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FLORIANÓPOLIS
2000
MATOS, Cristina Henschel de. Condições de trabalho e estado nutricional de operadores
do setor de alimentação coletiva: um estudo de caso. Florianópolis 2000. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção/ Ergonomia, Universidade Federal de Santa Catarina.
JUNHO DE 2000
CONDIÇÕES DE TRABALHO E ESTADO NUTRICIONAL DE OPERADORES
DO SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA: UM ESTUDO DE CASO
Mestre em Engenharia
_______________________________________
Prof. Ricardo Miranda Barcia, Ph.D.
Coordenador do Programa
Banca examinadora
________________________________________________
Prof ª Rossana Pacheco da Costa Proença, Dra.
Orientadora
_______________________________________
Prof ª Maria Alice Altenburg de Assis, Dra.
Membro
__________________________
Prof. Neri dos Santos, Dr.
Membro
Aos amigos Maurici Souza e Márcio Avelar pelo suporte técnico na realização
da avaliação dos níveis de ruído;
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................................... 7
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 11
LISTA DE QUADROS ...............................................................................................................12
RESUMO .................................................................................................................................13
ABSTRACT..............................................................................................................................14
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................15
1.1 APRESENTAÇÃO......................................................................................15
1.2 OBJETIVOS ...............................................................................................17
1.2.1 Geral..............................................................................................17
1.2.2 Específicos....................................................................................17
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA ........................................................................ 17
1.4 METODOLOGIA..........................................................................................18
1.5 ESTRUTURA GERAL DO TRABALHO ......................................................19
1.6 LIMITAÇÕES DO TRABALHO ...................................................................19
1.7 DEFINIÇÃO DE TERMOS ..........................................................................20
2. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................23
2.1 A PRODUÇÃO DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA PARA O TRABALHADOR
NO BRASIL........................................................................................................23
2.2 ERGONOMIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA..............27
2.2.1 Conceito de ergonomia..................................................................27
2.2.2 Análise Ergonômica do Trabalho...................................................28
2.2.2.a Análise da demanda.........................................................29
2.2.2.b Análise da tarefa...............................................................31
2.2.2.c Análise da atividade..........................................................31
2.2.2.d Diagnóstico.......................................................................32
2.2.2.e Caderno de encargos e recomendações ergonômicas....32
2.2.3 Condições de trabalho em Unidades de Alimentação e Nutrição.33
2.2.3.a Condições organizacionais...............................................34
2.2.3.b Condições ambientais.....................................................38
2.3 ESTADO NUTRICIONAL............................................................................48
2.3.1Indicadores do estado Nutricional ................................................49
2.3.1.a Índice da Massa Corporal................................................49
2.3.1.b Relação Cintura/ Quadril..................................................50
2.3.2 Gasto energético...........................................................................51
2.3.3 Consumo alimentar .......................................................................53
2.3.3.a Ritmo de ingestão ...........................................................55
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................56
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
RESUMO
Este estudo visa analisar a relação entre as condições de trabalho de operadores de uma
Unidade de Alimentação e Nutrição e o seu estado nutricional. Assuntos pertinentes ao tema
como alimentação do trabalhador, condições de trabalho em Unidades de Alimentação e
Nutrição (UAN), gasto energético, consumo alimentar e ergonomia foram abordados no
referencial teórico. Este trabalho foi desenvolvido em forma de estudo de caso, realizado em
uma UAN que fornece cerca de 1550 refeições/dia, divididas em 4 turnos. Os sujeitos
selecionados foram operadores do 1º turno e turno geral, atuantes nos sete principais setores
da UAN. Como método utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho, desenvolvendo as
seguintes etapas: análise da demanda; análise da tarefa, análise da atividade; diagnóstico e
caderno de encargos e recomendações ergonômicas. Para tanto, os instrumentos utilizados
foram: observação direta, armada e normalizada das atividades realizadas; entrevista, tomada
de medidas antropométricas; avaliação do estado nutricional, do gasto energético e da
ingestão cal dos operadores e, por fim, comparação, análise dos dados e recomendações.
Fizeram parte do estudo sete operadores do sexo feminino e um do sexo masculino, com
tempo de serviço na unidade entre 3 meses e 5 anos. Constatou-se que o trabalho realizado na
UAN exige esforço físico moderado, movimentos repetitivos por longos períodos, carregamento
e levantamento de peso esporádicos, postura em pé e deslocamentos durante a realização das
atividades. As atividades ocupacionais dos operadores foram classificadas como moderada
para sete operadores e leve para um operador. Porém, o Índice de Massa Corporal (IMC)
indica eutrofia em dois operadores e sobrepeso em diferentes graus em seis operadores. A
dieta consumida pela maioria dos operadores, caracteriza-se como hipercalórica, hiperprotéica,
hiperlipídica e hipoglicídica, sendo que durante o lanche da manhã, todos os operadores
consumiram algum tipo de carne, quase sempre gordurosa. Observou-se, também, o hábito de
ingerir alimentos entre as refeições, possivelmente devido ao grande intervalo entre as
refeições e ao contato direto com as preparações servidas. Desta forma, constatou-se que,
apesar da realização das atividades na UAN requerer um gasto energético significativo, alguns
condicionantes físicos e organizacionais podem estar contribuindo para o consumo alimentar
excessivo e a ingestão de uma dieta desequilibrada. Portanto, encontraram-se evidências que,
neste caso, as condições de trabalho estariam exercendo influência no estado nutricional do
grupo de operadores estudados.
ABSTRACT
The aim of this study is to analyze the relation between the work and the nutritional status of a
group of workers at food service. Subjects related to the food intake, conditions of work at food
service, energy waste and ergonomic analysis were taken in account for the theoretical part of
this study. The study was developed based on 1550 meals per day at food service, divided in
four shifts. The subjects chosen were workers from the first shift and in the regular shift,
workers from the main seven sectors of food service. As method were used the Ergonomic
Analysis of Work, divided by the following stages: analyzing the work demanding, the task and
the activities involved in the work, diagnostic and recommendation. The approach for this study
were: direct observation of activities at work, interview and measurements taken, analysis of the
nutritional state, waste of energy, food intake, that were analyzed and recommendations were
given for improvements. Were part of this study seven female workers and one male worker,
working for the company on a range from 3 months to 5 years. The work at food service
demanded moderate physical effort, long time repetitive movements, sporadic weight loading
and raising, standing, and constant moving. The results showed that seven operators were
classified as having moderated occupational activities and one as light activity. The data from
Body Mass Index (BMI) demonstrated that two operator was nourished and six were in
overweight. Their diets were considered over caloric, over proteic, over lipidic, and also over
glicidic. The habits of eating small meals between the main ones was observed, probably
because of the great intervals between the principal meals and the contact with the meals
prepared by themselves. In this way, despite of the food service activities demanded expressive
expenditure of energy, some physical and organizational limitations could contribute for the
high rate of food consumption, and for their unbalanced diet.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
Analisar a relação entre as condições de trabalho de operadores do
setor de alimentação coletiva e o seu estado nutricional.
1.2.2 Específicos
1.4 METODOLOGIA
REFERENCIAL TEÓRICO
Para o Brasil, o século XX, indo até o fim da década de 70, foi um
período favorável, pois enquanto grandes nações sofriam mudanças, o país
mantinha o alto ritmo de crescimento. Entretanto, apesar do mercado interno
triplicar nas décadas de 60, 70 e 80, a renda per capita cresceu apenas 0,7%
entre 1979 e 1989 (Mazzon et al., 1990, p.3).
Desta forma, na década de 70, as carências nutricionais eram
apresentadas como um dos principais problemas relacionados à saúde do
trabalhador, sendo responsáveis por acidentes de trabalho, licenças médicas e
absenteísmo. A grande discussão da época girava em torno do trabalhador mal
alimentado, que produzia pouco e conseqüentemente recebia baixos salários,
formando um círculo vicioso (Gomes, 1992, p.12).
Dentro deste contexto, foi criado pelo Ministério do Trabalho (Brasil,
1976, p.301) o PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador),
institucionalizado em 14 de abril de 1976, pela lei 6321. O objetivo do
Programa era promover a melhoria da situação nutricional do trabalhador e,
conseqüentemente, de sua saúde, tendo como prioridade atingir aqueles que
recebem os menores salários (até cinco salários mínimos mensais). O
Ministério do Trabalho apontava, ainda, os principais benefícios do Programa
(SSST, 1976):
Para o trabalhador
§ Melhoria das condições nutricionais e da qualidade de vida;
§ Aumento da capacidade física, resistência à fadiga e resistência a doenças;
§ Redução do risco de acidentes de trabalho;
§ Aumento da expectativa de vida.
Para a empresa
§ Aumento da produtividade;
§ Redução do absenteísmo;
§ Redução da rotatividade;
§ Maior integração entre trabalhador e empresa;
§ Isenção de encargos sociais sobre o valor da alimentação fornecida;
§ Incentivo fiscal (dedução de até 5% do imposto de renda devido).
Para o governo
§ Redução de despesas e investimentos na área de saúde;
§ Crescimento da atividade econômica;
§ Bem-estar social.
Para cumprir os objetivos, proporcionando mais energia para o trabalho
e a melhoria do estado nutricional, o Programa propõe que as grandes
refeições (almoço jantar e ceia) devem conter, no mínimo, 1.400 kcal e as
menores (desjejum e merenda), no mínimo 300 kcal. Deste valores calóricos,
6% ou mais devem ser fornecidos pela proteína da dieta (MTB, 1987, p.11)
O início efetivo do PAT deu-se em 1977, e desse ano até 1980 foram
aprovados 3091 processos, com o ingresso crescente de empresas de
pequeno porte. Atualmente, criado há 29 anos, o PAT tem cadastradas,
somente em São Paulo, 26.215 empresas (L'Abbatte, 1989, p.40; Brasil...,
1999, p.1).
Para Campino apud L'abbatte (1989, p.41-42) as empresas que
aderiram ao PAT salientaram os impactos positivos em relação à sua
produtividade, lucratividade, menor rotatividade, menor absenteísmo, melhoria
das relações de trabalho e maior integração entre os trabalhadores. Para
Proença (1997, p.91) estes fatores estariam diretamente relacionados ao
fornecimento da alimentação, independentes da participação no Programa.
Boianovsky (1995, p.34), um dos responsáveis pela criação do PAT,
enumera as vantagens do Programa para os dias atuais, faz considerações
sobre o seu aumento quantitativo e qualitativo e sobre a necessidade de
algumas modificações de âmbito burocrático, entretanto não comenta a
questão nutricional.
É importante salientar que, nas últimas décadas, a composição da
população economicamente ativa, em relação à sobrecarga física nas
profissões, modificou-se profundamente. Em todos os países industrializados
houve mudanças organizacionais no sistema fabril decorrentes da intensa
automatização. Desta forma, a parcela dos trabalhadores com atividades
predominantemente sedentárias aumentou significativamente, correspondendo
a 70-80% das pessoas que trabalham, enquanto que a parcela de
trabalhadores com atividade física intensa tem diminuído em todas as partes do
mundo industrializado (Grandjean, 1998, p.177).
A mudança nas atividades ocupacionais e os hábitos alimentares dos
trabalhadores começam a exigir um novo enfoque à área da alimentação.
Algumas empresas já vêm modificando a alimentação oferecida em
virtude das condições de saúde dos trabalhadores, uma pesquisa realizada no
pólo Petroquímico de Camaçari - BA demonstrou que 52% deles apresentavam
hipertensão e 42% altas taxas de colesterol (Barreto, 1995, p. 49)
Para Dutra-de-Oliveira (1998, p.306), a transição nutricional ocorrida na
última década é efeito de relações complexas de ordem demográfica,
socioeconômica e epidemiológica. O desenvolvimento econômico de diversos
países tem sido marcado por uma crescente opção pela chamada dieta
ocidental (maior consumo de calorias e proteínas de origem animal, açúcar
refinado, lípides insaturados etc.) associada a um estilo de vida mais
sedentário e a uma urbanização crescente.
Um estudo realizado com 264 trabalhadores de uma indústria de
fertilizantes localizada no leste europeu demonstrou que 67% deles têm uma
dieta hipercalórica, 87,9% hiperlipídica, sendo que de uma forma geral a dieta
encontrava-se pobre em fibra, com altas quantidades diária de sódio e um
déficit relativo de vitaminas A e B1 (Koleva et al., 2000, p.13).
No Brasil, poucos são os estudos relacionados ao consumo alimentar de
trabalhadores, mas um estudo recente buscou avaliar a qualidade da
alimentação oferecida a trabalhadores de sete empresas paulistas.
Demonstrou-se que, na sua maioria, os cardápios atendem às recomendações
do PAT, em termos de caloria, porém, apresentaram-se hipoglicídicos,
hiperlipídicos e hiperprotéicos (Freire et al., 1998. p.299).
Sabe-se que um consumo alimentar excessivo ou qualitativamente
inadequado pode levar a distúrbios nutricionais. Um estudo realizado com 647
bancários cariocas mostrou que 26,7% deles apresentavam sobrepeso e 6,4%
obesidade, sendo que o excesso de peso aumentou com a idade e foi
aproximadamente três vezes maior em homens que em mulheres (Ell et al.,
1998, p.116). Percentuais como os citados não são encontrados apenas em
profissões classificadas como sedentárias. Um estudo realizado com
trabalhadores da construção civil demonstrou que mais da metade deles
apresentavam sobrepeso e 27,7% alteração de pressão arterial ou diagnóstico
médico de hipertensão (Reis, 1998, p.118).
Os estudos apresentados vêm de encontro às considerações sobre o
PAT feitas por Ishi (1994, p.22) que sugere a realização de um estudo sobre a
redistribuição calórica do Programa. A autora enfatiza, ainda, que não se pode
servir um prato de 1400 kcal, quando a tendência da nutrição moderna é
fracionar a alimentação durante todo o dia.
A evolução do PAT depende primordialmente do fortalecimento do
fornecimento de refeições em Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) em
detrimento de vale-refeição, que muitas vezes são utilizados como moeda e
não proporcionam uma alimentação equilibrada em calorias e nutrientes. E
também, da maior fiscalização e controle nos locais onde o fornecimento é
realizado pelos vales ou cestas básicas.
Em uma entrevista à revista Cozinha Industrial (1993, p.20) Mário
Bogociani, coordenador do órgão que gere o PAT, garante que há espaço para
as três modalidades do programa (cesta básica, vale-refeição, alimentação
institucional), porém revela que a modalidade mais direta, que evita desvios e
garante alimentação adequada ao trabalhador, é a da alimentação institucional,
ou seja, em UANs.
A UAN para Teixeira et al., (1997, p.15) pode ser considerado um
subsistema que é responsável por atividades fins ou meios. Como atividades
fins, podem ser citados os serviços ligados a hospitais e centros de
recuperação, os quais correspondem a um conjunto de bens e serviços
destinados a prevenir, melhorar, ou recuperar a população que atendem. Como
órgão meio estão os serviços ligados a indústrias, instituições escolares e
quaisquer outras que reúnam pessoas por um período de tempo que justifique
o fornecimento de refeições.
Em ambos o casos, os estabelecimentos de alimentação coletiva podem
ter gestão própria ou serem concedidos a terceiros. A primeira alternativa é o
que se chama comumente de autogestão. Nesse sistema , a própria empresa é
responsável pela infra-estrutura, pessoal, matéria-prima e gestão do processo.
A segunda alternativa consiste na contratação de empresas no ramo de
administração do serviço de alimentação, denominadas concessionárias ou
cozinhas industriais (Proença, 1997, p.25).
Independente do tipo de gestão ou finalidade, a autora salienta que o
objetivo de uma UAN é o fornecimento de uma refeição equilibrada
nutricionalmente, apresentando um bom nível de sanidade, e que seja
adequada ao cliente ou comensal, denominação dada ao consumidor em
alimentação coletiva.
2.2.1 Conceito
A Ergonomia, definida por Laville (1977, 01) como "o conjunto de
conhecimentos a respeito do desempenho do homem em atividade, a fim de
aplicá-los à concepção de tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos
sistemas de produção". Para Wisner (1987), a Ergonomia baseia-se em
conhecimentos no campo das ciências do homem (antropometria, fisiologia,
psicologia, economia) com seus resultados traduzidos no dispositivo técnico
(arte da engenharia).
Já Noulin (1992, p.25) observa que o objetivo da Ergonomia é contribuir
para a concepção ou a transformação das situações de trabalho, tanto com
relação aos seus aspectos técnicos como aos sócio-organizacionais, a fim de
que o trabalho possa ser realizado respeitando a saúde e a segurança dos
homens e com o máximo de conforto e eficácia.
Independente da definição, a ergonomia é atualmente distinta entre
ergonomia de correção e de concepção. A primeira procura melhorar as
condições de trabalho existentes e, freqüentemente, é parcial e de eficácia
limitada e, de uma forma geral, bastante onerosa do ponto de vista econômico.
A ergonomia de concepção, ao contrário, tende a introduzir os conhecimentos
sobre o homem desde o projeto do posto, do instrumento, da máquina ou dos
sistemas de produção (Laville,1977, p.8).
A ergonomia se interessa pelo homem em situações reais de trabalho,
estudando a adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e as
condições de trabalho, tendo como objetivos básicos a humanização e a
melhoria da produtividade do sistema de trabalho. Assim, para alcançar estes
objetivos ela atua em diferentes frentes, sempre tentando melhorar as
condições de trabalho e de vida das pessoas (Sell apud Alvarez, 1996).
Através de sua antropocentricidade, a ergonomia busca melhorar as
relações humanas e as condições de trabalho. A ergonomia não é apenas a
ciência da segurança dos anos 90, ela é também um modelo de gerenciamento
científico, trazendo não apenas uma microvisão do trabalho, mas também uma
macrovisão da organização (Braun, 1994, p.54).
Assim, os processos de transformação da atividade profissional e o
desenvolvimento dos conhecimentos ergonômicos são baseados em uma
intervenção no local de trabalho, denominada Análise Ergonômica do Trabalho
(AET).
Diagnóstico :
Diagnóstico local sobre a situação analisada em detalhes;
Diagnóstico global sobre o funcionamento geral da empresa.
Figura 2.1 - Esquema geral do processo ergonômico (Guérin, et al., 1991 p.117).
2.2.2.d Diagnóstico
Em ergonomia o termo diagnóstico tem o mesmo sentido que na
medicina clínica, ou seja, a identificação de um problema que afeta o sistema
considerado, baseada na análise de síndromes constatadas (Santos et al.,
1995, p.243).
O diagnóstico de uma situação de trabalho é um produto essencial de
uma análise efetuada por um ergonomista. Este é orientado pelos elementos
identificados na análise da demanda, no funcionamento da empresa, na
síntese dos resultados das observações e medidas, e nas explicações
fornecidas pelos empregados. Assim, os fatos apontados vão permitir a
transformação da situação de trabalho (Guérin, et al., 1991, p.209).
Contudo, deve-se considerar o paradoxo daí resultante, na medida em
que toda a transformação de uma determinada situação de trabalho gera novos
condicionantes, exigindo por parte dos trabalhadores novos modos operativos,
novas estratégias, novas aprendizagens... (Santos et al., 1995, p.254).
A) Ritmo de trabalho
No processo de produção de refeições em UANs, observa-se que ocorre
uma divisão de trabalho hierarquizada, envolvendo as diferentes categorias
que compõem os trabalhadores do processo.
Além disso, a produção na alimentação coletiva se diferencia de outros
processos produtivos pelo fato de ser uma indústria que a cada ciclo produtivo
e a cada dia, fabrica produtos diferentes, o que conseqüentemente leva a um
aumento das dificuldades na organização de sua produção (Proença, 1993,
p.11).
Outra característica importante do setor de alimentação coletiva,
também apontado pela autora, é a pressão temporal da produção, que acaba
impondo um ritmo de trabalho intenso. Esta pressão é decorrente de
características peculiares do produto (alimento), como por exemplo sua
perecibilidade e a necessidade de cuidados temporais na sua manipulação.
Além disso, outro fator que torna o tempo de produção limitado e com pouca
flexibilidade, é a necessidade de ajuste com horários de distribuição das
refeições.
B) Jornada de trabalho
Jornadas de trabalho muito longas, ou seja, superiores a 8 horas
diárias acabam tornando-se improdutivas, pois quando submetido a longas
jornadas o operador tende a reduzir seu ritmo de trabalho a fim de acumular
reservas para suportar as horas-extras (Iida, 1990; Grandjean, 1998, p.169).
Segundo Grandjean (1998, p.169), inúmeras são as evidências de que
o trabalho extra não só prejudica a produção/hora, como ainda traz um
aumento do absenteísmo, acompanhado de doenças e acidentes.
A UAN, por ser enquadrada no setor de prestação de serviços, tem seu
horário de trabalho condicionado às necessidades de seu cliente. Sendo assim,
a UAN de um hospital praticará horários compatíveis com o atendimento das
necessidades dos pacientes, enquanto UANs localizadas em indústrias devem
funcionar de acordo com os seus turnos produtivos.
C) Acidentes de trabalho
Qualquer indivíduo em suas atividades profissionais está sujeito a erros,
principalmente se trabalha sob tensão, tais erros do trabalhador podem resultar
em acidentes (Kapnakis, 1986, p.31).
Existem evidências de que medidas de segurança inadequadas e a falta
de treinamento dos operadores aumentam os risco de acidentes de trabalho,
no setor de alimentação coletiva, em especial, os horários de maior fluxo de
clientes quando o ritmo de trabalho é mais acelerado, os risco aumentam.
De acordo com Monteiro (1993, p.30), os acidentes durante a jornada de
trabalho ocorrem mais durante as primeiras horas, devido ao estado de inércia
física, psíquica e sonolência em que se encontra o empregado. A maior parte
destes acidentes atinge o sistema músculo-esquelético do trabalhador (como
distensões músculo-ligamentares, entorses e lesões degenerativas),
provocando o afastamento do trabalho e, conseqüentemente, prejudicando a
produtividade da empresa.
Um estudo realizado na França, em 1983, confirmou as altas taxas de
acidentes de trabalho em UANs francesas, constatando que durante aquele
ano 17% dos trabalhadores foram vítimas de acidentes de trabalho. Podendo
existir, ainda, uma sub-declaração de acidentes nos quais não é necessário o
afastamento do trabalho (Courthiat et al., 1990, p.240 -242).
Inúmeros autores brasileiros relatam a incidência de acidentes de
trabalho nas diversas regiões do país (Faria et al., 1986; Teixeira,1982;
Rego,1994; Lucca et al., 1993). Segundo estatísticas oficiais (INSS), nos
últimos 20 anos, resultaram em mais de 80 mil óbitos e aproximadamente um
milhão de trabalhadores com seqüelas permanentes (Lucca, 1992). No entanto
são poucos os registros de acidentes de trabalho em UANs. Segundo Sterque
(1990), os principais causadores de acidentes de trabalho, em cozinhas
industriais, são: ferramentas manuais e utensílios cortantes (27%); peças e
líquidos quentes (25%); pisos escorregadios com presença de gordura (13%);
equipamentos como fogão, caldeira, prateleira (7%) e outros.
Em estudo realizado em restaurantes da grande São Paulo, entre os
anos de 1988 e 1998, a partir de 530 Comunicações de Acidentes de Trabalho
(CATs), foi constatado que 57,5% dos acidentes ocorreram na cozinha. As
principais categorias de acidentes foram queimaduras (45,8%), seguidas por
lesões osteomusculares (40,6%) e outras (13,5%). Em relação ao objeto
causador, as CATs mostraram que 177 acidentes foram devidos à exposição
do calor: objetos e óleo quentes ( Chamma et al., 1999).
Para reverter situações como as citadas, estudos franceses têm
mostrado que a utilização de princípios ergonômicos podem contribuir para a
redução de acidentes e melhoria das condições de trabalho em UANs (Rocher,
1988; Milanini, 1990; Laigle, 1988).
D) Absenteísmo e rotatividade
Os aspectos relativos ao absenteísmo e rotatividade são importantes
porque, além da necessidade de levá-los em conta quando do cálculo de
pessoal, podem ser considerados como uma manifestação de
descontentamento para com as condições de trabalho de um determinado local
(Proença, 1993, p.65).
O trabalho em UANs, para muitos operadores, é visto como algo
provisório, fato que reflete diretamente sob os aspectos citados. Proença
(1993, p.13), baseada em experiências, estima que somente 10% dos
operadores entram no setor de alimentação coletiva para fazer carreira.
Para Teixeira et al., (1997, p.162) a taxa de rotatividade está diretamente
relacionada à cultura e ao clima organizacional da empresa. Porém, as autoras
também consideram as diferenças de rotação de pessoal entre UANs pública e
privadas, enfatizando que em geral a rotatividade da primeira é muito baixa,
fato atribuído ao seu regime de trabalho.
Um estudo realizado por Rodrigues (1992, p.15) aborda as diferenças
dos índices de rotatividade entre empresas concessionária e autogestão. A
autora demonstra que os operadores das concessionárias de alimentação
possuem menor remuneração e benefícios, contribuindo para a instabilidade e
falta de motivação.
Ainda neste estudo, são comparados os índices de rotatividade em
empresas concessionárias que são de 5 a 8% mês, enquanto que o índice de
empresas de autogestão é inferior a 1% .
Em relação ao absenteísmo, apesar de poucos dados disponíveis,
Proença (1993, p.65) relata em sua bibliografia índices diários de 7 a 11%.
Entretanto, Silva (apud Proença, 1993, p.65) alerta para a maneira como os
dados foram compilados, muita vezes impossibilitando a detecção do número
de ausências diárias durante um determinado período e análises de suas
conseqüências para a UAN.
Teixeira et al. (1997, p.161) aponta que estas ausências não
programadas causam transtornos, a ponto de exigir mudanças nos tipos de
preparações, substituições nos tipos de alimentos e atrasos na distribuição.
Ressalta-se que os índices elevados de rotatividade e absenteísmo
podem ser reflexo de condições de trabalho inapropriadas, servindo como
recuperação da fadiga.
2.2.3.b Condições ambientais
A área física de uma UAN necessita de instalações adequadas aos
objetivos propostos.
Um planejamento físico adequado permite inclusive melhor utilização
dos recurso humanos, através do dimensionamento do contingente de mão-de-
obra necessário e definição das tarefas a serem executadas, de que resulta
maior racionalização de trabalho e, conseqüentemente, menor fadiga (Teixeira,
1997, p.81)
Desta forma, serão descritos alguns constituintes essenciais de
condições físicas de trabalho, que possuem relação direta com as condições
de trabalho em UANs.
A) Espaço Físico
O dimensionamento adequado dos locais de trabalho deve ser
fundamentados nas medidas antropométricas, modelos de comportamento dos
trabalhadores e exigências específicas do trabalho, e não apenas baseado em
estética e custos.
No planejamento da área física de uma UAN, devem ser considerados
fatores como: localização, fluxo de trabalho, fluxo de produtos, espaço de
trabalho, seções de trabalho, acesso às áreas subordinadas, áreas de
preparação de alimentos, equipamentos disponíveis, tipo de cardápio, número
de refeições (Kinton et al.,1999, p.400).
Assim sendo, as áreas ou setores que compõem a UAN devem ser
planejados seguindo uma linha racional de produção, obedecendo a um fluxo
coerente, de modo a evitar cruzamentos indesejáveis, retroprocessos e até
mesmo acidentes de trabalho, que comprometam a produção das refeições ou
a saúde dos trabalhadores (ABERC,1998, p.30).
Além disso, através de um planejamento adequado é possível evitar
movimentos desnecessários por parte dos operadores, minimizando a sua
fadiga e, concomitantemente, otimizando a produção.
Para a determinação de espaços em uma UAN, são considerados dois
sistemas principais (Sousa, 1990, p.19):
a) tamanho dos equipamentos e acessórios necessários;
b) espaços de trabalho e circulação.
Os espaços recomendados para circulação, operação (trabalho a ser
executado) e limpeza entre os equipamentos são (Lawson, 1978, p.40):
• Circulação - 135 a 150 cm (circulação de carros)
• Operação - 120 a 135 cm (trabalho em locais quentes)
• Operação de limpeza entre equipamentos - 30 a 50 cm
• Operação por trabalhador - 120 cm
• Módulo/operação - 75 cm
Destaca-se que, a garantia de espaços de trabalho adequados
proporcionam maior conforto e segurança aos trabalhadores durante o
processo de produção.
B) Posturas e movimentos
A postura surge da demanda funcional da visão, alcance, manipulação,
força e tolerância, estabelecida com a relação geométrica entre a própria
antropometria do operador e leiaute do posto de trabalho (Haslegrave, 1994,
p.782). Já os movimentos são exigências de várias tarefas que levam a um
gasto de energia podendo provocar sobrecarga nos músculos, coração e
pulmões (Dul et al., 1993, p.17).
Os operadores do setor de alimentação coletiva exercem a maioria de
suas atividades na posição em pé, realizando movimentos manuais repetitivos
(Casarotto et al., 1997, p.316; Rocher, 1988, p.6).
O trabalho parado, em pé, exige o trabalho estático da musculatura
envolvida para manutenção da posição referida provocando facilmente a fadiga
muscular. Além disso, há um aumento importante da pressão hidrostática do
sangue nas veias das pernas e o progressivo acúmulo de líquidos tissulares
nas extremidades inferiores favorecendo uma maior incidência de varizes e
edemas de tornozelo (Grandjean, 1998, p.25).
As tarefas que exigem longo tempo em pé devem ser intercaladas com
tarefas que possam ser executadas na posição sentada ou andando, a fim de
evitar a fadiga nas costas e pernas e, também, prevenir as varizes. Além disso,
é necessário considerar que um estresse adicional pode surgir quando a
cabeça e o tronco ficam inclinados, provocando dores no pescoço e nas
costas. Por isso, é importante projetar postos de trabalho que permitam alternar
a postura sentada com a postura em pé, mantendo um espaço mínimo para
pernas e pés, como mostra a Figura 2.2 (Dul et al., 1995, p.33).
Figura 2.2 - Espaço mínimo recomendado para pernas e pés na postura em pé.
Fonte: Dul et al. (1995, p.33).
Quando a mesma bancada for utilizada por várias pessoas, sua altura
deve ser regulável para atender às diferenças individuais. Em trabalhos
essencialmente manuais em pé, as alturas recomendadas variam de acordo
com a altura do cotovelo do operador e a natureza do trabalho, como mostra o
Quadro 2.1 (Dul et al, 1995 p. 33; Grandjean, 1998, p.45).
C) Ruído
Som e ruído não são sinônimos. Um ruído é apenas um tipo de som,
mas um som não é necessariamente um ruído. O conceito de ruído é
associado a som desagradável e indesejável (Gerges, 1992, p.41).
Os trabalhadores que são os principais afetados pela poluição sonora,
ainda não conseguiram vencer a batalha para impor mudanças nos ambientes
e na organização do trabalho e nem unificar suas lutas com os movimentos
ambientalistas (Santos,1994, p.4).
A cronicidade dos efeitos (são necessários vários anos para induzir à
surdez) e a dificuldade de estabelecer correlações diretas com outras doenças
(hipertensão, estresse, aumento do número de acidentes), fazem do ruído um
agente reconhecível, mas com repercussões pouco visíveis (Santos, 1994).
Segundo Gerges (1992, p.47), nos últimos 30 anos vários pesquisadores
têm compilado dados sobre o efeito de ruído no corpo humano. Destes, os
mais conhecidos são efeitos como: aceleração da pulsação, aumento da
pressão sangüínea e estreitamento dos vasos sangüíneos.
O autor salienta, ainda, que o efeito destas alterações aparece em forma
de mudanças de comportamento, tais como: nervosismo, fadiga mental,
frustração, prejuízo no desempenho do trabalho, podendo provocar altas taxas
de absenteísmo.
Okamato et al., (1994, p.89) descreveram alguns dos efeitos do ruído e
suas conseqüências para a saúde do indivíduo:
Habilidade - em provas de habilidade, a exposição ao ruído contínuo
diminui o rendimento, aumenta o número de erros e, a partir de certa
intensidade, a influência do ruído aumentava em relação ao começo da prova.
Isto significa que, não só o rendimento pode ser afetado, como também um
provável aumento de acidentes pode ocorrer como conseqüência de redução
da habilidade.
Alterações cardiocirculatórias - vários estudos comprovam que o ruído
age diretamente sobre o sistema cardiocirculatório, sendo que a vasoconstrição
é um dos principais efeitos não auditivos da exposição ao ruído. Evidencia-se,
também, a ocorrência de hipertensão arterial leve e moderada.
Alterações visuais - A reação visual em relação à exposição ao ruído é a
dilatação da pupila, o que, em trabalhos de precisão visual, poderia ter vital
importância, uma vez que o trabalhador teria de reajustar continuamente a
distância do foco, aumentando sua fadiga e probabilidade de erro.
Alterações gastrointestinais - A exposição a ruído, com predomínio de
freqüências baixas, menor do que 500 hz, tem sido relacionada ao
aparecimento de alterações digestivas, tais como gastrite e úlcera
gastroduodenal.
Além da perda auditiva, o excesso de ruído também pode interferir na
comunicação verbal. Uma das conseqüências deste excesso em ambientes
industriais é o aumento de acidentes, devido à perda de inteligibilidade na
comunicação verbal entre os operadores (Gerges, 1992, p.59).
A Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho (1999b), que
trata de atividades e operações insalubres (NR15) da Portaria 3214/1978,
determina os limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente como
mostra o Quadro 2.2.
Quadro 2.2 - Limite de tolerância para ruído contínuo e intermitente, segundo
determinações da NR15.
Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária permissível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
Fonte: MTB (1999b).
ESTADO NUTRICIONAL
3.1 METODOLOGIA
A partir dos objetivos propostos, utilizou-se como instrumento a Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), já contextualizada em todas as suas etapas no
referencial teórico, e, concomitantemente, a determinação do estado nutricional
dos operadores.
Para realização do estudo, a aplicação da metodologia ocorreu nas duas
últimas semanas do mês de julho, desenvolvendo-se as seguintes etapas:
1. Reconhecimento da UAN através de visitas, leituras de documentos,
entrevistas junto à direção da empresa de alimentação prestadora de
serviço e à nutricionista responsável pela unidade.
2. Observação direta e armada com instrumentos como gravador
(PANASONIC), máquina fotográfica (MINOLTA) e cronômetro. Para
determinação do espaço físico e dimensão de utensílios e equipamentos
utilizou-se fita métrica e trena eletrônica marca ZIRION modelo Pro
Dimension 4.0, e elaborou-se, ainda, o leiaute de cada um dos setores da
UAN.
3. Observação normalizada, utilizando o Guia de Observação das Condições
de Trabalho (Santos et al., apud Proença, 1993), juntamente com o
levantamento fotográfico de toda a unidade, com o objetivo de conhecer os
riscos de acidente, condições de postura, esforços e comandos, ambiente
térmico luminoso, sonoro e toxicológico do ar (anexo 1).
4. Medição de ruído utilizando um medidor de nível de pressão sonora digital
da marca LUTRON nos sete principais setores da UAN (recebimento,
armazenamento, pré-preparo, cocção, higienização de bandejas,
distribuição, higienização de panelas) . As medições foram realizadas em
dBA, próximas ao ouvido do operador, em intervalos de 30 minutos, com
leitura de 10 em 10 segundos até perfazer um minuto. Os resultados foram
obtidos a partir da média de leitura de cada intervalo, e avaliados segundo a
NR15 (Ministério do Trabalho, 1999b)
5. Entrevistas e aplicação de questionários com os operadores do primeiro
turno e turno geral da UAN (anexo 2). Os operadores recrutados foram
voluntários, que optaram pela participação no estudo após uma breve
exposição contendo: objetivos, metodologia, resultados esperados,
benefícios e limitações. Todos os operadores dos turnos citados aceitaram
participar do estudo, tiveram suas dúvidas esclarecidas e assinaram a
declaração de consentimento, conforme os critérios estabelecidos pela
Comissão de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina.
6. Tomada de medidas antropométricas dos operadores
§ Peso corporal (kg) - a tomada do peso corporal foi realizada pela auxiliar
de enfermagem do ambulatório da empresa em que se localiza a UAN,
com o acompanhamento da pesquisadora. Para tanto, utilizou-se uma
balança de contrapeso, marca FILIZOLA com capacidade de 150kg. O
operador foi avaliado com roupas leves (calça e camiseta de tecidos) e
sem sapatos, na posição em pé, no centro da plataforma da balança,
procurando não se movimentar e mantendo-se ereto.
Braço acima
230
210 Altura
190
170
150
cm
Cotovelo ao solo
130
110 Braço a frente
90
70
50
Operadores
14
12
Distância (km)
10
8
6
4
2 1 2 3 4 5 6 7 8
0
Operadores
1600
1400
1200
Kilocalorias
1000
800 GE pedômetro
600 GE peso atual
400 GE peso ideal
200
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Operadores
Ingestão calórica
3000
2000
1000
0
1 2 3 4 5 6 7 8
Operadores
24
22
20
proteínas
18
16
14
12
10
8
1 2 3 4 5 6 7 8
Operadores
80
de carboidratos
70
60
50
40
1 2 3 4 5 6 7 8
Operadores
Recomendação SBAN Ingestão média
Indicadores de produção:
quantidade - esta é determinada pelo número de refeições servidas por turno,
tipo de cardápio e aceitabilidade da preparação. O consumo das preparações é
determinado na primeira semana do mês, durante 5 dias, através da subtração
do resto ingestão pela quantidade total de alimentos servidos no dia. O resto
ingestão, por sua vez, é obtido com a coleta da lavagem de cada turno, dividido
pelo número de pessoas que comeram no determinado turno.
O consumo médio de alimentos por funcionário é de 650 a 700g por dia,
sendo que o resto ingestão previsto no dia é de 3%, ou seja, 20
gramas/pessoa.
variedade - está diretamente relacionada à composição do cardápio e,
principalmente, se há ou não opção de lanche no dia. Não há mecanismo de
mensuração, sendo que a consulta a cardápios anteriores evita a repetição
quinzenal de preparações à base de carne, acompanhamentos (ex: banana à
milanesa, macarronese, purê entre outros) e/ou sobremesas.
qualidade: o controle é feito diretamente pelo operador e pela nutricionista, e
indiretamente pelos comensais. Todos os procedimentos padrões relacionados
ao controle de qualidade higiênico sanitário são monitorados por carta controle
diariamente, preenchidas pelos operadores e supervisionados pela chefia. O
controle de qualidade das refeições servidas, feito pelos comensais, se dá
através de pesquisa de satisfação diária, na qual o funcionário vota em um
quadro com legenda própria (ótimo, bom, regular e ruim), os dados são
tabulados e divulgados, sendo que os valores de satisfação esperados são
acima de 85%.
Ruído
O nível de ruído constante na UAN é proveniente do exaustor e da
máquina de higienização de bandejas e talheres, com ruídos ocasionais
provindos de equipamentos utilizados por curto espaço de tempo, como
picador de vegetais, liquidificador, sinal sonoro do forno combinado, vozes e
choque de utensílios metálicos.
Com o intuito de verificar o nível de ruído nos principais setores da UAN,
realizou-se a sua medição, com auxílio de um decibelímetro, durante um dia de
trabalho. A escolha dos setores a serem analisados, identificados na Figura
3.9, se deve ao fato de que nestes setores a presença do operador é quase
que constante. Cabe ressaltar que as interrupções das linhas no gráfico
caracterizam a ausência do operador no setor nos horários correspondentes.
100
95
Ruído (dBA)
90
85
80
75
70
05:15 05:51 06:27 07:03 07:39 08:15 08:51 09:27 10:03 10:39 11:15 11:51 12:27 13:03 13:39
Horário
u Cocção
n Hig. Bandejas
s Hig. Panelas
s Pré preparo
Iluminação
A iluminação é combinada, natural e artificial, sendo que os setores de
cocção, higienização de bandejas e higienização de panelas sofrem com o
ofuscamento das fontes de luz no período vespertino. Este fato é decorrente da
luz solar que, em virtude da falta de proteção na janela, reflete-se na superfície
metálica dos equipamentos dos setores citados, ocasionando o contraste
desfavorável de luminâncias.
Equipamentos
O Quadro 3.7 apresenta os principais equipamentos disponíveis na UAN
para a elaboração de refeições.
A) SETOR DE RECEBIMENTO
O setor de recebimento da unidade tem a função de receber e selecionar
os gêneros alimentícios consumidos na UAN. Localiza-se nos fundos da UAN e
possui conexão direta com o setor de armazenamento de gêneros.
Condicionantes ambientais
De forma geral, o setor de recebimento de gêneros não apresentou
riscos às atividades do operador, pois é bastante espaçoso, coberto, possui
rampa e escadas, e o acesso para a parte interior da UAN é adequado. O único
risco ambiental observado foi a emissão de gases tóxicos por parte dos
veículos dos fornecedores, durante o descarregamento das mercadorias,
entretanto, por ser aberto, não há possibilidade de retenção desses gases.
Condicionantes técnico-organizacionais
O operador segue o trabalho prescrito para o setor, mas nem sempre
está no local, já que atua também no setor de armazenamento de gêneros e
muitas vezes encontra-se na sala da nutricionista (chefia) realizando o controle
das mercadorias.
Desta forma, sempre que há entrega de alimentos, o operador é
solicitado, pois apesar da entrega ser programada por dia da semana, os
horários são variados, concentrando-se na parte da manhã.
Condicionantes cognitivos
Nas atividades desenvolvidas pelo operador, exige-se condicionantes
cognitivos, tais como:
§ Domínio do software (Tec Food) que realiza o controle dos gêneros;
§ Conhecimentos básicos de matemática;
§ Noções sobre controle de temperatura para armazenamento de alimentos;
§ Conhecimento sobre o controle de utilização dos produtos, o sistema PVPS
(primeiro que vence, primeiro que sai);
§ Conhecimento sobre a higienização do setor;
§ Noções sobre o manuseio e disposição dos gêneros alimentícios;
§ Planejamento de tempo para manter o setor organizado.
Condicionantes ambientais
O setor de armazenamento de alimentos em especial dos gêneros
menos perecíveis, não possui espaço suficiente para armazenamento e
circulação. Nos dias de acompanhamento das atividades, observou-se que
grande parte dos gêneros estava acondicionada no chão, aumentando o risco
de choque e queda de pessoas.
Além disso, os produtos de limpeza estavam acondicionados no alto
das prateleiras e próximos aos alimentos aumentando, o risco de acidentes e
representando um risco de saúde ao comensal. Isto se deve, pois, do ponto de
vista higiênico-sanitário, aos alimentos não poderem ser armazenados junto a
produtos de limpeza.
Os espaços de circulação entre as prateleiras não permitem a passagem
de um carro de transporte, o que dificulta o carregamento de peso. As
prateleiras têm altura dentro da recomendação, que é de 185 cm para produtos
leves e 150 cm para produtos pesados (Lawson,1976, p.40). No entanto,
considerando a altura da última prateleira mais as dimensões do gênero
armazenado, constatou-se uma altura de 233 cm, dificultando o alcance e
aumentando as chances de queda dos gêneros.
A iluminação do setor é predominantemente artificial, já que as janelas
encontram-se atrás das prateleiras. Durante a semana de observação,
constatou-se que havia lâmpadas queimadas.
O ruído local constante é proveniente dos freezers e câmaras frias,
porém como a permanência de operadores neste setor é bastante reduzida e
segundo o relato dos mesmos o ruído não incomoda, não foi realizada a sua
medição.
Condicionantes técnico-organizacionais
Durante o período de observação, constatou-se que o operador tinha
dificuldade na realização da tarefa prescrita, já que alguns operadores
encontravam-se de férias e/ou licença, exigindo que o mesmo participasse de
funções relacionadas à produção direta das refeições.
Este fato fez com que houvesse acúmulo de mercadorias armazenadas
no chão e atraso na emissão de notas.
Condicionantes de regulação
Observou-se que quando o operador se via responsável por atividades
administrativas, ou na área de produção, as funções específicas do setor como
organização e armazenamento adequado de gêneros não eram priorizadas.
Este fato ocorreu principalmente na ausência da chefia e/ou quando o operador
sentia-se sobrecarregado, desta forma a redução das atividades no setor
funcionava como mecanismo de regulação
Condicionantes cognitivos
A atividade no pré-preparo de vegetais é primordialmente física, e os
aspectos cognitivos exigidos são:
§ Habilidade no manuseio de facas e do equipamento, no caso o
picador de vegetais;
§ Reconhecimento dos tipos de verduras e legumes, bem como seu
estado de conservação;
§ Conhecimento dos processos de higienização e desinfecção;
§ Interpretação das instruções prescritas pela chefia;
§ Planejamento do tempo para execução das atividades diárias.
Condicionantes ambientais
O espaço físico é suficiente para execução de todas as atividades
exigidas pelo setor, mesmo nos horários de maior demanda.
Não foram relatados problemas com iluminação e ruído no setor. No
entanto, notou-se desconforto constante relacionado à umidade do local, o que
faz com que o piso molhado, mesmo sendo antiderrapante, torne-se
escorregadio, aumentando as chances de acidentes.
Condicionantes técnico-organizacionais
Embora os operadores trabalhem em dois ou mais setores durante o
turno, as atividades sempre iniciam no setor do pré-preparo de vegetais.
Todas as tarefas prescritas são realizadas obedecendo aos seguintes
procedimentos: os vegetais são transportados da câmara fria, em carros, para
o setor; são higienizados, cozidos (saladas cozidas), picados (quando
necessário), acondicionados em cubas, decorados e colocados na geladeira
até o momento de servir.
Habitualmente são preparadas todas as saladas e guarnições a serem
servidas nas refeições durante o turno, no entanto, a salada a ser distribuída no
restaurante executivo é elaborada próximo às 11:30h, sempre pela mesma
operadora.
Algumas sobremesas são porcionadas no setor, quando necessário.
Condicionantes de regulação
Observou-se que os operadores reduzem ou aceleram suas atividades,
conforme o cardápio e o consumo das refeições. Notou-se, também, que o fato
de alguns vegetais já virem pré-elaborados, fez com que alguns dos
operadores que trabalham no setor sejam deslocados para outras atividades.
Preparações à base de frituras, normalmente são demoradas e
principalmente mais consumidas, fazendo com que os operadores acelerem
suas atividades no pré-preparo, bem como na UAN de uma forma geral.
D)SETOR DE COCÇÃO
Esta área destina-se à cocção de todas as preparações servidas na
UAN, localizando-se próxima à sala da nutricionista e da expedição das
refeições.
Condicionantes cognitivas
As atividades no setor de cocção são físicas e cognitivas, já que, além
do esforço físico para o cumprimento das tarefas, é necessário que os
cozinheiros tenham:
§ Planejamento do tempo para o cumprimento das atividades diárias;
§ Conhecimentos sobre técnicas de preparo e uso de temperos;
§ Noções de higiene para evitar contaminação cruzada (cru e cozido);
§ Habilidade e conhecimento para manipular os equipamentos
existentes no setor
§ Reconhecimento dos comandos sonoros e visuais do forno
combinado.
Condicionantes ambientais
O espaço físico do setor é bastante restrito, principalmente em relação
aos espaços para posto de trabalho e circulação, fato que se agrava quando da
necessidade de alocar mais um operador no setor.
O local que mais representa risco é o espaço entre a fritadeira e a
bancada (93 cm), pois observou-se que, além de ser um posto de trabalho
próximo à fonte de calor (fritadeira), também foi utilizado para circulação
constante de pessoas.
Apesar da existência de um sistema de exaustão e janelas amplas, o
calor do setor foi evidente durante o período de acompanhamento das
atividades, mesmo esta ocorrendo no inverno. Segundo relatos dos
operadores, o problema se agrava nos dias de sol, pois as janelas, com filme
protetor, precisam manter-se fechadas para impedirem contraste e
ofuscamento.
O excesso de umidade na UAN é agravado no setor de cocção pela
concentração dos equipamentos geradores de calor e umidade (fritadeira,
caldeirões e fogão). Houve dias em que os operadores tiveram que secar o teto
até duas vezes durante o turno.
O ruído proveniente do sistema de exaustão é bastante incômodo,
dificultando a comunicação no setor.
A iluminação é insuficiente, devido ao sistema de exaustão (coifas), por
apresentar-se abaixo da iluminação artificial e ocupar uma extensa área,
impede a iluminação adequada do setor. Há iluminação natural, porém o filme
protetor no vidro das janelas reduz a luminosidade.
Os operadores queixaram-se sobre iluminação inadequada, calor,
umidade e também do ruído constante provocado pelo exaustor .
Condicionantes técnico-organizacionais
Os operadores do setor de cocção fazem seu trabalho de acordo com o
cardápio e conforme a prescrição da nutricionista, previamente afixados no
mural do corredor que dá acesso aos vestiários. Quando há preparações extras
(à base de ovos) ou à opção lanche, as quantidades ficam afixadas na parede
do setor.
Durante o acompanhamento das atividades foram realizadas
diariamente preparações utilizando o fogão e o forno combinado. A fritadeira foi
utilizada três vezes e os caldeirões, por apresentarem defeitos de instalação,
só foram utilizados para aquecer água.
A utilização do forno combinado tornou-se mais complexa que a dos
demais equipamentos, visto que o mesmo localiza-se atrás da mureta que
divide o setor de cocção de uma área de circulação, impedindo a observação
dos sinais de controle visuais por parte dos operadores e dificultando a
operacionalização do forno.
Condicionantes de regulação
As atividades do setor de cocção são consideradas prioritárias na UAN,
sendo assim a regulação do trabalho é feito através do aumento ou redução do
número de operadores alocados no setor.
Além disso, observou-se que o ritmo das atividades realizadas variava
conforme a quantidade de trabalho a ser realizado e o tempo restante para o
término da jornada. Sendo que nos dias em que houve frituras no cardápio, as
atividades eram aceleradas.
E) SETOR DE DISTRIBUIÇÃO
Este setor destina-se à distribuição das refeições, estando localizado na
entrada do refeitório, sendo que as atividades realizadas neste setor
restringem-se aos horários de distribuição e limpeza.
Condicionantes cognitivos
A atividade realizada no setor de distribuição é fundamentalmente física
e os aspectos cognitivos exigidos são:
§ Conhecimento sobre os controle dos equipamentos existentes no
setor (máquina de refresco e chá e balcão térmico);
§ Noções sobre a manutenção da temperatura das preparações
existentes no balcão, respeitando a relação tempo temperatura, para
que não haja multiplicação microbiana;
§ Identificação das preparações mais consumidas, de modo que se
possa providenciar sua reposição ou substituição, antes que esta a
venha faltar;
§ Conhecimento sobre a forma de higienização de utensílios,
equipamentos e ambiente;
§ Habilidade para lidar com o público.
Condições ambientais
O espaço físico de circulação, tanto para operadores quanto para
funcionários, é suficiente.
Destaca-se, também, que antes de abastecer o balcão térmico com as
preparações, ou após a sua retirada, observou-se que muitas vezes o balcão
era mantido destampado. Isto propiciou a condensação da água responsável
pelo aquecimento, contribuindo pelo aumento da umidade no setor.
O piso do setor não é antiderrapante, e a umidade o torna bastante
escorregadio.
Os operadores não mencionaram queixas sobre as condições
ambientais do setor.
Condicionantes técnico-organizacionais
Os operadores do setor de distribuição seguem as orientações, verbais
ou afixadas no mural próximo ao corredor de acesso ao vestiário, feitas pela
nutricionista. As quantidades e variedades de preparações a serem servidas no
balcão térmico são estimadas de acordo com o cardápio do dia.
A necessidade de haver ou não operadores extras no setor foi
determinada pela opção lanche.
De uma forma geral, todas as preparações provinham da área de cocção
ou do refrigerador, sendo transportadas em carros de transporte ou
manualmente (casos de muito movimento), e acondicionadas no balcão
térmico.
Os operadores do setor permanecem durante toda a distribuição atentos
ao consumo das preparações, limpeza do chão e extremidades do balcão, bem
como ao controle das temperaturas dos balcões e máquinas de refresco e chá,
intervindo, sempre que necessário.
Ao final da distribuição, é realizada a limpeza e a organização do setor
para o próximo turno da empresa cliente. Embora estes intervalos variem
bastante, notou-se a preocupação dos operadores em finalizar logo as
atividades no local para auxiliar em outros setores, principalmente no caso de
falta ou férias de um colega.
Condicionantes de regulação
A aceleração ou redução das atividades (reposição de preparações e
utensílios) no setor estão relacionadas à velocidade do consumo das
preparações e do número de comensais que realizam as refeições em cada
turno.
Outro condicionante a ser considerado é a opção lanche (2 vezes por
semana), pois quando esta encontrou-se no cardápio, as atividades tornaram-
se mais aceleradas, havendo, inclusive, a necessidade de alocação de mais
um operador no setor.
Condicionantes cognitivos
As atividades realizadas pelos operadores exigem os seguintes aspectos
cognitivos:
§ Planejamento das atividades realizadas;
§ Organização no desenrolar das atividades;
§ Conhecimentos sobre o funcionamento da máquina de lavar
bandejas e utensílios;
§ Controle visual para a utilização do item já higienizado.
Condicionantes ambientais
O espaço físico destinado ao setor é limitado, a organização e a
instalação errônea do equipamento agravam o problema, reduzindo o espaço
de circulação, dificultando a passagem de carros de transporte, e,
consequentemente, aumentando o esforço físico dos operadores.
A movimentação constante é ocasionada pela disposição dos
equipamentos no setor. A necessidade de deslocamento do local de
recebimento de itens sujos até a entrada da máquina de higienização de
bandejas, propicia um acúmulo destes itens no posto de trabalho do operador
que faz o recebimento e separação das bandejas e utensílios.
A umidade do local também é excessiva, agravada com funcionamento
da máquina e pelo rebaixamento da laje neste setor.
A máquina de lavar também é considerada fonte de calor, e somada a
pouca ventilação e à umidade excessiva do setor, provoca desconforto térmico
aos operadores.
O piso encontrou-se constantemente molhado e com o deslocamento
contínuo, aumentam as chances de choque e queda dos operadores.
Em visita da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes),
acompanhada pela pesquisadora, foram constatados problemas com a
instalação elétrica da máquina de lavar bandejas e utensílios, sugerindo riscos
de origem elétrica.
A iluminação foi considerada suficiente, porém, segundo relato dos
operadores, no período da tarde há problemas de reflexão e ofuscamento,
amenizado pelo filme das janelas quando fechadas.
O ruído durante as atividades desenvolvidas no setor foi constante,
proveniente da máquina, coifa e choque de bandejas e utensílios. Porém, não
foi mencionada nenhuma queixa em relação ao ruído.
Condicionantes técnico-organizacionais
A determinação dos operadores que foram alocados no setor ficou
afixada no mural próximo ao corredor de acesso aos vestiários, sendo que
mudanças foram feitas quando houve a falta de um dos operadores.
As operações no setor seguiram os seguintes procedimentos: os itens
chegaram na área de higienização, as bandejas e os talheres foram separados,
passaram por uma limpeza prévia, foram empilhados e aguardaram. Foram
transportados para a máquina, esfregados e enxaguados, e os itens limpos
foram encaminhados para o local de armazenamento no próprio setor.
Os operadores que realizam as atividades neste setor tiveram o horário
do almoço modificado, fazendo a refeição cerca de 2 horas antes que os
demais operadores, já que a refeição dos últimos foi feita no horário de maior
movimento do setor de higienização de bandejas e utensílios.
A operação da máquina, segundo os operadores, não apresentou
problemas. Porém, não há nenhuma informação no local escrita sobre o fluxo
de higienização, desta forma o próprio item higienizado ou não é a única
informação disponível sobre o resultado da operação.
Condicionantes de regulação
Os condicionantes de regulação do setor foram determinados pelo
próprio ciclo produtivo da máquina, sendo que quando a devolução de
bandejas era muito intensa, elas ficavam acumuladas na bancada.
Condicionantes ambientais
A disposição do espaço físico no setor é adequada, e as atividades
relatadas no item anterior se deram em frente à bancada com cuba, para
higienização. Constatou-se que a cuba não é adaptada aos volumes
higienizados, dificultando as ações no posto de trabalho.
O operador alocado no setor não relatou queixas sobre iluminação,
ruído, umidade e temperatura. Quando questionado sobre os principais
problemas no setor respondeu que para ela, problema era falta de dinheiro e
trabalho.
Condicionantes técnico-organizacionais
O operador do setor realizou as atividades conforme as instruções
prescritas pela nutricionista. Executando as seguintes atividades: transporte
manual ou em carros de panelas e outros recipientes para higienização;
enxague com água quente e molho, se necessário; esfregação com produtos
de limpeza, enxague, secagem e armazenamento.
A duração das atividade no setor foi de aproximadamente uma hora,
repetindo-se a cada fim de refeição, sendo que o horário de maior demanda e
volume de trabalho no setor, se deu entre 12:50 e 14:00h. Pois, além de ser o
horário em que foi servido o maior número de refeições, também precede a
troca de turnos, havendo a necessidade da organização e limpeza do setor.
Durante o início da manhã, o setor foi utilizado para higienizações
esporádicas e elaboração de preparações que requerem o uso do liquidificador.
Condicionantes de regulação
O aumento ou redução das atividades do setor é determinado pela
quantidade de itens sujos a serem higienizados. Observou-se que ao final do
turno as atividades do operador tornaram-se sempre mais aceleradas, isto se
deve ao fato dos operadores não poderem sair atrasados, pois todos pegam o
ônibus que transporta os funcionários da empresa cliente, que sai exatamente
no horário predeterminado.
3.5 DIAGNÓSTICO
A medida do braço acima dos operadores variou entre 200 e 215 cm, e a
altura máxima encontrada para o armazenamento de gêneros foi de 254 cm.
Considerando-se que a recomendação para o armazenamento de objetos leves
é de 185 cm para mulheres e 195 cm para homens, para objetos pesados é de
150 cm e para objetos utilizados com muita freqüência é de 70 cm (Lawson,
1976, p.40), verificou-se que a altura em que se encontravam armazenados os
gêneros exigiu esforço físico adicional, aumentando o risco de queda de
objetos e acidentes.
Para Robertson (1991,p.67) esforçar-se para alcançar objetos ou
mercadorias fora da área recomendada é fatigante, particularmente se o objeto
a ser erguido for pesado ou o alcance for feito repetidamente
O desconforto térmico relatado pelos operadores de setores como os de
cocção, higienização de bandejas e utensílios e higienização de panelas, além
de tornar as atividades mais desgastantes, estimula o consumo hídrico. Porém,
constatou-se que o consumo de água é praticamente inexistente, pois a
maioria dos operadores, quando sentem sede, servem-se de bebidas protéicas
(café com leite integral) ou sucos adoçados ( 159kcal/ 200ml).
Para Grandjean (1998, p.305) os operadores que trabalham sob
temperatura e umidade altas devem beber freqüentemente pequenas
quantidades de líquidos, de preferência água fresca, para aumentar a absorção
do organismo. O autor diz ainda que bebidas geladas, sucos de fruta e bebidas
protéicas não são recomendados.
Neste sentido, o presente estudo vem confirmar que apesar dos avanços
tecnológicos por que vem passando o setor de alimentação coletiva, a
existência de espaços de trabalho adequados, a manutenção do ruído, a
temperatura e a umidade dentro das recomendações, contextualizadas no
referencial teórico, ainda são um desafio.
NIELSEN, R. N. Estresse por calor. São Paulo. Proteção. abril, p. 46-48, 1997.
SILVA FILHO, A.R.A. O que vale é a refeição. São Paulo. Cozinha Industrial,
n.28, p.17-18, 1993.
VEIROS, M.B.; VIEIRA, A.M.; NERBASS, F.B.; ALVES, F. S.; MARQUEZ, L.F.;
PROENÇA, R.P.C. Panorama da qualidade de vida dos funcionários de
uma Unidade de Alimentação e Nutrição . Anais do XV Congresso
Brasileiro de Nutrição - CONBRAN. Brasília (DF), p. 019, 1998.