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OS REFLEXOS DO ESTATUTO DA PRIMEIRA INFÂNCIA NO PROCESSO

PENAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DO INSTITUTO DA PRISÃO DOMICILIAR

GTVIII: Violência Social e Sistema Penal

Marcelo Polegario Lima1


Marcie Gabriele da Silva Teixeira2
Maria Cristina Alves Delgado de Ávila3

RESUMO

O presente trabalho busca analisar sucintamente as modificações introduzidas pelo


Estatuto da Primeira Infância – Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016 –, enfatizando
o instituto da prisão domiciliar. Cuida-se de pesquisa de natureza teórica e
qualitativa, na qual foram empregadas a revisão bibliográfica e análise documental,
consistente, esta última, em pesquisa da jurisprudência dos Tribunais Superiores.
Tendo como pontos de partida a constitucionalização do(s) direito(s), a abertura
conferida pela Constituição aos direitos humanos, bem como a conjuntura atual do
sistema carcerário brasileiro, verifica-se que o processo penal deve ser um
instrumento de garantia do indivíduo em face do Estado, tendo como vetor o
princípio da dignidade da pessoa humana. Nesse contexto, a aplicação da novel
legislação deve ser concatenada com os compromissos constitucional e
internacional assumidos pelo País, revestindo-se em verdadeiro direito subjetivo
do(a) acusado(a) e uma medida voltada a dar máxima efetividade aos direitos e
garantias fundamentais.

Palavras-chave: Estatuto da Primeira Infância; Prisão Domiciliar; Processo Penal;


Constituição; Direitos Humanos

INTRODUÇÃO

Há mais de um ano vigor, o Estatuto da Primeira Infância – Lei nº 13.257, de 8


de março de 2016 –, representa um importante paradigma na concretização de
direitos fundamentais, alinhado às balizas principiológicas da chamada doutrina da
proteção integral.
A referida lei, que integra aquilo que podemos denominar de microssistema
dos direitos das minorias ou vulneráveis, não se restringiu às políticas públicas para

1
Especialista em Direito Constitucional pela Faculdade Damásio de Jesus. Bacharel em
Administração Pública da Universidade Federal Fluminense – UFF (ICHS/Volta Redonda).
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Barra Mansa – UBM. Pesquisador
convidado do Núcleo de Pesquisa do Direito – NUPED/UBM.
2
Discente do 8º período do curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa.
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa do Direito do UBM – NUPED/UBM.
3
Docente do curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa. Pesquisadora
orientadora do Núcleo de Pesquisa do Direito – NUPED/UBM.
a primeira infância, implementando, também, modificações em outros diplomas
legais, quais sejam, ECA, CLT e Código de Processo Penal.
Embora não se possa, a partir de um critério qualitativo, rotular as mudanças
legislativas trazidas pela novel lei, pode-se afirmar que, numa perspectiva macro, as
disposições nela contidas vieram ao encontro dos ditames constitucionais e
internacionais, buscando dar concretude, por meio da vinculação do Poder Público a
uma agenda positiva de direitos, ao compromisso social que a agenda de direitos
humanos impõe.
Nesse contexto, o objetivo principal do presente trabalho é analisar, ante a
atualidade da discussão, as alterações promovidas pelo Estatuto da Primeira
Infância (EPI) no processo penal brasileiro, com ênfase no instituto da prisão
domiciliar. Como objetivo específico, busca-se identificar a posição que vem sendo
adotada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça na aplicação da citada alteração legal, confrontando-a com as disposições
traçadas na Constituição Federal e nos tratados de direitos humanos.

METODOLOGIA

Cuida-se de pesquisa de natureza teórica e qualitativa, na qual foram


empregadas fontes primárias (investigação da legislação) e secundárias (revisão
bibliográfica e análise documental, consistente, esta última, em pesquisa na base de
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do reconhecido fenômeno da constitucionalização do(s) direito(s),


passou-se a exigir que os variados ramos da ciência jurídica submetam-se a uma
filtragem constitucional (BARROSO, 2011; SOUZA NETO; SARMENTO, 2012).
Nesse contexto, o processo penal deve ser lido e modificado à luz do que preceitua
a Carta Política de 1988, com destaque para a abertura dialógica à gramática dos
direitos humanos estabelecida em seu art. 5º, § 2º.
Sob essa perspectiva, tem-se a busca pela (re)construção do processo penal,
afastando-se da vetusta ideia de instrumento do jus puniendi e indo para um viés de
instrumentalização da garantia do indivíduo em face do Estado, tendo como baliza o
princípio da dignidade humana (art. 1º, III, CRFB/1988).
Desse modo, percebe-se que, entre avanços e retrocessos, as modificações
legislativas implementadas na seara processual penal demandam o alcance dos
seus verdadeiros sentidos axiológico e teleológico, devendo-se ter em conta, sob
essa ótica, a conjuntura do sistema penitenciário brasileiro, o qual abriga a quarta
população carcerária do mundo – com substancial e preocupante aumento da
população feminina encarcerada, segundo dados do Infopen Mulheres 2014 – cuja
situação, conforme reconhecido pelo STF na Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 347, é de flagrante inconstitucionalidade.
A introdução, no âmbito das medidas cautelares, da prisão domiciliar, por
meio da Lei nº 12.403/2011, constituiu um progresso, ainda que tímido, na
concretização de um processo penal pautado numa visão humanizada. Embora
relativamente recente, o instituto veio a ser alterado pela Lei nº 13.257/2016, mais
conhecida como Estatuto ou Marco Legal da Primeira Infância, diploma legal
vocacionado a uma parcela da população por vezes relevada no bojo das políticas
públicas – ainda que a Constituição Federal dedique a ela especial atenção.
Mas não é só. A novel lei também buscou fortalecer o direito fundamental à
convivência familiar – alinhada à sua importância na formação do ser humano e às
Regras de Bangkok, que estabelecem diretrizes para o tratamento de mulheres
presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras – ao alterar a
redação e incluir dispositivos no Código de Processo Penal, o qual passou a dispor o
cabimento da prisão domiciliar quando o agente for (i) gestante – superando-se,
aqui, a limitação anterior que prescrevia a gestação a partir do 7º mês de gravidez
ou sendo esta de alto risco –, (ii) mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos e (iii) homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de
até 12 (doze) anos de idade incompletos (art. 318, IV, V e VI, CPP).
Além disso, estabeleceu-se a obrigatoriedade de que as autoridades policiais
e judiciárias façam constar informações relacionadas sobre a existência de filhos,
suas idades, dentre outras informações, a fim de não só permitir o controle social,
como também fornecer subsídios para a construção de políticas públicas voltadas à
primeira infância (arts. 6º, X, 185, § 10, e 304, § 4º, CPP).
Conquanto as alterações mereçam ser comemoradas, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Justiça tem aplicado uma
interpretação restrita do dispositivo, ao passo que o que se impõe é uma
interpretação expansiva, emancipatória e concatenada com os compromissos
constitucional e internacional assumidos pelo País.
Assim, ainda que o emprego do verbo “poderá” no dispositivo de regência
(art. 318, caput, CPP) dê ensejo à ideia de uma faculdade do julgador, como
amplamente defendido pela jurisprudência do STJ (v.g. HC 413.422/SP. Rel. Min.
Nefi Cordeiro, j. em 25.08.2017, p. em 31.08.2017), cuida-se, em suma, de um
“poder-dever”, tendo como lastro a máxima efetividade dos direitos fundamentais,
revestindo-se, pois, de verdadeiro direito subjetivo do acusado e funcionando como
uma baliza à atuação do magistrado.
Não obstante, ainda que já houvesse previsão do instituto da prisão domiciliar
no âmbito da execução penal (art. 117, LEP) – mais restrita, pois aplicável apenas
aos condenados ao regime aberto – deve-se compatibilizar referido regramento,
numa interpretação extensiva, com os novos ditames do EPI, ou seja, aplicar à fase
executória as hipóteses previstas no tocante às cautelares, que são mais amplas, de
modo a concretizar um processo penal que atue a partir e nos limites estatuídos na
Constituição Federal e alinhado aos direitos humanos (cf. decisão da 3ª Vara
Criminal da Comarca de Joinville, da lavra do Juiz de Direito João Carlos Buch, no
bojo da Execução Penal nº 0002363-46.2013.8.24.003, j. em 16.03.2016, p. em
18.03.2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A entrada em vigor do Estatuto da Primeira Infância vai ao encontro de uma


leitura constitucional do processo penal, lastreada na diretiva dos direitos humanos.
Os delineamentos contidos na novel legislação promulgam tanto os direitos à
convivência familiar quanto a busca por um processo penal que considere o ser
humano, e não a aplicação da pena, como prioridade, pautado no princípio da
dignidade pessoa humana, que, por expressa previsão constitucional, mantém
incólumes, ainda que submetida à segregação ambulatória, a integridade moral e
física (art. 5º, XLIX, CRFB/1988), princípio basilar do chamado “Estatuto
Constitucional da Pessoa Presa”.
Conquanto os tribunais superiores venham empregando, nesse primeiro
momento, uma aplicação restritiva das disposições inseridas no CPP, espera-se que
haja uma necessária, diga-se, evolução jurisprudencial, pois, afinal, não bastam
apenas boas leis para que os direitos e garantias fundamentais sejam concretizados,
tornando-se imperativo que sejam elas cumpridas à luz da máxima efetividade.

REFERÊNCIAS

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de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo
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