida como situação “de jure”, nada mais
resta a fazer senão obedecer a lei.
Talvez tenha sido este mesmo o raciocínio com que perante suas próprias
consciências tenham se escusado tantos honrados deputados pela oposição,
que tendo ontem ardorosamente combatido o projeto, vão hoje se
prevalecer da concessão irritante.
Força é reconhecer que, se os escrúpulos desses conspícuos patriotas tão
pronto se acalmaram, é que a matéria oferece dificuldades práticas que de
muito excedem às teses verbais ...
Ao bom senso, porém, não tem explicação a cessação da iniquidade só
porque o que era projeto se transformou em lei: imoral era só projetar,
praticar o ato condenado passa a ser apenas jurídico.
Advirtam-se esses representantes do povo que a lei, tão combatida, pelos
seus danosos efeitos, na fase em que se apresentava como simples projeto,
é meramente permissiva, não contém comando algum. Ninguém está sendo
coagido a importações prejudiciais ao bem comum. Além disso, parece
ininteligível que tendo sido a exceção vergonhosa combatida como medida
contrária aos interesses gerais, tendo perdido a intrínseca nocividade apenas
porque já agora pode ser praticada.
A olhos honestos e a espíritos submissos à ordem legal tudo quanto se pode
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Quando o Chile se esforça para sair da prática perigosa que ali deu foros de
lei à espiral dos salários, o Brasil, tardonho e incauto, se prepara para pôr o
pé na mesma armadilha.
O Sr. Presidente da República não pode estar desatento à repercussão de
medidas como essa, que podem selar a sorte do seu governo, sobretudo pela
atmosfera social que vão fomentando, e onde mais facilmente prospera a
desordem do que o trabalho e a paz.
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Embora seja ainda muito cedo para uma interpretação das transformações
por que vem de passar o governo soviético, há certos aspectos, relacionados
com dados anteriores divulgados pelas revistas de assuntos internacionais,
que podem ser postos em foco sem risco de incidirmos em confusões.
O primeiro desses aspectos é o apelo que a administração russa se vê na
contingência de fazer à iniciativa privada, alargando sua área de operação,
para obter, sobretudo na agricultura, melhores condições de produtividade.
A um país subdesenvolvido, como o nosso, que as «tendências socialistas»
de alguns governantes e oposicionistas pouco esclarecidos desejam impelir
cada vez mais para o estatismo, para a empresa pública, para a direção da
economia por funcionários e burocratas, há de significar alguma coisa que a
pátria do socialismo, depois de cumpridas as etapas mais penosas do
desenvolvimento, sinta necessidade de restabelecer, ainda que de forma
limitada, o jogo da livre empresa, precisamente para obter maior pro-
dutividade.
O segundo aspecto é a concessão que os dirigentes soviéticos tiveram de
fazer às necessidades de consumo do povo, aumentando nos planos da
produção nacional a cota de bens de consumo, o que importa em reduzir, ao
menos temporariamente, a de produção de equipamentos e outros bens de
capital. Esta modificação prova que o consumidor soviético está impaciente
com o regime de sacrifício a que foram imoladas duas gerações, e talvez por
estar hoje mais informado sobre o nível de vida do Ocidente, já não suporta
a compressão de suas necessidades, sem manifestar uma reação indesejável,
no tocante à passividade política e ao nível geral de eficiência.
O que é interessante observar é que esses dois aspectos - dilatação da esfera
da iniciativa privada, e maior oferta de bens de consumo — haviam sido os
dois traços característicos do governo efêmero de Malenkov, e em relação a
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militar.
A esse aspecto já de si gravíssimo do problema, veio somar-se outro de ainda
maior atualidade. O progresso do armamento nuclear depende de
experiências renovadas, que os países com o domínio tecnológico da fabri-
cação de bombas atômicas vêm realizando reiteradamente, e a ciência deu o
alarme do perigo que essas experiências representam pela formação de
resíduos radioativos altamente nocivos à vida animal e vegetal. Sustar as ex-
periências significará para qualquer país se deter no caminho do progresso
da desintegração nuclear. Daí a necessidade de endereçar os esforços
tecnológicos no sentido da produção da chamada bomba limpa, que também
reduzirá o coeficiente de desumanidade implícito no emprego dessa arma
em caso de ação bélica.
As afirmações do Sr. Kruschev violentamente adversas à bomba e ao seu
aperfeiçoamento no sentido da eliminação de efeitos indiscriminados,
revelam, em primeiro lugar, que a União Soviética experimenta com
justificado alarme o sentimento de sua inferioridade tecnológica nesse
terreno, em relação aos Estados Unidos e às democracias ocidentais. Como
observou Arnold Toynbee num estudo sobre a tensão entre a Rússia e o Oci-
dente, a liderança mundial depende fundamentalmente da capacidade de
uma das facções de manter em relação à outra uma taxa maior de
aperfeiçoamento tecnológico. A capacidade da União Soviética de absorver a
ciência e a técnica do Ocidente é indiscutível, mas a velocidade com que o
Ocidente supera as suas próprias soluções faz com que o mundo soviético,
apesar de suas notáveis realizações, se mantenha em inferioridade.
Além disso, é indubitável que os líderes soviéticos estão numa posição
particularmente favorável para qualquer campanha de descrédito contra os
armamentos ocidentais, pois as populações que dirigem não se acham
integradas num regime de opinião pública, enquanto nas democracias é esta
que orienta e delimita a ação doa governantes. A propaganda anti-
armamentista dos líderes soviéticos, apesar do intenso armamentismo que
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que ele, primeiro, tem de admitir, para restaurar sua posição e sua auto-
ridade. é que a crise existe, e que o está envolvendo com crescente
gravidade.
Um dos sintomas da crise é a formação, a que estamos assistindo, de grupos
parlamentares e subgrupos, como a Frente Nacionalista, e o Grupo pro-
desenvolvimento econômico, cujo manifesto foi lido da tribuna da Câmara e
divulgado pelos jornais. Como conteúdo doutrinário, o manifesto é óbvio em
grande parte, e em vários pontos impreciso. Mas não é o que ele afirma que
tem importância, e sim o que significa para o Presidente da República, e,
portanto, para a Nação, a formação no seio da maioria parlamentar, de um
grupo de resistência, que nos limites de suas definições doutrinárias mais ou
menos inconsistentes, refoge ao comando dos partidos e à liderança
presidencial.
Outro sintoma, não menos significativo, é a impossibilidade em que se tem
visto o Presidente da República de obter da maioria parlamentar um
comportamento coeso em casos vitais para o prestigio do seu governo, como
o do veto à emenda que autoriza a importação de automóveis por
congressistas e o do veto chamado dos tesoureiros.
Outro sintoma é a propalada formação de um grupo militar conhecido como
M. M. C, que estaria ressuscitando o ambiente, na verdade pouco favorável
ao prestigio real das classes militares, dos clubes de oficiais, que conhecemos
no passado. O prestigio das classes armadas depende de sua homogeneidade
perfeita e do seu enquadramento exclusivo nos quadros da hierarquia.
Clubes, grupos, movimentos, sejam embora inspirados nas melhores
doutrinas e nos princípios mais salutares, fazem as Forças Armadas perderem
autoridade e retrocederem a estágios que felizmente ultrapassamos.
Todos esses problemas e outros, que nos rodeiam, desaparecerão como por
encanto, se o Sr. Presidente da República se dispuser a um largo movimento
político de retomada da liderança. Essa retomada envolve a abertura de uma
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As medidas de governo que mais custam ao homem público são aquelas que
aparentemente contrariam os objetivos com que ele se comprometeu
publicamente, mas que se tornaram, na verdade, o meio único de alcançá-
los.
É o caso do general que se comprometeu a repelir o inimigo, e se vê na con-
tingência de ordenar uma retirada, para contra-atacar mais tarde. O
momento dessa decisão é angustioso, mas o homem de Estado que fugir a
ela não é digno desse nome.
O Sr. Juscelino Kubitschek veio para o governo com os compromissos mais
solenes de ser, no período de um quinquênio, o propulsor por excelência do
progresso do país. Sua ação em Minas fora toda ela polarizada pelos
problemas de desenvolvimento econômico que ele mesmo sintetizara no
binômio “transporte a energia”. Seu slogan mais arrojado de candidato fora
a promessa de fazer o país progredir “cinquenta anos em cinco”.
De que modo podia o Presidenta acelerar, como desejava, o
desenvolvimento do país?
Encontrando a nossa economia em plena inflação de custos, com o valor
interno da moeda caindo velozmente, o seu programa teria de ser a
harmonização de dois efeitos contrários: a intensificação do
desenvolvimento e a recuperação da estabilidade. É fácil compreender por
que e até onde esses objetivos se contrariam. O combate à inflação consiste
numa série de medidas tendentes, todas elas, a diminuir a demanda de
mercadorias e serviços no país. Os programas de desenvolvimento são
obrigatoriamente intensificadores dessa mesma demanda, no que se refere
às obras projetadas. Fazendo-se tomador de trabalho e comprador de
equipamentos e materiais para a construção de estradas, usinas ou
armazéns, o Estado contribui para sustentar os preços, que, com outras
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Outra medida foi a supressão das taxas múltiplas de câmbio, a cuja prática
ainda estamos escravizados. O Chile dá testemunho eloquente de quanto é
ilusória a opinião, esposada irrefletidamente por muitos homens públicos, de
que as taxas múltiplas podem favorecer o desenvolvimento econômico,
criando condições preferenciais para o estabelecimento de certas indústrias
e atividades. Ninguém fez das taxas múltiplas uso mais amplo do que o Chile,
e a verdade foi que a economia chilena entrou numa fase de retrocesso,
expressa na taxa negativa de 0.3*% ao ano por habitante. As indústrias que
se montaram no país não impediram que as estatísticas acusem um declínio
de investimentos, pois a inflação desgastou furiosamente as poupanças
internas ao mesmo tempo que desencorajou o ingresso de capitais externos.
O governo Ibañez teve, porém, a louvável coragem de abandonar as taxas
múltiplas e enveredar para o mercado livre de câmbio, embora mantenha,
por motivos próprios à economia chilena, este último dividido num mercado
de transações comerciais e outro de serviços, ambos, porém, com taxas
flutuantes.
No tocante à contensão do crédito privado, o sistema chileno diferiu do
brasileiro, não parecendo, porém, que lhe seja superior. Em vez de retirar aos
bancos uma parte do incremento de depósitos, fixou um teto para a
expansão das aplicações, com o que obteve uma razoável redução do
processo inflacionário, logo refletida, como entre nós, numa contensão das
importações e num apelo ao auto- financiamento.
A lição do Chile vem somar-se, pois, à da Bolívia, que o “Jornal do
Commercio” analisou, em traços gerais, num editorial anterior. Ambos os
países apresentaram, em grau muito mais avançado, os males de que a
economia brasileira se acha atingida, mas ambos alcançaram, antes de nós,
convicção sólida da necessidade de uma reação e dos meios de operá-la.
Nesta altura do século, já é lícito dizer que a inflação sul-americana oferece
um quadro clínico uniforme, e que os recursos terapêuticos aplicáveis são
clássicos. A lentidão em recorrer a eles apenas atesta, num país, despreparo
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dos Estados Unidos, não teríamos visto escapar para as mãos do Canadá e da
Venezuela a liderança do mercado mundial, e teríamos feito ingressar no país
recursos de vulto, que não só teriam suscitado um parque siderúrgico muito
mais desenvolvido do que o atual, mas também outras atividades
complementares. Enquanto o Canadá e a Venezuela, em cerca de 8 anos,
elevaram suas exportações de 0 a 20 milhões de toneladas, o Brasil, em 17
anos de esforço, apenas atinge agora a uma exportação de 3 milhões de
toneladas atuais. Outro teria sido o panorama se houvéssemos seguido uma
linha corajosa de expansão das exportações. O Estado de Minas Gerais não
seria a área em perigosa involução econômica que hoje é, perdendo
sucessivamente para outras unidades da Federação os primeiros postos na
arrecadação fiscal e na apuração do produto bruto. E a nossa economia não
estaria dependendo apenas do café, isto é, de um produto de consumo
pouco elástico e de produção praticamente acessível a todas as áreas
tropicais do mundo.
O verdadeiro nacionalismo é aquele que põe em primeira linha a
consideração da segurança e do interesse nacional, e não aquele que se deixa
inspirar por fatores emocionais e por uma desconfiança sem sentido, a exem-
plo dos povos atrasados, que não sabem discernir o próprio interesse e muito
menos tutelá-lo.
O tempo perdido é irrecuperável, mas nunca é tarde para iniciar a reparação
de um erro, e por isso deve o Brasil, hoje mais do que nunca, inscrever na
agenda dos seus mais prementes problemas de Governo a reativação da
exportação de minério de ferro. É o que o relatório do Conselho de
Desenvolvimento, que analisaremos em outro editorial, demonstra de
maneira ampla, tornando imperativa a política do Governo nesta matéria.
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privada não cabe uma opção exclusiva. Quem pretender reservar à iniciativa
pública todos os setores de atividades fundamentais incidirá em erro tão
profundo quanto aquele que pretender abolir as empresas públicas e
entregar todas as atividades indiscriminadamente à iniciativa particular.
Num país plenamente desenvolvido, onde se formam capitais de vulto em
mãos de particulares, a iniciativa privada está apta a enfrentar os grandes
empreendimentos para os quais se fazem necessárias inversões de largo
vulto. Num país como o nosso, onde a formação de capitais é minguada, e
onde a inflação desgasta inexoravelmente as poupanças particulares, só o
Estado pode realizar investimentos tão grandes. como requerem as
indústrias de base, as usinas elétricas e as ferrovias.
É verdade que para isso contribui o próprio sistema bancário, em que se
agiganta o papel desempenhado pelo Banco do Brasil, mas não há dúvida
que todos os países subdesenvolvidos apresentam, como característica
comum, a necessidade da iniciativa estatal para solução dos problemas
econômicos de maior porte.
Um Governo bem orientado deve procurar atenuar esse efeito,
substituindo, sempre que possível, sua própria iniciativa e gerência pelo
financiamento público dispensado a empresas idôneas organizadas por
particulares. Nesse sentido, não devem ser vistas com bons olhos as
tendências dos nossos estabelecimentos públicos para participarem, na
qualidade de sócios, dos empreendimentos que financiam.
Uma terceira conclusão diz respeito à necessidade de se preservarem as
características da iniciativa privada, evitando a forma indubitavelmente
espúria que é a empresa privada totalmente apoiada em favores oficiais.
Numa economia que se desenvolve, o Estado tem necessidade de estimular
a iniciativa particular amparando certas atividades para as quais deseja atraí-
la preferencialmente, mas esse estímulo não pode chegar ao ponto de abolir
o risco, que é o mecanismo através do qual a empresa privada se ajusta a
condições sempre melhores de produtividade.
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econômica?
Tudo indica que o Sr. Amaral Peixoto praticou no seu discurso um erro, em
que incidem os políticos justamente quando querem, em face de uma
controvérsia, assumir uma atitude cautelosa. Esse erro foi o de não ser
bastante claro, bastante taxativo, e de preferir envolver o seu pensamento
em certos subentendidos, que a muitos podem ter parecido pouco
tranquilizadores.
Não é mais possível entre nós, num tema como o nacionalismo, condenar os
seus excessos, sem dizer imediatamente quais são eles, pois o que os
nacionalistas receiam é que se esteja taxando de “excesso” aquilo que é
justamente essencial para a preservação de uma política econômica ditada
pelos nossos interesses, e não pelos de potências estrangeiras ou
companhias internacionais.
Não há quem seja a favor dos “excessos” do nacionalismo, nem há quem
professe o horror à colaboração estrangeira. O que os políticos e o público
desejam ver definido é onde acaba o nacionalismo salutar e começa o nocivo,
bem como porquê e quando a colaboração estrangeira pode ser indesejável.
Não dando essas definições indispensáveis, o discurso do chefe pessedista
tornou-se, malgrado seu, equívoco. E o que dominou foi a nota de
advertência contra os perigos do nacionalismo, com a qual ele deu a
impressão de querer debilitar essa posição doutrinária.
O caso é, como se vê, muito ilustrativo. Revela quanto o nosso meio político
se vai tornando sensível às realidades doutrinárias, e como é indispensável
medir as consequências de uma declaração, que por querer ser prudente,
pode tornar-se temerária. Os chefes políticos mais credenciados do país,
entre os quais está o ex-governador fluminense, precisam despertar para
essa nova atmosfera da vida pública, em que as ideias pouco a pouco se vão
elevando à condirão de protagonistas.
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habilitado por obra das condições preexistentes, embora já lhes faltasse, para
legitimar e renovar as fontes daquela liderança, a econômica e a cultural. O
abalo da crise mundial de 1930 a 1937 e sua expressão brasileira – a
Revolução de Outubro — romperam o sistema, e precipitaram uma evolução,
a cujos pontos mais críticos parecemos estar assistindo.
O que caracteriza a atual fase da vida de S. Paulo é esse aspecto de crise, ou
melhor, de ruptura de um sistema. Tendo desaparecido a liderança da antiga
classe rural ainda não se concentrou o poder nas mãos de uma nova classe
social, o que deixa o povo empreendedor e vigoroso do mais culto dos Es-
tados da Federação num estado de perigosa disponibilidade, sensível ao
apelo de demagogos ocasionais e à sedução dos grupos partidários que
possam ostentar uma linha de maior criticismo ou de mais típica dissidência.
A falta de liderança interna gera, como consequência inevitável, a falta de
liderança de S. Paulo sobre o país. Um Estado que representa parcela tão
dominante da renda nacional ou da arrecadação pública, e cujos interesses
se confundem com os do Brasil, tem na nossa vida política influência inferior
à de diversos outros Estados, e nem sequer dispõe de meios de ação eficazes
na Capital da República para veicular seus problemas e aspirações. Daí resulta
um mal para S. Paulo, e um mal para o Brasil. Sem uma presença clara,
sensível, insofismável de S. Paulo nos assuntos brasileiros, estes ficam num
vazio perigoso, onde se podem gerar desajustamentos de difícil recuperação.
A liderança de S. Paulo depende, porém, da liderança em S. Paulo, e esta não
se alcançará senão por obra de uma evolução consciente e profunda, cujo
sentido não pode ser outro senão a criação de um clima de entendimento
entre a classe industrial e a classe trabalhadora. Enquanto os industriais
supuserem que os seus interesses se opõem aos do proletariado de suas
empresas, estarão na infância do poder político, e deixando que a sorte do
Estado fique entregue a demagogos, até que um dia vá ter às mãos dos
próprios trabalhadores, dia a dia mais amadurecidos.
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Por ora, a classe industrial tem tido uma conduta política de atroz
primitivismo, que consiste em patrocinar, com recursos financeiros, as
eleições de um ou outro candidato mais inclinado aos seus pontos de vista.
Nenhuma atitude está, hoje, mais ultrapassada, pois, na verdade, o que com
isto se perpetua é o profissionalismo político sem raízes e a corrupção
eleitoral.
S. Paulo precisa que os homens da indústria retomem, neste meado de
século, as responsabilidades e os métodos de ação dos homens que o
governaram no início da República. E o caminho que conduzirá ao
superamento da atual fase demagógica, e à recuperação da liderança, é a
união dos industriais e dos trabalhadores, numa linha de defesa dos
interesses comuns.
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São Paulo tem de ser, por sua posição presente na economia do país, posição
que coincide com sua vocação histórica, o propulsor desse programa de
cooperação inter-regional. E para isso tem de assumir no plano federal uma
preponderância que lhe falta, e que é a contrapartida de suas res-
ponsabilidades.
Se o Brasil mais desenvolvido não tomar o encargo de propulsionar a
economia das regiões menos adiantadas, o desfecho desse “isolacionismo”
será um crescente encargo assistencial para a Federação. Os Estados
economicamente fracos têm representação e influência na órbita federal e
não deixarão de obter subvenções, cambiais ou não, para os seus produtos,
verbas para os seus serviços improdutivos, empregos para o seu
funcionalismo, e créditos sob formas diversas para manutenção artificial do
seu já deficiente “standard” de vida. Muito preferível seria que esses
recursos, e outros oriundos da iniciativa privada, fossem endereçados às
regiões menos adiantadas para lhes estimular adequadamente o
desenvolvimento. Em vez de obterem assistência, e de pesarem sobre quem
mais produz, aquelas regiões alcançariam progresso e começariam a dilatar
seu mercado interno para absorver as manufaturas de São Paulo e do Rio.
A poderosa rede dos bancos paulistas poderia, por exemplo, estender-se ao
Norte, para uma ação pioneira, não carreando para o Sul os depósitos
colhidos lá, e pelo contrário transferindo, para aplicações estritamente
comerciais, uma parte dos recursos hauridos no Sul. É importante não
esquecer que a inflação brasileira não atinge o Norte e o Nordeste do mesmo
modo que o Sul. Em São Paulo e no Rio é indispensável manter uma severa
restrição de crédito para não estimular importações, não financiar estoques
e não propiciar investimentos sem capital. Mas no Norte e no Nordeste uma
discreta expansão do crédito poderia ser benéfica, se as aplicações se
fizessem em papéis comerciais, para financiamento de operações legítimas,
evitando a especulação e a mera transferência de propriedade de empresas.
Outro ponto em que o apoio de São Paulo às regiões menos desenvolvidas
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da simplificação cambial.
Em sua forma atual, o artigo 50 da Lei de Tarifas não encerra apenas um erro
econômico. Contém também grotesco ilogismo. É que, enquanto no corpo
do artigo se estabelece o princípio genérico de que nenhum produto poderá
ser importado a taxa cambial inferior à da categoria geral, o seu parágrafo
primeiro abre exceções que, em conjunto, representam 75% do nosso
comércio de importação. O câmbio da categoria geral, que constitui a regra,
abrange, assim, um quarto do comércio exterior e as taxas de favor, que
representam a exceção, compreendem três quartos desse mesmo comércio.
Os argumentos em que se fundou essa estranha subversão do propósito
simplificador da Lei de Tarifas refletem, em alguns casos, uma errada
doutrina econômica, em outros a pura e simples pressão de interesses de
grupos. Grande parte da responsabilidade cabe à chamada “Ala Moça” do
PSD, que transformou um problema de técnica cambial numa questão
política, procurando, com lamentável desconhecimento, quer da doutrina,
quer da prática do desenvolvimento econômico, fazer crer que sem o auxílio
de muletas cambiais o nosso processo de industrialização entraria em
colapso, a assim abriu a porta às reivindicações de interessados.
Ora, conforme demonstrou recente estudo do Fundo Monetário
Internacional, comentado pelo “Jornal do Commercio” em editorial anterior,
a experiência do desenvolvimento latino-americano tem revelado que os
países de mais rápido desenvolvimento e industrialização são exatamente os
que abandonaram o recurso a taxas múltiplas de câmbio.
A falácia da vinculação entre taxas de favor e industrialização é, aliás,
confessada implicitamente nos próprios parágrafos do atual artigo 50 da Lei
de Tarifas, onde, para corrigir os efeitos maléficos do privilégio cambial, se
estabelece um complicado mecanismo de subvenção aos produtores locais
por ele prejudicados. O Projeto de Lei golpeia com a mão direita a indústria
nacional, dando uma vantagem competitiva ao produto importado, e com a
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devem ter ecoado bem pelo seu tom de firmeza, pela clara conceituação do
dever resolutamente aceito, mas devem ter produzido também decepção,
por certa nota de inadequação, ou melhor, de inatualidade. O discurso insiste
em que o Presidente nada mais quer do que cumprir o seu mandato, e passar
o cargo a quem for eleito nos termos da Constituição. Ora, o povo brasileiro,
longe de suspeitar o Sr. Juscelino Kubitschek de querer atentar contra o
regime, o que receia é a debilitação da sua autoridade.
O Presidente da República é o chefe das forças políticas, e se o não for, não
conseguirá sobrepor as razões superiores do interesse público às pretensões
de caráter pessoal, regional ou partidário dos que o apoiam. O que
tranquilizaria a nação seria o conhecimento, em momento oportuno, do
esquema de reestruturação de forças obtido pelo Presidente, como
embasamento de sua obra de governo A consolidação da liderança civil
repercutiria no meio militar, dissipando a inquietação, e contribuindo, mais
do que qualquer outro, para a desejada reaproximação das Forças Armadas.
Vejamos agora o conteúdo administrativo do discurso. O Sr. Presidente da
República revelou à nação dados significativos, de que se depreende estarem
sendo levados adiante projetos corretivos de deficiências de infraestrutura
da nossa economia. Esses projetos representam hoje um dos pontos altos da
nossa evolução administrativa. Não são convicções pessoais, mas o resultado
de estudos objetivos, conduzidos com método, e qualquer Governo os terá
de respeitar e aplicar como fruto de uma consciência técnica e econômica
independente dos partidos.
O discurso confirma, entretanto, a crítica geralmente feita ao Governo de
concentrar sua atenção e confiança nos projetos de desenvolvimento
econômico, como os de transporte, energia, armazenagem, e cuidar
insuficientemente das medidas econômico-financeiras destinadas a corrigir
os males presentes da nossa economia, todos eles expressos nesses dois
sintomas: alta dos preços, e queda do produto real.
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premeditada.
Lutar contra a confusão, tornar nítidas as posições assumidas, é o primeiro
dever dos líderes responsáveis. Nenhum deles deve permitir que palavras
suas, pronunciadas muitas vezes com outra intenção e com outro sentido, se
prestem a encorajar confusões propositais, cuja finalidade é debilitar a linha
de resistência doutrinária e política dos Estados democráticos.
Essas observações são oportunas em face das palavras que o Sr. Ministro da
Guerra houve por bem dirigir a alguns estudantes que o foram interrogar
sobre problemas brasileiros e internacionais, alguns deles facilmente
identificáveis como temas de provocação usados por grupos esquerdistas ou
por pessoas por eles influenciadas. Num país onde a personalidade do
Ministro da Guerra desempenha sempre um papel fundamental, não só pela
ação efetiva que exerce ou pode exercer sobre acontecimentos políticos e
sociais, como ainda pelas intenções que lhe são atribuídas, embora sem
fundamento, pelos especuladores da cena político-partidária, tudo que se
pergunta ao Ministro e tudo que este responde, tem sentido e suscita
interpretações.
Eis porque nenhum outro detentor de autoridade precisa tanta prudência de
linguagem, tanta circunspecção de conceitos, e tão acurada seleção das
poucas oportunidades em que fala e das muitas em que silencia, como aquele
a quem compete a grave responsabilidade de ser o chefe imediato da mais
numerosa e influente das corporações militares.
O silencio do Ministro da Guerra é, num regime político como o que
praticamos, um fator de tranquilidade, de equilíbrio moral, e de paz,
desencorajando agitações sem sentido e impondo ao país o sentimento de
segurança de que carecem suas atividades. A palavra do Ministro pode
também, em certas ocasiões, ser um bem, por trazer os mesmos efeitos a
espíritos agitados. Mas para isso é indispensável, primeiro, que ela se faça
sentir em ocasiões condignas, adequadas à preservação de sua seriedade;
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É nesta linha, portanto, que se deve procurar para o sistema continental uma
nova vitalidade.
Em outros editoriais o “Jornal do Commercio” procurará analisar esses
aspectos em relação aos quais deve ser concebida e julgada a ação do Brasil
na próxima Conferência de Buenos Aires.
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Entre os aspectos da presente crise, que atravessa a sociedade brasileira, e que se rep
nações latino-americanas, nenhum está exigindo tão acurado exame quanto o surto anti
setor econômico, e pode vir a assumir, no setor político, em fase mais adiantada, um
totalitário.
Esse surto tem raízes na crônica situação de inferioridade econômica, em que vivem os p
E é alimentado, em primeiro lugar, pela instabilidade social própria de uma época inflaci
desloca e se concentra em poucas mãos por um processo de transferências compuls
trabalhadoras e o funcionalismo se atiram a uma luta incessante de reivindicações, para
à frente do nível de preços, na corrida estabelecida entre eles; em segundo lugar, pela rec
fatores à propaganda e ao aliciamento comunista, no seio das classes mais prejudicadas
Essas classes são as trabalhadoras, as intelectuais, e as classes médias, formadas
funcionalismo civil e pelos militares.
Durante muitos anos, é verdade, as classes militares estiveram imunes dessa infiltraçã
tradicional entre o comunismo e o nacionalismo, em que eram formadas. Graças a isso
Forças Armadas ficou polarizada pela direita, chegando a favorecer, nos anos trinta, a e
adoção de formas de governo nitidamente autoritárias, mas anticomunistas.
O panorama está mudando, porém. A linha comunista, para os países subdesenvolvidos,
pragmatismo, no sentido não mais de combater, mas de assimilar o nacionalismo, e dirig
aliança norte-americana, e a iniciativa privada. A tática fora usada, com modificações,
nacionalismo, ou melhor, o anti-imperialismo tinha como antagonistas as grandes potên
dominado economicamente a Ásia no correr do Séc. XIX. Sua adaptação ao Brasil e aos
foi difícil, e encontrou na situação econômica e social do hemisfério condições as mais p
Essa absorção do nacionalismo pelo comunismo abriu a este último — não há como neg
classes militares. A ideologia nacionalista, que até então defendera o militar de toda c
passou a ser usada como chamariz para atraí-lo. De sorte que o problema social se a
percebessem, por uma aproximação de posições entre classes sociais de formação cultura
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econômicos concordantes.
Diante desse perigoso movimento, com que o comunismo consegue ingressar no recesso m
democrática, que fazem as classes burguesas do Brasil e dos outros países?
Em vez de se apegarem à defesa intransigente do nacionalismo. que a esquerda lhes arrebat
fiéis a uma doutrina a cuja sombra floresceu e fortificou-se a democracia, acorrem a homo
fazem outra coisa, pelos seus jornais, pelos seus partidos e pelos discursos dos seus líderes, d
tradição nacionalista do país, todos os nacionalistas democratas ou não, para o terreno adve
antinacionalistas, como seus inimigos desejam que elas sejam.
Liderado pelos comunistas, o nacionalismo vem assumindo conotações estranhas ao
Nacionalista era Getúlio Vargas, em 1938, quando dotou o país de sua primeira legislação sob
a pesquisa, a exploração e o refino a empresas privadas, desde que o Estado lhes auto
fiscalizasse a composição exclusivamente brasileira do capital. Mas já existe uma nota estranh
nota de inspiração esquerdista e totalitária, na absurda doutrina do monopólio estatal, cujo
de impedir que recursos privados autenticamente brasileiros se invistam nas atividades de qu
contribuam para acelerar a solução do mais angustiante dos nossos problemas.
Note-se que a criação de uma empresa estatal da magnitude da Petrobrás S/A era não a
indispensável, para que o Governo viesse também carrear recursos obtidos compulsoriam
imposto, à solução do problema. A criação da Petrobrás não impunha, entretanto, o monopó
do mesmo modo que a construção de Volta Redonda não exigiu o monopólio estatal da sider
Supor que o monopólio estatal do petróleo é uma tese nacionalista não seria mais do que um
uma confusão premeditada, oriunda dos que querem introduzir no nacionalismo certa
esquerdista, como o estatismo, que pertencem, não à concepção tradicional e democrá
interesse nacional, mas à concepção recente e comunizante da assimilação do nacionalismo
Não é só o problema do petróleo que se acha prejudicado, não pelo nacionalismo, mas pelo
que se lhe veio acrescentar. A outras atividades econômicas pode estender-se um surto, cuja
parte políticas, e que obedece a uma orientação ideológica de fins determinados.
Conhecer esse movimento na sua natureza e nas suas origens é indispensável, para que o po
tem de justificável em face da vida brasileira, e no que tem de espírito, de intencional e antibr
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Acresce que uma legislação fiscal bem orientada estimula a diminuição das
remessas, pois o investidor prefere reaplicar lucros do que remetê-los para
sofrer uma tributação pesada em seu próprio país.
Assim como há preconceitos a eliminar há ilusões a perder. Uma delas é a
das medidas de favorecimento do capital estrangeiro. Vingou por muito
tempo em países latinos, o sistema, ainda existente, de assegurar taxas de
câmbio para remessa de benefícios ou de dar garantias governamentais ao
sucesso da operação ou ao retorno do capital. Tudo isso é de pouca utilidade
para atrair capitais, e chega a ser nocivo, quando os favores fiscais ou
cambiais logram converter em lucro monetário os resultados de uma
exploração de baixa produtividade.
O que convém é dar ao capital liberdade de circulação, para que ele possa
sair do país como entrou, e não gozar de favores ou de um tratamento
jurídico diferente daquele que a lei assegura aos nacionais. Discriminar a
favor é tão nocivo como discriminar contra, e a lei por excelência do fomento
das inversões é a liberdade de iniciativa para o capital.
Os norte-americanos não têm razão quando reclamam, nas conferências
regionais, garantias especiais para o capital estrangeiro em caso de
desapropriação, indenização na moeda do investidor, e outras medidas de
proteção. A paridade entre nacionais e estrangeiros, no hemisfério
americano, já satisfaz com amplitude o requisito de um “standard” jurídico
mínimo, sem que o estrangeiro precise reclamar garantias suplementares,
cujo único efeito seria robustecer o emprego indesejável da chamada
proteção diplomática, fonte de atritos políticos e não de um sincero esforço
de cooperação.
Outro ponto, que se vem debatendo, e que ressurgirá por certo em Buenos
Aires, é a dupla tributação dos rendimentos auferidos no estrangeiro. Os
Estados Unidos sustentam que não tributam duplamente os rendimentos dos
seus nacionais, porque permitem a dedução do imposto já recolhido ao país
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é o Sr. José Maria Alkmim, e não o Sr. João Goulart. É fácil compreender
porque.
A inflação produz, como é sabido, uma alta continuada dos preços, que vitima
certas classes sociais e favorece outras classes, ou grupos, a que chega, em
primeira mão, o fluxo dos recursos monetários. É por isso a inflação um
mecanismo de expropriação compulsória e de injustiça, em que uns se
enriquecem à custa do empobrecimento que impõem a outros.
Ora, os mais atingidos pelo sacrifício inflacionário são os que vivem de rendas
fixas, e logo após os que vivem de salários. Sendo estes a expressão das
necessidades básicas no caso do salário mínimo, ou do padrão de vida
conquistado pelo trabalhador, no caso dos salários mais elevados, o
encarecimento contínuo produz, para os que se acham no primeiro caso, a
queda no pauperismo, e para os que se acham no segundo, a baixa do nível
de vida, isto é, a proletarização.
O que agrava esse quadro é que, ao mesmo tempo, a inflação, como as águas
em movimento de uma inundação, está carreando para outras mãos, de
forma desmesurada, o que retira das classes prejudicadas.
Pois bem, a luta contra a inflação tem isso de cruel, mas de inevitável: que
ela não chega a seus fins se não for possível conter o movimento de alta de
salários, com o qual os trabalhadores procuram esquivar-se ao
empobrecimento progressivo. Mas é claro, salta aos olhos, que nenhum
governo poderá obter do trabalhador esse sacrifício, e justificar o seu apelo
a um compasso de espera, se não estiver tomando paralelamente as medidas
capazes de neutralizar os benefícios monetários que a inflação prodigaliza a
seus favorecidos, e de deter, em todas as frentes por onde ela se dilata, o
processo inflacionário em curso.
É a inflação uma doença que só admite terapêutica integral. Onde o governo
deixar aberta uma fresta, por aí a vaga irrompe, anulando os benefícios da
contensão exercida em outras frentes.
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Num país como o nosso, onde o povo se afirma como força ascendente, a
instituição do sufrágio tem um papel educador e renovador essencial, e a
instituição legislativa, sejam quais forem seus defeitos, é o instrumento
altamente perfectível que nos aproxima de um estágio cada vez mais elevado
de democracia.
Portanto, ao iniciar-se a arregimentação do país para um novo pleito, que
renovará o Congresso Nacional e dará governadores a diversos Estados, a
nossa primeira reflexão deve conduzir-nos a uma atitude de confiança.
Confiança no Congresso sem o qual ficaríamos desarmados do meio
especifico de nosso aperfeiçoamento democrático, e confiança no povo, não
no povo como ficção jurídica, em que se simboliza a totalidade dos cidadãos,
mas no povo como classe popular – média ou proletária, civil ou popular –
onde estão as raízes da nossa vitalidade e com o qual as classes dirigentes
precisam reencontrar-se se querem preservar o futuro.
Quarta-feira, 28 de agosto de 1957
7º alínea VII, que o Governo Federal não intervirá nos Estados senão para
assegurar a observância dos princípios constitucionais fundamentais, entre
os quais a temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à
das funções federais correspondentes. Para caracterizar a inobservância dos
princípios referidos, o ato arguido de inconstitucionalidade deve ser
submetido ao exame do Supremo Tribunal pelo Procurador Geral da
República.
Foi através desse mecanismo, que a decisão da Assembleia do Estado de
Goiás veio ter ao exame do Supremo Tribunal. Em sua representação, o
eminente jurista Dr. Carlos Medeiros Silva acentua, com toda propriedade,
que a prorrogação dos mandatos eletivos equivale à outorga de um mandato
suplementar sem eleição, mandato este que derivaria, não da vontade dos
representados, mas da vontade do próprio representante.
É essa usurpação indisfarçável da função eletiva que se insinua na
prorrogação, tornando-a ao mesmo tempo ilegítima e odiosa. Não tem mais
de mandato senão a aparência, o poder do governador ou do deputado, que
se conferiu a si mesmo um período suplementar. Não merece tampouco o
nome de democrático, um regime onde a investidura é obra unilateral dos
próprios ocupantes de funções públicas, em vez de derivar do povo, que é,
na democracia, a fonte exclusiva do poder.
O momento político que estamos atravessando, embora seja de
tranquilidade e de ordem, está reclamando uma ação construtiva no sentido
de expungir o regime de quaisquer abusos capazes de lhe comprometer a
autenticidade. A maior força do país é, na verdade, a da Lei, que se impõe à
consciência civil e militar da nação, triunfando em momentos críticos e
revelando a profundidade a que se implantou. Daí a grande significação de
pronunciamentos como este que o mais alto órgão do Poder Judiciário terá
oportunidade de fazer, e que se destina a servir de norma à conduta futura
de homens públicos e de partidos. A legalidade é uma força, mas passa
insensivelmente a ser uma força menor, cada vez que se evidencia nela uma
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processos das relações interamericanas. Nela não receamos apontar uma das
causas que retiraram às conferências da O.E.A. a possibilidade de se
constituírem, de agora em diante, em grandes êxitos, retumbantes.
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pode ser ela afetada ou pelo aumento da produção corrente ou pela liquida-
ção de estoques. Dado que o ciclo de produção do café é de 4 a 6 anos,
nenhum resultado se produziria a curto prazo, em termos de produção
corrente. Obviamente, haveria maior incentivo à exportação dos estoques
disponíveis, e na medida em que se incrementasse a oferta, os preços
externos tenderiam a baixar. Mas baixariam não por causa da taxa cambial, e
sim por causa da existência de estoques excessivos em relação à procura.
Jamais chegaremos a uma boa compreensão do problema cambial do café,
se não nos compenetrarmos de que a fixação de taxas de câmbio artificiais,
ou de preços mínimos rígidos, só faz reduzir a nossa participação no mercado
mundial, mas não é instrumento hábil para sustentar preços de café. Se
existir superprodução, os preços mundiais cairão com ou sem liberação
cambial, com ou sem pauta mínima, e essa queda somente se deterá quando
se modificarem as condições básicas da procura e oferta. Alguma coisa se
pode fazer do lado da procura, através de um esforço sistemático de propa-
ganda e busca de novos mercados. Existe, além disso, possibilidade, maior do
que geralmente se crê, de recapturarmos alguns dos mercados perdidos;
basta para isso darmos o máximo de flexibilidade e liberdade ao nosso
exportador, para que concorra, no exterior, aos preços que puder obter e na
moeda em que puder vender. O que estamos fazendo é precisamente o
oposto. Numa situação de mercado em que as cotações futuras já acusam
superprodução à vista, impomos preços mínimos que, sem significarem qual-
quer continência da oferta, apenas entorpecem a atividade do exportador. A
última instrução do IBC ilustra bem o fato. Os preços internacionais, que se
vinham mantendo constantes desde 1956, entraram a declinar precisamente
quando o IBC se dispôs a sustentá-los através da promessa de compras
governamentais e da fixação de preços mínimos. E caíram pelo simples fato
de que, removida a ameaça de geadas, tornou-se inapelável a formação de
excedentes. O mercado passou a ser de compradores, em que lucrarão os
vendedores que competirem livre e agressivamente, como está fazendo a
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Tudo indica que, no âmbito da XII Assembleia Geral das Nações Unidas, ora
reunida em Nova York, não se tomarão quaisquer medidas concretas no
sentido da convocação de uma Conferência Geral dos Estados-Membros com
a finalidade de rever a Carta de São Francisco. Dispunha o diploma de 1945
que, se tal Conferência não se instalasse antes da Décima Assembleia Geral,
a proposta de sua convocação deveria figurar obrigatoriamente na Agenda
da mesma Assembleia e a Conferência se realizaria se assim fosse decidido
pela maioria de votos dos membros da Assembleia Geral e pelo voto de sete
membros quaisquer do Conselho de Segurança. Desde então, o assunto,
debatido com maior ou menor intensidade, tem andado sempre em pauta,
não somente por disposição expressa da própria Carta como também pelo
sentimento generalizado de que, mais preocupadas com a paz do que com a
Justiça internacional, mais interessadas em evitar a guerra do que a agressão,
as Grandes Potências vitoriosas em 1945 assentaram o mecanismo de
segurança coletiva sobre as bases falazes de uma unanimidade que, mesmo
em São Francisco, se delineava incerta e inatingível. Como ainda há poucos
dias salientava o Ministro Macedo Soares, em Santiago, não se separaram
nitidamente em São Francisco os problemas da paz dos problemas da Guerra.
Por isso mesmo, os debates da ONU sempre espelharam certas atitudes e
reações facilmente identificáveis com uma política de poder.
O Comitê Preparatório, ao qual estava afeta a questão da revisão, propõe
agora à Assembleia Geral que a consideração da matéria se adie até a XIV
Sessão Regular, em 1959 e, sofrendo embora a confissão de derrota e de
impotência, a verdade é que estamos perfeitamente conscientes do círculo
vicioso em que nos encontramos. Qualquer tentativa no sentido de corrigir
os inconvenientes e perigos decorrentes de uma aplicação abusiva do
princípio de unanimidade será cerceada e sufocada pela operação do mesmo
princípio que. em linguagem menos técnica e menos colorida de eufemismos,
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nesse período. “Uma nova forma de vida está sendo imposta ao mundo. Ao
invés de crescerem a segurança das nações e o bem estar dos povos,
preocupação da Conferência de São Francisco, persistem entraves, controles
e dificuldades à plena comunhão jurídica, econômica e social. Corremos,
assim, no seio da ONU, o risco de nos tornarmos menos livres, menos iguais
e mesmo, menos pacíficos, os povos e as criaturas”. Desprezando o otimismo
fácil e vazio, tantas vezes presentes nos discursos pronunciados e repetidos
em Lake Success, Flushing Meadows e à margem do East River, o Sr. Oswaldo
Aranha preferiu apontar as causas desta desigualdade fundamental que
levanta formidáveis obstáculos à convivência entre os povos. “Há um limite
abaixo do qual a desigualdade pode comprometer a comunhão mundial”.
Na mesma semana em que a Delegação do Brasil definia sua posição em Nova
York, a visita do Ministro das Relações Exteriores ao Chile oferecia-nos uma
excelente oportunidade para a enunciação da atitude brasileira ante os
problemas do Hemisfério e para a caracterização do comportamento latino-
americano, em face dos problemas mundiais. Focalizando as lacunas e
deficiências do mecanismo de segurança coletiva das Nações Unidas o
Ministro Macedo Soares, em sua oração à Câmara dos Deputados do Chile,
alertava os países da América para a necessidade de fortalecermos e
aperfeiçoarmos o sistema interamericano de defesa, tal como se estruturou
no Tratado de Assistência Recíproca de 1947. Esse sistema é perfeitamente
compatível com os princípios e propósitos da Carta de São Francisco e às
nações americanas incumbe o dever de vigilância para que o mesmo
continue implicitamente reconhecido em qualquer eventual movimento
revisionista.
Em tais condições, as declarações brasileiras em Santiago e em Nova York,
não podem deixar de ser apreciadas conjuntamente e interpretadas como
um só pronunciamento.
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Sumário
Segunda-feira, 25, e terça-feira, 26 de março de 1957.............................. 1
Quarta-feira, 27 de março de 1957 ........................................................... 5
Rede Ferroviária Federal ............................................................................ 7
Defesa do Atlântico Sul .............................................................................. 8
Quinta-feira, 28 de março de 1957 .......................................................... 10
Sexta-feira, 29 de março de 1957 ............................................................ 12
Sábado, 30 de março de 1957 ................................................................. 16
Domingo, 31 de março de 1957 ............................................................... 20
Segunda-feira, 1º, e terça-feira, 2 de abril de 1957 ................................. 24
Quarta-feira, 3 de abril de 1957 ............................................................... 28
Quinta-feira, 4 de abril de 1957 ............................................................... 31
Sexta-feira, 5 de abril de 1957 ................................................................. 32
Sábado, 6 de abril de 1957....................................................................... 36
Domingo, 7 de abril de 1957 .................................................................... 39
Segunda-feira, 8, e terça-feira, 9 de abril de 1957 ................................... 43
Quarta-feira, 10 de abril de 1957............................................................. 47
Quinta-feira, 11 de abril de 1957 ............................................................. 50
Sexta-feira, 12 de abril de 1957 ............................................................... 53
Sábado, 13 de abril de 1957..................................................................... 57
Domingo, 14 de abril de 1957 .................................................................. 61
Segunda-feira, 15, e terça-feira, 16 de abril de 1957 ............................... 66
Quarta-feira, 17 de abril de 1957............................................................. 69
Quinta-feira, 18 de abril de 1957 ............................................................. 73
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