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A cidade e a memória: o centro de Piripiri

A cidade de Piripiri se apresenta de maneira peculiar para quem a conhece pela


primeira vez. Do lado nascente, observa-se uma região montanhosa e coberta de matas,
onde encontra-se o Açude Caldeirão. Ao norte e sul, apresenta-se terrenos elevados e
planos, com extensos campos e matas. Piripiri localiza-se às margens direita do rio dos
Matos, que corre agua torrencial durante todo o inverno. Esse rio nasce na Serra dos
Matões e corta o município em toda sua extensão do nascente ao norte.
Nesse itinerário imaginário e idílico, os olhos da imaginação enxergam várias
cidades invisíveis, paisagens contrastantes, cidades que já existiram e que ficaram apenas
na memória. A cidade apresenta-se redundante. Na minha memória ela “repete-se para
fixar uma imagem na mente”. Na realidade, cada um retoma memorias diferentes sobre a
cidade. E escolhi viajar no tempo e mostrar como a cidade se modificou. Começarei
traçando um itinerário e denominação dos limites, ruas, becos e travessas do antigo centro
de Piripiri.
Antigamente, quando Piripiri ainda era Vila, para se chegar ao centro vindo da
capital, era preciso atravessar o rio dos Matos, pelo porto de passagem da fazenda Estreito
de Antônio Alves Lopes. Cada pessoa deveria pagar quarenta mil reis. O escravo ou negro
desconhecido só passaria mediante autorização escrita de seu senhor. Cada cabeça de
gado ou mercadoria também era cobrado. Era possível encontrar um homem vendendo o
piau, o jundiá, traíra ou curumatã pescado no rio. As margens eram cobertas de grandes
arvores: o jacarandá, pau d’arco, o cedro, as umburamas e as carnaúbas. Nesse itinerário,
o caminhante podia-se deliciar com as guabirabas, a mangaba, os tucuns e os buritis.
O porto distante meia légua do centro era a principal passagem para quem fosse
ou viesse da capital Teresina. Animais silvestres eram comuns: Jabutis, gatos-do-mato,
preás, capivaras e até algumas onças, assim como as arraras, os papagaios e periquitos
que abundavam a região. Ouvia-se o canto do sabia, do canário, do corrupião ou do xico
preto. O caminho para se chegar ao centro da cidade era longo se percorrido a pé, mas
prazeroso para aquele que apreciava a natureza.
Ao se chegar no centro as ruas largas e retas logo chamavam a atenção. De longe
avistava-se a ponta da Igreja Matriz, principal edifício da cidade. Alguns transeuntes
caminhavam pelas ruas em direção ao mercado ou a Câmara Municipal. Os limites da
cidade definia-se da seguinte forma: “pelo lado do nascente começaria do pé de um morro,
onde se achava situada a antiga casa de morada que foi do tenente Francisco Gonçalves
de Medeiros, em [direção] ao sul a completar trezentas braças de extensão, e dali pelo
lado do sul em [direção] ao poente a completar outras trezentas braças, na margem do
riacho denominado cabresto, confrontando com a fazenda do major João Paulo da Silva
Rebelo, e de ali seguindo linha [reta] em rumo do norte a completar outras trezentas
braças ao pé de um morro confrontando com a fazenda do coronel Thomas Rebelo de
Oliveira Castro, e partindo dali em rumo do nascente e pelo lado do norte a fixar o círculo
no lugar de onde começou-se, fixando fim do círculo a casa velha de telha que foi do
tenente Francisco Lisandro de Medeiros”1.
As praças, ruas e travessas também foram denominadas da seguinte maneira: a rua
onde se achava encravado o prédio que servia de seção da Câmara Municipal se
denominava rua Grande, e o beco desta rua onde se achava estabelecido o capitão
Antônio Coelho de Resende, se denominava beco do coelho, a outra travessa da mesma
rua onde residiu Dona Durçulina Vitoria de Sousa Medeiros, se denominou beco do
cabresto. Que a rua onde residiu o finado Padre Domingos de Freitas e Silva, se
denominava rua da Capela, e o beco da mesma rua se denominava beco do Padre.
A rua onde se achava estabelecido Estevão Rabello de Araujo e Silva, se
denominou rua da Gloria, e a travessa, beco do mosquito. Que a rua onde se achava
estabelecido João Bandeira da Silva, se denominou rua da Matriz, e a travessa beco do
Bandeira, e a outra travessa, que a rua onde residiu Honorato Maria da luz se denominava
[Catucá]. A travessa da mesma rua para o lado sul se denominava beco do pau d’arco, e
a outra travessa para o lado do norte, se denominava beco do (...). Que a rua que dali parte
no rumo do norte denominava rua do ferreiro, e a travessa da mesma rua para o lado do
norte se denominava beco da Lucinda, e a outra travessa para o lado do sul, se denominava
beco do Medeiros. A rua que segue em rumo do nascente com frente para o sul, se
denominará rua da mangueira. A travessa com frente para o nascente, se denominará
beco do Lopes, e a outra de frente para o poente, se denominará beco da Joaquina.
Através dos nomes das ruas, percebe-se uma cidade desconhecida do presente,
distante e até estranha. Por outro lado, podemos imaginar através dos nomes dos
moradores das ruas e personalidades como ficou marcado na história e memoria local,
Como a rua do Padre Freitas, a rua do Coelho, a rua do Ferreiro, etc. E não paramos por
aí. Seguindo nosso itinerário imaginário pela história antiga do centro.

1
APEPI, Série Município - Subsérie Piripiri, caixa: 165.
A rua onde se achava estabelecido o tenente Raimundo de Freitas e Silva se
denominava rua Sul, e a travessa com frente para o sul, se denominava Duque de Caxias,
e a outra com frente para o norte, beco do Riachuelo.
A rua onde se achava estabelecido o capitão Porfirio de Freitas e Silva, se
denominava rua olho d’agua, a travessa da mesma rua com frente para o norte, beco
publico, e a outra frente para o sul, denominava Floresta. A rua onde se achava
estabelecido Henrique José de Freitas e Silva, se denominava rua do Costa, e a travessa
da mesma rua com frente para o nascente se denominava rua dos Freitas, e a outra com
frente para o poente, beco dos Neres.
Que a rua que seguia em direção ao cemitério com frente para o nascente, se
denominava rua do Comercio, que a travessa da mesma rua com frente para o sul, se
denominará beco do pai José, e a outra com frente para o sul, se denominava beco do
Pimenteira. Que a rua que segue em rumo do cemitério, com frente para o poente, era a
rua do pestana, a travessa com frente para o sul chamava beco da pitombeira, e a outra
com frente para o norte, beco das pedras”. E finalmente passaram a designar as praças
pela maneira seguinte: a praça existente entre as ruas Grande, Capela, Gloria e Matriz, se
denominou praça da matriz. Não conseguimos identificar no documento o nome da praça
entre as ruas Catucá e Mangueiras. A praça entre a rua do Sol, rua da Costa e rua do Padre,
se denominou praça da independência.
O aformoseamento e alinhamento das ruas era uma preocupação dos
administradores da Vila. Desse modo, a maioria das casas deveriam seguir padrões
estabelecidos pelas posturas municipais. As ruas que se abriram a partir da criação da vila
deveriam ter pelo menos sessenta palmos de largo e os becos ou travessas quarenta. As
casas tinham que ter nas suas frentes uma calçada de tijolos ou pedras com a largura de
sete palmos, deveriam ter pelo menos dezesseis palmos de altura na frente e dezessete
braças de fundo a contar da frente ao fim do muro. As portas de onze palmos de altura,
sob cinco e meio de largura, e as janelas seis e meio de altura sob cinco e meio de largura.
Entretanto, mesmo com disciplina das normas urbanas, encontrava-se vagando
pelas ruas cabras, ovelhas e porcos, vaqueiros tangendo bois e pessoas importantes
cavalgando em seus cavalos, muitas vezes acompanhado de um negro escravizado ou
serviçal do senhor. Entre eles, alguns carregando agua do olha d’agua de N. Senhora dos
Remédios, vendedores ambulantes e autoridades, comerciantes e artesãos, pessoas
comuns, senhoras voltando da missa e senhoritas exibindo a graça e a formosura pelas
ruas da cidade. Encontravam-se todos, em torno desse microcosmo social que era o
centro.

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