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Revista Brasileira de Direito Municipal ‐ RBDM

Belo Horizonte,  ano 12,  n. 42,  out. / dez.  2011 

Regularização fundiária de loteamentos irregulares – Considerações
importantes
José Nilo de Castro
Cristina Padovani Mayrink
Newton Rodrigues Miranda Neto
 

Sumário: I Relatório – II Fundamentação – III Conclusão

I Relatório

O Município de ***, por meio de seu procurador, submete à apreciação desta especializada
Consultoria o questionamento acerca da possibilidade de regularização fundiária de certos
loteamentos irregulares do Município. Mais especificamente, questiona­se sobre a aplicação dos
instrumentos previstos pela Lei Federal nº 11.977/2009 à dinâmica dos loteamentos urbanos.

II Fundamentação

A) Dos instrumentos de regularização fundiária previstos pela Lei Federal nº
11.977/2009 e de sua aplicação

1 O Programa Minha Casa Minha Vida foi previsto pela Lei nº 11.977/2009. Nesse diploma, para
além do Programa, encontra­se também disciplinada a matéria de “regularização fundiária de
assentos urbanos” (Capítulo III, arts. 46 a 71­A), que é disciplina legal bastante relevante para o
estudo da ordenação do solo urbano.

2 A regularização fundiária é proposta com o intuito de sanear as irregularidades que obstam o
registro imobiliário dos ocupantes de assentamentos urbanos não devidamente constituídos.
Segundo apontado pelo art. 46 da Lei, os instrumentos ali previstos visam garantir (i) o direito
social à moradia, (ii) o desenvolvimento da função social da propriedade urbana e (iii) o resguardo
do meio ambiente dessas áreas. De modo geral, espera­se que a regularização seja feita pela
Administração Pública, sem a necessidade de judicialização dessas demandas (art. 48, IV).

3 O art. 47 da referida Lei esboça alguns conceitos e, mais precisamente em seu inciso VIII, traz a
“regularização fundiária de interesse específico”, que significa toda regularização que não se
caracterize enquanto “regularização fundiária de interesse social”. Por esse motivo, é de se
concluir que a Lei é aplicável a todo loteamento irregular urbano, para fins de regularização. Por
regularização fundiária de interesse social se entende o procedimento voltado a atender a
população de baixa renda. Confiram­se os requisitos:

Art. 47 – [...]

VII – regularização fundiária de interesse social: regularização fundiária de
assentamentos irregulares ocupados, predominantemente, por população de baixa

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renda, nos casos:

a) em que a área esteja ocupada, de forma mansa e pacífica, há, pelo menos, 5 (cinco)
anos;

b) de imóveis situados em ZEIS; ou

c) de áreas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios declaradas de
interesse para implantação de projetos de regularização fundiária de interesse social;
[...]

4 É de se concluir, dessa forma, que a Lei abrange todo e qualquer tipo de regularização fundiária
urbana, consistindo num verdadeiro diploma instrumental, concebido para concretizar os
propósitos que enumera.

4.1  Ainda sobre os instrumentos legais, o art. 49 prevê a possibilidade de edição de legislação
própria, da parte de cada ente federado, acerca do procedimento de regularização fundiária (não
regulado pelas normas gerais da Lei) e o art. 50 outorga­lhes a faculdade de promover todos os
atos de regulamentação, inclusive os atinentes ao registro imobiliário.

5 É importante notar que a Lei nº 11.977/2009 não traz em suas disposições finais nenhuma
previsão de derrogação da Lei nº 6.766/1979 — que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano
—, o que leva a supor,  a priori, que os dois diplomas coexistem no ordenamento jurídico. A fim de
empreender essa análise, é preciso cotejar os dois textos legais.

6 O art. 51 da Lei nº 11.977/2009 traz os requisitos que o projeto de regularização fundiária deve
necessariamente atender para fins de aprovação pela municipalidade:

Art. 51. O projeto de regularização fundiária deverá definir, no mínimo, os seguintes
elementos:

I – as áreas ou lotes a serem regularizados e, se houver necessidade, as edificações que
serão relocadas;

II – as vias de circulação existentes ou projetadas e, se possível, as outras áreas
destinadas a uso público;

III – as medidas necessárias para a promoção da sustentabilidade urbanística, social e
ambiental da área ocupada, incluindo as compensações urbanísticas e ambientais
previstas em lei;

IV – as condições para promover a segurança da população em situações de risco; e

IV – as condições para promover a segurança da população em situações de risco,
considerado o disposto no parágrafo único do art. 3º da Lei nº 6.766, de 19 de
dezembro de 1979; e

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V – as medidas previstas para adequação da infraestrutura básica.

§1º O projeto de que trata o caput não será exigido para o registro da sentença de
usucapião, da sentença declaratória ou da planta, elaborada para outorga
administrativa, de concessão de uso especial para fins de moradia.

§2º O Município definirá os requisitos para elaboração do projeto de que trata o caput,
no que se refere aos desenhos, ao memorial descritivo e ao cronograma físico de obras
e serviços a serem realizados.

§3º A regularização fundiária pode ser implementada por etapas.

6.1 A Lei de parcelamento do solo urbano (Lei nº 6.766/1979), a seu turno, elenca os requisitos
q u e  os loteamentos urbanos devem atender, e que os loteamentos irregulares devem
necessariamente obedecer com vistas a terem acolhida a pretensão de regularização dos registros
imobiliários. Nesse diploma, há igualmente a previsão de que possa o Poder Público proceder à
totalidade dos atos necessários para a regularização da área parcelada (art. 40, caput). Ressalte­
se, no entanto, que a Administração não pode desconsiderar os requisitos dos arts. 3º e 4º quando
da regularização da área (arts. 40, §5º, e 43), veja­se:

Art. 40. A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, se desatendida
pelo loteador a notificação, poderá regularizar loteamento ou desmembramento não
autorizado ou executado sem observância das determinações do ato administrativo de
licença, para evitar lesão aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos
direitos dos adquirentes de lotes.

[...]

§5º A regularização de um parcelamento pela Prefeitura Municipal, ou Distrito Federal,
quando for o caso, não poderá contrariar o disposto nos arts. 3º e 4º desta Lei,
ressalvado o disposto no §1º desse último.

[...]

Art. 43. Ocorrendo a execução de loteamento não aprovado, a destinação de áreas
públicas exigidas no inciso I do art. 4º desta Lei não se poderá alterar sem prejuízo da
aplicação das sanções administrativas, civis e criminais previstas.

Parágrafo único. Neste caso, o loteador ressarcirá a Prefeitura Municipal ou o Distrito
Federal quando for o caso, em pecúnia ou em área equivalente, no dobro da diferença
entre o total das áreas públicas exigidas e as efetivamente destinadas.

6.2 São os requisitos:

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Art. 2º. O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou
desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e
municipais pertinentes.

[...]

§4º Considera­se lote o terreno servido de infra­estrutura básica cujas dimensões
atendam aos índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a
zona em que se situe.

§5º Consideram­se infra­estrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das
águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água
potável, e de energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimentadas
ou não.

§5º A infra­estrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equipamentos
urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário,
abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de
circulação.

§6º A infra­estrutura básica dos parcelamentos situados nas zonas habitacionais
declaradas por lei como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo, de:

I – vias de circulação;

II – escoamento das águas pluviais;

III – rede para o abastecimento de água potável; e

IV – soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.

Art. 3º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas
urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano
diretor ou aprovadas por lei municipal.

Parágrafo único – Não será permitido o parcelamento do solo:

I – em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências
para assegurar o escoamento das águas;

II – em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem
que sejam previamente saneados;

III – em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se
atendidas exigências específicas das autoridades competentes;

IV – em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;

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V – em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições
sanitárias suportáveis, até a sua correção.

CAPÍTULO II

Dos Requisitos Urbanísticos para Loteamento

Art. 4º. Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:

I – as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano
e comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à
densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a
zona em que se situem.

II – os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e
frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a
urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social,
previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes;

III – ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das
rodovias e ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não­edificável de 15
(quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica;

IV – as vias de loteamento deverão articular­se com as vias adjacentes oficiais,
existentes ou projetadas, e harmonizar­se com a topografia local.

§1º A legislação municipal definirá, para cada zona em que se divida o território do
Município, os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do
solo, que incluirão, obrigatoriamente, as áreas mínimas e máximas de lotes e os
coeficientes máximos de aproveitamento.

§2º Consideram­se comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde,
lazer e similares.

§3º Se necessária, a reserva de faixa não­edificável vinculada a dutovias será exigida
no âmbito do respectivo licenciamento ambiental, observados critérios e parâmetros que
garantam a segurança da população e a proteção do meio ambiente, conforme
estabelecido nas normas técnicas pertinentes.

Art. 5º. O Poder Público competente poderá complementarmente exigir, em cada
loteamento, a reserva de faixa non aedificandi destinada a equipamentos urbanos.

Parágrafo único – Consideram­se urbanos os equipamentos públicos de abastecimento
de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica
e gás canalizado.

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6.3  Percebe­se, da leitura do art. 51 da Lei nº 11.977/2009, que o projeto deve (i) discriminar
quais lotes estão englobados para fins de regularização e quais construções serão realocadas, (ii)
as vias públicas existentes e projetadas, assim como as áreas que serão reservadas ao uso público,
(iii) quais medidas serão tomadas a fim de se implementarem os espaços públicos exigidos por lei
(art. 4º da Lei nº 6.766 e legislação urbanística local, incluindo praças, espaçamento de calçadas,
áreas livres comuns etc.), incluída a possibilidade de compensações urbanas e ambientais
legalmente autorizadas, (iv) as medidas necessárias para gerir o risco das áreas urbanas
consolidadas, definidas como non aedificandi pelo art. 3º da Lei nº 6.766/1979, (v) outras medidas
necessárias para a implementação da infraestrutura urbana básica nos termos dos arts. 2º (§§4º,
5º e 6º), 4º e 5º da Lei do parcelamento do solo urbano.

6.4 Desse modo, é forçoso concluir que, ao menos no que tange aos dispositivos citados da Lei nº
11.977/2009, há inovação jurídica quanto ao procedimento a   s e r   s e g u i d o   p a r a   f i n s   d e
regularização fundiária urbana. Até esse ponto, entretanto, não há mudanças no direito material
estabelecido na Lei nº 6.766/1979.

7 É importante destacar que tanto a regularização fundiária de interesse específico (arts. 61 e 62)
quanto a regularização fundiária de interesse social (arts. 53 a 60­A) têm de obedecer a todo o
regramento urbanístico trazido pela Lei nº 6.766/1979 e pela eventual legislação urbanística local,
sem quaisquer “flexibilizações”, à exceção das citadas “compensações urbanas e ambientais”. Uma
particularidade da regularização de interesse social é que nela se admite a manutenção de
ocupações humanas consolidadas mesmo em APPs (art. 53, §1º, da Lei nº 11.977/2009).

7.1 Outra diferença entre os institutos inclui o partilhamento de responsabilidades pela
implementação do projeto (do art. 51), pois na regularização de interesse específico os moradores
podem ser chamados a compartilhá­la com o Poder Público dependendo do vulto dos investimentos
necessários e da situação econômico­financeira da população a ser beneficiada (art. 62, §1º),
enquanto na regularização de interesse social é a Administração que é responsável por promover a
instalação da infraestrutura básica e do sistema viário projetado (art. 55, caput).

8 Por esses motivos, percebe­se que a Lei nº 11.977/2009 é em grande parte uma conjugação de
instrumentos para viabilizar a regularização fundiária, que ainda obedece às disposições materiais
da legislação urbanística, tanto aquela consubstanciada na Lei de parcelamento do solo urbano,
quanto a atinente às legislações estaduais e locais. São abertas exceções, como a possibilidade de
compensação ambiental e urbanística quando o interesse público indique ser esse o melhor
caminho. Entretanto, fundamentalmente, não há derrogação dos dispositivos da Lei nº
6.766/1979.

B) Sobre a regularização fundiária em ***

1 Feitas essas considerações legais, buscar­se­á esboçar quais as obrigações do Município em cada
caso. Inicialmente, é preciso esclarecer que, se o indivíduo não se escusa de cumprir a Lei por
desconhecimento da mesma, o Poder Público só age porque está expressamente autorizado por Lei
para atuar. Por isso, se para o particular a ignorância é uma possibilidade, porém inoponível, para
o Poder Público a ciência das leis é pressuposto de sua atuação. Por esse exato motivo seu Poder

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de Polícia é constante, mantendo vivas e efetivas as leis e sancionando o seu descumprimento.

2 Logo, compete ao Município fiscalizar o cumprimento da legislação urbanística. Se é detectado,
por exemplo, um loteamento em situação irregular, é dever do Município notificar o loteador (art.
38 da Lei nº 6.766/1979), para que tome as providências cabíveis. No entanto, caso o loteador
desatenda a notificação, o Poder Público pode regularizar manu propria o empreendimento (art. 40
da Lei nº 6.766/1979), sem prejuízo do dever de ressarcir por parte dos beneficiários e das
sanções legais cabíveis contra o loteador.

2.1 Por outro lado, se a detecção da irregularidade ocorre apenas tardiamente, uma vez já
consolidado o assentamento urbano, não havendo mais loteador a ser interpelado, a regularização
da área pode ser feita tanto pelo Poder Público quanto por associações ou pelos próprios
interessados (art. 50 da Lei nº 11.977/2009).

2.2 Obviamente, quando a Lei diz “pode”, em se tratando do Poder Público a disposição deve ser
entendida enquanto “deve”. Isso porque o Poder de Polícia urbanístico constata a irregularidade e a
Lei lhe apresenta imediatamente os instrumentos a serem utilizados para saná­la. Tolerar áreas
regulares juntamente a irregulares não se colima com os fins do Estado, porque as normas
urbanísticas visam justamente atender a imperativos de saúde pública, preservação do meio
ambiente, planejamento do tráfego urbano, entre outros, que não são realizados quando de
loteamentos irregulares.

2.3 O único óbice à atuação corretiva do Estado, nesse ponto, é a dotação orçamentária para a
tarefa legalmente imposta, pois nem sempre a capacidade financeira do ente federado equivalerá
aos deveres que lhe são legalmente imputados.

3 Ultrapassado esse ponto, ou seja, em havendo dotação orçamentária suficiente para a
regularização habitacional, cabe diferenciar quais empreendimentos o Estado deve
necessariamente realizar (“caberá ao poder público”) das obras que os demais legitimados
(beneficiários diretos ou entidades associativas) podem ou devem empreender.

3.1 No caso da regularização fundiária de interesse social, é o Poder Público que deve (art. 55 da
Lei nº 11.977/2009) realizar as obras viárias e de infraestrutura básica (art. 2º, §6º, da Lei nº
6.766/1979) dessas regiões. Quanto aos demais requisitos do projeto referido no art. 51 da Lei nº
11.977/2009, podem ser assumidos tanto pelo Poder Público quanto pelos demais legitimados.
Caso essa população não tenha condições de financiar o empreendimento, a responsabilidade total
pelos requisitos do projeto será, por conseguinte, da Autoridade que estiver regularizando aquela
área.

3.2 No caso da regularização fundiária de interesse específico, por sua vez, o Poder Público não
está legalmente obrigado (a priori) a despender nenhum gasto. As despesas poderão ser repartidas
com a população beneficiada, desde que levados em conta os investimentos já feitos pela
população local e o poder aquisitivo da mesma (art. 62, §1º). Caso a autoridade reconheça que a
população não se encontra em condições de partilhar os gastos, evidentemente cumprirá ao Poder
Público assumir a responsabilidade total pela regularização.

3.3 Ressalte­se que toda essa atribuição de funções é feita de maneira prévia e deve constar do
projeto que será submetido à aprovação da municipalidade e da autoridade ambiental competente.

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Portanto, o projeto deve contemplar todos os imperativos urbanísticos e ambientais legais, deve
ser um plano de ação capaz de regularizar, em definitivo, o assentamento urbano. Desta forma,
possibilitar­se­á o registro da propriedade dos imóveis da região, vez que atendida a legislação
urbanística.

4 Quanto às compensações urbanísticas e ambientais (no caso de o projeto não poder cumprir em
sua inteireza a legislação urbanística), é competência do Município legislar a seu respeito. Porém o
art. 52 da Lei nº 11.977/2009 autoriza à municipalidade a redução do percentual legal exigível no
caso dos assentamentos urbanos consolidados anteriormente à publicação da Lei. Nos demais
casos, deverá haver a compensação apenas se não for possível cumprir a legislação urbanística e
ambiental aplicável, sopesados os benefícios e prejuízos das obras necessárias.

5 Por todas essas razões ficam evidentes desde logo os prejuízos globais que advêm da falta de
fiscalização prévia dos empreendimentos imobiliários: se durante a fase de implementação do
loteamento irregular o loteador ainda pode ser alcançado e os adquirentes podem contribuir
diretamente para a municipalidade, no valor dos lotes adquiridos, para que o loteamento seja
regularizado, uma fez consolidado o assentamento urbano será preciso proceder à regularização
fundiária, que, como se viu, pode implicar a assunção total de responsabilidades por parte do
Município. A falta de fiscalização inicial pode resultar numa oneração bastante grave do Erário
municipal. É por esse motivo que a prevenção dessas situações é essencial.

6 A partir da leitura da matrícula do imóvel do requerente, percebe­se que a gleba foi
desmembrada dando origem a 3 novas, separadas da original. Era uma gleba de terras rural,
posteriormente descaracterizada pelo proprietário, tornando­se urbana. A partir de 1995 o imóvel
começou a ser alienado para vários adquirentes, que começaram a adquiri­lo em regime de
condomínio, com diferentes quotas­partes.

6.1 Ora, o condomínio é uma situação especialíssima, que como todo doutrinador repete “tende a
desaparecer com o tempo”. Se normalmente as pessoas não suportam deter algo em condomínio,
querendo logo desmembrar seu quinhão para exercer a propriedade exclusiva, o que leva
completos desconhecidos a adquirirem quotas­parte de uma gleba de terras urbana? Não é difícil
conceber que um loteamento ilegal estava em formação. E a constatação era tão fácil que a própria
matrícula do imóvel contém todos os elementos que levariam a essa conclusão.

6.2 Obviamente que, quanto à situação consolidada, não há muito o que se fazer, a ilegalidade é
confessa e evidente. Mas, quanto às situações em curso ou futuras, o acompanhamento do registro
imobiliário do município é instrumento fundamental para o próprio exercício do Poder de Polícia do
Município. Conforme já dito, o trabalho preventivo pode evitar grandes onerações do Erário
municipal.

7 Tecidas essas considerações, conclui­se que é sim dever do Município promover a regularização
fundiária urbana em seu território. Nos termos da Lei nº 11.977/2009, seus deveres são
diferenciados dependendo da situação social da área a ser regularizada: se de interesse social,
seus deveres legais são mais amplos, enquanto que nas demais regiões todos os custos podem ser
partilhados com os beneficiários pela regularização.

7.1 É verdade que o projeto pode partir de qualquer um dos legitimados pelo art. 50 da Lei. Mas

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dada a assunção de responsabilidades que ele implica, é extremamente recomendável que a
municipalidade promova algo como fóruns entre o Poder Público e os moradores das regiões a
serem regularizadas, traçando junto dessas populações quais medidas técnicas serão necessárias
para que se regularizem os assentamentos urbanos e quais responsabilidades serão assumidas
pelos atores envolvidos. Afinal, se é o Município quem aprovará o projeto (em sua parte
urbanística e, talvez, ambiental), nada mais razoável do que a sua presença na feitura do projeto.

7.2 Conforme já aventado anteriormente, o dever do Poder Público somente esbarra na previsão
orçamentária para programas de habitação e moradia. Não se pode razoavelmente exigir que o
Poder Público se comprometa sem que haja planejamento prévio. Tampouco pode ele realizar todos
os empreendimentos necessários de uma só vez.

7.3 O estudo das áreas a serem regularizadas, os respectivos custos e as prioridades a serem
seguidas são tarefas do Poder Público local, que deve igualmente diligenciar para inserir no Plano
Plurianual a previsão quanto a esse amplo programa de regularização fundiária, bem como prever,
na Lei de Diretrizes Orçamentárias e no orçamento anual, quais serão as prioridades para fins de
regularização, de onde virá o custeio e qual a verba empenhada para tal objetivo.

III Conclusão

Ante o exposto, é o presente para concluir que a regularização fundiária desse e de outros
loteamentos irregulares é obrigação do Município de ***. A Lei Federal nº 11.977/2009 traz em
seu Capítulo III todo o procedimento a ser observado para esse fim, mantendo a regulação
material da Lei Federal nº 6.766/2009.

Nesse escopo, é preciso que o Poder Público local mapeie as áreas irregulares, promova fóruns
junto a essas populações verificando quais as medidas técnicas necessárias, estabeleça prioridades
e planeje o seu orçamento para conseguir fazer face a esse dispêndio com a regularização
fundiária. Esse planejamento deve levar em conta a capacidade contributiva dos contemplados, que
nos termos da Lei nº 11.977/2009 podem ser chamados a assumir responsabilidades dentro do
projeto de regularização.

Fundamentalmente é preciso também que se providencie a adequada fiscalização dos
empreendimentos imobiliários e do registro de imóveis municipal, pois, como visto, a inação do
Poder Público pode gerar custos muito maiores para o Erário do que aqueles representados pela
manutenção de um Poder de Polícia eficiente. O trabalho do Consulente deve ser não apenas
saneador mas igualmente preventivo, evitando a disseminação de novos loteamentos irregulares
em seu território.

É o parecer.

De Belo Horizonte para ***, 11 de novembro de 2011.

Como citar este conteúdo na versão digital:

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto

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científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:

CASTRO, José Nilo de; MAYRINK, Cristina Padovani; MIRANDA NETO, Newton Rodrigues.
Regularização fundiária de loteamentos irregulares: considerações importantes. Revista Brasileira
de Direito Municipal – RBDM, Belo Horizonte, ano 12, n. 42, out./dez. 2011. Parecer. Disponível
em: <http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=76745>. Acesso em: 28 jun. 2018.

Como citar este conteúdo na versão impressa:

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto
científico publicado em periódico impresso deve ser citado da seguinte forma:

CASTRO, José Nilo de; MAYRINK, Cristina Padovani; MIRANDA NETO, Newton Rodrigues.
Regularização fundiária de loteamentos irregulares: considerações importantes. Revista Brasileira
de Direito Municipal – RBDM, Belo Horizonte, ano 12, n. 42, p. 203­213, out./dez. 2011. Parecer.

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