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JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª
REGIÃO
21ª VARA DO TRABALHO DO RECIFE
AVENIDA MARECHAL MASCARENHAS DE MORAIS,
4631, IMBIRIBEIRA, RECIFE - PE - CEP: 51150-004
RTOrd 0000390-26.2014.5.06.0021
AUTOR: KESSIA DA SILVA RODRIGUES
RÉU: SCAVUZZI LECA RESTAURANTE LTDA - ME
SENTENÇA
Vistos etc.
RELATÓRIO
Na audiência inicial a proposta de acordo foi recusada. A reclamada reiterou os termos da defesa
apresentada eletronicamente (ID nº 0df36b0). Alçada fixada de acordo com a inicial. Prazos concedidos
para juntada de outros documentos e manifestações respectivas.
A audiência seguinte foi adiada em razão da testemunha da autora não ter comparecido para depor.
A audiência em prosseguimento também foi adiada em razão da Ordem de Serviço TRT-GP 149/2016.
de conciliação.
A autora apresentou Recurso Ordinário, no prazo legal, que foi recebido pelo Juízo.
A Primeira Turma do TRT da 6ª Região, acolheu a preliminar de nulidade processual por cerceamento de
defesa, por unanimidade.
O processo foi remetido a este Juízo para realização de audiência de instrução e dela intimadas,
pessoalmente, as partes do seu comparecimento, para tomada dos
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Número do processo: RTOrd-0000390-26.2014.5.06.0021
Número do documento: 18100813223471600000033314614 ID. 4c40673 - Pág. 1
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A nova audiência foi realizada com a presença das partes. Foram dispensados os depoimentos pessoais e
ouvida uma testemunha apresentada pela reclamada. Sem mais requerimentos encerrou-se a instrução.
Razões finais orais e remissivas. Acordo recusado.
É o relatório.
FUNDAMENTOS DA DECISÃO
Considerando que a presente ação trabalhista foi proposta antes da vigência da Lei nº 13.467/2017,
designada como "Reforma Trabalhista", temos que nos termos da IN nº 41/2018 do TST, a aplicação das
normas processuais previstas pela reforma é imediata, sem atingir, no entanto, situações iniciadas ou
consolidadas na vigência da lei revogada. Assim, a maioria das alterações processuais não se aplicam ao
presente processo.
É evidente, a nosso ver, que aplicar as regras processuais da Reforma Trabalhista aos feitos já ajuizados
configuraria ofensa direta ao devido processo legal substancial (Inciso LV do art. 5º da CRFB) e colisão
com as regras dos artigos 9º e 10 do CPC/2015. Isto porque o feito vem transcorrendo sob a égide das
regras processuais anteriores à Reforma Trabalhista, sendo impossível às partes, pela temporalidade das
mudanças, antever quais regras processuais vigentes à época da prolação da decisão.
II- DO MÉRITO
Alega a reclamante que laborou para a reclamada, no período de 18.10.2013 a 21.02.2014, na função de
"operadora de caixa", recebendo como última remuneração o salário mensal de R$ 735,00, acrescido de
R$ 73,50, a título de quebra de caixa. Afirma que foi demitida sem justa causa e que não recebeu seus
haveres rescisórios.
A reclamada afirma que a trabalhadora foi dispensada por justa causa. Aduz que a reclamante se
enquadrou nas faltas indicadas no artigo 482 da CLT, que tratam de mau procedimento, indisciplina e
desídia. Assevera que a demissão justificada foi aplicada após a autora ter sido advertida de que sua
conduta não estava de acordo com as políticas da empresa, portava-se de maneira desidiosa no
desempenho de suas funções, bem como não estava se submetendo às ordens de seus superiores.
Incontroverso nos autos o período contratual, a remuneração e a função exercida pela reclamante.
Ao exame.
Para que a justa causa rescisória fique caracterizada e limitada, consoante lição de Valentin Carrion,
necessário que a conduta causadora da rescisão esteja prevista no artigo 482 da CLT, que a reação da
empresa, em regra, seja imediata, e que o ato seja grave a ponto de impedir a continuação do vínculo, que
não haja perdão tácito ou expresso, que o fato alegado seja o que efetivamente determinou a rescisão, não
podendo ser substituída por outra, nem reforçada. (Comentários à consolidação das leis do trabalho, 33ª.
ed. atual. por Eduardo Carrion, São Paulo, Editora Saraiva, 2008, p. 379-380).
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E, ainda segundo o ilustre jurista supra citado, a apreciação judicial está restrita à declaração de legalidade
ou não da rescisão, sendo o ônus da prova do fato ensejador da rescisão contratual do empregador.
Maurício Godinho Delgado, por sua vez, dispõe ser necessária a existência de requisitos objetivos,
subjetivos e circunstanciais, sendo os requisitos objetivos atinentes a "tipicidade da conduta faltosa", ou
seja, a conduta deve estar prevista na Lei celetista, enquanto os subjetivos dizem respeito a autoria e a
culpabilidade com relação ao fato ou omissão imputados, e por fim os circunstanciais, que dizem respeito
a atuação disciplinar do empregador, sendo eles, em suma:
. imediaticidade da punição;
. inalteração da punição;
. ausência de discriminação;
A reclamada para prova de suas alegações acostou ao presente processo diversas advertências e
suspensões sofridas pela reclamante (ID. 71878c8, ID. 5c66e2d e ID. 44c15da), bem como a penalidade
máxima sofrida, consubstanciada na dispensa por justa causa (ID. 1423368).
Juntou ainda espelhos de ponto do qual constam diversas faltas injustificadas, sendo certo que não houve
justificativa para a ausência do dia 19.02.2014 (ID. a339f00).
Ademais, a única testemunha ouvida, Sr. ELIEL LUIZ DE SANTANA, assim falou sobre o tema:
"(...) que trabalhou junto com a reclamante, exercendo a função de gerente; que a dispensa da
reclamante ocorreu por justa causa; que existiram várias advertências e suspensões anteriores, sendo o
motivo da rescisão a indisciplina; (...) que reclamante tinha muitos atrasos e faltas, além de faltar com
respeito a seu supervisor; que essa falta de respeito ao supervisor consistia em discussões com o mesmo;
que essa discussões com o supervisor tanto ocorria no balcão, na presença de clientes, como na cozinha,
na presença de outros funcionarios; que a reclamante fazia gestos obcenos para o supervisor, como "dar
banana" e "dar o dedo", bem como falava palavrões; que o supervisor alertava a reclamante que se a
mesma não parasse com suas atitudes , poderia receber advertências ou mesmo ser demitida; que o
depoente chegou a ligar para a reclamante, por volta das 13:00h para saber o motivo da mesma não ter
chegado, tendo a mesma dito que uma tia iria chegar de viagem e , por isso, não poderia ir ao trabalho;
que o depoente chegou a implorar à reclamante que fosse para não aplicar a justa causa, entretanto ,
não foi atendido, por isso ocorreu a demissão da reclamante; (...) que não se recorda a data em que fez o
telefona para a reclamante , chamando-a para comparecer ao trabalho, mas sabe informar que esta falta
foi o motivo justificador da demissão; (...)"- ID. 13e6d8d
Ora, a conduta reiterada da reclamante foi suficientemente grave para ensejar a rescisão por justa causa,
tendo a reação da empresa em rescindir o contrato de trabalho ocorrido de forma imediata, sendo certo
ainda que não houve alegação de existência de perdão, nem de dupla punição, ou mesmo de qualquer
discriminação ao autor.
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Desta forma, mantém-se a justa causa aplicada, bem como INDEFEREM-SE os pleitos de aviso prévio;
férias proporcionais +1/3; 13º proporcional; liberação do FGTS e sua multa de 40%; e indenização
relativa ao Seguro Desemprego.
DEFERE-SE, contudo, o pagamento do salário do mês de fevereiro de 2014 (21 dias), vez que a
reclamada nada falou a respeito deste pagamento, em sua defesa, e não trouxe ao processo o TRCT, com
a devida discriminação das verbas rescisórias.
DEFERE-SE, igualmente, o pedido de multa do artigo 467 da CLT, a ser aplicada sobre o valor
confessado como devido, em sede de contestação (R$ 10,88) e não pago pela ré, bem como sobre o saldo
de salário de fevereiro acima deferido, tendo em vista a confissão ficta que gerou a incontroversia acerca
da verba.
Quantificação nos termos da planilha em anexo, a qual integra o presente comando sentencial para todos
os fins.
Aduz a reclamante que trabalhava das 12h00 às 23h00, com 2 horas de intervalo intrajornada, de domingo
a domingo, inclusive dias santos e feriados, contudo sem nunca ter recebido quaisquer horas extras pelo
período excedente, bem como sem receber o valor referente ao adicional noturno.
Quanto às horas extras, afirma a demandada que sempre foram pagas correta e proporcionalmente,
contudo deixou de acostar o controle de jornada da empregada referente ao mês de outubro de 2013, o que
atrai para a ré o ônus de elidir a presunção de veracidade da jornada indicada na atrial para o mês faltante.
Do qual se desincumbiu a contento, posto que a única testemunha ouvida confirmou o horário de trabalho
indicado pela defesa.
Assim, INDEFERE-SE o pedido de pagamento de horas extras referentes ao mês de outubro de 2013.
Quanto aos meses em que houve juntada dos controles, a reclamante apresentou manifestação aos
referidos documentos, afirmando que as horas extras registradas não eram corretamente pagas.
Da análise dos contracheques juntados verifica-se que a reclamada efetuava o pagamento das horas extras
trabalhadas, tendo o autor apontado, por amostragem, a existência de diferenças em seu favor quanto aos
valores pagos a título de horas extras.
Contudo, da análise do registro de ponto e do contracheque do mês de novembro de 2013, analisado por
amostragem, verifica-se que houve a quitação da horas extras registradas no respectivo mês.
Assim, INDEFERE-SE o pedido de pagamento de horas extras, bem como das repercussões pleiteadas.
O mesmo ocorreu quanto aos feriados que recaíram nos meses de outubro e novembro de 2013, motivo
pelo qual se INDEFERE o pedido de dobras e repercussões.
Quanto ao adicional noturno, os controles de ponto juntados pela reclamada apresentam o registro de
trabalho a partir das 22h00, em alguns dias, contudo os contracheques juntados não trazem qualquer valor
referente ao mesmo. Desta forma, DEFERE-SE o pagamento de adicional noturno, observando-se os
registros de jornada juntados ao processo, com repercussões no 13 º salário e no RSR.
Quantificação nos termos da planilha em anexo, a qual integra o presente comando sentencial para todos
os fins.
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3. DO PEDIDO DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Às partes é imputada obrigação processual que consiste em atuar com boa-fé. O descumprimento desta
obrigação, além de consistir em atuação ilícita processualmente, que deve ser coibida pelo Estado-Juiz,
implica em prejuízo à parte adversa, que deve ser indenizada, nos termos dos arts. 79 a 81 do NCPC,
aplicado aqui de forma subsidiária.
A reclamante, claramente, ao tratar do recebimento da verbas rescisórias atuou como litigante de má-fé,
alterando a verdade dos fatos, pois formulou pretensão com base em fato irreal, alegando que sua rescisão
se deu sem justa causa, quando tinha conhecimento do motivo rescisório, conforme documentos de ID n°
c3abb4c e 1423368.
Desta forma, resolve este Juízo com base no art. 81 do NCPC, condená-la por litigância de má-fé a pagar
multa de 1% sobre o valor da causa e a indenizar a reclamada dos prejuízos sofridos no valor desde já
arbitrado em R$ 200,00.
Quanto ao pedido referente à verba honorária, entende este Juízo que estando a autora assistida por
advogado particular, incidem as Súmulas 219 e 329 do C. TST, que trazem entendimento de ser cabível o
ônus na hipótese de se encontrar assistido o reclamante pelo sindicato da categoria profissional,
entendimento fundamentado na Lei 5584/70. INDEFERE-SE, pois, o pedido.
Quanto ao pedido de concessão do benefício da Justiça Gratuita, exceto a verba honorária, acima já
indeferida, entende este Juízo que a simples declaração de insuficiência de recursos para pagar as custas e
demais despesas processuais (art. 98 do NCPC) é suficiente para o deferimento do pedido da reclamante.
Dispõe ainda o art. 99 e § 3º. do NCPC, que regula atualmente a matéria, o seguinte:
"Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na
petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 3º. Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural."
Entretanto, atualmente, fazem-se necessários poderes específicos ao advogado para declarar tal
insuficiência de recursos, nos termos do art. 105 do NCPC, mas como o pedido foi formulado ainda sob a
égide do antigo regramento, aplica-se o entendimento anterior amparado no art. 4º. da Lei 1060/1950.
Com base nessa Lei 1060/1950 dispõe a OJ n.° 331 da SDI-1 do C. TST: "Justiça gratuita. Declaração de
insuficiência econômica. Mandato. Poderes específicos desnecessários. Desnecessária a outorga de
poderes especiais ao patrono da causa para firmar declaração de insuficiência econômica, destinada à
concessão dos benefícios da justiça gratuita". De igual forma, a Orientação Jurisprudencial n. 304 da
SDI-1 do C. TST: "Atendidos os requisitos da Lei n° 5584/1970 (art. 14, § 2°), para a concessão da
assistência judiciária, basta a simples afirmação do declarante ou de seu advogado, na petição inicial, para
se considerar configurada a sua situação econômica (art. 14, § 1°, da Lei n.° 7510/1986, que deu nova
redação à Lei n° 1060/1950)."
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Atente-se, finalmente, que a gratuidade aqui versada não se confunde com a assistência judiciária, sendo
irrelevante, portanto, que a autora não venha acompanhado em Juízo de advogado patrocinado pelo seu
sindicato.
Quanto ao IRPF apenas será devido sobre as verbas salariais, devendo ser observadas as novas regras de
incidência sobre rendimentos acumulados deste imposto instituídas pela Medida Provisória 497, de 28 de
julho de 2010, convertida na Lei 12.350, de 20 de dezembro de 2010, segundo a qual os rendimentos
acumulados recebidos relativos a anos anteriores ao do recebimento
Quanto à contribuição previdenciária deverá ser apurada mês a mês, observando as verbas salariais e o
teto do salário-contribuição para os valores devidos pelo autor.
Relativamente à correção monetária, entende este Juízo que, conforme já pacificado na jurisprudência
através da Súmula 381 do TST, ultrapassada a data limite prevista no art. 459 da CLT, incidirá o índice da
correção monetária do mês subsequente ao da prestação de serviços, a partir do dia 1º., nos termos do art.
39 da Lei 8177/1991.
CONCLUSÃO
Ante o exposto e considerando o mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTES, EM PARTE, os
pedidos da reclamação ajuizada por KESSIA DA SILVA RODRIGUES em face de SCAVUZZI LECA
RESTAURANTE LTDA - ME para condená-la, no prazo de 48 horas do trânsito em julgado da presente
decisão, a pagar à reclamante os títulos deferidos, no valor em anexo, nos termos da fundamentação, a
qual passa a integrar o presente dispositivo, como se nele estivesse transcrita.
Sobre o valor apurado incidem juros e correção monetária, sendo que os juros de mora serão contados a
partir do ajuizamento da ação (art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91) até a disponibilidade do crédito à autora
(Súmula nº 4 do TRT) e a correção monetária desde a data do vencimento da obrigação até o efetivo
pagamento, atentando-se à diretriz traçada na Súmula nº 381 do TST e aos índices fixados nas tabelas
fornecidas pela Corregedoria Regional.
Possuem natureza salarial as seguintes verbas, sobre as quais incide a contribuição previdenciária: o
salário de fevereiro de 2014 e o adicional noturno, com repercussões no 13º salário e RSR. As demais
verbas possuem natureza indenizatória.
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