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28/03/2019 Povos indígenas: invisibilidade, barbárie e reflexão - JOTA Info

POVOS INDÍGENAS

Povos indígenas: invisibilidade, barbárie e


re exão
É preciso que a invisibilidade das nações indígenas seja combatida

FLÁVIO DE LEÃO BASTOS PEREIRA

28/04/2018 08:05
Atualizado em 28/04/2018 às 09:25

6ª Semana dos Povos Indígenas, em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará. Antes de sair das
aldeias em direção a São Félix, as tribos fazem festa, numa espécie de preparação para os dias
vindouros longe de casa. FOTO: RODOLFO OLIVEIRA / AG. PARÁ

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No mês em que são lembrados os povos aborígenes das Américas


e, especi camente no Brasil, os povos indígenas, assim
estabelecido pelo Presidente Getúlio Vargas por meio do decreto-
lei n° 5.540/1943, é clara a percepção diante de breve análise de
que, quando muito, a data impõe a re exão sobre as razões pelas
quais um Estado multiétnico e pluricultural como o Brasil persiste
em falhar na efetivação e preservação dos direitos humanos
fundamentais titularizados pelas mais de 300 nações indígenas
1
que habitam terras brasileiras há milhares de anos , colocando em
risco a existência de um valioso patrimônio cultural que se
manifesta em diversas projeções, desde suas crenças, passando
pelos riquíssimos gra smos e arte em geral, até mesmo incluindo
a culinária e produção de medicamentos e propriedade imaterial
em geral, resultado de milênios de conhecimento mantido,
adquirido e reinventado por meio da tradição e respectivas
cosmologias. Vale dizer, os povos indígenas no Brasil encontram-
se ainda em situação de contundente vulnerabilidade, fato ao qual
se pode acrescentar ainda um evidente retrocesso político-
normativo em curso.

Ainda que avanços no plano normativo nacional e internacional


sejam constatáveis, do ponto de vista fático a situação se mostra
preocupante, seja por conta da ação de agentes privados,
nacionais e internacionais, desde sempre interessados no acesso e
exploração dos recursos e riquezas existentes nas terras
tradicionais indígenas, seja em razão da omissão do Estado em
efetivar as demarcações das referidas terras, ação de matiz
2
constitucional ; seja, ainda, diante da situação de pobreza e até
miserabilidade às quais são submetidos referidos povos como
consequência da constante espoliação imposta pela sociedade
dominante e que se bene cia da utilização de tais povos como
mão-de-obra barata.

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Ainda além, mesmo no âmbito do Estado brasileiro e das


estruturas políticas que, por imperativos históricos, jurídicos e
políticos, deveriam zelar pelo respeito e efetivação dos direitos
indígenas, relevantes retrocessos foram veri cados nos últimos
anos, como na hipótese da retomada das discussões no Poder
Legislativo sobre a Proposta de Emenda Constitucional n° 215 e
que transfere a competência para demarcar terras indígenas do
Poder Executivo ao Poder Legislativo (o que pode signi car uma
3
via rumo ao etnocídio ); ou, ainda, a consideração a uma descabida
teoria do marco temporal, originária do Poder Legislativo mas
levada ao Poder Judiciário por conta do caso Terra Indígena
Raposa Serra do Sol discutida pelo Supremo Tribunal Federal e pela
qual defende-se que somente poderiam ter demarcadas suas
terras as nações indígenas que, na data da promulgação da Carta
constitucional de 1988, já se encontrassem nas respectivas terras,
tese sem qualquer suporte minimamente racional por conter em
seu âmago um critério sem lastro antropológico, histórico ou fático
(a exigência de presença em terras tradicionais na data de
5.10.1988) e, ainda, por desconsiderar que as terras tradicionais
vêm sendo espoliadas aos povos indígenas ao longo dos últimos
518 anos.

Some-se a tais ameaças sobre os direitos fundamentais dos povos


originários no Brasil o desmonte da FUNAI e a reiterada
desconsideração do Estado brasileiro não apenas em relação às
determinações constitucionais vigentes, bem como a não
observância à Convenção n° 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), único instrumento internacional vinculante protetivo
dos direitos dos povos indígenas e tribais e que, apenas a título de
exemplo, consagra o direito à consulta prévia aos referidos povos
na hipótese de adoção de medidas legislativas ou administrativas
suscetíveis de afetá-los diretamente (artigo 6°, I, “a”). Muito embora
o Brasil tenha aderido à mencionada convenção por meio do
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Decreto n° 5.051, de 19 de abril de 2004, não a observou quando da


construção da Usina de Belo Monte, o que gerou a reprimenda do
sistema interamericano de Direitos Humanos, ao que se
acrescentam em torno de 27 medidas judiciais propostas pelo
Ministério Público Federal, numa delas pedindo o reconhecimento
4
da natureza etnocida da referida obra . Aliás, ressalte-se, a ação
desenvolvimentista no Brasil vem apresentando resultados
etnocidas evidentes em relação aos povos indígenas já há muitas
décadas. Assim, foi com a construção da BR-174 e que provocou o
genocídio mediante a morte de cerca de 2.600 indivíduos do povo
5
Waimiri-Atroari ; assim foi com a construção da Usina Binacional
de Itaipú ou com a construção da Usina de Balbina, na Bahia,
apenas para darmos alguns exemplos. Também instrumento de
soft-law são desrespeitados constantemente pelo Estado
brasileiro, como a Declaração das Nações Unidas e a Declaração
Americana, ambas sobre os direitos dos povos indígenas,
aprovadas respectivamente em 2007 e 2016.

O preconceito e o racismo em relação aos povos indígenas


constituem outro fator que deve ser combatido e que decorre da
falta de conhecimento da sociedade dominante sobre as
dinâmicas e cosmologias que caracterizam cada uma das várias
nações indígenas. Idéias falsas como uma suposta indolência ou
falta de capacidade para produzir são comumente utilizadas por
setores interessados na tomada das terras e recursos indígenas e
compõem o imaginário do homem comum, muito embora sejam
amplamente conhecidos pelos estudiosos, antropólogos e
indigenistas os resultados e os meios de interação entre referidos
povos e a terra, da qual resultam produções abundantes das mais
variadas riquezas (alimentos, gra smos, culinária, medicamentos,
músicas etc.) e com preservação do ecossistema.

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En m, é preciso que a invisibilidade das nações indígenas seja


combatida e que a grande e ampla riqueza que marca a existência
de tais nações originárias venha a se tornar efetivamente motivo
de orgulho para o Brasil por meio da construção de uma cidadania
multicultural sob uma democracia constitucional pluralista,
afastando-se o risco de novos episódios com genocídios
indígenas, ameaça iminente que paira sobre inúmeros povos
originários atualmente, no entendimento do próprio Ministério
6
Público Federal . A preservação e demarcação das terras indígenas
constituem a principal base fundamental para a existência dos
povos originários. Não sem razão, Adriano Karipuna (da terra
indígena Karipuna, Estado de Rondônia), apresentou às Nações
Unidas na última quarta-feira, 18, em Nova York, durante a 17ª
Sessão do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das
Nações Unidas, manifestação denunciando a ocupação das terras
indígenas e o consequente risco de genocídio. Enquanto perdurar
tal situação, não haverá o que celebrar na data de 19 de abril.

——————————

1[…] O censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geogra a


e Estatística (IBGE), determinou, mediante a utilização da
metodologia da autodeclaração ou autoidenti cação, bem como do
quesito da cor ou raça, que a população indígena do país seria (em
2010) de, aproximadamente, 896 mil indígenas, equivalente, pois, a
0,4% da população, com ocupação de 12,5% do território nacional e
57,7% dos indivíduos residindo em terras indígenas. Foram também
declaradas 305 diferentes etnias e 274 línguas indígenas[…].
PEREIRA, Flávio de Leão Bastos. Genocídio Indígena no Brasil: O
Desenvolvimentismo entre 1964 e 1985, p.51. Curitiba: Juruá, 2018.

2 Nos termos do artigo 231 da Constituição da República

Federativa do Brasil (1988).


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3 Adam Jones de ne etnocídio como o termo originalmente


cunhado por Raphael Lemkin como sinônimo de genocídio,
posteriormente empregado (notadamente pelo etnólogo francês
Robert Jaulin) para descrever padrões de genocídio cultural, isto é,
a destruição dos fundamentos culturais, linguísticos e existenciais
de um grupo, sem necessariamente matar os membros do grupo.
Exemplos: O termo tem sido usado principalmente com referência
a povos indígenas, […], para enfatizar que a sua “destruição” como
um grupo envolve mais do que simplesmente o assassinato de
membros do grupo. Genocide: a comprehensive introduction, p. 26,
2ª ed. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2011.

4 https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-

socioambientais/mpf-denuncia-acao-etnocida-e-pede-
intervencao-judicial-em-belo-monte .

5https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/indios-lutam-na-

justica-por-reparacao-decadas-apos-genocidio-em-obra-da-br-174-
no-am.ghtml

6 Como ocorre com o povo Karipuna, por exemplo. Ver

https://www.cimi.org.br/2017/09/povo-karipuna-vive-iminencia-
de-genocidio-em-rondonia/.

FLÁVIO DE LEÃO BASTOS PEREIRA – Doutor e Mestre em Direito. Professor de


Direitos Humanos na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Professor convidado da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Membro do
rol de especialistas da Academia Internacional dos Princípios de Nuremberg. Autor
da obra "Genocídio Indígena no Brasil: desenvolvimentismo entre 1964 e 1985", pela
editora Juruá.

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