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NA-AD-11-001-PT-C

ISSN 1608-7283
Relatório Geral
sobre a Actividade
da União Europeia
2010

Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010

doi:10.2775/60968

pt Comissão Europeia

Preço no Luxemburgo (IVA excluído):  7 EUR


A União Europeia
0 500 km

Açores (PT)
Reykjavík
Ísland
Madeira (PT)

Canarias (ES)

Guadeloupe (FR)

Martinique (FR)

Suomi Paramaribo

Finland Guyane
Norge Suriname Réunion (FR)
(FR)

Helsinki Brasil
Helsingfors
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Sverige
Stockholm Tallinn
Rossija
Eesti

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Baile Átha Cliath
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København Lietuva
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R. Minsk

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San Marino Hercegovina
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Gora Kosovo
Bulgaria (Azər.)
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España
* UNSCR 1244
Skopje
Città del
Vaticano Tiranë P.J.R.M.
Ankara
Shqipëria
Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010 Türkiye
Ελλάδα
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Αθήναι
Athinai

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Tunis Λευκωσία Souriya
El Maghreb
Κύπρος Lefkosia Iraq
El Djazâir Lefkosa
Publicações Tounis Malta
Valletta Kypros
Kibris Libnan
Beyrouth Dimashq

1049 Bruxelles Estados-Membros da União


Member states of the European Europeia
Union (2011)

BÉLGICA Países candidatos


Candidate countries

O Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010 foi adoptado pela
Comissão Europeia em 16 de Fevereiro de 2011, com a referência SEC(2011) 189.

http://europa.eu/generalreport/pt/welcome.htm

Ilustração da capa: © Corbis

2011 — 136 p. — 21 × 29,7 cm

ISBN 978-92-79-17474-2
doi:10.2775/60968

Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2011

© União Europeia, 2011


Reprodução autorizada. A utilização ou reprodução de fotografias individuais
deverá ser autorizada directamente pelos titulares dos direitos de autor.

Printed in Belgium

Impresso em papel branqueado sem cloro elementar (ecf)

Preço no Luxemburgo (IVA excluído):  7 EUR


Relatório Geral
sobre a Actividade
da União Europeia
2010
ÍNDICE

Prefácio 4

1 Na via da recuperação 6
Recuperação económica e reforço da governação 8
Apoio aos Estados-Membros em dificuldades 9
Reforço da governação económica 12

A finança e a concorrência ao serviço dos cidadãos 16


A nova arquitectura de supervisão financeira 16
Reformas da regulamentação financeira 17
A política da concorrência a modelar as respostas 19

Recuperação mundial e cooperação internacional 21

A estratégia «Europa 2020»:


crescimento inteligente, sustentável e inclusivo 22
Libertar o potencial da Europa: as sete acções emblemáticas 23
Relançamento do mercado único 30

2 Um projec to para os cidadãos: colocar as pessoas


no centro da acção europeia 34
Uma área de liberdade, segurança e justiça para os cidadãos 36
Construir uma Europa dos cidadãos:
justiça, direitos fundamentais e cidadania 38
Assuntos Internos: uma Europa aberta e segura 44

Envolver os cidadãos e facilitar a vida quotidiana 49


Serviços 49
Saúde e consumidores 51
Beneficiar de um mercado justo 54
Direitos sociais 56
Educação e cultura 58
Protecção civil 60
Direitos dos passageiros e transportes 60

3 Energia, ambiente e clima 64


Energia 66
Infra-estruturas energéticas 67
Eficiência energética 68
Tecnologias e fontes de energia renováveis 69
Energia nuclear 71
Relações internacionais e segurança do aprovisionamento energético 71
Um mercado eficiente 72

Acção climática 73
De Copenhaga a Cancun 75
Os resultados de Cancun 76

2
Ambiente 77
Biodiversidade 77
Sustentabilidade ambiental 78
Utilização sustentável dos recursos naturais e dos mares 79

4 A União Europeia no mundo 84


Promover a governação multilateral 86

Reforçar alianças estratégicas 87

Promover a paz, a segurança e os direitos humanos 91

Comércio: negociar em todo o mundo 95

Alargamento 99

Política europeia de vizinhança 102

Responder às crises humanitárias 103

Cooperação para o desenvolvimento 105

5 Tornar a União Europeia mais democrática,


eficiente e responsável 110
Aplicação do Tratado de Lisboa 112

As instituições da União Europeia 113


O Parlamento Europeu 113
«Projecto Europa 2030» 114
O Conselho Europeu 114
O Conselho 114
A Comissão Europeia 115
Os parlamentos nacionais 118
O Tribunal de Justiça da União Europeia 119
O Comité Económico e Social Europeu 121
O Comité das Regiões 121
O Provedor de Justiça Europeu 122
Outras instituições 122
Agências 122

Eficiência e transparência 123


Regulamentação inteligente 123
Gerir a qualidade da legislação ao longo do ciclo de elaboração
das políticas 124
Melhorar a execução da legislação da União Europeia 125
Protecção dos interesses financeiros da UE e luta contra a fraude 126
Maior transparência 128

O orçamento da União Europeia para 2011 128

CronologIA 132

3 R e l ató r i o G e r a l 2010 | ÍNDICE


P r e fáci o
Lembrar-me-ei de 2010 como um dos anos mais agitados da história da União
Europeia.

Foi um ano dominado pela crise da dívida soberana que afectou a zona euro. Por
vezes, foi difícil descortinar o que iria acontecer em seguida. Por vezes, demos
tudo o que tínhamos a dar. Por vezes, tivemos de tomar medidas excepcionais.
Que tivéssemos conseguido superar as dificuldades é testemunho da determi-
nação e solidariedade que existem na União Europeia.

A crise da dívida soberana tem mostrado que somos mais interdependentes do


que nunca. Um problema num país pode rapidamente avolumar-se num problema
para todos. E a resposta de um governo tem influência directa nas opções de outros
governos, seja dentro ou fora da área do euro. É por isso que reagimos com a forte
determinação de conseguir a consolidação orçamental, não como um fim em si,
mas como um meio de garantir o nosso crescimento, empregos e prosperidade no
futuro. Estamos a aprender com os erros do passado através da introdução de
decisões que virão alterar a forma como nos comportaremos no futuro.

Em 2010, aprovámos os programas financeiros da Grécia e Irlanda e garantimos


a estabilidade do euro. O acordo sobre uma rede de segurança de 750 mil milhões
de euros em Maio e o compromisso de um fundo de crise permanente, a partir
de 2013, foram medidas cruciais para proporcionar a estabilidade necessária.
© União Europeia

Levou ao compromisso de todos os 27 Estados-Membros de que não nos pode-


mos voltar a encontrar nesta situação. Para o efeito, a Comissão apresentou pro-
postas legislativas para uma nova perspectiva de governação económica. Espero
que a nossa união monetária será em breve completada pela há muito esperada
união económica.

Trouxemos ainda a supervisão e regulamentação eficazes dos mercados finan-


ceiros. Um ano atrás, poucos acreditavam que iríamos ter um novo sistema de
supervisão dos nossos mercados financeiros em vigor a partir de 1 de Janeiro de
2011. Estou firmemente convicto de que este é um dos melhores exemplos de
como a Europa pode mostrar que trabalha para a mudança.

Aguardamos com expectativa o próximo ano, e é evidente que 2011 vai definir o
tipo de Europa que emergirá no futuro.

Concretizar a recuperação económica irá ser igualmente importante nos próxi-


mos 12 meses. A consolidação orçamental, as reformas estruturais e as reformas
relacionadas com o crescimento devem ser a nossa prioridade.

Uma parte fulcral da nossa nova abordagem será o novo semestre europeu que
conjuga regras orçamentais mais severas, através do reforço do pacto de estabi-
lidade e crescimento, com uma efectiva coordenação económica. Esta iniciativa,
juntamente com a adopção das propostas da Comissão sobre a governação
económica, antes do Verão, será um passo decisivo em termos de como lidamos
com as questões económicas na Europa.

Da energia à inovação, da agenda digital à educação, da indústria ao ambiente,


precisamos de estimular o crescimento da nova economia da Europa. Não pode-
mos regressar aos desequilíbrios que existiam antes da crise. Somente através de
novas formas de crescimento veremos o regresso da confiança e da criação de
novos empregos. A Comissão apresentará propostas em cada uma dessas áreas
para que tenhamos uma estratégia de médio prazo para apoiar a nossa gestão
de crises a curto prazo.

4
Durante os últimos 12 meses, iniciámos o debate sobre como a Europa pode
investir melhor os seus recursos. Quero que a União Europeia se concentre em
acções que contribuam para o crescimento das nossas economias e estimulem o
emprego. Precisamos de investir o nosso dinheiro onde nos dão mais por ele. E
devemos investi-lo onde alavanque o crescimento e o êxito da nossa agenda
europeia. A qualidade da despesa deve ser, para todos nós, o critério de referência.

A minha abordagem é que a União Europeia deve gerar valor acrescentado e


benefícios reais para os seus cidadãos. Precisamos aumentar os benefícios que
os cidadãos e as empresas auferem do mercado único. Precisamos de proteger
melhor os consumidores e garantir que as empresas podem competir de forma
justa através das fronteiras.

A Europa também deve ter um mercado único dos direitos dos cidadãos e valo-
res. Uma dimensão fundamental da nossa Europa é a construção de um espaço
de liberdade, segurança e justiça. Estamos a trabalhar arduamente para imple-
mentar o plano de acção de Estocolmo. Vamos avançar efectivamente nos
domínios do asilo e da imigração legal e ilegal.

Nunca como agora foi tão importante que a Europa se projecte do melhor modo
possível de um ponto de vista político e económico. À medida que as parcerias
estratégicas do século XXI vão emergindo, a Europa deve aproveitar a oportuni-
dade para definir o seu futuro. Estou impaciente por ver a União desempenhar
na cena mundial um papel consentâneo com o seu peso económico. Os nossos
parceiros observam-nos e esperam que nos empenhemos enquanto Europa e
não apenas como 27 países individuais. A criação do Serviço Europeu para a
Acção Externa é um grande passo em frente para propiciar a coerência da nossa
acção externa. Do G20 à agenda de desenvolvimento para os objectivos de
desenvolvimento do milénio, posso afirmar com orgulho que a Comissão está
agora a contribuir para um papel mais assertivo da União Europeia.

2010 foi um ano em que se arquitectaram políticas decisivas para os nossos


cidadãos. Nesse sentido, introduzimos importantes alterações no funciona-
mento das nossas instituições. Tive o privilégio de liderar uma nova equipa de
Comissários. Tem sido um primeiro ano difícil, mas estou orgulhoso do papel
central que a Comissão tem desempenhado na condução da União Europeia,
através da crise económica e da concepção de uma resposta política. As propos-
tas da Comissão estabeleceram a agenda e constituíram a base para o Conselho
Europeu tomar as principais decisões estratégicas. O Conselho Europeu tornou-
-se uma instituição de estatuto reconhecido com um presidente permanente.
Este é um desenvolvimento positivo que proporciona estabilidade e coerência à
representação dos 27 Estados-Membros. Com um Parlamento Europeu revigo-
rado, com novas responsabilidades, temos, para os próximos anos, o quadro
institucional estável essencial para que a União Europeia saia mais forte desta
crise.

O Relatório Geral de 2010 proporciona um panorama detalhado das actividades


da União Europeia em relação ao ano passado. Espero que estimule o debate
sobre o trabalho que fazemos.

José Manuel Barroso

5 R e l ató r i o G e r a l 2010 | prefÁcio


Capítulo 1
Na via da recuperação
Os desafios à estabilidade económica com que a União
Europeia (UE) se viu confrontada ao longo do ano foram
enfrentados com determinação pelas instituições da UE.

A UE enfrentou resolutamente as ameaças imediatas às


finanças públicas da Grécia e da Irlanda e à estabilidade
do euro.

A fim de responder aos numerosos desafios surgidos ao


longo do ano, a UE actuou de forma rápida e decidida no
sentido de promover a estabilização a curto prazo.
Seguidamente iniciou um vasto exercício de consolida-
ção orçamental a médio prazo e de reforma da supervi-
são orçamental e económica.

A concepção e implementação rápidas de um primeiro


instrumento de empréstimos de emergência à Grécia e
seguidamente de mecanismos de apoio financeiro
adicionais temporários para a área do euro no seu
conjunto, permitiu à Grécia começar a reequilibrar as
suas finanças públicas. Mais para o final do ano, a mesma
resposta pronta permitiu conter os riscos decorrentes
das graves dificuldades económicas da Irlanda. Foram
assim adoptadas medidas para proporcionar um
mecanismo permanente de resolução de crises que
entrará em vigor em 2013.

Em paralelo, foram introduzidos novos controlos


aplicáveis ao sistema financeiro, destinados a prevenir a
repetição dos problemas que provocaram a crise dos
últimos dois anos. Entretanto, a União Europeia traba-
lhou com os parceiros internacionais com vista à
adopção de acções comuns sobre questões relativas à
governação económica global que possam reforçar o
crescimento e a estabilidade, promover o comércio e
garantir condições equitativas de concorrência.

Os dirigentes da UE chegaram a acordo no Conselho


Europeu de Junho sobre a proposta da Comissão
Europeia relativa a um programa decenal que visa a
transição para um crescimento elevado e sustentável.
A estratégia «Europa 2020» (1), baseada nas orientações
políticas que o presidente Barroso expôs para a Comis-
são seguinte em finais de 2009, permitirá maximizar os
trunfos da UE, em particular o mercado único, e equipá-
-la para o sucesso num mundo em rápida mutação. Prevê
também a plena participação dos Estados-Membros e
identifica áreas de acção específicas para transformar as
ambições em realizações.

Ligada à estratégia «Europa 2020», a abordagem da UE


relativamente ao comércio, às empresas, à concorrência
e ao mercado único está a ser aperfeiçoada e actualizada.
Todo o leque de políticas — desde o emprego até ao
ambiente e dos direitos dos cidadãos até à coesão — está
a ser reorientado a fim de assegurar que os seus benefí-
cios se façam sentir em toda a UE.
Rec u pe r aç ão eco n ó m ic a e r e f o r ço da g o v e r n aç ão
Como os acontecimentos ocorridos durante o ano demonstraram
tão claramente, o que acontece num Estado-Membro pode afectar
todos os outros. Para restabelecer o equilíbrio económico da UE no
seu conjunto foi necessário apoiar os Estados-Membros que mais
necessitavam. O princípio de solidariedade da UE assumiu uma
forma muito tangível, já que a acção comum trouxe estabilidade às
finanças nacionais ao proporcionar acesso ao crédito. Em resposta
aos desafios enfrentados pela Grécia, e para salvaguardar a estabi-
lidade financeira em toda a área do euro, a UE criou rapidamente
mecanismos temporários para proporcionar os empréstimos neces-
sários, combinados com condições rigorosas relativas a políticas
com vista a restabelecer a solidez das economias. Estimulou assim a
confiança nas finanças públicas da área do euro e na credibilidade
da moeda. Promoveu também o sentido de responsabilidade, parti-
cularmente nos Estados-Membros com um endividamento cres-
cente, que tomaram as suas próprias medidas vigorosas para conso-
lidar as finanças públicas.
«As maiores prioridades da Comissão Os acontecimentos (e as soluções propostas) geraram também um consenso
Europeia neste momento: governação crescente entre os Estados-Membros e as instituições da UE. Tornou-se evidente
económica, mercado único, inovação, que garantir o futuro da UE e dos seus cidadãos dependia de os Estados-Membros
política industrial e emprego». José
controlarem com um pulso mais firme o modo como gerem as suas economias
Manuel Barroso, 14 de Outubro
nacionais. Em consequência, a UE tomou medidas para reforçar e modernizar a
governação económica na área do euro e em toda a UE, intensificando a coorde-
nação das políticas e reformas orçamentais e estruturais, nomeadamente dando
uma nova atenção ao acompanhamento da competitividade. Uma task force
presidida por Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, formulou
uma série de recomendações apelando para uma aplicação rigorosa das regras
do Pacto de Estabilidade e Crescimento, bem como para a prudência orçamental.
A UE actuou igualmente no sentido de reforçar as normas que regem a união
económica e monetária da UE, designadamente através de uma maior supervi-
são dos projectos de orçamento nacionais e de um reforço das sanções contra os
Estados-Membros que sigam políticas orçamentais irresponsáveis.
© União Europeia

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel


(à direita), e o presidente francês Nicolas
Sarkozy (à esquerda) acompanham
Georgios Papandreou, primeiro-ministro da
Grécia, o primeiro Estado-Membro a
beneficiar do auxílio da UE.

8
Apoio aos Estados-Membros em dificuldades
A UE tomou medidas para garantir a estabilidade financeira, em primeiro lugar «A nossa determinação é clara. Os chefes
com uma assistência financeira condicional à Grécia e depois com os mecanis- de Estado e de Governo da área do euro
mos aplicáveis à área do euro e a toda a UE. Em Maio, foi concedido à Grécia um estão prontos para fazer tudo o que for
necessário para assegurar a estabilidade
acesso específico a financiamento temporário, uma vez que este país não conse-
da área do euro no seu conjunto.» Herman
guia obter fundos nos mercados financeiros a taxas acessíveis devido aos receios
Van Rompuy, Bruxelas, 16 de Dezembro
dos investidores de que o país poderia não estar em condições de satisfazer os
seus compromissos. O acordo (2) segundo o qual os Estados-Membros [junta-
mente com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu
(BCE)] disponibilizavam 110 mil milhões de euros, baseou-se em condições
rigorosas, num programa abrangente e ambicioso de reformas estruturais e num
acompanhamento contínuo. O pacote protege a Grécia da necessidade de obter
capitais nos mercados durante um período máximo de dois anos, após o qual se
espera que regresse a uma situação de financiamento pelo mercado.

A UE actuou muito rapidamente, prestando apoio financeiro sob a forma de uma De que modo a União Europeia
garantia no prazo de 10 dias a contar da apresentação do pedido. A rápida dispo- a judou a Grécia e a Irlanda
nibilização desta assistência foi ainda mais notável tendo em conta o facto de os Em Maio, a UE e o FMI colocaram
tratados da UE não preverem explicitamente instrumentos para fazer face à uma 110 mil milhões de euros à disposição da
Grécia.
situação tão extraordinária. Os dirigentes da área do euro tiveram de estabelecer
imediatamente um mecanismo de medidas financeiras de emergência que res- Em Dezembro, foram disponibilizados
peitasse plenamente a legislação tanto da UE como dos Estados-Membros. 85 mil milhões de euros à Irlanda pela UE,
Estados-Membros da área do euro, Reino
A Comissão desempenhou um papel importante na elaboração e adopção do
Unido, Suécia, Dinamarca, FMI, Tesouro
pacote de medidas, reuniu as contribuições bilaterais num empréstimo comum
Irlandês e fundos nacionais de reserva
e negociou as condições com as autoridades gregas.
de pensões.

© AP / Reporters
Graças à acção concertada da UE foi
possível controlar os riscos decorrentes das
Em seguida, em resposta a preocupações mais vastas sobre a possibilidade de
graves dificuldades económicas da Irlanda,
contágio na área do euro, e mediante um esforço comum ainda maior e mais onde as medidas de austeridade provoca-
ambicioso por parte de todas as instituições da UE e dos Estados-Membros, ram protestos generalizados.
foram criados (no fim-de-semana de 7 a 9 de Maio) dois mecanismos temporá-
rios de apoio aos Estados-Membros. Foi disponibilizado um montante total de
500 mil milhões de euros, composto por um mecanismo de estabilização
de 60 mil milhões de euros para todos os Estados-Membros administrado
pela Comissão — o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) —
e um instrumento intergovernamental de 440 mil milhões de euros para os
Estados-Membros da área do euro — o Fundo Europeu de Estabilidade Finan-
ceira (FEEF) — gerido por uma entidade especialmente criada para o efeito (3).
Esta vetrba foi suplementada com 250 mil milhões de euros do FMI. Este pro-
grama de estabilização de três anos, sem precedentes e com acesso sujeito a
condições rigorosas, garante um apoio temporário altamente eficaz aos países
da área do euro confrontados com o aumento vertiginoso do rendimento das
suas obrigações.

9 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Características dos novos Em finais de Novembro, o Governo irlandês solicitou assistência financeira
mecanismos temporários quando o país se viu confrontado com novas dificuldades de contracção de
O Mecanismo Europeu de Estabilização empréstimos. Após intensa coordenação, o Conselho, a Comissão e o BCE acor-
Financeira (MEEF) está dotado de montante daram que se justificava a prestação de assistência à Irlanda a fim de salvaguardar
máximo de 60 mil milhões de euros e é
a estabilidade financeira na UE e na área do euro. Proporcionaram assim apoio
gerido pela Comissão Europeia, que utiliza
através do MEEF e do FEEF, sendo esta a primeira vez que o novo regime foi utili-
o orçamento da UE para obter fundos nos
mercados financeiros e os reemprestar a zado. Os ministros das Finanças formalizaram o empréstimo e as condições que
um Estado-Membro beneficiário. O Fundo lhe estão associadas no início de Dezembro (4). Os empréstimos serão concedi-
Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) pode dos com base num programa negociado com as autoridades irlandesas pela
conceder até 440 mil milhões de euros Comissão Europeia e pelo FMI, em ligação com o BCE. O programa, composto
para ajudar qualquer país da área do por três pilares, prevê: uma reestruturação do sistema bancário irlandês, o resta-
euro em risco de incumprimento do belecimento da sustentabilidade orçamental, incluindo a correcção do défice
pagamento da sua dívida pública. Trata-se
excessivo do país até 2015 e reformas estruturais destinadas a promover o cres-
de uma entidade criada para fins
cimento. A assistência europeia (incluindo empréstimos bilaterais) eleva-se a
específicos que emitirá a sua própria
dívida a fim de conceder empréstimos 45 mil milhões de euros no âmbito do pacote de 85 mil milhões de euros.
caso um país da área do euro se veja O BCE manteve as suas taxas de juro directoras a níveis historicamente baixos
confrontado com graves dificuldades
durante todo o ano, adoptando paralelamente algumas medidas excepcionais
financeiras. A dívida do fundo será
para assegurar uma repercussão eficiente das taxas de juro muito reduzidas na
garantida pelos membros da área do euro,
bem como pela Suécia e a Polónia, que se economia e, em última análise, nos preços. O programa sobre mercados de
ofereceram para participar. valores mobiliários permitiu-lhe adquirir obrigações públicas e privadas da área
do euro e assegurar a profundidade e liquidez em segmentos disfuncionais no
.
mercado de obrigações do Estado, a fim de restaurar o bom funcionamento do
mecanismo de transmissão da política monetária.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JURO

%
6
Taxa de juro de referência para empréstimos do
5 Banco Central Europeu
4 Taxa de inflação

3
2
1
0
-1
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Fontes: Comissão Europeia e BCE.
© AP / Reporters

Jean-Claude Trichet, presidente do BCE,


reiterou a capacidade do euro de ultrapas-
sar as turbulências e adoptou uma política
de manutenção das taxas de juro a níveis
historicamente baixos.

10
Simultaneamente, vários países começaram a implementar medidas de consoli-
dação para reduzir os défices orçamentais e restaurar a sustentabilidade orça-
mental no âmbito de um quadro comum proporcionado pelo Pacto de Estabili-
dade e Crescimento da UE. À solidariedade com os Estados-Membros manifestada
pela UE, deve corresponder, da parte destes, um correcto exercício das suas res-
ponsabilidades. A rigorosa condicionalidade inscrita nos mecanismos de estabi-
lização, criados durante o ano, pressupõe que os Estados beneficiários desempe-
nhem plenamente o seu papel em termos de contenção das despesas públicas e
de introdução de reformas que permitam reequilibrar as suas finanças.

O Conselho Europeu de Outubro acordou que os Estados-Membros devem criar A alteração ao Tratado proposta
um mecanismo permanente de resolução de crises a fim de salvaguardar a Será aditado o seguinte número ao
estabilidade financeira da área do euro no seu conjunto. O presidente do Conse- artigo 136.º do Tratado sobre o
lho Europeu consultou os membros do Conselho Europeu sobre uma alteração Funcionamento da União Europeia:
«3. Os Estados-Membros, cuja moeda seja
limitada do Tratado. O resultado foi o acordo obtido no Conselho Europeu de
o euro, podem criar um mecanismo de
Dezembro de que o Tratado deve ser alterado a fim de permitir a criação do
estabilidade a accionar, caso seja
Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). O objectivo é que o MEE substitua o
indispensável, para salvaguardar a
FEEF e o MEEF em 2013. Será accionado por acordo mútuo entre os Estados- estabilidade da área do euro no seu todo.
-Membros da área do euro em situações em que a estabilidade da área do euro A concessão de qualquer assistência
no seu conjunto se encontre em risco. financeira necessária ao abrigo do
mecanismo ficará sujeita a rigorosa
condicionalidade.»
CRESCIMENTO E CRISE
Crescimento do PIB, variação anual (%).
2010-2012: previsões

10
China

EUA
UE
0 Japão

-5

-10
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Fonte: Comissão Europeia.

11 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
O euro: um valor sólido em períodos Reforço da governação económica
de instabilidade A crise revelou uma falta de respeito pelas regras de disciplina orçamental e a
As bases fundamentais do euro são incapacidade de assegurar que os Estados-Membros sigam políticas económicas
sólidas. Permite uma inflação baixa, um sólidas orientadas para a competitividade. Durante o ano, o Parlamento, o Conse-
bom equilíbrio na balança de transacções
lho e a Comissão trabalharam em conjunto na elaboração de uma nova arquitectura
correntes e um crescimento económico
para suprir essas deficiências prejudiciais. Acordaram no princípio da criação de:
respeitável — e é a moeda de reserva de
grande parte do mundo. O euro resistiu às um regime de supervisão mais forte, mais rigoroso e mais amplo, abrangendo
pressões de que foi alvo durante o ano, as políticas orçamentais, macroeconómicas e estruturais, bem como os desfa-
apesar de uma certa volatilidade na sua
samentos na competitividade. O regime reflectirá a interdependência que é
taxa de câmbio. Não houve crise do euro.
um elemento central da economia europeia. Prevê-se a criação de um painel
As dificuldades surgiram em
determinados Estados-Membros da área de indicadores para assegurar a identificação precoce de grandes e crescentes
do euro que não mantiveram as suas divergências, que desencadeará recomendações sobre acções correctivas —
finanças públicas em ordem ou não apoiadas por mecanismos de execução eficazes. As novas modalidades pro-
melhoraram a sua competitividade. moverão as reformas estruturais, a inovação e o comércio susceptíveis de
repor a Europa na boa via em termos de crescimento sustentável e equilibrado
e criarão empregos para o futuro;

A Estónia adere ao euro


A atracção contínua que o euro exerce foi comprovada quando a Estónia teve o direito de se tornar membro da área do
euro. O seu pedido de adesão à moeda única foi aceite pela UE em Junho e a Estónia passou a ser o 17.º membro do clube
em Janeiro de 2011. Com uma economia sólida, a Estónia preenche os critérios de adesão à área do euro. Tem sido capaz
de manter a sua inflação e taxas de juro a um baixo nível. O país registou um défice orçamental de 1,7% do PIB no ano
passado, muito abaixo do limite da UE de 3%. A dívida pública foi também baixa: apenas 7,2% do PIB. A sua economia é
altamente flexível e, embora não imune à crise, demonstrou a sua capacidade para actuar e adaptar-se a uma taxa de
câmbio fixa durante perto de duas décadas.

uma revisão interpares dos projectos de orçamentos nacionais — designada


semestre europeu, uma vez que terá lugar no primeiro semestre de cada ano.
A partir de 2011, os Estados-Membros apresentarão os seus programas de
estabilidade e convergência à Comissão, a fim de verificar a sua conformidade
com as regras de Pacto de Estabilidade e Crescimento. Para assegurar a quali-
dade dos dados necessários, foram acordadas novas competências a fim de
permitir a verificação das estatísticas dos Estados-Membros. A revisão terá
igualmente em conta os planos destinados a estimular a competitividade e a
introduzir as reformas estruturais necessárias. O resultado será um reforço da
transparência económica e uma abordagem orçamental mais concertada, o
que também constituirá uma vantagem para os Estados-Membros quando
procedem ao planeamento, debate e aprovação dos seus orçamentos nacio-
nais. Na prática, o semestre europeu harmonizará os processos no âmbito do
Pacto de Estabilidade e Crescimento e das orientações gerais para as políticas
económicas. Abrangerá a disciplina orçamental, a estabilidade macroeconó-
mica e políticas destinadas a promover o crescimento em sintonia com a
estratégia «Europa 2020»;

um reforço das regras fundamentais da união económica e monetária — nome-


adamente um maior rigor do Pacto de Estabilidade e Crescimento, colocando
© Xinhua / Belga

uma nova ênfase na definição de políticas orçamentais prudentes a médio


prazo e na manutenção da dívida sob controlo. Está a ser estudada a possibili-
dade de sanções para os Estados-Membros com políticas orçamentais que não
sejam compatíveis com a dimensão europeia. O Parlamento Europeu também
Jürgen Ligi, ministro das Finanças da apelou para que seja dada prioridade à supervisão da dívida numa resolução de
Estónia, segura uma moeda de euro Maio sobre a sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas.
simbólica numa cerimónia em Bruxelas.

12
Legislar para melhorar a governação económica
Em Setembro, a Comissão publicou um vasto pacote de medidas legislativas para
reforçar a governação económica na UE e na área do euro. Este pacote visa alargar e
reforçar a supervisão das políticas orçamentais, bem como das políticas macroeconó-
micas e das reformas estruturais. Prevê igualmente novos mecanismos de controlo
do cumprimento relativamente a Estados-Membros que não observem as regras.
Quatro das seis propostas dizem respeito a questões orçamentais, incluindo uma
ampla reforma do Pacto de Estabilidade e Crescimento, para que as sanções passem
a ser a consequência normal para países que não cumpram os seus compromissos.
Outros dois regulamentos têm como objectivo detectar e corrigir desequilíbrios
macroeconómicos emergentes na UE e na área do euro.
Um regulamento que reforça o papel preventivo do Pacto de Estabilidade e Cres-
cimento (5), a fim de garantir que os Estados-Membros desenvolvam políticas
orçamentais prudentes em conjunturas favoráveis a fim de fazerem as poupanças
necessárias para enfrentar conjunturas desfavoráveis. O acompanhamento das
finanças públicas basear-se-á na definição de políticas orçamentais prudentes e a
Comissão pode emitir um alerta em caso de desvios significativos.
Um regulamento que reforce o papel correctivo do pacto (6), de forma a que a
evolução da dívida seja acompanhada mais estreitamente e que o procedimento
relativo aos défices excessivos possa ser invocado em caso de desvios. Os Estados-
-Membros cuja dívida seja superior a 60% do PIB devem tomar medidas para a
reduzir a um ritmo satisfatório. O regulamento define que a diminuição do rácio
dívida-PIB superior a 60% é suficiente se a diferença relativamente ao limite de
referência de 60% tiver sido reduzida nos três anos anteriores a um ritmo da
ordem de 1/20 por ano. Pode ser iniciado um procedimento relativo aos défices
excessivos em caso de desvios.
Um regulamento relativo à aplicação eficaz da supervisão orçamental na área do
euro (7), apoiando as alterações do pacto com uma nova série de sanções financei-
ras graduais aplicáveis aos Estados-Membros da área do euro. Quanto às medidas
preventivas, um depósito remunerado deve ser a consequência de desvios signifi-
cativos relativamente à definição de políticas orçamentais prudentes. Quanto à
vertente correctiva, seria aplicável um depósito não remunerado de 0,2% do PIB
após a adopção de uma decisão de que um país se encontra em situação de défice
excessivo. Este seria convertido em multa em caso de incumprimento da recomen-
dação de correcção do défice excessivo. Para garantir o controlo do cumprimento,
será utilizado um «mecanismo de votação invertida» para a imposição de sanções:
isso significa que a proposta da Comissão relativa a uma sanção será considerada
adoptada excepto se for rejeitada pelo Conselho por maioria qualificada.
Uma directiva relativa aos requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais dos Esta-
dos-Membros (8) garantirá que os objectivos do pacto sejam transpostos para os
quadros orçamentais nacionais (incluindo sistemas de contabilidade, estatísticas,
práticas de previsões, regras fiscais, procedimentos orçamentais e relações fiscais
com autoridades locais ou regionais). Embora tenha em conta as preferências e
necessidades específicas dos Estados-Membros, a directiva estabelece determi-
nados requisitos que os quadros orçamentais nacionais devem respeitar a fim de
assegurar um mínimo de qualidade e coerência com as regras da UE.
Um regulamento relativo à prevenção e correcção dos desequilíbrios macroeco-
nómicos (9), que introduz o procedimento relativo aos desequilíbrios excessivos
como novo elemento do quadro de supervisão económica da UE. Esta avaliação
regular dos riscos de desequilíbrios permitirá à Comissão proceder a análises
aprofundadas sobre os Estados-Membros em risco. No caso dos Estados-Mem-
bros com desequilíbrios graves ou que possam comprometer o bom funciona-
mento da UEM, o Conselho pode adoptar recomendações e dar início ao procedi-
mento relativo aos desequilíbrios excessivos. O Estado-Membro terá então de
apresentar um plano de acção correctiva, que será aprovado pelo Conselho, que
fixará os prazos de execução das medidas correctivas. Um Estado-Membro da
área do euro que repetidamente se abstenha de adoptar medidas correctivas
expor-se-á a sanções.

13 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Um regulamento relativo às medidas de execução para corrigir os desequilí-
brios macroeconómicos excessivos na área do euro (10), nos termos do qual um
Estado-Membro da área do euro que repetidamente não dê cumprimento às
recomendações do Conselho para corrigir desequilíbrios excessivos terá de
pagar uma multa anual correspondente a 0,1% do seu PIB. A multa só pode ser
evitada por maioria qualificada de votos («votação invertida», ver supra),
exclusivamente com os votos dos Estados-Membros da área do euro.

Como funcionará o semestre europeu


Na nova revisão interpares dos projectos de orçamentos nacionais, os Estados-
-Membros e a Comissão analisarão o desempenho macrofinanceiro e farão o
ponto da situação da UE em relação aos cinco objectivos definidos na estratégia
«Europa 2020»: desenvolver o emprego, desenvolver a investigação, reduzir as
emissões de gases com efeito de estufa, melhorar os níveis de educação e pro-
mover a inclusão social.
O primeiro semestre europeu terá início em Janeiro de 2011. Conjuga a disci-
plina orçamental do Pacto de Estabilidade e Crescimento, as reformas estruturais
da estratégia «Europa 2020» e um novo mecanismo para evitar macrodesequilí-
brios. O semestre tem como objectivo a elaboração prévia de orientações políti-
cas e a supervisão orçamental preventiva, num momento em que estas são mais
importantes: a política orçamental será debatida a nível da UE antes de os orça-
mentos serem aprovados a nível nacional.
O ciclo terá início em Janeiro com uma «análise anual do crescimento» prepa-
rada pela Comissão, que analisa os desafios económicos. Este relatório será
debatido no Conselho Europeu no início da Primavera, o qual identificará os
principais desafios económicos enfrentados pela UE e proporcionará aconselha-
mento estratégico sobre as políticas da UE e da área do euro. Tendo em conta
estas orientações, os Estados-Membros apresentarão as suas estratégias orça-
mentais a médio prazo nos seus programas nacionais de estabilidade e conver-
gência. Simultaneamente, elaborarão programas nacionais de reforma que defi-
nam as acções a realizar para o reforço das suas políticas em domínios como o
emprego e a inclusão social. Todos estes programas serão publicados simultane-
amente em Abril.
A Comissão avaliará então as políticas definidas pelos Estados-Membros nos
seus programas e, caso estas não sejam suficientes, recomendará ao Conselho
que formule orientações políticas específicas de país. Em cada mês de Julho, o
Conselho Europeu e o Conselho proporcionarão aconselhamento político antes
de os Estados-Membros finalizarem os seus orçamentos para o ano seguinte. Um
aspecto essencial do semestre é que os governos analisem as suas próprias
reformas nacionais em domínios políticos afins. Ao apoiar o semestre, os Esta-
dos-Membros demonstraram que estão preparados para assumir a responsabili-
dade por este elemento indispensável ao sucesso.

Entretanto, utilizando as regras em vigor, a Comissão manteve a sua vigilância de


rotina sobre as finanças dos Estados-Membros. Durante o ano de 2010, foi ini-
ciado o procedimento de défices excessivos em relação a 24 países que violaram
as regras, requerendo a correcção da sua situação de défice excessivo.

14
Como as medidas de emergência da UE evitaram o colapso
Em 2009, os países da UE-27 mobilizaram 9,3% do seu produto interno bruto
para salvar o sistema bancário do colapso durante a crise financeira.
Ao longo do ano, a Comissão continuou a autorizar auxílios estatais nacionais
aos bancos, sempre que considerou que a medida era uma solução adequada
para uma perturbação grave da economia nacional. Este apoio temporário aos
bancos permite-lhes garantir níveis adequados de crédito às empresas na eco-
nomia real e contribui para estabilizar os mercados financeiros mediante o resta-
belecimento da confiança. As condições associadas asseguram simultanea-
mente que não se verifiquem distorções da concorrência.
Em termos globais, entre Outubro de 2008 e Julho de 2010, a Comissão aprovou
medidas de crise dos Estados-Membros para o sector bancário num volume global
máximo de 4 589 mil milhões de euros. Os regimes de garantias e as intervenções
ad hoc representaram mais de três quartos deste volume, elevando-se a
3 485 mil milhões de euros. Entre Agosto de 2008 e Julho de 2010, a Comissão
aprovou medidas de recapitalização no montante de 546 mil milhões de euros. No
mesmo período, a Comissão aprovou intervenções relativas a activos depreciados
e medidas relativas à liquidez num montante total de 558 mil milhões de euros.

A expansão orçamental desempenhou um papel crucial na manutenção de um «O trabalho sobre o Pacto de Estabilidade
nível aceitável de actividade e crescimento económicos. Contudo, para aprovei- não é apenas uma questão de aplicar
tar plenamente a vantagem competitiva da Europa, é fundamental que os Esta- medidas punitivas aos Estados-Membros
ou de rectificar erros passados... Não
dos-Membros implementem agora reformas estruturais para apoiar a procura
devemos perder de vista o desafio mais
privada e o crescimento da inovação.
vasto que consiste em melhorar a taxa de
A vigência do quadro excepcional em matéria de auxílios estatais adoptado no crescimento estrutural e sustentável da
início da crise, destinado a aliviar parte das pressões sobre a economia real, foi Europa e o seu desempenho económico
geral. Esta foi a tónica da estratégia
prorrogada por mais um ano por decisão da Comissão em Dezembro, com novas
«Europa 2020». A resposta aos que
condições associadas. Logo que o crescimento se confirme, devem ser imple-
receiam que a contenção orçamental irá
mentadas estratégias de saída, a fim de que todos os Estados-Membros reduzam reduzir as taxas de crescimento
o seu apoio, embora de um modo diferenciado que reflicta as suas diferentes económico está em concentrar melhor a
circunstâncias económicas e orçamentais. É um facto reconhecido que as econo- atenção nos factores estruturais
mias dos Estados-Membros não irão recuperar o seu dinamismo ou vantagem subjacentes que prejudicam o nosso
competitiva se confiarem excessivamente no apoio dos seus governos. O acordo desempenho económico e corrigi-los.»
é que, a partir de 2011, quando se espera que a recuperação económica tenha Alocução de Herman Van Rompuy no
Parlamento Europeu, 24 de Novembro
ganho terreno, a actuação orçamental em todos os Estados-Membros se torne
mais restritiva, a fim de promover o crescimento sustentável.

No que diz respeito ao sector financeiro, já se iniciou o gradual afastamento do


apoio estatal. O processo desenrolar-se-á mediante o reforço do rigor das condi-
ções aplicáveis a novas garantias estatais a partir de Julho de 2010 e um aumento
da taxa, bem como um exame mais aprofundado da viabilidade dos grandes
utilizadores de garantias. A partir de 1 de Janeiro de 2011, todos os bancos da UE
que recorrerem a apoio estatal sob a forma de capital ou de medidas relativas a
activos depreciados terão de apresentar um plano de reestruturação.

15 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
A f in a n ç a e a c o nco r r ê nci a ao s e r v i ço d o s cida dão s
A crise económica revelou lacunas significativas no quadro regula-
mentar e de supervisão do sector financeiro. Foram implementadas
grandes e profundas reformas a fim de garantir que o sector finan-
ceiro seja um parceiro fiável no futuro crescimento da prosperidade
da UE e de proteger os cidadãos e as empresas que depositaram a
sua confiança nos bancos.
Para que a UE permaneça competitiva, é necessário que defenda um sector
financeiro forte, um sector em que os bancos, não os contribuintes, paguem
antecipadamente para cobrir os custos dos seus próprios riscos de insucesso.
Finanças públicas sólidas e mercados financeiros responsáveis proporcionam a
confiança e o poder económico necessários para um crescimento sustentável.

A alteração mais importante introduzida é a criação de uma nova estrutura de


supervisão, composta por três autoridades da UE com poderes vinculativos sobre
o sector financeiro da UE, bem como a criação de um Comité Europeu do Risco
Sistémico (11). Ao restaurar a solidez dos bancos em dificuldades, a UE efectuou
ensaios sobre a respectiva capacidade de resistir a choques futuros. E na sua
política de concorrência, a UE manteve um cuidadoso equilíbrio na autorização
de auxílios estatais, em condições rigorosas, a fim de apoiar a recuperação, asse-
gurando simultaneamente que não se verificassem distorções do mercado.

A nova arquitectura de supervisão financeira


A supervisão financeira assumiu uma dimensão genuinamente europeia durante
o ano, a fim de responder ao facto de as empresas e mercados financeiros opera-
rem sobretudo a nível europeu. A reforma da supervisão financeira realizada na
Europa é única no mundo — em nenhuma outra parte foi criado um tal quadro
de supervisão. O novo quadro, aprovado em Novembro, reforça a supervisão do
sector financeiro e reduz os riscos, tornando a Europa um lugar mais seguro do
ponto de vista económico e mais atraente para os investidores.

Para que os mercados financeiros tenham a confiança do público e dos investi-


dores, é necessário que as autoridades de supervisão disponham de informações
suficientes e do poder para actuar precocemente quando surge um problema.
Em consequência, a UE elaborou e acordou uma abordagem comum que pro-
porciona uma supervisão conjunta e consistente das empresas financeiras atra-
vés das fronteiras.

As novas autoridades a nível da UE foram dotadas de novas e fortes competên-


cias. Chegou-se a um consenso sobre uma estrutura europeia de supervisão que
responda aos interesses dos Estados-Membros e da União Europeia e, sobretudo,
às necessidades dos cidadãos, consumidores e investidores europeus. As novas
autoridades podem resolver litígios entre autoridades nacionais de supervisão
financeira e proibir actividades e produtos financeiros demasiado arriscados.
E se as autoridades de supervisão nacionais não actuarem, então as novas auto-
ridades podem também impor decisões directamente às instituições financeiras
a fim de corrigir infracções à legislação da UE. As atenções centrar-se-ão em
pontos fracos dos mercados financeiros e será introduzida a comunicação de
informações por país.

16
No âmbito da nova estrutura:

Foram criadas três autoridades europeias de supervisão para o sector bancá-


rio, o sector dos seguros e a negociação de valores mobiliários, respectiva-
mente. Estes organismos de supervisão microeconómica substituem o actual
sistema da UE de comités consultivos e terão os poderes necessários para
garantir uma supervisão sólida em toda a Europa, nomeadamente sobre os
grandes grupos bancários transfronteiras. Estas autoridades seguirão um
conjunto único de regras, resolvendo situações de desacordo entre autorida-
des de supervisão nacionais, acompanhando a correcta aplicação do direito
da UE e intervindo em situações de emergência.

Foi criado um organismo de supervisão macrofinanceira totalmente novo


para acompanhar as ameaças à estabilidade financeira. O chamado «Comité
Europeu do Risco Sistémico» será presidido pelo presidente do BCE. Procederá
a um acompanhamento contínuo das ameaças à economia da UE e proporcio-
nará supervisão macroprudencial do sistema financeiro, algo que faltava no
antigo sistema.

Reformas da regulamentação financeira


A reforma do sector financeiro era necessária para assegurar que as instituições OS EUROPEUS CONTINUAM A DAR O SEU APOIO
estão não só bem supervisionadas como também plenamente regulamentadas. Os europeus continuam a apoiar a
A crise financeira demonstrou como a falta de regulamentação eficaz criou coordenação económica entre
incentivos para as instituições financeiras assumirem riscos excessivos a fim de Estados-Membros e 7 em cada 10 inquiridos
obterem lucros a curto prazo. A interligação entre instituições financeiras teve consideram que um controlo mais rigoroso do
sector financeiro é a melhor forma de evitar
efeitos sistémicos com graves consequências para todo o sector. A situação foi
outras crises. Estas foram duas das conclusões
agravada pela ausência de regulamentação que permitisse a liquidação orde-
de um segundo inquérito do Parlamento
nada dos bancos sem pôr em perigo a estabilidade financeira. Europeu sobre a crise económica,
As medidas adoptadas para reforçar a regulamentação e a responsabilidade no realizado pela TNS Sofres entre Agosto e
Setembro de 2010.
sector dos serviços financeiros incluíram:

uma directiva para regulamentar as actividades dos gestores de fundos de


investimento alternativos (12). Os fundos de retorno absoluto (hedge funds) e as
participações privadas deixarão de funcionar num vazio regulamentar fora do
âmbito das competências das autoridades de supervisão. As novas regras
permitem a comercialização de fundos, mas sujeita a requisitos rigorosos, com
estreito acompanhamento e supervisão dos riscos;

novos requisitos para o mercado de derivados OTC (13), a fim de evitar os danos


da especulação — exigindo a utilização da compensação centralizada, o
registo das transacções e controlos sobre vendas a descoberto. Uma task force
está a estudar os efeitos na dívida soberana dos swaps de risco de incumpri-
mento (credit default swaps) a descoberto.

17 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
A Comissão iniciou também uma vasta série de acções para manter o ritmo da
reforma do sector financeiro e ampliar o seu âmbito. Estas propostas e consultas
incluem:

um plano de acção da Comissão (15) para que os bancos em dificuldades pos-


sam regressar a uma situação sólida sem o apoio do Estado ou para que lhes
seja permitido abrir falência sem repercussões no sistema bancário no seu
conjunto. Os mecanismos serão financiados através de contribuições ou
impostos aplicáveis às instituições financeiras. Durante a crise financeira, os
governos da UE proporcionaram apoio público às instituições financeiras cor-
respondente a 16,5% do PIB da UE. O apoio foi necessário para garantir a
estabilidade do sistema financeiro, mas impôs um pesado encargo aos orça-
mentos públicos;

uma consulta sobre as agências de notação de risco de crédito, a fim de reexa-


minar o quadro regulamentar em função das preocupações suscitadas de que
as instituições financeiras e os investidores institucionais podem estar a confiar
demasiado nas notações externas e não procedem a avaliações internas sufi-
cientes dos riscos de crédito, o que pode conduzir à volatilidade dos mercados
e à instabilidade do sistema financeiro;

uma consulta relativa a pacotes de produtos de investimento de retalho, desti-


nada a aumentar os níveis de protecção dos clientes e descrevendo possíveis
medidas para melhorar a transparência e a comparabilidade dos produtos de
investimento e assegurar que as vendas sejam sempre regidas por regras eficazes;

uma consulta (16) sobre a constituição de reservas de capital contracíclicas


para os bancos, a fim de atenuar as flutuações no sistema financeiro, garan-
tindo que os bancos podem recorrer a reservas acumuladas em conjunturas
económicas favoráveis a fim de continuar a conceder empréstimos quando as
condições económicas se agravam;

uma proposta para uma revisão aprofundada dos regimes de garantia de


depósitos e de indemnização dos investidores, bem como a reorientação dos
regimes de garantia de seguros, a fim de aumentar a protecção dos investido-
res e aforradores.

Limitar os bónus dos gestores Um princípio fundamental da reforma do sistema financeiro da UE era introduzir
bancários no sistema uma maior quantidade de capital e capital de melhor qualidade.
Ao abrigo das novas regras acordadas em O reforço dos requisitos relativos a recursos próprios deve assegurar que uma
Dezembro (14), os gestores bancários empresa tenha em devida conta os riscos inerentes à sua carteira de negociação,
receberão um máximo de um quarto dos
de modo a que esta reflicta potenciais prejuízos. A reforma procura também
seus bónus em pagamentos imediatos em
garantir normas de liquidez mínima, rácios de alavancagem eficazes, sanções em
numerário, sendo o montante restante
diferido ou detido sob a forma de acções matéria de fundos próprios aplicáveis aos bancos com políticas de remuneração
durante um período mínimo de três anos. irresponsáveis e requisitos adequados relativos aos recursos próprios no que diz
As regras prevêem também que as respeito aos instrumentos financeiros complexos que contribuíram para a crise
autoridades reguladoras nacionais financeira. As reformas dos requisitos relativos aos fundos próprios não se limi-
rescindam bónus pagos a quadros tam à Europa. No âmbito do Comité de Basileia de Supervisão Bancária, a União
superiores que incorreram em riscos que Europeia está a negociar com parceiros internacionais. Estas reformas estão a ser
se revelou resultarem em perdas para as
implementadas na UE através de alterações (17) à Directiva «Requisitos de Fundos
empresas financeiras. As regras procuram
Próprios».
também estabelecer uma ligação directa
entre salário fixo e remuneração. Na globalidade, estas medidas contribuem para manter os mercados da UE
atractivos e para assegurar que a economia europeia disponha de meios para
promover o crescimento. Mas a regulamentação financeira destina-se também a
melhorar a vida quotidiana dos cidadãos europeus, a simplificar o seu dia-a-dia
e a proporcionar-lhes a transparência e a segurança que têm o direito de esperar
da Europa.

18
A política da concorrência a modelar as respostas
A política da concorrência e, em particular, a aplicação coerente e previsível das
regras em matéria de auxílios estatais desempenharam um papel importante na
resposta à crise. As medidas extraordinárias de emergência adoptadas no início
da crise foram bem sucedidas uma vez que foram capazes de restabelecer a
estabilidade financeira e de apoiar a recuperação económica. A política em
matéria de auxílios estatais contribuiu para modelar as respostas dos governos
face à crise e também para evitar o colapso do sistema financeiro. Tal permitiu
evitar uma corrida aos subsídios entre os Estados-Membros, reduziu as distor-
ções na concorrência e limitou os incentivos a uma excessiva assunção de riscos.
As decisões da Comissão facilitaram o acesso ao crédito e proporcionaram um
mecanismo para a coordenação das medidas de emergência dos Estados-Mem-
bros em prol das instituições financeiras.

A Comissão debruçou-se também explicitamente sobre a questão dos riscos


morais. Esta questão coloca-se quando uma empresa considera que pode ter
impunemente um comportamento irresponsável, convencida de que será prote-
gida do fracasso pelo facto de o seu colapso ter repercussões inaceitavelmente
grandes para a sociedade. É por esta razão que a Comissão assegurou que os
auxílios não fossem concedidos como uma mera prenda às empresas em falta,
mas que todas as medidas de emergência tivessem associadas condições — um
requisito prévio para um regresso a condições normais de funcionamento do
mercado. Após a fase inicial de emergência, os auxílios notificados à Comissão
foram autorizados sob condição expressa de que os planos de reestruturação ou
as análises de viabilidade dos bancos beneficiários de auxílio deviam ser aprova-
dos pela Comissão. Havia frequentemente requisitos ligados a estes planos de
reestruturação, por exemplo em relação às alienações ou ao comportamento no
mercado após a reestruturação. Os empréstimos e garantias foram concedidos
nas mesmas condições e com base nas mesmas regras a nível europeu. A econo-
mia da UE e os contribuintes da UE estão em melhor situação em consequência
disso. As medidas ajudaram as instituições financeiras a readquirir viabilidade.
A Comissão ajustou também as suas regras sobre garantias estatais aplicáveis ao
sector bancário, por forma a indicar aos bancos que têm de se preparar para uma
retirada do apoio estatal excepcional relacionado com a crise.

Logo no início de 2011, novas medidas alargaram o requisito relativo a planos de


reestruturação a todos os bancos na UE que recorreram a apoios estatais sob a
forma de capital ou de medidas relativas a activos depreciados, e está a ser ela-
borado um novo quadro em matéria de auxílios estatais de emergência e à
reestruturação de bancos, que será seguido de uma revisão das orientações
relativas aos auxílios estatais de emergência e à reestruturação concedidos a
empresas em dificuldades.

Medidas tangíveis relativas à concorrência em prol da recuperação


Manutenção de condições equitativas de concorrência em toda a Europa — como a garantia de que os auxílios ao sec-
tor automóvel não imponham quaisquer condições sobre a localização
Prevenção de falências através do quadro temporário que permite aos Estados-Membros proporcionar acesso ao finan-
ciamento a empresas viáveis, prorrogado para 2011 com âmbito limitado, condições mais rigorosas e uma tónica nas
pequenas e médias empresas (PME)
Apoio a «investimentos inteligentes» — como através das orientações relativas aos auxílios estatais no domínio da
banda larga — a fim de contribuir para a recuperação económica a curto prazo e proporcionar benefícios a longo prazo
para a competitividade europeia.

19 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
A concorrência incentiva as empresas a adaptar as suas estratégias comerciais, a
inovar e a criar melhores produtos e serviços. Por seu turno, tal resulta para os
consumidores numa maior escolha, melhor qualidade e preços mais baixos.
A aplicação de uma política de concorrência a nível comunitário assegura que,
independentemente do local em que estão implantadas, as empresas têm
acesso às mesmas oportunidades em toda a Europa. A política de concorrência
promove a inovação e o crescimento, mantendo os mercados abertos e concor-
renciais, para que as empresas tenham a oportunidade de prosperar e os consu-
midores possam colher os benefícios.

Para assegurar que os consumidores tenham uma maior escolha e possam


beneficiar de preços mais vantajosos, a Comissão adoptou um regulamento que
estabelece uma derrogação às regras da concorrência aplicável a uma vasta
gama de acordos entre fabricantes e distribuidores no que diz respeito à venda
de produtos e serviços (18). As empresas com uma presença modesta no mercado
continuam a poder decidir livremente sobre a forma como os seus produtos são
distribuídos desde que se abstenham de comportamentos prejudiciais para os
consumidores e a concorrência, tais como a fixação de preços. Juntamente com
as orientações acompanhantes (19), o regulamento visa promover a distribuição
pela Internet, autorizando os distribuidores aprovados a vender na Internet sem
limitação das quantidades, da localização dos clientes nem de preços.

No sector da energia, a alteração das orientações relativas a auxílios estatais no


domínio do ambiente destina-se a contribuir para que o Regime de Comércio de
Licenças de Emissão da UE se torne um instrumento para uma conformidade a
baixo custo e um incentivo para os investimentos em tecnologias hipocarbóni-
cas. O Regulamento Auxílios Estatais ao Sector do Carvão (20) — no âmbito do
qual os Estados-Membros têm de ser capazes de manter o seu apoio à indústria
enquanto o carvão continuar a ter um papel importante na produção de energia
na Europa — visa assegurar uma concorrência leal, autorizando auxílios ao
encerramento e à cobertura de custos herdados.

A Comissão interveio para assegurar que os auxílios nacionais previstos para o


sector automóvel respeitavam as regras em matéria de auxílios estatais e de
mercado único. E decidiu revogar determinadas disposições especiais introduzi-
das durante a crise para permitir aos Estados‑Membros proporcionar acesso de
emergência a financiamento para evitar a falência de empresas.
© União Europeia

A indústria automóvel continua a ser um


sector importante da economia da UE.

20
Rec u pe r aç ão m u ndi a l e co o pe r aç ão in t e r n aci o n a l
A União Europeia funciona no contexto de um mundo globalizado.
Uma das principais missões da UE neste contexto mais vasto é
modelar as respostas globais no interesse dos seus Estados-Mem-
bros e cidadãos. As recessões económicas no passado conduziram a
círculos viciosos de proteccionismo, corrida aos subsídios e pior
ainda. Repor a economia mundial na via do crescimento e da pros-
peridade exige liderança mundial e acção multilateral. Nesta maté-
ria, a UE não pode agir sozinha e não pode elaborar uma agenda de
reforma da regulamentação isoladamente.
A UE assumiu um papel de liderança na promoção de respostas internacionais à
crise. Teve uma posição proeminente nos debates no âmbito do G20, o fórum por
excelência para a cooperação económica internacional, no qual a UE é representada
pelo presidente da Comissão, José Manuel Barroso, e pelo presidente do Conselho
Europeu, Herman Van Rompuy. Em reuniões sucessivas, a UE defendeu a realização
de esforços globais para colmatar as lacunas da regulamentação e supervisão finan-
ceiras a nível internacional. Assumiu um papel de liderança na promoção de novas
regras em matéria de fundos próprios dos bancos. Manteve a pressão para que
sejam tomadas medidas eficazes para erradicar os défices e reduzir a dívida, estimu-
lando simultaneamente as perspectivas de crescimento. E pressionou fortemente
no sentido de um acordo global sobre contribuições e impostos bancários. Além
disso, para assegurar que o comércio possa continuar a desempenhar o seu papel
na recuperação económica, a União Europeia desempenhou um papel-pivô no
acompanhamento da conformidade das grandes economias face aos seus compro-
missos, assumidos no âmbito do G20, de não criar novos entraves ao comércio livre.

© Peer Grimm / DPA / Reporters


Os líderes da Alemanha, França, Itália e do
O acontecimento mais importante de 2010 nesta matéria foi a cimeira do G20, Reino Unido, bem como o presidente do
realizada em Seul em Novembro, na qual a UE obteve avanços na promoção de Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,
uma acção comum para dinamizar o crescimento e o emprego à escala mundial. e o presidente da Comissão Europeia, José
O «Plano de Acção de Seul» (21) vincula ainda mais o G20 a empreender acções Manuel Barroso, participam, juntamente
com os líderes dos EUA, do Canadá, do
globais para um crescimento equilibrado e constitui um reconhecimento claro da
Japão e da Rússia na cimeira do G8,
responsabilidade conjunta no âmbito da qual todas as principais economias se
que teve lugar em Junho, no Canadá.
comprometeram a cumprir a sua parte para atingir o reequilíbrio, a fim de comba-
ter os desequilíbrios. O método da UE de utilização de indicadores para desenca-
dear uma avaliação dos desequilíbrios macroeconómicos e das suas causas profun-
das foi apoiado pelos dirigentes do G20. A UE contribuiu igualmente para a criação
de um consenso sobre soluções de cooperação face a tensões em questões
monetárias e de comércio. Os dirigentes concordaram em avançar para taxas de
câmbio mais baseadas no mercado, em reforçar a flexibilidade das taxas de câmbio
a fim de reflectir os princípios económicos fundamentais subjacentes e em se abs-
terem de desvalorizações concorrenciais — conforme tinha sido solicitado pelos
dirigentes da UE antes da Cimeira. Ao subscrever a reforma de Basileia III (ver caixa
infra), o G20 manteve também a dinâmica para uma reforma mundial da regula-
mentação financeira, a qual é uma prioridade-chave da UE.

21 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Basileia III Na cimeira do G20 realizada em Seul, a UE assegurou um importante compromisso
«Basileia III» é um vasto conjunto de de luta contra o proteccionismo sob todas as suas formas. A Comissão também apre-
medidas de reforma desenvolvido pelo sentou uma série de relatórios relativos ao proteccionismo, designando e envergo-
Comité de Basileia de Supervisão Bancária nhando os infractores, como parte integrante de um esforço concertado para manter
para reforçar a regulamentação, a
as economias abertas e prevenir a intensificação dos efeitos da crise. A comunicação
supervisão e a gestão dos riscos do sector
«Comércio, Crescimento e Questões Mundiais» (22) de Novembro definiu uma agenda
bancário. Visa melhorar a capacidade do
sector bancário para absorver os choques,
de política comercial assertiva para os próximos cinco anos, como a vertente externa
aperfeiçoar a gestão dos riscos e a da aposta da UE para revitalizar a economia europeia, complementando iniciativas
governação e reforçar a transparência dos importantes realizadas no decurso do ano relativas ao mercado interno, à indústria e
bancos. Visa a regulamentação quer a à inovação. Propõe uma estratégia para reduzir os obstáculos ao comércio, abrir os
nível de bancos individuais quer do mercados mundiais e obter condições justas para as empresas europeias. O objectivo
sistema em todo o sector. As reformas geral é garantir que os benefícios do comércio cheguem aos cidadãos europeus —
Basileia III fazem parte das iniciativas
sob a forma de um crescimento económico mais forte, de mais emprego e de uma
globais para reforçar o sistema de
maior escolha dos consumidores a preços mais baixos.
regulamentação financeira que foram
aprovadas pelos dirigentes do G20 e cuja
execução está prevista para 2012.
A e s t r at é g i a « E u r o pa 2020»:
c r e s ci m en t o in t e l i g en t e, s u s t en táv e l e inc lu s i v o
Finanças públicas sólidas, uma supervisão financeira mais rigorosa e
mercados mundiais abertos são meios para atingir um fim: crescimento
que gere emprego na UE. As medidas estruturais ao abrigo da estraté-
gia «Europa 2020» incidem nas causas subjacentes à crise. Fazem parte
da estratégia abrangente da UE destinada a criar uma via de cresci-
mento mais sustentável e dinâmica que permita elevados níveis de
emprego, produtividade e coesão social. O objectivo é o crescimento
inteligente, o crescimento sustentável e o crescimento inclusivo.
Para prevenir os riscos decorrentes de finanças públicas em dificulda-
des, do abalo da confiança das empresas e da ameaça de desemprego,
a UE propôs uma série de medidas ao longo de 2010 para revigorar a
economia, libertar o potencial de crescimento da UE, estimular o inves-
timento e actualizar as competências. A UE coloca a ênfase num baixo
consumo de energia, na redução das emissões de carbono, na requalifi-
cação da sua população, no aproveitamento de todo o potencial de um
mercado único digital, na investigação e desenvolvimento e nas tecno-
logias avançadas. Esta é a forma como a Europa reforçará a sua compe-
titividade e produtividade e promoverá a coesão social e a convergên-
cia económica.
O crescimento inteligente, sustentável e inclusivo é o objectivo da estratégia
«Europa 2020». O crescimento inteligente diz respeito à promoção dos conheci-
mentos, da inovação, da educação e da sociedade digital. O crescimento susten-
tável significa tornar a produção mais eficiente em termos de recursos, aumen-
© Virginia Mayo / AP / Reporters

Em Março, o presidente da Comissão


Europeia, José Manuel Barroso, lançou a
estratégia «Europa 2020» para um cresci-
mento inteligente, sustentável e inclusivo.
22
tando ao mesmo tempo a competitividade. E o crescimento inclusivo visa
aumentar a participação no mercado de trabalho, aumentando a aquisição de
competências e lutando contra a pobreza.

A estratégia «Europa 2020» proporciona um quadro coerente para a União mobi- ESTABILIZAÇÃO DOS NÍVEIS DE DESEMPREGO
lizar todos os seus instrumentos e políticas a fim de assegurar as reformas estru- NA UE
Desemprego (%) nos 27 países da UE.
turais de que a Europa necessita. Define cinco objectivos específicos a atingir até
2010-2012: previsões.
2020. Incentiva um maior envolvimento dos Estados-Membros na realização
desses objectivos, uma vez que a noção de propriedade é essencial para o
10
sucesso da estratégia. Os objectivos específicos são amplificados por uma série
de iniciativas emblemáticas e por orientações integradas em matéria de políticas 8

económica e de emprego (23). A estratégia é complementada pelo desenvolvi- 6


mento contínuo pela UE do mercado único e pela prossecução de regulamenta-
0
ção mais inteligente e de um ambiente estimulante para a concorrência. Mas 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
igualmente importante é o objectivo de criar uma sociedade cada vez mais Fonte: Comissão Europeia.
inclusiva, razão pela qual a coesão social e a inclusão social estão no centro da
estratégia «Europa 2020».

Os cinco objectivos específicos da estratégia «Europa 2020»: objectivos


concretos
Elevar a taxa de emprego para homens e mulheres com idades compreendidas
entre os 20 e 64 anos para 75%, com trabalhadores mais jovens, mais idosos e
pouco qualificados com emprego e uma melhor integração dos migrantes legais.
Melhorar as condições no domínio da investigação e do desenvolvimento,
a fim de aumentar os níveis de investimento para 3% do PIB e de incentivar
a I&D e a inovação com novos indicadores.
Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 20%, em comparação
com os níveis de 1990 — mantendo simultaneamente o compromisso condi-
cional da UE de uma redução de 30% até 2020, aumentar a quota de energias
renováveis no consumo final de energia para 20% e avançar no sentido de um
aumento de 20% da eficiência energética.
Melhorar os níveis de educação, mediante a redução das taxas de abandono
escolar para menos de 10% e o aumento para 40% da percentagem da popu-
lação com idades entre 30 e 34 anos com habilitações de nível superior ou
equivalente.
Promover a inclusão social, reduzindo a pobreza e retirando, pelo menos,
20 milhões de pessoas de uma situação de risco de pobreza e de exclusão.

Libertar o potencial da Europa: as sete acções emblemáticas As sete acções emblemáticas


A primeira acção emblemática a ser apresentada, em Maio, foi a Agenda Digital da estratégia «Europa 2020»
para a Europa (24) — a estratégia da Europa para uma economia digital próspera Agenda Digital para a Europa
até 2020. Trata-se de um sector que é capaz de gerar crescimento inteligente. União da Inovação
Metade do crescimento da produtividade europeia nos últimos 15 anos foi
Juventude em Movimento
impulsionado pelas tecnologias da informação e das comunicações. Esta situa-
ção tende a intensificar-se. A Agenda Digital vai gerar um mercado único digital Eficiência dos Recursos
correspondente a 4% do PIB da UE até 2020. Uma política industrial para a era
da globalização
As 100 acções da Agenda Digital têm como objectivo distribuir os benefícios da
revolução digital. Promoverá um mercado único digital, alargará o acesso à Agenda para Novas Qualificações e
Internet, contribuirá para tornar os dispositivos e aplicações mais interoperáveis, Novos Empregos

aumentará a confiança na Internet reforçando a segurança e protegendo a priva- Plataforma Europeia contra a Pobreza
cidade dos cidadãos e das empresas e terá um efeito de alavanca nos investi- e a Exclusão Social
mentos em investigação e inovação no domínio das TIC.

23 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
© Jamie Grill / Blend Images / Corbis

A formação em literacia digital é um


elemento central da estratégia A Comissão lançou uma consulta pública sobre a melhor forma de libertar todo
«Europa 2020». o potencial das indústrias culturais e criativas da Europa. Está já a trabalhar no
sentido de melhorar o acesso ao financiamento, especialmente para as peque-
nas empresas, a fim de permitir que o sector se desenvolva e contribua para o
crescimento sustentável e inclusivo. Melhorias no reconhecimento mútuo sobre
o tratamento a dar a materiais cujos potenciais detentores de direitos são desco-
nhecidos (as obras órfãs) facilitarão a acessibilidade em linha transfronteiras e
permitirão uma maior disponibilização do património cultural e intelectual da
Europa. Regras mais claras sobre a gestão colectiva dos direitos proporcionará
um quadro estável que permita aumentar os serviços transfronteiras e incentivar
ofertas para um mercado audiovisual em linha. Deve ser incentivada a distribui-
ção de obras audiovisuais e de outros conteúdos criativos em linha.

Está a ser promovido o investimento na rede de fibra óptica de banda larga da


próxima geração, especialmente com a introdução de uma nova clareza na
indústria em matéria de regras da concorrência. Medidas complementares (25)
reflectem os compromissos constantes da Agenda Digital de proporcionar a
todos os europeus o acesso a serviços básicos de banda larga em 2013 e a banda
larga rápida e ultra-rápida até 2020. Outras componentes da Agenda Digital
incluem a promoção da literacia digital e de uma maior inclusão — superando o
«fosso digital» para que a formação de base ou a falta de competências não
limitem a participação. Em Dezembro, a Comissão lançou o seu plano de acção
para a Administração Pública em Linha com vista a proporcionar aos cidadãos e
empresas melhores serviços em linha. Contribuirá para o cumprimento do com-
promisso assumido pela UE na Agenda Digital de proporcionar serviços públicos
em linha inovadores e aumentar a aceitação desses serviços.

Surgiram outras iniciativas emblemáticas no final do ano, todas ligadas à ideia de


estimular a riqueza e o emprego, protegendo simultaneamente o ambiente e
tornando a UE mais inclusiva.

24
O desempenho da Europa em matéria de inovação deve ser melhorado ao longo Sucessos no apoio à investigação
de toda a cadeia de fornecimento, desde a investigação até ao retalho, nomeada- europeia
mente através de parcerias de inovação. É por essa razão que a Comissão propôs Em Dezembro, o programa de Acções
— e o Conselho Europeu aprovou — a União da Inovação (26). Trata-se da pri- Marie Curie financiou o seu 50 000.º
investigador desde o lançamento do
meira estratégia abrangente em matéria de inovação. Visa melhorar as condições
programa em 1996. Para concretizar uma
do financiamento e o respectivo acesso para a investigação e inovação na Europa,
união inovadora, a Europa tem
a fim de assegurar que as ideias inovadoras possam ser transformadas em produ- necessidade de investigadores de craveira
tos e serviços que gerem crescimento e postos de trabalho. Centra-se em domí- mundial que sejam capazes de enfrentar
nios que são motivo de grande preocupação para os cidadãos, como as alterações os desafios tanto presentes como futuros,
climáticas, a eficiência energética e uma vida saudável. Olha para a inovação não pelo que a UE está empenhada em
apenas em termos de tecnologia, mas também em relação aos modelos empre- inspirar, motivar, formar e conservar esses
sariais, à concepção, à marca e aos serviços com valor acrescentado para os utili- investigadores. Ao apoiar a mobilidade
dos investigadores entre uma vasta gama
zadores. Além disso, a iniciativa emblemática inclui a inovação social e do sector
de disciplinas, tanto na indústria como no
público, bem como a inovação comercial, com vista a envolver todos os interve-
meio académico, as Acções Marie Curie
nientes e todas as regiões no ciclo da inovação. O objectivo é que a Europa tenha contribuem para o objectivo da União
um desempenho científico de craveira mundial, com uma estreita cooperação Europeia de criar um mercado de trabalho
entre os sectores público e privado. A atenção está também centrada em contri- sólido para investigadores altamente
buir para que as ideias cheguem rapidamente ao mercado, eliminando pontos de qualificados, criativos e com espírito
estrangulamento como o registo de patentes oneroso, a fragmentação dos mer- empresarial.
cados, a lentidão na normalização e a escassez de competências. A realização do
objectivo de um investimento de 3% do PIB da UE em I&D até 2020 poderia criar
3,7 milhões de empregos e permitir um aumento do PIB anual em 795 mil milhões
de euros até 2025. Isso significa que a Europa teria necessidade de, pelo menos,
mais um milhão de investigadores na próxima década.

No âmbito da estratégia de inovação, as parcerias europeias de inovação mobili- Financiamento da investigação


zarão as partes interessadas europeias, nacionais e regionais, públicas e privadas, Em 2010, a UE lançou a primeira iniciativa
para a concretização de objectivos bem definidos em domínios que combinem de programação conjunta sobre doenças
a abordagem de desafios societais com potencial para transformar a Europa neurodegenerativas — como a doença de
Alzheimer. Os países europeus que
num líder mundial. A Comissão proporcionará capital-semente para atrair maio-
decidam participar numa iniciativa de
res financiamentos. Posteriormente, a partir de 2011, serão criadas parcerias-
programação conjunta reúnem os seus
-piloto sobre envelhecimento activo e saudável, energia, cidades «inteligentes» recursos e coordenam os seus esforços a
e mobilidade, eficiência hídrica, matérias-primas não energéticas e agricultura fim de aumentar a eficácia do
sustentável e produtiva. financiamento público em investigação e
de evitar a duplicação de esforços.
A estratégia é apoiada e reforçada com contributos de outras políticas da UE.
Elaboram também uma agenda de
A política de concorrência apoiará iniciativas que estimulem a inovação e o investigação estratégica e um plano de
crescimento, garantindo condições equitativas de concorrência entre empresas execução para dar uma resposta comum a
e permitindo-lhes competir com base nos seus méritos. Ao abrigo dos seus pro- um desafio partilhado.
gramas de investigação, a Comissão investirá cerca de 500 milhões de euros em
investigação na fase exploratória em tecnologias futuras e emergentes e apelará
a que os Estados-Membros façam o mesmo. O Instituto Europeu de Inovação e
Tecnologia lançou as suas três primeiras comunidades do conhecimento e ino-
vação em Junho. Estas estimulam a inovação e o espírito empresarial nos domí-
nios da atenuação das alterações climáticas e da adaptação às mesmas, da
energia sustentável e da futura sociedade da informação e das comunicações. O
Sétimo Programa-Quadro de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico terá
um papel a desempenhar: o orçamento indicativo para 2010 ascende a mais de
6 mil milhões de euros, o que permitirá financiar milhares de projectos e criar
mais de 165 000 empregos. A Comissão desenvolveu também novas iniciativas
de programação conjunta em investigação nos domínios da agricultura, da
segurança dos alimentos e das alterações climáticas, do património cultural e
das alterações globais e da alimentação saudável para uma vida saudável.

25 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
O Processo de Bolonha A Juventude em Movimento (27), iniciativa lançada em Setembro, reúne medi-
Esta iniciativa conjunta de mais de das da UE e nacionais destinadas a melhorar as perspectivas de emprego dos
40 países tem por objectivo a criação de jovens, estudantes e estagiários. Visa melhorar a qualidade de todos os níveis de
um Espaço Europeu do Ensino Superior, ensino e formação e oferecer maiores oportunidades aos jovens para estudarem
no qual os estudantes possam escolher
e se formarem no estrangeiro. Proporcionará uma maior mobilidade aos partici-
entre um leque amplo e transparente de
pantes em programas universitários e de investigação, promoverá o espírito
cursos de elevada qualidade e beneficiar
de procedimentos de reconhecimento
empresarial entre jovens profissionais e incentivará o reconhecimento da apren-
fáceis. dizagem informal. As acções incluem um portal europeu do Emprego melho-
rado, uma maior ajuda para os serviços públicos de emprego apoiarem jovens e
um projecto-piloto que permite a jovens empresários passar até seis meses
junto de um empresário experiente numa empresa de pequena dimensão nou-
tro Estado-Membro da UE.

A União Europeia já acordou disposições orçamentais complementares a partir


de 2011 para um regime-piloto destinado a ajudar os jovens a aproveitarem as
oportunidades oferecidas no mercado de trabalho mais vasto da UE e as empre-
sas a encontrar pessoal qualificado. E o novo instrumento de microfinanciamento
europeu «Progress» facilitará o acesso dos jovens empresários ao crédito.
A Comissão apelou para que os Estados-Membros resistam fortemente à tenta-
ção de fazer cortes nos orçamentos da educação no âmbito das medidas de
austeridade em resposta à crise.

Em Junho, a Comissão propôs uma visão decenal para melhorar o ensino e a for-
mação profissional e o Conselho Europeu aprovou novos objectivos em matéria
de educação. O Espaço Europeu do Ensino Superior foi lançado em Março e visa
tornar o ensino superior europeu mais compatível, comparável, competitivo e
aliciante.

A iniciativa Juventude em Movimento debruça-se sobre as políticas susceptíveis


de atenuar o impacto da crise nos jovens. Estas incluem facilitar a transição entre
ensino e formação e o mundo do trabalho e estabelecer melhores ligações entre
prioridades políticas e fundos da UE, em especial o Fundo Social Europeu. Consi-
derou igualmente a possibilidade de aumento do apoio directo a projectos
inovadores através do instrumento Progress e dos programas de Aprendizagem
ao Longo da Vida e «Juventude em Acção».

A política industrial a ajudar as Em Outubro, a Comissão insistiu, na sua comunicação «Uma política industrial
empresas de menor dimensão integrada para a era da globalização» (28), que deve ser dado à indústria um
A Comissão ajudou mais de papel central para que a Europa permaneça um líder económico mundial. Esta
100 000 empresas a obter um empréstimo iniciativa emblemática define uma estratégia que visa impulsionar o crescimento
ou um investimento em capital de risco
e o emprego mediante a manutenção e o apoio a uma base industrial forte,
através do seu Programa Espírito
diversificada e competitiva na Europa que ofereça postos de trabalho bem
Empresarial e Inovação. No total, a UE
afectou mais de 1,1 mil milhões de euros remunerados, ao mesmo tempo que se torna menos dependente do carbono.
para facilitar o acesso a empréstimos e Num contexto de intensificação do processo de globalização, esta nova aborda-
capitais próprios a empresas de menor
gem abandona o conceito obsoleto de sectores e indústrias nacionais em favor
dimensão.
de uma resposta política europeia coordenada. Tal requer uma visão de toda a
cadeia de valor, desde a infra-estrutura e matérias-primas até ao serviço pós-
-venda. Coloca a criação e o crescimento de pequenas e médias empresas no
centro da política industrial e aproveita a transição para uma economia susten-
tável como uma oportunidade para reforçar a competitividade.

26
No total, a UE afectou mais de 1,1 mil milhões de euros para facilitar o acesso aos
empréstimos e ao financiamento de capitais próprios às empresas de menor
dimensão, especialmente empresas novas e jovens e às pessoas que queiram
criar a sua própria empresa. O Banco Europeu de Investimento também prestou
assistência especial às empresas de menor dimensão, com a concessão acelerada
de crédito resultando numa quase plena utilização dos 30 mil milhões de euros
afectados ao período de 2008-2011. A tónica é nos transportes não poluentes,
nas energias renováveis e na investigação conexa.

© Paul Hermann / REA / Reporters


As pequenas e médias empresas são fulcrais
para a recuperação da UE. Na imagem,
Em 2010, assistiu-se a desenvolvimentos marcantes em numerosos sectores
aprendizes adquirem novas competências
industriais da UE. A Comissão propôs iniciativas (29) para promover a competitivi-
num estabelecimento de ensino no Reino
dade do turismo e o seu desenvolvimento e visibilidade internacional. A Comis- Unido.
são propôs em Abril de 2010 uma mudança na política em matéria de fabrico de
veículos, a fim de incentivar o desenvolvimento e eventual utilização generali-
zada de veículos não poluentes e energeticamente eficientes. A indústria quí-
mica evoluiu no sentido de uma maior competitividade, com a apresentação à
Agência Europeia dos Produtos Químicos, dentro do prazo de 30 de Novembro,
de 24 675 registos dos produtos químicos mais utilizados ou mais perigosos.

DESEMPREGADOS NOS PAÍSES DA UE


Taxa de desemprego (%)

20
2009
2010
2011: previsão
15

10

0
Áustria

s
Luxemburgo

Dinamarca

Chipre

Malta

Alemanha

eca

Eslovénia

Roménia

Finlândia

Reino Unido

Suécia

Itália

Bélgica

Bulgária

Polónia

EU-27

Hungria

Portugal

Irlanda

Hungria

Eslováquia

Grécia

Estónia

Lituânia

Letónia

Espanha
Países Baixo

República Ch

Fonte: Comissão Europeia.

27 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Exportações A Agenda para Novas Qualificações e Novos Empregos incentivará um cresci-
A Rede Empresarial Europeia proporciona mento inclusivo mediante um aumento da taxa de emprego com mais e melho-
às empresas europeias de menor res postos de trabalho. É seu objectivo ajudar as pessoas de todas as idades a
dimensão um acesso mais fácil aos antecipar e gerir a mudança, dotando-as das aptidões e competências adequa-
mercados de exportação. Com 589
das. O seu âmbito inclui também a modernização dos mercados do trabalho e
organizações parceiras abrangendo
dos sistemas de segurança social e visa garantir que os benefícios decorrentes
47 países, está a alargar o seu âmbito, em
especial na Ásia: dispõe actualmente de
do crescimento cheguem a todas as partes da UE. Entre os mecanismos específi-
15 pontos de contacto na China e na cos previstos contam-se as reformas do mercado de trabalho destinadas a
Coreia do Sul, com pontos de contacto melhorar a flexigurança, um contrato único em vez de diferentes modelos de
adicionais planeados na China e no Japão. contratos temporários e permanentes, um novo impulso à aprendizagem ao
longo da vida, incentivos adicionais para as empresas que investem na formação
e uma melhor prospectiva sobre futuras necessidades em termos de competên-
cias. Propõe uma interface partilhada (a classificação europeia de competências,
aptidões e profissões) com vista a aproximar mais estreitamente os mundos do
emprego, do ensino e da formação.

A Plataforma Europeia contra a Pobreza e a Exclusão Social foi lançada em


Dezembro. Promoverá a inovação na política social a fim de encontrar soluções
na Europa pós-crise, especialmente em termos de apoio social mais eficaz e efi-
ciente. Insta para que seja feita a melhor utilização possível de todos os fundos
da UE, em particular do Fundo Social Europeu, a fim de apoiar os objectivo de
inclusão social, e propõe que a política social seja uma prioridade para o futuro
financiamento pela UE. Visa tornar os serviços e a protecção social mais eficazes
e com maior capacidade de resposta a novas necessidades sociais. E introduzirá
um leque mais vasto de parceiros com vista a combater a exclusão.

Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social de 2010


Com um orçamento total de 17 milhões de euros (complementado por, pelo
menos, 9 milhões de euros de co-financiamento nacional), o Ano Europeu de
Combate à Pobreza e à Exclusão Social apoiou mais de 700 projectos em 29 paí-
ses. O impulso político gerado abriu caminho ao acordo por parte dos dirigentes
da UE sobre o primeiro objectivo de sempre em matéria de redução da pobreza
no âmbito da estratégia «Europa 2020». Os eventos incluíram um concurso à
escala europeia para jornalistas que noticiassem questões ligadas aos temas do
ano e iniciativas nacionais, desde a difusão na maior estação de rádio da Irlanda
de histórias de pessoas que vivem em condições de pobreza até à ajuda a
60 comunidades nos Países Baixos para desenvolver estratégias integradas de
luta contra a exclusão social, e desde a ajuda alemã a pessoas desfavorecidas
oriundas dos meios migrantes para fins de integração na sociedade através de
voluntariado local até à formação de pessoal de centros de emprego na Dina-
marca para que possam responder melhor às necessidades específicas das pes-
soas com deficiência mental que procuram emprego.

28
Política regional
No âmbito da política de coesão, já foram afectados 93 mil milhões de euros (27%
do financiamento da UE reservado para 2007-2013) a projectos de investimento
no emprego e no crescimento na Europa, com progressos especialmente avança-
dos em sectores-chave como a I&D e a inovação e resultados positivos decorren-
tes da formação e desenvolvimento profissional oferecidos pelo Fundo Social
Europeu aos que procuram emprego. No âmbito do Fundo Europeu de Desenvol-
vimento Regional, do Fundo Social Europeu e do Fundo de Coesão, a UE investirá
347 mil milhões de euros nos 27 Estados-Membros no período de 2007-2013.
A política de coesão da UE contribuiu para o crescimento e a prosperidade e para
a promoção de um desenvolvimento equilibrado em toda a União, tanto através
de investimentos directos como de benefícios comerciais indirectos. Contribuiu
ainda para atenuar o impacto da crise nos trabalhadores e nas pequenas empre-
sas. A Comissão apelou (30) para um alinhamento ainda maior desta com a estra-
tégia «Europa 2020», a fim de contribuir para enfrentar os novos desafios decor-
rentes da substancial evolução económica e social verificada nos últimos anos.
As recomendações incluíam condições mais rigorosas, maiores incentivos e
maior concentração nos resultados.
A nível regional, os cidadãos beneficiaram de acções como o desenvolvimento
da estratégia da UE para a região do Danúbio, apresentada em Dezembro, que
procura melhorar as condições ambientais e desenvolver o enorme potencial
económico da região, bem como superar as disparidades em termos sociais e de
infra-estruturas que ainda persistem devido ao passado desta região dividida.
A estratégia contribuirá para erradicar este legado desigual, promovendo opor-
tunidades para os seus cidadãos através de uma melhoria do comércio, das
redes de transporte e de energia, da promoção da inovação em empresas de
menor dimensão e de actividades culturais e educativas.

A acção emblemática Eficiência dos Recursos só será lançada no início de 2011, Emprego no sector verde
mas estão já em curso acções conexas. Por exemplo, os transportes sustentáveis As indústrias verdes já empregam
estão a ser promovidos através de: financiamentos anteriores no âmbito da rede directamente cerca de 3,4 milhões de
transeuropeia de transportes, de uma reforma mais rápida do «céu único europeu», pessoas e representam cerca de 2,2% do
PIB da Europa. Cada emprego directo nas
da implementação do Espaço Europeu de Transporte Marítimo sem barreiras, a fim
eco-indústrias da Europa cria entre 1,3 e
de promover o transporte por via marítima, de uma maior competitividade global
1,9 empregos indirectos. Prevê-se que o
mediante uma produtividade mais elevada e da simplificação do acesso aos fundos mercado global de tecnologias ambientais
estruturais. Algumas destas questões serão abordadas de forma mais pormenori- aumente anualmente cerca de 10 % no
zada no capítulo 2. Em Dezembro, o Conselho congratulou-se com a iniciativa futuro. Podiam assim ser criados mais
emblemática Eficiência dos Recursos (31) e especialmente com os progressos realiza- cerca de 3 milhões de postos de trabalho
dos no sentido de uma abordagem do ciclo de vida sustentável, a combinação de verdes na UE.
medidas que será necessária para tornar a utilização europeia de materiais mais
sustentável.
© Nestor Bachmann / DPA / Reporters

Trabalhos de manutenção das células


fotovoltaicas da maior central solar do mundo
montada num telhado, na Alemanha.

29 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Relançamento do mercado único
A melhoria do mercado único é um pilar da estratégia «Europa 2020» e uma
condição prévia para o seu sucesso. Em Outubro, a Comissão definiu os seus
planos (32) para reforçar o mercado único com medidas destinadas a estimular o
crescimento e a promover os direitos dos cidadãos. A fim de fomentar o desen-
volvimento, a competitividade e o progresso social, apresentou propostas para
melhorar o funcionamento do mercado único e simplificar a vida das empresas,
dos consumidores e dos trabalhadores. O Acto para o Mercado Único é um vasto
plano de dois anos para o período de 2011-2012 concebido para relançar o
crescimento e a criação de emprego na UE. É composto por 50 iniciativas relacio-
nadas com a economia, a governação e o público em geral. Entre as prioridades-
-chave contam-se:

Para as empresas: a obtenção de acesso ao financiamento por parte das PME


pode ser difícil. A Comissão tenciona apresentar propostas destinadas a
aumentar a visibilidade das empresas de menores dimensões da Europa e a
facilitar o seu acesso a listas para os mercados de capitais. Estas propostas
também reduzirão os custos para as PME, mediante a simplificação das regras
contabilísticas e da melhoria do seu acesso aos contratos públicos. A Comissão
estudará a possibilidade de introduzir uma base tributável comum para as
empresas com actividades transfronteiras, permitindo maiores poupanças de
custos.

O prémio Mercado Único Para as empresas: a Europa dispõe de um enorme potencial para o desenvol-
Em Dezembro de 2010, o prémio Mercado vimento do empreendedorismo social. Nos últimos anos, foram desenvolvidas
Único foi atribuído à ONG muitas iniciativas por indivíduos, fundações e empresas a fim de melhorar o
«Grenzoffensive». Este prémio realça a acesso das pessoas mais necessitadas aos alimentos, à habitação, aos cuidados
importância dos princípios da livre de saúde, ao emprego e a serviços bancários. A fim de promover mais acções
circulação subjacentes ao mercado único
transfronteiras, a Comissão proporá estatutos europeus para essas organiza-
da UE. A ONG «Grenzoffensive» foi
ções servirem e promoverem a economia social. A Comissão incentivará tam-
galardoada pelos seus trabalhos em prol
da redução ao mínimo dos obstáculos bém investimentos a mais longo prazo, incluindo investimentos éticos,
administrativos para os trabalhadores e explorando opções para um regime de rotulagem específico.
pequenas e médias empresas que
Para os consumidores: actualmente, o mercado em linha apresenta um nível
trabalham transfronteiras nas regiões
de desempenho muito baixo. Por essa razão, a Comissão proporá normas em
vizinhas da Baviera (Alemanha), Alta
Áustria e Boémia Meridional (República 2011 que visam assegurar que os criadores e artistas possam vender as suas
Checa). obras em toda a Europa com um balcão único para fins de autorização, permi-
tindo-lhes assim colher os frutos do seu trabalho. A aplicação plena da Direc-
tiva «Serviços e regras actualizadas aplicáveis ao comércio eletrónico» farão
também a diferença.

Para os empregados: 4 600 profissões estão regulamentadas de forma dife-


rente nos Estados-Membros. Por conseguinte, é mais do que tempo de proce-
der a uma revisão aprofundada da Directiva «Qualificações Profissionais».
A Comissão considera que a introdução do bilhete de identidade profissional
ou de «cartões profissionais» permitiria reduzir a burocracia remanescente.

A iniciativa da Comissão de um Acto para o Mercado Único segue-se à apresen-


tação em Maio, pelo antigo comissário do Mercado Interno e da Concorrência,
Mario Monti, de um relatório sobre o modo como a UE deveria relançar e com-
pletar o mercado único, que foi solicitado pelo presidente da Comissão, José
Manuel Barroso, em Outubro de 2009. O Conselho Europeu de Junho congratu-
lou-se com o relatório. O relatório do Parlamento Europeu sobre a criação de um
mercado único ao serviço dos consumidores e cidadãos foi adoptado na reunião
plenária de Maio (33).

30
Em Dezembro, o Conselho aprovou (34) esta abordagem e, em particular, a tónica
nas preocupações das empresas e dos cidadãos que os impedem de tirar pleno
partido das vantagens do mercado único. Congratulou-se com a comunicação
da Comissão e sublinhou que o mercado único deverá centrar-se no reforço da
competitividade e do crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, bem
como na recuperação e reforço da confiança dos cidadãos e consumidores,
colocando-os no centro do mercado único, e da confiança das empresas no seu
acesso ao mercado único.

Não existe uma solução única para a criação de uma UE que esteja preparada
para o sucesso no século XXI. O reforço da estabilidade orçamental e financeira é
vital, tal como a visão constante da estratégia «Europa 2020». Mas o sucesso
provém da mobilização de todos os muitos recursos e facetas da UE para cons-
truir uma forma nova e sustentável de crescimento. A UE desenvolveu com vigor
e precisão renovados as suas políticas relativas ao mercado interno, à concorrên-
cia e à coesão. Ajudou os Estados-Membros não participantes na área do euro
(Letónia, Hungria e Roménia) com apoio às suas balanças de pagamentos.
E desenvolveu e explorou novas formas de cooperação entre as instituições da
UE. Em 2010, a UE actuou com uma nova coerência a fim de proporcionar uma
abordagem genuinamente abrangente.

© União Europeia
Mario Monti, antigo comissário responsável
pelo pelouro do Mercado Interno
e Concorrência.

31 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Os instrumentos da UE já estão a ter um impacto positivo
O Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, que apoia trabalhadores
despedidos na sequência da globalização e da crise económica, concedeu
52,3 milhões de euros em 2009 para ajudar cerca de 11 000 trabalhadores em
oito países. Foram aprovados pagamentos para a Irlanda, Espanha, Dinamarca,
Países Baixos e Portugal e as regras de acesso foram facilitadas. O Fundo co-
-financia a assistência na procura de emprego, a formação e reciclagem e o apoio
à criação de empresas. Tem uma taxa de sucesso elevada na ajuda para encon-
trar novos empregos.
O instrumento de microfinanciamento europeu «Progress» (35), acordado em
Março, está a ajudar as pessoas a permanecer nos empregos ou a arranjar novos
empregos. Concede empréstimos às pessoas que perderam os seus empregos e
que desejam criar a sua própria pequena empresa mas que não preenchem as
condições convencionais para acesso ao crédito. O seu orçamento inicial é de
100 milhões de euros, que poderá produzir um efeito de alavanca de mais de
500 milhões de euros em cooperação com instituições financeiras internacionais
como o Banco Europeu de Investimento.
Verificou-se uma melhoria nas perspectivas de luta contra os atrasos de paga-
mento nas transacções comerciais quando o Parlamento Europeu votou, em
Outubro, a favor de uma nova directiva que proporcionará uma melhor protec-
ção dos credores, em especial das numerosas pequenas empresas que depen-
dem de pagamentos atempados para salvaguardar os seus fluxos de tesouraria.
As autoridades públicas terão de efectuar os pagamentos num prazo de 30 dias
ou senão pagar uma taxa de juro de 8% — dando origem a um montante adicio-
nal de 180 mil milhões de euros de liquidez ao dispor das empresas.
Para facilitar o acesso das pequenas empresas ao financiamento, a UE criou o seu
programa Espírito Empresarial e Inovação e o seu fórum sobre o financiamento
das PME reuniu os bancos, as associações empresariais e outras partes interessa-
das a fim de debater a forma de melhorar os fluxos de financiamentos para as
empresas.
As regras que regem os fundos estruturais e de Coesão foram simplificadas em
Junho, facilitando o acesso ao financiamento — particularmente importante
numa altura em que a pressão sobre os orçamentos públicos torna mais difícil
aos governos e regiões proporcionar financiamentos de contrapartida. A acele-
ração da execução de projectos no terreno mediante a redução da burocracia
também ajuda as economias nacionais e regionais a recuperar.

32
notas

(1) Comunicação da Comissão «Europa 2020 — Estratégia de crescimento inteligente, (19) Orientações relativas às restrições verticais (JO C 130 de 19 de Maio de 2010, p. 1).
sustentável e inclusivo» [COM(2010) 2020]. (20) Proposta de Regulamento relativo aos auxílios estatais destinados a facilitar o
(2) Declaração dos chefes de Estado e de Governo da área do euro (PCE 86/10 de encerramento de minas de carvão não competitivas [COM(2010) 372].
7.5.2010) (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/
(21) Plano de acção plurianual para o desenvolvimento (http://www.g20.utoronto.
ec/114296.pdf ).
ca/2010/g20seoul-development.pdf ).
(3) Conclusões do Conselho Extraordinário Assuntos Económicos e Financeiros, 9 e 10 de
(22) Comunicação da Comissão «Comércio, crescimento e questões internacionais»
Maio de 2010 (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/
[COM(2010) 612].
en/ecofin/114324.pdf )
(23) Decisão 2010/707/UE do Conselho relativa às orientações para as políticas de
(4) Conselho do Eurogrupo/Ecofin de 6 e 7 de Dezembro.
emprego dos Estados-Membros (JO L 308 de 24.11.2010, p. 46).
(5) Comunicação da Comissão «Reforçar a coordenação da política económica»
(24) Comunicação da Comissão «Uma agenda digital para a Europa» [COM(2010) 245].
[COM(2010) 250].
(25) Recomendação 2010/572/UE da Comissão sobre o acesso regulamentado às redes de
(6) Proposta de Regulamento relativo à aceleração e clarificação da aplicação do
acesso da próxima geração (NGA) (JO L 251 de 25.9.2010, p. 35).
procedimento relativo aos défices excessivos [COM(2010) 522].
Proposta de decisão que estabelece o primeiro programa da política do espectro
(7) Proposta de Regulamento relativo à aplicação eficaz da supervisão orçamental na radioeléctrico [COM(2010) 471].
área do euro [COM(2010) 524]. Comunicação da Comissão «Banda larga europeia: investir no crescimento induzido pelas
(8) Proposta de Directiva que estabelece requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais tecnologias digitais» [COM(2010) 472].
dos Estados-Membros [COM(2010) 523]. (26) Comunicação da Comissão «Iniciativa emblemática no quadro da estratégia ‘Europa
(9) Proposta de Regulamento sobre a prevenção e correcção dos desequilíbrios 2020’» — «União da Inovação» [COM(2010) 546].
macroeconómicos [COM(2010) 527]. (27) Comunicação da Comissão «Juventude em Movimento — Uma iniciativa para
(10) Proposta de Regulamento relativo às medidas de execução para corrigir os explorar o potencial dos jovens e garantir um crescimento inteligente, sustentável e
desequilíbrios macroeconómicos excessivos na área do euro [COM(2010) 525]. inclusivo na União Europeia» [COM(2010) 477].
(11) Proposta de Regulamento relativa à supervisão macroprudencial comunitária do (28) Comunicação da Comissão «Uma política industrial integrada para a era da globalização
sistema financeiro e que cria um Comité Europeu do Risco Sistémico — Competitividade e sustentabilidade em primeiro plano» [COM(2010) 614].
[COM(2009) 499]. (29) Comunicação da Comissão intitulada «A Europa, primeiro destino turístico no mundo
(12) Directiva relativa a gestores de fundos de investimento alternativos, votada pelo — Um novo enquadramento político para o turismo europeu», COM(2010) 352.
Parlamento Europeu em 11 de Novembro e que aguarda adopção pelo Conselho. (30) Quinto Relatório da Comissão sobre a Coesão Económica, Social e Territorial, 10 de
(13) Proposta de Regulamento relativo aos derivados OTC, às contrapartes centrais e aos Novembro, (http://ec.europa.eu/regional_policy/cohesion_report).
repositórios de transações [COM(2010) 484]. (31) Conclusões do Conselho Ambiente de 20 de Dezembro.
(14) Comité das Autoridades Europeias de Supervisão Bancária, 10 de Dezembro. (32) Comunicação da Comissão «Um acto para o mercado único» [COM(2010) 608].
(15) Comunicação da Comissão «Um enquadramento da UE para a gestão de crises no (33) Relatório do Parlamento Europeu, de 3 de Maio de 2010, sobre um mercado único ao
sector financeiro» [COM(2010) 579]. serviço dos consumidores e cidadãos (http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.
(16) http://ec.europa.eu/internal_market/bank/regcapital/index_en.htm do?language=EN&reference=A7-0132/2010).
(17) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=MEMO/10/304&format=H (34) http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/intm/118409.
TML&aged=0&language=EN&guiLanguage=en pdf
(18) Regulamento (UE) n.° 330/2010 da Comissão de 20 de Abril de 2010 (35) Decisão n.° 283/2010/UE que estabelece um instrumento de microfinanciamento
(JO L 102 de 23.4.2010, p. 1). europeu «Progress» para o Emprego e a Inclusão Social (JO L 87 de 7.4.2010, p. 1).

33 R e l ató r i o G e r a l 2010 | N a v i a da r e c u p e r aç ão
Capítulo 2
Um projecto para os cidadãos:
colocar as pessoas no centro
da acção europeia
O objectivo da estratégia da Comissão Europeia «Europa
2020 para o crescimento e o emprego», adoptada em
Março de 2010, é, em última análise, beneficiar os
cidadãos europeus. Já o Tratado de Lisboa, em vigor desde
Dezembro de 2009, o assinalara. Os interesses dos
cidadãos e a legitimidade democrática da União foram
reiterados pelo reforço do papel do Parlamento Europeu
como co-legislador na maioria das áreas e de uma maior
participação por parte dos parlamentos nacionais,
tornando a UE mais responsável pelas suas acções. Em
segundo lugar, a introdução da votação por maioria
qualificada no Conselho na maior parte dos domínios de
intervenção irá simplificar a tomada de decisões. Por
último, o controlo jurisdicional será melhorado, na medida
em que o Tribunal de Justiça da União Europeia assume
agora a supervisão judicial de todos os aspectos de
liberdade, segurança e justiça e a Carta dos Direitos
Fundamentais passa a ser juridicamente vinculativa na
União Europeia.

Abrindo caminho a uma União Europeia (UE) mais


eficiente, democrática e responsável, o Tratado confere
maior atenção aos interesses dos cidadãos da UE,
colocando-os mais firmemente que nunca no centro das
actividades e dos objectivos da UE. A iniciativa de
cidadania europeia constitui um exemplo evidente desta
nova prioridade.

No início deste ano, no começo do mandato da Comissão,


o presidente Barroso criou duas novas pastas, a primeira
das quais explicitamente dedicada à justiça, aos direitos
fundamentais e à cidadania, que confiou a um dos seus
vice-presidentes — um claro sinal político de reconheci-
mento da importância capital da acção da UE neste
domínio. A outra pasta, dos assuntos internos, inclui a
importante e delicada tarefa de garantir que todas as
actividades necessárias e benéficas para o crescimento
económico, cultural e social da UE se desenvolvem num
ambiente legal e seguro. Também abrange todas as
actividades relacionadas com a gestão dos fluxos
migratórios, a protecção das pessoas vítimas de persegui-
ção e os controlos nas fronteiras externas.

Um dos aspectos mais proeminentes da nova prioridade


concedida aos cidadãos consiste em tornar os benefícios
mais tangíveis na área da liberdade, da segurança e da
justiça, As acções desta área inscrevem-se no âmbito do
programa de Estocolmo, que destaca sobretudo os
interesses e as necessidades dos cidadãos, além de referir
como é preciso assegurar o respeito pelas liberdades
fundamentais e pela integridade, garantindo simultanea-
mente a segurança. Conseguiram-se progressos substan-
ciais ao longo do ano no que diz respeito à concretização
deste programa e aos primeiros resultados do mesmo.

A UE continua a ir ao encontro das preocupações e dos


interesses dos cidadãos, através de intervenções numa
vasta gama de domínios políticos que afectam a sua vida
quotidiana, da saúde e da educação até à cultura e aos
transportes, passando pelos direitos dos consumidores e
pela protecção civil.
U m a á r e a de l i b e r da de, s e g u r a n ç a e j u s t i ç a pa r a o s cida dão s
Em Dezembro de 2009, o Conselho Europeu aprovou o «Programa de
Estocolmo — Uma Europa aberta e segura que sirva e proteja os
cidadãos» (1). Este programa abrange acções nos domínios dos direitos
fundamentais, da justiça civil e penal, dos direitos dos consumidores e
da cidadania, da segurança, do asilo, da imigração e da gestão das
fronteiras. Estabelece igualmente orientações políticas para futuras
evoluções na área da liberdade, da segurança e da justiça durante os
próximos cinco anos. Em Abril, a Comissão adoptou um plano de
acção (2) para transformar o conceito em realidade, traduzindo a
orientação política dada pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento
Europeu (3) em acções concretas, com um calendário e resultados claros.
Segundo o plano de acção da Comissão, a principal tarefa da União Europeia neste
domínio, nos próximos anos, será consolidar o progresso efectivo no sentido de uma
Europa onde as pessoas possam viver, trabalhar e viajar em segurança, confiantes de
que seus direitos são plenamente respeitados. No que se refere aos direitos funda-
mentais e à justiça, o plano de acção da Comissão inclui as seguintes propostas:

melhorar a protecção dos dados dos cidadãos em todas as políticas da UE


(incluindo a aplicação da lei e a prevenção da criminalidade) e nas relações com
parceiros internacionais, nomeadamente com os Estados Unidos. A directiva da
UE sobre protecção de dados, de 1995, será modernizada para responder aos
novos desafios tecnológicos;
reforçar os direitos dos acusados ou arguidos em processos penais a um
julgamento justo, com propostas relativas à informação sobre as acusações,
prestação de assessoria jurídica, comunicação com familiares, incluindo salva-
guardas especiais para pessoas vulneráveis;
reduzir a burocracia para cidadãos e empresas, garantindo que as decisões
judiciais e os documentos civis são reconhecidos através das fronteiras sem
procedimentos complicados ou excessivamente onerosos;
simplificar a cobrança transfronteiras das dívidas e modos alternativos de
resolução dos litígios. Actualmente, as empresas apenas recuperam 37% de
dívidas transfronteiras;
impulsionar o comércio em linha, oferecendo às empresas um direito euro-
peu dos contratos opcional. Na Europa, em 2008, das transacções efectuadas
pela web apenas 7% foram transfronteiras;
melhorar a protecção dos cidadãos que viajam fora dos seus países de origem
na UE quando reservam uma viagem organizada ou introduzem um pedido
de indemnização após um acidente de viação. Nas viagens fora da UE os
cidadãos beneficiarão de melhor protecção consular.
Para garantir a segurança dos cidadãos europeus e uma melhor gestão dos flu-
xos migratórios, o plano de acção de aplicação do Programa de Estocolmo prevê
as seguintes propostas:

definir uma estratégia global de segurança interna da UE que incida sobre as


ameaças mais urgentes em matéria de segurança que pairam sobre a Europa;
negociar um acordo de longo prazo com os Estados Unidos sobre o trata-
mento e a transferência de dados relativos a mensagens de pagamentos
para efeitos de luta contra o terrorismo (Programa de Detecção do Financia-
mento do Terrorismo, PDFT);
promover uma abordagem da UE sobre a utilização dos dados dos registos
de identificação dos passageiros (UE-PNR) para efeitos da aplicação da lei e
criar um quadro europeu para a comunicação de dados PNR a países terceiros;

36
proteger os cidadãos europeus da cibercriminalidade mediante a criminali-
zação da usurpação de identidade, bem como do software maligno utilizado
para atacar os sistemas de informação;

reforçar a segurança nas fronteiras mediante a introdução de um sistema de


entrada-saída, facilitar a passagem nas fronteiras de nacionais de países ter-
ceiros através do Programa de Viajantes Registados e analisar uma aborda-
gem europeia da introdução de um sistema electrónico de autorização de
viagem (UE ESTA);

avaliar e, se necessário, alterar a directiva relativa à conservação de dados;

definir as condições de entrada e de residência dos nacionais de países ter-


ceiros para efeitos de emprego sazonal e de transferências interempresas;
introduzir um sistema comum de asilo da UE e promover a solidariedade
entre os Estados-Membros;

combater a exploração sexual de crianças, assim como a pornografia infantil,


em especial tendo em conta o desenvolvimento da Internet e a simplificação
das viagens internacionais;

combater a escravatura moderna de forma mais eficaz, reforçando a criminali-


zação dos traficantes e a protecção das vítimas do tráfico de seres humanos;

garantir que o crime não compensa, adoptando medidas mais eficazes no que
se refere à apreensão dos lucros provenientes de actividades criminosas.

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A Iniciativa de Cidadania Europeia: ao
Dar mais voz aos cidadãos europeus: a iniciativa de cidadania europeia abrigo das disposições do Tratado de Lisboa,
Esta inovação foi introduzida pelo Tratado de Lisboa. Se um número suficiente os cidadãos conquistaram novos direitos
de cidadãos partilhar um ponto de vista (sendo necessário, no mínimo, um para terem voz activa nas políticas da UE.
milhão de assinaturas para o comprovar), a iniciativa de cidadania europeia per-
mite-lhes convidar a Comissão a apresentar propostas legislativas em domínios
no âmbito dos quais o Tratado atribui competências à UE.
Dada a oportunidade única, proporcionada por este instrumento, de uma maior
aproximação da União em relação aos seus cidadãos, e após uma ampla consulta
pública realizada no início do ano, a Comissão propôs disposições para enqua-
drar esta iniciativa e permitir que os cidadãos pudessem começar a beneficiar
deste novo direito o mais rapidamente possível.
Em Dezembro, o Parlamento Europeu e o Conselho chegaram a um acordo sobre
as referidas disposições (1) mediante o qual se assegurará que as iniciativas dos
cidadãos sejam representativas de um interesse da UE, garantindo ao mesmo
tempo que o instrumento continua a ser facilmente utilizável pelos cidadãos. As
declarações de apoio dos cidadãos têm de ser recolhidas no prazo de um ano a
partir da data de registo da iniciativa proposta. Este novo instrumento deverá
contribuir para incrementar o debate transfronteiras sobre as políticas da UE.

37 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Construir uma Europa dos cidadãos:
justiça, direitos fundamentais e cidadania
Justiça
Com base no plano de acção de aplicação do Programa de Estocolmo, a Comissão
lançou um ambicioso programa de reformas da justiça, abrangendo os domínios
civil e penal.

Em matéria civil, a Comissão propôs um novo quadro normativo para divórcios


transfronteiras. O novo quadro (denominado «Regulamento Roma III») permite a
casais compostos por nacionais de dois Estados-Membros diferentes, que vivam
em países diferentes ou num mesmo país que não seja o seu país de origem, esco-
lher com maior grau de segurança jurídica o direito aplicável ao seu divórcio e à sua
separação legal. Na UE existem 16 milhões de casais internacionais. Como o Regu-
lamento Roma III foi bloqueado no Conselho de Ministros, pois nem todos os Esta-
dos-Membros estavam dispostos a participar, a Comissão recorreu, em Março e
pela primeira vez na história da União, à cooperação reforçada. Este procedimento,
instituído pelo Tratado de Amesterdão, permite à Comissão avançar em determi-
nada matéria com um pequeno grupo de Estados-Membros, na condição de que
esta cooperação reforçada permaneça aberta a todos os Estados-Membros que
venham a decidir juntar-se ao grupo. Tanto o Parlamento Europeu como o Conse-
lho acordaram na utilização da cooperação reforçada neste caso e, no final do ano,
14 Estados-Membros tinham decidido aderir às novas regras para os divórcios
transfronteiras. Assim se constituiu um precedente para a subsequente proposta
da Comissão de utilização da cooperação reforçada em relação à patente da União.

Em Junho, o Tribunal de Justiça da União Europeia clarificou algumas disposições


relativas ao reconhecimento e à execução de sentenças que determinem o
retorno de uma criança que tenha sido deslocada ilicitamente. Trata-se de uma
aplicação do regulamento relativo à competência, ao reconhecimento e à execu-
ção de decisões em matéria matrimonial e de regulação do poder paternal (5).

Em 1 de Julho, a Comissão deu prioridade à questão de um direito europeu dos


contratos através da publicação de um livro verde, da criação de um grupo de
peritos em Direito dos Contratos e da constituição de um fórum de auscultação
das organizações empresariais, organizações de consumidores e de profissionais
do Direito para debater esta matéria. O objectivo da Comissão é, entre outros,
criar um regime europeu para determinados contratos (o chamado «28.º
regime»), que poderia ser escolhido pelas partes contratantes para as respectivas
transacções no mercado único da UE. A Comissão deseja, sobretudo, que as
pequenas e médias empresas possam oferecer os seus produtos e serviços a
consumidores de outros países sem precisarem de especialização em direito dos
contratos de todos os outros 26 Estados-Membros. Com o livro verde, a Comissão
lançou uma consulta pública que deve terminar em Janeiro de 2011. Estão pre-
vistas propostas legislativas no decorrer do ano.

38
Em Agosto, a Comissão apelou a que se poupasse tempo e dinheiro na resolução
dos litígios transfronteiras através da mediação: na verdade, o potencial das
actuais disposições da UE sobre a mediação neste tipo de litígios só é concretizá-
vel se as mesmas forem aplicadas pelos Estados-Membros a nível nacional. Os
Estados-Membros dispõem de um prazo que vai até Maio de 2011 para imple-
mentar a directiva sobre mediação, acordada em 2008.

Em Dezembro, a Comissão propôs novas medidas para reduzir os custos e a Um novo sítio web jurídico para todos
burocracia que recaem sobre os cidadãos e as empresas aquando do reconheci- Em Julho, a Comissão lançou um portal de
mento das sentenças judiciais e das certidões de registo civil. Os objectivos de justiça electrónica (e-justice) (6), que constitui
tais medidas são a eliminação dos custos legais (em média, 2 000 euros) actual- um ponto de encontro para cidadãos e
juristas, destinado a facilitar o acesso à
mente exigidos — de um modo geral como pura formalidade jurídica — para se
justiça e a ajudar quem procure
poder dispor do reconhecimento de uma decisão judicial noutro país da UE e
aconselhamento sobre problemas jurídicos
para garantir a possibilidade de circulação de documentos públicos (como um transfronteiras, tanto em matéria civil como
contrato ou um acto de compra de uma propriedade) sem necessidade de for- em matéria penal.
malidades adicionais. As iniciativas propostas reduzirão a burocracia, poupando
dinheiro às empresas e aos consumidores, reforçando simultaneamente o mer-
cado único e facilitando a vida das pessoas que vivem e trabalham noutros
Estados-Membros da UE. A Comissão procurou ainda obter soluções para facilitar
as transacções transfronteiras, com o lançamento de um livro verde sobre as
opções políticas aptas a conseguir progressos no sentido de um direito europeu
dos contratos para os consumidores e as empresas, e ocupou-se dos obstáculos
fiscais às operações transfronteiras.

Em matéria penal, foi prioridade da Comissão reforçar o direito a um julgamento


justo na UE. A Comissão propôs, em Março, nova legislação para ajudar pessoas
em toda a UE, nos casos em que não dominem a língua do processo penal em
que estão envolvidas. A proposta implica que os Estados-Membros devem
garantir que suspeitos ou acusados dispõem de serviços de interpretação e de
tradução de documentos essenciais. A Comissão também propôs, em Julho,
legislação sobre o direito à informação, sugerindo um modelo indicativo de uma
carta dos direitos que enuncie os direitos fundamentais dos suspeitos e acusa-
dos em processos penais. Como há mais europeus a viajar, estudar e trabalhar
fora do seu país de origem, o facto de garantir tais direitos na UE contribui para
instaurar uma confiança mútua entre juízes e cidadãos, fomentando além disso
a aplicação do princípio do reconhecimento mútuo das decisões judiciais em
matéria penal. Consequentemente, as probabilidades de êxito da aplicação das
medidas da UE de luta contra o crime baseadas no reconhecimento mútuo —
como seja o mandado de detenção europeu — aumentam. O Parlamento Euro-
peu e o Conselho aprovaram a directiva relativa ao direito à interpretação e
tradução em Outubro; e o Conselho apoiou politicamente a directiva sobre o
direito à informação em Dezembro.

39 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Em Julho, a Comissão lançou uma consulta pública sobre a forma de melhorar os
direitos das vítimas em processos penais tendo em vista a elaboração de propos-
tas em 2011.

A cooperação entre as autoridades judiciais dos Estados-Membros é um ele-


mento fundamental para combater eficazmente a criminalidade transfronteiras.
Eurojust e a rede judiciária europeia em matéria penal têm contribuído constan-
temente para estabelecer contactos directos entre os juízes nacionais e para
coordenar a investigação no âmbito de crimes transfronteiras.

Direitos fundamentais
O Tratado de Lisboa torna a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia
(redigida em 1999/2000 por uma Convenção), juridicamente vinculativa e con-
fere-lhe o mesmo estatuto jurídico que os Tratados da UE. A Carta deve ser res-
peitada em primeiro lugar pelas instituições da UE aquando do processo legisla-
tivo ou de tomada de decisões. Assim, o novo colégio de comissários ao prestar
juramento perante o Tribunal de Justiça, em 3 de Maio de 2010, fê-lo com base
não só nos Tratados mas também na Carta. Além disso, Comissão adoptou, em
Outubro, uma estratégia segundo a qual todas as novas medidas propostas pela
Comissão ou por outras instituições são verificadas mediante comparação com
uma «lista de controlo dos direitos fundamentais», para garantir a respectiva
compatibilidade com a Carta. Por outro lado, os cidadãos devem estar cientes
das circunstâncias em que podem invocar a Carta, a qual se aplica em primeiro
lugar às instituições da UE e só depois aos Estados-Membros quando estes
implementam a legislação da UE. A Carta, portanto, complementa, mas não
substitui os ordenamentos constitucionais nacionais com os seus próprios siste-
mas de protecção dos direitos fundamentais.

Para completar o sistema de protecção dos direitos fundamentais da UE, o Tra-


tado de Lisboa exige ainda que a UE integre a Convenção para a Protecção dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais do Conselho da Europa. Para
o efeito, em 7 de Julho a Comissão, mandatada pelo Conselho, encetou negocia-
ções com o Conselho da Europa. Os principais objectivos das negociações são
assegurar a integração eficaz do sistema jurídico da União em matéria de protec-
ção dos direitos fundamentais no sistema do Conselho da Europa sem deixar de
preservar a autonomia da ordem jurídica da União. Após a conclusão bem suce-
dida destas negociações, e a ratificação pelo Conselho, o Parlamento Europeu, os
27 Estados-Membros da UE, bem como os outros 20 Estados membros do Con-
selho da Europa, as pessoas, uma vez esgotados os recursos internos, poderão
dirigir-se ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em Estrasburgo, para
denunciar alegadas violações dos direitos fundamentais pela UE. Além disso,
a UE designará um juiz seu em representação da ordem jurídica da União no
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
© União Europeia

Viviane Reding, a vice-presidente da


Comissão responsável pela Justiça, Direitos
Fundamentais e Cidadania, numa
conferência de imprensa, em Setembro.
40
Um importante direito fundamental na agenda da UE ao longo do ano foi a
protecção da privacidade e dos dados (artigos 7.º e 8.º da Carta). Em Novembro,
a Comissão definiu uma estratégia para proteger os dados pessoais em todos os
seus domínios de actuação, inclusive a aplicação da lei, reduzindo em simultâ-
neo a burocracia para as empresas e garantindo a livre circulação de dados na
UE. Propôs a modernização do quadro da UE para a protecção dos dados
mediante o reforço dos direitos dos indivíduos, a consolidação da dimensão de
mercado único, a revisão das disposições relativas à protecção dos dados no
domínio da polícia e da justiça penal, a garantia de elevados níveis de protecção
dos dados transferidos para fora da UE e uma aplicação mais eficaz da regula-
mentação. A Comissão Europeia obteve o mandato do Conselho para negociar
um acordo de protecção de dados pessoais entre a União Europeia e os Estados
Unidos no âmbito da cooperação em matéria de luta contra o terrorismo e a cri-
minalidade. O objectivo é assegurar um nível elevado de protecção das informa-
ções pessoais, transferidas e processadas para efeitos da aplicação da lei como
parte da cooperação transatlântica.

A igualdade e a não discriminação continuaram a desempenhar um papel


importante na agenda da UE em matéria de direitos fundamentais, em 2010. Em
Janeiro, o Tribunal de Justiça da União Europeia confirmou, no que respeita ao
direito do trabalho alemão, a existência do princípio da não discriminação em
razão da idade e o papel dos tribunais nacionais na aplicação do mesmo (7).
Numa sentença posterior, o Tribunal de Justiça aplicou este princípio, conside-
rando que privar um trabalhador de uma compensação por cessação de funções
devido ao facto de ele poder receber uma pensão de velhice constituía uma
discriminação em razão da idade (8).

Em Março, a Comissão adoptou a Carta das Mulheres, enunciando a prioridade


política dada aos direitos fundamentais da igualdade entre homens e mulheres
no trabalho da nova Comissão. Nesta base, a Comissão adoptou, em Setembro,
uma estratégia quinquenal para promover a igualdade entre homens e mulhe-
res. Esta estratégia destina-se, em especial, a utilizar melhor o potencial das
mulheres, contribuindo, assim, para a realização dos objectivos económicos e
sociais gerais da UE. Os objectivos vão desde o aumento do número de mulheres
nos órgãos de fiscalização de sociedades cotadas em Bolsa até à abordagem do
problema da violência contra as mulheres.

Em Novembro, a Comissão apresentou uma estratégia sobre a deficiência a pôr


em prática ao longo de 10 anos, para construir uma Europa mais acessível e sem
barreiras. A normalização e os contratos públicos são elementos essenciais que a
Comissão irá utilizar para este efeito nos próximos anos. A Comissão analisará
igualmente a viabilidade de uma «lei europeia da acessibilidade».

41 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Os desafios da integração social e económica dos ciganos, o maior grupo étnico
minoritário da Europa, bem como as questões conexas da liberdade de circula-
ção, mereceram especial atenção da UE em 2010. A Comissão incluiu esta questão
na sua agenda, em 7 de Abril, com a comunicação «A integração social e econó-
mica dos ciganos na Europa» (9). Em seguida, a remoção dos ciganos da França, no
Verão de 2010, provocou diversas reacções e intervenções da Comissão, em
Agosto, Setembro e Outubro. A questão foi intensamente debatida no Conselho
Europeu de Setembro, bem como no Parlamento Europeu. Como resultado,
a França, assim como outros Estados-Membros adaptaram o respectivo ordena-
mento jurídico às exigências da directiva da UE, de 2004, sobre a livre circulação.
A Comissão criou uma task force «Ciganos» para analisar em que medida os fun-
dos nacionais e da UE estão a ser efectivamente utilizados para projectos de
ajuda à integração social e económico dos ciganos, tanto nos países de origem
como nos países de acolhimento. As primeiras conclusões apresentadas por esta
task force em Dezembro revelam que é necessária uma estratégia da UE de finan-
ciamento mais específico da integração dos ciganos por parte de todos os Esta-
dos-Membros. Essa estratégia foi, assim, incluída no programa de trabalho da
Comissão para o primeiro semestre de 2011.
© Vadim Ghirda / AP / Reporters

A situação dos ciganos nos seus países de


origem, bem como em muitos países de Na sequência da comunicação de 2006 «Rumo a uma Estratégia da UE sobre os
acolhimento em toda a UE foi notícia em Direitos da Criança» (10), foi criada a linha de emergência 116000, que permite às
2010. Na imagem, um grupo de ciganas
crianças desaparecidas e aos respectivos pais pedirem ajuda a partir de qualquer
assiste a um festival anual em Costesti,
local da UE. Três anos após a adopção, esta linha funciona em 13 Estados-Mem-
na Roménia.
bros. A Comissão Europeia aprovou em Novembro uma comunicação com o
objectivo de oferecer ajuda prática aos restantes 14 países da UE que ainda não
implementaram a linha de emergência, garantindo um serviço de alta qualidade
em toda a UE.

42
Cidadãos
Em Outubro, a Comissão publicou um plano de 25 pontos para proporcionar O Relatório sobre a Cidadania da UE
benefícios concretos aos cidadãos da UE que se encontrem em circulação. identificou lacunas entre as disposições e
O Relatório sobre a Cidadania da UE, adoptado em 27 de Outubro, pretende a realidade: os cidadãos continuam a ser
reforçar a mobilidade, eliminando os obstáculos com que os cidadãos ainda se confrontados com obstáculos no
quotidiano, especialmente em situações
deparam no exercício do seu direito de se deslocarem para um Estado-Membro
transfronteiras. Os problemas
que não seja o da sua origem, aí estudarem ou trabalharem, criarem uma
frequentemente encontrados incluem
empresa, fundarem família ou reformarem-se. O Tribunal de Justiça deliberou complicações administrativas aquando do
que os cidadãos têm direito a residir noutro Estado-Membro puramente como registo de um carro comprado noutro
cidadãos da União (11), reconhecendo assim a cidadania da UE como uma fonte Estado-Membro, normas complexas em
de direitos de livre circulação. matéria de reembolso de cuidados de
saúde obtidos noutros países, ou
A Comissão está a actuar no sentido de garantir que esses direitos sejam plenamente dificuldades em obter serviços consulares
respeitados. Tais direitos são igualmente importantes quando os cidadãos viajam, se de outro Estado-Membro quando os
casam, compram ou herdam bens, votam, recebem cuidados médicos ou tão-só cidadãos se encontram num país em que
fazem compras em linha a empresas estabelecidas noutros Estados-Membros. o seu Estado-Membro de origem não tem
uma representação.
As 25 medidas concretas propostas que a Comissão tenciona tomar nos próxi-
mos três anos irão facilitar a vida dos cidadãos da UE quando estes exercem os
seus direitos noutro Estado-Membro, simplificando formalidades e condições
requeridas para muitas destas diligências. As medidas propostas incluem a
actualização das regras que protegem as pessoas em viagem de férias contra
a falência do seu operador turístico durante a viagem, o reforço do direito à
protecção consular dos cidadãos da UE no estrangeiro, a prestação de ajuda aos
consumidores para obterem compensação se tiverem problemas com um ope-
rador de outro país, a simplificação e a aceleração das transferência dos direitos
de segurança social das pessoas que trabalham noutro país da UE. Os proprietá-
rios de automóveis vão beneficiar da simplificação da documentação necessária
para o registo de automóveis comprados noutro país da UE, e as pequenas
empresas vão dispor de regras contabilísticas simplificadas.

No que diz respeito à cidadania europeia, o Tribunal de Justiça da União Europeia


deliberou que a revogação duma naturalização obtida fraudulentamente podia
resultar na perda de cidadania da União. Todavia, a decisão de revogação teria de
respeitar o princípio da proporcionalidade (12).

Crescente mobilidade dos cidadãos da UE


Cerca de 12 milhões de cidadãos europeus vivem num país da UE diferente
daquele em que nasceram. Muitos outros têm experiências transfronteiras
quando viajam, estudam ou trabalham, eventualmente se casam ou se divor-
ciam, compram ou herdam bens, votam, recebem cuidados de saúde, ou tão-só
fazem compras em linha. Existem 16 milhões de casamentos de dimensão trans-
fronteiras. Cerca de 2 milhões de estudantes europeus estudaram noutro Estado-
-Membro desde o lançamento do programa Erasmus. Consequentemente, são
numerosos os que aspiram a utilizar os seus direitos como cidadãos europeus.
No entanto, há muitos que ainda o não podem fazer. Além disso, importa assina-
lar que mais de 30 milhões de outros cidadãos da UE vivem em permanência em
países terceiros, mas que só em três destes países (os Estados Unidos, a China e a
Rússia) os 27 Estados-Membros estão representados.

43 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Assuntos Internos: uma Europa aberta e segura
Neste domínio, as políticas promovem um ambiente estável, legal e seguro,
onde todos devem viver em segurança, associando-se para combater a crimina-
lidade organizada e transfronteiras, bem como o terrorismo; um espaço sem
fronteiras internas onde os cidadãos da UE e nacionais de países terceiros podem
entrar, mover-se, viver e trabalhar.

Uma União Europeia mais segura Segurança


Após ter feito o balanço, numa Para se tornar eficaz, a estratégia «Europa 2020» tem de ser implementada num
comunicação de Julho, das realizações e ambiente seguro e legal. A Comissão procedeu a uma avaliação dos seus instru-
dos desafios na política da UE de luta mentos e ferramentas para assegurar um justo equilíbrio entre a segurança e os
contra o terrorismo, a Comissão definiu
direitos dos cidadãos. Tomou iniciativas para aumentar a segurança do conjunto
uma estratégia de segurança interna, em
dos cidadãos da UE — designadamente, no que se refere à prevenção do terro-
Novembro. Essa estratégia identifica cinco
prioridades em que a UE pode introduzir
rismo e da criminalidade organizada.
um valor acrescentado real: criminalidade A Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação foi também
grave e organizada, terrorismo,
alterada, a fim de aumentar as capacidades transfronteiras europeias aptas a
cibercriminalidade, gestão das fronteiras e
prevenir e detectar mais eficazmente os incidentes que ameacem a segurança
catástrofes naturais e de origem humana.
das redes e da informação, assim como a reagir melhor a esses incidentes.
A estratégia estabelece uma nova
abordagem comum para responder a Foi negociado um acordo de longo prazo com os Estados Unidos sobre o trata-
ameaças e desafios. Abrange 2011-2014, mento e a transferência de dados financeiros para efeitos de luta contra o terro-
e prevê uma acção baseada em provas
rismo (o Acordo PDFT — ver caixa), que entrou em vigor em Agosto. Em Setem-
sólidas e numa apreciação das ameaças e
bro, foi apresentada uma proposta de regulamento que define normas comuns
dos riscos, respeitando muito embora os
direitos fundamentais e a protecção dos para limitar o acesso a produtos químicos que possam ser utilizados incorrecta-
dados pessoais. mente para fabricar explosivos caseiros («precursores»).

Programa UE-EUA de detecção do financiamento do terrorismo


Este acordo sobre a transferência de dados relativos a mensagens de pagamen-
tos provenientes da Europa, permite proceder a pesquisas orientadas para inves-
tigações antiterroristas no âmbito do programa norte-americano de detecção
do financiamento do terrorismo. Foi conseguido após negociações difíceis,
tendo em vista assegurar um nível de protecção adequado aos dados dos euro-
peus. Segundo os termos do acordo (13), a Europol verifica todos os pedidos das
autoridades norte-americanas antes que qualquer dado seja transferido e um
controlador da UE independente está instalado em Washington para controlar o
respeito pelas rigorosas exigências do acordo sempre que os funcionários norte-
-americanos consultem as informações transmitidas. O funcionamento será
regularmente reexaminado, a partir de Fevereiro de 2011, e a Comissão comuni-
cará os resultados ao Parlamento Europeu e ao Conselho. Em Novembro, a
Comissão começou a trabalhar na criação de um sistema europeu equivalente,
que poderá acabar por permitir a extracção de dados no território da UE, pondo
assim termo à transferência de dados em massa para os EUA.

Na luta contra o terrorismo, o Tribunal de Justiça especificou o alcance do regu-


lamento do Conselho, que tinha imposto o congelamento de fundos e outros
recursos económicos de pessoas associadas a Osama Bin Laden, à rede Al-Qaida
e aos talibã (14). O Tribunal deliberou também, nomeadamente, que o congela-
mento de fundos não se aplica a determinadas prestações de segurança social
pagas aos cônjuges (15).

Estatuiu igualmente que as decisões do Conselho que incluíam o DHKP-C [Par-


tido/Frente Revolucionário(a) Popular de Libertação na Turquia] em listas rela-
cionadas com medidas de luta contra o terrorismo anteriores a Junho de 2007,
adoptadas em violação de garantias processuais fundamentais, não podem de
forma alguma constituir qualquer base para acções penais contra membros
desta organização que não se encontrem nessas listas (16).

44
O Tribunal Geral anulou certas medidas do Conselho que impunham o congela-
mento dos fundos do Stichting Al-Aqsa no contexto da luta contra o terrorismo (17).

Uma comunicação, adoptada em Julho, sobre o intercâmbio de informação no


domínio da justiça, da liberdade e da segurança estabelece os princípios funda-
mentais para o desenvolvimento de futuras iniciativas de segurança interna.
Propõe igualmente um modelo europeu de intercâmbio de informações, a fim
de tornar a partilha de dados por autoridades públicas mais clara para os cida-
dãos europeus em causa.

Em Setembro foi aprovada uma comunicação sobre uma estratégia de transfe-


rência de códigos de registo da reserva (Passenger name records, PNR) para
outros países. Os dados PNR têm mostrado ser um instrumento valioso na luta
contra a criminalidade transnacional grave e o terrorismo, mas, por outro lado,
suscitam importantes questões sobre a protecção dos dados pessoais. A comu-
nicação da Comissão incidiu essencialmente na protecção dos dados pessoais
dos passageiros e nos mecanismos de transferência destes dados. Sublinhou
também a importância da partilha de informações analíticas obtidas a partir dos
PNR com autoridades policiais e judiciais na UE, como contribuição para a segu-
rança dos cidadãos europeus. Esta comunicação vinha acompanhada de três
mandatos de negociação para acordos com os Estados Unidos, a Austrália e o
Canadá, que foram aprovados pelo Conselho em Dezembro.

O recurso a scanners corporais nos aeroportos foi avaliado e a Comissão instou os


Estados-Membros a adoptarem normas comuns para a sua utilização, bem como
a respeitarem plenamente os direitos fundamentais (designadamente no respei-
tante à dignidade humana, à privacidade pessoal) se optarem por pôr em funcio-
namento os referidos scanners. Em resposta a novas ameaças à aviação civil, um
grupo de trabalho ad hoc de alto nível, co-presidido pela Comissão e pela Presi-
dência belga estudou possíveis melhorias nos sistemas de segurança para carga
e correio. Este trabalho foi realizado em estreita cooperação com os Estados-
-Membros e os operadores económicos, com base na avaliação dos riscos e das
ameaças, bem como numa melhor integração com os serviços de informação.
O relatório deste grupo, com recomendações para novas medidas, foi aprovado
pelo Conselho em Dezembro.

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Tomaram-se medidas para garantir um quadro normativo mais sólido, com apli-
cação de sanções mais duras, a fim de combater o tráfico de seres humanos, o
abuso e a exploração sexual de crianças, assim como a pornografia infantil. Na
sequência de propostas da Comissão, adoptadas em Março, o Parlamento Euro-
peu e o Conselho chegaram a acordo sobre o texto de uma directiva relativa
à luta contra o tráfico de seres humanos, comportando normas mínimas relativas
à definição das infracções penais, ao nível das sanções e à protecção das
vítimas (18). Uma vez adoptadas, as novas normas virão reforçar a prevenção do
crime e a protecção das vítimas deste tráfico. Além disso, em Dezembro,
a Comissão nomeou um coordenador europeu contra o tráfico, que desempe-
nhará um papel central na coordenação de todos os aspectos das políticas de
combate a este crime. O coordenador irá ainda ajudar a reforçar as políticas da
UE existentes e a elaborar novas políticas relevantes para a luta contra o tráfico
bem como a definir orientações políticas estratégicas globais para a política
externa da UE neste domínio Por último, a Comissão lançou um sítio web (19)
dedicado à luta contra o tráfico de seres humanos. O sítio deverá passar a ser o
«balcão único» a nível da UE para os profissionais e o público interessado em
saber mais tanto sobre esta matéria como sobre o modo como a questão está a
ser tratada no âmbito da UE.

Em Maio foram propostas regras mais estritas para proteger os cidadãos euro-
peus dos ataques contra os sistemas de informação e a cibercriminalidade.
Segundo as regras propostas, os autores de ataques informáticos e os produtores
de software maligno poderiam ser condenados a pesadas sanções penais. Os
Estados-Membros seriam também obrigados a responder com rapidez aos
pedidos de ajuda urgente em caso de ataque informático, tornando a coopera-
ção judicial e policial europeia mais eficaz neste domínio. A Europol, o Serviço
Europeu de Polícia, tornou-se uma agência da UE no início do ano. A Comissão
encetou um processo de reflexão sobre o seu futuro estatuto ao abrigo do Tra-
tado de Lisboa, reflexão que foi secundada por uma comunicação de Dezembro
relativa às modalidades de controlo democrático das actividades da Europol,
abrindo caminho ao reforço do sistema de controlo parlamentar das actividades
da Europol. A comunicação apoia a ideia de criar um organismo comum através
do qual o Parlamento Europeu e os Parlamentos nacionais possam exercer con-
trolo sobre a Europol. Propõe igualmente meios para aumentar a transparência
© Philippe Huguen / AFP / Belga

no que se refere às actividades da Europol.

Abertura
A União Europeia procura em permanência alcançar um justo equilíbrio entre
conservar as suas fronteiras seguras e permanecer aberta ao legítimo acesso dos
cidadãos de outros países — um equilíbrio forjado nas suas políticas em matéria
de migração, emissão de vistos e direito de asilo.
A UE está a forjar uma Europa
simultaneamente aberta e segura. Uma
No domínio da migração, o objectivo é uma política que, tal como previsto na
unidade de polícia especializada na luta estratégia «Europa 2020», abra caminho à imigração legal, o que constitui um
contra a criminalidade informática, em Lille, trunfo para uma recuperação económica sustentável, dando, ao mesmo tempo,
controla a Internet em busca de utilizações resposta à migração clandestina. Está a ser conferida prioridade à consolidação
fraudulentas, burlas e roubos de identidade. de uma verdadeira política comum de imigração e asilo, que inclui novos siste-
mas de admissão flexíveis para a imigração laboral e iniciativas destinadas a
apoiar a integração de imigrantes. Esta diligência tem como objectivo avançar
na criação de um sistema europeu comum de asilo, baseado na solidariedade e
no respeito pelos direitos fundamentais.

46
Em consonância com a nova base jurídica proporcionada pelo Tratado de Lisboa
para medidas de auxílio à integração de nacionais de países terceiros legalmente
residentes, o Conselho aprovou, em Junho, o apoio às políticas dos Estados-
-Membros através do intercâmbio de conhecimentos e de uma coordenação
melhorada. Anunciou igualmente uma nova agenda europeia sobre a integra-
ção. A UE está a evoluir para um novo sistema de admissão flexível em matéria de
imigração económica.

Em Julho, foi apresentada uma proposta relativa aos trabalhadores sazonais


provenientes de países terceiros, a fim de se estabelecer um sistema de admissão
comum simples e célere a nível da UE. O objectivo é proteger este grupo, parti-
cularmente vulnerável, com um estatuto jurídico seguro, para evitar situações de
exploração, e proteger a sua saúde e segurança. Paralelamente, surgiu uma pro-
posta relativa ao pessoal transferido dentro das empresas, com o objectivo de
facilitar às empresas multinacionais a transferência temporária de trabalhadores
qualificados de países terceiros para sucursais ou filiais na UE. Em Maio, foi pro-
posto um plano de acção de quatro anos, relativo a menores não acompanhados.
Este plano abrange a prevenção, a protecção regional, a recolha e a identificação
de soluções duradouras, tendo em conta os interesses das crianças e a Carta dos
Direitos Fundamentais, bem como a Convenção das Nações Unidas sobre os
Direitos da Criança. O Conselho aprovou esta abordagem em Junho.

Foram acordados novos requisitos — e um orçamento — para finalizar o Sistema


de Informação de Schengen. Este sistema tem por finalidade garantir um ele-
vado nível de controlo e segurança nas fronteiras externas da União, bem como
apoiar a cooperação em matéria de aplicação da lei. O Sistema de Informação
sobre Vistos para efeitos de intercâmbio de dados sobre vistos entre Estados-
-Membros também progrediu e, a partir de 2011, irá auxiliar a aplicação da polí-
tica comum de vistos de Schengen, bem como prevenir o terrorismo e outras
ameaças à segurança interna.

Continuaram os trabalhos sobre um sistema de asilo europeu comum, os quais


envolveram a criação formal do Gabinete Europeu de Apoio em matéria de Asilo,
em Malta, e novas negociações sobre alterações de legislação, bem como um
regime conjunto de reinstalação. O Gabinete Europeu de Apoio em matéria de
Asilo irá reforçar a solidariedade entre os Estados-membros e ajudá-los a cumprir
os compromissos europeus e internacionais que assumiram neste domínio.
Desenvolverá a cooperação prática entre os Estados-Membros em matéria de
asilo, facilitando o intercâmbio de informações sobre países de origem, forne-
cendo apoio aos Estados-Membros na tradução e interpretação, formando fun-
cionários no domínio do asilo e prestando assistência à relocalização de pessoas
reconhecidas como refugiados; apoiará os Estados-Membros que enfrentem
«pressões específicas», em especial através da criação de um sistema de alerta
rápido, coordenando equipas de peritos para assistência a países da UE na gestão
de pedidos de asilo e na criação de estruturas de acolhimento adequadas; por
último, recolherá e propiciará o intercâmbio de informações sobre as melhores
práticas, redigindo relatórios anuais sobre a situação do asilo na UE e adoptando
documentos técnicos, designadamente directrizes e manuais operacionais.

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Foi proposta uma modificação do quadro jurídico da Agência de coordenação
das operações nas fronteiras, a Frontex, a fim de reforçar as suas capacidades
operacionais, bem como de intensificar a tomada em consideração dos direitos
fundamentais (com especial ênfase para as operações de regresso). Acordaram-
-se novas regras relativas às fronteiras marítimas e às operações de socorro, no
intuito de garantir que as medidas tomadas no contexto das operações de vigi-
lância de fronteiras marítimas coordenadas pela Frontex respeitem plenamente
os direitos fundamentais e o princípio da não repulsão — princípio de direito
internacional que protege os refugiados contra o seu reenvio para locais onde a
sua vida ou a sua liberdade poderiam ficar ameaçadas.

As equipas de intervenção rápida nas fronteiras da Frontex foram activadas pela


primeira vez quando a Grécia solicitou assistência operacional para responder a
pressões urgentes e excepcionais em certos pontos das suas fronteiras externas,
em Outubro, já que grande número de cidadãos de países terceiros tentavam
entrar ilegalmente no seu território.

O Parlamento Europeu e o Conselho chegaram a acordo sobre as alterações que


a directiva de 2003 necessita; esta directiva rege o estatuto dos nacionais de
países terceiros que são residentes de longa duração, refugiados e beneficiários
de protecção subsidiária que não têm actualmente direito ao estatuto de resi-
© AP / Reporters

dente de longa duração. Com estas alterações, os refugiados e os beneficiários


de protecção subsidiária devem ter a possibilidade de obter o estatuto de resi-
dente de longa duração nos Estados-Membros da UE numa base semelhante aos
outros nacionais de países terceiros que tenham residido legalmente na UE
A UE visa garantir um elevado nível de durante um período superior a cinco anos. As novas regras irão permitir que os
controlo e de segurança nas suas fronteiras beneficiários de protecção internacional que adquiriram o estatuto de residen-
externas. A polícia de fronteira – como esta, tes de longa duração possam instalar-se noutro Estado-Membro para além
por exemplo, na fronteira búlgaro-turca
daquele que lhes reconhece esse estatuto. Sob certas condições, beneficiariam
– recorre a equipamento sofisticado e a
de igualdade de tratamento com os cidadãos do Estado-Membro onde residem
serviços de informação para prevenir o
tráfego ilícito. numa vasta gama de áreas económicas e sociais, incluindo educação, acesso ao
mercado de trabalho e segurança social. Além disso, as novas regras também
reforçam as salvaguardas contra o «refoulement» (expulsão).

O Tribunal de Justiça da União Europeia especificou as circunstâncias em que


uma pessoa pode perder o estatuto de refugiado. Em Junho, especificara igual-
mente as condições em que um pedido de estatuto de refugiado apresentado
num Estado-Membro por um palestiniano deslocado devia ser examinado (20).

Uma análise circunstanciada das condições nacionais na Bósnia e Herzegovina e


na Albânia levou a uma decisão de levantamento da obrigação de visto de curta
duração para os cidadãos destes dois países. O Código de Vistos, que entrou em
vigor em Abril, veio harmonizar procedimentos e aumentar a transparência para
os mais de 10 milhões de pessoas que solicitam vistos Schengen anualmente.
Registaram-se progressos significativos no sentido de uma plena reciprocidade
em matéria de vistos com os países terceiros e, nomeadamente, dos acordos de
isenção de visto com o Brasil e de um regime de isenção de vistos para Taiwan.

48
E n v o lv e r o s cida dão s e faci l i ta r a v ida q u o t idi a n a
Os cidadãos obtiveram novos benefícios num vasto leque de activi- Um carregador comum para os
dades em que a UE exerce influência. Desfrutam actualmente de telefones móveis
maiores oportunidades de informação sobre o funcionamento da UE e Os telemóveis são excelentes… até a
de participação nesse funcionamento. Da redução do custo das bateria se ir abaixo e não se ter o
carregador à mão. Deixa de haver
chamadas de telemóvel à simplificação da possibilidade de mudança de
chamadas. Deixa de haver acesso a dados
fornecedores de energia, passando pela melhoria da protecção dos
e contactos pessoais. Desata a busca
viajantes, da segurança dos produtos e da qualidade dos alimentos, a UE frenética de um carregador compatível.
tem mantido e desenvolvido de forma contínua as suas intervenções em Mas em breve este problema estará
favor dos cidadãos. A política da concorrência ajudou a criar dinâmicas ultrapassado. Graças à pressão exercida
de mercado favoráveis aos consumidores, os direitos dos trabalhadores pela Comissão, 13 dos mais importantes
e dos cônjuges foram reforçados pela política social, e as respostas a fabricantes de telemóveis acordaram num
danos decorrentes de incêndios e inundações foram modernizadas sistema harmonizado para os telefones
informatizados vendidos na UE. Todos
através de legislação, cooperação e coordenação a nível da UE.
esses telefones podem ser carregados
com uma simples microficha USB.
O resultado, de um ponto de vista
Serviços ambiental, é a redução dos resíduos
Telecomunicações eléctricos. Mais do que uma nova
legislação, foi o senso comum que
Os utilizadores de telemóveis beneficiaram de novas reduções de preços e garan-
conseguiu esta proeza.
tias impostas a nível da UE (ver caixa), e outras há que estão a ser consideradas: a
Comissão concluiu, em Junho, que a concorrência ainda não facultava um leque
suficiente de escolhas e taxas aos consumidores. No domínio das telecomunica-
ções, uma revisão do quadro normativo comportou a instituição do Organismo
dos Reguladores Europeus das Telecomunicações Electrónicas. Este organismo
virá aumentar a coerência do quadro normativo da UE para as telecomunicações,
melhorando assim a situação dos cidadãos enquanto consumidores.

© Julien Muguet / IP3 / Belga

As tarifas de roaming reduzidas na UE


Roaming — uma grande conquista para os cidadãos protegem os consumidores das contas
A partir de 1 de Julho de 2010, entraram em vigor novos limites nas despesas de astronómicas.
dados em roaming. Além disso, o preço máximo grossista de dados em roaming
baixou de 1 euro para 0,80 cêntimos por megabyte. O preço máximo de uma
chamada efectuada em roaming passou a ser de 39 cêntimos por minuto (sem
IVA), em vez dos 43 cêntimos praticados antes de Julho de 2010; as chamadas
recebidas passarão a custar, no máximo, 15 cêntimos por minuto (sem IVA), em
vez de 19 cêntimos. Desde 2005, os custos das chamadas que os cidadãos fazem
dos seus telemóveis quando se encontram noutro Estado-Membro foram redu-
zidos até 70%. O custo de envio de mensagens de texto entre Estados-Membros
da UE baixou 60% em relação a 2005. Em 8 de Dezembro, a Comissão Europeia
lançou uma consulta pública para averiguar as opiniões dos consumidores, das
empresas, dos operadores de telecomunicações e das autoridades públicas
sobre o mercado dos serviços de roaming na UE.
Em Junho, o Tribunal de Justiça confirmou a validade do chamado regulamento do
roaming (21). Este regulamento define as tarifas máximas aplicáveis a chamadas efec-
tuadas e recebidas por utilizadores fora da sua própria rede (22).

49 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Serviços financeiros
Além do trabalho de saneamento do sector financeiro (ver capítulo 1), os interes-
ses do cidadão foram directamente abordados. Em Março, a Comissão promoveu
o diálogo com o sector bancário e as associações de consumidores sobre a
transparência das comissões bancárias (o que, em Novembro, culminou no lança-
mento de uma iniciativa liderada pelo sector bancário sobre o assunto). O objec-
tivo era a instituição de um código de conduta. Um novo módulo sobre educação
financeira, abrangendo rubricas relativas a despesas, poupanças e investimentos,
contracção de empréstimos e sistemas de protecção ou seguros, foi lançado no
Dolceta, o sítio de ferramentas em linha de educação dos consumidores.

Em Abril e Maio, a Comissão patrocinou uma acção de educação em linha dos


consumidores sobre literacia financeira e, em Julho, criou um grupo de utilizado-
res de serviços financeiros a fim de reforçar a representação dos consumidores,
dos pequenos investidores e de outros utilizadores de serviços financeiros a
nível da UE. Este grupo destina-se também a aconselhar a Comissão sobre ques-
tões que afectam os utilizadores de serviços financeiros, como a banca de reta-
lho, o crédito hipotecário e os seguros. A Comissão procurou ainda obter solu-
ções para facilitar as transacções transfronteiras, com o lançamento de um livro
verde sobre as opções políticas aptas a conseguir progressos no sentido de um
direito europeu dos contratos para os consumidores e as empresas, e ocupou-se
dos obstáculos fiscais às operações transfronteiras.
© Reporters

A revisão do mercado da electricidade


pretendeu dotar os cidadãos de melhores Energia
instrumentos para avaliarem preços e A Comissão passou em revista a forma como os mercados da electricidade estão
serviços. Na imagem, um poste de linhas de
a funcionar para os consumidores de retalho. O objectivo é ajudá-los a exercerem
alta tensão.
o seu direito de escolha no mercado, dando-lhes ferramentas para avaliar preços
e serviços. Em colaboração com os consumidores, os reguladores e a indústria, a
Comissão avançou igualmente com recomendações para tornar as facturas
energéticas claras, concisas e comparáveis.

Serviços e serviços de interesse geral


Os serviços de interesse geral também estão abrangidos pelo âmbito das dispo-
sições da UE aplicáveis. No final de Outubro, actualizaram-se as orientações
sobre a aplicação dos auxílios estatais, dos contratos públicos e das regras do
mercado interno para os serviços de interesse económico geral e, em particular,
para os serviços sociais de interesse geral, tendo estes últimos, simultaneamente,
sido objecto do segundo relatório bienal publicado pela Comissão sobre esta
matéria.

Em Junho, a Comissão procedeu a uma consulta sobre o processo de aplicação


da directiva dos serviços, que entrou em vigor no final de Dezembro de 2009.

50
Saúde e consumidores
A Comissão reforçou a sua capacidade de determinar as áreas de disfuncionamento
do mercado único para os consumidores. Identificou problemas persistentes no
comércio electrónico transfronteiras e nos regimes nacionais criados para garantir
a defesa do consumidor, tendo igualmente assinalado os principais segmentos de
mercado cujo funcionamento é insatisfatório para os consumidores. No mercado
retalhista da electricidade, pôs em evidência os obstáculos que impedem os consu-
midores de escolher livremente e mudar de fornecedores. Foram analisados os
resultados do desempenho da rede de centros europeus do consumidor, que lida
com 60 000 queixas por ano, e concluída uma avaliação intercalar da estratégia da
política dos consumidores 2007-2013. Esta avaliação será tida em conta na concep-
ção da estratégia pós-2013.
No domínio dos serviços financeiros de retalho, o diálogo com o sector bancário e as
associações de consumidores sobre a transparência e a comparabilidade culminou,
em Novembro, no lançamento formal de uma iniciativa liderada pelo sector bancário
sobre as comissões bancárias. O objectivo era a instituição de um código de conduta.
Em Janeiro, o Tribunal de Justiça da União Europeia declarou que permitir a partici-
pação gratuita dos consumidores numa lotaria na sequência de um certo número
de aquisições pode, em determinadas circunstâncias, constituir uma prática
comercial desleal, proibida pela directiva europeia relativa às práticas comerciais
desleais. No contexto de um acórdão preliminar sobre a directiva relativa à protec-
ção dos consumidores em matéria de contratos à distância (23), o Tribunal deliberou
que a entrega de mercadorias não devia ser facturada aos consumidores que
rescindam um contrato à distância. Em tal caso, só o custo de devolução da merca-
doria pode ser imputado ao consumidor (24).

Segurança dos produtos


A segurança dos produtos continuou a ser objecto de revisão, com avaliações de
impacto e consultas sobre a directiva de 2001 relativa à segurança geral dos produ-
tos e a directiva de 1987 sobre os produtos que parecem alimentos. Foram também
previstas novas exigências a aplicar a artigos de banho para crianças e a dispositi-
vos de bloqueio para janelas e portas de sacada com segurança para crianças (25).
A cooperação internacional culminou numa reunião trilateral com as autoridades
dos Estados Unidos e da China. Em Janeiro, entraram em vigor novas orientações
para o sistema da UE de troca rápida de informação sobre produtos perigosos, que
clarificam os procedimentos e tornam a avaliação dos riscos mas rigorosa. Além
disso, prosseguiu-se a acção contra os riscos decorrentes de materiais e produtos
tão diversos como o fumarato de dimetilo e os «isqueiros-novidade» não seguros
para as crianças. Foram actualizadas as normas relativas aos materiais e objectos de
matéria plástica destinados a entrar em contacto com os géneros alimentícios.

Segurança dos alimentos


As medidas da UE destinadas a controlar a BSE, a chamada «doença das vacas loucas»
— incluindo o limite mínimo de idade para o rastreio desta doença no gado — foram
novamente revistas. Foi lançada uma iniciativa para revisão dos sistemas de inspec-
ção de carnes, com o contributo científico da Autoridade Europeia para a Segurança
dos Alimentos quanto a critérios e metodologia. Em Novembro, mais de 250 milhões
de euros foram reservados para apoio a programas de erradicação, controlo e moni-
torização de doenças animais em 2011. Novos valores-limite foram fixados e novos
controlos sobre contaminantes e resíduos de medicamentos veterinários e pesticidas
foram efectuados. Novas homologações foram concedidas a substâncias activas
presentes em produtos fitofarmacêuticos e novas obrigações foram impostas aos
fabricantes. Foi revista a lista de aditivos alimentares actualmente autorizados e ela-
borada a primeira lista da UE de aromas aprovados, para aromatizantes de fumo.
Foram intensificados os controlos na importação de certos alimentos para animais e
géneros alimentícios de origem não animal.
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Em Outubro, o Parlamento Europeu reiterou o seu compromisso no sentido de
impedir a venda de carne e leite provenientes de animais clonados na UE, no
seguimento da publicação pela Comissão de um relatório sobre a clonagem, que
defende a fixação de uma moratória de cinco anos para a venda de alimentos a
partir de animais clonados e a utilização da clonagem para efeitos de produção de
alimentos. O Parlamento Europeu e o Conselho deverão encetar negociações rumo
a um acordo de conciliação sobre as propostas de actualização das normas relativas
aos «novos alimentos».
Tendo em conta a importância capital que a qualidade dos alimentos tem para o
conjunto dos exploradores agrícolas e dos consumidores, a Comissão adoptou um
pacote de propostas em Dezembro. As referidas propostas têm por objectivo
encorajar a diversificação da produção agrícola, garantir uma concorrência leal e
ajudar os agricultores a melhorarem a informação sobre os méritos dos seus produ-
tos. Este denominado «pacote qualidade» torna mais fácil para os consumidores a
utilização e a compreensão dos regimes de qualidade da UE, como os regimes de
denominação de origem protegida, de indicação geográfica protegida e de espe-
cialidade tradicional garantida. Trata-se de medidas que ajudam também a melho-
rar os sistemas de certificação voluntários dos produtos agrícolas e dos géneros
alimentícios, através de orientações sobre melhores práticas.
A Comissão melhorou a rotulagem dos produtos alimentares, trabalhando em
colaboração com o Parlamento Europeu e o Conselho para fazer avançar a proposta
relativa a «informação sobre os géneros alimentícios prestada aos consumidores»,
a fim de permitir que estes últimos façam escolhas informadas, tomando em consi-
deração conselhos de ordem nutricional e dietética. Em Julho, entraram em vigor
novas regras da UE relativas à rotulagem dos produtos alimentares biológicos,
incluindo o requisito de apor aos produtos o novo logótipo biológico da UE. Desde
o início do ano, a segurança dos produtos alimentares na UE melhorou, graças a um
maior número de controlos e a uma redução quer da quantidade quer do carácter
nocivo dos resíduos existentes — devido, por um lado, à retirada do mercado de
pesticidas nocivos e, por outro, ao reforço da actividade de controlo nas fronteiras
da União.
Para proteger os cidadãos contra alegações de saúde enganosas sobre os alimen-
tos, a Comissão irá estabelecer listas de alegações de saúde autorizadas, com base
nas avaliações científicas da AESA e na sequência de procedimentos de autorização
a nível da UE. Em 2010, foram autorizadas três alegações de saúde e rejeitadas 15.
No final do processo, apenas serão autorizadas no mercado da UE as alegações de
saúde fundamentadas. Estão igualmente em curso iniciativas (não regulamentares)
para incentivar as partes interessadas a prosseguirem esforços na reformulação dos
© BSIP / Reporters

produtos alimentares no que diz respeito aos nutrientes susceptíveis de aumentar


o risco de aparecimento de doenças crónicas.

Alimentos geneticamente modificados


Em Julho, a Comissão adoptou uma proposta que define uma nova abordagem flexí-
A UE melhorou a rotulagem dos produtos vel sobre as culturas de OGM, atendendo aos desejos dos Estados-Membros, mas
alimentares para que os consumidores
mantendo igualmente uma base científica sólida para qualquer autorização de OGM.
possam fazer escolhas mais informadas.
Segundo esta proposta, as decisões de cultivo incumbem aos Estados-Membros, ao
O novo logótipo obrigatório para todos os
produtos da agricultura biológica da UE passo que as decisões de autorização continuam a ser tomadas a nível da UE. Em
entrou em vigor em Julho. Novembro, os serviços da Comissão concluíram um projecto de regulamento refe-
rido como uma «solução técnica para garantir a presença de baixos níveis de material
geneticamente modificado não autorizado em alimentos para animais». Esta pro-
posta proporcionará segurança jurídica aos operadores do sector dos alimentos para
animais que importam materiais para alimentação animal provenientes de países
terceiros, mediante a harmonização do controlo oficial de OGM para os quais haja um
pedido de autorização pendente na UE, ou cuja autorização tenha caducado.

52
A Comissão preparou também um relatório sobre as implicações socioeconómi- Classificação de plantas
cas do cultivo de OGM, com base em contribuições provenientes de 24 Estados- A Comissão registou cerca de 2 800 novas
-Membros. A definição de orientações para a avaliação dos riscos ambientais dos variedades de plantas nos catálogos
OGM teve por base uma actualização das orientações da AESA, publicada em comuns. Actualmente existem, assim,
cerca de 19 700 variedades de produtos
Novembro. Relativamente ao cultivo de OGM e de alimentos para animais e para
agrícolas vegetais e 17 300 variedades de
consumo humano, realizaram-se avaliações externas da legislação, às quais
produtos hortícolas que podem ser
poderá seguir-se uma avaliação do impacto de possíveis alterações políticas em comercializados em toda a UE. A Comissão
meados de 2012. A Comissão adoptou uma decisão que autoriza o cultivo de finalizou o pacote legislativo sobre o
batata geneticamente modificada. Outras decisões em matéria de alimentos «material de conservação» relativo a
para animais e para consumo humano encontram-se ainda em exame. As orien- exigências menos estritas no que se refere
tações para a avaliação dos riscos dos alimentos para animais e para consumo à comercialização de sementes para
humano geneticamente modificados estão a ser finalizadas após consultas com efeitos de conservação de recursos
genéticos e ambiente natural.
os Estados-Membros, a AESA e as partes interessadas.
Em 2010, o número de pedidos de
Produtos e serviços médicos protecção de direitos relativos a
Quanto à livre circulação de serviços médicos no mercado interno, o Tribunal de variedades de plantas aumentou
Justiça da União Europeia considerou que as autoridades públicas podem ofere- ligeiramente, elevando para 17 500 o
número de variedades actualmente
cer incentivos financeiros para induzir os médicos a prescrever medicamentos
protegidas. A fim de resolver questões
mais baratos, desde que, nomeadamente, o regime de incentivo se baseie em
relacionadas com a exploração agrícola
critérios objectivos e não discriminatórios (26). O Tribunal de Justiça também das variedades protegidas, um grupo de
precisou as condições em que as autoridades competentes de um Estado- trabalho representativo das partes
-Membro podem fixar limites demográficos e geográficos para a abertura de interessadas formulou ideias para
novas farmácias, a fim de garantir serviços farmacêuticos adequados (27). Deter- soluções futuras.
minou ainda que, em caso de cuidados hospitalares imprevistos prestados
durante uma estada temporária num Estado-Membro que não seja o Estado-
-Membro de inscrição, não se requer a este último que reembolse o paciente dos
custos que, no Estado-Membro em que os cuidados foram prestados, incumbem
ao paciente (28).

Qualidade e segurança das substâncias de origem humana para uso médico


No que diz respeito a tecidos e células de origem humana, a competência e os
resultados das inspecções e medidas de controlo da UE progrediram de forma
consistente, com novas orientações sobre a formação e qualificação dos funcioná-
rios. Em Julho, foram adoptadas novas disposições sobre órgãos humanos desti-
nados a transplantação, que abrangem actividades de colheita e transplantação,
rastreabilidade, comunicação de reacções adversas e segurança de transporte.

Combate à contrafacção
As autoridades aduaneiras da UE apreenderam quantidades consideráveis de
precursores de drogas (produtos legais utilizados pela indústria de perfumaria
que são ilicitamente desviados para o fabrico de drogas sintéticas como o ecs-
tasy) incluindo 240 toneladas de anidrido acético, o principal precursor da hero-
ína. Interceptaram igualmente 118 milhões de produtos de contrafacção,
incluindo muitos que apresentavam perigos potenciais para os cidadãos —
desde cigarros a champôs, passando por medicamentos e electrodomésticos.
© AFP / Belga

Acção contra o tabagismo


A Comissão lançou uma consulta pública tendo em vista a revisão da regulamen-
tação de 2001 sobre os produtos do tabaco, para dar resposta aos riscos sanitários
e superar as diferenças persistentes entre as disposições dos Estados-Membros Funcionários aduaneiros polacos
inspeccionam um carro carregado de
em matéria de fabrico, apresentação e venda de produtos do tabaco. A elimina-
cigarros na fronteira com a região de
ção progressiva dos subsídios directos ao tabaco teve também início este ano.
Kaliningrado, na Rússia. Os funcionários dos
serviços fiscais e aduaneiros da UE lutam
contra o contrabando, que pode prejudicar
a saúde dos cidadãos e minar as receitas dos
impostos especiais de consumo da UE.

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Beneficiar de um mercado justo
A política da UE em matéria de concorrência foi benéfica para os cidadãos.
A Comissão fez respeitar activamente as regras da concorrência, através das suas
acções de luta contra os cartéis e outras práticas anticoncorrenciais, bem como
da sua actividade de controlo das fusões. Em especial, puniu uma série de impor-
tantes cartéis que representam a forma mais nociva de infracção do direito da
concorrência.

Acção contra comportamentos anticoncorrenciais


Em 2010, a Comissão aplicou uma coima de 622 milhões de euros a 17 fabricantes de equipamentos para casas de banho
por terem coordenado preços de banheiras, lavatórios e torneiras por um período de 12 anos em seis países abrangendo
240 milhões de pessoas. Este cartel terá não só lesado empresas, nomeadamente de construção e canalização, como tam-
bém terá afectado um vasto número de consumidores. 11 transportadoras de carga aérea foram também objecto de uma
multa de 799 milhões de euros por terem coordenado durante seis anos as sobretaxas que exigiam para combustível e
segurança. Este comportamento oclusivo terá prejudicado empresas e consumidores europeus. Em Junho, a Comissão
aplicou uma multa de um total de 458 milhões de euros a 17 produtores de aço pré-esforçado por terem constituído um
cartel com acordos de fixação dos preços e de repartição do mercado, o qual vigorou de 1984 a 2002. A infracção abran-
geu todos menos três dos então Estados-Membros tendo, por conseguinte, afectado de forma significativa quase todo o
mercado europeu da construção. Em Dezembro, a Comissão aplicou coimas, num total de 648 milhões de euros, a seis
produtores de ecrãs LCD responsáveis por um cartel que prejudicou compradores europeus de aparelhos de televisão,
monitores de computador e agendas electrónicas dotados deste tipo de ecrãs. Denunciar tais cartéis e pôr-lhes cobro
permite que concorrentes e clientes disponham de oportunidades de inovação e crescimento, proporcionando, além
disso, aos consumidores uma maior escolha, uma melhor qualidade e preços mais competitivos.

Além dos cartéis, a Comissão aplicou coimas, num montante de 5 milhões de


euros a empresas farmacêuticas francesas por se oporem a determinadas formas
de agrupamento que teriam permitido que empresas estrangeiras activas no
sector de análises laboratoriais reduzissem custos, melhorassem a qualidade das
análises e competissem efectivamente com as empresas já estabelecidas em
França. Os preços dos ensaios laboratoriais clínicos em França são dos mais ele-
vados da UE. Na decisão, a Comissão invocou pela primeira vez, a regra segundo
a qual os membros de uma associação de empresas que infringiu o direito da
concorrência podem ser responsabilizados se a própria associação não possuir
fundos suficientes para pagar a coima.

Em 2010, o Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral proferiram vários acórdãos no


domínio do direito da concorrência.

O Tribunal de Justiça confirmou o acórdão do Tribunal Geral, segundo o qual as


comunicações internas da empresa com os advogados internos não são abran-
gidas pelo privilégio profissional legal, tendo em conta a dependência econó-
mica dos advogados internos e os laços estreitos que mantêm com seus empre-
gadores, bem como o facto de não terem o mesmo nível de independência
profissional que os advogados externos (29).

Além disso, o Tribunal de Justiça decidiu em que medida a Comissão está vincu-
lada ao princípio da proporcionalidade ao aceitar compromissos oferecidos por
empresas objecto de investigação ao abrigo dos artigos 101.º e 102.º do TFUE.
Também deu orientações sobre os direitos processuais de que beneficiam as
empresas terceiras cujos interesses são directamente afectados por estas «deci-
sões relativas a compromissos» adoptadas ao abrigo do artigo 9.º do Regula-
mento (CE) n.º 1/2003 (30). Da mesma forma, o Tribunal Geral confirmou que a
Comissão dispõe de uma margem discricionária na fixação do nível das coimas
aplicadas no caso de infracção às regras de concorrência (31).

54
O Tribunal de Justiça confirmou ainda a coima de 12,6 milhões de euros aplicada
à Deutsche Telekom por abuso de posição dominante nos mercados da telefonia
fixa na Alemanha (32).

Em Julho, o Tribunal Geral confirmou a decisão da Comissão segundo a qual a


AstraZeneca tinha abusado da sua posição dominante, impedindo a comerciali-
zação de produtos genéricos que reproduziam o seu medicamento contra as
úlceras Losec. O Tribunal de Justiça reduziu ligeiramente a coima a pagar pela
AstraZeneca para 52,5 milhões de euros (33).

O Tribunal Geral confirmou igualmente a validade da proibição da aquisição da


Aer Lingus (34) pela Ryanair e a licitude da decisão da Comissão de 7 de Janeiro de
2004 que autoriza a aquisição da Vivendi Universal Publishing pela Lagardère,
sujeita à venda de activos.

A Comissão prestou também especial atenção ao fomento da concorrência em


sectores-chave da economia. Constituem exemplos notáveis o do sector dos
transportes aéreos, em que a Comissão manifestou a sua apreensão quanto ao
facto de a criação de uma empresa comum entre a British Airways, a American
Airlines e a Iberia poder ser contrária às regras da concorrência da UE e prejudicial
para os consumidores. Em resposta a esta apreensão, as empresas em questão
apresentaram compromissos que irão facilitar a entrada e a expansão de concor-
rentes em rotas transatlânticas de primeiro plano. Os referidos compromissos
assegurarão a concorrência nessas rotas, o que permitirá garantir aos consumido-
res uma escolha adequada de voos, bem como de qualidade do serviço e de
preço dos bilhetes. Permitirá igualmente às companhias aéreas criar a aliança
transatlântica a que aspiram há muito tempo. No mesmo domínio, a Comissão
aprovou igualmente a fusão British Airways-Iberia, porque ela se traduzirá num
reforço dos transportes aéreos europeus, sem pôr em causa a concorrência.

Em quatro casos que implicavam as principais empresas dos sectores energéti-


cos da Alemanha, da França, da Itália e da Suécia, a Comissão abriu os mercados
da energia a uma mais ampla concorrência, com efeitos positivos para mais de
uma centena de milhões de clientes (ver o capítulo 3 relativo à energia).

Em Fevereiro, em conformidade com uma decisão tomada pela Comissão em


2009, a Microsoft começou a distribuição de um ecrã de escolha de programas
de navegação aos seus utilizadores do Windows, facultando-lhes uma escolha
imparcial entre programas de navegação da web. Consequentemente, há agora
maior escolha e concorrência no mercado de programas de navegação.

Além disso, a Comissão efectuou um exame aprofundado do projecto de aquisi-


ção, pela Unilever, do sector de produtos de higiene pessoal e lavagem de roupa
da empresa Sara Lee, para garantir que a fusão não implicaria o aumento dos
preços para os consumidores. A fim de obter a autorização da Comissão, a Unilever
comprometeu-se a alienar a marca Sanex e actividades conexas da Sara Lee na
Europa. Esta medida correctiva clara e operacional foi considerada suficiente para
restabelecer a concorrência em todos os mercados que preocupavam a Comissão.

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No sector financeiro, a Comissão aceitou os compromissos oferecidos pela Visa
Europe para reduzir de forma significativa as suas comissões interbancárias
multilaterais (CIM) aplicadas a pagamentos efectuados por cartão de débito. As
CIM são comissões interbancárias fixadas colectivamente pelos bancos mem-
bros da Visa Europe para pagamentos efectuados por cartão, que, no entanto,
acabam por recair sobre os consumidores. A Visa Europe comprometeu-se ainda
a manter e desenvolver medidas que irão aumentar a transparência e a concor-
rência nos mercados dos cartões de pagamento. A redução das comissões
interbancárias comportará benefícios concretos para os comerciantes e os con-
sumidores enquanto, simultaneamente, a existência de normas mais transparen-
tes permitirá também melhorar a concorrência nos mercados dos cartões de
pagamento.

Direitos sociais
Direitos parentais
Em Julho, o Tribunal de Justiça da União Europeia considerou que as trabalhado-
ras dispensadas ou afectadas a outro posto de trabalho por motivo de gravidez
têm direito à sua remuneração mensal de base, bem como às prestações adicio-
nais e aos complementos ligados ao seu estatuto profissional. Afirmou igual-
mente que os pais assalariados têm direito a uma licença parental, independen-
temente do estatuto profissional da mãe da criança (35).

A Comissão Europeia declarou que procuraria chegar a um compromisso equili-


brado em favor dos direitos das mães, na sequência de uma votação do Parla-
mento Europeu, em Outubro, que aprovou o aumento da duração mínima da
licença de maternidade para 20 semanas integralmente remuneradas — mais
que as 14 a 18 semanas propostas pela Comissão.

A directiva proposta pela Comissão para melhorar a protecção social dos traba-
lhadores independentes e eliminar os desincentivos ao empreendedorismo
feminino foi aprovada pelo Parlamento Europeu em Maio e pelo Conselho em
Junho. A nova directiva, que entrou em vigor em 4 de Agosto, permite que as
mulheres trabalhadoras independentes, os cônjuges colaboradores e os parcei-
ros de facto dos trabalhadores independentes recebam um subsídio de materni-
dade e uma licença de maternidade de pelo menos 14 semanas, se assim o
desejarem. É a primeira vez que a licença de maternidade é concedida a traba-
lhadoras independentes a nível da UE. Os cônjuges colaboradores e os parceiros
de facto dos trabalhadores independentes terão direito a cobertura de segu-
rança social (designadamente pensões) em termos idênticos aos dos trabalha-
dores independentes, se o Estado-Membro oferecer essa protecção. Contribui-se
assim para garantir uma rede de segurança mais forte e evitar que as mulheres
caiam em situações de pobreza. Os Estados-Membros podem decidir que o
subsídio de maternidade e a cobertura de segurança social sejam aplicados de
forma obrigatória ou voluntária, ou seja, a pedido. Os países da UE disporão de
dois anos para transpor a legislação na respectiva ordem jurídica nacional.

Direitos dos trabalhadores


Em Março, a protecção dos trabalhadores foi reforçada, graças à adopção, pelos
ministros do Emprego e dos Assuntos Sociais da UE, de uma directiva cuja finali-
dade é prevenir ferimentos e infecções dos profissionais do sector da saúde,
provocados por objectos pontiagudos, como seringas — uma das mais graves
ameaças para a saúde e a segurança nos locais de trabalho europeus que,
segundo as estimativas, provoca um milhão de feridos por ano.

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Há programas de investigação da UE que prestam auxílio aos cidadãos, procurando
conceber soluções para as questões de natureza social na Europa. Neste contexto,
em grandes conferências organizadas pela UE em 2010, foram analisadas duas ques-
tões: os diferentes tipos de desigualdades e o papel que desempenham na pobreza
existente na Europa; a religião e a tolerância, bem como o respectivo impacto na
coesão europeia.

Em Julho, a Comissão publicou um livro verde que lança uma reflexão sobre o futuro
dos regimes de pensões face à evolução demográfica. O objectivo deste documento
é garantir que a UE toma as medidas certas para apoiar os Estados-Membros na difícil
tarefa de proporcionar aos seus cidadãos pensões adequadas, sustentáveis e seguras,
tanto actualmente como no futuro. A concepção dos regimes de pensão incumbe,
em grande medida, aos Estados-Membros, mas o quadro normativo a nível da UE
abrange certos aspectos importantes, como a coordenação transfronteiras dos regi-
mes de pensões da segurança social, o mercado interno para regimes profissionais
financiados por capitalização, bem como normas relativas à regulamentação pru-
dencial, às garantias em caso de insolvência de empresas e à luta contra a discrimina-
ção. Em Novembro, os ministros da UE aprovaram um relatório sobre o assunto (36).

Mobilidade
Em Maio, entraram em vigor novas disposições sobre a coordenação da segurança
social, que visam facilitar a vida dos europeus em circulação — quer por motivos pro-
fissionais quer na qualidade de reformados, pessoas à procura de emprego ou turistas.
O resultado é uma maior garantia de que os direitos em matéria de seguro de doença,
pensões, prestações de desemprego e prestações familiares são preservados quando
os cidadãos se deslocam no interior da Europa. Importa que as instituições de segu-
rança social dos Estados-Membros informem activa e prontamente os interessados.
A modernização dos procedimentos actuais irá culminar numa oferta mais rápida e
mais simples de serviços aos cidadãos, na redução da burocracia, com uma diminuição
dos encargos administrativos dos serviços públicos, nomeadamente através de uma
nova rede informática de intercâmbio de informações de segurança social, e num
acesso mais rápido a mais vantagens para um maior número de pessoas.

Sociedade inclusiva
2010 foi o Ano Europeu do Combate à Pobreza. Lançada em Madrid, em Janeiro,
esta iniciativa pretendeu aumentar a sensibilização para a questão da pobreza na
Europa, para as suas causas e para possíveis soluções. Incluiu uma série de grandes
eventos a nível da UE e mais de 1 000 projectos a nível nacional. Em Junho, o Parla-
mento Europeu adoptou um relatório sobre «o papel do rendimento mínimo no
combate à pobreza e na promoção de uma sociedade inclusiva na Europa». Foi
igualmente lançada uma «Plataforma Europeia contra a Pobreza e a Exclusão Social».

A iniciativa «Europa 2020» em matéria de redução da pobreza (ver capítulo 1) define


os meios de garantir que os benefícios decorrentes do crescimento e do emprego
sejam amplamente partilhados, de modo a que as pessoas que vivem em situação de
pobreza possam participar activamente na sociedade. Esta iniciativa basear-se-á,
designadamente, nos ensinamentos colhidos com o Ano Europeu do Combate à
Pobreza e à Exclusão Social. Em Junho, os ministros do Emprego e dos Assuntos Sociais
acordaram em fixar um objectivo de elevar para, pelo menos, 20 milhões o número de
pessoas a fazer sair da pobreza e da exclusão, ao longo dos próximos 10 anos.

Entre outras realizações neste domínio, conta-se um relatório de Abril sobre a con-
tribuição financeira da UE para a integração dos ciganos e o lançamento, em Setem-
bro, de um grupo de trabalho de alto nível encarregado de melhorar a forma como
são gastos os fundos da UE para ajudar o povo cigano. Cite-se igualmente o diálogo
com igrejas, comunidades religiosas e organizações filosóficas não confessionais.

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Ética
O Grupo Europeu de Ética para as Ciências e as Novas Tecnologias prosseguiu a sua
reflexão. Em Março, adoptou um relatório quinquenal das suas actividades, que
resume os temas abordados nos seus pareceres, o papel da ética no quadro da
política da UE subsequente à aprovação do Tratado de Lisboa e as questões que
merecem continuar a ser analisadas a nível da UE. Igualmente em Março, teve lugar
o diálogo internacional sobre bioética da Comissão Europeia, com Estados-Mem-
bros, representantes do Parlamento Europeu, organizações internacionais como o
Conselho da Europa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Unesco, e países
terceiros como a Argentina, a Austrália, o Brasil, o Canadá, a China, o Egipto, a Índia,
a Indonésia, o Japão, o México, as Filipinas, a Rússia, a África do Sul e os EUA.

Em paralelo, a Comissão publicou boletins informativos sobre bioética e relató-


rios sobre as reuniões e actividades do grupo, para além de ter criado um portal
sobre ética na web. O grupo interserviços da Comissão Europeia em matéria de
ética e de políticas da UE reuniu-se três vezes para discutir biologia sintética,
biossegurança, biotecnologia e TIC.
© BSIP / Reporters

A ética continua a estar subjacente ao


progresso científico e tecnológico na UE.
Educação e cultura
Em Março, os ministros de 46 países europeus lançaram o Espaço Europeu do
Ensino Superior, no âmbito do Processo de Bolonha, com o objectivo de tornar o
ensino superior europeu mais compatível, comparável, competitivo e atractivo.

Em Abril, o Tribunal de Justiça da União Europeia declarou que a legislação da UE


se opõe, em princípio, a uma limitação do número de estudantes não residentes
que podem inscrever-se em determinados cursos universitários no domínio da
saúde pública, excepto quando se prove que essa limitação se justifica por
motivos de protecção da saúde pública (37).

A Comissão propôs a instituição de uma Marca do Património Europeu (38) para


comemorar e simbolizar a integração, os ideais e a história da Europa. Em Setem-
bro, publicou uma comunicação sobre o apoio à digitalização do cinema euro-
peu. Publicou também, em Julho, um relatório sobre a realização da agenda
europeia para a cultura, bem como uma recomendação sobre a mobilidade dos
artistas. O Conselho adoptou conclusões sobre o património cinematográfico
europeu (39), nomeadamente no que se refere aos desafios da era digital, abran-
gendo a transição da radiodifusão analógica para o sistema digital e a ligação
entre as políticas de financiamento de filmes e o património cinematográfico.

58
Em Novembro, a Comissão avaliou as novas disposições em matéria de desporto
contidas no Tratado de Lisboa. Esta instituição está já a promover a inclusão social e
a prossecução de outros objectivos através do desporto, com financiamento pre-
visto por programas e fundos estruturais da UE. Apoia, por exemplo, 30 redes euro-
peias que envolvem 250 organizações parceiras para promoção do desporto nos
domínios da saúde, educação e formação, do desporto para pessoas com deficiên-
cia, da igualdade entre os sexos, da luta contra a dopagem e do voluntariado.

© Xinhua / Belga
«Engel über Zollverein», o evento de
abertura do «Ruhr 2010» em Essen, na
No ano do 25.º aniversário das capitais europeias da cultura, Pècs (Hungria), Alemanha, uma das Capitais Europeias da
Essen em representação da região do Ruhr (Alemanha) e Istambul (Turquia) Cultura de 2010.
foram as cidades escolhidas em 2010. O Conselho designou Umeå (Suécia) e
Riga (Letónia) como capitais para 2014 e Mons (Bélgica) para 2015, a par de uma
cidade checa a ser ainda oficialmente designada.

Este ano, o Parlamento Europeu atribuiu o seu prémio de cinema Lux a Die
Fremde, de Feo Aladağ, da Alemanha, a primeira mulher a ter-se candidatado a
este prémio. O filme evoca o problema dos «crimes de honra», descrevendo o
drama de uma família turca residente na Alemanha. Os outros dois finalistas pré-
-seleccionados foram Akadimia Platonos, de Filippos Tsitos (Grécia e Alemanha),
e Illégal, de Olivier Masset-Depasse (Bélgica).

Uma série de prémios concedidos pela União Europeia no domínio da cultura


Entre estes prémios contam-se o prémio European Border Breaker (para música
contemporânea), atribuído em Janeiro, o prémio de Talento Europeu (para argu-
mentos cinematográficos), em Maio, o prémio do Património Cultural/prémios
Europa Nostra, em Junho, e o prémio de Literatura, em Novembro, que recom-
pensou 11 novos autores seleccionados por júris nacionais de 11 países (Alema-
nha, antiga República jugoslava da Macedónia, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Eslo-
vénia, Espanha, Estónia, Finlândia, Luxemburgo e Roménia). A biblioteca digital
da Europa, a Europeana, faculta agora acesso em linha a mais de 14 milhões de
exemplos do património cultural europeu — livros, mapas, fotografias, pinturas,
filmes e clipes de música — a qualquer pessoa no mundo; lançada em 2008, com
dois milhões de obras, a Europeana já ultrapassou largamente a meta inicial de
10 milhões inicialmente prevista para 2010. Entre os filmes galardoados na ceri-
mónia de encerramento do Festival Internacional de Cinema de Roma, em 5 de
Novembro, três foram co-financiados pelo programa MEDIA da União Europeia.

59 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Segundo os números publicados em Junho, quase 200 000 estudantes do ensino
superior beneficiaram do programa Erasmus de intercâmbio de estudantes no
ano académico de 2008/2009, o que eleva o total de beneficiários, desde que o
regime teve início, em 1987, a mais de dois milhões.
© Franz-Peter Tschauner / Belga

O mecanismo de protecção civil da UE foi


accionado para ajudar a proteger regiões da
Hungria na sequência de um derrame de
Protecção civil
lama tóxica vermelha proveniente de uma
O mecanismo de protecção civil da UE para a gestão de crises e catástrofes foi
fábrica.
chamado a intervir, na Primavera, para fazer face às inundações que se verifica-
ram na Polónia, na República Checa e na Alemanha. Em Maio, a Polónia solicitou
a activação do mecanismo de protecção civil da UE e, em resposta, 14 equipas
munidas de bombas de grande capacidade provenientes de outros Estados-
-Membros, bem como de uma bomba financiada pela UE e gerida pelos três
Estados bálticos, intervieram para fazer baixar o nível das águas. Tendo em conta
a incidência crescente das catástrofes naturais, a UE reflectiu sobre a forma de
reforçar a sua capacidade de resposta e aprofundou as capacidades de análise e
de coordenação do seu centro de informação e vigilância. A nova estratégia de
segurança interna tem por objectivo fazer incidir a sua recente abordagem con-
junta também sobre catástrofes naturais — terramotos, incêndios florestais,
inundações ou grandes nevões, bem como sobre crises causadas por ataques
terroristas ou informáticos a infra-estruturas críticas, insuficiências energéticas,
pandemias, falhas graves nas TIC ou acidentes industriais.

Direitos dos passageiros e transportes


Deslocar-se facilmente, e com segurança, é importante para os cidadãos da UE,
tal como é importante conseguir transportar os bens e serviços que eles desejam.

A fim de avaliar se poderão ser necessárias novas medidas, a Comissão examinou


a forma como as transportadoras aéreas aplicam a legislação da UE e como as
autoridades nacionais asseguram o cumprimento dos direitos dos passageiros
dos transportes aéreos. Em Dezembro foi adoptado um novo regulamento rela-
tivo aos direitos dos passageiros nos transportes marítimos e por vias navegáveis
interiores e conseguiu-se chegar a um acordo geral sobre uma outra regulamen-
tação de passageiros de autocarro, após um processo de conciliação entre o
Parlamento Europeu e o Conselho. No seguimento das constatações do inquérito
Eurobarómetro de 2009, que revelou a existência de uma margem de melhora-
mento no que respeita à sensibilização dos passageiros, foi lançada no Verão
uma campanha de informação a fim de tornar os cidadãos mais conscientes dos
seus direitos como passageiros, tanto dos transportes aéreos como ferroviários.

60
Transportes aéreos Voar através das cinzas!
Sobre os direitos dos passageiros dos transportes aéreos, o Tribunal de Justiça da O que foi feito para reduzir ao mínimo as
União Europeia confirmou que a responsabilidade das transportadoras aéreas perturbações e ajudar os cidadãos da
em caso de destruição, perda, avaria ou atraso na entrega da bagagem, que é UE após a erupção do vulcão na Islândia?
A Comissão actuou rapidamente para
regulada pela Convenção de Montreal (40), está limitada a 1 134 euros, incluindo
proteger os passageiros dos transportes
danos materiais e imateriais (41).
aéreos após a erupção do Eyjafjallajkull.
Foram tomadas medidas para facilitar as deslocações aéreas na sequência da Em estreita coordenação e diálogo
erupção do vulcão islandês e a segurança foi reforçada através da actualização constante com as companhias aéreas e as
autoridades, garantiu a aplicação
periódica da lista de transportadoras aéreas proibidas. Em Junho, realizou-se
uniforme das normas europeias de
uma audição das partes interessadas sobre os direitos dos passageiros aéreos.
protecção dos direitos dos passageiros
Deram-se passos importantes no sentido um «céu único europeu», o que permi- dos transportes aéreos. Coordenou as
tirá uma redução de custos e atrasos para os passageiros europeus e, ao mesmo alterações nos procedimentos de gestão
tempo, contribuirá para reduzir as emissões. Em Outubro, foram debatidos do tráfego aéreo, criou uma célula de crise
outros desafios da aviação na Europa na primeira reunião da plataforma «Avia- europeia permanente e formulou
ção», criada para prestar aconselhamento estratégico de base com vista a um propostas para atenuar o impacto no
futuro sustentável para os transportes aéreos e a um futuro concorrencial para o sector dos transportes aéreos. Em
especial, trabalhou no sentido de acelerar
sector europeu da aviação.
a reforma do «céu único europeu», a fim
Em Dezembro, na sequência de propostas apresentadas pela Comissão após a de optimizar o espaço aéreo europeu.
detecção de engenhos explosivos em carga aérea proveniente do Iémen, adop- Concebeu também estratégias para
tou-se um plano de acção destinado a reforçar a segurança da carga aérea. Este minimizar os danos de futuros eventos
semelhantes, incluindo um plano de
plano de acção irá permitir uma abordagem comum a nível da UE no que diz
utilização coordenada dos meios de
respeito a medidas de segurança de emergência tomadas por vários Estados-
transporte para assegurar que as pessoas
-Membros para responder a essa nova ameaça à aviação civil. e as mercadorias possam circular
livremente.

© Francisco Seco / AP / Reporters


A legislação da UE deu aos passageiros
vítimas de atrasos no seu território mais
Transportes rodoviários direitos para reivindicar alimentação,
Em matéria de segurança rodoviária, intensificaram-se os esforços (para se poder alojamento e indemnizações quando as
ir além dos 40% de redução da sinistralidade rodoviária já alcançados na Europa transportadoras – aéreas, rodoviárias ou
ferroviárias – não cumprem as suas
em anos recentes) e procurou-se reforçar a segurança rodoviária (com uma
obrigações.
recomendação sobre o serviço «eCall»). A Comissão adoptou medidas ambicio-
sas destinadas a reduzir para metade o número de mortos nas estradas europeias
entre 2010 e 2020, com base nos resultados do programa de acção para a segu-
rança rodoviária no período de 2001-2010, que terá aparentemente permitido
salvar 78 000 vidas. Em Dezembro, o Conselho chegou a um acordo político
sobre a partilha transfronteiras de informações sobre uma série de infracções
que comprometem a segurança rodoviária. A directiva em questão tem por
objectivo permitir a identificação dos condutores que cometem infracções num
Estado-Membro diferente daquele em que o seu veículo está matriculado, para
que as sanções possam ser aplicadas numa base transfronteiras.

61 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Os cidadãos deverão também vir a beneficiar — através de uma melhor quali-
dade do ar e da possibilidade de conduzir veículos mais silenciosos e mais efi-
cientes em termos de consumo de combustível — de outras políticas da UE que
envolvem fortemente a indústria automóvel. A iniciativa da União Europeia a
favor de automóveis respeitadores do ambiente promove a liderança da Europa
em tecnologias de veículos não poluentes e eficientes em termos energéticos;
em Abril, a Comissão apresentou um novo plano de acção que inclui uma redu-
ção contínua das emissões dos veículos, o apoio à investigação e à inovação e a
elaboração de normas e requisitos de segurança comuns, bem como propostas
relativas a incentivos vindos da procura. Para evitar a fragmentação do mercado,
as instâncias europeias de normalização estão a desenvolver um sistema de
tarifação comum para automóveis, motoretas e bicicletas eléctricos.
© Lennart Preiss / AP / Reporters

Um comboio de alta velocidade alemão (ICE)


Transportes ferroviários
ao lado do Eurostar na estação internacional
A realização de um espaço ferroviário europeu único também progrediu. O resul-
de St Pancras, em Londres, em Outubro. Estão a
ser adoptadas novas medidas para tornar tado traduzir-se-á em melhores serviços de transporte ferroviário de passageiros
realidade o espaço ferroviário europeu único. e mercadorias no futuro. Foi dado um novo impulso aos transportes ferroviários
de mercadorias na Europa, com a adopção de novas disposições que têm por
objectivo fomentar o desenvolvimento de um sistema de alta qualidade de ges-
tão das infra-estruturas ferroviárias a nível internacional. Tais disposições foram
publicadas em Outubro no Jornal Oficial da União Europeia, tornando obrigatória
a criação de uma rede ferroviária europeia competitiva de transporte de merca-
dorias, baseada em corredores ferroviários internacionais. Esta rede irá contribuir
para o reforço da cooperação entre os gestores de infra-estruturas e tornar os
serviços de transporte ferroviário de mercadorias mais competitivos e atraentes.

A melhoria do fluxo de informações entre os Estados-Membros, a UE e os inves-


tidores fez avançar a construção da rede transeuropeia de transportes. Defini-
ram-se nove novos corredores estratégicos de transporte ferroviário de merca-
dorias. Em Junho, a Comissão deu início a um processo contra 13 Estados-Membros
por não terem aplicado integralmente o primeiro pacote ferroviário.

Transportes marítimos
A Comissão adoptou novas disposições para ampliar e melhorar o desempenho das
inspecções técnicas dos navios, incluindo um conjunto de regulamentações ten-
dentes a assegurar a transparência e a informação do público sobre os antecedentes
das companhias de navegação em matéria de segurança, os Estados de bandeira e
os perfis de risco dos navios (42). As referidas disposições introduzirão, a partir do
início de 2011, um novo registo em linha que permitirá designar e denunciar as
companhias de navegação cujas inspecções sobre aspectos fundamentais de segu-
rança apresentem resultados fracos, bem como identificar as que tenham bons
desempenhos em termos de segurança. As companhias e os Estados que apresen-
tem resultados insatisfatórios serão objecto de inspecções coordenadas mais
intensas nos portos da UE e, paralelamente, os clientes poderão escolher as suas
companhias de navegação com pleno conhecimento do seu historial de segurança.

62
Entretanto, a Agência Europeia da Segurança Marítima, continuou a elaborar
instrumentos modernos de informação marítima, como o SafeSeaNet, o sistema
de vigilância do tráfego marítimo da UE, ou o Thetis, a base de dados da UE no
âmbito da inspecção pelo Estado do porto. Estes novos instrumentos represen-
tam um importante passo em frente na política de segurança marítima, situando-
-se, aliás, no centro de um sistema pan-europeu de vigilância, coordenação e
análise, o qual permitirá uma utilização mais eficaz dos recursos em todos os
Estados-Membros da UE.

O mandato da Agência Europeia da Segurança Marítima foi alterado em Setembro,


para que a Agência pudesse fazer face aos desafios inerentes ao mundo dos nossos
dias. Preparou-se uma agenda social do transporte marítimo para 2011, que com-
preende acções destinadas a conseguir um justo equilíbrio entre a garantia de
condições de emprego satisfatórias para os trabalhadores marítimos e a competiti-
vidade do sector, bem como a aplicação pela UE das convenções internacionais.

Em Outubro, o Conselho adoptou um regulamento que visa reforçar os direitos


dos passageiros dos transportes marítimos, com especial destaque para os pas-
sageiros com deficiência ou com mobilidade reduzida. Este regulamento prevê
indemnização e assistência em caso de anulação da viagem ou atraso, garan-
tindo também a não discriminação e a assistência adequada aos passageiros
com deficiência.

notas

(1) Conclusões da Presidência do Conselho Europeu de 11 de Dezembro de 2009 Decisão da Comissão relativa aos requisitos de segurança que devem ser
(http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cmsUpload/st00006.en09.pdf ). contemplados pelas normas europeias relativas aos dispositivos de bloqueio para
(2) Comunicação da Comissão sobre a realização de um espaço de liberdade, de janelas e portas de sacada (JO L 4 de 8.1.2010).
segurança e de justiça para os cidadãos europeus — Plano de acção de aplicação do Em Maio, a Comissão solicitou ao Comité Europeu de Normalização a elaboração de
programa de Estocolmo [COM(2010) 171]. normas europeias de segurança para estes produtos.

(3) Resolução do Parlamento Europeu de 23 de Novembro de 2010. (26) Acórdão do Tribunal de Justiça de 22.4.2010 no processo 62/09, Association of the
British Pharmaceutical Industry.
( ) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/1720&format=HTML
4

&aged=0&language=PT&guiLanguage=pt (27) Acórdão do Tribunal de Justiça de 1.6.2010 nos processos apensos C-570/07 e
C-571/07, Blanco Pérez e Chao Gómez.
( ) Acórdão do Tribunal de Justiça de 1.7.2010 no processo C-211/10 PPU, Povse.
5

(28) Acórdão do Tribunal de Justiça de 15.6.2010 no processo C-211/08, Comissão


(6) https://e-justice.europa.eu Europeia/Espanha.
(7) Acórdão do Tribunal de Justiça de 19.1.2010 no processo C-555/07, Kücükdeveci. (29) Acórdão do Tribunal de Justiça de 14.9.2010 no processo C-550/07 P, Azko Nobel
(8) Acórdão do Tribunal de Justiça de 12.10.2010 no processo C-499/08, Ingeniørforenin- Chemicals e Akros Chemicals/Comissão.
gen i Danmark. (30) Acórdão do Tribunal de Justiça de 29.6.2010 no processo C-441/07 P, Alrosa.
(9) Comunicação da Comissão «A integração social e económica dos ciganos na Europa» (31) Acórdão do Tribunal Geral de 9.9.2010 no processo T-155/06, Tomra Systems e. o./
[COM(2010) 133]. Comissão.
(10) Comunicação da Comissão «Rumo a uma Estratégia da UE sobre os Direitos da (32) Acórdão do Tribunal de Justiça de 14.10.2010 no processo C-280/08 P, Deutsche
Criança» [COM(2006) 367]. Telekom/Comissão.
(11) O artigo 21.°, n.° 1, do TFUE especifica que este direito está sujeita a determinadas (33) Acórdão do Tribunal de Justiça de 1.7.2010 no processo T-321/05, AstraZeneca/
limitações e condições. Comissão.
(12) Acórdão do Tribunal de Justiça de 2.3.2010 no processo C-135/08, Rottmann. (34) Acórdão do Tribunal Geral de 6.7.2010 nos processos T-342/07, Ryanair/Comissão, e
(13) http://eur-lex.europa.eu/JOHtml.do?uri=OJ:L:2010:195:SOM:EN:HTML T-411/07, Air Lingus Group/Comissão.
(14) Regulamento (CE) n.° 881/2002 do Conselho, que institui certas medidas restritivas (35) Acórdão do Tribunal de Justiça de 1.7.2010 no processo C-195/08, Gassmayr e no
específicas contra determinadas pessoas e entidades associadas a Osama Bin Laden, processo C-471/08, Parviainen.
à rede Al-Qaida e aos talibãs (JO L 139 de 29.5.2002). (36) Conclusões do Conselho «Assuntos Económicos e Financeiros», de 17 de Novembro
(15) Acórdão do Tribunal de Justiça de 29.4.2010 no processo C-340/08, M. e outros. de 2010 (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/
lsa/117761.pdf ).
(16) Acórdão do Tribunal de Justiça de 29.6.2010 no processo C-550/09, E e F.
(37) Acórdão do Tribunal de Justiça de 13.4.2010 no processo C-73/08, Bressol e outros.
(17) Acórdão do Tribunal Geral de 9.9.2010 no processo T-348/07, Al-Aqsa/Conselho.
(38) Proposta de decisão que cria uma acção da União Europeia relativa à Marca do
( ) Bruxelas, 24 de Novembro de 2010, 16913/10, PRESSE 321.
18
Património Europeu [COM(2010) 76].
( ) http://ec.europa.eu/anti-trafficking
19
(39) Conclusões do Conselho «Educação, Cultura, Juventude e Desporto» de 18 e 19 de
(20) Acórdão do Tribunal de Justiça de 17.6.2010 no processo C-31/09, Bolbol. Novembro de 2010
(21) Regulamento (CE) n.° 717/2007, relativo à itinerância nas redes telefónicas móveis (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/educ/117799.
públicas da Comunidade (JO L 171 de 29.6.2007). pdf ).
(22) Acórdão do Tribunal de Justiça de 8.6.2010 no processo C-58/08, Vodafone e outros. (40) Convenção para a unificação de certas regras relativas ao Transporte Aéreo
Internacional, celebrada em Montreal, em 28 de Maio de 1999.
(23) Directiva 97/7/CE relativa à protecção dos consumidores em matéria de contratos à
distância (JO L 144 de 4.6.1997). (41) Acórdão do Tribunal de Justiça de 6.5.2010 no processo C-63/09, Walz.
(24) Acórdão do Tribunal de Justiça de 15.4.2010 no processo C-511/08, Heinrich Heine. (42) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/1115&format=HTML
&aged=0&language=EN&guiLanguage=en
( ) Directiva 2001/95/CE relativa à segurança geral dos produtos (JO L 11 de 15.1.2002).
25

Directiva 87/357/CEE do Conselho, relativa à aproximação das legislações dos


Estados-Membros respeitantes aos produtos que, não possuindo a aparência do que
são, comprometem a saúde ou a segurança dos consumidores (JO L 192 de
11.7.1987).

63 R e l ató r i o G e r a l 2010 | U m p r o j e c to pa r a o s c i da dão s : co lo c a r a s p e s s oa s n o c e n t r o da acç ão e u r o p e i a


Capítulo 3
Energia, ambiente e clima
A União Europeia (UE) desempenhou um papel
pioneiro ao longo do ano de 2010 a fim de garantir a
segurança do aprovisionamento energético da Europa,
de lutar contra as alterações climáticas a nível global e
de proteger o ambiente em prol das gerações futuras.
A política energética da UE visa criar um mercado
interno da energia competitivo que proporcione
serviços de qualidade a baixos preços. As três priorida-
des são o desenvolvimento das fontes de energia
renováveis, a redução da dependência face às importa-
ções de combustíveis e a eficiência energética, ou seja,
fazer mais com um menor consumo de energia.

A UE é um líder mundial na luta contra as alterações


climáticas. Internamente, foi pioneira com acções
práticas para limitar as emissões e criou o primeiro
grande sistema de comércio de licenças de emissão do
planeta. Nas negociações internacionais, manteve os
seus objectivos para 2020 e mais além, com vista a
reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
Além disso, tem promovido ligações com outros
sistemas de comércio de licenças de emissão com o
objectivo último de criação de um mercado internacio-
nal de comércio do carbono. Os otbjectivos de redução
das emissões que a UE assumiu promoverão a moderni-
zação da economia da UE e contribuirão para a luta
contra as alterações climáticas.

Em todo o espectro de problemas relacionados com os


resíduos, a poluição, a qualidade do ar e da água, bem
como em questões estratégicas como a biodiversidade,
a UE demonstrou a sua determinação em tornar a
economia europeia mais ecológica.

Estes esforços fazem parte integrante da estratégia


«Europa 2020», que está centrada no crescimento
inteligente, sustentável e inclusivo. Trata-se de um
objectivo estratégico destinado a reforçar a liderança
da UE em acções globais para reduzir as emissões de
gases com efeito estufa, através de pressão política e
de inovação no domínio das tecnologias hipocarbóni-
cas. O mesmo acontece com a plena exploração dos
trunfos da UE no domínio da investigação na transição
para uma economia mais ecológica e mais apta a reagir
às questões sociais. Os benefícios estendem-se
também aos cidadãos em todos os Estados-Membros
— por exemplo com o desenvolvimento de motores de
combustão avançados que permitem reduzir o
consumo de combustível ou de métodos agrícolas que
fornecem alimentos de alta qualidade, preservando
simultaneamente o espaço rural.
E ne r g i a
A Europa necessita de um aprovisionamento energético seguro a
preços acessíveis para manter os seus padrões de vida. A política
energética da UE visa criar um mercado interno da energia competi-
tivo que proporcione serviços de qualidade a baixos preços. Os
objectivos específicos incluem o desenvolvimento de fontes de
energia hipocarbónicas e a redução da dependência em relação às
importações de combustíveis. Subjacente a estas metas está o
objectivo de desenvolver a actividade económica, reduzindo simul-
taneamente o consumo de energia.
A UE está a actuar no sentido de completar o mercado interno da energia, a fim
de construir e interligar as redes de energia, bem como de garantir a segurança
energética, nomeadamente transfronteiras. Está a fazer no domínio da energia o
que já foi feito para outros serviços no mercado único, desde as viagens aéreas
até aos telemóveis: proporcionar aos consumidores uma real escolha num mer-
cado europeu. O objectivo a atingir é uma verdadeira comunidade da energia na
Europa, em que as fronteiras sejam irrelevantes no que diz respeito às condutas
ou cabos de electricidade e em que exista uma infra-estrutura para a energia
solar e eólica. O carregamento das baterias dos automóveis eléctricos tem de ser
tão natural como encher o depósito de gasolina.
© Darren Greenwood / Design Pics Inc. / Reporters

Central eléctrica: garantir o abastecimento


energético na Europa.
Em Novembro, a Comissão apresentou a estratégia «Energia 2020 — Estratégia
para uma energia competitiva, sustentável e segura» (1), que define a política da
UE no domínio da energia para os próximos 10 anos. A estratégia identificou
medidas que visam a poupança de energia, a realização de um mercado com
preços competitivos e a segurança do aprovisionamento. Prevê incentivos ao
investimento para proprietários de imóveis e entidades locais no que diz respeito
a medidas de poupança de energia. Incentiva o sector público a tomar em con-
sideração a eficiência energética nos contratos de empreitadas, produtos ou
serviços. E promove regimes de certificação no sector industrial destinados a
promover o investimento em tecnologias que consumam menos energia.

A estratégia estabelece a data-alvo de 2015 para a realização do mercado interno


da energia e descreve uma nova abordagem quanto à forma como a UE pensa
financiar e implementar investimentos em infra-estruturas energéticas. Estima-
-se que, nos próximos dez anos, será necessário um total de 1 bilião de euros de
investimentos em infra-estruturas energéticas na UE. Prevê‑se igualmente um
conjunto de iniciativas para reforçar a investigação e o desenvolvimento tecno-
lógico no domínio da energia, bem como a capacidade da UE para negociar com
os seus parceiros internacionais. O primeiro Conselho Europeu de 2011 será
dedicado ao futuro desafio energético que se coloca à Europa.

66
A segurança no aprovisionamento energético foi uma questão que se impôs na
agenda. Na sequência da catástrofe do golfo do México, a União Europeia e os
Estados-Membros a título individual ofereceram equipamento suplementar para
ajudar na contenção do derrame de petróleo. Além disso, a Comissão publicou
uma comunicação sobre a segurança das actividades de exploração offshore de
petróleo e gás (2) a fim de minimizar o risco de ocorrência de uma catástrofe
semelhante. O objectivo é garantir normas de segurança uniformemente eleva-
das e responsabilidades claras nas operações de perfuração ao largo em toda a
UE, bem como a protecção do ambiente e a preparação e resposta em situações
de emergências. Esta foi a primeira vez que foi prevista legislação abrangente da
UE em matéria de instalações offshore de petróleo e gás. As novas normas da UE
consideradas incluirão critérios comuns para a concessão de licenças de perfura-
ção, controlos das instalações e mecanismos de controlo da segurança. Estas
visam não só garantir as mais elevadas normas de segurança nas águas euro-
peias, mas também promovê-las em regiões adjacentes e em todo o mundo.

Infra-estruturas energéticas
As infra-estruturas energéticas são o sistema vascular de uma economia
moderna. Na Europa, o sistema está envelhecido, não estando preparado para
suportar a transição para um sistema de produção de energia hipocarbónica e
eficiente em termos de utilização de recursos. A falta de interligação entre os
mercados de energia nacionais dificulta a realização de um verdadeiro mercado
único da energia que garanta uma concorrência leal e preços mais baixos. Por
esta razão, a modernização do sistema de infra-estruturas energéticas foi uma
questão importante na agenda da UE durante todo o ano de 2010. Em Novem-
bro, a Comissão adoptou prioridades em matéria de infra‑estruturas energéticas
para as próximas duas décadas (3). Identificou os corredores prioritários da UE
para as redes eléctricas e gasodutos que servirão de base para as futuras deci-
sões de licenciamento e financiamento de projectos da UE. As infra-estruturas
são reconhecidamente um factor essencial para a concretização dos planos
energéticos da UE em todos os aspectos, desde a realização do mercado interno
até à competitividade e melhores serviços para os consumidores, desde a solida-
riedade energética até ao cumprimento dos objectivos no domínio do clima e
das energias renováveis e desde a eficiência energética até à segurança do
aprovisionamento, tanto a nível interno como externo. A Comissão incorporou
também ideias sobre a forma de harmonizar as regras de investimento na UE e
atrair o financiamento privado.

Os preparativos foram facilitados por uma revisão, realizada em Julho, da imple-


mentação das Redes Transeuropeias de Energia no período de 2007 a 2009. Estes
destinavam-se a apoiar a finalização do mercado interno da energia, a fim de
reduzir o isolamento das regiões remotas, assegurar e diversificar os aprovisiona-
mentos de energia e contribuir para o desenvolvimento sustentável e a protec-
ção do ambiente. De um modo mais geral, a Comissão estudou formas de
melhorar a coordenação e cooperação transfronteiras em matéria de regula-
mentação.

Para melhorar a transparência e permitir uma análise adequada do sistema


energético da UE, um novo regulamento adoptado em Junho estabelece o
acompanhamento dos projectos de investimento numa vasta gama de infra-
-estruturas de produção, transporte e armazenamento de petróleo (incluindo os
biocombustíveis), gás e dióxido de carbono.

67 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
Eficiência energética
Foi dado um novo impulso à eficiência energética com base na fixação de objec-
tivos nacionais coerentes com o objectivo central europeu de um aumento de
20%. A rotulagem energética foi alargada dos aparelhos domésticos a todos os
produtos relacionados com a energia (4). Foram adoptados os primeiros regula-
mentos delegados que estabelecem requisitos para a rotulagem energética de
quatro produtos para uso doméstico relacionados com a energia (5).
© Vadim Ghirda / AP / Reporters

A modernização do Parlamento romeno, um


dos maiores edifícios do mundo, incluiu um
Como parte integrante da implementação da Directiva «Concepção Ecológica»
novo sistema eléctrico e a substituição de
de 2009, a Comissão adoptou requisitos relativos a produtos prioritários que têm
31 000 lâmpadas por outras de baixo
consumo, permitindo assim grandes
um impacto no consumo de energia, como ventiladores industriais e máquinas
poupanças de energia. de lavar loiça para uso doméstico. Prosseguiram os trabalhos para a criação de
futuros requisitos aplicáveis a mais de 20 grupos de produtos. Em Maio, a UE
aprovou igualmente novas regras relativas ao desempenho energético dos edifí-
cios (6), reforçando e alargando as actuais regras e reduzindo as diferenças entre
os mecanismos de controlo dos Estados-Membros em matéria de necessidades
energéticas de dispositivos como o aquecimento dos edifícios, a produção de
água quente, a refrigeração, a ventilação e a iluminação.

Mecanismo ELENA A eficiência energética foi promovida com sucesso também a nível local. Em
Para permitir às cidades e regiões Abril, os prémios GreenLight e GreenBuilding da UE foram entregues a cidades e
interessadas libertar investimentos locais edifícios que obtiveram grandes poupanças de energia. Um dos 12 galardoados
e regionais para as energias sustentáveis, da edição de 2010 do programa GreenLight foi a câmara municipal de Dagda, na
o mecanismo de assistência técnica Letónia, que, após a sua adesão à iniciativa em 2007, reduziu em 85% o seu
ELENA, lançado em 2009 em colaboração
consumo de energia na iluminação. Na categoria GreenBuilding, dois dos melho-
com o BEI, poderá mobilizar investimentos
res projectos de renovação (um edifício de escritórios na Áustria e uma escola
superiores a 1,3 mil milhões de euros, na
sequência da concessão até à data de secundária na Alemanha) permitiram poupanças de energia superiores a 80%.
17,5 milhões de subvenções para Nestas iniciativas participaram mais de 700 entidades de toda a Europa, que
assistência técnica. Em Barcelona, uma pouparam mais de 500 GWh por ano.
contribuição de 2 milhões de euros está a
Em Maio de 2010, outras 500 cidades europeias comprometeram-se a reduzir as
mobilizar investimentos de 500 milhões
de euros; em Milão, 2 milhões de euros suas emissões de dióxido de carbono em mais de 20% até 2020. Ao assinarem o
deverão mobilizar 90 milhões de euros; Pacto dos Autarcas, comprometeram-se a poupar energia, a promover as energias
em Purmerend, nos Países Baixos, a renováveis e a sensibilizar os seus cidadãos mediante o desenvolvimento e imple-
contribuição ELENA de 1,7 milhões de mentação dos respectivos planos de acção em matéria de energia sustentável.
euros está a mobilizar investimentos de 98
milhões de euros. E em Paris,
1,3 milhões de euros deverão mobilizar
180 milhões de euros.

68
O Pacto dos Autarcas é uma iniciativa da Comissão que conta com o apoio do
Parlamento Europeu e do Comité das Regiões. A cidade de Heidelberga, por
exemplo, reduziu as suas emissões de dióxido de carbono em quase 40%
nos edifícios públicos através de estações de monitorização da energia e de
«equipas de energia» nas escolas da cidade. A cidade de Riga utiliza o gás metano
produzido na lixeira da cidade para produzir electricidade e Antuérpia utiliza
um armazém industrial remodelado como edifício sustentável modelar e centro
de demonstração para os cidadãos. Até à data, aderiram à iniciativa mais de
O projecto Twenties
2 100 cidades em 36 países, apoiadas por mais de 100 regiões, províncias e redes,
O projecto de investigação Twenties sobre
representando mais de 125 milhões de cidadãos. energias renováveis, dotado de 60 milhões
de euros, é o maior jamais financiado pela
UE, com uma contribuição da Comissão
Tecnologias e fontes de energia renováveis Europeia de 32 milhões de euros. Cerca de
A UE definiu nos últimos dois anos uma vasta política e um quadro jurídico para 26 empresas e instituições de 11 Estados-
o desenvolvimento das energias renováveis, em conformidade com o estabele- -Membros estão a trabalhar no sentido de
cido na Directiva «Energias Renováveis», que entrou em vigor em 2009. Os integrar a energia eólica na rede de
electricidade. Ao longo de três anos, este
Estados-Membros elaboraram planos de acção nacionais para as energias reno-
projecto explorará formas de eliminar os
váveis em 2010 que proporcionam aos investidores um quadro político estável
obstáculos à integração da energia eólica
para a próxima década. Estes planos confirmaram o potencial da utilização de — produzida tanto em terra como ao
energias renováveis na UE e a capacidade geral da UE para atingir, ou mesmo largo da costa — na rede eléctrica.
ultrapassar ligeiramente, o objectivo de 20% até 2020.

As energias renováveis já estão a ter impacto no cabaz energético da UE. Repre- PARTILHA DE ESFORÇOS PARA REDUZIR
sentaram 62% da nova capacidade de produção de electricidade instalada na UE AS EMISSÕES
em 2009 (7) — um aumento em relação aos 57% de 2008. Pelo segundo ano Metas acordadas entre todos os países
consecutivo, a energia eólica constituiu a maior parte das novas capacidades: da UE para reduzir as emissões de gases
10,2 GW dos 27,5 GW instalados, representando 38% da produção. Em termos com efeito de estufa, a fim de permitir à UE
obter uma redução total de 10%.
absolutos, as energias renováveis produziram 19,9% do consumo de electrici-
Aplicável aos sectores não abrangidos pelo
dade da Europa em 2009.
regime europeu de comércio de licenças
No domínio da investigação sobre energias renováveis foram criadas quatro ini- de emissão. Os países menos ricos podem
ciativas industriais europeias no âmbito do Plano Estratégico Europeu para as reduzir menos do que os mais ricos,
mas mesmo assim têm um valor-limite
Tecnologias Energéticas (plano SET). Estas primeiras iniciativas abrangem a
vinculativo e devem fazer um esforço
energia eólica, a energia solar, as redes de electricidade e a captura e armazena-
de redução. Emissões de 2020
mento de carbono. Os sectores público e privado estão empenhados em acelerar em comparação com 2005 (%).
o desenvolvimento das tecnologias hipocarbónicas e acordaram apoiar roteiros
tecnológicos para 2010-2020, incluindo planos de acção para o desenvolvimento
Emissões de 2020 em comparação
das tecnologias e a melhoria da sua competitividade. com 2005 (%)
EU-27
Em 2010, iniciaram-se as operações no âmbito do Programa Energético Europeu
Bulgária
para o Relançamento, criado em 2009 em resposta à crise económica e financeira Roménia
Letónia
na Europa. Este programa incentiva a diversificação dos aprovisionamentos de Lituânia
Polónia
energia, o funcionamento do mercado interno da energia e a redução das emis- Eslováquia
Estónia
sões de gases com efeito de estufa. Proporciona empréstimos, garantias e capital Hungria
República Checa
próprio a projectos no domínio da eficiência energética e das fontes de energia Malta
Eslovénia
renováveis desenvolvidos por autarquias locais, províncias, municípios e entida- Portugal
Grécia
des privadas agindo em nome de entidades públicas. Logo que é atingido o Chipre
limiar de rendibilidade em cada projecto, o empréstimo é reembolsado ao fundo. Espanha
Itália
França
Alemanha
Bélgica
Reino Unido
Finlândia
Áustria
Países Baixos
Suécia
Luxemburgo
Irlanda
Dinamarca
­-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20

Fonte: Comissão Europeia.

69 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
Foi concedido um financiamento total de 3 980 milhões de euros para apoio
a três subprogramas: 2 365 milhões de euros para projectos de infra-estruturas
de gás e electricidade, 565 milhões de euros para projectos de energia eólica
marítima e 1 050 milhões de euros para projectos de captura e armazenamento
de carbono. Os beneficiários receberam 900 milhões de euros até ao final do ano.
Enquanto os promotores de projectos começam a adquirir materiais de constru-
ção e obras, o programa já está a acelerar investimentos em infra-estruturas e
a atrair co‑financiadores para assumirem compromissos de investimento. Os
fundos não despendidos no final do ano serão consagrados a projectos de efici-
ência energética. Em Outubro, o Parlamento e o Conselho chegaram a acordo
sobre a reafectação de 146 milhões de euros de verbas não autorizadas ao abrigo
do programa a um instrumento financeiro inovador para iniciativas de eficiência
energética e de energias renováveis.

Programa Energético para o A Comissão Europeia prosseguiu o desenvolvimento dos seus mecanismos de
Relançamento apoio à demonstração comercial da captura e armazenamento de carbono
No decurso do ano, a UE financiou 44 projectos (CAC), a fim de verificar a eficácia desta tecnologia potencialmente vital para a
nos sectores do gás e da electricidade com atenuação das alterações climáticas. A CAC pode contribuir tanto para os objec-
mais de 2 mil milhões de euros e projectos de
tivos da UE em matéria de clima como para a sua segurança do aprovisionamento
energia eólica marítima com cerca de
energético. É a única tecnologia disponível para reduzir de modo significativo as
565 milhões de euros.
emissões de CO2 provenientes das centrais eléctricas alimentadas a combustíveis
fósseis e de aplicações industriais fixas de grandes dimensões. Na UE, as emis-
sões de CO2 evitadas pela CAC em 2030 poderiam representar cerca de 15% das
reduções necessárias. Além disso, a CAC poderia reduzir significativamente os
custos da atenuação das alterações climáticas. Foi adoptada, em 2010, uma
decisão que estabelece os critérios e as medidas para o financiamento de projec-
tos CAC em larga escala, bem como de tecnologias de energias renováveis ino-
vadoras, no âmbito do Regime de Comércio de Licenças de Emissão (RCLE),
a que se seguiu um convite à apresentação de propostas (8). Pelo menos oito
grandes projectos de demonstração da CAC poderiam ser financiados por este
regime, com a concessão de financiamento aos primeiros projectos em 2012. Foi
criada a rede de projectos CAC, uma ferramenta de apoio à demonstração inicial
em larga escala de tecnologias CAC. Esta é a primeira rede no mundo a promover
a partilha de conhecimentos e a sensibilização do público para o papel da CAC
na redução das emissões de CO2.

MAIOR COMÉRCIO DE EMISSÕES


Volume de emissões de gases com efeito de estufa negociado ao abrigo do regime de
comércio de licenças de emissão.
Milhões de toneladas de CO2
600

500

400

300

200

100

0
Jan 2005 Jan 2006 Jan 2007 Jan 2008 Jan 2009 Jan 2010 Jan 2011

Fonte: Comissão Europeia.

70
Energia nuclear
A energia nuclear é cada vez mais considerada um elemento importante de um
cabaz energético equilibrado, uma vez que contribui substancialmente para a pro-
dução de energia hipocarbónica na UE e para a realização dos objectivos da política
energética da UE para 2020 e 2050. A UE não pode influir na escolha do cabaz
energético nacional, mas tem o dever de apoiar a segurança e a investigação a nível
europeu. Os Estados-Membros dispõem de um total de 143 centrais nucleares e
outros países estão a tomar medidas para lançar, relançar ou desenvolver a energia
nuclear. A segurança nuclear atrai a atenção do público, pelo que se está a tornar
cada vez mais premente a existência de um quadro jurídico sólido e de uma cultura
de segurança nuclear profundamente enraizada. Consequentemente, em Novem-
bro, a Comissão propôs (9) normas de segurança para a eliminação final de combus-
tível e resíduos radioactivos das centrais nucleares. Foi solicitada aos Estados-Mem-
bros a apresentação de programas nacionais que indiquem quando, onde e como
irão construir e gerir repositórios finais destinados a garantir o mais elevado nível de
segurança. Esta directiva estabelece normas de segurança acordadas a nível inter-
nacional e juridicamente vinculativas e executórias na União Europeia.

Relações internacionais e segurança do aprovisionamento TIPOS DE COMBUSTÍVEL CONSUMIDOS NA UE?


energético Quota-parte de combustíveis utilizados para
produzir energia nos 27 países da UE, 2008
O novo Regulamento Segurança do Aprovisionamento de Gás (10) na UE reduziu a
nossa vulnerabilidade a perturbações futuras. Os Estados-Membros têm agora de
cumprir normas relativas a infra-estruturas e aprovisionamentos e estabelecer Energias renováveis
8,40%
planos de acção preventiva e planos de emergência. A proposta foi motivada
pelas crises do gás de 2008 e 2009, quando os fornecimentos de gás russo à União
Europeia através da Ucrânia foram perturbados por litígios entre Moscovo e Kiev. Nuclear
13,50%
Em Setembro, o Parlamento Europeu aprovou o novo Regulamento Segurança
do Aprovisionamento de Gás, um passo importante no sentido de uma verda-
Petróleo
deira política energética europeia comum que reduzirá também a vulnerabili- 36,50%
Combustíveis
dade a futuras perturbações no fornecimento de gás em situações de crise. sólidos
17,10%
Com o crescimento tanto do consumo de energia como da dependência face às
importações de petróleo e gás e com uma escassez cada vez maior de recursos,
Gás
o risco de ruptura no aprovisionamento está a aumentar. Por conseguinte, uma 24,50%

grande prioridade da agenda da UE é garantir aprovisionamentos energéticos Fonte: Comissão Europeia.


para a Europa. Além de promover a eficiência energética a fim de tirar o máximo
partido dos fornecimentos, a UE promove uma vasta combinação de fontes de
energia, bem como a diversificação dos fornecedores, das rotas de transporte e DE ONDE VEM O GÁS?
Proveniência do gás natural consumido nos
dos mecanismos de transporte. Os mecanismos de salvaguarda permitem
27 países da UE, 2007
aumentar cada vez mais a segurança no aprovisionamento energético aos cida-
dãos e às indústrias europeias. E estão estabelecidas parcerias fiáveis com países Catar
1,50% Egipto
fornecedores, de trânsito e consumidores, reduzindo os riscos da dependência Líbia 1,10%
1,90% Trindade e Tobago
energética da Europa. Os Estados-Membros têm de manter reservas de emer- 1,10%
gência de petróleo e de gás e assegurar investimentos nas redes de electricidade, Nigéria Outros (calculado)
2,60% 0,40%
enquanto um mecanismo de coordenação ajuda agora os Estados-Membros a
Argélia
reagir de maneira uniforme e imediata em situações de emergência. 9,70%

A segurança do aprovisionamento energético tem sido promovida através de Produção primária


38,00%
legislação nacional e do desenvolvimento de uma nova cooperação e de rotas Noruega
18,90%
de aprovisionamento por via do diálogo internacional. O 10.º aniversário do
diálogo UE-Rússia sobre Energia (11) constituiu uma oportunidade para reforçar e
actualizar a cooperação com o mais importante fornecedor de energia da UE. Federação da Rússia
24,70%
O mecanismo de alerta precoce UE-Rússia acordado em Novembro de 2009
Fonte: Comissão Europeia.
foi utilizado com sucesso pela primeira vez durante a crise de Junho com a
Bielorrússia relativa ao trânsito de gás.

71 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
A sétima reunião a nível ministerial do diálogo sobre energia entre a UE e a Organi-
zação dos Países Exportadores de Petróleo (12) salientou o papel que o diálogo tem
vindo a desempenhar para facilitar intercâmbios construtivos entre as partes, a fim
de contribuir para o restabelecimento da estabilidade dos mercados, no interesse
tanto dos produtores como dos consumidores. No âmbito do acordo de coopera-
ção da UE com o Conselho de Cooperação do Golfo, a energia desempenha um
papel preponderante, em especial no que diz respeito ao comércio de gás natural
entre as duas regiões e às políticas e tecnologias no domínio da eficiência energé-
tica, das fontes de energia renováveis e da captura e armazenamento de carbono.
A UE estabeleceu também negociações com os países do Magrebe sobre a integra-
ção dos mercados da energia, com vista a subsequentes ligações com a UE. Os
esforços realizados para diversificar as fontes de aprovisionamento também incluí-
ram a assinatura de um memorando de entendimento com o Iraque sobre a coope-
ração no domínio da energia, a implementação da cooperação com os actuais
países fornecedores e de trânsito, como a OPEP ou os países da Ásia Central/zona
do mar Negro, e acções destinadas a apoiar projectos de infra-estruturas prioritá-
rias, como o corredor meridional. A UE apoiou uma maior integração dos mercados
com países interessados no âmbito do Tratado da Comunidade da Energia, do qual
a Moldávia se tornou membro de pleno direito. O processo de ratificação do proto-
colo de adesão da Ucrânia encontrava-se em curso e a Turquia prosseguiu as
negociações com vista à sua adesão.

A Comissão prestou especial atenção ao apoio ao desenvolvimento hipocarbó-


nico nas suas relações bilaterais e através de canais multilaterais. Com a China,
por exemplo, as relações intensificaram-se significativamente, incidindo no
apoio a actividades hipocarbónicas na China, bem como na promoção de condi-
ções equitativas para a cooperação no domínio da energia e de condições de
mercado transparentes e estáveis no sector chinês da energia.

As tecnologias hipocarbónicas são igualmente um dos principais temas aborda-


dos no recém-criado Conselho da Energia UE-EUA. A energia é uma componente
importante do diálogo UE-EUA, devido aos seus impactos nas políticas externa,
económica e de desenvolvimento. O trabalho em conjunto no domínio da ener-
gia permite aumentar a segurança e a prosperidade mútuas, apoiar mercados
globais de energia estáveis, fiáveis e transparentes e coordenar regimes regula-
mentares e programas de investigação a fim de acelerar a implantação das tec-
nologias energéticas limpas e eficientes do futuro. A cooperação apoia o cresci-
mento económico e a criação de emprego e permite progredir na realização dos
objectivos em matéria de alterações climáticas.

Um mercado eficiente
A União Europeia actuou também no sentido de assegurar um funcionamento
eficiente do mercado da energia. As regras da UE destinam-se a aumentar a
capacidade e a transparência dos mercados do gás e da electricidade. É de
importância crucial um mercado a funcionar adequadamente, bem regulamen-
tado, transparente e interligado com sinais de preços de mercado para garantir a
concorrência e a segurança do aprovisionamento. Um mercado único da UE efi-
ciente e plenamente funcional no domínio da energia proporcionará aos consu-
midores uma escolha entre diferentes companhias fornecedoras de gás e electri-
cidade a preços razoáveis e permitirá o acesso de todos os fornecedores ao
mercado, em especial os de menores dimensões e os que investem em energias
renováveis. Pode também ajudar a UE a recuperar da crise económica.

72
Em Julho, a Comissão solicitou à Polónia que se abstivesse de infringir as regras da
UE em matéria de mercado interno do gás. As infracções incluíam a imposição aos
importadores de gás da obrigação de armazenar uma certa percentagem de gás
na Polónia e a falta de acesso ao gasoduto Yamal. As disposições em causa foram
adaptadas em conformidade com a legislação da UE e, em Novembro, a Comissão
aprovou a nova abordagem. Em Junho, a Comissão enviou 35 pedidos separados
a 20 Estados-Membros para implementarem e aplicarem integralmente vários
aspectos da legislação da UE para a criação de um mercado único do gás e da
electricidade. Em Maio, os compromissos assumidos pela E.On, em resposta à
pressão da Comissão, contribuíram para abrir o mercado energético alemão.

Para que os mercados funcionem de forma eficiente é necessário ter em conta os


interesses dos consumidores, pelo que o Conselho adoptou em Dezembro con-
clusões sobre uma «Política Energética para os Consumidores» (13), que trata de
aspectos relacionados com os direitos dos consumidores e a protecção de
clientes vulneráveis e tem em conta contributos da reunião informal dos minis-
tros da Energia realizada em Setembro.

O ano de 2010 foi o ano da preparação da Agência Europeia de Cooperação dos


Reguladores da Energia — uma agência forte capaz de enfrentar os múltiplos
desafios da regulação do mercado europeu da energia. A sua reunião constitutiva
teve lugar no primeiro semestre de 2010 e seleccionou Liubliana como a sua sede.

Acç ão c l i m át ic a
Os compromissos da UE no domínio do clima — já assumidos muito
antes da Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas reali-
zada em Copenhaga no final de 2009 — foram implementados ao
longo de 2010, no âmbito do seu pacote relativo ao clima e à ener-
gia. A UE está a lutar por que sejam acordadas medidas globais para
implementar acções ambiciosas e juridicamente vinculativas em
matéria de clima — e está pronta a avançar ainda mais.
Em Janeiro, a UE associou-se formalmente ao Acordo de Copenhaga que foi
negociado no final da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáti-
cas em Dezembro de 2009. Conforme acordado no âmbito do acordo, a Europa
notificou também formalmente os seus objectivos de redução das emissões de
gases com efeito de estufa para 2020: uma redução unilateral de 20% relativa-
mente aos níveis de 1990 e uma oferta de aumento progressivo dessa redução
para 30% se outras grandes economias se comprometerem a assumir a sua
quota-parte num esforço mundial.

Em conformidade com os compromissos assumidos no âmbito do Protocolo de Objectivos da acção em matéria de clima
Quioto, a UE continuou a avançar no sentido do cumprimento dos seus objecti- Os objectivos «20-20-20» da UE para 2020,
vos de emissão para 2012. A União Europeia está avançada relativamente ao propostos em 2007 e aprovados em 2008,
calendário previsto na sua promessa de redução das emissões. A Comissão implicam uma redução de 20% nas emissões de
gases com efeito de estufa, em relação aos
estima que tanto a EU-15, o grupo dos «antigos» Estados‑Membros, como os
níveis de 1990, uma quota de 20% de energias
10 «novos» Estados-Membros que têm objectivos de redução no âmbito do
renováveis e uma redução de 20% no consumo
Protocolo de Quioto cumprirão os seus compromissos.
de energia, em comparação com níveis
projectados, mediante uma importante
melhoria da eficiência energética.

73 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
A pedra angular da política da UE em matéria de clima, o Regime de Comércio de
Licenças de Emissão (RCLE), continuou a evoluir à medida que se preparava a revisão
do sistema que produzirá efeitos a partir de 2013. Foram decididas novas regras
técnicas, incluindo um limite máximo aplicável às licenças de emissão para 2013 (14)
e regras relativas ao leilão de licenças de emissão (15), que se tornará o principal
método de atribuição a partir de 2013. Além disso, a Comissão apresentou propostas
relativas a parâmetros de referência para a atribuição de licenças de emissão a título
gratuito a sectores industriais específicos (16) e outras restrições qualitativas sobre a
utilização de créditos internacionais provenientes de determinados projectos indus-
trias no sector do gás pós-2012 (17), que suscitam uma série de preocupações. Entre-
tanto, as emissões das cerca de 11 000 instalações actualmente abrangidas pelo RCLE
têm vindo a diminuir: os valores relativos a 2009 (18) registaram uma descida de 11,6%
em relação ao ano anterior (19). E, num acórdão importante, o Tribunal Geral negou
provimento à acção intentada por uma empresa que contestava a validade da Direc-
tiva «Regime de Comércio de Licenças de Emissão» (20), que foi adoptada para promo-
ver a redução das emissões de gases com efeito de estufa, em particular de CO2,
baseada nas obrigações da Comunidade ao abrigo da Convenção‑Quadro das
Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e do Protocolo de Quioto (21).
A União Europeia fez também preparativos para a entrada do sector da aviação no
regimes (22), a fim de que, a partir 1 de Janeiro de 2012, sejam incluídas as activida-
des dos operadores de aeronaves que aterrem ou descolem de aeroportos da UE.
A Comissão aprovou igualmente uma ferramenta (23) para estimar o consumo de
combustível dos pequenos operadores de aeronaves, permitindo aos operadores
com um pequeno número de voos ou com baixas emissões utilizar procedimentos
simplificados de monitorização A nível internacional, a UE teve um papel decisivo
no reconhecimento de que podem ser agora tomadas medidas para reduzir os
impactos dos gases com efeito de estufa da aviação, e chegou-se a um acordo
internacional sobre a redução das emissões de gases com efeito de estufa do sector
a nível mundial a partir de 2020.

NER-300: Financiar tecnologias Foram ainda envidados esforços para impor limites às emissões de CO2 das furgo-
hipocarbónicas inovadoras netas. Em Dezembro, o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão chegaram a
O RCLE beneficiará de um novo instru- um acordo informal sobre legislação que foi rapidamente adoptada pelos ministros
mento de financiamento da UE designado do Ambiente da UE. Foi lançado um debate sobre possíveis novas medidas para
NER300 (24). O programa proporcionará
reduzir as emissões da UE. A Comissão apresentou uma análise (25) dos custos,
um apoio financeiro substancial a, pelo
benefícios e opções para ultrapassar o objectivo de 20% até 2020, uma vez reuni-
menos, oito projectos que utilizem
tecnologias de captura e armazenamento das as condições necessárias. A avaliação considerou que a recessão reduziu consi-
de carbono e a, pelo menos, 34 projectos deravelmente o custo da realização do objectivo de 20%, mas que também significa
que envolvam tecnologias de energias que é provável que o preço do carbono se mantenha baixo nos próximos anos,
renováveis. O financiamento provirá da reduzindo o estímulo à inovação hipocarbónica. O «custo» adicional é um investi-
venda de 300 milhões de licenças RCLE-UE mento que gerará dividendos — em termos de reforço da competitividade e da
(direitos de emissão de 1 tonelada de inovação na Europa, de salvaguarda de postos de trabalho, de redução da factura
dióxido de carbono) que, a preços
de importação de energia, de reforço da segurança energética e de redução da
correntes, poderá gerar cerca de
poluição atmosférica e dos seus custos. O Conselho Ambiente de Outubro solicitou
4,5 mil milhões de euros. O objectivo do
programa NER-300 é promover o à Comissão que aprofundasse o estudo das opções.
desenvolvimento de uma economia A reflexão sobre futuras reduções das emissões estende-se para muito depois de
hipocarbónica na Europa, criando novos 2020. O objectivo da UE a longo prazo é reduzir, até 2050, as suas emissões em
empregos «verdes» e contribuindo para a
80%-95% relativamente aos níveis de 1990. Neste contexto, foi efectuada uma
realização dos objectivos da UE em
consulta pública para ajudar a preparar um roteiro, a publicar no princípio de 2011
matéria de alterações climáticas. O Banco
Europeu de Investimento está a colaborar como parte integrante da iniciativa emblemática Eficiência dos Recursos, a fim de
com a Comissão na execução do completar a transição para uma economia hipocarbónica até 2050. Uma consulta
programa. pública separada examinou se as emissões e remoções da atmosfera de dióxido de
carbono e de outros gases com efeito de estufa relacionadas com a utilização dos
solos, a reafectação dos solos e a silvicultura deveriam ser abrangidas pelo objec-
tivo de redução da UE.

74
De Copenhaga a Cancun Progressos internacionais desde
Prosseguiram em 2010 as negociações internacionais que visam estabelecer um Copenhaga
acordo global em matéria de clima sob os auspícios das Nações Unidas. Na pri- Os países industrializados e em desenvol-
vimento aceitaram pela primeira vez que
meira parte do ano, a prioridade da UE foi revigorar as negociações após os resul-
partilham uma responsabilidade conjunta
tados desanimadores da Conferência de Copenhaga em Dezembro de 2009. No
na manutenção do aquecimento global a
entanto, o Acordo de Copenhaga subscreveu o objectivo de manter o aumento um nível inferior a 2 °C. Desde Dezembro
das temperaturas globais abaixo de 2 °C em relação ao nível pré-industrial. A UE de 2009, perto de 140 países, responsáveis
continua convencida de que a única forma eficaz de atingir este objectivo é atra- por mais de 80% das emissões mundiais,
vés de um acordo mundial, abrangente e juridicamente vinculativo, pelo que associaram-se ao Acordo de Copenhaga,
durante o ano contribuiu para aumentar a pressão nesse sentido. A comunicação enquanto mais de 75 apresentaram
da Comissão (26) de Março propôs: uma implementação rápida pela UE do Acordo acções ou objectivos destinados a limitar
ou a reduzir as suas emissões. O Acordo de
de Copenhaga, em especial da promessa de assistência financeira de «arranque
Copenhaga vincula o mundo industriali-
rápido» aos países em desenvolvimento, a adopção de uma abordagem por fases
zado a prestar uma assistência financeira
para a obtenção de um acordo global, a demonstração da liderança da UE ao substancial aos países em desenvolvi-
tomar medidas tangíveis para se tornar a região do mundo mais respeitadora do mento na luta contra as alterações
clima, como parte integrante da estratégia «Europa 2020» e a intensificação da climáticas: perto de 30 mil milhões de
abertura da UE a parceiros de todo o mundo a fim de criar confiança em que con- dólares de financiamento designado de
tinua a ser possível um acordo global sob os auspícios da ONU. «arranque rápido» para 2010-2012 e 100
mil milhões de dólares por ano até 2020.
A UE trabalhou ao longo do ano no sentido de tornar a conferência de Cancun A UE e os Estados-Membros começaram a
sobre alterações climáticas de Novembro e Dezembro de 2010 num novo marco cumprir o seu compromisso de fornecer
importante na via para um acordo internacional juridicamente vinculativo. Os 7,2 mil milhões de euros durante o
negociadores reuniram-se em Bona em Agosto, mas obtiveram menos resulta- período de 2010-2012.
dos do que esperavam. Na sessão preparatória final para a conferência de Cancun
realizada em Tianjin, China, no início de Outubro, chegou-se a um largo consenso
de que em Cancun se deveria obter um pacote equilibrado de decisões.

© David de la Paz / Belga

A UE trabalhou ao longo do ano no sentido


de tornar a Conferência de Cancun sobre
Em Outubro, o Conselho Ambiente (27) e o Conselho Europeu (28) definiram a Alterações Climáticas de Novembro e
posição da UE para Cancun. O Conselho Ambiente confirmou, nomeadamente, a Dezembro num novo marco importante na
estratégia da UE por fases, estabeleceu a posição da UE sobre um regime mun- via para um acordo jurídico internacional.
dial de redução das emissões resultantes da desflorestação tropical e sobre o
financiamento de arranque rápido e a longo prazo para os países em desenvolvi-
mento. Debruçou-se também sobre as expectativas da UE de reforço da transpa-
rência das acções adoptadas pelos vários países em matéria de emissões e de
financiamento para a melhoria dos mercados do carbono. O Conselho Europeu
salientou a importância de criar uma fase intermédia significativa, com base no
Protocolo de Quioto, e de preparar a via para um quadro mundial abrangente e
juridicamente vinculativo. Confirmou também a disponibilidade da UE para
considerar um segundo período de compromissos no âmbito do Protocolo de
Quioto, desde que sejam satisfeitas as condições da Europa.

75 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
O Conselho Assuntos Económicos e Financeiros de Dezembro (29) aprovou um
relatório sobre os progressos realizados pela UE na mobilização de 7,2 mil
milhões de euros de financiamento de arranque rápido que se comprometera a
proporcionar no período de 2010 a 2012. Este relatório foi apresentado em
Cancun e a União Europeia está empenhada em continuar a comunicar anual-
mente, de forma transparente, a sua implementação do compromisso de finan-
ciamento de «arranque rápido».

Protecção das florestas Os resultados de Cancun


O processo Paris-Oslo de redução das A delegação da UE foi a Cancun para obter um pacote substancial de decisões
emissões resultantes da desflorestação e orientadas para a acção e manter no bom caminho as negociações internacionais
da degradação florestal nos países em sobre alterações climáticas. A conferência realizada de 29 de Novembro a 10 de
desenvolvimento foi formalmente lançado Dezembro atingiu estes objectivos ao produzir os Acordos de Cancun. A UE congra-
no final de Maio.
tulou-se com os acordos, considerando-os um passo importante na via para um
quadro de acção global em matéria de clima. A Europa conseguiu falar a uma só
voz e contribuiu para o sucesso dos resultados obtidos. A Comissão agiu em estreita
colaboração com o Conselho e com o apoio do Parlamento Europeu.
© Antonio Scorza / AFP / Belga

A UE apoia as acções envidadas na Europa e


em todo o mundo para travar a perda de Os acordos de Cancun baseiam-se nas decisões tomadas em Copenhaga e
biodiversidade e a destruição, como, por estabelecem processos para a realização de novos progressos. Entre os ele-
exemplo, o incêndio que devastou esta área mentos-chave contam-se:
num acampamento ilegal na Floresta
Nacional do Jamanxim, no norte do Brasil. reconhecimento, pela primeira vez num documento da ONU, de que o aqueci-
mento global deve ser mantido a um nível inferior a 2 °C, em relação à tempera-
tura no período pré‑industrial, e estabelecimento de um processo para definir
uma data de inflexão das emissões globais e um objectivo de redução para 2050;
ancoragem das promessas relativas às emissões dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento ao processo da ONU e contribuição para a sua clarificação.
O texto reconhece igualmente que os esforços gerais de atenuação têm de ser
intensificados a fim de respeitar o limite de 2 °C;
acordo sobre o lançamento de um processo que reforce a transparência das
acções destinadas a reduzir ou limitar as emissões mediante uma melhor moni-
torização, comunicação de informações e verificação, para que seja possível um
acompanhamento mais eficaz dos progressos gerais;
confirmação do objectivo de os países desenvolvidos mobilizarem 100 mil
milhões de dólares para financiar anualmente, até 2020, acções dos países em
desenvolvimento relativas ao clima e estabelecimento de um «fundo verde» para
o Clima, através do qual será canalizado grande parte do financiamento;
acordo sobre o quadro de adaptação de Cancun, destinado a promover acções
de adaptação às alterações climáticas;
lançamento de um mecanismo «REDD+» para acções de redução das emissões
resultantes da desflorestação e da degradação das florestas nos países em
desenvolvimento;
estabelecimento de um mecanismo tecnológico para melhorar a cooperação no
domínio do desenvolvimento e transferência de tecnologias.

76
A m b ien t e
No século XX, assistiu-se a um crescimento fenomenal da Europa: a
sua população foi multiplicada por 4 e a sua produção económica por
40. Mas foi muito exigente em termos de recursos: a utilização de
combustíveis fósseis foi multiplicada por 16, as capturas na pesca por
35, o consumo de água por 9 e as emissões de carbono por 17.

Biodiversidade Semana Verde 2010


Os chefes de Estado e de Governo da UE adoptaram uma nova visão para 2050 Em Junho, mais de 3000 participantes de
em matéria de biodiversidade, bem como um objectivo central que inclui suster instituições, de empresas e da indústria,
a perda de biodiversidade até 2020 e maximizar a recuperação da biodiversi- de organizações não governamentais, de
autoridades públicas, da comunidade
dade (30). A UE comprometeu-se a proteger, valorizar e restabelecer a biodiversi-
científica e dos meios académicos
dade e os seus serviços ecossistémicos, uma vez que são essenciais para o bem-
estiverem presentes na Semana Verde
-estar humano e a prosperidade económica. O objectivo é integrar as questões 2010 organizada pela UE em Bruxelas, a
da biodiversidade em todas as áreas políticas relevantes (nomeadamente na maior conferência anual da Europa sobre
agricultura, pescas, desenvolvimento e investigação) de forma a que estes secto- o ambiente. O tema do ano — A biodiver-
res contribuam de forma pró-activa para a realização dos objectivos em matéria sidade é a nossa vida (Biodiversity our
de biodiversidade. Este compromisso já se traduziu em acções. Foram anuncia- lifeline) — reflectiu o Ano Internacional da
dos novos instrumentos da UE em Junho destinados a intensificar a luta contra a Biodiversidade e concentrou a sua
atenção na variedade de espécies e
perda de biodiversidade, incluindo um portal web (31) que centraliza as informa-
ecossistemas que constituem a trama da
ções sobre a biodiversidade na Europa e um «nível de referência da biodiversi-
vida no nosso planeta e nos serviços
dade» que oferece uma panorâmica geral do estado actual da biodiversidade, a indispensáveis prestados pela natureza,
fim de ajudar os decisores políticos a acompanhar os progressos realizados no incluindo a regulação do clima. Demons-
sentido de travar a perda da biodiversidade. Em Outubro, a Comissão adoptou trou-se aí que o investimento na natureza
uma comunicação sobre a integração da protecção da biodiversidade e da é uma parte da solução, contribuindo para
natureza no desenvolvimento portuário, acompanhada de orientações em a criação de postos de trabalho e de novas
matéria de ambiente para os portos. A comunicação de Novembro sobre o oportunidades comerciais.
futuro da política agrícola comum (32) tratou também da questão da «ecologiza-
ção» da política agrícola e a sustentabilidade foi um dos principais temas na
preparação da próxima reforma da política comum das pescas (33).

O ano de 2010 foi o Ano Internacional da Biodiversidade da ONU e a UE congratu- Luta contra a perda de
lou-se com o acordo que tinha promovido, na décima sessão da conferência das biodiversidade
partes na Convenção sobre a Diversidade Biológica, realizada em Nagoya, em A UE é desde há muito tempo o maior
Outubro, sobre uma estratégia mundial de luta contra a perda de biodiversidade, doador mundial na luta contra a perda de
biodiversidade. Desde 2002, contribuiu
a mobilização dos recursos necessários para a sua execução e a criação de um
com quase 9 mil milhões de euros. Dispõe
protocolo sobre o acesso e a partilha dos benefícios dos recursos genéticos.
do maior número de zonas protegidas no
A atenção dada à biodiversidade também incluiu a conciliação das suas exigên- mundo (26 000) abrangendo 18% da sua
cias com outros objectivos das políticas da UE. Por exemplo, parques eólicos mal área terrestre.

localizados ou projectados podem ter um impacto negativo em espécies e


habitats vulneráveis. Por conseguinte, a Comissão Europeia publicou orienta-
ções (34) para o desenvolvimento da energia eólica em zonas naturais protegidas.

77 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
Rótulo ecológico da UE 2010 Sustentabilidade ambiental
Os galardoados dos prémios de comuni- A sustentabilidade foi uma grande prioridade da agenda da UE durante todo o ano
cação sobre o rótulo ecológico da UE de como um elemento central na estratégia «Europa 2020». É uma consideração que
2010, anunciados em Outubro, foram o permeia quase todos os aspectos da vida e as acções da UE tiveram, por conse-
hotel português Jardim Atlântico, na
guinte, um amplo alcance.
Madeira, o Arjowiggins Graphic de Paris,
um importante fabricante de papel Uma prioridade tem sido proteger o ambiente dos danos provocados por resíduos e
reciclado, e a Sara Lee Corporation, que matérias ou emissões perigosas. Os trabalhos progrediram sobre a reformulação da
tem a sua sede internacional nos Países Directiva «Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Eletrónicos» (35) e da Directiva
Baixos. O prémio recompensa actividades «Restrição do Uso de Substâncias Perigosas» (36) (como o chumbo, o mercúrio, o cád-
promocionais excepcionais destinadas à
mio) nesses equipamentos. O âmbito das regras foi também alargado de modo a
sensibilização do público para o rótulo
eliminar, na medida do possível, a utilização de substâncias perigosas e a contrariar o
ecológico da UE (o rótulo da UE para
produtos e serviços que respeitam o volume rapidamente crescente deste tipo de resíduos, que têm consequências
ambiente) e que incentiva a produção e o adversas no ambiente e na saúde se não forem correctamente tratados e eliminados.
consumo de produtos e serviços Regras mais claras e ar mais puro são alguns dos objectivos da Directiva «Emissões
ecológicos. Actualmente, cerca de
Industriais» aprovada em Novembro (37). Serão aplicáveis limites mais rigorosos à
25 000 produtos e serviços ostentam
poluição do ar, embora com uma certa flexibilidade em termos de prazos para as
o logótipo do rótulo ecológico, na forma
de uma flor. centrais eléctricas ou para casos especiais. A directiva actualiza e funde sete actos
legislativos em vigor, incluindo as directivas relativas a grandes instalações de
combustão e à prevenção e controlo integrados da poluição, e abrange cerca de
52 000 instalações industriais e agrícolas com elevado potencial de poluição, desde
refinarias até explorações suinícolas.
Outras acções têm incidido na preservação do ambiente natural. O Regulamento
Madeira Ilegal (38) rege as importações, a fim de impedir a venda de madeira ilegal,
ou de produtos fabricados com essa madeira, no mercado da UE. A exploração
madeireira ilegal causa graves prejuízos ambientais e compromete os esforços dos
que procuram gerir as florestas de forma responsável. Simultaneamente, a legisla-
ção contribui para o combate às alterações climáticas.
HyFLEET:CUTE O acordo sobre o regime de sustentabilidade dos biocombustíveis e biolíquidos,
O projecto de demonstração emblemático como parte integrante da Directiva «Energias Renováveis» de 2009, assegurou que
sobre autocarros a hidrogénio o apoio financeiro e a contagem para os objectivos nacionais de energias renová-
HyFLEET:CUTE, apoiado por financia- veis só são possíveis para os biocombustíveis que cumprem os critérios de susten-
mento da UE no domínio da investigação,
tabilidade. Este regime é o primeiro conjunto de critérios juridicamente vinculativo
foi completado com sucesso: 2,6 milhões
do mundo em matéria de sustentabilidade dos biocombustíveis e é provável que
de quilómetros percorridos, 500 toneladas
seja pioneiro. Para o tornar plenamente eficaz, são necessários regimes de certifica-
de hidrogénio produzidas, 170 000 horas
de funcionamento, um nível de fiabilidade ção geridos pela indústria, administrações públicas e ONG, tendo a Comissão deli-
extremamente elevado e 8 milhões de neado um sistema (39) para o reconhecimento de biocombustíveis sustentáveis que
passageiros transportados em serviços contribuam para reduções substanciais das emissões de gases com efeito de estufa
públicos. e não provenham de florestas, zonas húmidas ou zonas de protecção da natureza.
A Comissão formulou também recomendações sobre critérios para regimes nacio-
nais em matéria de sustentabilidade da biomassa sólida e do biogás utilizados nos
sectores da electricidade e do aquecimento e refrigeração, a fim de promover um
mercado interno eficaz no domínio da biomassa.
© Gary Lee / Belga

O financiamento da UE no domínio da
investigação apoiou o projecto
HyFLEET:CUTE. 78
A UE actualizou também as regras relativas a sementes e propágulos, no que diz Incentivar as cidades a
respeito à preservação dos recursos genéticos vegetais, e iniciou avaliações sobre tornarem-se ecológicas
os regimes da União fitossanitários e de protecção das variedades vegetais. Em Em Outubro, Vitoria-Gasteiz foi designada
Julho, foram atribuídos 250 milhões de euros a 210 novos projectos no âmbito do a «capital verde» da Europa de 2012 e o
mesmo aconteceu com Nantes para 2013.
programa LIFE+ (40) e do Fundo Europeu para o Ambiente. Os projectos promovem
Estas cidades foram seleccionadas da
a conservação da natureza, a política ambiental e a informação e comunicação.
lista de finalistas que também incluía
A UE procura constantemente obter um melhor equilíbrio entre a preservação do Barcelona, Malmö, Nuremberga e
ambiente natural e a salvaguarda do crescimento e da prosperidade. A Comissão Reiquiavique, as quais foram selecciona-
das entre 17 cidades candidatas. As
propôs, por exemplo, novas formas de resolver o problema colocado pelo facto
cidades são avaliadas em função de
de continuar a haver opiniões divergentes na Europa sobre o controlo do cultivo
critérios ambientais que incluem a
de organismos geneticamente modificados (41). contribuição local para a luta contra as
A protecção dos habitantes do ambiente natural esteve também no centro das alterações climáticas, os equipamentos de
transporte, as zonas verdes urbanas, a
atenções da UE. Novas regras (42) exigem aos viajantes que adquirem produtos
utilização sustentável dos solos, a
derivados da foca fora da Europa que apresentem uma declaração especial às
natureza e a biodiversidade, a qualidade
autoridades aduaneiras no seu regresso a casa, comprovando que provêm ape- do ar local, a poluição sonora, a produção
nas da caça efectuada por comunidades Inuit. Foi adoptada a Directiva «Ensaios e gestão de resíduos, o consumo de água,
em Animais» (43) que visa reduzir as experiências e permitir uma melhor protec- o tratamento de águas residuais e a
ção dos animais utilizados em investigação e que actualiza as regras de 1986: gestão ambiental do município.
permite experiências médicas com animais apenas quando não existem alterna-
tivas e todas as instituições que utilizam animais para fins científicos têm de
cumprir critérios rigorosos e autorizar controlos externos regulares.

© EPA / Belga
O lançamento do prémio Capital Verde da
Europa de 2011 teve lugar em Hamburgo,
Utilização sustentável dos recursos naturais e dos mares num dos seus edifícios eficientes do ponto
A sustentabilidade é uma preocupação fulcral da UE na preparação das altera- de vista energético.
ções à sua política das pescas. O reconhecimento de que um número significativo
de unidades populacionais de peixes são sobreexploradas constitui o motor da
reforma que tornará a política mais simples e mais ecológica. Incentivará a indús-
tria das pescas a assumir uma maior responsabilidade e uma maior participação
no processo decisório e na implementação, eliminando capacidade excedentária
e devoluções de unidades populacionais de peixes e pensando em primeiro
lugar nas unidades populacionais e nos ecossistemas. Para que tal se torne uma
realidade a nível mundial, a UE inclui agora compromissos relativos à pesca sus-
tentável em todos os seus acordos de comércio livre.

79 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
No topo da lista dos riscos de esgotamento e de depredação estão os recursos
naturais e os mares. Uma nova estratégia da Comissão (44) anunciada em Maio
visa melhorar a gestão dos bio-resíduos na UE e explorar os seus significativos
benefícios ambientais e económicos. E, em Setembro (45), a Comissão estabele-
ceu critérios para o «bom estado ecológico» dos mares europeus, a fim de ajudar
os Estados-Membros a desenvolver estratégias marinhas coordenadas relativas a
cada mar regional. Entende-se por bom estado ambiental, o estado ambiental
das águas marinhas quando estas constituem oceanos e mares dinâmicos e
ecologicamente diversos, sãos e produtivos. A definição dos critérios é um requi-
sito da Directiva-Quadro «Estratégia Marinha» cujo objectivo é obter um bom
estado ambiental em todas as águas marinhas da UE até 2020. A definição con-
centra‑se na diversidade biológica, nas unidades populacionais de peixes, na
eutrofização, nos contaminantes, nos detritos e no ruído.

O terceiro Dia Marítimo Europeu A política marítima integrada da UE (46) também promove a utilização pelos
Neste evento, reuniram-se em Gijón Estados-Membros dos mares e litorais de uma forma que respeite o ambiente
(Espanha) mais de 1 600 intervenientes no marinho e está a ser elaborada uma estratégia transsectorial para o crescimento
sector marítimo de toda a Europa, sustentável dos sectores marítimos e das regiões costeiras. O Conselho Europeu
incluindo representantes das indústrias
de Junho deu um impulso adicional ao desenvolvimento de estratégias a nível
marítimas, comunidades científicas, ONG
das bacias marítimas e, em Outubro, a Comissão apresentou opções para uma
ambientais, utilizadores do mar com fins
recreativos, bem como autoridades abordagem comum relativa ao ordenamento do espaço marítimo em toda a UE,
nacionais e regionais. bem como uma iniciativa, lançada em Setembro, para desenvolver os conheci-
mentos marinhos como um elemento auxiliar da estratégia «Europa 2020» (47).
Em Novembro, a UE lançou o seu primeiro Atlas dos Mares (48).

Foi também definida uma estratégia de transporte marítimo da UE até 2018 (49),


a fim de incentivar os esforços para melhorar o desempenho ambiental do
transporte marítimo mediante a prevenção de acidentes, a redução das emis-
sões para a atmosfera, os controlos sobre o tratamento das águas de lastro e a
reciclagem de navios. O objectivo a longo prazo é «resíduos nulos, emissões
nulas» no transporte marítimo.

As pescas são um dos recursos naturais mais ricos dos mares e, em Janeiro,
entrou em vigor um novo sistema (50) para melhorar o controlo das pescas e lutar
contra a pesca ilegal. Este sistema dota a UE e os seus Estados-Membros de
novos instrumentos para combater operadores pouco escrupulosos e para pro-
teger os meios de subsistência dos pescadores honestos que estariam de outra
forma expostos a uma concorrência desleal. Uma vez que os infractores já não
podem evitar a detecção e a punição, é assim promovida uma cultura de cumpri-
mento das normas em todo o sector das pescas. Em Junho, entrou em vigor um
regulamento relativo à conservação e exploração sustentável dos recursos hali-
êuticos no mar Mediterrâneo.

O Conselho Agricultura e Pescas de Outubro chegou a um acordo político sobre


as possibilidades de pesca no mar Báltico para 2011 e o Conselho Agricultura e
Pescas de Novembro chegou a um acordo político sobre um regulamento que
fixa, para 2011 e 2012, as possibilidades de pesca para os navios da UE relativas a
populações de determinadas espécies de profundidade e preparou o total
admissível de capturas UE/Noruega anual para 2011. O Conselho Agricultura e
Pescas de Dezembro chegou a acordo sobre as possibilidades de pesca para
2011 no Atlântico, no mar do Norte e no mar Negro. Nas instâncias internacio-
nais, a UE esforçou-se por que fosse aprovada uma proibição ao comércio do
atum rabilho, apresentando uma posição firme na reunião da Comissão Interna-
cional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico em Novembro.

80
Além da pressão que exerceu a nível internacional para aumentar a protecção do
atum rabilho do Atlântico, a Comissão, a Agência Comunitária de Controlo das
Pescas e os Estados-Membros implementaram um novo programa de controlo e
inspecção e um vasto plano para evitar a sobrepesca. Foi realizada uma monito-
rização navio-a-navio e dia-a-dia do consumo das quotas, tendo o período de
pesca autorizada sido encerrado cedo e tendo sido reduzida ainda mais a capa-
cidade de pesca da UE.

O reconhecimento de que os solos são um recurso natural finito levou também


à adopção de acções da UE sobre a sustentabilidade de todos os sectores, desde
a agricultura aos transportes e à energia. O financiamento, proveniente do
exame de saúde da PAC e de outros fundos no âmbito da PAC, contribuiu para
estimular os programas de desenvolvimento rural dos Estados‑Membros a fim
de enfrentarem os desafios que se colocam aos agricultores europeus, como a
tomada em consideração da biodiversidade.

A matriz para uma política agrícola comum virada para o futuro (51), publicada
em Novembro, faz também da sustentabilidade uma prioridade central — a par
de uma produção alimentar viável e de um desenvolvimento territorial equili-
brado. O objectivo é tornar a agricultura europeia competitiva, não apenas do
ponto de vista económico mas também ambiental. Um debate público e uma
conferência importante sobre o futuro da PAC realizados durante o ano permiti-
ram identificar a gestão sustentável dos recursos naturais e a acção climática
como um dos três principais objectivos. Uma das conclusões foi que os critérios
alterados aplicáveis aos pagamentos directos devem incluir considerações
ambientais, reflectindo os bens públicos fornecidos pelos agricultores.

Os transportes sustentáveis foram promovidos através de projectos que vão


desde as redes até à investigação avançada. Existe, por exemplo, um potencial
inexplorado de aumento da mobilidade hipocarbónica que pode ser aprovei-
tado se forem plenamente utilizados os 5,5 mil milhões de euros de fundos
reservados para os caminhos-de-ferro europeus para o período de 2007 a 2013.
Além disso, a adopção no final do ano do regulamento (52) relacionado com a
rede ferroviária europeia para um transporte de mercadorias competitivo permi-
tiu promover uma melhor utilização das infra-estruturas de transporte ferroviário
existentes, melhorando assim a eficiência e a atractividade do transporte ferrovi-
ário de mercadorias.

© Daniel Roland / AP / Reporters

Comboios de mercadorias num entreposto


em Mannheim, na Alemanha.

81 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
© Imagebroker / Belga

Assegurar a circulação do trânsito e manter


baixos níveis de poluição são alguns dos A Directiva «Eurovinheta» foi relançada (53), adaptando os impostos sobre veícu-
objectivos da Eurovinheta, o sistema de los e as taxas de utilização rodoviária à inflação e proporcionando ligações adi-
tarifação rodoviária que associa o cionais entre o transporte rodoviário e o seu impacto no ambiente: os governos
transporte rodoviário ao seu impacto no dos Estados-Membros chegaram a um acordo político em 15 de Outubro a fim
ambiente.
de permitir a cobrança de portagens que tenham em conta o custo da poluição
atmosférica e sonora e do congestionamento rodoviário. O Conselho adoptou
também uma directiva (54) que estabelece um quadro para a implantação de
sistemas de transporte inteligentes que aumentem a eficiência e reduzam o seu
impacto ambiental.

Sétimo Programa-Quadro de Investigação


No conjunto, o Sétimo Programa-Quadro de Investigação (7.º PQ) apoiou em
2010 mais de 120 projectos no domínio do ambiente, da energia e das biotecno-
logias, num montante de 450 milhões de euros. A variedade é claramente ilus-
trada pela seguinte selecção de projectos e iniciativas que tiveram início em 2010:
Marina Platform — Plataforma de aplicações integradas de energias renováveis
marinhas (contribuição da UE de 8,7 milhões de euros).
Silicon Light — Melhoria da qualidade dos materiais e da captação de luz em
células solares de película fina de silicone (contribuição da UE de 5,8 milhões de
euros).
Eurobioref — Concepção europeia de biorefinaria integrada multiníveis para
processamento sustentável da biomassa (contribuição da UE de 23,1 milhões de
euros).
ICAP — Captura de CO2 inovadora (contribuição da UE de 4,3 milhões de euros).
GHG Europe — Gestão de gases com efeito de estufa em sistemas europeus de
utilização dos solos (contribuição da CE estimada em 6 648 704 euros).
STEP — Situação e tendências dos polinizadores europeus (contribuição esti-
mada da UE de 3 499 995 euros).

82
notas

(1) Comunicação da Comissão «Energia 2020 — Estratégia para uma energia competitiva, (28) Conclusões da Presidência do Conselho Europeu, 28 e 29 de Outubro de 2010 (http://
sustentável e segura» [COM(2010) 639]. www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/ec/117496.pdf ).
(2) Comunicação da Comissão «Enfrentar o desafio da segurança da exploração offshore (29) Conclusões do Conselho Assuntos Económicos e Financeiros, 17 de Novembro de
de petróleo e gás» [COM(2010) 560]. 2010 (http://register.consilium.europa.eu/pdf/pt/10/st16/st16369.pt10.pdf ).
(3) Comunicação da Comissão «Prioridades em infra-estruturas energéticas para 2020 e (30) Conclusões da Presidência do Conselho Europeu, 25 e 26 de Março de 2010 (http://
mais além — Matriz para uma rede europeia integrada de energia» [COM(2010) 677]. www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/pt/ec/113612.pdf ).
(4) Directiva 2010/30/UE relativa à indicação do consumo de energia e de outros recursos (31) http://biodiversity.europa.eu/
por parte dos produtos relacionados com a energia, por meio de rotulagem e outras (32) A PAC no horizonte 2020: Responder aos desafios do futuro em matéria de
indicações uniformes relativas aos produtos (JO L 153 de 18.6.2010, p. 1). alimentação, recursos naturais e territoriais [COM(2010) 672].
(5) Regulamentos Delegados (UE) n.os 1059/2010, 1060/2010, 1061/2010 e 1062/2010 (33) http://ec.europa.eu/fisheries/reform/index_pt.htm: «Iniciámos também uma vasta
relativos à rotulagem energética de máquinas de lavar loiça, aparelhos de avaliação do impacto da reforma, que será executada de acordo com a metodologia
refrigeração, máquinas de lavar roupa e televisores para uso doméstico (JO L 314 de da Comissão em matéria de avaliação de impactos. Serão delineados vários cenários
30.11.2010). para a futura política a fim de avaliar os resultados das diferentes opções. Nesta
(6) Directiva 2010/31/CE relativa ao desempenho energético dos edifícios (JO L 153 de avaliação, serão tidos especialmente em conta os aspectos ambientais, económicos e
18.6.2010). sociais. Os resultados desta análise serão utilizados para elaborar as propostas de
(7) «Renewable Energy Snapshots 2010», relatório publicado pelo Centro Comum de reforma. De acordo com o nosso calendário, a avaliação do impacto será concluída no
Investigação da Comissão Europeia em 5 de Julho de 2010 (http://re.jrc.ec.europa.eu/ Outono de 2010». http://ec.europa.eu/fisheries/reform/sec(2010)0428_pt.pdf
refsys/). (34) http://ec.europa.eu/environment/nature/natura2000/management/docs/
(8) A chamada reserva para novos operadores, ou NER300, é composta por 300 milhões Wind_farms.pdf
de licenças de emissão da UE. (35) Directiva 2002/96/CE relativa aos resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos
(9) Proposta de Directiva relativa à gestão do combustível irradiado e dos resíduos (REEE) (JO L 37 de 13.2.2003, p. 24).
radioactivos [COM(2010) 618]. (36) Directiva 2002/95/CE relativa à restrição do uso de determinadas substâncias
( ) Regulamento (UE) n.°  994/2010 relativo a medidas destinadas a garantir a segurança
10 perigosas em equipamentos eléctricos e electrónicos (JO L 37 de 13.2.2003, p. 19).
do aprovisionamento de gás (JO L 295 de 12.11.2010, p. 1). (37) Aprovação do Conselho, 8 de Novembro de 2010 (http://www.consilium.europa.eu/
(11) http://ec.europa.eu/energy/international/events/2010_11_22_eu_russia_anniver- uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/envir/117566.pdf ).
sary_en.htm (38) Regulamento (UE) n.°  995/2010 que fixa as obrigações dos operadores que colocam
(12) http://ec.europa.eu/energy/international/organisations/opec_en.htm no mercado madeira e produtos da madeira (JO L 295 de 12.11.2010, p. 23).

(13) Uma política energética para os consumidores: conclusões do Conselho, 29 de (39) Documentos da Comissão — Sistema de certificação dos biocombustíveis
Outubro de 2010 (http://register.consilium.europa.eu/pdf/en/10/st15/st15697.en10. sustentáveis (http://ec.europa.eu/energy/renewables/biofuels/sustainability_crite-
pdf ). ria_en.htm).

(14) Decisão 2010/634/UE da Comissão que ajusta a quantidade de licenças de emissão a (40) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/1002&format=HTML
nível da União a conceder no âmbito do regime da União para 2013 (JO L 279 de &aged=0&language=EN&guiLanguage=en
23.10.2010, p. 34). (41) Comunicação da Comissão relativa à liberdade de os Estados-Membros decidirem
(15) Regulamento (UE) n.º 1031/2010 da Comissão relativo ao calendário, administração e sobre o cultivo de culturas geneticamente modificadas [COM(2010) 380].
outros aspectos dos leilões de licenças de emissão de gases com efeito de estufa (42) Regulamento (CE) n.°  1007/2009 relativo ao comércio de produtos derivados da foca
(JO L 302 de 18.11.2010, p. 1). (JO L 286 de 31.10.2009, p. 36).
(16) http://ec.europa.eu/clima/policies/ets/benchmarking_en.htm (43) Directiva 2010/63/CE relativa à protecção dos animais utilizados para fins científicos
( ) http://ec.europa.eu/commission_2010-2014/hedegaard/docs/proposal_restric-
17 (JO L 276 de 20.10.2010, p. 33).
tions_final.pdf (44) Comunicação da Comissão relativa às futuras etapas na gestão dos bio-resíduos na
(18) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/576&language=EN União Europeia [COM(2010) 235].

(19) Relatório da Comissão «Progressos na realização dos objectivos de Quioto» (45) Decisão da Comissão 2010/477/UE relativa aos critérios e às normas metodológicas de
[COM(2010) 569]. avaliação do bom estado ambiental das águas marinhas (JO L 232 de 2.9.2010, p. 14).

(20) Directiva 2003/87/CE relativa à criação de um regime de comércio de licenças de (46) Proposta de Regulamento que estabelece um programa de apoio ao aprofunda-
emissão de gases com efeito de estufa na Comunidade (JO L 275 de 25.10.2003, mento da política marítima integrada [COM(2010) 494].
p. 32). (47) Ibidem.
(21) Acórdão do Tribunal Geral de 2.3.2010 no Processo T-16/04, Arcelor/Parlamento e (48) http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/atlas/index_pt.htm
Conselho. (49) Comunicação da Comissão «Objectivos estratégicos e recomendações para a política
(22) Decisão 2009/339/CE da Comissão no que se refere à inclusão de orientações para a comunitária de transporte marítimo no horizonte de 2018» [COM(2009) 8].
monitorização e a comunicação das emissões e dos dados relativos às toneladas- (50) Regulamento (CE) n.° 1010/2009 da Comissão que determina as normas de execução
-quilómetro resultantes das actividades da aviação (JO L 103 de 23.4.2009, p. 10). do Regulamento (CE) n.° 1005/2008 do Conselho, que estabelece um regime
(23) http://www.eurocontrol.int/environment/public/standard_page/small_emitters.html comunitário para prevenir, impedir e eliminar a pesca ilegal, não declarada e não
(24) http://ec.europa.eu/clima/funding/ner300/index_en.htm regulamentada (JO L 280 de 27.10.2009, p. 5).

(25) Comunicação da Comissão «Análise das opções para ir além do objectivo de 20% de (51) Comunicação da Comissão «A PAC no horizonte 2020: responder aos desafios do
redução das emissões de gases com efeito de estufa e avaliação do risco de fuga de futuro em matéria de alimentação, recursos naturais e territoriais» [COM(2010) 672].
carbono» [COM(2010) 265]. (52) Regulamento (UE) n.° 913/2010 relativo à rede ferroviária europeia para um
(26) Comunicação da Comissão «Política climática internacional pós-Copenhaga: agir de transporte de mercadorias competitivo» (JO L 276 de 20.10.2010, p. 22).
imediato para redinamizar a acção mundial relativa às alterações climáticas» (53) Conselho Transporte, Telecomunicações e Energia — Acordo político de 15 de Outubro
[COM(2010) 86]. de 2010 (http://register.consilium.europa.eu/pdf/en/10/st15/st15147.en10.pdf ).
(27) Conclusões do Conselho Ambiente de 14 de Outubro de 2010 (http://www.consilium. (54) Directiva 2010/40/UE que estabelece um quadro para a implantação de sistemas de
europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/envir/117096.pdf ). transporte inteligentes no transporte rodoviário, inclusive nas interfaces com outros
modos de transporte (JO L 207 de 6.8.2010, p. 1).

83 R e l ató r i o G e r a l 2010 | E n e r g i a , a m b i e n t e e c l i m a
Capítulo 4
A União Europeia no mundo
O Tratado de Lisboa introduz uma nova coerência nas
relações externas da União Europeia (UE). Um novo
alto-representante e vice-presidente da Comissão
passou a ser responsável pela política externa da União.
Neste papel, Catherine Ashton preside ao Conselho
Negócios Estrangeiros e dirige o novo serviço diplomá-
tico. Isto confere à União capacidade para falar a uma só
voz e os meios necessários para melhor projectar os seus
valores no mundo: o respeito pelos direitos humanos e a
democracia, a cooperação para fazer face aos desafios
comuns e o empenhamento a favor do multilateralismo.
Acrescentado aos seus trunfos — primeiro bloco
comercial do mundo e principal doador mundial de
ajuda, dispondo de uma densa teia de relações políticas
e culturais e de uma importante divisa internacional —
a UE melhorou o seu potencial para desempenhar um
papel importante na cena mundial que corresponda ao
seu peso económico. A sua nova capacidade de empe-
nhamento integrado manifestou-se ao longo de todo o
ano, através das respostas construtivas que deu a
situações tão diversas como no Haiti, nos Territórios
Ocupados da Palestina ou no Darfur.

A criação do Serviço Europeu para a Acção Externa


(SEAE), com delegações da União em todo o mundo,
constitui a espinha dorsal de um novo impulso para as
relações externas da União. O Conselho Europeu
instituiu, em Setembro, uma nova abordagem, em que os
instrumentos e as políticas nacionais e da UE são
mobilizados em apoio dos interesses estratégicos da
União Europeia. Foi, por outro lado, estabelecida uma
nova forma de liderança nas cimeiras internacionais com
o presidente da Comissão Europeia e o presidente do
Conselho Europeu a trabalharem em tandem.

A UE apoia abordagens multilaterais, mantém relações


estreitas com os seus parceiros estratégicos e tenta
aprofundar as suas relações bilaterais e os diálogos
regionais em todo o mundo. A UE projectou a sua
estratégia «Europa 2020» de recuperação e de cresci-
mento no mercado mundial, nomeadamente através do
G20. Abordou os desafios da geopolítica em matéria de
energia. Prosseguiu a agenda de desenvolvimento
internacional e demonstrou através de acções concretas
a sua solidariedade para com os mais vulneráveis
no mundo.
P r o m o v e r a g o v e r n aç ão m u lt i l at e r a l
Prosseguindo os seus objectivos num contexto mundial, a UE apoia
as instituições multilaterais para proteger o bem comum global e
desenvolver a paz e a prosperidade a nível mundial.
Em conformidade com o seu empenhamento em prol de um sistema multilateral
eficaz, a União Europeia trabalhou através das Nações Unidas para a promoção
da paz, o desenvolvimento e os direitos humanos, bem como para enfrentar
novos desafios globais. A UE acolheu com satisfação o acordo de Junho sobre as
alterações da estrutura e da composição da ONU, incluindo a criação de uma
entidade única responsável pelas questões de género, bem como a revisão dos
trabalhos da Comissão de Consolidação da Paz. A UE trabalhou igualmente para
promover abordagens multilaterais no âmbito de outras organizações interna-
cionais como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização
Mundial do Comércio, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento
Económicos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

As negociações de adesão à Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos


do Homem e das Liberdades Fundamentais foram iniciadas pela Comissão em
Julho (ver capítulo 2), tendo sido estabelecida em Estrasburgo, em Outubro, uma
delegação da UE junto do Conselho da Europa, o que constitui um indício do
aprofundamento das relações entre as duas organizações. Em Dezembro, a UE
participou activamente na organização e na preparação da primeira cimeira da
Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa em 11 anos, em Astana,
sob a presidência do Cazaquistão.

A União Europeia no centro do G20 A UE desempenhou um papel activo nas grandes instâncias internacionais,
A UE é uma força de primeiro plano no nomeadamente no Conselho dos direitos humanos das Nações Unidas e na
processo de reuniões do G20, lançado por Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro. A União Europeia esteve
iniciativa da Europa aquando da visita aos bem representada nos encontros de alto nível com dirigentes mundiais e com os
Estados Unidos do presidente Barroso e
representantes de países e de agrupamentos regionais estratégicos, o que
do presidente Sarkozy em 2008. É hoje em
demonstra a importância que atribui à realização dos objectivos de desenvolvi-
dia a primeira instância de coordenação
económica internacional. Nasceu do G8,
mento do milénio e ao recurso ao multilateralismo para dar resposta aos desafios
que inclui a França, Alemanha, Itália, globais que constituem o desenvolvimento, a paz, a segurança, as crises huma-
Japão, Reino Unido, Estados Unidos, nitárias e a luta contra as alterações climáticas.
Canadá e Rússia, e no qual a UE está
Em apoio à acção das Nações Unidas, a UE aplicou as novas sanções do Conselho
igualmente representada. O G20 reúne
de Segurança das Nações Unidas na Somália, na Eritreia e no Irão. A Comissão
19 países mais a UE (os países do G8, a
Argentina, Austrália, Brasil, China, Índia, continuou igualmente a representar a UE no processo de Kimberley, uma instân-
Indonésia, México, Arábia Saudita, África cia intergovernamental que reúne 75 países, apoiada pelas Nações Unidas, e que
do Sul, Coreia do Sul e Turquia). tem por missão impedir o comércio dos diamantes de guerra. Apoiando e na
realidade indo mesmo mais além do que a Resolução das Nações Unidas desti-
nada a restringir as ambições nucleares do Irão, a UE aplicou novas sanções em
Julho, que abrangiam o comércio, os serviços financeiros, a energia, os transpor-
tes, os vistos e o congelamento de bens, quando fosse estabelecida uma relação
com o programa nuclear iraniano e o programa iraniano de mísseis balísticos (1).
Ao mesmo tempo, a UE prosseguiu, incontestavelmente, os seus esforços no
sentido de chegar a um acordo negociado. A alta-representante da UE, Catherine
Ashton, desempenhou o papel de negociador em nome do denominado grupo
«E3+3», que inclui a China, a França, a Alemanha, a Federação da Rússia, o Reino
Unido e os Estados Unidos.

86
Uma política externa da UE mais eficaz, mais coerente e mais visível
Com a aplicação do Tratado de Lisboa, o novo cargo de alto-representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança agrupa o que eram anteriormente três funções distintas: a de alto-representante do Conselho, a de comissário
responsável pelas Relações Externas na Comissão e (tal como a Presidência rotativa do Conselho) a de presidir às reuniões
dos ministros dos Negócios Estrangeiros, do Desenvolvimento e da Defesa da UE. Como vice-presidente da Comissão, o
alto-representante contribui para assegurar a coerência em todo o espectro das relações externas da UE e, em particular,
entre os objectivos políticos e os programas distintos da UE em matéria de despesas e de assistência.
O novo Serviço Europeu para a Acção Externa foi concebido durante o ano (2) e criado formalmente em 1 de Dezembro.
Reúne as capacidades de política externa da Comissão e as do Conselho e é complementado com diplomatas dos Estados-
-Membros, reforçando consideravelmente a capacidade da UE para desempenhar o seu papel a nível internacional. Institui
um serviço civil altamente qualificado e plenamente integrado na sede e, pela primeira vez, proporciona uma representação
diplomática própria da UE em vários países do mundo. A incorporação dos diplomatas de Estados-Membros, com a sua
experiência dos serviços externos dos seus próprios países, proporciona novas e valiosas sinergias. Foram efectuadas as
primeiras nomeações para postos de alto nível no serviço e para postos diplomáticos essenciais (incluindo dos Estados-
-Membros) durante o passado Outono.

Re f o r ç a r a l i a n ç a s e s t r at é g ic a s
À medida que emergem as parcerias estratégicas do século XXI e Uma parceria UE-EUA efica z
que as novas políticas mundiais tomam forma, a Europa aproveita a A cimeira de Novembro centrou-se em
oportunidade para modelar o mundo globalizado. As relações que a três áreas de cooperação de interesse vital
UE estabelece com os seus parceiros estratégicos são determinantes para o conjunto dos 800 milhões de
cidadãos que as duas partes representam:
neste aspecto. Para ser eficaz na cena internacional, a UE tem neces-
o crescimento e o emprego; as alterações
sidade de estabelecer alianças sólidas. Na perspectiva da realização
climáticas e o desenvolvimento
dos seus objectivos, continua a estabelecer relações com um certo internacional; e o reforço da segurança
número de países importantes, que considera estratégicos. Muitas dos cidadãos. Rejeitou o proteccionismo,
dessas relações evoluíram significativamente em 2010. defendeu o conceito de compromissos
sólidos e transparentes em matéria de
Os Estados Unidos continuam a ser o parceiro mais próximo e mais importante.
redução das emissões de gases com efeito
As conclusões da cimeira UE-EUA realizada em Lisboa, em Novembro (3) — a
de estufa, por parte das principais
primeira desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa — reafirmaram a parceria economias. Comprometeu-se a reforçar a
estreita que os une. A UE e os EUA não só partilham os mesmos valores, interesses cooperação sobre os objectivos de
e objectivos, como, em conjunto, produzem quase metade do PIB mundial. desenvolvimento do milénio e acordou
A parceria económica transatlântica, num valor superior a 3 biliões de dólares, é numa abordagem mais global e
um motor da prosperidade económica global e representa as relações económicas estratégica em relação às grandes
questões de segurança internacional. Foi
de maior dimensão, mais integradas e mais viradas para o futuro do mundo. A UE
criado um grupo de trabalho conjunto
e os EUA em conjunto fornecem também cerca de 80% da ajuda pública ao desen-
sobre a cibersegurança e a
volvimento à escala mundial. Durante o ano passado, cooperaram eficazmente
cibercriminalidade.
sobre questões de política externa, nomeadamente o processo de paz no Médio
Oriente, o Afeganistão e o Paquistão, a não-proliferação e os conflitos regionais.
Realiza-se um diálogo regular sobre a política externa entre a alta-representante
da UE, Catherine Ashton, e a secretária de Estado americana, Hilary Clinton.
© União Europeia

O diálogo sobre a política externa entre a


alta-representante da UE Catherine Ashton
e a secretária de Estado americana Hillary
Clinton realiza-se periodicamente

87 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Além disso, foi concluído este ano um novo acordo «Céu Aberto» no domínio
da aviação (4), com benefícios económicos no valor de 12 mil milhões de euros
e que cria 80 000 novos postos de trabalho. Este acordo inclui um novo artigo
sobre a necessidade de normas laborais elevadas no sector do transporte
aéreo e sublinha a importância da cooperação transatlântica sobre as ques-
tões ambientais relacionadas com a aviação.
© Mikhail Klimentyev / Belga

O presidente da Federação da Rússia, Dmitri


Medvedev, o presidente do Conselho
O diálogo com a Rússia foi mantido através de inúmeros canais. A cimeira
Europeu, Herman Van Rompuy e o
UE-Rússia, realizada em Rostov-on-Don, em Junho, lançou uma nova parceria
presidente da Comissão Europeia, José
para a modernização (5), que visa promover a reforma, impulsionar o progresso
Manuel Barroso na cimeira UE-Rússia,
realizada em Bruxelas. económico e aumentar a competitividade. Esta parceria baseia-se nos resultados
já alcançados até agora no quadro dos quatro espaços comuns (um espaço
económico, um espaço de liberdade, segurança e justiça, um espaço de coope-
ração no domínio da segurança externa e um espaço de investigação e educação
que inclui os aspectos culturais) e introduz uma nova urgência e uma abordagem
orientada para os resultados. Prosseguiram ao longo do ano as negociações
para um acordo que sucederá ao actual acordo de parceria e cooperação. Reali-
zaram-se duas vezes em Bruxelas, em Abril e Novembro, consultas em matéria de
direitos humanos entre a UE e a Rússia. O presidente do Parlamento Europeu,
Jerzy Buzek, visitou Moscovo em Junho, enquanto prosseguiram os contactos
directos entre os membros do Parlamento Europeu e os seus homólogos russos
através das reuniões da Comissão Parlamentar de Cooperação UE-Rússia.

A entrada em vigor do Tratado de Lisboa abriu também uma nova etapa nas
relações entre a UE e a China, que permitiu à UE demonstrar uma abordagem
mais coerente. A cimeira conjunta de Outubro foi abordada pelas duas partes
num espírito de reciprocidade e de benefício mútuo. Havia um interesse comum
em trabalhar em conjunto para o reforço das relações bilaterais graças ao diálogo
político, às trocas comerciais e aos investimentos. Foi ainda o interesse comum
que prevaleceu quando se tratou de dar resposta aos desafios mundiais, em
especial a crise económica e financeira e as alterações climáticas e a energia, na
perspectiva da cimeira do G20 que se realizou em Seul, em Novembro, e da
cimeira de Cancun sobre as alterações climáticas, em Dezembro. Foi aberto em
Pequim um Centro das Energias Limpas UE-China.

88
O alcance e a intensidade das relações da UE com os seus principais parceiros
podem também ser avaliados a partir de uma amostragem dos contactos
durante o ano. Uma cimeira com o Canadá, realizada em Maio (6), rejeitou o
proteccionismo e apresentou o balanço dos progressos registados na negocia-
ção de um ambicioso acordo económico e comercial global que irá proporcionar
um novo impulso ao comércio, ao investimento, à inovação e à criação de
emprego. A cimeira UE-Índia, que se realizou em Bruxelas em Dezembro, subli-
nhou a luta contra o terrorismo (o acordo que está a ser negociado entre a
Europol e a Índia inclui um conjunto de medidas concretas), a gestão das crises,
a segurança marítima, a não-proliferação e a manutenção e consolidação da
paz), bem como a governação económica e as questões regionais na Ásia do Sul.
As duas partes assumiram igualmente o compromisso de reforçar a sua coopera-
ção comercial, tendo já sido realizados progressos consideráveis na via da assina-
tura de um acordo de comércio livre, mas igualmente nos domínios da energia e
das alterações climáticas. A cimeira reconheceu a importância de um diálogo
sobre a migração no quadro mais vasto da cooperação UE-Índia.

Uma cimeira com o Japão, realizada em Abril (7), reafirmou um empenhamento


comum na luta contra as alterações climáticas e na preservação da biodiversi-
dade, e atingiu entendimentos comuns sobre questões regionais, como a ques-
tão da Coreia do Norte. Em Maio, a UE e a Coreia do Sul assinaram um novo
acordo-quadro para as relações bilaterais, uma expressão dos valores comuns e
uma base para uma cooperação e diálogo reforçados nos domínios dos direitos
humanos, da não-proliferação de armas de destruição maciça, da luta contra o
terrorismo, das alterações climáticas e da segurança energética (8). A parceria
estratégica bi-regional com a América Latina e as Caraíbas foi reforçada na
cimeira de Madrid em Maio (9), aprofundando o diálogo político e a integração
regional, promovendo a coesão social e intensificando as relações bilaterais
entre os países de ambas as regiões (ver infra, secção «Comércio», página 95).
Esta cimeira permitiu nomeadamente concluir o primeiro acordo de associação
inter-regional da UE (com a América Central), assinar um acordo comercial
multilateral com a Colômbia e o Peru e relançar as negociações tendo em vista a
assinatura de um acordo de associação com o Mercosul. Foram igualmente lan-
çadas a Facilidade de Investimento para a América Latina e a Fundação UE-ALC.

89 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Foi realizada uma cimeira UE-Brasil em Brasília no mês de Julho, que veio confir-
mar a solidez das relações bilaterais. A cimeira (10) debruçou-se sobre as questões
das alterações climáticas e da crise económica e financeira internacional, bem
como sobre o processo do G20. Foram assinados acordos no domínio da aviação
civil e lançada uma iniciativa de cooperação triangular com Moçambique no
sector da bioenergia. A cimeira UE-México, que se realizou em Maio, marcou
uma nova etapa na parceria estratégica (11), tendo reforçado a colaboração a
níveis bilateral e multilateral, nomeadamente os diálogos sectoriais em matéria
de segurança e de aplicação da lei.
© União Europeia

O presidente do Conselho Europeu, Herman


Van Rompuy, o presidente do Brasil, Luiz
O empenhamento a nível internacional levou a UE a concluir acordos em domí-
Inácio Lula da Silva e o presidente da
nios importantes para os cidadãos tanto a nível interno como internacional,
Comissão Europeia, José Manuel Barroso na
cimeira UE-Brasil, realizada em Brasília.
nomeadamente em matéria de transportes e de ciência e investigação. A UE
concluiu acordos no domínio da aviação, que permitem aumentar o número de
voos para os passageiros, criar normas de segurança mais elevadas e aumentar
as oportunidades comerciais. Além dos acordos bilaterais de «céu aberto» com
os EUA e o acordo relativo à segurança com o Brasil (ver página 87 e parágrafo
anterior), a União Europeia e o Vietname assinaram um acordo em Outubro, que
irá eliminar restrições de nacionalidade previstas nos acordos bilaterais de servi-
ços aéreos (12). A segurança aérea e a protecção do ambiente a nível mundial
foram aceleradas pela cooperação a nível das Nações Unidas, por intermédio da
Organização da Aviação Civil Internacional.

Foi implementada na zona da dimensão setentrional uma parceria dos transpor-


tes e da logística, e desenvolvido um quadro regulador para a rede transmediter-
rânica de transportes. A Comissão contribuiu para melhorar as normas interna-
cionais no sector ferroviário e promover o alinhamento com as normas da UE,
através de um maior empenhamento com as organizações internacionais de
transporte ferroviário que se estende até à Rússia, ao Norte de África e à Ásia. Os
progressos no sentido de um transporte marítimo de elevada qualidade em
todo o mundo foram impulsionados pela participação da UE nas negociações
marítimas internacionais e acções-piloto para a estratégia do transporte marí-
timo de curta distância da UE estão a reforçar as relações entre a UE e os seus
parceiros comerciais mais próximos, melhorando as ligações marítimas e a inte-
gração nas cadeias logísticas porta-a-porta. Uma conferência sobre políticas de
transporte marítimo internacional realizada em Copenhaga, em Junho, reuniu
participantes da UE, da Ásia e da América do Norte.

90
© Imago / Reporters
A UE esteve bem representada na Exposição
A cooperação no domínio da investigação foi alargada à investigação ambiental Universal de Xangai 2010. Partilhou o seu
(nomeadamente o projecto Soiltrec com a China e outros países para lutar contra pavilhão com a Bélgica, o país que deteve a
as ameaças que pesam sobre os solos decorrentes das alterações climáticas e Presidência semestral rotativa do Conselho
outros fenómenos), à investigação em matéria de saúde (no consórcio interna- no segundo semestre do ano.
cional sobre o genoma do cancro), à participação no exercício de previsão geo-
política «A Europa no mundo em 2030-50», à avaliação da segurança de abaste-
cimento energético e à semana da ciência da tecnologia UE-China em Xangai.
No domínio da segurança alimentar, a Comissão coordenou igualmente o contri-
buto dos Estados-Membros para o Gabinete Internacional das Epizootias, no
âmbito dos comités da Organização Mundial do Comércio e, no que diz respeito
ao bem-estar dos animais, com o Conselho da Europa.

P r o m o v e r a pa z, a s e g u r a n ç a e o s di r ei t o s h u m a n o s
A UE, cuja origem e evolução assentam no estabelecimento da paz e
da segurança, continua empenhada na promoção destas condições
igualmente para além das suas fronteiras. O desenvolvimento eco-
nómico, político e social no mundo — tal como os direitos humanos
— dependem da paz e da segurança.
A UE continuou a empenhar-se na resolução de conflitos e nos processos de
reconstrução no Afeganistão e no Paquistão, não só em benefício das populações
locais, mas também dos europeus. Tem trabalhado para a estabilização do Afega-
nistão, com os soldados europeus, a polícia, os juízes e demais pessoal civil que
trabalham no terreno, contribuindo todos para desenvolver as instituições que
permitirão ao Estado melhorar o seu funcionamento de modo independente, e
para estabelecer meios de subsistência sustentáveis que irão permitir que as
comunidades prosperem não obstante os conflitos e do comércio de estupefa-
cientes No Paquistão, que enfrenta múltiplos desafios de ordem política, econó-
mica e institucional, a UE tem aprofundado o seu empenhamento, tal como con-
© Bas Bogaerts / Belga

firmado pela cimeira UE-Paquistão realizada em Junho. Após as inundações de


Agosto, foi adoptado um pacote global (13) de ajuda humanitária e de ajuda ao
desenvolvimento, de protecção civil, de reconstrução e de recuperação económica
através dos instrumentos comerciais da UE, em estreita concertação com outros
intervenientes internacionais (ver infra, a secção «Comércio», na página 95).
Um membro da força naval da missão
A luta contra a pirataria ao largo das costas da Somália ilustra a capacidade da UE
anti-pirataria da UE ao largo da costa da
para combinar os seus instrumentos de relações externas. A operação naval Atalanta Somália prende presumíveis piratas.
da UE (14) é complementada por esforços destinados a desenvolver a capacidade dos
Estados costeiros para julgar os piratas. As operações de vigilância marítima estão
a ser consolidadas através de uma parceria reforçada com Estados da região (15).
A ajuda a favor da governação na Somália acompanha o financiamento das forças
africanas de manutenção da paz na Somália e está presente e a funcionar uma
missão de formação no Uganda, em benefício das forças de segurança somalianas.

91 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


ACÇÃO DA UE NO MUNDO EM MATÉRIA DE SEGURANÇA E DE DEFESA
Missões e operações em 2010 no âmbito da Política Europeia de Segurança e de Defesa

Operações militares
Missões civis
EUFOR Althea
EUPM Bósnia e Herzegovina
Bósnia e Herzegovina, desde 2004 EUBAM
desde 2003 Número de soldados: 1 481 Moldávia e Ucrânia
Pessoal da missão: 275 Pessoal da missão: 200
EUMM Geórgia
EULEX Kosovo desde 2008
desde 2008 Número de soldados: 410
Pessoal da missão: 2 807

EUPOL COPPS EUPOL Afeganistão


Territórios Palestinianos, desde 2006
Pessoal da missão: 80 missão de polícia desde 2007
Pessoal da missão: 479

EU SSR Guiné-Bissau EUBAM Rafah


2008-10 Territórios Palestinianos, desde 2005 EUJUST LEX
Pessoal da missão: 21 Iraque/Bruxelas, desde 2005
Pessoal da missão: 62

EUSEC RD Congo
desde 2005 EU NAVFOR Atalanta
Pessoal da missão: 47 desde 2008
Número de soldados: 1 337

EUTM Somália
EUPOL RD Congo desde 2010
desde 2007 Número de soldados: 43
Pessoal da missão: 49

Fonte: Conselho da União Europeia.

Para ajudar o Iémen a dar resposta aos seus múltiplos desafios de segurança,
económicos e políticos, a UE desenvolveu uma abordagem que combina acções
da União e dos Estados-Membros com os principais parceiros internacionais, em
matéria de antiterrorismo, ajuda humanitária e apoio às reformas económicas e
políticas. A UE também estabeleceu aí uma delegação permanente em Janeiro.

A UE participou activamente na redução das tensões e na promoção do processo


de paz no Médio Oriente. Apoiou firmemente os esforços liderados pelos EUA
para o êxito das negociações através de conversações a vários níveis. Continuou
a conceder apoio político e financeiro ao plano de consolidação do Estado, de
Agosto de 2009, do primeiro-ministro palestiniano Fayyad. Insistiu na necessi-
dade de, para que a paz possa ser sustentável, encontrar uma solução duradoura
para a Faixa de Gaza e declarou que os colonatos são ilegais à luz do direito
internacional e que deve definitivamente ser posto termo a todas as formas de
violência. A alta-representante Catherine Ashton visitou várias vezes a Faixa de
Gaza nas suas viagens ao Médio Oriente e em Ramallah encontrou-se com o
primeiro-ministro Fayyad, que também se deslocou a Bruxelas, onde compare-
ceu perante o Parlamento Europeu e se reuniu com o presidente Durão Barroso,
tendo pronunciado um discurso por ocasião das Jornadas Europeias do Desen-
volvimento, em Dezembro.

92
Os direitos humanos estão no topo da agenda de todos os contactos externos da
UE, tal como reflectido na importância que lhes tem sido dada em diálogos
políticos com países terceiros, através dos programas de ajuda ao desenvolvi-
mento da UE e nos compromissos multilaterais da UE. O compromisso da União
Europeia a favor dos direitos humanos foi ainda reforçado pelo Tratado de Lisboa,
o qual também abriu caminho para a adesão da UE à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem e consolidou os direitos humanos, a democracia e o Estado
de direito entre os objectivos essenciais das políticas externas da UE.

Investir na paz
Através do Instrumento de Estabilidade da UE foram lançadas acções de preven-
ção dos conflitos, em apoio aos processos de paz e de reconciliação e medidas
de estabilização no Senegal, Sudão, Mauritânia, Indonésia, Tailândia, Banglade-
che, Filipinas, Equador, Honduras, Líbano, Quirguizistão, Nagorno-Karabakh,
Geórgia e Bielorrússia. No total, em 2010, a UE lançou 27 programas de resposta
rápida a situações de crise, com autorizações no valor de 140 milhões de euros
— incluindo 25 milhões de euros para o Haiti e 33 milhões de euros no Paquis-
tão. Além disso, foi mobilizado um montante de 20 milhões de euros para o
financiamento da Parceria de Consolidação da Paz da UE, o que reforça as capa-
cidades da sociedade civil e dos parceiros regionais e internacionais de prepara-
ção para as crises, e outros 62 milhões de euros para fazer face, a longo prazo, às
ameaças à segurança.

A promoção da democracia e o respeito pelos direitos humanos foram apoiados


através de missões de observação eleitoral ao longo do ano, especialmente em
África, no Togo, Sudão, Etiópia, Guiné, Burundi, Tanzânia e Costa do Marfim. Sob
a autoridade do chefe da missão de observadores do Parlamento Europeu, mais
de 800 observadores de todos os Estados-Membros integraram estas missões,
representando uma das contribuições mais concretas e visíveis para a política
externa da UE que reúne a Comissão, o Parlamento e os Estados-Membros num
esforço partilhado de promoção da democracia e dos direitos humanos através
do mundo.

Avançar com eleições democráticas


As eleições para o poder executivo e as eleições parlamentares no Sudão em Abril
marcaram um passo fundamental do acordo de paz global, que tem por objec-
tivo pôr termo a décadas de guerra civil. A missão de observação eleitoral da UE
incluiu 147 observadores acreditados dos 25 Estados-Membros da UE. As reco-
mendações da missão incluíram a necessidade de um exercício de registo exaus-
tivo dos eleitores, transparente e rigoroso, e uma melhor identificação dos eleito-
res. O valor da missão deverá ser visível no referendo programado para 2011.

93 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


© Ezequiel Scagnetti / Reporters

Observadores da UE numa secção de voto


durante as eleições presidenciais no Sudão Equipas de avaliação das eleições mais pequenas foram também enviadas para
­– uma de muitas missões semelhantes que a o Iraque e o Afeganistão, a fim de assistirem ao processo eleitoral e apresentarem
UE realizou ao longo do ano.
recomendações. Embora estas operações fossem mais limitadas, uma vez que
não implicavam uma observação integral do escrutínio, estas missões demons-
O Parlamento apoia a liberdade de traram os méritos desta nova abordagem, particularmente em contextos carac-
pensamento
terizados por uma certa insegurança. Foram igualmente enviadas missões de
O dissidente cubano Guillermo Fariñas foi
peritos à Nicarágua, Ruanda, Ilhas Salomão, Níger, Haiti e Kosovo (16).
o vencedor do prémio «Sakharov para a
Liberdade de Pensamento» 2010. O Os esforços da UE para promover a ratificação e a aplicação do Estatuto de Roma
prémio recompensou a sua oposição não do Tribunal Penal Internacional foram particularmente bem sucedidos, tendo o
violenta e a denúncia do regime castrista,
Bangladeche, as Seicheles, Santa Lúcia e a Moldávia concluído o processo
como símbolo da luta contra a prisão dos
durante o ano. A UE concedeu 4 milhões de euros às organizações da sociedade
opositores políticos.
civil que sensibilizam e promovem a ratificação do Estatuto de Roma.

No âmbito da sua acção destinada a reconhecer os defensores dos direitos huma-


nos e a associá-los à elaboração da política da UE em matéria de direitos humanos,
missões da UE foram encarregadas de organizar anualmente reuniões com
defensores dos direitos humanos e respectivas organizações, de adoptar estraté-
gias locais e de nomear funcionários de ligação da UE como pontos de contacto.

Foi adoptado um instrumentário (17) para a promoção e a protecção do exercício de


todos os direitos humanos por parte de lésbicas, «gays», bissexuais e transgéne-
ros (18). Define como prioridades a descriminalização, a igualdade e a não discrimi-
nação, bem como o apoio e a protecção das pessoas que defendem esses direitos.

Realizaram‑se mais de 40 diálogos e consultas consagrados especificamente aos


direitos humanos com países de todo o mundo, nomeadamente, e pela primeira
vez, com a Indonésia e o México. Os resultados do diálogo UE-China sobre os
direitos humanos e das consultas UE-Rússia em matéria de direitos humanos
foram revistos. Para maximizar a participação da sociedade civil, foram organiza-
dos seminários em paralelo com os diálogos oficiais sobre os direitos humanos,
incluindo um seminário da sociedade civil sobre os direitos das mulheres em
© Frederick Florin / AFP / Belga

Junho, em que representantes de todos os Estados da Ásia Central se deslocaram


a Bruxelas para debater questões de direitos humanos e o seu impacto sobre as
mulheres na região. Realizou-se em Julho o fórum anual UE-ONG, que reuniu
cerca de 150 representantes de grupos internacionais de direitos humanos, que
debateu a luta contra a pena de morte, a protecção dos direitos económicos,
sociais e culturais, bem como as relações da UE com as organizações regionais de
defesa dos direitos humanos.
Quando o Parlamento Europeu atribuiu o
prémio Sakharov 2010 ao dissidente cubano
Guillermo Fariñas, este teve a substituí-lo
uma cadeira vazia envolta por uma
bandeira de Cuba. O governo cubano não
lhe concedeu a autorização de viagem para
poder receber o prémio.

94
A Comissão adoptou uma estratégia para 2011-2013 centrada no reforço do Defender os defensores dos
papel da sociedade civil na promoção dos direitos humanos e da reforma demo- direitos humanos
crática. Esta estratégia incide principalmente na luta contra a pena de morte, a Os dados mais recentes relativos ao
tortura, as crianças em situação de conflito armado, a violência contra as mulhe- Instrumento Europeu para a Democracia e
os Direitos Humanos revelam que este
res e a promoção dos direitos da criança.
concedeu 150 milhões de euros em 2010,
para co-financiar, em cerca de 100 países,
aproximadamente 550 novos projectos na
Co m é r ci o: ne g o ci a r e m t o d o o m u nd o área dos direitos humanos, executados
Enquanto maior bloco comercial do mundo, a UE depende de um essencialmente por organizações da
sociedade civil.
sistema comercial aberto e defende firmemente a liberalização das
trocas comerciais. A Organização Mundial do Comércio (OMC) e o
sistema comercial multilateral assumem uma importância essencial
para a política comercial da UE, que considera que uma regulamen-
tação mundial constitui a melhor forma de garantir trocas comer-
ciais equitativas e uma prosperidade amplamente partilhada. A
Comissão apresentou em Novembro uma política comercial reno-
vada e mais assertiva (19). A nova política baseia-se num programa já
por si pesado de conversações comerciais multilaterais e bilaterais,
mas adapta a abordagem, particularmente para defender melhor
os interesses da Europa ao mesmo tempo que promove também os
seus valores e os seus objectivos. O comércio faz parte integrante
do plano de recuperação da Europa e, por conseguinte, está no cen-
tro da estratégia «Europa 2020». O crescimento e a recuperação eco-
nómicos são, com efeito, condicionados por mercados abertos, inte-
grados e justos. Durante o ano, a UE criou novas oportunidades no
estrangeiro e assegurou que as regras que regulam o comércio
foram reforçadas e respeitadas, garantido um comércio equitativo.
A UE presta especial atenção ao estabelecimento de novas relações com os seus EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO MUNDIAL, EM VOLUME
principais parceiros comerciais, nomeadamente os EUA, a China, a Rússia e o de Jan. 2007 a Set. 2010, 2000 = 100 (CPB)
Japão, em que os maiores desafios comerciais residem muitas vezes mais na %
burocracia do que na tradicional redução dos direitos aduaneiros. Para tornar a
180
vida mais fácil para os operadores honestos, mantendo, simultaneamente,
160
padrões de segurança elevados, a UE reforçou a sua cooperação a nível adua-
neiro com parceiros estratégicos. Com os Estados Unidos, pretendia o reconheci- 140

mento mútuo das normas aduaneiras de segurança — para evitar impor custos 120
administrativos exagerados às empresas legítimas, e opôs-se à imposição de um
100
controlo obrigatório de todas as exportações. Aquando da reunião do Conselho
Económico Transatlântico com os Estados Unidos em 17 de Dezembro, foram 2007 2008 2009 2010 2011
tomadas medidas concretas para promover um ambiente de negócios voltado
Fonte: CPB Gabinete neerlandês de análise da política económica.
para o futuro, reduzindo os obstáculos regulamentares e incentivando a inova-
ção, as normas comuns e o sector da alta tecnologia. Os delegados decidiram
adoptar uma abordagem comum relativamente aos sistemas de dossiês médicos
electrónicos e um enfoque no acesso às matérias-primas, aos produtos respeita-
dores do ambiente, à política de inovação, às nanotecnologias, às compras eco-
lógicas e à inovação social. Foi igualmente inaugurado um sítio Internet comum
contra a contrafacção.

95 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


A UE e o Japão chegaram a acordo sobre o reconhecimento mútuo das normas
de segurança aduaneira. Com a China, a UE trabalhou no sentido de reforçar a
aplicação efectiva das medidas aduaneiras de protecção dos direitos de proprie-
dade intelectual. O diálogo económico e comercial de alto nível UE-China reali-
zou-se em 21 de Dezembro.
© Andy Wong / AP / Reporters

No discurso introdutório que proferiu em


Pequim, em Abril, o presidente da Comissão
Europeia, José Manuel Barroso, salientou o
interesse comum da UE e da China em dar Negociar com a Coreia do Sul
resposta a desafios globais, como a crise
O acordo de comércio livre UE-Coreia do Sul, rubricado em Outubro de 2009, foi
económica e financeira, as alterações
assinado na cimeira UE-Coreia do Sul realizada em Outubro, confirmando as pers-
climáticas e a energia.
pectivas de uma evolução importante no domínio comercial. A Coreia do Sul é já
o oitavo maior parceiro comercial da UE, enquanto esta se tornou o segundo
maior destino das exportações da Coreia do Sul. O acordo prevê a liberalização
progressiva do comércio de bens e serviços e regras nos domínios da concorrên-
cia e dos auxílios estatais, da propriedade intelectual e dos contratos públicos.
Para combater os obstáculos não pautais ao comércio, o acordo inclui disposições
específicas nas áreas da electrónica, veículos automóveis e componentes para
veículos, produtos farmacêuticos, dispositivos médicos e produtos químicos.
Traduzir-se-á em importantes benefícios para os operadores económicos e os
consumidores e transmite uma forte mensagem de que a liberalização do comér-
cio constitui um elemento essencial para a retoma da economia mundial..

Foram lançadas as negociações para um acordo bilateral de comércio livre com


Singapura em Março e com a Malásia durante a cimeira UE-ASEM de Outubro. Na
cimeira realizada com o Japão em Abril, foram acordados mecanismos para
reforçar os laços económicos e comerciais, através da criação de um grupo de
alto nível encarregado de elaborar um relatório a apresentar na cimeira do pró-
ximo ano sobre as formas de intensificar esta relação.

A UE e a Rússia concluíram as suas conversações bilaterais sobre a adesão deste


país à OMC em Novembro. Os progressos nas negociações sobre os acordos de
© Thierry Monasse / Belga

comércio livre com o Canadá e a Ucrânia abriram a via para profundas alterações
na paisagem global do comércio e novas oportunidades comerciais para as
empresas e os investidores da UE nestes mercados em expansão. Registaram-se
também progressos importantes nas negociações com a Índia, tendo as duas
partes chegado a acordo sobre as grandes linhas de um pacote final na cimeira
UE-Índia realizada em 10 de Dezembro. Foi acordado envidar todos os esforços
As bandeiras do Vietname, da Austrália e da
no sentido de concluir as negociações o mais rapidamente possível.
Tailândia, bem como muitas outras, foram
hasteadas à frente da sede da UE em
Bruxelas, em Outubro, por ocasião da
cimeira ASEM, que congregou líderes de
países da Ásia e da Europa.

96
Na cimeira entre a União Europeia e a América Latina e as Caraíbas realizada em
Maio (ver supra, página 89), foi aberto um novo capítulo nas suas relações
comerciais. Trata-se de um acordo de associação inter-regional abrangente que
compreende o diálogo político, a cooperação e o comércio e um acordo comer-
cial com o Peru e a Colômbia. Os responsáveis da UE e do Mercosul acordaram
igualmente em relançar as negociações sobre um acordo de associação UE-
Mercosul que abrangerá os aspectos políticos, de cooperação e comerciais.
Ao mesmo tempo, pôde ser resolvido de modo equitativo para os produtores
na América Latina e os países ACP o mais longo litígio comercial com que a
UE se confrontou — sobre as bananas e o nível dos direitos aduaneiros e das
preferências concedidas aos países de África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP). Foi
assinado um acordo com os países da América Latina e com os Estados Unidos.
O Parlamento Europeu deve ratificar o acordo no primeiro trimestre de 2011.

© Gary Braasch / Corbis


O mais longo litígio comercial com que a UE
A UE continuou a dar resposta às distorções da concorrência no comércio interna- se confrontou – sobre as bananas – foi
resolvido, tendo-se celebrado um acordo
cional recorrendo aos seus instrumentos de defesa comercial (antidumping, anti-
com os países da América Latina e os
-subvenções e medidas de salvaguarda), em plena conformidade com as regras da
Estados Unidos da América.
OMC. Foram abertos dezasseis novos processos e impostas sete medidas definiti-
vas durante os primeiros 10 meses de 2010. Apesar do abrandamento económico
a nível mundial, as medidas de defesa comercial em 2009 afectaram apenas cerca
de 0,5% das trocas comerciais. Durante o ano de referência, a OMC publicou as
suas decisões relativas aos litígios entre a UE e os EUA sobre subvenções à Airbus
e à Boeing. Numa decisão da OMC de Junho foram tecidas críticas em relação aos
empréstimos bonificados pelo Governo à Airbus. A UE recorreu da decisão em
Julho, ao mesmo tempo que continua a procurar uma solução negociada.

Além disso, a Comissão formulou propostas no domínio do investimento estran-


geiro directo (uma nova área de competência da União Europeia na sequência da
entrada em vigor do Tratado de Lisboa), definindo a forma como o investimento
pode ser utilizado para dinamizar a competitividade e o comércio, conduzindo ao
crescimento e ao emprego (20). Em Outubro, para dar o impulso necessário à
recuperação, a UE exortou os seus principais parceiros comerciais a eliminarem
330 obstáculos proteccionistas e medidas restritivas adoptados durante a crise
económica, e que, contrariamente ao compromisso do G20, reiterado nas cimei-
ras do G20 em Toronto (Junho de 2010) e Seul (Novembro de 2010), não tinham
sido retirados, não obstante os sinais de recuperação económica.

97 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Foi concluído um acordo comercial anticontrafacção, que contribui para tornar
mais estrita a aplicação pelos países desenvolvidos, limitando o mercado das
mercadorias contrafeitas e reforçando a protecção dos direitos de autor e dos
bens com marca da UE e dos produtos com indicações geográficas da UE. Glo-
balmente, a UE continuou a promover o acesso aos mercados de bens e serviços
da UE, através das suas equipas locais de acesso aos mercados e, quando neces-
sário, através de acções junto da OMC.

Eliminação das restrições às importações na Malásia


A Malásia suprimiu, em Março, os complexos testes impostos sobre o queijo pro-
veniente dos Estados-Membros da UE. A medida, em vigor desde 2008, implicava
que todas as remessas tinham de ser acompanhadas de um certificado sanitário
e de um certificado de análise comprovativo da ausência de Listeria numa amos-
tra de 25g. A Malásia alegava que se tratava de uma medida de salvaguarda
importante e legítima. A UE invocou o rigor da sua regulamentação e medidas de
controlo e o desenvolvimento de normas internacionais para os testes de Listeria
em 2009, e argumentou, com sucesso, que os controlos malaios eram despropor-
cionados. O resultado não só promove e simplifica o comércio — como restaura
o dinamismo do comércio da UE que já valia 3 milhões de euros, só em 2008.

O comércio desempenha igualmente um papel essencial em termos de desen-


volvimento e de recuperação económica. A Comissão propôs um melhor acesso
dos produtos paquistaneses aos mercados, como parte da resposta da UE às
inundações que assolaram o país em Agosto, a fim de reforçar a confiança entre
os investidores e contribuir para a recuperação da economia. Depois de aprova-
das, as preferências propostas liberalizarão quase 30% das exportações paquis-
tanesas para a UE, ou seja, 900 milhões de euros do comércio actual.

DE ONDE VÊM AS IMPORTAÇÕES DA UE? PARA ONDE VÃO AS EXPORTAÇÕES DA UE?


Quota-parte das importações na UE, Quota-parte das exportações da UE,
Jan. a Out. 2010 Jan. a Out. 2010
EUA
Outros 11,43% Outros EUA
41,11% 48,52% 18,15%

China
18,93% China
8,34%

Rússia
Rússia 6,35%
10,37%
Suíça
Turquia 7,78%
2,83% Suíça
Japão 5,71% Turquia
Noruega Noruega
4,39% 4,49%
5,22% Japão 3,10%
3,27%

Fonte: Comissão Europeia. Fonte: Comissão Europeia

98
A l a r g a m en t o
Prosseguiram em 2010 as negociações de adesão com a Croácia e a
Turquia, tendo sido encetadas novas negociações com a Islândia.
O processo de alargamento foi benéfico para a Europa do seu sen-
tido mais lato, nomeadamente mais segurança e prosperidade para
a União, bem como incentivos para a realização de reformas nos
países que pretendem aderir à UE. Apoiou igualmente as políticas
da UE em matéria de energia, transportes, ambiente, alterações cli-
máticas e segurança dos cidadãos. Ao mesmo tempo, consolidou os
contactos entre pessoas: com efeito, desde 15 de Dezembro, os
nacionais da Albânia e da Bósnia e Herzegovina podem viajar sem
visto para a UE, usufruindo da mesma liberdade de que beneficia-
ram já durante todo o ano de 2010 — também pela primeira vez —
os cidadãos da Sérvia, do Montenegro e da antiga República jugos-
lava da Macedónia.

PAÍSES CANDIDATOS E PAÍSES POTENCIALMENTE CANDIDATOS

A B
3 C
4
D

Países candidatos: Países potencialmente candidatos:


1. Islândia A. Bósnia e Herzegovina
2. Croácia B. Sérvia
3. Montenegro C. Kosovo (*)
4. Antiga República jugoslava da Macedónia D. Albânia
5. Turquia
(*) No âmbito da Resolução n.º 1244/1999 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Fonte: Comissão Europeia.

Prosseguiram as reformas em todos os países do alargamento, embora a um


ritmo desigual, nos domínios da democracia e dos direitos humanos, da gestão
económica e do alinhamento pelas normas e legislação da UE. Permanecem
desafios, nomeadamente relacionados com a boa governação, o Estado de
direito e a liberdade de expressão. A plena cooperação com o Tribunal Penal
Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ) continua a ser uma condição para o
processo de adesão relativamente a vários países, tendo outras questões bilate-
rais também entravado os progressos.

99 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Realizaram-se progressos em matéria de cooperação regional nos Balcãs Oci-
dentais e a apropriação regional foi reforçada. Os trabalhos avançaram a nível da
Comunidade da Energia, do Acordo Centro-Europeu de Comércio Livre (CEFTA) e
do Observatório dos Transportes da Europa do Sudeste; no Montenegro, foi
aberta a Escola Regional de Administração Pública, financiada pela UE. Foi assi-
nado um memorando de entendimento revisto para uma cooperação regional
contra a criminalidade organizada e a criminalidade grave nos Balcãs Ocidentais.
No entanto, a cooperação regional foi travada no que diz respeito a certas ques-
tões, devido a divergências em relação ao estatuto do Kosovo. A perspectiva
europeia para os Balcãs Ocidentais foi claramente reafirmada na reunião de alto
nível UE-Balcãs Ocidentais que se realizou em Sarajevo, em Junho.

A Islândia negoceia a sua adesão à De entre os países candidatos, a Croácia continuou a melhorar a sua capaci-
União Europeia dade para assumir as obrigações decorrentes da adesão e os preparativos
Com base num parecer positivo da necessários para cumprir os requisitos da UE progrediram bem. Trinta e quatro
Comissão sobre o pedido de adesão da dos 35 capítulos de negociação da adesão foram abertos, tendo 28 sido proviso-
Islândia à UE (21), em Junho, o Conselho
riamente encerrados. As negociações devem ser concluídas assim que a Croácia
Europeu decidiu iniciar as negociações de
cumprir os requisitos pendentes no domínio do sistema judicial e dos direitos
adesão; estas foram lançadas em Julho
durante uma primeira Conferência fundamentais, da luta contra a corrupção, da política de concorrência, da reforma
Intergovernamental. Em Novembro, da administração pública, da protecção das minorias e do regresso dos refugia-
começou o processo de «screening» da dos. As relações da Croácia com os países vizinhos, especialmente com a Sérvia
legislação do país para verificação da e a Eslovénia, ganharam novo ímpeto.
compatibilidade com a UE.
A Turquia alterou a sua Constituição: as reformas introduzidas no seu sistema
político e jurídico deram resposta a algumas prioridades no que respeita ao
poder judicial e aos direitos fundamentais. Contudo, estas decisões devem agora
ser aplicadas, em particular para garantir a liberdade de expressão na prática. As
negociações de adesão progrediram, ainda que bastante lentamente. A fase
actual exige que a Turquia intensifique os seus esforços, nomeadamente em
termos de cumprimento das suas obrigações de aplicação integral e não discri-
minatória do Protocolo Adicional ao Acordo de Associação. Não se registaram
progressos no sentido da normalização das relações bilaterais com a República
de Chipre. A política externa mais activa da Turquia na sua vizinhança mais alar-
gada é um trunfo para a UE, desde que seja desenvolvida como um comple-
mento do processo de adesão da Turquia e em coordenação com a UE.

Na antiga República jugoslava da Macedónia, os progressos realizados foram


desiguais, sendo necessário desenvolver esforços adicionais em matéria de
independência do poder judicial, da luta contra a corrupção, da reforma da
© Norbert Eisele-Hein / Imagebroker / Belga

administração pública e da liberdade de expressão nos meios de comunicação


social. O diálogo político terá também de ser reforçado. No seu relatório de
acompanhamento de Novembro, a Comissão reiterou a sua recomendação
sobre a abertura das negociações de adesão. Continua a ser essencial encontrar
uma solução para a questão da denominação do país.

A Islândia preenche os critérios políticos


para a adesão à UE e, apesar de duramente
afectada pelas crises do sector bancário,
está bem preparada para empreender as
acções necessárias para cumprir os
requisitos de adesão à UE.

100
© Image Source / Reporters
A Croácia registou progressos globais
Entre os países potencialmente candidatos, a Albânia estabeleceu um quadro
significativos em diversos domínios e as
normativo e constitucional, mas subsistem algumas deficiências. Estas referem‑se à
negociações entraram na fase final.
eficácia e à estabilidade das instituições democráticas da Albânia, nomeadamente o
Parlamento; a persistente politização da administração pública; reforma judiciária
pendente; aplicação efectiva do Estado de direito, nomeadamente na luta contra a
corrupção e a criminalidade organizada; e execução da legislação em matéria de
direitos humanos. O parecer da Comissão, emitido em Novembro, sobre o pedido de
adesão do país recomendou que as negociações deveriam ser iniciadas assim que o
país tivesse atingido o necessário grau de conformidade com os critérios de adesão.
As eleições gerais de Outubro na Bósnia e Herzegovina decorreram, de um Montenegro: um novo candidato
modo geral, em consonância com os padrões internacionais, mas o país deve à adesão à UE
ainda alterar a sua Constituição, a fim de eliminar as incompatibilidades com a O Conselho Europeu de Dezembro
Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Foram apenas alcançados pro- avalizou a recomendação da Comissão
Europeia de Novembro de conceder ao
gressos limitados na reforma da administração pública e do sistema judiciário,
Montenegro o estatuto de país
bem como na luta contra a corrupção, mas as condições para os refugiados e as
candidato.
pessoas repatriadas e a cooperação regional melhoraram. Registaram‑se muito
As negociações de adesão serão iniciadas
poucos progressos no cumprimento das restantes exigências para o encerra-
logo que o país tiver atingido o grau de
mento do gabinete do alto-representante.
conformidade necessário com os critérios
O acordo provisório entre a Sérvia e a União Europeia entrou em vigor em 1 de de adesão. Durante o ano, o Montenegro
Fevereiro de 2010 e o processo de ratificação do Acordo de Estabilização e de realizou progressos no que diz respeito
Associação iniciou-se em Junho. A Sérvia continuou a executar o seu programa aos critérios políticos, ao quadro jurídico e
de reformas, mas são necessários esforços adicionais nas áreas do Estado de à capacidade administrativa e
institucional. São contudo necessárias
direito e da reforma da administração pública. Em Outubro, o Conselho solicitou
uma maior tomada de consciência e
à Comissão que elaborasse um parecer sobre o pedido de adesão do país. Em
sensibilização da administração, da polícia
Julho de 2010, foi assinado um acordo UE-Sérvia em matéria de assistência
e do sistema judiciário para a aplicação
macrofinanceira. Apesar de alguma cooperação com o TPIJ, Ratko Mladić e das normas da UE. Por outro lado,
Goran Hadžić continuam em fuga. subsistem grandes desafios no domínio
O Kosovo realizou progressos satisfatórios em relação às iniciativas identificadas do Estado de direito, nomeadamente no
na Comunicação da Comissão de 2009 sobre o Kosovo (22). Foram realizadas que se refere à luta contra a corrupção e a
criminalidade organizada.
reuniões de diálogo no quadro do Processo de Estabilização e de Associação,
foram apresentados em Dezembro os primeiros programas de cooperação
transfronteiriça para o Kosovo e missões de peritos avaliaram a capacidade do
Kosovo no domínio dos vistos e do comércio e da integração. Permanecem
desafios importantes, em especial na administração pública, no sistema judicial
e na luta contra a criminalidade organizada e a Comissão anunciou que tencio-
nava lançar um diálogo sobre a corrupção. Na sequência do parecer consultivo
emitido pelo Tribunal Internacional de Justiça de que a declaração unilateral de
independência do Kosovo não violava o direito internacional, nem a Resolução
1244/1999 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Assembleia Geral
das Nações Unidas adoptou uma resolução, apoiada conjuntamente pela Sérvia
e pela União Europeia, congratulando-se com a vontade da UE de facilitar o diá-
logo entre Belgrado e Pristina. O mandato da Missão da União Europeia para o
Estado de Direito no Kosovo (EULEX) foi prorrogado até Junho de 2012.

101 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


P o l í t ic a e u r o pei a de v izin h a n ç a
A política externa da Europa é simultaneamente global e especifica-
mente local. Por conseguinte, a UE investiu fortemente, em 2010, tal
como em anos anteriores, na ajuda aos países da sua própria vizi-
nhança para a resolução dos seus problemas e na perspectiva de um
estreitamento das suas relações.
Um relatório (23) sobre os países imediatamente a Leste e a Sul mostrou de que
modo a política europeia de vizinhança está a promover o entendimento mútuo
através dos contactos entre as populações e através das empresas, da sociedade
civil e dos laços culturais. Apesar de um contexto por vezes difícil nestas regiões,
a UE conseguiu estabelecer uma parceria na via das reformas com os países vizinhos
desde o lançamento desta política em 2004. Os resultados concretos têm benefi-
ciado os países parceiros e a UE, mesmo que a fase de implementação tenha regis-
tado um certo atraso relativamente à fase de concepção de políticas e à legislação.

Investir para o futuro Registaram-se progressos em particular com Marrocos, tendo-se nomeada-
Em Dezembro de 2010, ou seja, mente realizado uma cimeira UE-Marrocos em Granada em Março — a primeira
exactamente 30 meses após a sua criação, cimeira deste tipo com um país mediterrânico — e celebrado um acordo sobre a
a Facilidade de Investimento de participação do país em programas e agências da UE seleccionados. Foram con-
Vizinhança concedeu subvenções num
cluídas negociações para a liberalização do comércio de produtos agrícolas e
montante total de 280 milhões de euros,
estão em curso conversações sobre a liberalização do comércio nos sectores dos
mobilizando um total de 12 mil milhões
serviços e do investimento. A Tunísia também debateu a liberalização do comér-
de euros em fundos provenientes de
instituições financeiras europeias. Estes cio nos sectores dos serviços e do investimento e manifestou interesse, junta-
fundos permitiram realizar operações num mente com o Egipto e a Jordânia, em obter um estatuto avançado para as suas
valor superior a 7,3 mil milhões de euros, relações com a UE. A Argélia acordou na criação de um subcomité para o diálogo
nomeadamente investimentos no político, a segurança e os direitos humanos. Um acordo-quadro em negociação
domínio das energias renováveis, como com a Líbia, país em que a UE decidiu abrir um gabinete, abrirá caminho para
um parque eólico de 200 MW no golfo de
uma relação de longo prazo de cooperação e de diálogo.
El Zayt no Egipto e uma estação de
tratamento de águas residuais no Líbano. Estão em negociação acordos de associação com a Ucrânia, Moldávia, Geórgia,
Arménia e Azerbaijão, com negociações paralelas para a celebração de um
acordo comercial com a Ucrânia numa fase avançada, e numa fase preparatória
em relação a outros países. Foram lançados trabalhos preparatórios para novas
acções de reforço das instituições, a fim de ajudar estes países a negociarem e a
aplicarem os acordos. Foram criados novos subcomités especializados para
reforçar as relações bilaterais da UE com a Arménia, o Azerbaijão e a Geórgia. Foi
igualmente aprofundado o diálogo com os parceiros sobre os direitos humanos.
Foram concluídos com a Geórgia e estão em fase preparatória com a Arménia, o
Azerbaijão e a Bielorrússia acordos em matéria de readmissão e de facilitação da
emissão de vistos. Está em curso um diálogo sobre a facilitação da emissão de
vistos com a Moldávia, a Ucrânia e a Rússia. Foi também acordado com a Bielor-
rússia um plano de acção provisório conjunto.

Os planos de acção bilaterais com os países a título individual são complementa-


dos a nível regional. A abordagem Sul foi renovada no quadro da União para o
Mediterrâneo e a Parceria Oriental entrou em pleno funcionamento, tendo‑se
realizado duas reuniões informais dos ministros dos Negócios Estrangeiros (24),
em que foi feito o balanço das realizações políticas e revistos os programas de
trabalho, em que são planeadas mais de 70 actividades. Foi lançado em Março
um projecto ambiental para a região, para desenvolver um sistema de informa-
ção ambiental partilhada. Com a entrada em vigor do Tratado Lisboa e a criação
do Serviço Europeu para a Acção Externa, a nova coerência que caracteriza a
elaboração da política externa da UE permite, a partir de agora, debater questões
de segurança e de estabilidade no âmbito da Parceria Oriental.

102
A abordagem regional no Sul foi prosseguida no quadro da União para o Medi-
terrâneo. Apesar da cimeira da União para o Mediterrâneo, que devia ter sido
realizada em Junho e seguidamente em Novembro, ter sido adiada por duas
vezes, foram organizadas reuniões ministeriais sectoriais sobre os temas da
água, do turismo, do trabalho e do emprego, dos assuntos económicos e finan-
ceiros e da Facilidade Euro-Mediterrânica de Investimento e de Parceria.

Re s p o nde r à s c r i s e s h u m a ni tá r i a s
A Comissão Europeia e os Estados-Membros constituem, em con-
junto, o mais importante doador de ajuda humanitária a nível mun-
dial. Na UE, a ajuda humanitária continua a beneficiar de um forte
apoio, tal como confirmado por um inquérito realizado à escala da
UE: oito em cada 10 cidadãos da UE consideram que é importante
que a UE financie a ajuda humanitária para além das suas frontei-
ras (25). O contexto humanitário mundial caracteriza-se cada vez mais
por graves catástrofes naturais e por uma redução do espaço huma-
nitário em inúmeras zonas atingidas por crises e conflitos. As autori-
dades públicas e os intervenientes não estatais não respeitam fre-
quentemente a protecção mais elementar proporcionada pelo
direito internacional humanitário, limitando desta forma ainda mais
o alcance da acção humanitária. Entretanto, o impacto crescente das
alterações climáticas deu origem, em 2010, a um acentuado aumento
do número de pessoas afectadas por catástrofes naturais.
As catástrofes naturais representaram desafios de vulto em 2010. O terramoto no
Haiti suscitou uma rápida reacção por parte dos serviços de protecção civil e de
ajuda humanitária da Comissão, que enviou peritos para o local para avaliarem
as necessidades e coordenarem a resposta da UE e identificarem os danos. Foi
concedido um montante de 120 milhões de euros de assistência. O Centro de
Informação e Vigilância da Comissão Europeia no Haiti coordenou as interven-
ções de socorro da protecção civil dos Estados-Membros da UE, expedindo
módulos europeus de resposta rápida e concedendo 4,4 milhões de euros de
apoio financeiro para o transporte da assistência. A alta-representante da UE,
Catherine Ashton, que representou toda a UE na conferência de doadores que se
realizou em Março, em Nova Iorque, assumiu um compromisso colectivo de
contribuição de mais de 1 000 milhões de euros. © União Europeia

A alta-representante da UE, Catherine


Ashton, visita um campo de refugiados no
Haiti, em Março de 2010.

103 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


© União Europeia

Em 12 de Janeiro de 2010, o Haiti sofreu o


Na África Subsariana, a UE prestou igualmente ajuda de emergência às vítimas
mais grave sismo da sua história. Ao longo
da seca e das inundações, de conflitos, epidemias e insegurança alimentar.
do ano, a UE prestou assistência humanitá-
ria e ajuda ao desenvolvimento para a O Sudão recebeu um montante de 131 milhões de euros para ajudar as popula-
reconstrução do país. ções vulneráveis no Darfur, no Sul do Sudão e nas zonas de transição. No Sahel,
o financiamento permitiu melhorar as situações de seca e de insegurança
alimentar. No Corno de África, foram concedidos 20 milhões de euros para con-
trariar os efeitos do conflito e da seca. No Quénia, a UE financiou operações de
emergência nos campos de Dadaab, os maiores campos de refugiados do
mundo, que acolhem um número cada vez maior de somalianos que fogem dos
conflitos e do caos no seu país.

As piores inundações na história do O Mecanismo de Protecção Civil da UE foi activado em resposta a seis situações
Paquistão de emergência fora da UE. Foram organizados em sete regiões do mundo pro-
Foi significativa a resposta humanitária da gramas de redução dos riscos de catástrofe. Cada euro gasto no desenvolvimento
UE às graves inundações da monção que
de capacidades, formação e sensibilização, nos sistemas de alerta precoce e na
assolaram o Paquistão em Agosto.
planificação de medidas de emergência corresponde a 4 euros gastos em acções
A Comissão concedeu um total de
humanitárias após a ocorrência de uma catástrofe. Em Outubro, a Comissão
150 milhões de euros em assistência
humanitária e coordenou a ajuda em propôs (26) melhorar a eficácia, a coerência e a visibilidade da resposta da UE em
espécie fornecida pelos Estados-Membros, caso de catástrofe.
recorrendo, pela primeira vez, às
A UE prestou ajuda de emergência às vítimas das «crises esquecidas», nomeada-
capacidades de transporte aéreo
mente a minoria Lao Hmong na Tailândia, as populações afectadas pelos confli-
estratégico civil, em coordenação com o
estado-maior da UE. tos internos na Colômbia, na região de Mindanau, nas Filipinas, e no Norte do
Iémen, os refugiados sarauís na Argélia e os refugiados butaneses no Nepal.

104
Co o pe r aç ão pa r a o de s en v o lv i m en t o
O Tratado de Lisboa considera o desenvolvimento como uma polí-
tica de pleno direito, em pé de igualdade com as outras componen-
tes da política externa da UE. Coloca uma nova tónica na coordena-
ção das políticas da União e dos Estados-Membros em matéria de
desenvolvimento e na coerência entre a política de desenvolvi-
mento e as outras políticas da UE. Este reconhecimento coincide
com uma mudança no sentido de integrar a política de desenvolvi-
mento da UE na estratégia «Europa 2020». Afastando-se do modelo
de relação doador-beneficiário, a política prosseguida é uma polí-
tica de interesse mútuo: trabalhar em parceria com os países em
desenvolvimento a fim de lhes proporcionar oportunidades susten-
táveis e inclusivas de crescimento e de luta contra a pobreza que,
simultaneamente, beneficiem a UE.
Os fundos concedidos pela UE continuam a ser significativos. Em conjunto com Acesso sustentável a uma água segura
os Estados-Membros, a UE concede ajuda num montante de quase 50 mil Os programas de abastecimento de água e
milhões de euros por ano, o que representa uma duplicação nos últimos 10 anos. de saneamento, que contribuem para a
Enquanto maior doador mundial, a UE confirmou de novo o seu compromisso criação de infra-estruturas para sistemas de
para que a sua ajuda atinja o objectivo de 0,7% do rendimento nacional bruto abastecimento de água potável e tratamento
de águas residuais, e que fornecem sistemas
até 2015. Os Estados-Membros também concordaram em tomar medidas realis-
de saneamento básico e de higiene,
tas e verificáveis para satisfazer os seus compromissos individuais.
elevam‑se a cerca de 400 milhões de euros
A assistência fornecida pela UE é muito tangível. A Comissão fornece mais de por ano. Desde 2004, mais de 31 milhões de
600 milhões de euros por ano para a segurança alimentar, dando às pessoas um pessoas beneficiaram da ligação a sistemas
de água potável e 9 milhões a instalações de
acesso físico e económico aos produtos alimentares de base de que necessitam.
saneamento básico.
Entre 2004 e 2010, 24 milhões de pessoas que vivem em condições de extrema
pobreza beneficiaram de sementes e utensílios, de transferências pecuniárias
directas e de produtos alimentares.

A Facilidade Alimentar da UE no valor de 1 000 milhões de euros, adoptada em


2009, está em funcionamento e proporciona uma resposta rápida e eficaz no
combate contra a insegurança alimentar. Mais de 50 milhões de pessoas benefi-
ciaram desta Facilidade, que começa a dar os seus frutos. O Zimbabué constitui
um exemplo concreto, tendo 26 000 toneladas de sementes e adubos sido distri-
buídos a 176 000 agricultores vulneráveis. A monitorização geográfica através da
observação por satélite contribuiu também para assegurar uma execução eficaz.

Em Março, a União Europeia conferiu novo ímpeto à área da segurança alimentar


nos países em desenvolvimento, através de dois novos enquadramentos estraté-
gicos. Um centra-se nos progressos para a eliminação da pobreza e da fome, o
outro focaliza-se na optimização da eficácia da ajuda humanitária nas crises em
que a insegurança alimentar põe vidas em perigo. A Comissão promoveu a visão
de um modelo agrícola sustentável e respeitador do ambiente, adaptado às
realidades dos países e mercados em desenvolvimento. Este modelo reforça a
produtividade dos pequenos agricultores e as capacidades de adaptação das
comunidades rurais, para garantir que os produtos alimentares estão disponí-
veis, são acessíveis e possuem a qualidade nutritiva adequada.
© União Europeia

A Facilidade Alimentar da UE no valor de


1 000 milhões de euros adoptada em 2009
permite que a UE responda rapidamente aos
problemas causados pelo aumento
dramático dos preços dos produtos
alimentares nos países em desenvolvimento.

105 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


A política de desenvolvimento conheceu evoluções importantes durante o ano.
Com apenas cinco anos pela frente até à meta de 2015 para a realização dos
objectivos de desenvolvimento do milénio, a Comissão formulou uma série de
propostas sobre o desenvolvimento e a educação (27), as questões de género (28),
a fiscalidade (29), o financiamento, a saúde (30), a eficácia da ajuda (31) e a segurança
alimentar (32). A sua abordagem para mobilizar recursos financeiros suplementa-
res a favor do desenvolvimento contou com a aprovação da UE na sua cimeira de
Junho, o que impulsionou os preparativos da UE na perspectiva da realização da
cimeira da ONU sobre os ODM, que se realizou em Nova Iorque, em Setembro.

O desenvolvimento é uma questão As alterações verificadas na arquitectura mundial do desenvolvimento exigem


global uma coordenação e sinergias mais fortes entre todos os parceiros a favor da erra-
Na cimeira do G20 que se realizou em dicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável das populações mais
Seul, em Novembro, a UE apelou com pobres. A UE reforçou, por conseguinte, os diálogos a nível do desenvolvimento e
êxito para que o desenvolvimento fosse
da cooperação prática com os principais parceiros estratégicos. Foi relançada a
incluído, pela primeira vez, na agenda do
cooperação com os EUA, com especial atenção dada às alterações climáticas e à
G20, firmemente articulado na sua
estratégia de crescimento e de segurança alimentar, e realizado, em Tóquio, o primeiro diálogo UE-Japão sobre
investimento. desenvolvimento. Foi acordada a cooperação trilateral entre a UE, o Brasil e o Haiti,
tendo começado os preparativos. Teve início em Março um processo de diálogo
formal entre todos os agentes envolvidos na cooperação para o desenvolvimento,
de forma a aumentar a participação da sociedade civil e das autoridades locais.
© Martine Perret / UN Photo

A UE financiou programas para promover a


escolarização – como este projecto em O documento «Coerência das Políticas para o Desenvolvimento», adoptado na
Timor-Leste, em que os alunos mais novos
Primavera, apresentou as respostas da UE aos desafios globais do comércio e das
recebem refeições a meio da manhã para
finanças, das alterações climáticas, da segurança alimentar mundial, das migra-
incentivar as matrículas e a assiduidade e
aumentar a sua capacidade de aprendizagem. ções e da segurança. Propôs mecanismos para assegurar que os objectivos em
matéria de desenvolvimento são tomados em consideração e estão em consonân-
cia com os outros objectivos da UE (33). A criação do Serviço Europeu para a Acção
Externa revela-se essencial para assegurar a coerência entre as diferentes políticas.

106
Uma comunicação de Outubro sobre o futuro das relações UE-África (34) acen- QUEM CONCEDE A AJUDA AO
tuou o papel de África enquanto actor económico, comercial e político em plena DESENVOLVIMENTO?
Principais doadores da ajuda ao
expansão. Identificou uma série de domínios estratégicos em que a UE e África
desenvolvimento oficial. 2010: previsão.
poderiam reforçar ainda mais as suas relações em benefício mútuo e sugeriu
Mil milhões €
medidas concretas para os próximos anos. A cimeira UE-África — o «G80» de 80
hoje, que representa cerca de 1,5 mil milhões de pessoas — decorreu em Sirte UE

(Líbia), em Novembro, e definiu um plano de acção para os dois continentes para 60

os próximos anos subordinado ao tema «Crescimento, criação de emprego e 40


investimento». A União Europeia e África acordaram em alargar a sua cooperação
20 EUA
bilateral em matéria de paz e segurança, governação democrática e direitos
Japão
humanos, energia, comércio e infra-estruturas, migrações, ciência e tecnologia, 0
TIC e de espaço. Comprometeram-se a colaborar mais estreitamente em instân- 2000 2002 2004 2006 2008 2010

cias internacionais, de modo a obter progressos concretos a nível de áreas pro- Fontes: Comissão Europeia e OCDE/CAD.
blemáticas como as alterações climáticas e a realização dos objectivos de
desenvolvimento do milénio. Os dirigentes acordaram igualmente em intensifi-
car o diálogo político e estratégico entre os dois lados.

No Conselho Misto ACP-UE, que se realizou em Uagadugu, em Junho, foi assi-


nado um acordo de Cotonu revisto, relativamente ao qual as negociações tinham
sido concluídas com êxito em Março. Este acordo, que tem em conta a tendência
para uma maior diferenciação regional (35), reafirma o compromisso de alcançar
os objectivos de desenvolvimento do milénio e reforça a articulação entre segu-
rança e desenvolvimento. Reconhece o papel da União Africana e reafirma o
compromisso no diálogo político em apoio ao multilateralismo.

Em Setembro, a Comissão Europeia aprovou as primeiras decisões de financia- Parceiros em crise


mento ao abrigo da dotação de 264 milhões de euros de 2010 para o mecanismo Entre 40 e 80 milhões de pessoas nos
de vulnerabilidade FLEX para ajudar os Estados de África, das Caraíbas e do países em desenvolvimento serão
Pacífico mais vulneráveis a fazerem face ao impacto da crise financeira global e à forçadas a uma situação de pobreza
absoluta devido à crise. Foi acordado um
recessão económica. Ajudou 19 países a manterem o respectivo nível de despesa
conjunto de medidas, tendo sido
pública em domínios de acção prioritários e a atenuarem o impacto social da
autorizado um montante de 215 milhões
recessão económica. Este instrumento de curto prazo, que proporcionou
de euros para ajudar 11 países africanos e
500 milhões de euros em 2009-2010, apoiou a Antígua e Barbuda, Benim, dois países das Caraíbas a reduzir os
Burundi, Burquina Faso, Cabo Verde, República Centro-Africana, Granada, Guiné défices de financiamento nos respectivos
Bissau, Haiti, Lesoto, Libéria, Malawi, República Democrática do Congo, Samoa, orçamentos públicos.
Serra Leoa, Togo, Tonga, Tuvalu e Zimbabué. Estes 500 milhões de euros vêm
juntar-se aos 1 000 milhões de euros da Facilidade Alimentar e à atribuição de
um montante de 200 milhões de euros no âmbito do Fundo Europeu de Desen-
volvimento em 2008 para ajudar os países em desenvolvimento a fazerem face
ao aumento dos preços dos produtos alimentares. Com estes mecanismos
específicos, a UE foi a primeira a tomar medidas em conformidade com as reco-
mendações da cimeira do G20, realizada em Londres, em Abril de 2009, contri-
buindo para uma retoma sustentável e equilibrada.

Foi objecto de reflexão uma nova decisão do Conselho relativa às relações com
os países e territórios ultramarinos com vínculos constitucionais com Estados-
-Membros da UE, que entraria em vigor em 2014. As suas orientações — moder-
nização, competitividade e cooperação — foram abordadas no fórum político
anual que se realizou em Março com estes países e territórios.

107 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Apoiar projec tos na América Latina O comércio é um factor fundamental nas relações da UE com os países em
A Facilidade de Investimento para a desenvolvimento. A UE proporciona a estes países um acesso preferencial aos
América Latina, que prevê a concessão de seus mercados sem paralelo. Isto é efectuado em parte através do sistema de
125 milhões de euros de subvenções até preferências generalizadas, um regime comercial que permite reduzir os direitos
2013, foi lançada na cimeira UE-ALC em
aduaneiros sobre as mercadorias provenientes de 176 países e territórios em
Maio. O seu objectivo consiste em
desenvolvimento. Uma consulta pública realizada durante o ano sobre as futuras
mobilizar financiamentos adicionais para
projectos de investimento nos domínios
adaptações a introduzir neste sistema foi acompanhada por uma proposta de
da interconexão, infra-estruturas recondução do actual sistema por um período até dois anos, de modo a que o
energéticas, transportes, ambiente, Parlamento Europeu disponha de tempo suficiente para examinar a nova pro-
alterações climáticas, infra-estrutura social posta, que deverá ser apresentada pela Comissão no início de 2011.
e desenvolvimento do sector privado, em
O desenvolvimento dos acordos de parceria económica constitui a pedra angu-
particular as PME. Combina subvenções
da UE com empréstimos de Instituições lar da parceria comercial e de desenvolvimento da UE com os países ACP. As
Financeiras Europeias de negociações prosseguiram com todas as regiões africanas e com o Pacífico e
Desenvolvimento públicas bilaterais ou estão mais avançadas com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
multilaterais e de bancos de A Comissão garante a aplicação adequada dos acordos que tenham já sido con-
desenvolvimento regionais da América cluídos, por exemplo, nas Caraíbas, ou na Papuásia-Nova Guiné. Em relação aos
Latina. A Facilidade irá gerar investimentos acordos provisórios que já ultrapassaram a fase da rubrica ou da assinatura, o
em infra-estruturas num montante
processo consiste em garantir coerência nos diferentes regimes comerciais e em
superior a 3 mil milhões de euros.
garantir que as relações comerciais UE-ACP têm uma base jurídica sólida.

A ajuda externa da UE produz bons resultados graças à cooperação com as


comunidades e as autoridades locais. A Comissão empenha-se em utilizar da
melhor forma possível o dinheiro dos contribuintes. Mas em tempos de mudança,
é necessário também garantir que a política de desenvolvimento continua a ser
eficaz. Foi lançada em Outubro uma nova consulta sobre o modo como a política
de desenvolvimento da UE deverá adaptar-se e evoluir.
© Yves Horent/União Europeia

A África Subsariana continua a ser a região


do mundo onde se desenrolam os projectos
humanitários mais importantes da UE.
Na imagem, um campo de refugiados
no Burundi.

108
notas

(1) Decisão 2010/413/PESC do Conselho, de 26 de Julho 2010, que impõe medidas (19) Comunicação da Comissão «Comércio, crescimento e questões internacionais —
restritivas contra o Irão (JO L 195 de 27.7.2010). A política comercial como um elemento central da estratégia da UE para 2020» [COM
(2010) 612].
(2) Decisão 2010/427/UE do Conselho, de 27 de Julho de 2010, que estabelece a
organização e o funcionamento do Serviço Europeu para a Acção Externa (20) Comunicação da Comissão «Rumo a uma política europeia global em matéria de
(JO L 201 de 3.8.2010). investimento internacional» [COM(2010) 343].
(3) Declaração conjunta da cimeira UE-EUA (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/ (21) Parecer da Comissão sobre o pedido de adesão da Islândia à União Europeia
cms_data/docs/pressdata/EN/foraff/117897.pdf ). [COM(2010) 62].
(4) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/371 (22) Comunicação da Comissão «Kosovo — Concretizar a Perspectiva Europeia»
[COM(2009) 534].
( ) Declaração conjunta sobre a Parceria para a Modernização (http://www.consilium.
5

europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/pressdata/en/er/114747.pdf ). (23) Comunicação da Comissão «Balanço da Política Europeia de Vizinhança»


[COM(2010) 207].
(6) Conclusões da cimeira UE-Canadá (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/
cms_data/docs/pressdata/en/er/114195.pdf ). (24) Em Sopot, Polónia, e em Bruxelas.

(7) Declaração conjunta na sequência da cimeira UE-Japão (25) Eurobarómetro, Agosto: 79% consideram que é importante que a União Europeia
(http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/pressdata/en/er/114063.pdf). financie ajuda humanitária fora das suas fronteiras.

(8) Acordo-quadro entre a União Europeia e os seus Estados-Membros e a República da (26) Comunicação da Comissão «Reforçar a capacidade de resposta europeia a situações
Coreia (http://www.eeas.europa.eu/korea_south/docs/framework_agreement_final_ de catástrofe: papel da protecção civil e da ajuda humanitária» [COM(2010) 600].
en.pdf ). (27) Documento de trabalho dos serviços da Comissão «Mais e melhor educação nos
(9) Comunicado conjunto da IV cimeira UE-América Central (http://www.consilium. países em desenvolviment» [SEC(2010) 121].
europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/er/114558.pdf ). (28) Documento de trabalho dos serviços da Comissão «Plano de acção da UE sobre a
(10) Declaração conjunta da IV cimeira UE-Brasil igualdade entre homens e mulheres e a emancipação das mulheres na cooperação
(http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/er/115812.pdf). para o desenvolvimento 2010-2015» [SEC(2010) 265].

(11) Plano Executivo Conjunto da Parceria Estratégica. (29) Comunicação da Comissão «Fiscalidade e desenvolvimento. Cooperação com os
países em desenvolvimento a fim de promover a boa governação em questões
(12) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/10/1282&format=HTML fiscais» [COM(2010) 163].
&aged=0&language=en
(30) Comunicação da Comissão «O papel da UE na área da saúde mundial» [COM(2010) 128).
(13) Conclusões da Presidência do Conselho Europeu, de 12 de Outubro de 2010
(31) Comunicação da Comissão «Um plano de acção da UE em doze pontos em apoio dos
(http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/ec/116547.pdf).
objectivos de desenvolvimento do milénio» [COM(2010) 159].
(14) http://www.eunavfor.eu/
(32) Comunicação da Comissão «Quadro estratégico da UE para ajudar os países em
(15) Aprovadas na Segunda Conferência Ministerial sobre a pirataria realizada na Maurícia, desenvolvimento a enfrentarem os desafios no domínio da segurança alimentar»
7 de Outubro de 2010. [COM(2010) 127].
(16) De acordo com a Resolução 1244/1999 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. (33) Documento de trabalho dos serviços da Comissão «A coerência política para o programa
(17) Nota do Conselho — Instrumentário para a promoção e a protecção do exercício de de trabalho no domínio do desenvolvimento para 2010-2013» [SEC(2010) 421].
todos os direitos humanos por parte de lésbicas, «gays», bissexuais e transgéneros (34) Comunicação da Comissão sobre a consolidação das relações UE-África —
(LGBT), 17 de Junho de 2010 (http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cmsUpload/ 1 500 milhões de pessoas, 80 países, 2 continentes, 1 futuro [COM(2010) 634].
st11179.en10.pdf ).
(35) Decisão do Conselho relativa à assinatura, em nome da União Europeia, do acordo
(18) Adoptado pelo grupo de trabalho do Conselho sobre direitos humanos em 9 de que altera pela segunda vez o acordo de parceria entre os Estados de África, das
Junho de 2010 e pelo Comité Político e de Segurança em 18 de Junho de 2010. Caraíbas e do Pacífico e a Comunidade Europeia e os seus Estados-Membros.

109 R e l ató r i o G e r a l 2010 | A União Europeia no mundo


Capítulo 5
Tornar a União Europeia
mais democrática, eficiente
e responsável
O Tratado de Lisboa, em vigor desde Dezembro de
2009, teve um impacto imediato nos trabalhos das
instituições da UE em 2010. O Tratado de Lisboa visa
sobretudo garantir resultados a favor dos cidadãos da
União Europeia (UE) através de um processo de tomada
de decisão mais simples e mais democrático. Reforça o
papel do Parlamento Europeu para moldar a Europa.
O Parlamento passa a ter novas responsabilidades
enquanto co-legislador, o que afecta a sua capacidade
para tomar decisões que têm influência na vida
quotidiana e na salvaguarda dos direitos dos cidadãos.
O Parlamento adquiriu poderes de co-decisão em
50 domínios legislativos adicionais e foi colocado em
situação de igualdade com o Conselho de Ministros nos
seguintes domínios: agricultura, segurança energética,
imigração, justiça e assuntos internos, saúde e fundos
estruturais. Em relação ao orçamento da UE, o Tratado
coloca o Parlamento em pé de igualdade com o
Conselho no que se refere à tomada de decisões sobre
todas as despesas da UE e simplifica o processo
decisional. Simultaneamente, o Tratado alargou a
votação por maioria qualificada no Conselho a novas
áreas, assegurando um processo de tomada de
decisões mais eficaz.

O planeamento das políticas e a análise sistemática da


legislação estão a ser melhorados. Cada uma das
instituições tem estado a aperfeiçoar a elaboração da
legislação para maximizar a sua eficácia e optimizar a
utilização dos recursos. Estão a ser desenvolvidos
grandes esforços para simplificar as regras e os
procedimentos da UE, tornar mais transparente o
funcionamento das instituições, reduzir os encargos
administrativos desnecessários e assegurar uma maior
participação dos parlamentos nacionais e das partes
interessadas no processo de definição das políticas.

Passou a ser prática corrente que a nova legislação seja


precedida de avaliações do impacto socioeconómico e
em termos de direitos fundamentais, bem como da sua
viabilidade a longo prazo. A legislação em vigor, por
seu turno, é examinada com vista a controlar a sua
adequação aos fins previstos. Por último, procede-se à
introdução ou à alteração de actos legislativos para
reforçar a eficiência de muitas actividades próprias da
UE, bem como dos seus Estados-Membros, nos mais
diversos domínios, desde a cobrança de impostos até
aos transportes. Registaram-se igualmente progressos
com vista a reforçar a transparência na gestão dos
fundos e dos processos de trabalho.
Ap l ic aç ão d o T r ata d o de Li s b oa
A governação da UE continuou a evoluir com a entrada em vigor do
Tratado de Lisboa em 1 de Dezembro de 2009, que criou muitas
oportunidades para tornar a UE mais eficiente, democrática e res-
ponsável, graças, nomeadamente, a um grau de colaboração sem
precedentes em matéria de governação económica ou a uma coope-
ração mais estreita em matéria de luta contra as alterações climáti-
cas, de segurança energética, de justiça, de imigração ou de crimi-
nalidade organizada. Tirou-se rapidamente partido de muitas
destas oportunidades ao longo do ano, conforme indicado em capí-
tulos anteriores do presente relatório.
Entre as mudanças introduzidas pelo Tratado de Lisboa, é de referir o facto de o
Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão Europeia terem redefinido as
relações entre si e com os Estados-Membros, por forma a tirar pleno partido das
novas disposições do Tratado. Com a criação de um presidente do Conselho
Europeu, o papel da presidência semestral rotativa sofreu alterações. Tal exigiu
uma nova forma de cooperação por parte da Espanha, que assegurou a Presi-
dência rotativa no primeiro semestre do ano, bem como da Bélgica, que se lhe
seguiu no segundo semestre, no que respeita aos ajustamentos que tiveram de
introduzir nos seus métodos de trabalho para tomar em consideração as novas
disposições. O Parlamento exerceu as competências que lhe foram conferidas,
nomeadamente em matéria de acordos internacionais, o que viria a ter influên-
cia, por exemplo, na versão final do acordo sobre a transferência de dados
financeiros europeus para os Estados Unidos, inicialmente negociado pelo Con-
selho, no contexto das investigações de actos de terrorismo.
© Wu Wei / Belga

O presidente do Conselho Europeu, Herman


Van Rompuy (à direita), e o presidente da O novo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, desempenhou um
Comissão Europeia, José Manuel Barroso,
papel crucial nas discussões consagradas à nova arquitectura a favor da convergên-
em Outubro, numa das habituais
cia económica e a Comissão utilizou os seus novos poderes, tendo proposto, por
conferências de imprensa conjuntas que
agora se realizam no encerramento exemplo, mecanismos de coordenação reforçada entre os Estados-Membros em
dos Conselhos Europeus. matéria de governação económica e consolidado as ligações com os parlamentos
nacionais que passaram a assumir maior relevância com o Tratado de Lisboa.

As modalidades de elaboração do orçamento da UE foram igualmente alteradas


pelo Tratado de Lisboa. A Comissão propôs as alterações necessárias ao regula-
mento financeiro aplicável ao orçamento geral da União e apresentou uma pro-
posta de regulamento relativo ao quadro financeiro plurianual, bem como uma
proposta de um novo acordo interinstitucional sobre a cooperação orçamental
que adapta as disposições do actual acordo interinstitucional sobre a disciplina
orçamental e a boa gestão financeira aos requisitos do Tratado de Lisboa.

112
Os trabalhos relacionados com a criação do Serviço Europeu para a Acção Externa
(SEAE), que entrará em pleno funcionamento a partir de 2011 (ver capítulo 4,
«A União Europeia no mundo»), também exigiram um novo regulamento financeiro
e um novo estatuto (1), assim como novos mecanismos institucionais, uma vez que
os fundos da UE gastos pelo SEAE deverão estar sujeitos às mesmas regras estritas
e aos mesmos controlos abrangentes que os aplicáveis a todas as instituições.
O Tratado de Lisboa veio também alterar a forma como a UE toma decisões no
que se refere a muitas questões correntes, como as autorizações de produtos ou
as organizações dos mercados agrícolas. Clarificaram-se os mecanismos de
delegação de competências à Comissão para a tomada destas decisões, ao
abrigo do que então se denominava «o procedimento de comitologia». Em
conformidade com o Tratado, deve ser estabelecida uma distinção entre os
mecanismos de supervisão aplicáveis às medidas quase legislativas, os denomi-
nados «actos delegados (2), e as simples medidas de execução ou «actos de exe-
cução (3)». No caso dos actos delegados (4), a Comissão está sujeita ao controlo
(ex post) do Parlamento Europeu e do Conselho, sendo esse controlo exercido,
no caso dos actos de execução, pelos Estados-Membros (5).

A s in s t i t u i çõ e s da Uni ão E u r o pei a
O Parlamento exerceu os seus novos poderes legislativos, tendo-se
pronunciado mais activamente noutros domínios, designadamente
sobre as negociações internacionais, os futuros mecanismos de finan-
ciamento da UE e o SEAE. A presidência rotativa do Conselho teve de se
adaptar por forma a funcionar construtivamente com um Parlamento
dotado de novas atribuições e um presidente do Conselho Europeu, o
que conferiu um ímpeto renovado à procura de compromissos. Na pre-
sente conjuntura de agitação económica e financeira, a nova Comissão
tem continuado a desempenhar um valioso papel na definição de pro-
postas para sair da actual crise e promover o crescimento.

O Parlamento Europeu
Em Janeiro, o Parlamento Europeu desempenhou o seu papel já consagrado no
que se refere às audições dos novos comissários indigitados da Comissão
Barroso II, tendo obtido a substituição de um dos candidatos: a Bulgária retirou © Petros Karadjias / AP / Reporters
o seu candidato inicial e nomeou outra candidata. Subsequentemente, o Parla-
mento aprovou a nomeação da nova Comissão em 9 de Fevereiro por 488 votos
a favor, 137 contra e 72 abstenções.
Foi adoptada em Maio uma resolução sobre as consequências do Tratado de
Lisboa para oo processo interinstitucional de tomada de decisões. No mesmo
mês, o Parlamento optou por uma abordagem pragmática quanto à sua futura
composição a fim de integrar os 18 deputados suplementares autorizados pelo
O Tratado de Lisboa reforçou o papel do
Tratado de Lisboa (6). A pequena alteração necessária ao Tratado foi introduzida
Parlamento Europeu (na imagem, o
em 23 de Junho numa Conferência Intergovernamental reduzida. Os Estados- presidente Jerzy Buzek) que passou a dispor
-Membros estão actualmente em vias de ratificar esta alteração para que os de novas responsabilidades para co-legislar.
novos deputados do Parlamento Europeu possam assumir funções.
Em 2010, o Parlamento adoptou diversas medidas para se adaptar ao Tratado de
Lisboa e à evolução do contexto interinstitucional, tendo actualizado as disposi-
ções do Regimento relativas às perguntas parlamentares e aos poderes delegados.
De igual forma, foi instituída uma nova Comissão especial («SURE»), em Julho, com
um mandato de 12 meses, que deverá contribuir para definir as prioridades do
Parlamento para o quadro financeiro plurianual pós-2013 e que deverá elaborar
um relatório antes de a Comissão apresentar as suas propostas em Julho de 2011.

113 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


«Precisamos mais do que nunca de tirar O Parlamento Europeu continuou igualmente a aprofundar as suas ligações com
partido do poder colectivo da União no seu os parlamentos nacionais, tendo em Junho alterado o seu Regimento em confor-
conjunto para podermos dar resposta aos midade. A realização de reuniões interparlamentares ao longo do ano entre as
desafios fundamentais da nossa época.
comissões do PE e as suas congéneres dos parlamentos nacionais permitiu
Trata-se de uma responsabilidade conjunta
debater as implicações práticas do Tratado de Lisboa para a política da UE.
da nossa parte.» Jerzy Buzek, Conselho
Europeu, 16 de Dezembro de 2010. Em Outubro, o presidente do Parlamento, Jerzy Buzek, pronunciou um discurso
a meio do seu mandato, em que identificava oito domínios de acção prioritários
(crise financeira, solidariedade, segurança energética e protecção do ambiente,
acção externa, direitos humanos, direitos das mulheres, reforma institucional e
orçamento), tendo insistido na necessidade de soluções inovadoras e não con-
vencionais para enfrentar os desafios do futuro.

«Projecto Europa 2030»


Ao mesmo tempo que dá resposta às preocupações imediatas em matéria de
responsabilização democrática e de uma maior eficiência, a UE reconheceu
igualmente a importância de uma perspectiva a mais longo prazo. Em Maio,
recebeu o relatório González intitulado «Projecto Europa 2030», que havia sido
encomendado pelo Conselho Europeu em 2008 para a apresentação de um
projecto ambicioso para os próximos 20 anos. Sob a presidência de Felipe Gon-
zález, antigo primeiro-ministro espanhol, um grupo de reflexão constituído por
personalidades europeias eminentes elaborou recomendações nos mais diver-
sos domínios, desde a educação até à energia e desde a reforma do mercado de
trabalho até à coordenação da fiscalidade. Os líderes da UE manifestaram, na
cimeira de Junho, a sua satisfação pelo trabalho realizado, tendo observado que
«constitui um contributo útil para os trabalhos da União Europeia no futuro».

O Conselho Europeu
Por iniciativa do seu presidente Herman Van Rompuy, o Conselho Europeu
reuniu-se seis vezes ao longo do ano. O presidente começou a identificar com
© Christophe Karaba / Belga

bastante antecedência os temas concretos a abordar nas reuniões do Conselho


Europeu, a fim de permitir uma melhor preparação dos debates.

Imediatamente após a cimeira da UE de Junho, Herman Van Rompuy deslocou-se


ao Parlamento Europeu para discutir com Jerzy Buzek, presidente do PE, e com a
Conferência dos Presidentes, o que constitui uma diligência sem precedentes.
Debateu igualmente os resultados da reunião do Conselho Europeu com todos
No quadro da cooperação interinstitucional,
os deputados do Parlamento numa sessão plenária especial organizada alguns
o presidente do Conselho Europeu,
Herman Van Rompuy, passará a proferir dias mais tarde, que se viria a tornar um encontro regular após as cimeiras.
uma alocução na sessão plenária do
Parlamento Europeu após cada Conselho
Europeu (na imagem, na sede do O Conselho
Parlamento, em Estrasburgo). A presidência rotativa do Conselho teve de se adaptar para colaborar de forma
construtiva com um Parlamento dotado de novas atribuições e com um presi-
dente do Conselho Europeu permanente. Foi necessário que a Espanha e a
Bélgica, que assumiram essa presidência rotativa, definissem os seus papéis num
novo contexto institucional, tanto a nível dos novos intervenientes, a saber, o
presidente do Conselho Europeu e a alta-representante para os Negócios Estran-
geiros e a Política de Segurança, como à luz do reforço dos poderes do Parla-
mento Europeu enquanto co-legislador europeu de pleno direito.

114
Formações do Conselho
O Conselho Europeu alterou a lista das formações do Conselho para reflectir as
mudanças introduzidas pelo Tratado de Lisboa, no intuito de integrar a política
espacial no Conselho «Competitividade (mercado interno, indústria e investiga-
ção)» e a política de desporto no Conselho «Educação, Juventude e Cultura».
Consequentemente, as formações do Conselho passarão doravante a ser as
seguintes:
Assuntos Gerais;
Negócios Estrangeiros;
Assuntos Económicos e Financeiros (incluindo o orçamento);
Justiça e Assuntos Internos (incluindo a protecção civil);
Emprego, Política Social, Saúde e Consumidores;
Competitividade (mercado interno, indústria, investigação e espaço, incluindo
o turismo);
Transportes, Telecomunicações e Energia;
Agricultura e Pescas;
Ambiente;
Educação, Juventude, Cultura e Desporto (incluindo o sector audiovisual).

A Comissão Europeia
Em 2010, a nova Comissão Barroso II tomou formalmente posse após as audições
dos membros do Colégio pelo Parlamento e a sua nomeação pelo Conselho. Na
presente conjuntura de agitação económica e financeira, a Comissão tem conti-
nuado a desempenhar um importante papel na definição de propostas para sair
da actual crise e promover o crescimento. No final do ano, adoptou propostas
que permitirão lançar o debate sobre uma futura revisão do orçamento, que
condicionará a forma como serão fixadas as receitas da União. Paralelamente, a
Comissão continuou a melhorar o quadro legislativo mediante a simplificação da
legislação existente, realizando progressos significativos na redução da carga
administrativa e na ajuda dada aos Estados-Membros na transposição da legisla-
ção da UE.

© União Europeia

A Comissão Europeia de 2010-2014 no


Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

115 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


© União Europeia

O presidente e os membros da Comissão


Em Maio de 2010, todos os membros da Comissão Europeia comprometeram-se
Europeia prestam juramento perante o
solenemente, perante o Tribunal de Justiça da União Europeia, a respeitarem as
Tribunal de Justiça da União Europeia,
em 3 de Maio de 2010. obrigações que para eles decorrem dos Tratados da UE. Uma vez que se trata da
primeira Comissão empossada depois da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a
formulação do compromisso solene foi adaptada à nova situação legal, tendo pas-
sado a incluir uma referência à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Em 2010, a Comissão atribuiu de novo grande importância a uma cooperação


institucional fluida e frutífera, como demonstrado pelo novo acordo-quadro
concluído entre o Parlamento e a Comissão (7) que actualizou e substituiu o
acordo de 2005. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, este novo acordo
assume particular importância, dado definir as relações entre as duas institui-
ções, na sequência do reforço das competências do Parlamento Europeu, nome-
adamente no âmbito do processo legislativo.

O novo acordo-quadro entre o Parlamento e a Comissão


O acordo define as regras e o calendário de um diálogo reforçado e estruturado
entre as instituições, que permite ao Parlamento Europeu dar uma contribuição
importante quando a Comissão elabora o seu programa de trabalho, partici-
pando portanto na programação da União.
Além disso, confirma a intenção da Comissão de proceder a um exame de todas
as propostas pendentes no início do mandato de uma nova Comissão, para que
estas possam ser politicamente confirmadas ou retiradas, tendo devidamente
em conta os pareceres emitidos pelo Parlamento Europeu.
O acordo inclui disposições pormenorizadas sobre a forma como a Comissão
informará o Parlamento sobre a negociação e a conclusão de acordos internacio-
nais e sobre a eventual inclusão de deputados, na qualidade de observadores, na
delegação da UE em conferências internacionais.
Alinha as regras em matéria de protecção das informações confidenciais e classifi-
cadas no Parlamento pelas normas internacionais, o que permite informar o Parla-
mento sobre questões sensíveis, nomeadamente as negociações internacionais.
Prevê uma melhor informação do Parlamento no que respeita ao trabalho dos
peritos nacionais que aconselham a Comissão.

116
O acordo reflecte igualmente a «parceria especial» entre o Parlamento e a Comis-
são que foi proposta no final de 2009 pelo presidente Barroso. Mesmo antes da
conclusão do acordo, 2010 pautou-se já por uma cooperação sem precedentes
entre as duas instituições, nomeadamente através do diálogo estruturado entre
os comissários e as Comissões do PE aquando da elaboração do programa de
trabalho da Comissão para 2011 e nas reuniões entre o Colégio de Comissários e
a Conferência dos Presidentes das Comissões do Parlamento e ainda entre o
presidente Barroso e a Conferência dos Presidentes.

No início do ano, decorridas apenas seis semanas após a tomada de posse da


nova Comissão, o presidente Barroso apresentou ao Parlamento o programa de
trabalho da Comissão para 2010 (8). Este programa introduziu inovações, nome-
adamente a primeira previsão plurianual de eventuais iniciativas futuras, que
proporciona às instituições o quadro adequado para chegarem a um sólido
consenso em torno dos domínios prioritários para a Europa. Em conformidade
com os princípios da regulamentação inteligente, todas as propostas são assim
avaliadas de forma criteriosa, para determinar as que devem avançar e sob que
forma. Este exercício é acompanhado de um compromisso no sentido de reapre-
ciar regularmente os planos numa base anual, no âmbito de uma abordagem
«evolutiva» destinada a reforçar a transparência e a qualidade do trabalho da
Comissão, sendo simultaneamente assegurada suficiente flexibilidade para rea-
gir a eventuais imprevistos.

Ao longo do ano, o presidente Barroso participou regularmente no novo «perí-


odo de perguntas» introduzido em 2009 na ordem de trabalhos das sessões
plenárias do Parlamento.

Em Setembro de 2010, proferiu pela primeira vez na história da União perante


esta assembleia o discurso sobre o «Estado da União» (9), tendo referido que tal
passaria a ser um exercício regular que permitiria identificar, numa base anual, os
trabalhos da UE para o ano seguinte e períodos subsequentes. No seu discurso,
enumerou os principais desafios que se colocam no futuro:

abordar a crise económica e a governação;

restabelecer o crescimento gerador de emprego, acelerando o programa de


reformas «Europa 2020»;

criar um espaço de liberdade, justiça e segurança;

lançar as negociações para modernizar o orçamento da UE;

assegurar que a UE desempenhe plenamente o seu papel na cena mundial.


© AP

A Comissão Europeia e o Parlamento


Europeu estabelecem uma nova parceria
através do acordo-quadro actualizado.
O presidente Barroso discursa na sessão
plenária do Parlamento Europeu,
em Estrasburgo.

117 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


Estas prioridades políticas refletem-se no programa de trabalho da Comissão
para 2011 (10), que foi apresentado em sessão plenária em Novembro pelo presi-
dente Barroso, que aproveitou a ocasião para sublinhar as suas características
institucionais inovadoras e encorajar o Parlamento e o Conselho a participarem
nas discussões trilaterais sobre a forma de aplicar as disposições do Tratado
relativas à programação da União. A Comissão convidou as outras instituições a
atribuir prioridade às propostas urgentes no domínio da regulamentação finan-
ceira e da governação económica. O Conselho Europeu de Outubro avalizou a
proposta da Comissão de antecipar e «acelerar» as propostas relativas ao reforço
da governação económica.
No intuito de dar resposta às necessidades prementes quanto à definição de
políticas em matéria de segurança energética e das alterações climáticas, o pre-
sidente Barroso nomeou um comissário responsável pela acção climática, em
paralelo aos comissários responsáveis pelo ambiente e pela energia, tendo
criado duas novas direcções-gerais, uma no domínio da energia e outra no
domínio da luta contra as alterações climáticas. A energia e os transportes,
anteriormente reunidos na mesma pasta, passaram a constituir direcções-gerais
distintas sob a responsabilidade de comissários diferentes. No intuito de respon-
der melhor aos desafios relativos aos direitos dos cidadãos, à justiça e à segu-
rança, procedeu-se a uma reorganização similar a nível dos comissários e das
direcções-gerais no que respeita aos domínios da justiça, por um lado, e dos
assuntos internos, por outro.

Os parlamentos nacionais
Desde o início do seu mandato em 2004, a Comissão Barroso I demonstrou a
enorme importância que atribuía às relações com os parlamentos nacionais, tendo
tornado a definição e a aplicação de uma verdadeira «abordagem face aos parla-
mentos nacionais» uma das suas principais prioridades. Em 2006, instituiu um
mecanismo para o diálogo político com os parlamentos nacionais e começou a
enviar-lhes as novas propostas legislativas e documentos de consulta, bem como a
responder aos pareceres por eles emitidos. Tal resultou em cerca de 500 pareceres
emitidos pelos parlamentos nacionais durante a Comissão Barroso I e em aproxi-
madamente 500 reuniões entre os comissários e os parlamentos nacionais.
Todavia, o ano de 2010 foi o primeiro em que a Comissão aplicou as novas dispo-
sições do Tratado de Lisboa relativas aos parlamentos nacionais. Os alicerces
lançados pela Comissão Barroso I permitiram que a evolução positiva destas
relações e a aplicação fluida do mecanismo de controlo da subsidiariedade se
saldassem em êxitos assinaláveis.
A Comissão Barroso II iniciou funções durante uma fase particularmente importante
das suas relações com os parlamentos nacionais. O Tratado de Lisboa prevê um
reforço significativo do papel dos parlamentos nacionais a nível da UE e estabelece
uma série de novos direitos e obrigações, que permitem aos parlamentos desempe-
nharem este novo papel. Os novos direitos referem-se principalmente ao seguinte:
«Mecanismo de controlo da subsidiariedade», igualmente denominado «proce-
dimentos do cartão amarelo e laranja». Este mecanismo confere aos parlamentos
nacionais a oportunidade de obrigarem a Comissão a reapreciar uma proposta
legislativa (cartão amarelo se os pareceres contrários atingirem um terço dos
votos atribuídos aos parlamentos nacionais) e que permite também ao legisla-
dor pôr termo ao processo legislativo ordinário (cartão laranja se os pareceres
contrários atingirem a maioria dos votos atribuídos aos parlamentos nacionais).
Revisão dos Tratados (sendo, por exemplo, atribuído um direito de veto a um par-
lamento nacional aquando da invocação da cláusula de ligação ou «passarela»).
Espaço de liberdade, segurança e justiça (direito à informação) (11).

118
A Comissão efectuou um balanço dos pareceres recebidos dos parlamentos
nacionais em 2010, bem como das respostas ou reacções da Comissão, tanto no
contexto do diálogo político como do controlo da subsidiariedade. Em 2010,
mais de 80 propostas da Comissão foram enviadas aos parlamentos nacionais ao
abrigo do mecanismo de controlo da subsidiariedade, tendo sido recebidos
cerca de 217 pareceres, dos quais apenas 32 negativos.

Uma proposta que beneficiou de particular atenção por parte dos parlamentos
nacionais, tendo sido objecto de oito pareceres negativos, mas também de
vários pareceres positivos, foi a directiva relativa aos trabalhadores sazonais (12).
Os limites mínimos para desencadear os procedimentos de cartão amarelo ou
laranja estiveram, todavia, longe de ser alcançados.

Regra geral, o mecanismo de controlo da subsidiariedade tem funcionado bem. Os


pareceres dos parlamentos nacionais continuam a centrar-se mais no teor político
das propostas da Comissão, do que nas questões de subsidiariedade. Desde a
entrada em vigor do Tratado, a Conferência dos Órgãos Especializados em Assuntos
Europeus e Comunitários dos Parlamentos da União Europeia (Cosac) deixou de
proceder aos controlos de subsidiariedade, organizados em torno de propostas
específicas da Comissão, tendo este papel passado a ser assumido pelos parlamen-
tos nacionais, que cooperam entre si numa base pontual.

O diálogo político entre a Comissão e os parlamentos nacionais


O diálogo político da Comissão com os parlamentos nacionais permite um inter-
câmbio de opiniões mais alargado e de carácter mais político, não se restringindo
apenas às propostas legislativas e à subsidiariedade. No quadro do diálogo
político, o número de pareceres recebidos dos parlamentos nacionais atingiu, em
2010, um total de quase 400, tendo aumentado mais de 55% em relação ao ano
transacto. As vantagens são múltiplas: o diálogo político melhora o processo de
definição das políticas e, na medida em que aproxima a Europa dos seus cidadãos,
contribui para aprofundar a compreensão horizontal por parte da Comissão da
dinâmica e dos processos nacionais. Além disso, os parlamentos nacionais podem
ajudar a Comissão a alcançar determinados objectivos, como a correcta trans-
posição da legislação da UE e uma melhor execução das suas iniciativas.

O Tribunal de Justiça da União Europeia


O Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral proferiram acórdãos importantes e apre-
ciaram diversos casos significativos com implicações para um vasto leque de
actividades na UE.

Alguns acórdãos paradigmáticos em diferentes domínios estratégicos


No que respeita aos jogos de fortuna e de azar, o Tribunal de Justiça estabeleceu
que um Estado-Membro pode, em determinadas condições enumeradas no acór-
dão, proibir a prestação de serviços, através da Internet, no domínio dos jogos de
fortuna e de azar. Atendendo às características específicas associadas à organiza-
ção na Internet deste tipo de jogos, pode considerara-se esta proibição justificada
pelo objectivo de combater a fraude e a criminalidade (13).
O objectivo de combater os perigos ligados ao jogo deve ser prosseguido de
uma forma coerente e sistemática (14).
O Tribunal de Justiça também estabeleceu que a legislação em vigor em
França, na Áustria e na Irlanda que impõe um preço mínimo de venda a retalho
dos cigarros infringe o direito da União Europeia (15).
No domínio do desporto, o Tribunal de Justiça estabeleceu que os clubes de
futebol podem solicitar uma indemnização pela formação de um jovem joga-
dor no caso de este assinar, no termo do seu período de formação, um con-
trato de jogador profissional com um clube de outro Estado-Membro (16).

119 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


No domínio comercial, o Tribunal de Justiça estabeleceu que os produtos ori-
ginários dos Territórios Palestinianos não são elegíveis para efeitos do trata-
mento pautal preferencial instituído pelo acordo CE-Israel (17).
O Tribunal de Justiça explicou igualmente os efeitos das regras aplicáveis ao
reconhecimento pelos Estados-Membros das decisões relativas aos processos
de insolvência, tendo nomeadamente especificado que, após o início de um
processo de insolvência num Estado-Membro, as autoridades competentes de
outro Estado-Membro são, em princípio, obrigadas a reconhecer e a aplicar
todas as decisões tomadas pelo órgão jurisdicional competente no âmbito
desse processo (18).
Além disso, o Tribunal de Justiça foi convidado, pela primeira vez, a interpretar
o alcance da legislação da UE no que respeita à protecção das invenções bio-
tecnológicas. Estabeleceu que uma patente europeia apenas é válida no que
respeita à invenção que desempenha efectivamente a função patenteada,
tendo assim deliberado que a Monsanto não pode proibir a comercialização
na UE de farinha de soja que contenha, num estado residual, uma sequência
de ADN que a empresa tenha patenteado (19).
No domínio das marcas, o Tribunal de Justiça estabeleceu que o Google não
havia infringido a legislação em matéria de marcas ao permitir que os anun-
ciantes adquirissem palavras-chave correspondentes às marcas dos seus con-
correntes (20).
O Tribunal Geral proferiu o seu primeiro acórdão relativo aos desenhos e
modelos comunitários e anulou a decisão do IHMI que negava provimento
a um pedido de declaração de nulidade contra um desenho da PepsiCo sob
a forma de um «rapper» (21).
No que diz respeito ao acesso aos documentos das instituições da União,
o Tribunal de Justiça especificou as condições em que um pedido de acesso
pode ser rejeitado, por razões relacionadas com a protecção dos dados pesso-
ais (22) ou com a protecção da integridade das investigações no âmbito de
auxílios estatais (23) e processos judiciais (24). No que diz respeito à publicação
de dados pessoais, esclareceu as condições a respeitar aquando da adopção
de legislação que imponha tal publicação (25).
© União Europeia

Os membros do Tribunal de Justiça no


Luxemburgo

120
© Olivier Hoslet / Belga
Staffan Nilson, o novo presidente do Comité
O Comité Económico e Social Europeu Económico e Social Europeu, discursa na
À luz do Tratado de Lisboa, o papel do Comité Económico e Social Europeu reunião plenária do Comité, em Bruxelas.
(CESE) foi igualmente reforçado, mediante a inclusão de uma cláusula horizontal
sobre o impacto social das políticas europeias, de novas regras relativas aos ser-
viços de interesse geral e de uma presença externa mais forte da UE em geral. Em
Outubro, procedeu-se à nomeação de um novo Comité e foi eleito o seu novo
presidente, Staffan Nilsson, de nacionalidade sueca. Os seus trabalhos também
se centraram na crise económica e social, no seu observatório da estratégia
«Europa 2020», na democracia participativa e no Fórum Europeu da Integração,
co-organizado com a Comissão Europeia.

© Belga
Mercedes Bresso, a nova presidente do
Comité das Regiões, numa reunião
O Comité das Regiões extraordinária do Comité, em Antuérpia.
O Tratado de Lisboa reforçou os poderes do Comité das Regiões, conferindo-lhe
pela primeira vez competência para contestar, perante o Tribunal de Justiça da
União Europeia, a nova legislação da UE, sempre que considerar que esta viola o
princípio da subsidiariedade. Foi nomeado um novo Comité em Fevereiro e
eleito o seu novo presidente, Mercedes Bresso, de nacionalidade italiana.
Durante o ano, o Comité organizou eventos com José Manuel Barroso, presidente
da Comissão, e com diversos comissários, tendo lançado a revisão do seu proto-
colo de cooperação com a Comissão.

121 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


O Provedor de Justiça Europeu
Em Janeiro, o Parlamento procedeu à reeleição de Nikiforos Diamandouros como
Provedor de Justiça Europeu. As queixas tratadas pelo Provedor incidiram sobre o
acesso a documentos, a gestão de queixas respeitantes a infracções da legislação
da UE, questões de pessoal e questões relacionadas com subvenções ou contra-
tos de serviços. Em 2010, foi enviado ao Parlamento Europeu um relatório especial
respeitante à Comissão. Em Junho, a Comissão adoptou o seu relatório de avalia-
ção anual sobre as relações com o Provedor de Justiça e o funcionamento do
procedimento interno de resposta ao Provedor de Justiça Europeu.

Outras instituições
Durante o ano, verificaram-se alterações também noutras instituições. No Banco
Central Europeu (BCE), foi nomeado um novo vice-presidente e criada uma
Direcção-Geral para a Estabilidade Financeira. O Banco preparou-se igualmente
para acolher o secretariado do Comité Europeu do Risco Sistémico. Mas, mais
importante, foi o facto de o BCE ter contribuído para as medidas da UE no sen-
tido de estabilizar o euro, nomeadamente através do programa do mercado dos
valores mobiliários» decidido pelo Conselho do BCE em 10 de Maio. Por seu
© Olivier Hoslet / Belga

turno, o Tribunal de Contas Europeu, incluiu, no seu programa de trabalho para


2010, diversos temas prioritários, como a natureza plurianual de um grande
número de despesas da UE, incluindo as correcções forfetárias e as recuperações,
a inovação e o mercado interno, o capital humano, a energia sustentável, bem
como a estratégia da Comissão de simplificação do quadro regulamentar para as
O Provedor de Justiça Europeu reeleito, empresas e os cidadãos. Considerou o advento de um novo Parlamento, de um
Nikiforos Diamandouros, na conferência de novo Tratado e de uma nova Comissão como uma oportunidade única para
imprensa de apresentação do seu relatório
melhorar a gestão financeira da UE, tendo trabalhado ao longo do ano no sen-
anual de 2009, no Parlamento Europeu,
tido de ajudar os principais responsáveis pela gestão e pela supervisão dos fun-
em Bruxelas.
dos da UE a tirarem partido deste potencial de mudança.

Agências
Foram criadas quatro novas agências durante o ano, a saber, o Gabinete Europeu
de Apoio ao Asilo, a Autoridade Bancária Europeia, a Autoridade Europeia dos
Valores Mobiliários e dos Mercados e a Autoridade Europeia dos Seguros e Pen-
sões Complementares. O grupo de trabalho interinstitucional sobre as entidades
reguladoras, instituído em 2009 com o objectivo de estabelecer um consenso
entre o Parlamento, o Conselho e a Comissão quanto à forma de melhorar os
trabalhos dessas entidades, prosseguiu as suas actividades em 2010. Em Maio,
definiu um roteiro relativo aos trabalhos a realizar no futuro. Na sua reunião de
Novembro, o grupo aprovou os trabalhos realizados até essa data a nível técnico
e procedeu a um primeiro debate de orientação sobre os trabalhos futuros.

122
E f ici ê nci a e t r a n s pa r ê nci a
A UE continuou a simplificar a legislação em vigor e a apresentar
propostas destinadas a reduzir a carga administrativa que implica.
Além disso, a fim de assegurar a máxima qualidade à nova legisla-
ção e às novas políticas, passou a proceder-se sistematicamente a
uma avaliação de impacto das principais iniciativas. A gestão e o
controlo das finanças da UE, bem como os mecanismos de transpa-
rência, foram igualmente melhorados.

Regulamentação inteligente Simplificação da facturação do IVA


O programa da Comissão «Legislar Melhor» traduziu-se em importantes melho- O Conselho adoptou igualmente uma
rias na definição das políticas a nível nacional e a nível da UE. A nova legislação é directiva destinada a simplificar os requisitos
elaborada com base nas observações apresentadas por diversos intervenientes em matéria de facturação do IVA, nomeada-
mente no que diz respeito à facturação
e em elementos recolhidos através de vastas consultas e é sujeita a um processo
electrónica (28). A nova directiva obriga as
de avaliação de impacto que, segundo uma fonte externa, aumenta de forma
autoridades fiscais a aceitarem a partir de
efectiva a qualidade das propostas. Paralelamente, a Comissão realizou uma
agora facturas electrónicas nas mesmas
simplificação radical da legislação existente e fez progressos significativos na condições que para as facturas em papel e
redução da carga administrativa e na ajuda dada aos Estados-Membros na trans- elimina os obstáculos legais à transmissão e
posição da legislação da UE. arquivo das facturas electrónicas.

Assegurar um quadro regulamentar de elevada qualidade (26) para os cidadãos e Clarificação dos procedimentos
as empresas é uma responsabilidade partilhada entre todas as instituições e os antitrust
Estados-Membros da UE. Esse quadro é necessário para alcançar os objectivos da A Comissão Europeia publicou um resumo
estratégia «Europa 2020» para um crescimento inteligente, sustentável e inclu- pormenorizado sobre a forma como
funcionam na prática os procedimentos da
sivo (ver capítulo 1 para informações mais pormenorizadas).
Comissão no domínio antitrust, a fim de
Uma das funções da Comissão consiste em assegurar que as políticas a nível da reforçar ainda mais a transparência e a
UE sejam decididas com base nos factos e de forma proporcionada, transparente e previsibilidade destes procedimentos.
responsável. Por outro lado, através do seu programa «Legislar Melhor», a Comissão
tem vindo a introduzir alterações significativas ao longo dos últimos cinco anos:

as consultas públicas e as avaliações de impacto passaram a ser prática cor-


rente no que diz respeito às suas iniciativas;

as regras da UE estão a ser simplificadas;

a carga administrativa que recai sobre as empresas está a ser reduzida.

Com base nestas realizações, a Comissão acaba de transpor uma nova etapa: em Menos burocracia para os transportes
Outubro, adoptou uma comunicação sobre a regulamentação inteligente na marítimos de curta distância
UE que define as acções para continuar a melhorar a qualidade e a pertinência da Foram simplificados os procedimentos
legislação da UE (27). Em especial, a Comissão irá atribuir maior importância à ava- administrativos no domínio dos transportes
marítimos de curta distância, nomeadamente
liação da legislação e das políticas existentes. Os resultados deste exercício serão
através do novo regulamento aduaneiro e da
integrados na concepção da regulamentação nova ou revista, aquando da elabo-
directiva relativa às formalidades de declaração
ração das avaliações de impacto. Simultaneamente, a Comissão irá continuar a exigidas aos navios à chegada e/ou à partida
trabalhar com o Parlamento Europeu, o Conselho, os Estados-Membros e outras dos portos, em conformidade com o plano de
partes interessadas e encorajá-los-á a prosseguirem de forma activa o programa acção (29) tendo em vista a criação de um espaço
«Regulamentação inteligente». De igual forma, o alargamento do período de europeu de transporte marítimo sem barreiras.
consulta, que passará de 8 para 12 semanas a partir de 2012, permitirá reforçar Estão a ser desenvolvidos outros instrumentos,
ainda mais a participação dos cidadãos e das partes interessadas neste processo. incluindo um balcão único para os procedimen-
tos administrativos e mecanismos para facilitar
as escalas em países terceiros, bem como as
sistemas electrónicos avançados de comunica-
ção e de informação («e-marítimo»). Estas
medidas representam uma poupança potencial
de 75 milhões de euros para os 1,7 milhões de
embarcações que fazem escala, todos os anos,
nos principais portos da UE.

123 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


Gerir a qualidade da legislação
ao longo do ciclo de elaboração das políticas
Simplificação e redução dos encargos administrativos
A UE está empenhada em simplificar a legislação em vigor e em apresentar propos-
tas destinadas a reduzir a carga administrativa que implica. Durante o ano, a
Comissão apresentou propostas que, se vierem a ser adoptadas pelo Parlamento e
pelo Conselho, poderão reduzir os custos administrativos em 31%, o que vai muito
além do objectivo inicialmente acordado de 25% . O Programa de trabalho da
Comissão para 2010 renovou o programa continuado de simplificação plurianual,
que contém uma lista de 46 propostas para 2010-2012, englobando os mais diver-
sos domínios, desde a política industrial, a energia e os transportes, a agricultura e
as pescas, o emprego e os assuntos sociais, a justiça e os assuntos internos e a
saúde pública, até à fiscalidade e às estatísticas. O programa de trabalho da Comis-
são para 2011 actualizou a lista de iniciativas de simplificação e retirou propostas.

A Comissão continuou a ser apoiada pelo Grupo de Alto Nível de partes interes-
Melhoria das técnicas de
estatísticas relativas ao turismo sadas independentes em matéria de encargos administrativos, presidido por
Os Estados-Membros serão autorizados a Edmund Stoiber, antigo ministro-presidente da Baviera.
recorrer a técnicas de estimativa em vez A Comissão propôs uma reformulação do Regulamento Bruxelas I relativo à
de inquéritos para a compilação de
competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria
estatísticas sobre o turismo.
civil e comercial que simplifica os litígios transfronteiras e melhora o acesso aos
Acesso mais fácil aos fundos da UE tribunais da UE. As novas regras propostas reduzirão ao mínimo a duração e os
Em Maio, a Comissão propôs uma revisão
custos de execução das decisões judiciárias de países terceiros e assegurarão o
das regras de acesso aos fundos da UE que acesso equitativo aos tribunais nos Estados-Membros.
resultou numa redução das formalidades
Em Abril, a Comissão adoptou uma comunicação que prevê opções destinadas a
burocráticas e dos custos para os
simplificar a gestão dos programas-quadro de investigação, a fim de os tornar
beneficiários, bem como em maiores
mais transparentes e atraentes para os melhores investigadores do mundo e as
possibilidades de combinar o financia-
mento público e privado, tendo em vista empresas mais inovadoras, nomeadamente as de menor dimensão (30). A comu-
um maior impacto do investimento. nicação desencadeou um aceso debate com o Parlamento e o Conselho e com
muitas outras partes interessadas. Tem vindo a desenvolver-se um consenso em
Melhoria do fluxo de tesouraria torno de algumas medidas a curto prazo que a Comissão pode adoptar ao abrigo
nas transacções comerciais do actual quadro jurídico e regulamentar, como prosseguir o desenvolvimento
A directiva relativa a atrasos de paga- do portal especialmente criado para os participantes na investigação, optimizar
mento nas transacções comerciais, a estrutura e o calendário dos convites à apresentação de propostas e assegurar
aprovada em Outubro, melhora o fluxo de
uma melhor adaptação da dimensão dos consórcios, introduzir uma maior flexi-
tesouraria das empresas europeias e
bilidade quanto à metodologia de cálculo dos custos médios de pessoal ou nas
contribui para eliminar os obstáculos às
transacções comerciais transfronteiras. regras relativas aos juros gerados pelo pré-financiamento.
Visa estabelecer, como regra geral, um
prazo de trinta dias para o pagamento das Avaliação da legislação existente e avaliação de impacto
facturas nas transacções comerciais entre Em simultâneo, a Comissão começou a proceder, em 2010, a uma avaliação siste-
empresas. mática ex post de toda a legislação em vigor, o que indica que todos os instru-
mentos políticos importantes existentes, sob a forma de programas de despesas
ou de medidas regulamentares, devem ser avaliados numa base regular. Tal é
essencial para assegurar que as medidas regulamentares formam um quadro
coerente e asseguram a realização eficaz dos objectivos visados. A Comissão
iniciou a revisão de todo o quadro normativo em domínios de intervenção
específicos, a fim de identificar potenciais sobreposições, lacunas, incoerências e
medidas obsoletas, através de «balanços da qualidade». Em 2010, foram lança-
dos exercícios-piloto nos domínios seguintes: ambiente, transportes, emprego e
assuntos sociais e política industrial.

124
A fim de garantir que a nova legislação e as novas políticas sejam da mais elevada
qualidade, a Comissão instituiu também um sistema abrangente e ambicioso de
avaliação de impacto das suas principais iniciativas.

Este sistema de avaliação de impacto tem como finalidade recolher dados factu-
ais para o processo de tomada de decisões e assegurar a tomada em considera-
ção de todas as opções relevantes em matéria de definição das políticas. Os
relatórios de avaliação de impacto são publicados em paralelo com as propostas
mais importantes, a fim de apresentar a fundamentação e os elementos factuais
subjacentes.

Em Setembro, um relatório do Tribunal de Contas Europeu sobre o sistema de


avaliação de impacto da Comissão (31) veio confirmar que este sistema tem um
valor real para os decisores da UE e contribui eficazmente para melhorar a quali-
dade das propostas, para além de constituir uma boa prática a nível internacional
atendendo à sua transparência e abordagem integrada.

A Comissão continuará a reforçar a eficácia do sistema, incentivada pelas reco-


mendações do Tribunal. Foi já dado um passo importante com a publicação no
sítio Web Europa dos «roteiros» referentes a todas as iniciativas com um impacto
significativo, em que é indicada a análise já efectuada e as iniciativas previstas.
Esta iniciativa contribuiu para melhorar a transparência do trabalho de avaliação
de impacto e para facilitar a participação das partes interessadas nas fases iniciais
do processo de definição das políticas (32).

Um elemento fundamental do sistema é o Comité de Avaliação de Impacto, um


órgão independente, que continuou a garantir a conformidade das avaliações
de impacto com as normas processuais e de qualidade. Emitiu 83 pareceres
sobre a qualidade das avaliações de impacto da Comissão e formulou recomen-
dações concretas para o seu melhoramento. O Tribunal de Contas reconheceu
que o Comité contribuía para reforçar a qualidade das avaliações de impacto. Em
2010, foram elaboradas cerca de 66 avaliações de impacto relativamente a inicia-
tivas importantes.

Melhorar a execução da legislação da União Europeia


Prosseguiram os trabalhos sobre a melhoria da aplicação do direito da UE por
parte dos Estados‑Membros. Em Março, a Comissão publicou um relatório de
avaliação sobre o funcionamento da iniciativa «UE Pilot», a metodologia introdu-
zida para melhorar a resposta aos cidadãos e às empresas no que se refere à
aplicação da legislação da UE e para obter uma resolução mais célere das infrac-
ções ao direito da UE. Por exemplo, os serviços da Comissão colaboraram com a
Alemanha, com vista a assegurar que um grande projecto de construção não
tivesse um impacto negativo nas espécies protegidas na zona em causa, e com o
Reino Unido a fim de garantir a emissão atempada de títulos de residência para
os cidadãos da UE e seus familiares. Colaboraram igualmente com as autoridades
espanholas para proteger os consumidores e a denominação de origem de pro-
dutos tradicionais. No seu relatório sobre estas actividades (33), a Comissão
salienta o amplo leque de acções recentemente empreendidas para melhorar a
aplicação do direito da UE.

125 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


A Comissão adoptou uma comunicação (34) sobre a sua política de recorrer ao
Tribunal de Justiça para a imposição de sanções pecuniárias aos Estados-Mem-
bros pela transposição tardia das directivas da UE nos termos do artigo 260.º,
n.º 3, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Em 2010, o número
de processos de infracção inicialmente lançados contra Estados‑Membros por
alegado não cumprimento das suas obrigações em matéria de transposição da
legislação da UE elevou‑se a 1168 (este número refere-se à primeira fase do
processo, quando é enviada uma carta de notificação nos termos do artigo 258.º
do TFUE). Os domínios estratégicos em que se registou o maior número de pro-
cessos foram os da saúde e da política dos consumidores, ambiente, mercado
interno e transportes, que em conjunto representaram mais de 70% do total.

Protecção dos interesses financeiros da UE e luta


contra a fraude
A avaliação independente do Tribunal de Contas relativa a 2009 revelou uma
melhoria assinalável na gestão e no controlo da gestão financeira da UE ao longo
dos últimos anos. Este ano, pela primeira vez, a taxa de erro do orçamento na sua
globalidade foi inferior a 5%, uma taxa que poucos governos nacionais poderão
apresentar. Em relação aos fundos estruturais, a taxa de erro foi reduzida para
mais de metade desde 2008, situando-se actualmente a níveis próximos de 5%.
Somente 0,2% de todos os erros detectados implicam suspeita de fraude. Há
uma enorme diferença entre a existência de irregularidades e a fraude. As taxas
de erro não significam a perda ou a utilização abusiva dos fundos. Mesmo em caso
de erros nos procedimentos financeiros, os fundos podem ter sido gastos em
conformidade com os objectivos pretendidos. Por exemplo, a existência de erros
num concurso relativo à construção de uma ponte não significa que a nova ponte
deva ser destruída ou que seja de má qualidade. Se forem detectados erros com
incidência financeira, os pagamentos indevidos são recuperados junto dos
responsáveis do projecto ou do país em questão. O relatório refere que foram
identificadas, notificadas e controladas irregularidades num montante total de
1,22 mil milhões de euros, mas este montante não reflecte a situação respeitante a
um único ano. Estas irregularidades, notificadas pelos Estados‑Membros em 2009,
ocorreram ao longo de vários anos e, em relação a este montante de 1,22 mil
milhões de euros, apenas 1,09 milhões de euros envolveram casos de fraude.

A UE exerceu um controlo mais eficiente dos seus fundos: 346,5 milhões de euros
indevidamente gastos pelos Estados-Membros no quadro das despesas agríco-
las foram recuperados em Março, em consequência de uma decisão de apura-
mento da conformidade adoptada pela Comissão Europeia, e 265,02 milhões de
euros suplementares foram recuperados em Julho. Os fundos não haviam sido
desembolsados em conformidade com as regras da UE, nem tinham sido objecto
de procedimentos de controlo adequados. Esses montantes reintegram o orça-
mento da UE.

Em Julho, a Comissão apresentou no Parlamento Europeu um documento de


reflexão sobre a reforma do Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF),
como base para um diálogo interinstitucional entre o Parlamento, o Conselho e
a Comissão (35). O resultado deste diálogo foi integrado numa proposta que a
Comissão apresentará no início de 2011.

126
Em Março, um novo sistema para comunicar anonimamente casos de corrupção
e de fraude através da Internet, o Sistema de Notificação da Fraude, tornou mais
fácil e mais segura, para os cidadãos mais vigilantes e os funcionários públicos da
UE, a comunicação de casos suspeitos ao OLAF.

Durante o ano, a evasão fiscal foi igualmente objecto de acesos debates. Verifica-
ram-se progressos quanto a uma maior cooperação fiscal em dois domínios:
o Conselho chegou a acordo sobre o reforço da assistência mútua entre os Estados-
-Membros no domínio da recuperação dos impostos (o actual rácio de recupera-
ção é apenas de 5% dos montantes devidos), bem como da avaliação e cobrança
dos impostos (a supressão do sigilo bancário nas relações entre as autoridades
fiscais e a eliminação do sigilo como razão para recusar um pedido de informação).

Em conformidade com as orientações do G20 sobre a cooperação com as jurisdi-


ções offshore em matéria de luta contra a evasão fiscal, a Comissão propôs um
acordo alterado de combate à fraude com o Listenstaine, que poderá igualmente
servir de modelo para o Mónaco, Andorra e São Marinho; em relação à Suíça,
poderá servir de base para um acordo novo ou alterado, nomeadamente no que
diz respeito ao intercâmbio das informações sobre questões fiscais, em confor-
midade com as normas internacionais.

Atendendo ao facto de o diferencial de IVA ter oscilado entre 90 mil milhões e


113 mil milhões de euros no período 2000-2006, a Comissão lançou, em 1 de
Dezembro, um livro verde sobre o futuro do IVA para dispor de um sistema de
IVA mais simples, mais sólido e mais moderno (36).

Em Junho, os ministros das Finanças decidiram intensificar a sua cooperação no


que respeita ao combate à evasão fiscal no domínio do IVA, devendo criar para o
efeito uma rede permanente de luta contra a fraude, a ser denominada Eurofisc.

Em Abril, um novo sistema electrónico para controlar a circulação dos produtos


sujeitos a impostos especiais de consumo (álcool, tabaco e produtos energéti-
cos), conferiu à UE novos meios para combater a fraude (estima-se que cerca
de 100 000 comerciantes enviam cerca de 4,5 milhões de remessas deste tipo
de produtos entre os Estados-Membros todos os anos). O sistema de controlo
da circulação dos produtos sujeitos a impostos especiais de consumo torna
o comércio intracomunitário deste tipo de produtos menos oneroso e mais
simples para os operadores, permitindo, simultaneamente, que os Estados-
-Membros combatam de uma forma mais rápida e mais fácil a fraude neste
domínio. As autoridades e os operadores económicos dos Estados‑Membros
podem aderir progressivamente ao sistema até 1 de Janeiro de 2011, data em
que se tornará plenamente aplicável em toda a Europa.

127 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


Uma melhor comunicação Maior transparência
sobre a Europa Foi adoptado um novo quadro que rege a criação e o funcionamento dos grupos
As três prioridades comuns interinstitucio- de peritos da Comissão, com o objectivo de simplificar e clarificar as regras e de
nais em matéria de comunicação fixadas
reforçar a coordenação. Por outro lado, a fim de melhorar a transparência, foi
para 2010 foram: liderar a recuperação
igualmente criada uma nova versão do registo dos grupos de peritos, que faculta
económica e mobilizar novas fontes de
crescimento, realizar acções no domínio informações mais exactas sobre o tipo de entidades enumeradas, a composição
do clima e da energia e pôr o Tratado de dos grupos e as actividades exercidas. Em Maio, o Parlamento e a Comissão relan-
Lisboa ao serviço dos cidadãos. Foi çaram os trabalhos relativos a um registo e a um código de conduta comuns para
publicado um primeiro relatório, ao abrigo os representantes de grupos de interesses (lobbyists). Em Outubro, um ex-comissá-
da declaração política de 2008 intitulada rio foi obrigado a demitir-se do conselho de direcção de um banco de investimento
«Parceria para a comunicação sobre a britânico na sequência das preocupações manifestadas por um comité de deonto-
Europa», sobre a cooperação entre as insti-
logia da Comissão Europeia quanto a um eventual conflito de interesses, tratando-
tuições e os Estados-Membros no que
-se da primeira vez que este comité se pronuncia a este respeito.
respeita à comunicação sobre a Europa.

Em Março a Comissão lançou a campanha Em 2010, a Comissão Europeia divulgou a identidade dos beneficiários de fun-
«Redigir com clareza», que encoraja a dos da UE em 2009 em domínios que incluíam a investigação, a educação e a
redacção de documentos mais curtos, cultura, a energia, os transportes e a ajuda externa. A base de dados electrónica
mais claros e com menos jargão, por de beneficiários da UE, que contém actualmente mais de 114 000 entradas
forma a facilitar a leitura. introduzidas desde 2007, foi actualizada por forma a permitir mais opções de
pesquisa. Em 2010, a base de dados forneceu pela primeira vez informações
sobre as despesas administrativas da Comissão relacionadas com os contratos
públicos. São raras as administrações públicas no mundo que se pautam por
este grau de transparência financeira.

O o r ç a m en t o da Uni ão E u r o pei a pa r a 2011


Em 2010 foram aplicados pela primeira vez novos procedimentos
para a adopção do orçamento da UE, tendo igualmente sido apre-
sentadas propostas destinadas a lançar o debate sobre uma futura
revisão do orçamento, que condicionará a forma como serão esta-
belecidas as receitas da União.
O orçamento para 2011 foi aprovado em 15 de Dezembro, constituindo o pri-
meiro orçamento adoptado ao abrigo dos novos procedimentos instituídos pelo
Tratado de Lisboa. O orçamento total para 2011 eleva-se a 141,9 mil milhões de
euros em dotações de autorização e a 122,5 mil milhões de euros em dotações
de pagamento. A Comissão apresentou uma proposta de revisão do seu regula-
mento financeiro. As alterações propostas, sob reserva de aprovação pelas
autoridades legislativas, irão simplificar o acesso aos fundos da UE, reduzindo as
formalidades burocráticas e os custos para os beneficiários da UE e alargarão o
âmbito de possibilidades de combinação de financiamento público e privado,
por forma a garantir um maior impacto do investimento. A redução das formali-
dades burocráticas incidirá nomeadamente na dispensa da obrigação de pagar
juros sobre os pagamentos de adiantamentos, no aumento do actual limite
mínimo (que passará de 25 000 euros para 50 000 euros) no âmbito do qual as
subvenções podem beneficiar de procedimentos administrativos simplificados,
sendo igualmente facilitados os pagamentos realizados pelos beneficiários a
favor dos seus parceiros no projecto.

128
Em Outubro, a Comissão apresentou as conclusões sobre a revisão do orçamento,
com propostas relativas às despesas e a novas fontes de receitas a partir de 2013.
Destas conclusões decorre principalmente que as actuais normas aplicáveis ao
orçamento da UE atrasam a resposta em caso de acontecimentos imprevistos e
que existem demasiadas formalidades que afectam a sua eficiência e transpa-
rência. Numa época de contenção das despesas públicas, são sugeridas formas
de obter um orçamento europeu que possa fazer frente aos desafios, não neces-
sariamente através de um aumento da despesa, mas centrando-se nas priorida-
des adequadas, no valor acrescentado, nos resultados e na qualidade das despe-
sas europeias. No que diz respeito às receitas, o objectivo consiste em promover
um sistema equitativo e transparente que seja compreendido pelos cidadãos e
que reduza a dependência da UE em relação às contribuições directas dos Esta-
dos‑Membros, mediante a introdução de novos «recursos próprios». Entre as
opções figuram: uma percentagem de um imposto financeiro; o leilão pela UE de
licenças de emissão de gases com efeito de estufa; um imposto da UE ligado
ao transporte aéreo; uma taxa de IVA distinta destinada à UE; um imposto da
UE sobre a energia; e um imposto sobre o rendimento das sociedades da UE.
A Comissão propôs igualmente garantir as obrigações da UE emitidas por pro-
motores a fim de financiar grandes projectos de infra-estrutura.

O ORÇAMENTO DA UE EM 2010 DE ONDE PROVÊM OS FUNDOS


O desenvolvimento sustentável e a inovação são elementos DO ORÇAMENTO DA UE
centrais do orçamento da UE

A UE enquanto parceiro mundial Direitos aduaneiros,


6% direitos agrícolas e
quotizações no sector do
Total das despesas açúcar Outros
administrativas 12% 1%
6%
Desenvolvimento rural,
ambiente, pescas
11%
Recurso
baseado
€141,5 mil milhões no imposto
sobre o valor
Coesão e competitividade acrescentado
para o crescimento e o emprego (IVA)
11% Recurso baseado
45% no rendimento
nacional bruto
76%
Cidadania, liberdade,
Agricultura: ajudas directas e segurança e justiça
despesas de mercado associadas 1%
31%

Fonte: Comissão Europeia. Fonte: Comissão Europeia.

129 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


Procedimentos parlamentares em 2010
Resoluções e decisões aprovadas pelo Parlamento Europeu

Lagislação Outros procedimentos

Co-decisão

Iniciativa própria

Resoluções (artigos 103.º e 108.º)

Direitos humanos

Diversos
Orçamento e quitação
Primeira leitura (2)

Segunda leitura (3)

Terceira leitura

Parecer favorável
Consulta (1)

Total

38 80 14 23 88 116 101 29 10 499

(1) Em 19 casos o Parlamento Europeu alterou a proposta da Comissão.


(2) Num caso o Parlamento Europeu rejeitou a proposta da Comissão e em 63 casos alterou a proposta da Comissão.
(3) Em 7 casos o Parlamento Europeu alterou a posição comum do Conselho.

130
notas

(1) O Parlamento e o Conselho adoptaram em Novembro as alterações ao estatuto e ao (16) Acórdão do Tribunal de Justiça de 16.3.2010 no processo C-325/08, Olympique
Regulamento Financeiro relacionadas com o SEAE, tendo estabelecido as condições Lyonnais.
em que as delegações da UE em países terceiros podem despender os fundos da UE (17) Acórdão do Tribunal de Justiça de 25.2.2010 no processo C-386/08, Brita.
— Regulamentos (UE, Euratom) n.os 1080/2010 e 1081/2010 do Parlamento Europeu e
do Conselho (JO L 311 de 26.11.2010). (18) Acórdão do Tribunal de Justiça de 21.1.2010 no processo C-244/07, MG Probud Gdynia.

(2) Artigo 290.° do Tratado sobre o Funcionamento da UE: «1. Um acto legislativo pode (19) Acórdão do Tribunal de Justiça de 6.7.2010 no processo C-428/08, Monsanto
delegar na Comissão o poder de adoptar actos não legislativos de aplicação geral que Technology.
completem ou alterem certos elementos não essenciais do acto legislativo». (20) Acórdão do Tribunal de Justiça de 23.3.2010 nos processos apensos C-236/08 a
(3) Artigo 291.° do Tratado sobre o Funcionamento da UE: C-238/08, Google France e Google.

«1. O
 s Estados-Membros tomam todas as medidas de direito interno necessárias à (21) Acórdão do Tribunal Geral de 18.3.2010 no processo T-9/07, Grupo Promer Mon
execução dos actos juridicamente vinculativos da União. Graphic/OHMI.

2. Q
 uando sejam necessárias condições uniformes de execução dos actos (22) Acórdão do Tribunal de Justiça de 29.6.2010 no processo C-28/08 P, Comissão/Cerveja
juridicamente vinculativos da União, estes conferirão competências de execução à Bávara.
Comissão ou, em casos específicos devidamente justificados e nos casos previstos (23) Acórdão do Tribunal de Justiça de 29.6.2010 no processo C-139/07 P, Comissão/
nos artigos 24.° e 26.° do Tratado da União Europeia, ao Conselho. Technische Glaswerke Ilmenau.
3. P
 ara efeitos do n.° 2, o Parlamento Europeu e o Conselho, por meio de (24) Acórdão do Tribunal de Justiça de 21.9.2010 nos processos apensos C-514/07 P,
regulamentos adoptados de acordo com o processo legislativo ordinário, definem C-528/07 P e C-532/07 P, Comissão/Association de la Presse internationale.
previamente as regras e princípios gerais relativos aos mecanismos de controlo que
(25) Acórdão do Tribunal de Justiça de 9.11.2010 nos processos apensos C-92/09 e
os Estados-Membros podem aplicar ao exercício das competências de execução
C-93/09, Volker und Markus Schecke/Land Hessen e C-93/09, Hartmut Eifert /Land
pela Comissão.»
Hessen.
(4) Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho — Aplicação do artigo
(26) http://ec.europa.eu/governance/better_regulation/index_en.htm
290.° do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia [COM(2009) 673 final].
(27) Comunicação da Comissão «Regulamentação inteligente na União Europeia»
(5) Proposta de regulamento da Comissão que estabelece as regras e os princípios gerais
[COM(2010) 543].
relativos aos mecanismos de controlo pelos Estados-Membros do exercício das
competências de execução pela Comissão [COM(2010) 83], aprovada pelo Parlamento (28) Directiva 2010/45/UE relativa ao sistema comum do imposto sobre o valor
em Dezembro (16/12). acrescentado no que respeita às regras em matéria de facturação
(JO L 189 de 22.7.2010).
(6) Artigo 14.° do TUE e Protocolo n.° 36 relativo às disposições transitórias.
(29) Comunicação da Comissão tendo em vista a criação de um espaço europeu de
(7) JO L 304 de 20.11.2010, p. 47.
transporte marítimo sem barreiras [COM 2009(10) final].
(8) Comunicação da Comissão «Programa de trabalho da Comissão para 2010 —
(30) Comunicação da Comissão «Simplificar a execução dos programas-quadro de
Chegou o momento de agir» [COM(2010) 135].
investigação» [COM(2010) 187].
(9) http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=SPEECH/10/411
(31) Relatório Especial n.º 3/2010 «A avaliação de impacto nas instituições da UE apoia o
(10) Comunicação da Comissão «Programa de trabalho da Comissão para 2011» processo de tomada de decisão?» (http://eca.europa.eu/portal/pls/portal/
[COM(2010) 623]. docs/1/5372733.PDF).
(11) Artigo 12.° do TUE e artigo 70.° do TFUE e Protocolo n.° 1 relativo ao papel dos (32) http://ec.europa.eu/governance/impact/planned_ia/planned_ia_en.htm
parlamentos nacionais na União Europeia.
(33) Relatório anual sobre o controlo da aplicação do direito comunitário
(12) Proposta de directiva da Comissão relativa às condições de entrada e de residência de [COM(2010) 538].
nacionais de países terceiros para efeitos de trabalho sazonal [COM(2010) 379].
(34) Comunicação da Comissão «Aplicação do artigo 260.º, n.º 3, do TFUE» (SEC/2010/1371
(13) Acórdão do Tribunal de Justiça de 3.6.2010 nos processos C-203/08, Sporting final).
Exchange, e C-258/08, Ladbrokes Betting & Gaming e Ladbrokes International.
(35) Documento de reflexão da Comissão sobre a reforma do Organismo Europeu de Luta
(14) Acórdão do Tribunal de Justiça de 8.9.2010 nos processos C-409/07, Winner Wetten, Antifraude (OLAF) [SEC(2010) 859].
nos processos apensos C-316/07, C-358/07 a C-360/07, C-409/07 e C-410/07, Stoß,
(36) Livro verde da Comissão sobre o futuro do IVA [COM(2010) 695].
e no processo C-46/08, Carmen Media Group.
(15) Acórdãos do Tribunal de Justiça de 4.3.2010 nos processos C-197/08, Comissão/
França, C-198/08, Comissão/Áustria, e C-221/08, Comissão/Irlanda.

131 R e l ató r i o G e r a l 2010 | To r n a r a U n i ão Eu r o p e i a m a i s d e m o c r át i c a , e f i c i e n t e e r e s p o n s áv e l


Janeiro Abril

1 Espanha assume a Presidência rotativa da União


Europeia. 14 A erupção de um vulcão islandês lança uma
nuvem de cinzas sobre a Europa, provocando
o encerramento da maior parte do espaço aéreo
12 Terramoto no Haiti.
Poucas horas depois da catástrofe, a UE
europeu até 21 de Abril.
Cerca de 100 000 voos foram cancelados,
disponibilizou ajuda para as primeiras operações
deixando 10 milhões de passageiros em terra.
de socorro e enviou peritos para o local. No total,
A Comissão recorda que continuam a aplicar-se
a UE disponibilizou mais de 300 milhões de euros
os direitos dos passageiros na UE e cria um grupo
de ajuda humanitária e comprometeu-se
para auxiliar a coordenação entre governos
a disponibilizar mais de 1 200 milhões de euros
nacionais. A crise acelera o progresso rumo ao
para a reconstrução e o desenvolvimento a longo
«céu único europeu».
prazo do Haiti, no âmbito da conferência
internacional de doadores organizada pela ONU.
Maio
20 P. Nikiforos Diamandouros é reeleito como
Provedor de Justiça Europeu.
1 Inauguração da Exposição Mundial de 2010 em
Xangai.

28 A UE anuncia nova redução das emissões de


gases com efeito de estufa para 2020.
O presidente Barroso participa da inauguração do
pavilhão da UE e lidera uma delegação de
comissários que se reúnem com os seus
Fevereiro homólogos chineses. De 14 a 19 de Junho,
decorre a Semana de Ciência e de Tecnologia
3 A Comissão aprova o plano da Grécia para reduzir
o défice orçamental. UE-China.

9

O Comité das Regiões inicia um novo mandato.

O Parlamento Europeu aprova a nova Comissão


2 Os países da área do euro e o FMI disponibilizam
110 000 milhões de euros em empréstimos de
emergência concedidos à Grécia ao longo de um
Europeia «Barroso II» por 488 votos contra 127 período de três anos para ajudar o país a evitar o
com 72 abstenções. não reembolso da sua dívida.

16 A UE avisa a Grécia de que deve corrigir o seu No princípio de 2010, os crescentes défices
défice excessivo até 2012 e recomenda que o país públicos e níveis de dívida desencadeiam uma
adopte políticas económicas em consonância crise de confiança nas obrigações de entidades
com as orientações gerais de política económica soberanas europeias e no euro. As turbulências
da UE. do mercado incidiram sobre a Grécia, cujo défice
orçamental de 13,6% foi bastante mais elevado
do que o país tinha previsto.
Março

8 A UE acorda na concessão de 45 000


microempréstimos até 25 000 euros a
9 Os ministros das Finanças da UE acordaram num
fundo de crise de 750 000 milhões de euros para
reforçar os mercados financeiros.
desempregados e pequenos empresários.
Consistindo sobretudo em garantias de
O novo instrumento de microfinanciamento empréstimo por parte dos países da área do euro,
europeu dispõe de um orçamento inicial de 100 o mecanismo de estabilização financeira inclui
milhões de euros, a utilizar ao longo de um 250 000 milhões de euros provenientes do FMI.
período de quatro anos (2010-2013).
12 A Comissão propõe um pacote para reforçar o

15 O Conselho aprova metas para travar a perda de


biodiversidade e a degradação dos ecossistemas
pacto de estabilidade e crescimento e alargar a
vigilância.
até 2020. Segundo a proposta, o planeamento das políticas
orçamentais e dos orçamentos nacionais é
25 Os dirigentes da área do euro acordam em criar
uma rede de segurança financeira conjunta com
alinhado através de um «semestre europeu», para
que os Estados-Membros possam beneficiar de
o FMI.
uma coordenação precoce quando da preparação
Nos termos do acordo, a Grécia deve receber
dos seus orçamentos nacionais e programas
empréstimos bilaterais coordenados de outros
nacionais de reforma.
países da área do euro, bem como fundos do FMI
em caso de grave dificuldade. O objectivo é
restaurar a confiança no euro.

132
18 O Governo grego recebe 14 500 milhões de euros
da UE, a primeira parte de empréstimos bilaterais 12 A Comissão propõe a alteração das actuais
normas europeias para melhorar a protecção dos
provenientes de dez países da área do euro. titulares de contas bancárias e pequenos
investidores.
19 A Comissão adopta uma agenda digital para a
Europa — a primeira de sete iniciativas
Em caso da falência do banco, os titulares de
contas bancárias receberiam o seu dinheiro mais
emblemáticas ao abrigo da estratégia
rapidamente (num prazo de sete dias), teriam
«Europa 2020».
uma melhor cobertura (até 100 000 euros) e
A Polónia é vítima de graves inundações. disporiam de informações mais completas sobre
as modalidades de protecção. Para os
investidores, a Comissão propõe uma
Junho
indemnização mais rápida e mais elevada até

17 A Islândia apresenta a sua candidatura oficial de


adesão à UE.
50 000 euros.

O Conselho Europeu autoriza a Estónia a aderir à


área do euro em 1 de Janeiro de 2011. 26 É instituído o Serviço Europeu para a Acção
Externa.

A UE adopta a estratégia «Europa 2020», o novo


plano decenal de promoção do crescimento e Agosto

11
criação de postos de trabalho na UE. O Paquistão é vítima de graves inundações.
A UE disponibiliza 150 milhões de euros de ajuda
30 A Comissão apresenta um conjunto de
instrumentos para reforçar a supervisão das humanitária, e os vários Estados-Membros
acrescentam o montante adicional de
políticas orçamentais, das políticas
macroeconómicas e das reformas estruturais. 170 milhões de euros. São ainda suspensos os
O «semestre europeu» inclui sanções para evitar direitos de importação sobre vários produtos de
ou neutralizar ameaças para a estabilidade exportação do Paquistão.
financeira da UE e da área do euro.
Setembro
Julho
11 Lançamento de outra iniciativa emblemática da
estratégia «Europa 2020»: «Juventude em
1 A Bélgica assume a presidência rotativa da União
Europeia. movimento».
Tem por objectivo aumentar a mobilidade de
Passam a vigorar novos limites máximos para as estudantes e estagiários, bem como melhorar a
taxas de roaming de telemóveis. qualidade e a capacidade de atracção da
Entra em vigor um novo logótipo para todos os educação e da formação na Europa.
produtos da agricultura biológica da UE.
21 É adoptada a estratégia de igualdade

7 O Parlamento aprova novos requisitos de fundos de género.


próprios impostos aos bancos.
O objectivo é reprimir práticas de remuneração
inadequadas nos bancos que conduziram, em
29 A Comissão adopta propostas legislativas
destinadas a reforçar e expandir os instrumentos
de coordenação da política económica e fiscal.
muitos casos, à tomada excessiva de riscos e As propostas incidem igualmente sobre políticas
contribuíram para a crise financeira. Os bancos macroeconómicas e reformas estruturais.
também devem dispor de mais fundos próprios Os Estados-Membros incumpridores serão
para cobrir os seus riscos. sujeitos aos novos mecanismos de execução
previstos.

133
Outubro

6 É lançada a iniciativa emblemática «Uma União da


Inovação», no âmbito da estratégia «Europa 23 É lançada a Agenda para novas qualificações e
novos empregos — uma iniciativa emblemática
2020», com o objectivo de acelerar o da estratégia «Europa 2020» destinada a
desenvolvimento de novos produtos e serviços. aumentar o emprego e melhorar as
competências.
8 Em três regiões da Hungria é declarado o estado
de emergência após a inundação dessa área com
28 A UE, o BCE e o FMI concedem assistência
financeira à Irlanda num montante de 85 000
lamas tóxicas provenientes de uma fábrica de
alumínio. milhões de euros.
Este apoio vem na sequência do pedido

20 É eleita nova presidência para o mandato de


2010-2013 do Comité Económico e Social
apresentado pela Irlanda em 22 de Novembro.
Pretende-se salvaguardar a estabilidade financeira
Europeu.
da área do euro e da UE na sua globalidade.

21 O Parlamento Europeu atribui a Guillermo Fariñas


o prémio Sakharov 2010. 29 De 29 de Novembro a 10 de Dezembro:
conferência de Cancun sobre as alterações

27 A Comissão lança o Acto para o Mercado Único e climáticas.


o Relatório sobre a Cidadania para aumentar os As negociações culminaram num acordo sobre
benefícios do mercado interno e remover os questões-chave, incluindo a protecção do sector
obstáculos que impedem os cidadãos e as florestal, a transferência de tecnologia e a criação
empresas de exercerem os seus direitos. de um fundo para o clima tendo como objectivo
apoiar os esforços de adaptação e atenuação nos

29 A Comissão lança propostas para uma nova


política industrial.
países em desenvolvimento.

Dezembro
Novembro
14 A Comissão propõe o reforço da cooperação em

9 A Comissão propõe uma agenda de política matéria de protecção para as patentes unitárias
comercial firme para os próximos cinco anos a fim na UE. Mediante a apresentação de um único
de revitalizar a economia. pedido podem ser obtidas patentes válidas em
todos os países participantes.

12

O G20 apoia a reforma Basileia III.

Uma iniciativa da UE, este conjunto abrangente 15 O Parlamento aprova regras que regulam as
agências de notação de crédito.
de medidas para reforçar a regulação, a A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e
supervisão e a gestão de riscos do sector bancário dos Mercados supervisionará directamente as
põe em destaque a regulação, tanto a nível de agências. Poderá efectuar buscas de surpresa,
bancos individuais como a nível global deste aplicar multas e garantir que as agências avaliem
sector. a exactidão das suas classificações passadas.
É lançada uma nova estratégia para garantir o Entrará em vigor após aprovação pelo Conselho.
aprovisionamento sustentável de energia na UE. É adoptada a iniciativa de cidadania europeia.
A Comissão tenciona propor medidas Pela primeira vez, as pessoas podem sugerir
legislativas e de outro tipo para reduzir o directamente nova legislação da UE. Se um
consumo, criar um mercado único em 2015, criar milhão de cidadãos de, pelo menos, um quarto
um «bloco» para negociar com os fornecedores dos Estados-Membros se juntarem, podem
e responsabilizar os consumidores. convidar a Comissão Europeia a apresentar
propostas legislativas em domínios da

17 O Conselho e o Parlamento aprovam um quadro


de supervisão do sistema financeiro e criam o
competência da Comissão.

Comité Europeu do Risco Sistémico, bem como


três novas autoridades de supervisão. O novo
16 Lançamento da Plataforma Europeia contra a
Pobreza e a Exclusão Social — uma iniciativa
emblemática da estratégia «Europa 2020» tendo
sistema estará operacional a partir de 1 de Janeiro
por objectivo garantir a coesão social e territorial.
de 2011.

17 O Conselho Europeu acorda numa alteração do


Tratado para estabelecer um mecanismo
permanente futuro destinado a salvaguardar a
estabilidade financeira da área do euro na sua
globalidade.

134
CronologIA
A lista que se segue refere alguns dos principais acontecimentos de 2010.
A cronologia não pretende ser exaustiva — no relatório referem-se outros
acontecimentos adicionais.

135
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PESSOALMENTE
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1269-070 Lisboa
PORTUGAL Existem representações ou gabinetes da Comissão
Tel.: +351 213504900 Europeia e do Parlamento Europeu em todos os
Internet: www.parleurop.pt Estados-Membros da União Europeia. Noutros países
E-mail: eplisboa@europarl.europa.eu do mundo existem delegações da União Europeia.

136
A União Europeia
0 500 km

Açores (PT)
Reykjavík
Ísland
Madeira (PT)

Canarias (ES)

Guadeloupe (FR)

Martinique (FR)

Suomi Paramaribo

Finland Guyane
Norge Suriname Réunion (FR)
(FR)

Helsinki Brasil
Helsingfors
Oslo
Sverige
Stockholm Tallinn
Rossija
Eesti

Moskva
United Kingdom
Rīga
Latvija
Éire Danmark
Baile Átha Cliath
Dublin
København Lietuva
Ireland Vilnius
R. Minsk

Nederland Belarus'
London
Amsterdam Berlin
Qazaqstan
Warszawa
België Brussel
Deutschland Polska
Bruxelles
Kyïv
Belgique
Luxembourg
Paris Luxembourg
Praha Ukraїna
Česká
republika
Slovensko
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Bucureşti
Bosna i Beograd Azərbaycan
San Marino Hercegovina
Portugal Monaco Srbija Haїastan
Andorra Sarajevo България Yerevan

Madrid
Italia
Crna Priština
Gora Kosovo
Bulgaria (Azər.)
Lisboa София
Roma Podgorica Sofia Iran
España
* UNSCR 1244
Skopje
Città del
Vaticano Tiranë P.J.R.M.
Ankara
Shqipëria
Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010 Türkiye
Ελλάδα
Comissão Europeia Ellada
Αθήναι
Athinai

Direcção-Geral da Comunicação Rabat


Alger
Tunis Λευκωσία Souriya
El Maghreb
Κύπρος Lefkosia Iraq
El Djazâir Lefkosa
Publicações Tounis Malta
Valletta Kypros
Kibris Libnan
Beyrouth Dimashq

1049 Bruxelles Estados-Membros da União


Member states of the European Europeia
Union (2011)

BÉLGICA Países candidatos


Candidate countries

O Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010 foi adoptado pela
Comissão Europeia em 16 de Fevereiro de 2011, com a referência SEC(2011) 189.

http://europa.eu/generalreport/pt/welcome.htm

Ilustração da capa: © Corbis

2011 — 136 p. — 21 × 29,7 cm

ISBN 978-92-79-17474-2
doi:10.2775/60968

Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2011

© União Europeia, 2011


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ISSN 1608-7283
Relatório Geral
sobre a Actividade
da União Europeia
2010

Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia — 2010

doi:10.2775/60968

pt Comissão Europeia

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