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Apostila
História da Comunicação
ÍNDICE
1. APRESENTAÇÃO 3
2. COMUNICAÇÃO E CULTURA 4
3. COMUNICAÇÃO ORAL 5
1. APRESENTAÇÃO
A presente apostila é resultado das primeiras experiências da disciplina
História da Comunicação do curso de Jornalismo da Universidade do Sagrado
Coração (USC). Ela traz uma leitura essencial de alguns entre os principais textos
sobre a história dos meios de comunicação social no mundo ocidental (em função
da amplitude do tema, foi necessário restringir o âmbito dos meios estudados). A
proposta deste material é ser uma introdução ao assunto, o que não dispensa a
leitura dos originais em que a apostila se fundamenta nem tão pouco de outras
obras.
A abordagem da História da Comunicação que aqui se apresenta, busca
estudar o surgimento e evolução dos meios de comunicação ao longo da História
sob uma perspectiva cultural ou, em outras palavras, a partir da constatação das
evidências históricas acerca do que mudou no comportamento das sociedades
ocidentais (qual o impacto que isso trouxe para as pequenas e grandes
comunidades) a partir do surgimento e crescimento da mídia. Um capítulo final
aborda o desenvolvimento dos meios de comunicação (com especial enfoque para
a imprensa) no Brasil.
É fundamental salientar ao leitor que os fatos históricos não acontecem
segundo uma exatidão cronológica, como talvez julgue o senso comum. Por
vezes, é difícil aos historiadores identificar a ordem cronológica exata desses fatos
(o que, em princípio, não se trata do mais importante). Portanto, uma certa
cronologia dos fatos aqui apresentada apenas se justifica por questões didáticas.
Na realidade, nem sempre a História é bem assim.
___________________________
O autor
Luís Henrique Marques é jornalista com bacharelado e mestrado pela Universidade
Estadual Paulista, campus de Bauru. Docente do curso de Jornalismo da Universidade do
Sagrado Coração (USC) nas áreas de Ética Jornalística, História da Comunicação e
Redação em Jornalismo Impresso, atua também como assessor de imprensa da
Faculdade de Medicina de Marília (Famema). É ainda professor da disciplina Introdução à
Teologia e Metodologia das Ciências da USC. Atualmente, é colunista e repórter
colaborador da revista Cidade Nova (de âmbito nacional), jornalista-colaborador da
Pastoral da Comunicação (PasCom) da Diocese de Bauru pela qual – em parceria com o
curso de Jornalismo da USC - produz o boletim Notícias Diocesanas, veiculado
semanalmente pela Rádio Veritas FM.
Apostila de História da Comunicação 4
Luís Henrique Marques
2. COMUNICAÇÃO E CULTURA
A comunicação não é um fenômeno isolado nem contemporâneo, mas está
integrada aos processos culturais presentes em cada momento da História. De
fato, segundo Mitchell Stephens (1993), “não compreendemos o amplo papel
político que a divulgação de notícias tende a exercer em qualquer período e em
qualquer sociedade”. Ainda para este autor, “as notícias divulgadas por uma
determinada sociedade refletirão obviamente as preocupações culturais e políticas
específicas daquela sociedade”.
Tem-se a impressão que a comunicação é um fenômeno recente, se
considerada hoje, como “de massa”, em função do emprego sempre crescente da
tecnologia. Diz Virgílio Noya Pinto (1995): na realidade, quando encaramos a
comunicação numa perspectiva histórica, verificamos que as técnicas se
transformaram, mas conteúdo e significados permaneceram os mesmos”.
Stephens (ibid) reforça este argumento dizendo: “Freqüentemente, estamos
tão ansiosos por elogiar inovadores e proclamar furos de reportagem, que
acabamos por ver inovações e furos onde deveríamos enxergar conexões e
continuidades”.
Para compreender historicamente a comunicação, é preciso analisar sempre
como esta foi gestada e utilizada pela comunidade. Para tanto, é necessário
compreender as realidades nas quais o homem se encontra quando do
surgimento e expansão dos fenômenos comunicacionais. “... sem a compreensão
do fluxo de notícias através de distintas sociedades, o entendimento da vida
dessas sociedades é limitado”. (Stephens, ibid)
Para sobreviver no ambiente natural em que se encontra, o homem se vê
obrigado a desenvolver um “outro ambiente”, a cultura. Afirma Herskovits (In Pinto,
1995) sobre a cultura: “o conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças,
arte, moral, leis, costumes e quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem como membro da sociedade”.
Da cultura, é importante destacar:
º
1 O conjunto das relações dos homens entre si, que caracteriza, ao mesmo
tempo, a estática e a dinâmica da existência social o que implica, através do
processo de comunicação, no aprendizado (como aculturação e como contato e
difusão). Este, por sua vez, nos remete sempre a formas de dominação.
2º O conjunto das formas de expressão de que se serve o homem como a arte
em geral, a partir da qual é possível captar a visão de mundo de uma sociedade
num certo momento histórico.
3º O conjunto das relações dinâmicas entre os homens e seu meio natural,
relações estas que se manifestam mediante o emprego de técnicas ao dominar
o ambiente através da ciência e da técnica, o homem tem buscado eliminar o
binômio “espaço-tempo”, fazendo da sociedade o que Marshall McLuhan chamou
de “aldeia global”.
A partir destas considerações, conclui Virgílio Noya Pinto (ibid): “a
comunicação é o conjunto das relações dos homens entre si, das formas de
expressão das quais se servem e do emprego de técnicas”.
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Luís Henrique Marques
3. COMUNICAÇÃO ORAL
A obsessão com as notícias é uma característica humana de todos os tempos
e sociedades. De fato, inclusive nas sociedades de cultura oral (ou pré-letradas),
grande parte do tempo é consumida com a troca de notícias.
Por quê? A importância das notícias está além dos assuntos que estas
focalizam. Estas revelam a consciência – e portanto, nos traz segurança – que
temos da realidade. Logo, a obsessão pelo consumo de notícias revela a infinita
sede de conhecimento do homem.
O valor da notícia está no fato de ser contada, comunicada. Nossa obsessão a
contar notícias é a mesma que a de recebê-las. Stephens (1993) afirma que “o ato
de contar notícias traz consigo uma série de gratificações para o ego: a
oportunidade de parecer bem-informado, culto e atualizado (abandonando-se à
vaidade do ‘primeiro saber’); a ocasião de chamar atenção, de se exibir e de
ganhar apreço; além do privilégio de brindar os acontecimentos com suas próprias
conclusões”.
O desejo pela notícia, mesmo em sociedades orais, sempre impulsionou o
aumento da velocidade de sua divulgação. Essa difusão revela também a
evidência de um compromisso social, isto é, a própria sociedade tem se ocupado
sempre mais disso.
As informações sobre a difusão oral das notícias, a despeito de sua
antigüidade, provém de uma literatura antropológica recente. Esta, por sua vez,
não é mais que uma “filtragem” do olhar dos estudiosos, missionários e
colonizadores.
É fato, contudo, que os métodos de coleta e difusão oral de notícias revelaram-
se impressionantes, podendo ser considerados as “raízes” do próprio jornalismo
contemporâneo. Exemplo: o “telégrafo humano sem fio” do povo zulu (África).
Nas sociedades orais, os locais de reunião eram locais de difusão “das últimas
notícias”. Exemplo: o mercado (que encerra, a propósito, uma relação simbólica
entre a notícia e o comércio). Tais locais, por seu caráter agradável, favoreciam a
difusão das informações.
Além do uso de recursos como tambores e fumaça, a divulgação de notícias
nas sociedades orais dependia especialmente da movimentação das pessoas.
Nesse sentido, o comércio tem uma importância especial.
Nos povos iletrados, há uma evidente confusão entre fofoca e notícia. Quanto
maior e mais organizada a sociedade, mais seriedade e precisão passou a ser
exigida na divulgação oral das notícias.
Para amplificar com precisão e seriedade este trabalho, as várias sociedades
passaram a contar com a atuação dos:
a) mensageiros (que transportavam as notícias previamente editadas);
b) apregoadores (que divulgavam as notícias em horários e locais prescritos;
eram mais formais em sua linguagem);
c) trovadores (que cantavam as notícias).
Entre estes, alguns eram reverenciados (inclusive por razões religiosas) e outros
até ridicularizados.
Apostila de História da Comunicação 6
Luís Henrique Marques
1
“A história da escrita” – diz De Fleur (ibid) – “é a passagem da representação pictórica
para sistemas fonéticos, da representação de idéias complexas com imagens ou
desenhos estilizados para a utilização de simples letras dando a entender determinados
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Luís Henrique Marques
Comércio cosmopolita
sons”. Para tanto, o primeiro passo a ser dado para a criação da escrita foi a
padronização das imagens, cada uma das quais (cada símbolo) representava uma
determinada idéia, coisa ou conceito.
2
Vale ressaltar que foram os egípcios, de certo modo, os precursores do papel, com a
invenção do papiro 2500 a.C..
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Cresce o uso de estereótipos e clichês. O mundo passa a ser visto por muitos
através de fórmulas (é um “mundo velado”); o extraordinário é transformado em
ordinário (falta reflexão sobre causas e conseqüências, e existe uma
descontinuidade no lugar de conexões).
Todas essas alterações na maneira de divulgar notícias, ao mesmo tempo,
reflete e confirma a conveniência dos divulgadores de notícias já daquele período
– que passam a ser identificados como jornalistas: o prazo de entrega do material
para publicação passa a ser determinado. Com efeito, nessa época, a
periodicidade dos livretos começa a se firmar e a inovação dos livretos semanais
passa a exigir uma inovação jornalística, marcada por as alterações no conteúdo e
formato de divulgação das notícias, conforme dito anteriormente. É o início, o
embrião, da própria indústria jornalística.
O jornal
A Gazzetta veneziana
O Coranto holandês
Amsterdã (Holanda) se transformou, nesse mesmo período, uma cidade
cosmopolita e, por isso mesmo, mais tolerante em relação às questões religiosas.
Ali, a exemplo do que acontecia em outras regiões da Europa, o comércio
necessitava da circulação de notícias. Os moradores da cidade passaram, então,
a organizar os Corantos, boletins informativos periódicos “bruscos e impessoais”,
considerados entre os principais precursores do jornal tal como o conhecemos
hoje (De Fleur, 1993).
Os editores do coranto holandês (largamente difundido em outros países,
como na Inglaterra) tiveram que lidar com a novidade que era a expectativa dos
leitores por uma nova edição, bem como com o fato de que a edição anterior era
considerada obsoleta (firma-se o padrão de periodicidade). Também a avaliação
das notícias (quanto à sua importância) foi alterada. Outra prática foi a
“antecipação dos acontecimentos”, o que veio a aguçar ainda mais o apetite do
leitor por novas notícias.
Emerge, também nos outros países onde o jornal impresso ganhava espaço, a
figura do editor, de quem era exigido a capacidade de transformar a miscelânia de
matérias em uma publicação atraente e razoavelmente coerente.
Superando limitações
3
Gazzette, em italiano, é o plural de gazzetta.
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Luís Henrique Marques
Relação imprensa-ciência
Notícias de Negócios
No Brasil
“Primeiras batalhas4
A imprensa surge tardiamente no Brasil. Há razões internas e externas a
explicar a sua ausência na Colônia. A Coroa Portuguesa sempre criou obstáculos
ao seu desenvolvimento para impedir que as críticas à dominação metropolitana
se propagassem através das folhas impressas. Além disso, os núcleos urbanos
eram pouco significativos na sociedade colonial havendo predominância de uma
população do campo, analfabeta, constituída na sua maioria por escravos,
dispersa em áreas distantes. Estes fatores representaram empecilhos para a
consolidação da imprensa.
Apesar das dificuldades, diários e panfletos circularam nos pequenos e
grandes centros urbanos. A barreira do analfabetismo era contornada pela
comunicação oral: a leitura da voz alta, nas esquinas, nas farmácias ou nos
serões familiares possibilitava a divulgação das mensagens, muitas vezes de
4
Texto extraído do livro “Imprensa e História do Brasil”, de Maria Helena R. Capelatto,
Contexto/EDUSP, 2a ed., 1994, página 38.
Apostila de História da Comunicação 12
Luís Henrique Marques
Essa afirmativa data de 1823, ano em que teve início um período de intensa
repressão política. Jornalistas foram perseguidos, espancados, processados e
deportados.
Na fase de Abdicação, Regência e Maioridade alguns jornais se
destacaram. Dentre ele a Aurora Fluminense de Evaristo da Veiga, que fez
campanha pela abdicação de D. Pedro I.
Durante a Regência proliferaram os pasquins, jornais de formato reduzido e
poucas páginas, de linguagem violenta e função agitadora. Tinham curta duração
e entraram em declínio após a Maioridade. Outros jornais dessa mesma época
sobreviveram por mais tempo.
Em 1827 surgiu o famoso Jornal do Commercio do Rio de Janeiro; em 1829
o Observador Constitucional (São Paulo) de Líbero Badaró que promoveu intensa
luta pela liberdade de imprensa. Badaró acabou sendo assassinado.
Na segunda metade do século XIX começaram a aparecer os jornais
republicanos. O primeiro foi o O Apóstolo (1849) de Minas Gerais. O Jornal do
Commercio, O Correio Paulistano, Diário de Pernambuco e muitos outros
transformaram-se em arautos de uma nova era”.
A história identifica que a economia do jornalismo faz ora a opção dos jornais
por atingir leitores mais abastados (porque atraem mais anunciantes), ora por
atingir leitores mais pobres (porque isso aumenta a circulação). Nos EUA,
amenizadas as disputas partidárias no período pós-revolução, os jornais voltam-se
aos negócios e, em função disso, aos leitores.
Benjamin Day funda, em 1833, o jornal Sun cujo lema se tornou “brilha para
todos”. De caráter bastante popular (seja pelo preço seja pelo conteúdo), em
pouco tempo, atinge um amplo público. Jornais como este formaram o que ficou
conhecido como “imprensa pobre”. Sobre esse tipo de imprensa, De Fleur (1993)
afirma: “um dos mais importantes aspectos do jornal de tostão de (Benjamin) Day,
e dos que se seguiram, foi a redefinição de ‘notícia’ para se adaptar aos gostos,
interesses e capacidades de leitura do nível menos instruído da sociedade”.
O surgimento da imprensa a vapor no lugar do velho modelo inventado por
Gutenberg acelera e amplia a produção de jornais – inclusive diários – em
milhares de exemplares. Isso contribui para que os editores, aos poucos e sempre
mais, se desvinculem da interferência financeira dos políticos. Ao mesmo tempo,
esses jornais contribuem para que as camadas mais pobres da população
participem mais do processo político do país.
Na Inglaterra, contudo, o processo é bem diferente. O governo mantém o
controle sobre a imprensa, inclusive com a manutenção do antigo imposto sobre
as publicações (o imposto do Selo). Muitos jornais existem clandestinamente para
não pagar o imposto. Essa imprensa marginal estimula a população a participar
dos assuntos do governo, até que esse imposto é abolido em 1855
Nos EUA, a imprensa passa a ter uma circulação massiva, sendo o lucro
obtido dos anúncios e não mais da circulação. Nesse período, destaque para a
ação de Joseph Pulitzer cujo primeiro jornal – o New York Wolrd – passa de 20 mil
exemplares em 1883 para uma tiragem de 190 mil durante a semana e 250 mil
aos domingos, em 1887. Ele mistura sensacionalismo, política progressiva e
campanhas para chamar a atenção sobre si, constituindo o que ficou conhecido
como “novo jornalismo”. A disputa de Pulitzer com seu ex-empregado William
Randolph Hearst deu origem ao que ficou conhecido como “jornalismo amarelo”,
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5
A concorrência entre os diários do chamado “jornalismo amarelo” norte-americano
assumiu proporções alarmantes. Tudo se justificava para vencer a concorrência. Tantos
foram os excessos, que a sociedade daquele país, representada por grupos e instituições
organizadas (igrejas, partidos políticos, empresários etc) e pelas próprias organizações de
editores e publicadores, reagiu agressivamente a essa prática jornalística e conseguiu
fazer com que os jornais passassem a observar normas que melhor regulassem o
trabalho da imprensa. A expressão “jornalismo amarelo” tem origem num primitivo
personagem – o “Garoto Amarelo” – que foi um dos recursos (no caso, o uso de desenhos
coloridos) que os jornais desse período utilizaram como artifício para vencer a
concorrência, chamando a atenção do público.
6
Trecho extraído da obra “Comunicação Mundo: história das idéias e das
estratégias”, de Armand Mattelart, Editora Vozes, 1994, página 27.
Apostila de História da Comunicação 16
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Investigação
A veneração do fato
No Brasil
Reportagem gráfica (caricatura, charges etc)
Juarez Bahia (1990). Para ele, essa modernização chega também aos jornais e,
em seguida, ao rádio, revistas, livros e propaganda – que vão constituir o aparato
a nascente indústria cultural brasileira – os quais são atingidos por significativas
transformações.
Essa modernização começa pelo posicionamento de parte da imprensa em
relação aos fatos que abalam as antigas estruturas do País nos anos 30 (como é o
caso da Revolução Constitucionalista de 32): esta se alinha com as reivindicações
que pedem a modernização do Estado brasileiro, tais como o voto livre, secreto e
universal, o acesso de todas as camadas sociais aos benefícios do
desenvolvimento, o fim do colonialismo etc. Cada vez mais independente do poder
político, a imprensa brasileira se coloca na condição de “voz do povo” e pressiona
o governo a mudanças, como foi a promulgação da Constituição de 1934 por
Getúlio Vargas.
A modernização da imprensa brasileira é verificável também na inovação
dos conteúdos e aprimoramento dos seus recursos técnicos (exemplo: a
introdução do sistema ofsete); pela utilização de uma ortografia simplificada; pelo
uso do material enviada por agências (Associated Press e Reuters) na cobertura
internacional. Esse desenvolvimento da imprensa – e especificamente dos jornais
– contribui para o desenvolvimento dos outros veículos de comunicação que, por
sua vez, pressionam os jornais a constantes inovações.
A revista O Cruzeiro
A evolução do jornalismo impresso brasileiro no final da década de 1920
possui um marco: a revista O Cruzeiro (que, nos dois primeiros anos, foi
conhecida simplesmente como Cruzeiro, nome inspirado na constelação do
Cruzeiro do Sul). Sua proposta editorial é revolucionária, tanto em termos de
conteúdo quanto de impressão e veiculação da notícia, desbancando
consideravelmente as concorrentes mais diretas da época, Revista da Semana e
Mundo Ilustrado. Seu fundador e proprietário: Assis Chateabriand.
Segundo Juarez Bahia (1990), “as matérias do primeiro número de O
Cruzeiro refletem o que o país aspira”. De fato, a revista abandona as
característica de um jornalismo colonial para estampar a imagem de um país
voltado para o futuro, em pleno progresso. Com o passar do tempo e sua
consolidação como um dos principais veículos de comunicação impressa do Brasil
no período de 1920 a 1970, aproximadamente, O Cruzeiro “alia à sua agilidade,
dinâmica e objetividade, uma visão realista do país”. (Bahia, ibid) O sucesso é
tanto que a revista chega a publicar, de abril de 1957 a setembro de 1965, sua
edição em espanhol, para a América Latina.
Como dito acima, o produto de Chateabriand – editada no Rio de Janeiro e
acessível a leitores dos principais Estados brasileiros numa tiragem de 50 mil
exemplares, inédita em sua categoria – muda a concepção de revista semanal
ilustrada do país em sua época, seja pelo talento e criatividade de sua redação,
seja pelo seu modo de produção industrial, o qual concilia organização e meios
técnicos com sensibilidade e improvisação. Entre as “estrelas” de O Cruzeiro
estão os artistas Portinari, Di Cavalcanti, Guignard; os caricaturistas e humoristas
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Luís Henrique Marques
Péricles (autor de “Amigo da Onça”), Ziraldo, Carlos Estevão e Vão Gogo (Millôr
Fernandes), entre outros.
Enquanto marco no trabalho de reportagem, O Cruzeiro revolucionou o
jornalismo impresso brasileiro:
a) ao valorizar a fotografia, que assume função prioritária e se especializa,
diferenciando-se do simples “retrato”. Há inovação com o uso da
fotografia em primeiro plano (utilizado para fixar o rosto da pessoa
fotografada);
b) com o acabamento das reportagens produzido pelos ilustradores;
c) ao publicar em espaços nobres matérias sobre temas até então pouco
explorados como a mulher, a moda, a música, o teatro, a vida social;
d) ao se autopromover, por exemplo, com o patrocínio de concursos de
arquitetura e fotografia;
e) ao inaugurar a grande reportagem;
f) ao criar a primeira dupla de reportagem (formada pelo repórter e
fotojornalista), responsável pela cobertura de grandes eventos.
Ano Acontecimento
1844 Primeira transmissão por telegrama entre as cidades de Washington e
Baltimore (EUA)
1851 Funcionamento do telefone, idealizado por Alexander G. Bell
1860 o americano Bullock constrói a primeira imprensa rotativa
1884 o alemão Mergenthaler inventa a linotipia
1895 Os irmãos Lumière, em Paris, fazem a primeira projeção de cinema
1901 é feita a primeira transmissão de telegrafia sem fim entre dois
continentes – Poldhu, na Inglaterra, e Sain-Thomas, na Terra Nova
1920 Aparece a primeira válvula termoiônica a serviço do rádio
1922 Aparecem na Inglaterra as primeiras imagens de televisão
1936 Programas regulares de TV. Em 1939, acontecem nos EUA as primeiras
transmissões de TV comerciais
1938 Orson Welles realiza a primeira transmissão radiofônica de terror,
simulando a invasão de marcianos na Terra e semeando pânico em
Nova Iorque
1960 Início da telemática como meio de transmissão de informações à
distância
1962 a transmissão de imagens entre Estados Unidos e Europa através do
primeiro satélite artificial “Telstar”
1986 Biarrits (França) torna-se a primeira cidade do mundo com videotelefone
para todos os seus habitantes
Fonte: CASADO, Alfredo. Os meios de comunicação social e sua influência sobre
o indivíduo e a sociedade. Tradução: Attílio Cancian. São Paulo: Cidade
Nova, 1987, 93p. (Cadernos Humanidade Nova)
(No textos a seguir, notas sobre uma retrospetiva histórico-crítica a partir do
surgimento dos meios audiviosuais)
7
Optamos aqui pela “Comunicação na Era Contemporânea” e não “Imprensa na Era
Contemporânea” por julgar que a primeira é mais ampla e, por isso, mais coerente com o
conteúdo que é estudo nesse capítulo.
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“Quando suficientemente reduzida em tamanho, dotada de uma lente e de uma
superfície refletora removível, coberta com uma película de um produto químico sensível
à luz, ela (a câmara escura) virou a câmara com que hoje capturamos as imagens
invertidas de cenas refletidas lá dentro.
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A expansão da fotografia
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Esta informação divide os historiadores, sobretudo norte-americanos e europeus. Para
os últimos – e mais especificamente, para os franceses – foram os irmãos Lumière os
primeiros a utilização um equipamento de projeção de cenas em uma tela, conforme
assinala Mattelart (1994) (Eles exibiram A saída dos operários das usinas Lumière e A
chegada do trem à estação, ambos mudos, com cerca de 1 a 2 minutos de duração, em
preto e branco e com cenas captadas através de uma câmara fixa). De Fleur (ibid) lembra
que no final do século 19, dezenas de inventores norte-americanos e europeus
reclamavam para si o direito pelas patentes de muitos produtos, entre os quais, câmaras
ou projetores de filmes animados.
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Foi um francês o primeiro a produzir um filme de ficção. Viagem à Lua, de Georges
Mélies, produzido em 1902, introduziu no cinema a utilização de efeitos especiais,
cenários, figurinos e, mais tarde, os filmes coloridos. Porém, cabe ao norte-americano
David Griffith o título de criador da linguagem cinematográfica, por conta da introdução do
corte e da montagem além do desenvolvimento da câmera.
11
Extraído de “Sétima arte”, trabalho produzido pelos alunos Fábio Marinari, Juliana
Diogo, Kátia Carrero e Laura Mendonça Tosta, do curso de Jornalismo da USC, disciplina
História da Comunicação.
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A origem de Hollywood
No Brasil
“Uma pequena história do cinema brasileiro12
Pra quem acha que o cinema no Brasil teve uma origem tardia, está muito
enganado. Em 8 de julho de 1896 (apenas sete meses após a histórica exibição
dos irmãos Lumière) aconteceu a primeira sessão de cinema no Brasil realizada
na cidade do Rio de Janeiro.
Dois anos mais tarde, Afonso Segreto realiza o primeiro filme brasileiro
com cenas da Baía de Guanabara.
A partir de 1915, começaram a ser produzidos filmes inspirados na literatura
brasileira. Iracema, O Mulato e O Guarani são algumas das obras da época.
Na década de 30 é inaugurada a companhia Cinédia no Rio de Janeiro, o
primeiro estúdio cinematográfico do Brasil que produz filmes como Alô, Alô Brasil!;
Alô, Alô Carnaval e Onde estás, felicidade? E lança atores como Oscarito e
Grande Otelo.
A companhia Atlântida é fundada em 1941 e logo surgem os filmes de
chanchada que fazem enorme sucesso no país.
O investimento mais ousado da indústria cinematográfica brasileira foi sem
sombra de dúvida a Companhia Vera Cruz , inaugurada no ano de 1949 em S.
Bernardo do Campo. Amácio Mazzaropi, um dos grandes nomes da Companhia
vive o personagem caipira mais bem sucedido do cinema nacional.
A partir dos anos 50, surgem produções de grande valor para o cinema
brasileiro como Rio Quarenta Graus, de Nélson Pereira dos Santos, e o premiado
no festival de Cannes em 1962, O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.
Na década de 80, o cinema brasileiro começa a acumular prêmios em
festivais internacionais, com destaque para Eles não usam Black-Tie, de Leon
Hirszman, vencedor do Leão de Outro em Veneza. Produções como Memórias do
Cárcere, Pixote e Eu sei que vou te amar ganham prestígio internacional.
Mas é em meados da década de 90 que o cinema nacional alcança maior
destaque lá fora com os indicados ao Oscar: O Quatrilho (1996), O que é isso
companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999)”.
12
Extraído de “Sétima arte”, trabalho produzido pelos alunos Fábio Marinari, Juliana
Diogo, Kátia Carrero e Laura Mendonça Tosta, do curso de Jornalismo da USC, disciplina
História da Comunicação, 2º semestre de 2000.
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Luís Henrique Marques
Início do Rádio
Na véspera do Natal de 1906, acontece a primeira transmissão radiofônica,
feita para os navios da costa norte-americana do Atlântico por obra de Reginald A.
Fessenden. A partir de então o rádio experimenta uma rápida evolução
tecnológica.
Ainda na primeira década de 1900, Lee De Forest inventa a válvula de vácuo
(ou simplesmente válvula como ficou conhecida na época), o que facilitou a
recepção das transmissões radiofônicas (transmissor torna-se mais leve e portátil)
e o que deu grande impulso à indústria da eletrônica. “O equipamento de rádio,
outrora tão enorme e pesado que só navios podiam transportá-lo com facilidade,
agora se tornou cada vez mais leve e portátil”, escreve De Fleur (1993)
O início da indústria do rádio é marcado pelo constante conflito judicial entre os
inventores da nova tecnologia e pelo alto investimento das indústrias do setor.
Com o início da Primeira Grande Guerra, o aperfeiçoamento dessa tecnologia fica
sob o controle do governo por razões militares.
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13
Engenheiro de rádio que progredira rapidamente nas fileiras da Companhia Marconi
Americana, ficou conhecido por conseguir “grande atenção pública durante o
afundamento do malsinado Titanic, rasgado por um iceberg no meio do Atlântico”. (De
Fleur, ibid). Sarnoff foi responsável por decifrar as mensagens recebidas do local do
desastre, utilizando seu manipulador telegráfico em uma estação de rádio, em Nova
Iorque (EUA).
Apostila de História da Comunicação 32
Luís Henrique Marques
Radiojornalismo
No Brasil
O rádio: do início à era de ouro
No Brasil, a novidade do início da década de 1920 é a chegada do rádio14.
Já em 1923, é instalada a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro (depois, Rádio Ministério da Educação e Cultura), que entra no ar no
dia 20 de abril daquele ano sob a iniciativa do cientista Roquete Pinto, seu
principal incentivador. “Levar a cada canto um pouco de educação, ensino e
alegria” era o lema de Roquete Pinto. Ele cria, inclusive, o que ficou chamado
como Jornal da Manhã, programa baseado na leitura dos jornais diários,
intercalado por comentários de improviso.
Outras estações surgem em pouco tempo e a competição pela audiência
faz nascer novos gêneros de programa, como a narração de jogos de futebol, o
radioteatro, humorismo e programas musicais que, nos anos 30, levam o público a
lotar os auditórios das emissoras. Para tanto, as estações de rádio investem
sempre mais, inclusive, pagando bons salários e cachês e mantendo anunciantes
regulares. Segundo Bahia (ibid), os “anos dourados” do rádio brasileiro
conheceram 4 etapas importantes: a dos locutores e apresentadores; a dos
cantores; a da radionovela, e a da informação. É nesse período que o uso da
propaganda no rádio brasileiro é regularizada (até então, as emissoras
sobreviviam com mensalidades pagas por quem tinha aparelhos receptores e por
doações de entidades).
A Rádio Nacional, com sede na cidade do Rio de Janeiro, entra no ar em 12
de setembro de 1936 e se torna um marco na história do rádio brasileiro,
especialmente por desenvolver o radiojornalismo. Em 1941, a Rádio Nacional
chega ao 5º lugar do ranking mundial das emissoras mais potentes, chegando
inclusive a emitir em espanhol e inglês um boletim diário do Departamento de
14
“O nascimento do rádio no Brasil em 23 é precedido de uma experiência que o Rio de
janeiro acompanha com grande interesse: em 1922, nas festas do centenário da
Independência, o presidente Epitácio Pessoa lança as transmissões provisórias da Rádio
Corcovado, montada pela Westinghouse como demonstração. Na programação, restrita á
Exposição Internacional, conferências e música erudita”. (Bahia, ibid) Além disso, no dia
06 de abril de 1919, é fundada a Rádio Clube de Pernambuco, em Recife, sob o comando
de Oscar Moreira Pinto que trouxera um transmissor importado da França. Ainda segundo
os historiadores, há indícios de experiências amadoras com o rádio antes de 1922.
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Luís Henrique Marques
O vídeo-teipe
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“Cabos coaxiais são fios encerrados em plástico rodeado por uma blindagem metálica
para evitar a perda de sinal ou interferências neste. (De Fleur, ibid)
Apostila de História da Comunicação 35
Luís Henrique Marques
Em meados dos anos 70, a Sony (empresa japonesa) coloca no mercado seu
sistema Betamax de vídeo-teipe (mais leve e barato). Isso gerou novas brigas nos
tribunais, até que em 1984, a Suprema Corte norte-americana decide pela livre
comercialização dos vídeos-teipe. A vitória da Sony não dura muito: a concorrente
japonesa Matsushita cria o Sistema Vídeo Doméstico (VHS) permitindo a
gravação de até 6 horas em um único cassete. Em 1987, o produto da Sony torna-
se obsoleto.
Para refletir
Jornalistas vivem de vender reportagens sobre mudanças, positivas ou negativas. Isso teria se
alterado com o surgimento e desenvolvimento dos meios audiovisuais?
O surgimento dos meios eletrônicos de comunicação surpreenderam por sua velocidade e
amplitude. Entretanto, parecem não ter surpreendido quanto ao conteúdo das mensagens
veiculadas. Mesmo com a tendência à simplificação (sobretudo a partir do desenvolvimento dos
meios eletrônicos e do método jornalístico), os jornalistas, hoje, tendem ao discurso prolixo.
Ao se esforçar por superar toda desinformação, fantasia, falta de entendimento com a
superabundância de notícias, o jornalismo (e a ciência) cerceou a liberdade às idéias e às teorias.
Estas estão sempre em perigo, sob a pena de se desintegrarem em virtude de novos fatos. Uma
medida prática, contudo, pode ser tomada: melhorar a seleção e distribuição das notícias.
No Brasil
A imprensa e a censura militar
Ninguém resiste ao golpe militar de 1964. Nem mesmo o Supremo Tribunal
Federal, que dirá a imprensa! Esta, na realidade, é um dos grandes alvos do
governo militar que se instaurou no Brasil a partir de 64 e permaneceu no poder
até 1985, quando suas forças se esgotaram, cedendo lugar ao regime
democrático. De fato, uma imprensa livre e contestadora, tal qual surgiu no Brasil
a partir dos anos 30, não é interessante ao regime ditatorial que não quer nem
permite ser contestado em qualquer uma de suas atitudes. É evidente16.
Uma dos sinais visíveis da intervenção governamental no trabalho da
imprensa é a presença, nas redações, do chamado “livro negro da censura”.
Explica Bahia (ibid): “Nas redações, o livro negro é um pequeno caderno de capa
preta em que se acham classificados, quase sempre breves, sumários,
comunicados, na sua maioria sem assinatura, procedentes dos censores... ditando
o que pode e o que não pode ser publicado”. Ainda segundo Bahia (ibid), “o
controle da opinião se faz por meio de avisos escritos, levados aos editores até
pelo telefone, decretos, portarias, resoluções, éditos.”
O regime militar segue governando o País com o mesmo apoio que tivera
da classe média, do empresariado, da oligarquia agrária e da ala conservadora da
Igreja, alimentando suas reformas de base com discursos ufanistas e apregoando
o chamado “milagre econômico” (até se transforma em “desastre econômico” em
meados dos anos 70). Os militaristas, com o passar do tempo, pregam uma
democracia relativa, mas por conta do chamado “perigo comunista”, na prática,
obstruem qualquer tentativa de abertura política.
Escreve Bahia (ibid): “A convivência das ideologias dominantes no golpe de
64 é interrompida pelo impasse ético que se cria entre os líderes militares e os
diretores dos grandes jornais que toleram tudo, menos a censura ‘vexatória’,
executada por delegados do arbítrio”. E completa: “A imprensa conservadora teme
o prolongamento das medidas ditatoriais e embora exalte acertos econômicos se
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É no mínimo curioso constatar, no entanto, que a própria grande imprensa – inclusive
grandes veículos liberais como o Correio da Manhã – criticou o governo de João Goulart
pelo estado de corrupção que existia no País no período imediatamente anterior ao golpe
de 64, chegando a pedir o seu afastamento da presidência da República.
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Luís Henrique Marques
“A imprensa contestadora17
Os jornais políticos, questionadores da ordem burguesa, sempre foram os
mais visados . Essa ‘má’ imprensa (anarquista, comunista, socialista etc) em raros
momentos gozou de liberdade. A pesquisa desses periódicos é de extrema
importância para o estudo dos movimentos sociais, mas há dificuldade de acesso
a eles porque sempre viveram escondidos e perseguidos.
A liberdade restrita desaparece completamente nas épocas de ditaduras.
Nesses momentos, até mesmo a ‘boa’ imprensa sofre pressões. Em nome da
ordem, a vigilância se amplia e atinge a todos os jornais: nenhuma crítica é
tolerada – a sociedade e seus dirigentes são inatacáveis.
Durante o Estado Novo, Júlio de Mesquita Filho e Paulo Duarte publicaram,
em 1938, ilegalmente, o jornal Brasil, de oposição à ditadura. Acabaram sendo
expulsos do país. Anos depois, Paulo Duarte condenou o procedimento de seus
colegas que dobraram a espinha perante o ditador.
‘A imprensa’, afirmou o jornalista indignado, ‘aderiu servilmente ao Estado
Novo. Este tudo fez para prostitui-la. Fatigada da esbórnia fascista voltou ao seu
engano, reergueu-se e pôs o chão a ditadura. Hoje prossegue na reação mas seu
aspecto exterior ainda é acafajestado, o jeito das decaídas, com fundo bom,
vítima de certas circunstâncias, mas de pouca educação, necessitada de direção,
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Texto extraído do livro “Imprensa e História do Brasil”, de Maria Helena R. Capelatto,
Contexto/EDUSP, 2a ed., 1994, página 38.
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A informação monopolizada
O processo de industrialização dos meios de comunicação, iniciado no
Brasil a partir da Segunda Grande Guerra, com o hoje extinto império de Assis
Chateaubriand, revela um constante esforço empresarial em monopolizar a
informação. É que se observa, atualmente, com as Organizações Globo, não só a
principal organização nacional nessa área, mas a quarta no mundo. O caráter
desses monopólios é quase sempre de origem familiar.
“A monopolização dos meios de massa se manifesta” – escreve Bahia
(1990) – “na ausência de contrapropaganda, da oposição de idéias pelos mesmos
métodos de difusão, do confronto de opiniões livremente expressas”. “Ela se dá,
também, num crescente estado de conformismo social, quando as exceções não
são suficientes para conter o transbordamento dos elementos conformistas”,
completa.
Virgílio Noya Pinto (1995) afirma que “a imprensa aos poucos rompe o
esquema da censura, criticando a política socieconômica, denunciando
escândalos e apoiando as reivindicações populares”. A anistia concedida aos
exilados políticos, em 1979 e, mais tarde, em 1985, a eleição do presidente
Tancredo Neves, promovem, de uma vez, uma “virada na página” da história do
Brasil. Novas dificuldades surgem, sem dúvida, mas estas não estão mais
vinculadas ao autoritarismo.
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Texto extraído de trabalho produzido pelos alunos Allan Russo, Daniel Camerine,
Camila Turtelli, Ciomara Oliveira, Fernando Papassoni, Reinaldo Chaves e Renata
Moreira na disciplina História da Comunicação, curso de Jornalismo da USC, 2º semestre
de 2000.
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e cinco netos. O mesmo sistema é adotado pelas demais famílias que controlam
os grandes grupos nacionais de radiodifusão e se repete nos grupos.
A lei também não permite que uma empresa ou pessoa tenha duas
concessões na mesma cidade, mas, usando a brecha de registrar emissoras em
nomes de parentes, a família Saad conseguiu ter duas concessões de TV em São
Paulo (TV Bandeirantes e Canal 21).
A consultoria jurídica do Ministério das Comunicações tem interpretação
igual a das empresas privadas em relação aos limites fixados pelo decreto-lei 236.
Segundo a consultoria, a lei estabelece limites sem levar em conta a existência de
parentesco.
O projeto de Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, preparado há dois
anos pelo Ministério das Comunicações, propôs limitar o número de concessões
próprias de cada grupo a 30% da audiência potencial do mercado, medida pelo
número de residências com aparelhos de TV. A proposta é inspirada no modelo
norte-americano. Nos Estados Unidos, cada grupo pode cobrir no máximo 35% do
total de domicílios do país. Se o limite de 30% fosse aplicado no Brasil, a Rede
Globo teria de reduzir drasticamente sua participação em empresas. Sua rede
própria atual cobre 54,09% dos domicílios com TV. Só as cinco emissoras
principais, conhecidas como cabeças-de-rede – TVs Globo de São, Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília, Recife e Belo Horizonte - cobrem 27,7%.
O Ministério das Comunicações não reconhece como sua a proposta do
projeto de Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, embora o texto tenha sido
preparado por funcionários do ministério.”
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Trechos extraídos do livro “Do fortran à internet: no rastro da trilogia educação, pesquisa
e desenvolvimento”, de Tércio Pacitti, 2a edição atualizada, Makron Books, 2000, p. 177 e
338.
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Democracia cultural
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Texto extraído da obra “Novas tecnologias de comunicação: impactos políticos, culturais
e sócio-econômicos, de Anamaria Fadul (org.), Summus Editorial, 1986, p. 67
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Luís Henrique Marques
instituições que, com isso, querem destacar seu esforço na promoção cultural. É
um conceito, enfim que fez carreira fora da universidade. Mais operacional do
ponto de vista da ação que da reflexão.
Vou partir, pois, das conceituações correntes. Que aceitam e rejeitam a
denominação.
O conceito de democracia cultural (1) está estritamente ligado a um outro
conceito, este sim mais explícito e aprofundado, o do desenvolvimento cultural.
Ambos os conceitos são normativos, diga-se logo de início. Ou seja, baseiam-se
não na observação de um fato ou de um processo social e sim na atribuição de
valores que se julgam desejáveis para a coletividade em questão. A grosso modo,
pode-se dizer que tanto o desenvolvimento cultural como a democracia cultural
são conceituações que pressupõem uma interação profunda e, ao mesmo tempo,
uma relativa autonomia entre as instâncias econômica, política, social e cultural
de uma sociedade.
Desta forma, poder-se-ia dizer que uma sociedade pode ser desenvolvida
economicamente, isto é, ter atingido um estágio avançado de instalação de seu
potencial de riquezas, sem necessariamente ser desenvolvida do ponto de vista
social, ou seja, sem que essas riquezas sejam bem distribuídas por toda a
população. Da mesma forma, dir-se-ia que uma sociedade pode ter desenvolvido
suas forças produtivas e os níveis de distribuição das riquezas, sem constituírem
necessariamente uma democracia política, ou seja, sem que os cidadãos tenham
iguais oportunidades de acesso à gestão da sociedade onde estão inseridos. E,
finalmente, que todas as sociedades atuais, mesmo as que não cumpriram seu
projeto industrial, mesmo as que conseguiram eliminar as grandes desigualdades
sociais, mesmo as que conseguiram estabelecer os canais de comunicação
rápida e eficiente entre os dirigentes e população, normalmente através de
partidos políticos e associações, todas as sociedades atuais são
subdesenvolvidas culturalmente.
Quais seriam os indicadores deste subdesenvolvimento cultural? Variados:
em nenhum país do mundo atual, a educação escolar conseguiu romper as
cadeias burocráticas que tornam uma reprodução do passado, de um conceito
acadêmico do saber. Nenhuma sociedade atual conseguiu também uma razoável
sistematização da educação fora da escola, à mercê dos determinismos ora da
indústria cultural ora dos desígnios ideológicos do estado. Em nenhuma
sociedade atual, a prática física saudável no lazer conta com mais de 20% de
aderentes entre as respectivas populações adultas. Nenhuma sociedade atual
conseguiu criar mecanismos de acesso da população trabalhadora ao teatro, aos
museus, enfim, a uma fruição estética elaborada. Nenhuma sociedade conseguiu
produzir um modelo de televisão ao mesmo tempo inteligente e agradável. Sejam
as controladas pelo Estado, sejam as controladas pela publicidade, conseguem o
prodígio de ser, na maior parte da programação, ao mesmo tempo
desinteressantes e entediantes. Nenhuma sociedade atual conseguiu estabelecer
estruturas eficientes de preservação do patrimônio cultural. Da mesma forma,
ainda estamos longe, de encontrar um modelo de política cultural que ao mesmo
tempo preserve o acesso à produção de bom nível e a valorização das
peculiaridades regionais: ou se boicota a produção exterior ou se submete a
diferentes modalidades de colonialismo cultural. Nenhuma sociedade confere aos
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Ideologia da modernização
Notas
1. Ver Dumazedier, J. Valores e Conteúdos do Lazer. São Paulo, SEC/CELAZER, 1981.
2. Camargo, Lol. Genèse du loisir dans les pays en voie de développement – le cas du Brésil.
Tese de doutorado, Univ. Sorbone, Paris V, 1982.
3. CEPAL/ONU. El desarollo de America Latina, en la post-guerra. 1963.
4. Os índios e a Civilização. Petrópolis, Vozes, 1977.
5. Os Parceiros do Rio Bonito. Rio, José Olympio, 1964.
6. “On the Iberian Concept of time”, “in” The American Scholar, (32) (3), 1963.
7. Catolicismo e Família. São Paulo, Cebrap, 1974.”
“A Era da Informação21
(...) O regime capitalista vive, hoje, o que costumamos denominar economia
de mercado. A charmosa denominação identifica uma série de dispositivos que
comandam, com sempre menor possibilidade de apelo ou resistência, o mundo da
produção e da troca dos bens materiais. Mesmo os países que ainda permanecem
sob o regime socialista – como é o caso da China – buscam maneiras de inserir-
se na economia moderna, sob o risco de se isolarem em definitivo num mundo
assumidamente globalizado.
Segundo a literatura corrente, globalização não é o fenômeno recente,
como se poderia supor, mas representa um processo de larga maturação, com
ciclos de retratação, ruptura e reorientação, em que antigos costumes se mesclam
com novos signos. Na atualidade, pode ser descrita a partir de algumas
características vinculadas às relações econômicas, à ideologia política, à lingua
predominante e aos modos de comunicação. Vejamos:
a) Relações econômicas: as relações econômicas do mundo globalizado
são moldadas pelas exigências das empresas, corporações ou
conglomerados multinacionais e planetários (o Estado é compelido a
reduzir sua presença direta na economia nacional, privatizar as
empresas sob seu controle, promover a redução dos seus gastos,
principalmente na área social, mantendo-se porém, o papel de guardião
dos interesses transnacionais).
b) Ideologia política: o ideário neoliberal é reafirmado globalmente como
única opção possível, legitimando uma visão de mundo coerente com o
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Trecho extraído do livro “Sociedade da Informação ou da Comunicação?”, de Ismar de
Oliveira Soares, Editora Cidade Nova, 1996, página 9.
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A opinião foi emitida em palestra durante o II Fórum Folha de Jornalismo e Mídia, organizado pelo
jornal Folha de São Paulo em 13 de outubro de 1995.
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