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É difícil deixar passar despercebido que o Brasil tem sofrido uma onda

completamente desarmônica nos últimos anos. Normalmente se diria que a política não deve
ser misturada com a espiritualidade, o que não é tanto coerente, já que as características de
uma verdadeira religião devem ser as mesmas de um bom governo. Mas o que tem
acontecido, e não é só no Brasil, é uma inversão do significado dos valores mais sensatos e
nobres em uma corrompida configuração, que prioriza não o significado de que o todo e
suas partes são operantes de uma interdependência, mas os desejos mesquinhos e deturpados
por mentes completamente neuróticas.
A neurose, vista no passado como característica apenas dos mais desequilibrados da
sociedade, desafia todos os humanos de hoje, que cada vez mais repetem estímulos sem
centrar a atenção no que realmente importa. Afinal, é não perceber-se, não alinhar-se com a
demanda da realidade e, principalmente, não ser aquilo que se é, os maiores fermentos para
fabricação mental de estados completamente deludidos. Esta delusão, enraizada na vida e
operadora da existência de incontáveis seres, origina todo tipo de sofrimento. Não podemos
achar que estamos a salvo se demoramos uma hora para escolher uma roupa, ou se
acreditamos que Deus é um velho barbudo que espera nossa insignificante oração. A neurose
é um estado generalizado, e raros são os que têm consigo a força para encontrar o caminho
de volta para casa.
Mas porque a neurose do Brasil, que também pode ser chamada de desequilíbrio
espiritual de Santa Cruz, tem parecido cada vez menos latente e mais voraz? É simples, ela
tem tentado ser a própria realidade. Tentado jogar a cortina sobre os fatos, sobre a existência
própria, e sabotado para si um local de preponderância, onde já reinava intocada, mas sem
tanto alarde, há muito tempo. Acontece que ao mesmo tempo que se desenvolve como uma
fuga das imensas frustrações, e cresce como potencial saída, também começa a ser mais
notada. Perceptíveis, os delírios podem ser mais facilmente confrontados, e isto está prestes
a acontecer com um furor jamais visto.
O reinado da mentira é de fato muito curto, não porque demanda menor espaço de
tempo, mas porque sua marca indelével não carimba a história. A negação daquilo que de
fato é, a tentativa de mover as coisas contra o óbvio e a improvável fuga dos acontecimentos
não leva a nada senão à desfragmentação. O que cada um precisa aprender é que chegou a
época em que a verdade se espalha com a mesma velocidade do que é falso, e que, mais cedo
ou mais tarde, as necessidades pessoais não serão suficientes para aplacarem a avalanche
generalizada do que virá à tona.
Como nunca tivemos coragem de enfrentar nossos medos, nem jamais questionamos
os nossos lugares de privilégio, não sabemos dar respostas menos repetitivas e que estejam
fora do senso comum. O autoritarismo, que obviamente é contrário e danifica de morte uma
coletividade, muitas vezes é visto pela mente neurótica como uma tentativa de dar razão a
perpetuação de suas respostas sem sentido. É aí então que temos chegado: no ponto em que
o diferente não se encaixa, no lugar onde não se pode ser livre. E isso destoa
fundamentalmente, o que é óbvio, não daquilo que chamam de marxismo ou comunismo ou
tantos outros, mas do que é bondade, benevolência, sabedoria, mansidão...
Não há uma fuga certa para tudo isso. Não há o caminho completamente perfeito e
fácil. O que há é sempre uma busca. Aquietar a mente, não ir contra – o que também é
delusório. Encontrar o estado sereno onde impera a mais sensata das sensações e acontecer
com liberdade, acontecer com coerência. Simplesmente acontecer.

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