Texto 4: O começo da imprensa no Brasil – século XIX
História e Imprensa: Utilização da imprensa como fonte e como objeto
de estudo para a História. Os primeiros tempos da imprensa no Brasil: Chegada da Corte Portuguesa ao Brasil (1808). Imprensa Régia (1808). Real Mesa Censória (1768). As atividades jornalísticas no Brasil estão relacionadas à chegada da corte portuguesa e à instalação da tipografia da Impressão Régia no Rio de Janeiro, em 1808 (decreto de 13 de maio), onde somente: “se imprimam exclusivamente toda a legislação e papéis diplomáticos que emanarem de qualquer repartição do meu real serviço, e se possam imprimir todas e quaisquer obras, ficando inteiramente pertencendo seu governo e administração à mesma Secretaria”. A Gazeta do Rio de Janeiro: Fundada em 10 de setembro de 1808. Inicialmente redigida por Frei Tibúrcio da Rocha, tinha a finalidade de divulgar notícias e avisos, sem qualquer opinião do redator. Quatro páginas em tamanho in-quarto (13,5 x 19 cm), com texto em uma coluna quase da mesma largura da página. Podia ser comprada na loja de Paulo Martins Filho, mercador de livros. Exemplar custava 80 reis e a assinatura semestral, 1800 reis. A Gazeta contemplava em suas notícias e avisos temas relativos ao vestuário, a alimentação, a oferta de imóveis e de serviços profissionais, entrada de embarcações – muitas carregadas de escravos – e rebeliões, como a de Pernambuco em 1817. O jornal se estruturava em dias partes: seção noticiosa e seção de avisos. Anúncios. Entre 1808 e 1821 foram publicadas 1.413 edições da Gazeta do Rio de Janeiro e circularam 204 números extras, as denominadas Gazetas Extraordinárias (custavam 160 reis). Nesse período, a Gazeta teve três redatores: Frei Tibúrcio José da Rocha (1808-1821); Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1812-1821) – também foi redator de O Patriota e de O Espelho; Francisco Vieira Goulart (até o final de 1821). A partir de 1821, A Gazeta do Rio de Janeiro passa a se chamar Gazeta do Rio e defenderia o liberalismo e a modernidade política. Na mesma época circularam outros jornais: A Idade d’Ouro do Brazil (1821-1823), de propriedade de Manual da Silva Serva; O Patriota (1813-1814). As raízes portuguesas da imprensa brasileira: O modelo para a Gazeta do Rio de Janeiro foram os jornais portugueses, em especial a Gazeta de Lisboa. Além da Gazeta, circulavam em Portugal periódicos literários, científicos ou de medicina. A partir da invasão francesa do território português e a saída da corte para o Brasil, seriam publicados em Paris e principalmente em Londres jornais de língua portuguesa. O mais influente era o Correio Braziliense, publicado por Hipólito da Costa. No Brasil, momento importante da emergência de uma opinião pública situa-se nos anos de 1820/1822. Inspiradas em ideias liberais, a Junta de Governo da Revolução Constitucional estabeleceu, por decreto de 21 de setembro de 1821, a liberdade de imprensa e a 13 de outubro, a circulação de impressos portugueses fora de Portugal. Destaca-se o jornal Sentinela da Liberdade, de propriedade de Cipriano Barata: “Toda e qualquer Sociedade, onde houver imprensa livre, está em liberdade; que esse Povo vive feliz e deve ter aumento, alegria, segurança e fortuna; se, pelo contrário, aquela Sociedade ou Povo, que tiver imprensa cortada pela censura prévia, presa e sem liberdade, seja debaixo de qualquer pretexto for, é povo escravo, que pouco a pouco há de ser desgraçado até se reduzir ao mais brutal cativeiro”.(n. 11, 10 de maio de 1823). Em um primeiro momento a imprensa brasileira teria se configurado a partir da produção “pasquins”. Características dos jornais no século XIX (ver Rodrigo Oliveira, p. 134). Estilo panfletário: surgimento da figura do redator panfletário – portador de uma missão pedagógica e política. Primeira geração de redatores brasileiros surge no contexto de transformações que marcam o início do século XX. Não eram chamados de “jornalistas”, mas de “redatores” ou “gazeteiros”. Estilo panfletário: capacidade de convencer e de atacar, espírito mordaz e crítico, ligg literária, densidade doutrinária e ideológica, capacidade de se expressar, visão de mundo geral e definida.Exemplos: José da Silva Lisboa, redator de vários jornais e folhetos. Evaristo da Veiga – Aurora Fluminense (1827-1839). Antonio Borges da Fonseca – O Repúblico. Ezequiel Correa dos Santos – Nova Luz Brasileira. Frei Caneca – Tiphis Pernambucano. Cônego Januário da Cunha Barbosa/Joaquim Gonçalves Ledo – O Revérbero Fluminense. Líbero Badaró – O Observador Constitucional. Circulação de ideias: relação estreita entre livros e jornais. Nem todos os jornais orientaram-se estritamente pelo debate político: Jornal do Commercio (RJ/1827), Diario de Pernambuco (Recife/1827), Jornal dos Anuncios (1821). Revista Nictheroy (1836) – marco do romantismo. Anos de 1840: menor número de periódicos, estabilização da imprensa, defesa do progresso, gerando certa despolitização. 1830-1850: grande momento da imprensa brasileira: Palavra e imagem impressa ganharam força e projeção, se propagaram e se difundiram por todo o Império. Ideia de inserção do Brasil na cultura ocidental. Manteria o periodismo como formato preferencial e voltada para o debate político e em segundo plano voltado para manifestações literárias. Ampliar-se-ia as funções da imprensa como prestadora de serviços, em meio a uma conjuntura econômica e social. Alguns jornais se transformariam em empresas. O novo espaço e modo de fazer da imprensa do Segundo Reinado não se deram de pronto. 1850-1889: Surgimento dos grandes jornais: O Constitucional, Diário do Rio de Janeiro, O Correio Mercantil, Jornal do Commercio. Segmentação temática. Avanços técnicos. Diversificação da imprensa. Imprensa propagandística e o jornalismo republicano. Jornalismo abolicionista. A imprensa ilustrada de oposição: Desenhos de Angelo Agostini na Revista Ilustrada (1876-1898), defensora da abolição e da República. Marcas da escravidão na imprensa. O império sai de cena: “O profundo silêncio do lugar pareceu fazer-se maior nesta ocasião, como se a noite compreendesse que se ia, ali mesmo em poucos momentos, estrangular a última hora de um reinado. A tranquilidade que havia era lúgubre. […] Às três da madrugada, menos alguns minutos, entrou pela praça um rumor de carruagem. […]. Apareceu então o préstito dos exilados. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos que se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. […]. Quase na extremidade do molhe, o carro parou e o Sr. Pedro de Alcantâra apeou-se – um vulto indistinto, entre outros vultos distantes – para pisar pela última vez a terra da pátria […]”. (Raul Pompéia. Jornal do Commercio, 24 nov. 1889).